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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ

(A) DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE


DEFESA DO CONSUMIDOR DA COMARCA DE
SALVADOR-BA
REQUERENTE, brasileiro, casado, empresário, portador do
RG nº., CPF nº, residente na xxxxx, Salvador–BA, CEP.
xxxx; ponto de referência: xxxx, e
REQUERENTE2, inscrito no CNPJ nº.XXX, situado na Rua
xxx, Salvador-BA, CEP. 40.296.210, neste ato representado
por REPRESENTANTE LEGAL, inscrito no CPF. sob o n.º
xxx e portador de RG nº. xxxx, por sua Advogada signatária,
devidamente constituída (doc. anexo), com endereço no
rodapé, onde recebe intimações e avisos, comparece, mui
respeitosamente, perante V. Exa., propor:
AÇÃO DE EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C
INDENIZATÓRIA DE PERDAS E DANOS
contra a REQUERIDA, pessoa jurídica de direito privado,
inscrita no CNPJ sob o nº XXXX, com sede à xxxx, ponto de
referência: xxx, o que faz pelos motivos de fato e de direito a
seguir expostos.
DOS FATOS
O autor, junto com sua mãe e irmão administram uma
pequena empresa de prestação de serviços de entrega, de
nome fantasia xxx, a qual oferece serviços de distribuição e
porta a porta de impressos em geral. Coletas e entregas
rápidas (endereçadas ou não) de folhetos, convites, peças
promocionais, documentos e encomendas.
Acreditando na promessa de uma melhoria em custo-
benefício, e de sustentabilidade ambiental, em 18/05/2013, os
autores decidiram investir o valor de R$ 2.891,30 (dois mil
oitocentos e noventa e um reais e trinta centavos) na aquisição
de uma, Bicicleta Elétrica 350w Vex Vl Vermelho Modelo
2013, fabricada pela empresa requerida, por meio da Loja
Virtual: americanas.com (cupom fiscal anexo), para o auxílio
nas demandas da empresa, já que além de não poluir o meio
ambiente, o consumo de energia elétrica oferece menor custo
com o serviço de entrega, pois não há gasto com combustível.
No entanto, no período de 07/2014, a bicicleta elétrica, passou
a apresentar defeitos que impossibilitaram seu uso, de modo
que os requerentes buscaram a assistência técnica autoriza da
REQUERIDA localizada em Salvador-BA, para o seu devido
reparo.
Solicitaram então, ao gerente da xxxx, pre-nome, que
encaminhasse o bem ao conserto, e precisamente na data de
18/07/2014, ás 14:20, este deu entrada, da referida bicicleta,
na assistência técnica da REQUERIDA, localizada á Avenida
Jequitaia, nº 144, Comércio, Água de Meninos, ponto de
referência: em frente a feira de São Joaquim.
Conforme comprova-se pelo termo de vistoria anexo, a
funcionária da assistência técnica, pre-nome, verificou, nesta
data, o raio do aro do pneu da bicicleta, a carga da bateria bem
como os parafusos e funcionamento.
Constatou-se, através da vistoria realizada, que o defeito de
funcionamento consistia unicamente no aro do pneu da
bicicleta, momento em que foi solicitado a sua substituição,
com o serviço de mecânica no valor de R$ 80,00 (oitenta
reais), em acordo com o que verifica-se no orçamento
entregue na própria loja (orçamento anexo).
O gerente da empresa autora, neste momento, ainda autorizou
a realização do serviço pelo mecânico, qual seja a substituição
da peça defeituosa, e na oportunidade, foi avisado de que o
conserto deveria demorar até 10 dias úteis, o que não foi
cumprido.
Passado o prazo de 10 dias úteis, conforme orientado na data
da vistoria, o gerente supracitado, compareceu á assistência
técnica para buscar a bicicleta elétrica, quando foi informado
de que a fábrica responsável pelo envio, haveria “enviado a
peça errada”, e que por este motivo, estaria inviabilizado o
conserto, e que ele voltasse em outro momento.
Os requerentes então, aguardaram, dessa vez, cerca de 30 dias
para voltar ao estabelecimento requerido em busca do bem
deixado para conserto, quando mais uma vez foram
informados da demora na entrega da peça pela fábrica, que
ainda não havia chegado.
Diante da situação, todo o mês, a empresa autora, manteve
insistente contato telefônico com a parte ré, bem como enviou
prepostos presencialmente á assistência técnica em buca de
uma posição sobre a previsão do conserto, contudo, sempre
obtinha a mesma resposta da parte ré de que a assistência
técnica não poderia ser responsabilizada pela falta de peças,
demora no envio ou pelos erros cometidos pela fábrica
responsável.
