Você está na página 1de 17

fls.

797

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
Ação de Improbidade Administrativa
Proc. N.º 0249949-38.2011.8.04.0001
Requerente: Ministério Público do Estado do Amazonas
Requerido(s): Regina Fernandes do Nascimento, Fabio Filippe, Miguel Virgílio
Câmara de Oliveira, Sigrid Câmara de Oliveira, José Arnaldo Lima Grijó

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
SENTENÇA

Trata-se de improbidade administrativa proposta pelo MINISTÉRIO


PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS em face de REGINA FERNANDES
DO NASCIMENTO, FABIO FILIPPE, MIGUEL VIRGÍLIO CÂMARA DE
OLIVEIRA, SIGRID CÂMARA DE OLIVEIRA e JOSÉ ARNALDO LIMA GRIJÓ
pelos seguintes motivos.

Alega o fracionamento de despesas para dispensa indevida de


licitação na contratação de serviços de buffet no Natal do ano de 2004, onde a
empresa escolhida foi a F.A. Comércio e Serviços Ltda. para realizar duas
confraternizações na mesma época, cada uma custando R$ 8.000,00 (oito mil
reais).

Dentre as irregularidades do procedimento licitatório constam a


falsificação de uma das três propostas da cotação de preços (as outras duas
propostas eram de empresas com o mesmo dono), a elaboração de mapa
comparativo de preços 3 meses após a prestação dos serviços e o fato de o
pagamento ter sido requisitado pela empresa Tecnoar, embora a empresa
contratada fosse a F.A. Comércio e Serviços Ltda., cujos sócios proprietários
eram os mesmos para ambas as empresas.
fls. 798

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
O negócio se referiu à realização de serviços de buffet para 550
(quinhentos e cinquenta) servidores e estagiários e aos menores do
Departamento da Criança e do Adolescente – DEACA, com seus amigos e
familiares, havendo um contrato autônomo para cada uma das
confraternizações

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
Ressalte-se também que haveria direcionamento na contratação
das empresas de Fábio Filippe, decorrente do uso de influência por parte da ré
Sigrid Câmara de Oliveira.

Por esse motivo, pede o ressarcimento de R$ 16.000,00 ao Erário


estadual, bem como a condenação dos réus Sigrid Câmara de Oliveira, Fábio
Filippe e Miguel Virgílio Câmara de Oliveira nas penas correspondentes aos
arts. 9º, caput e IX, 10, caput e VIII e 11, caput e I, todos da Lei n. 8.429/1992,
bem como os réus Regina Fernandes do Nascimento e José Arnaldo Lima
Grijó nas penas relacionadas às violações dos arts. 10, caput, I e VIII, e 11,
caput e I, do mesmo diploma legal.

Foram juntados documentos às fls. 23-303.

José Arnaldo Lima Grijó apresentou defesa prévia às fls. 333-359,


alegando que as dispensas ocorreram de forma lícita, inexistindo
fracionamento, bem como rebatendo o argumento de que o pagamento teria
sido requisitado por empresa diversa da que havia sido contratada para
prestação dos serviços (a empresa requisitante seria efetivamente a
contratada).
fls. 799

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
Foram juntados documentos às fls. 361-367.

A ação foi recebida conforme decisão interlocutória de fls. 369-375.

José Arnaldo Lima Grijó, após ser citado para contestar repetiu os

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
argumentos utilizados no momento da defesa prévia (fls. 408-434).

Em anexo vieram documentos às fls. 435-441.

Fábio Filippe ofereceu contestação às fls. 443-460, suscitando


preliminarmente a inépcia da inicial por ausência de correlação entre a
narração dos fatos e o pedido, e ilegitimidade passiva por entender que se
trata de responsabilidade da pessoa jurídica, e inseri-lo no pólo passivo da
presente ação seria ato de desconsideração da personalidade jurídica. No
mérito, alegou falta de provas sobre a falsificação de uma das propostas da
cotação de preços, bem como questionou o poder atribuído pelo Ministério
Público a Sigrid, no sentido de ela poder mobilizar três setores inteiros da
SEAS. Por fim, alegou inexistência de dano ao Erário por não ter o autor
anexado qualquer demonstração de efetivo prejuízo quanto a
superfaturamento das obras ou prova similar.

