DEFESA DO CONSUMIDOR DA COMARCA DE SALVADOR-BA REQUERENTE, brasileiro, casado, empresário, portador do RG nº., CPF nº, residente na xxxxx, Salvador–BA, CEP. xxxx; ponto de referência: xxxx, e REQUERENTE2, inscrito no CNPJ nº.XXX, situado na Rua xxx, Salvador-BA, CEP. 40.296.210, neste ato representado por REPRESENTANTE LEGAL, inscrito no CPF. sob o n.º xxx e portador de RG nº. xxxx, por sua Advogada signatária, devidamente constituída (doc. anexo), com endereço no rodapé, onde recebe intimações e avisos, comparece, mui respeitosamente, perante V. Exa., propor: AÇÃO DE EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZATÓRIA DE PERDAS E DANOS contra a REQUERIDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº XXXX, com sede à xxxx, ponto de referência: xxx, o que faz pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos. DOS FATOS O autor, junto com sua mãe e irmão administram uma pequena empresa de prestação de serviços de entrega, de nome fantasia xxx, a qual oferece serviços de distribuição e porta a porta de impressos em geral. Coletas e entregas rápidas (endereçadas ou não) de folhetos, convites, peças promocionais, documentos e encomendas. Acreditando na promessa de uma melhoria em custo- benefício, e de sustentabilidade ambiental, em 18/05/2013, os autores decidiram investir o valor de R$ 2.891,30 (dois mil oitocentos e noventa e um reais e trinta centavos) na aquisição de uma, Bicicleta Elétrica 350w Vex Vl Vermelho Modelo 2013, fabricada pela empresa requerida, por meio da Loja Virtual: americanas.com (cupom fiscal anexo), para o auxílio nas demandas da empresa, já que além de não poluir o meio ambiente, o consumo de energia elétrica oferece menor custo com o serviço de entrega, pois não há gasto com combustível. No entanto, no período de 07/2014, a bicicleta elétrica, passou a apresentar defeitos que impossibilitaram seu uso, de modo que os requerentes buscaram a assistência técnica autoriza da REQUERIDA localizada em Salvador-BA, para o seu devido reparo. Solicitaram então, ao gerente da xxxx, pre-nome, que encaminhasse o bem ao conserto, e precisamente na data de 18/07/2014, ás 14:20, este deu entrada, da referida bicicleta, na assistência técnica da REQUERIDA, localizada á Avenida Jequitaia, nº 144, Comércio, Água de Meninos, ponto de referência: em frente a feira de São Joaquim. Conforme comprova-se pelo termo de vistoria anexo, a funcionária da assistência técnica, pre-nome, verificou, nesta data, o raio do aro do pneu da bicicleta, a carga da bateria bem como os parafusos e funcionamento. Constatou-se, através da vistoria realizada, que o defeito de funcionamento consistia unicamente no aro do pneu da bicicleta, momento em que foi solicitado a sua substituição, com o serviço de mecânica no valor de R$ 80,00 (oitenta reais), em acordo com o que verifica-se no orçamento entregue na própria loja (orçamento anexo). O gerente da empresa autora, neste momento, ainda autorizou a realização do serviço pelo mecânico, qual seja a substituição da peça defeituosa, e na oportunidade, foi avisado de que o conserto deveria demorar até 10 dias úteis, o que não foi cumprido. Passado o prazo de 10 dias úteis, conforme orientado na data da vistoria, o gerente supracitado, compareceu á assistência técnica para buscar a bicicleta elétrica, quando foi informado de que a fábrica responsável pelo envio, haveria “enviado a peça errada”, e que por este motivo, estaria inviabilizado o conserto, e que ele voltasse em outro momento. Os requerentes então, aguardaram, dessa vez, cerca de 30 dias para voltar ao estabelecimento requerido em busca do bem deixado para conserto, quando mais uma vez foram informados da demora na entrega da peça pela fábrica, que ainda não havia chegado. Diante da situação, todo o mês, a empresa autora, manteve insistente contato telefônico com a parte ré, bem como enviou prepostos presencialmente á assistência técnica em buca de uma posição sobre a previsão do conserto, contudo, sempre obtinha a mesma resposta da parte ré de que a assistência técnica não poderia ser responsabilizada pela falta de peças, demora no envio ou pelos erros cometidos pela fábrica responsável. Finalmente, no dia 06/05/2015, com mais de 09 (nove) meses passados