Finalmente, no dia 06/05/2015, com mais de 09 (nove) meses
passados que o bem entrou na assistência técnica, o
funcionário preposto da empresa autora, compareceu
presencialmente a assistência técnica, para verificar se o
problema já teria sido resolvido.
Neste momento, relatou o funcionário, que se dirigiu a
recepção da parte Ré, quando foi encaminhado para outra
funcionária que saberia lhe informar do destino da bicicleta.
Após aguardar cerca de trinta minutos, foi recebido pelo
mecânico responsável pelo conserto, que lhe mostrou partes
da bicicleta a caminho da oficina, pois esta ainda se
encontrava desmontada, muito embora já tivesse chegado a
peça nova.
Em conversa com a funcionária da requerida, foi solicitado ao
preposto do requerente, que este aguardasse a montagem da
bicicleta, observando ainda que em que pese o aro teria sido
trocado, e o pneu também tendo sido substituído por outro
novo, a bateria “não prestava mais”.
O funcionário indignado, diante da situação, arguiu com a
funcionária, alegando que no período em que o gerente da
empresa deixou a bicicleta para realizar o conserto, foi
realizada uma vistoria e a bateria estava em conformidade,
porquanto que no orçamento entregue, nesta mesma data, pelo
próprio mecânico, apenas constou o defeito no aro do pneu da
bicicleta, e agora decorrido um lapso temporal de mais de 9
meses, da bicicleta sem uso e sem dar carga na bateria,
obviamente que não iria mais prestar, tendo que a assistência
técnica devolver a bicicleta funcionando.
Entretanto, apesar dos argumentos do funcionário da empresa
autora, a preposta da parte ré informou que “não havia nada a
fazer” e que a a assistência técnica ia devolver a bicicleta do
jeito que estava, com a bateria estragada, pois não seria ela a
responsável pelo defeito do produto, nem pela demora na
entrega, tendo cumprido com sua parte.
Pelo exposto, há que se falar em excesso de condutas abusivas
praticadas pela parte ré, que além da demora de mais de 9
(nove) meses para consertar e entregar o produto aos autores,
ainda fez menção em devolvê-lo sem estar funcionando, não
compensando em nada, portanto, o tempo em que esteve
parada na oficina.
Bem assim, por conta de erro e falta de informação que não
foram prestadas pela própria REQUERIDA que, dessa forma,
está se locupletando da sua própria torpeza.
Com efeito, entre outras amarguras sofridas, se destaca o
desdém dos prepostos da REQUERIDA em tratar do assunto
sem a menor relevância.
Sendo assim, buscam esse JEC com fins de submeter a sua
indignação, para que a justiça seja feita e o consumidor não
siga sendo refém de um serviço prestado com péssima
qualidade para a população que precisa se utilizar,
diariamente, de serviços de assistência técnica.
DA LEGITIMIDADE ATIVA DA PESSOA JURÍDICA
O Código de Defesa do Consumidor - Lei 8.078/90 - define,
em seu art. 2º o conceito de consumidor:
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que
adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
A partir da análise desse dispositivo, compreende-se que
consumidor não é apenas aquele que adquire, mas também
aquele que utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Desse modo, percebe-se que a caracterização do consumidor
não depende da existência de um contrato, bastando
unicamente a utilização do produto ou serviço, desde que tal
utilização seja realizada para fins próprios, alheios à
finalidade produtiva.
Conforme citado alhures, a bicicleta elétrica foi adquirida
exclusivamente para fins comerciais, com o único objetivo de
prestar auxílio nas demandas de entrega personalizada de
convites para eventos, brindes, kit´s promocionais e de
encomendas de pequeno porte realizadas pela empresa
REQUERENTE.
Em face do art. 2º do Código de Defesa do Consumidor,
percebe-se que o consumidor-reclamante não precisa
comprovar que ele é o adquirente ou contratante do produto
ou serviço, pois o conceito de consumidor abrange tanto quem
simplesmente os utiliza. Por ser a nota fiscal um documento
que comprova a existência de um ato comercial, entende-se
não ser necessário que ela esteja em nome do consumidor que
efetua a demanda, tendo em vista que a definição de
consumidor independe de ato de de aquisição ou de qualquer
ato contratual.