Sigrid Câmara ofertou-a nas fls. 462-473 suscitando


preliminarmente a inépcia da inicial por ausência de correlação entre a
narração dos fatos e o pedido. No mérito, repetiu os argumentos utilizados na
contestação oferecida por Fábio Filippe.
fls. 800

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
Miguel Virgílio Câmara de Oliveira apresentou contestação às fls.
478-495 repetindo integralmente os argumentos preliminares e de mérito
utilizados na contestação de fls. 443-460.

Foi decretada a revelia de Regina Fernandes do Nascimento em

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
despacho de fls. 498.

O Estado do Amazonas foi intimado para manifestar-se sobre


interesse de compor à lide em despacho de fls. 507, ficando inerte conforme
certidão às fls. 515.

O Ministério Público impugnou as contestações apresentadas em


réplica às fls. 516-526, combatendo o argumento utilizado pela defesa dos
réus Sigrid Câmara, Fábio Filippe e Miguel Virgílio, onde foi alegado que da
narrativa dos fatos (contrato no valor de R$ 8.000,00) não se extraía relação
lógica com o pedido (ressarcimento de R$ 16.000,00 ao Erário), esclarecendo
que esse último valor refere-se ao total obtido nos dois contratos de serviços
de buffet. Também reiterou argumentos utilizados na peça inicial, onde
destrinchou a responsabilidade individual de cada um dos réus.

O julgamento antecipado da lide foi proposto na fl. 533.

Os réus Sigrid Câmara, Fábio Filippe e Miguel Virgílio apresentaram


rol de testemunhas às fls. 537-538.

Em despacho de fl. 547 o réu José Arnaldo Lima Grijó foi intimado
para constituir novo patrono, o que não fez, tendo a revelia decretada às fls.
fls. 801

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
570.
Os réus Sigrid Câmara, Fábio Filippe e Miguel Virgílio apresentaram
novo rol de testemunhas às fls. 601-602.

José Arnaldo Lima Grijó constituiu novo advogado às fls. 616,

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
juntando sentença criminal de absolvição por falta de provas sobre o crime
tipificado no art. 89 da Lei n. 8.666/1993 às 618-641.

Fábio Filippe, Miguel Virgílio e Sigrid Câmara juntaram a mesma


sentença às fls. 653-677.

Foi realizada audiência de instrução e julgamento em 14 de maio de


2015 (fls. 703-708), onde foram ouvidos:

• Audiney Oliveira Ferreira Pinto (fls. 705-706), que trabalhava no


Centro Educativo Dagmar Feitosa à época dos fatos e participou
tanto da festa de confraternização dos servidores quanto dos
menores, mas não se recorda de data e hora exatos desses
eventos;
• Joana Vita Moraes de Souza (fls. 707-708), que era chefe de
gabinete na SEAS à época dos fatos e participou somente de um
almoço na SEAS pela parte da manhã;
• Maria Edinelza Oliveira Damasceno (fls. 709-711), que trabalhava
na gerência financeira e afirmou que nunca foi procurada por Sigrid
para responder sobre licitações, bem como Regina Fernandes
apenas autorizava o início do procedimento e Maria Dorotéia não
era ordenadora de despesa. José Arnaldo, por sua vez, apenas
fls. 802

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
encaminhava o processo aos setores competentes para impulsionar
o processo licitatório, sendo responsabilidade de Hissa Abrahão a
realização de cotação de preços.

José Arnaldo Lima Grijó apresentou alegações finais às fls. 712-734,

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
ressaltando o aspecto informal da dispensa de licitação que sustentaria a falta
de formalidades descritas pelo MP como atos de improbidade, bem como
rebateu a alegação de que empresas que não venceram os respectivos
certames requisitaram a liquidação das notas de empenho. Por fim, indicou a
ausência de enriquecimento ilícito, dano ao Erário ou violação a princípios,
pelo que sustentou a inexistência de ato de improbidade.

Acompanharam as referidas alegações finais os documentos às fls.


735-738.