que o bem entrou na assistência técnica, o funcionário preposto da empresa autora, compareceu presencialmente a assistência técnica, para verificar se o problema já teria sido resolvido. Neste momento, relatou o funcionário, que se dirigiu a recepção da parte Ré, quando foi encaminhado para outra funcionária que saberia lhe informar do destino da bicicleta. Após aguardar cerca de trinta minutos, foi recebido pelo mecânico responsável pelo conserto, que lhe mostrou partes da bicicleta a caminho da oficina, pois esta ainda se encontrava desmontada, muito embora já tivesse chegado a peça nova. Em conversa com a funcionária da requerida, foi solicitado ao preposto do requerente, que este aguardasse a montagem da bicicleta, observando ainda que em que pese o aro teria sido trocado, e o pneu também tendo sido substituído por outro novo, a bateria “não prestava mais”. O funcionário indignado, diante da situação, arguiu com a funcionária, alegando que no período em que o gerente da empresa deixou a bicicleta para realizar o conserto, foi realizada uma vistoria e a bateria estava em conformidade, porquanto que no orçamento entregue, nesta mesma data, pelo próprio mecânico, apenas constou o defeito no aro do pneu da bicicleta, e agora decorrido um lapso temporal de mais de 9 meses, da bicicleta sem uso e sem dar carga na bateria, obviamente que não iria mais prestar, tendo que a assistência técnica devolver a bicicleta funcionando. Entretanto, apesar dos argumentos do funcionário da empresa autora, a preposta da parte ré informou que “não havia nada a fazer” e que a a assistência técnica ia devolver a bicicleta do jeito que estava, com a bateria estragada, pois não seria ela a responsável pelo defeito do produto, nem pela demora na entrega, tendo cumprido com sua parte. Pelo exposto, há que se falar em excesso de condutas abusivas praticadas pela parte ré, que além da demora de mais de 9 (nove) meses para consertar e entregar o produto aos autores, ainda fez menção em devolvê-lo sem estar funcionando, não compensando em nada, portanto, o tempo em que esteve parada na oficina. Bem assim, por conta de erro e falta de informação que não foram prestadas pela própria REQUERIDA que, dessa forma, está se locupletando da sua própria torpeza. Com efeito, entre outras amarguras sofridas, se destaca o desdém dos prepostos da REQUERIDA em tratar do assunto sem a menor relevância. Sendo assim, buscam esse JEC com fins de submeter a sua indignação, para que a justiça seja feita e o consumidor não siga sendo refém de um serviço prestado com péssima qualidade para a população que precisa se utilizar, diariamente, de serviços de assistência técnica. DA LEGITIMIDADE ATIVA DA PESSOA JURÍDICA O Código de Defesa do Consumidor - Lei 8.078/90 - define, em seu art. 2º o conceito de consumidor: Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. A partir da análise desse dispositivo, compreende-se que consumidor não é apenas aquele que adquire, mas também aquele que utiliza produto ou serviço como destinatário final. Desse modo, percebe-se que a caracterização do consumidor não depende da existência de um contrato, bastando unicamente a utilização do produto ou serviço, desde que tal utilização seja realizada para fins próprios, alheios à finalidade produtiva. Conforme citado alhures, a bicicleta elétrica foi adquirida exclusivamente para fins comerciais, com o único objetivo de prestar auxílio nas demandas de entrega personalizada de convites para eventos, brindes, kit´s promocionais e de encomendas de pequeno porte realizadas pela empresa REQUERENTE. Em face do art. 2º do Código de Defesa do Consumidor, percebe-se que o consumidor-reclamante não precisa comprovar que ele é o adquirente ou contratante do produto ou serviço, pois o conceito de consumidor abrange tanto quem simplesmente os utiliza. Por ser a nota fiscal um documento que comprova a existência de um ato comercial, entende-se não ser necessário que ela esteja em nome do consumidor que efetua a demanda, tendo em vista que a definição de consumidor independe de ato de de aquisição ou de qualquer ato contratual. Por isso, diante da sistemática do Código, toda pessoa física ou jurídica que utilize produto ou serviço para fins próprios