Por isso, diante da sistemática do Código, toda pessoa física
ou jurídica que utilize produto ou serviço para fins próprios
ou de sua família tem legitimidade para demandar em âmbito
judicial, mesmo que a nota fiscal não esteja em seu nome, e
independentemente de apresentação de procuração.
Neste sentido aponta a jurisprudência dos tribunais pátrios:
CONSUMIDOR. VÍCIO DO PRODUTO. LEGITIMIDADE
ATIVA DOS DESTINATÁRIOS FINAIS DO PRODUTO.
IRRELEVÂNCIA DE A NOTA FISCAL ESTAR EM
NOME DE APENAS UM DOS AUTORES.
LEGITIMIDADE PASSIVA E RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DA RECORRENTE, QUE INTEGRA, NA
CONDIÇÃO DE VENDEDORA E LOJA DE VAREJO, A
CADEIA DOS FORNECEDORES. APARELHO DE AR
CONDICIONADO "SPLIT" QUE DEIXOU DE
FUNCIONAR LOGO APÓS A INSTALAÇÃO. DEFEITO
NÃO SANADO PELA ASSISTÊNCIA TÉCNICA.
DIREITO À RESTITUIÇÃO DO PREÇO PAGO E AO
RESSARCIMENTO DAS DESPESAS DE INSTALAÇÃO.
ART. 18, PAR.1º, II, DO CDC. DANOS MORAIS.
(TJ-RS - Recurso Cível: 71003373420 RS , Relator:
Alexandre de Souza Costa Pacheco, Data de Julgamento:
18/07/2012, Segunda Turma Recursal Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 24/07/2012)
DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR
O Código de Defesa do Consumidor define, de maneira bem
nítida, que o consumidor de produtos e serviços deve ser
agasalhado pelas suas regras e entendimentos, senão vejamos:
"Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública
ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestações de serviços."
Com esse postulado o Código de Defesa do Consumidor
consegue abarcar devem responder por todos os fornecedores
– sejam eles pessoas físicas ou jurídicas – ficando evidente
que quaisquer espécies de danos porventura causados aos seus
tomadores.
Em se tratando que a fabricante-ré REQUERIDA fornece
serviço de assistência técnica ao consumidor dos seus
produtos, não há como se eximir de responder por eventual
vício do serviço decorrente de indigitada negativa de
conserto.
Incontroverso na exordial, bem como na documentação
juntada, a demora excessiva para a solução do caso, que não
se concretizou até a presente data.
No caso em tela, a fabricante-ré, ao produzir, distribuir
produto e prestar serviço de conserto respectivamente,
assumiu o risco do empreendimento.
Com isso, fica espontâneo o vislumbre da responsabilização
da empresa requerida sob a égide da Lei nº 8.078/90, visto
que se trata de um fornecedor de produtos que,
independentemente de culpa, causou danos efetivos a um de
seus consumidores.
DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
Percebe-se, outrossim, que o requerente deve ser beneficiado
pela inversão do ônus da prova, pelo que reza o inciso VIII do
artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista
que a narrativa dos fatos encontra respaldo nos documentos
anexos, que demonstram a verossimilhança do pedido,
conforme disposição legal:
"Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:
(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;"
O requerimento ainda encontra respaldo em diversos estatutos
de nosso ordenamento jurídico, a exemplo do Código Civil,
que evidenciam a pertinência do pedido de reparação de
danos.
Além disso, segundo o Princípio da Isonomia, todos devem
ser tratados de forma igual perante a lei, mas sempre na
medida de sua desigualdade. Ou seja, no caso ora debatido, o
requerente realmente deve receber a supracitada inversão,
visto que se encontra em estado de hipossuficiência, uma vez
que disputa a lide com uma empresa de grande porte, que
possui maior facilidade em produzir as provas necessárias
para a cognição do Excelentíssimo magistrado.
DA DEMORA NO CONSERTO
Cabe salientar que aqui não se está a discutir a existência de
vício no produto comercializado, mas sim a demora
injustificada na remessa de peças para o conserto da bicicleta
bem como a má prestação no serviço pela assistência técnica
da fabricante-ré.
Nesta senda, determina o artigo 32 do Código de Defesa do
Consumidor que os fabricantes e importadores deverão
assegurar a oferta de componentes e peças de reposição
enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto.
Trata-se de uma responsabilidade imposta que visa consolidar
o princípio da boa-fé objetiva, com o reconhecimento da
vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo:
Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a
oferta de componentes e peças de reposição enquanto não
cessar a fabricação ou importação do produto.
Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta
deverá ser mantida por período razoável de tempo, na forma
da lei.