O Ministério Público apresentou alegações finais às fls. 746-772,


reiterando argumentos utilizados na peça inicial e detalhando individualmente
a responsabilidade dos réus. Entende pela ocorrência do fracionamento e da
fraude na cotação de preços, pedindo a procedência dos pedidos.

Fábio Filippe, Miguel Virgílio e Sigrid Câmara ofereceram alegações


finais às fls. 776-795, reiterando a preliminar de ilegitimidade passiva dos
sócios da F.A. Comércio por entender que a responsabilização desses réus se
constituiria em desconsideração da personalidade jurídica da empresa. No
mérito, alegou que as festas foram realizadas por dois setores diferentes, bem
como entendeu não haver enriquecimento ilícito ou dano ao Erário. Por fim,
defende a ausência de comprovação do dolo e pela ausência de
fls. 803

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
responsabilização de Miguel Virgílio por não participar dos eventos da
empresa.

É o relatório.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
FUNDAMENTAÇÃO

1. DAS PRELIMINARES

Sobre a preliminar suscitada por Fábio Filippe quanto à ilegitimidade


passiva por ser pessoa física, quando em verdade deveria ser
responsabilizada a pessoa jurídica,sem razão. Isso porque a própria Lei de
Improbidade estabelece a responsabilização do particular no rol de sanções
constante do art. 12, quando impede o particular de contratar com a
Administração e, por conseguinte, a pessoa jurídica da qual faz parte.

A preliminar de ausência de correlação entre o que foi descrito na


peça inicial e os pedidos lá elaborados nunca pode ser acolhida diante do
esclarecimento feito em alegações finais pelo MP onde fica bem clara a
relação entre os valores dos contratos e a quantia a ser ressarcido ao Erário
por parte dos réus.

2. DO MÉRITO
2.1 Do fracionamento de despesas
fls. 804

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________

O presente processo gira em torno da dispensa indevida de licitação


na contratação de serviços de buffet. Afirma-se que, na mesma época, duas
empresas (Tecnoar e FA) com o mesmo proprietário teriam sido contratadas
para organizar as confraternizações de Natal dos servidores e estagiários da

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
SEAS e dos menores do DEACA.

Cada uma das contratações totalizava R$ 8.000,00 limite máximo de


dispensa em razão do valor no âmbito de serviços. Conta-se ainda que as
empresas contratadas contavam com o favorecimento de Sigrid Câmara,
assessora no gabinete da Secretária titular da SEAS à época e que mantinha
relacionamento amoroso com Fábio Filippe, proprietário dessas empresas.

Conforme os arts. 65 e 66 do Código de Processo Penal, ausentes o


reconhecimento de excludentes de ilicitude ou de inexistência do fato, não há
que se falar em influência dessa sentença na presente ação de improbidade.
Ante ao exposto, é mister esclarecer que a sentença juntada pelos réus Sigrid
Câmara, Fábio Filippe e Miguel Virgílio às fls. 654-677, referente ao crime de
dispensa indevida de licitação, tipificado no art. 89 da Lei de Licitações e
Contratos, trata de absolvição por falta de provas, o que nunca exerce efeito
na esfera cível.

Por sua vez, o procedimento de contratação por dispensa no âmbito


da SEAS ocorria da seguinte forma: 1) o setor interessado nas obras ou
aquisições enviava o requerimento endereçado à ordenadora de despesas,
que no caso era a Secretária; 2) a Secretária encaminhava o processo ao
Departamento Administrativo Financeiro - DAFI, que realizava a cotação de
fls. 805

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
preços, o mapa comparativo e a indicação do melhor preço por meio da
Gerência Administrativa – GEAD; 3) o processo era repassado, então, à
Gerência de Orçamento e Finanças - GEOF, que comunicava a disponibilidade
orçamentária; 4) o DAFI, então, na pessoa de José Arnaldo Lima Grijó,
preparava o processo para apreciação da Secretária; 5) após, a Secretária

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
autorizava a contratação.

Os eventos mais graves relacionados ao presente processo são


referentes ao fracionamento de despesas e ao direcionamento no processo de
contratação, que ficou consubstanciado na simulação de apresentação de
ofertas durante a cotação de preços (duas das propostas eram de empresas
de mesmo proprietário, e a terceira era falsa). Demais irregularidades vêm a
compor o cenário no qual se desenrolou a contratação via dispensa dos
serviços ora sob exame.