ou de sua família tem legitimidade para demandar em âmbito judicial, mesmo que a nota fiscal não esteja em seu nome, e independentemente de apresentação de procuração. Neste sentido aponta a jurisprudência dos tribunais pátrios: CONSUMIDOR. VÍCIO DO PRODUTO. LEGITIMIDADE ATIVA DOS DESTINATÁRIOS FINAIS DO PRODUTO. IRRELEVÂNCIA DE A NOTA FISCAL ESTAR EM NOME DE APENAS UM DOS AUTORES. LEGITIMIDADE PASSIVA E RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA RECORRENTE, QUE INTEGRA, NA CONDIÇÃO DE VENDEDORA E LOJA DE VAREJO, A CADEIA DOS FORNECEDORES. APARELHO DE AR CONDICIONADO "SPLIT" QUE DEIXOU DE FUNCIONAR LOGO APÓS A INSTALAÇÃO. DEFEITO NÃO SANADO PELA ASSISTÊNCIA TÉCNICA. DIREITO À RESTITUIÇÃO DO PREÇO PAGO E AO RESSARCIMENTO DAS DESPESAS DE INSTALAÇÃO. ART. 18, PAR.1º, II, DO CDC. DANOS MORAIS. (TJ-RS - Recurso Cível: 71003373420 RS , Relator: Alexandre de Souza Costa Pacheco, Data de Julgamento: 18/07/2012, Segunda Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 24/07/2012) DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR O Código de Defesa do Consumidor define, de maneira bem nítida, que o consumidor de produtos e serviços deve ser agasalhado pelas suas regras e entendimentos, senão vejamos: "Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestações de serviços." Com esse postulado o Código de Defesa do Consumidor consegue abarcar devem responder por todos os fornecedores – sejam eles pessoas físicas ou jurídicas – ficando evidente que quaisquer espécies de danos porventura causados aos seus tomadores. Em se tratando que a fabricante-ré REQUERIDA fornece serviço de assistência técnica ao consumidor dos seus produtos, não há como se eximir de responder por eventual vício do serviço decorrente de indigitada negativa de conserto. Incontroverso na exordial, bem como na documentação juntada, a demora excessiva para a solução do caso, que não se concretizou até a presente data. No caso em tela, a fabricante-ré, ao produzir, distribuir produto e prestar serviço de conserto respectivamente, assumiu o risco do empreendimento. Com isso, fica espontâneo o vislumbre da responsabilização da empresa requerida sob a égide da Lei nº 8.078/90, visto que se trata de um fornecedor de produtos que, independentemente de culpa, causou danos efetivos a um de seus consumidores. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA Percebe-se, outrossim, que o requerente deve ser beneficiado pela inversão do ônus da prova, pelo que reza o inciso VIII do artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que a narrativa dos fatos encontra respaldo nos documentos anexos, que demonstram a verossimilhança do pedido, conforme disposição legal: "Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...) VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;" O requerimento ainda encontra respaldo em diversos estatutos de nosso ordenamento jurídico, a exemplo do Código Civil, que evidenciam a pertinência do pedido de reparação de danos. Além disso, segundo o Princípio da Isonomia, todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, mas sempre na medida de sua desigualdade. Ou seja, no caso ora debatido, o requerente realmente deve receber a supracitada inversão, visto que se encontra em estado de hipossuficiência, uma vez que disputa a lide com uma empresa de grande porte, que possui maior facilidade em produzir as provas necessárias para a cognição do Excelentíssimo magistrado. DA DEMORA NO CONSERTO Cabe salientar que aqui não se está a discutir a existência de vício no produto comercializado, mas sim a demora injustificada na remessa de peças para o conserto da bicicleta bem como a má prestação no serviço pela assistência técnica da fabricante-ré. Nesta senda, determina o artigo 32 do Código de Defesa do Consumidor que os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto. Trata-se de uma responsabilidade imposta que visa consolidar o princípio da boa-fé objetiva, com o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo: Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto. Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por período razoável de tempo, na forma da lei. Em razão da norma imposta, tanto a reposição de peças como o conserto do produto em assistência técnica autorizada deve ser exercido dentro de um prazo razoável, sendo que o descumprimento desta obrigação configura ato ilícito e deve ser duramente reprimido, pois, a demora exagerada confere um inconveniente gravame ao consumidor que, pelas falhas na prestação do serviço defeituoso, fica privado do seu bem. Verifica-se nos autos que houve um intervalo de mais de 9 (nove) meses entre a entrega da bicicleta para o conserto e a chegada das peças solicitadas para o reparo, não sendo os requerentes adequadamente informados sobre a previsão de prazo para prestação do serviço, de modo que restou caracterizado o descumprimento contratual. Com efeito, a teor do que dispõe o art. 14 do CDC, a responsabilidade do fornecedor é objetiva: Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Ademais, em que pese os autores tenham dado entrada na assistência técnica da parte ré na data de 18/07/2014, e tenha sido constatado através de vistoria realizada no local, que o defeito que inutilizava a bicicleta consistia na simples troca do aro do pneu, o que levaria o prazo de 10 dias úteis, a previsão não se concretizou, e apenas no dia 06/05/2015, os requerentes, foram surpreendidos com a noticia de que o serviço seria realizado, qual seja a troca do aro defeituoso bem como a substituição do pneu por outro, todavia, a bateria, por sua vez, “não prestava mais”. Diante de todo o exposto, é notória a responsabilidade objetiva da requerida, a qual independe do seu grau de culpabilidade, uma vez que incorreu em uma lamentável falha, gerando o dever de indenizar, pois houve defeito relativo à prestação de serviços. Nossos tribunais assim tem entendido na esfera Cível, vejamos: DIREITO DO CONSUMIDOR. INDENIZAÇÃO. CONCESSIONÁRIA DE VEÍCULOS. DEMORA EXCESSIVA PARA CONSERTO DE AUTOMÓVEL SINISTRADO. FALTA DE PEÇAS PARA REPOSIÇÃO. DEVER DE INFORMAÇÃO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. DANO PRESUMIDO. 1. Acórdão lavrado em conformidade com o disposto no art. 46 da Lei 9.099/1995, e arts. 12, inciso IX, 98 e 99 do Regimento Interno das Turmas Recursais. 2. Em se tratando de modelo de automóvel ainda em linha de produção, os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto, razão pela qual a alegação de falta das peças para pronta reposição não tem o condão de afastar a responsabilidade da cadeia de fornecedores pelos danos resultantes da demora excessiva para conserto de veículo sinistrado. 3. Verifico nos autos que houve um intervalo de aproximadamente 5 (cinco) meses entre a entrega do veículo para o conserto e a sua efetiva devolução, não sendo o consumidor adequadamente informado sobre a previsão de prazo para prestação do serviço, de modo que restou caracterizado o descumprimento contratual capaz de gerar indenização por danos morais na modalidade in re ipsa, pois transcende o liame de mero dissabor, irritação ou mágoa para ingressar e interferir de forma intensa na dignidade da pessoa humana. A responsabilidade do fornecedor é objetiva, a teor do que dispõe o art. 14 do CDC. 4. "Dano moral. Para que se faça indenizável, deve infundir à pessoa lesão a sua imagem, hábil a deixar sequelas que se reflitam de forma nociva em seu diaadia". (Acórdão n.701674, 20120111726669ACJ, Relator: JOÃO FISCHER, 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de Julgamento: 06/08/2013, Publicado no DJE: 16/08/2013. Pág.: 252). No caso dos autos, entendo que o descumprimento contratual ultrapassou o mero aborrecimento do dia a dia, uma vez que a recorrida ficou aproximadamente 5 (cinco) meses sem seu veículo e enviou vários e-mails e realizou ligações com o intuito de receber informações a respeito de como se encontrava seu carro e, principalmente de quando ocorreria sua efetiva entrega em todas as vezes os funcionários da recorrente não concediam respostas concretas à recorrida. Diante desse quadro, a manifesta falha na prestação do serviço gerou dano moral passível de indenização. 