Em razão da norma imposta, tanto a reposição de peças como
o conserto do produto em assistência técnica autorizada deve
ser exercido dentro de um prazo razoável, sendo que o
descumprimento desta obrigação configura ato ilícito e deve
ser duramente reprimido, pois, a demora exagerada confere
um inconveniente gravame ao consumidor que, pelas falhas
na prestação do serviço defeituoso, fica privado do seu bem.
Verifica-se nos autos que houve um intervalo de mais de 9
(nove) meses entre a entrega da bicicleta para o conserto e a
chegada das peças solicitadas para o reparo, não sendo os
requerentes adequadamente informados sobre a previsão de
prazo para prestação do serviço, de modo que restou
caracterizado o descumprimento contratual.
Com efeito, a teor do que dispõe o art. 14 do CDC, a
responsabilidade do fornecedor é objetiva:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Ademais, em que pese os autores tenham dado entrada na
assistência técnica da parte ré na data de 18/07/2014, e tenha
sido constatado através de vistoria realizada no local, que o
defeito que inutilizava a bicicleta consistia na simples troca
do aro do pneu, o que levaria o prazo de 10 dias úteis, a
previsão não se concretizou, e apenas no dia 06/05/2015, os
requerentes, foram surpreendidos com a noticia de que o
serviço seria realizado, qual seja a troca do aro defeituoso
bem como a substituição do pneu por outro, todavia, a bateria,
por sua vez, “não prestava mais”.
Diante de todo o exposto, é notória a responsabilidade
objetiva da requerida, a qual independe do seu grau de
culpabilidade, uma vez que incorreu em uma lamentável
falha, gerando o dever de indenizar, pois houve defeito
relativo à prestação de serviços.
Nossos tribunais assim tem entendido na esfera Cível,
vejamos:
DIREITO DO CONSUMIDOR. INDENIZAÇÃO.
CONCESSIONÁRIA DE VEÍCULOS. DEMORA
EXCESSIVA PARA CONSERTO DE AUTOMÓVEL
SINISTRADO. FALTA DE PEÇAS PARA REPOSIÇÃO.
DEVER DE INFORMAÇÃO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. DANO
PRESUMIDO. 1. Acórdão lavrado em conformidade com o
disposto no art. 46 da Lei 9.099/1995, e arts. 12, inciso IX, 98
e 99 do Regimento Interno das Turmas Recursais. 2. Em se
tratando de modelo de automóvel ainda em linha de produção,
os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de
componentes e peças de reposição enquanto não cessar a
fabricação ou importação do produto, razão pela qual a
alegação de falta das peças para pronta reposição não tem o
condão de afastar a responsabilidade da cadeia de
fornecedores pelos danos resultantes da demora excessiva
para conserto de veículo sinistrado. 3. Verifico nos autos que
houve um intervalo de aproximadamente 5 (cinco) meses
entre a entrega do veículo para o conserto e a sua efetiva
devolução, não sendo o consumidor adequadamente
informado sobre a previsão de prazo para prestação do
serviço, de modo que restou caracterizado o descumprimento
contratual capaz de gerar indenização por danos morais na
modalidade in re ipsa, pois transcende o liame de mero
dissabor, irritação ou mágoa para ingressar e interferir de
forma intensa na dignidade da pessoa humana. A
responsabilidade do fornecedor é objetiva, a teor do que
dispõe o art. 14 do CDC. 4. "Dano moral. Para que se faça
indenizável, deve infundir à pessoa lesão a sua imagem, hábil
a deixar sequelas que se reflitam de forma nociva em seu
diaadia". (Acórdão n.701674, 20120111726669ACJ, Relator:
JOÃO FISCHER, 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do DF, Data de Julgamento: 06/08/2013,
Publicado no DJE: 16/08/2013. Pág.: 252). No caso dos autos,
entendo que o descumprimento contratual ultrapassou o mero
aborrecimento do dia a dia, uma vez que a recorrida ficou
aproximadamente 5 (cinco) meses sem seu veículo e enviou
vários e-mails e realizou ligações com o intuito de receber
informações a respeito de como se encontrava seu carro e,
principalmente de quando ocorreria sua efetiva entrega em
todas as vezes os funcionários da recorrente não concediam
respostas concretas à recorrida. Diante desse quadro, a
manifesta falha na prestação do serviço gerou dano moral
passível de indenização. 5. A fixação do valor a título de dano
moral deve levar em conta critérios doutrinários e
jurisprudenciais, tais como o efeito pedagógico e inibitório
para o ofensor e a vedação ao enriquecimento sem causa do
ofendido ou empobrecimento do ofensor. Ainda, a
indenização deve ser proporcional à lesão à honra, à moral ou
à dignidade do ofendido, às circunstâncias que envolvem o
fato, às condições pessoais e econômicas dos envolvidos, e à
gravidade objetiva do dano moral. Assim, o valor fixado para
a reparação de danos morais observou os parâmetros
estabelecidos nos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade e, por este motivo, não merece reparos. 6.