5. A fixação do valor a título de dano moral deve levar em conta critérios doutrinários e jurisprudenciais, tais como o efeito pedagógico e inibitório para o ofensor e a vedação ao enriquecimento sem causa do ofendido ou empobrecimento do ofensor. Ainda, a indenização deve ser proporcional à lesão à honra, à moral ou à dignidade do ofendido, às circunstâncias que envolvem o fato, às condições pessoais e econômicas dos envolvidos, e à gravidade objetiva do dano moral. Assim, o valor fixado para a reparação de danos morais observou os parâmetros estabelecidos nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade e, por este motivo, não merece reparos. 6. Recurso conhecido, mas desprovido. Sentença mantida pelos seus próprios fundamentos. 7. Condeno a recorrente ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios que fixo em 10% (dez por cento), que deverá incidir sobre o valor da condenação devidamente corrigido. (TJ-DF - ACJ: 20140110687435 DF 0068743- 05.2014.8.07.0001, Relator: ANTÔNIO FERNANDES DA LUZ, Data de Julgamento: 27/01/2015, 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de Publicação: Publicado no DJE : 03/02/2015 . Pág.: 344) DA CONCESSÃO DE TUTELA ESPECÍFICA (OBRIGAÇÃO DE FAZER) A tutela pleiteada nesta demanda deverá ser concedida na forma do art. 461, do CPC, verbis: Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento. (...) § 3º. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz, conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu......” Apesar dos autores terem requerido inúmeras vezes que se realizasse o que havia sido pactuado, com a entrega da bicicleta elétrica regularmente funcionando, a mesmo não o fez. Dessa forma, se faz imperioso a tutela do estado para que obrigue a parte ré a realizar o contratado já que, passados mais de longos 09 (nove) meses não foi cumprido o que foi prometido, e a bicicleta elétrica continua abandonada na oficina da assistência técnica da parte ré, apresentando defeitos. DAS PERDAS E DANOS A demora excessiva no reparo da bicicleta impossibilitou os requerentes de utilizar um bem que era seu por mais de 09 (nove) meses, sendo certo que tal fato não pode ser enquadrado no que a doutrina classifica como mero aborrecimento, uma vez que ocasionou danos aos autores que devem ser reparados. Deveras, os requerentes investiram o valor de R$ 2.891,30 (dois mil oitocentos e noventa e um reais e trinta centavos) na aquisição da Bicicleta Elétrica 350w Vex Vl Vermelho Modelo 2013, exclusivamente com o objetivo de atender a demanda dos serviços de distribuição e porta a porta, coletas e entregas rápidas, da empresa REQUERENTE (notas fiscais de serviços anexos), no entanto, o bem está inutilizado até a presente data em decorrência da má prestação dos serviços pela empresa ré. Diante da situação, embora tenha pago todo o preço pelo produto, os autores estão impossibilitados dele usufruir, prejudicadando ainda a agilidade, sustentabilidade e simplicidade das entregas, posto que para seu uso não se precisa de habilitação, documento e qualquer funcionário pode realizar o delivery, além de acrescentar também nos custos dos serviços, isso porque, comparado as entregas realizadas pelos motoboys, o serviço de entregas feitas com bicicletas é pelo menos 30% mais barato. Como observa-se nos autos do processo, os autores realmente tiveram seu patrimônio diminuído, pela indisponibilidade imediata do instrumento de trabalho, para realização dos serviços que são prestados pela empresa requerente, além de despesas com diversos telefonemas para a ré na tentativa de sanar o problema, despesas com transporte em suas idas e vindas a ré, também para solucionar o problema. A respeito do assunto, extrai-se da doutrina pátria: Segundo a lição do saudoso jurista J.M. Carvalho Santos: “… quer o código que o devedor inadimplente indenize o prejuízo, ou seja, a perda certa e não eventual, ou melhor ainda, a verdadeira diminuição ou desfalque que no seu patrimônio sofreu efetivamente o credor com o inadimplemento da obrigação”. E mais, Sucessivas ligações, visitas à assistência técnica, promessas sem fim, somado a tudo isso a frustração de não convencer o requerido a arrumar sua bicicleta configura, certamente, dano moral. Em razão da conduta da requerida os autores permaneceram por meses sem o seu bem, experimentando toda a sorte de aborrecimentos. Todavia, o que se mostra mais grave e aviltante é o completo descaso da requerida. Embora ciente da ausência de peças, nada fez para diminuir o desconforto dos autores, largando-os à própria sorte. Nessa hipótese, não é o defeito na prestação do serviço em si que gera o dano moral, mas, sim, o descaso da fabricante, o sentimento de impotência dos requerentes que escolheram e pagaram pelo produto, mas dependiam da diligência da requerida para utilizá-lo. O ilustre doutrinador Sérgio Cavalieri Filho (Programa de Responsabilidade Civil. Atlas, 8.ed., 2009, p. 499), explica a dinâmica do dano moral em casos análogos: “A expressão latina extra rem indica vínculo indireto, distante, remoto tem sentido de fora de, além de, à exceção de. Consequentemente, o dano extra rem é aquele que apenas indiretamente está ligado ao vício do produto ou do serviço porque, na realidade, decorre de causa superveniente, relativamente independente, e que por si só produz o resultado. A rigor, não é o vício do produto ou do serviço que causa o dano extra rem – dano material ou moral -, mas sim a conduta do fornecedor, posterior ao vício, por não dar ao caso a atenção e solução devidas. O dano moral, o desgosto íntimo, está dissociado do defeito, a ele jungido apenas pela origem. Na realidade, repita-se, decorre de causa superveniente (o não atendimento pronto e eficiente ao consumidor, a demora injustificável na reparação do vício)”. É certo que o consumidor há de exercitar a tolerância no mercado de consumo, vencendo os contratempos do diaadia. Entretanto, entedem os autores, com toda razão, que a espera, por mais 09 (nove) meses, pelo conserto de um produto, que deveria ter sido reparado no prazo de 10 (dez) dias úteis, conforme prometido pela assistência técnica, é suficiente a causar angústia e sensação de completa impotência do consumidor diante do fornecedor. Observa-se que os autores aguardaram a reparação espontânea do produto por todo esse tempo, restando claro que não se trata mais de mero aborrecimento, mas de verdadeiro dano moral, especialmente pelo descaso das requeridas. Dessa forma, vislumbra-se o abuso de posição dominante do fabricante na relação contratual, com o controle das rédeas do relacionamento com o cliente, atendendo-o a seu bel prazer e segundo as suas conveniências. Nesses casos, o dever de indenizar surge da própria violação do direito. Oportuna, nesse sentido, a citação da ementa do julgado da 4ª Turma do STJ, no Resp. 85.019, j. em 10/03/1998, Rel. Sálvio de Figueiredo Teixeira: “Dispensa-se a prova de prejuízo para demonstrar a ofensa ao moral humano, já que o dano moral, tido como lesão à personalidade, ao âmago e à honra da pessoa, por vez é de difícil constatação, haja vista os reflexos atingirem parte muito própria do indivíduo – o seu interior. De qualquer forma a indenização não surge somente nos casos de prejuízo, mas também pela violação de um direito”. Assim, é inegável a responsabilidade do fornecedor, pois os danos morais são também aplicados como forma coercitiva, ou melhor, de modo a reprimir a conduta praticada pela parte ré, que de fato prejudicou os autores da ação. DOS PEDIDOS: Em face de todo o exposto, requer que V. Exª: A procedência do pedido determinando que a parte ré entregue a Bicicleta Elétrica 350w Vex Vl Vermelho Modelo 2013, em seu perfeito estado de funcionamento A indenização por perdas e danos, pelos prejuízos de ordem patrimonial e extrapatrimonial causados as partes autoras, tudo conforme fundamentado, em valor pecuniário justo e condizente com o caso apresentado em tela, em valor que esse D. Juízo fixar, pelos seus próprios critérios analíticos e jurídicos; A citação da parte ré, bem assim, sua intimação para, querendo, contestar o pedido, sob pena de revelia; a aplicação da cláusula de inversão do ônus da prova, prevista no artigo 6º, inciso VIII do CDC A concessão de tutela específica; A partes autoras renunciam o valor que exceder a 40 (quarenta) salários mínimos na data do ajuizamento da ação. Dá à causa o valor de R$ 6.000 (seis mil reais) apenas para fins de tramitação do feito perante o JEC. Salvador ____/____/_____ __________________________________________ ADVOGADA OAB -BA
GURGEL, Yara MAIA, Catherine MOREIRA, Thiago Oliveira. Direito Internacional Dos Direitos Humanos e As Pessoas em Situação de Vulnerabilidade. Vol. 3. Natal Polimatia, 2022. PDF