Recurso conhecido, mas desprovido. Sentença mantida pelos
seus próprios fundamentos. 7. Condeno a recorrente ao
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios
que fixo em 10% (dez por cento), que deverá incidir sobre o
valor da condenação devidamente corrigido.
(TJ-DF - ACJ: 20140110687435 DF 0068743-
05.2014.8.07.0001, Relator: ANTÔNIO FERNANDES DA
LUZ, Data de Julgamento: 27/01/2015, 2ª Turma Recursal
dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de
Publicação: Publicado no DJE : 03/02/2015 . Pág.: 344)
DA CONCESSÃO DE TUTELA ESPECÍFICA
(OBRIGAÇÃO DE FAZER)
A tutela pleiteada nesta demanda deverá ser concedida na
forma do art. 461, do CPC, verbis:
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou, se procedente o pedido,
determinará providências que assegurem o resultado prático
equivalente ao adimplemento.
(...)
§ 3º. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao
juiz, conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação
prévia, citado o réu......”
Apesar dos autores terem requerido inúmeras vezes que se
realizasse o que havia sido pactuado, com a entrega da
bicicleta elétrica regularmente funcionando, a mesmo não o
fez.
Dessa forma, se faz imperioso a tutela do estado para que
obrigue a parte ré a realizar o contratado já que, passados
mais de longos 09 (nove) meses não foi cumprido o que foi
prometido, e a bicicleta elétrica continua abandonada na
oficina da assistência técnica da parte ré, apresentando
defeitos.
DAS PERDAS E DANOS
A demora excessiva no reparo da bicicleta impossibilitou os
requerentes de utilizar um bem que era seu por mais de 09
(nove) meses, sendo certo que tal fato não pode ser
enquadrado no que a doutrina classifica como mero
aborrecimento, uma vez que ocasionou danos aos autores que
devem ser reparados.
Deveras, os requerentes investiram o valor de R$ 2.891,30
(dois mil oitocentos e noventa e um reais e trinta centavos) na
aquisição da Bicicleta Elétrica 350w Vex Vl Vermelho
Modelo 2013, exclusivamente com o objetivo de atender a
demanda dos serviços de distribuição e porta a porta, coletas e
entregas rápidas, da empresa REQUERENTE (notas fiscais de
serviços anexos), no entanto, o bem está inutilizado até a
presente data em decorrência da má prestação dos serviços
pela empresa ré.
Diante da situação, embora tenha pago todo o preço pelo
produto, os autores estão impossibilitados dele usufruir,
prejudicadando ainda a agilidade, sustentabilidade e
simplicidade das entregas, posto que para seu uso não se
precisa de habilitação, documento e qualquer funcionário
pode realizar o delivery, além de acrescentar também nos
custos dos serviços, isso porque, comparado as entregas
realizadas pelos motoboys, o serviço de entregas feitas com
bicicletas é pelo menos 30% mais barato.
Como observa-se nos autos do processo, os autores realmente
tiveram seu patrimônio diminuído, pela indisponibilidade
imediata do instrumento de trabalho, para realização dos
serviços que são prestados pela empresa requerente, além de
despesas com diversos telefonemas para a ré na tentativa de
sanar o problema, despesas com transporte em suas idas e
vindas a ré, também para solucionar o problema.
A respeito do assunto, extrai-se da doutrina pátria:
Segundo a lição do saudoso jurista J.M. Carvalho Santos:
“… quer o código que o devedor inadimplente indenize o
prejuízo, ou seja, a perda certa e não eventual, ou melhor
ainda, a verdadeira diminuição ou desfalque que no seu
patrimônio sofreu efetivamente o credor com o
inadimplemento da obrigação”.
E mais,
Sucessivas ligações, visitas à assistência técnica, promessas
sem fim, somado a tudo isso a frustração de não convencer o
requerido a arrumar sua bicicleta configura, certamente, dano
moral.
Em razão da conduta da requerida os autores permaneceram
por meses sem o seu bem, experimentando toda a sorte de
aborrecimentos.
Todavia, o que se mostra mais grave e aviltante é o completo
descaso da requerida. Embora ciente da ausência de peças,
nada fez para diminuir o desconforto dos autores, largando-os
à própria sorte.
Nessa hipótese, não é o defeito na prestação do serviço em si
que gera o dano moral, mas, sim, o descaso da fabricante, o
sentimento de impotência dos requerentes que escolheram e
pagaram pelo produto, mas dependiam da diligência da
requerida para utilizá-lo.
O ilustre doutrinador Sérgio Cavalieri Filho (Programa de
Responsabilidade Civil. Atlas, 8.ed., 2009, p. 499), explica a
dinâmica do dano moral em casos análogos:
“A expressão latina extra rem indica vínculo indireto,
distante, remoto tem sentido de fora de, além de, à exceção
de. Consequentemente, o dano extra rem é aquele que apenas
indiretamente está ligado ao vício do produto ou do serviço
porque, na realidade, decorre de causa superveniente,
relativamente independente, e que por si só produz o
resultado. A rigor, não é o vício do produto ou do serviço que
causa o dano extra rem – dano material ou moral -, mas sim a
conduta do fornecedor, posterior ao vício, por não dar ao caso
a atenção e solução devidas. O dano moral, o desgosto íntimo,
está dissociado do defeito, a ele jungido apenas pela origem.
Na realidade, repita-se, decorre de causa superveniente (o não
atendimento pronto e eficiente ao consumidor, a demora
injustificável na reparação do vício)”.
É certo que o consumidor há de exercitar a tolerância no
mercado de consumo, vencendo os contratempos do diaadia.
Entretanto, entedem os autores, com toda razão, que a espera,
por mais 09 (nove) meses, pelo conserto de um produto, que
deveria ter sido reparado no prazo de 10 (dez) dias úteis,
conforme prometido pela assistência técnica, é suficiente a
causar angústia e sensação de completa impotência do
consumidor diante do fornecedor.
Observa-se que os autores aguardaram a reparação espontânea
do produto por todo esse tempo, restando claro que não se
trata mais de mero aborrecimento, mas de verdadeiro dano
moral, especialmente pelo descaso das requeridas.
Dessa forma, vislumbra-se o abuso de posição dominante do
fabricante na relação contratual, com o controle das rédeas do
relacionamento com o cliente, atendendo-o a seu bel prazer e
segundo as suas conveniências. Nesses casos, o dever de
indenizar surge da própria violação do direito.
Oportuna, nesse sentido, a citação da ementa do julgado da 4ª
Turma do STJ, no Resp. 85.019, j. em 10/03/1998, Rel. Sálvio
de Figueiredo Teixeira:
“Dispensa-se a prova de prejuízo para demonstrar a ofensa ao
moral humano, já que o dano moral, tido como lesão à
personalidade, ao âmago e à honra da pessoa, por vez é de
difícil constatação, haja vista os reflexos atingirem parte
muito própria do indivíduo – o seu interior. De qualquer
forma a indenização não surge somente nos casos de prejuízo,
mas também pela violação de um direito”.
Assim, é inegável a responsabilidade do fornecedor, pois os
danos morais são também aplicados como forma coercitiva,
ou melhor, de modo a reprimir a conduta praticada pela parte
ré, que de fato prejudicou os autores da ação.
DOS PEDIDOS:
Em face de todo o exposto, requer que V. Exª:
A procedência do pedido determinando que a parte ré
entregue a Bicicleta Elétrica 350w Vex Vl Vermelho Modelo
2013, em seu perfeito estado de funcionamento
A indenização por perdas e danos, pelos prejuízos de ordem
patrimonial e extrapatrimonial causados as partes autoras,
tudo conforme fundamentado, em valor pecuniário justo e
condizente com o caso apresentado em tela, em valor que esse
D. Juízo fixar, pelos seus próprios critérios analíticos e
jurídicos;
A citação da parte ré, bem assim, sua intimação para,
querendo, contestar o pedido, sob pena de revelia;
a aplicação da cláusula de inversão do ônus da prova, prevista
no artigo 6º, inciso VIII do CDC
A concessão de tutela específica;
A partes autoras renunciam o valor que exceder a 40
(quarenta) salários mínimos na data do ajuizamento da ação.
Dá à causa o valor de R$ 6.000 (seis mil reais) apenas para
fins de tramitação do feito perante o JEC.
Salvador ____/____/_____
__________________________________________
ADVOGADA
OAB -BA

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