As vedações que se referem ao fracionamento de despesas quanto


a serviços que não sejam de engenharia resultam da interpretação conjugada
entre o art. 23, §5º e o art. 24, II, da Lei n. 8.666/1993, pelo que se conclui que
nunca pode haver fracionamento de: 1) parcelas de uma mesma obra ou
serviço; 2) obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam
ser realizadas conjunta e concomitantemente; 3) parcelas de um mesmo
serviço,compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só
vez.
fls. 806

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
Argumentar-se-á que o art. 23, parágrafo primeiro, da Lei n. 8666/93
permite o fracionamento, mas desde que não sirva para se esquivar de certa
modalidade de licitação ou escapar dela tornando a compra dispensável, visto
que se configura fraude ao certame, fato presente conforme acima explicado.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
Neste sentido doutrina Lucas Rocha Furtado:

“Nesse contexto, porém, jamais poderá ocorrer a utilização do


desmembramento ou fracionamento, de modo a enquadrar o contrato nos
limites de licitação dispensável, ou tencionando a permitir a adoção de
modalidade de licitação menos rigorosa que a cabível”.

(Curso de Licitações e Contratos Administrativo, SP, Atlas, 2001, p. 123).

Como os serviços de buffet eram de idêntica natureza e foram


executados no mesmo local (cidade de Manaus/AM), bem como poderiam ter
sido contratados de uma só vez (confraternizações em datas comemorativas
são de fácil previsibilidade), fica evidenciado nos autos o fracionamento de
despesas importando em violação ao art. 10, VIII, da Lei de Improbidade
Administrativa, porquanto signifique dispensa indevida de licitação.

Essa prática incorre em dano ao Erário, uma vez que mesmo no


processo simplificado de contratação a Administração foi impedida de escolher
a oferta mais vantajosa e independe da efetiva demonstração do dano para
que se incorra nas penas do art. 12, II, da Lei de Improbidade, por tratar-se de
presunção de ocorrência da lesão; a fraude nas cotações segue o mesmo
raciocínio de prejuízo aos cofres públicos (REsp 1.280.321-MG, Segunda
Turma, DJe 9/3/2012; e REsp 817.921-SP, Segunda Turma, DJe 6/12/2012.
REsp 1.376.524-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 2/9/2014).
fls. 807

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________

No caso em tela, embora haja certeza da ocorrência desse


fracionamento, é impossível imputar a responsabilidade da conduta ímproba a
algum dos réus tendo por base tão somente as provas contidas nos presentes
autos.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
Com efeito, o inquérito juntado pelo autor junto à petição inicial
contém indícios capazes de fundamentar a propositura da ação, mas os
depoimentos nele constantes não foram obtidos respeitando o exercício do
contraditório, fazendo com que seja inadequada sua utilização para formação
de convencimento de uma condenação.

Inexistindo a prova inequívoca, utilizável judicialmente, de que um


dos réus concorreu dolosamente para o fracionamento de despesas sob
exame, não há como existir condenação tendo por base a Lei de Improbidade
Administrativa.

Passa-se à análise da responsabilidade individualizada dos réus.

2.2 Da responsabilidade da ré Sigrid Câmara de Oliveira e do réu Fábio


Filippe

Sigrid Câmara era assessora no gabinete da Secretária Titular da


SEAS à época dos fatos e a ela o Ministério Público atribui a influência na
contratação da Tecnoar por ser empresa dirigida pelo seu namorado, Fábio
Filippe.
fls. 808

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
As provas judiciais, porém, não demonstraram sua participação na
alegada fraude. Dir-se-á pela existência diante dos depoimentos colhidos no
procedimento administrativo instaurado pelo MP, todavia, estes somente tem
valor para fins de instauração da demanda cível devendo passar pelo
contraditório, ou seja, serem judicializadas objetivando uma condenação nos

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
autos inexistente, assim, prevalece a prova prestada em juízo que deixou de
demonstrar sua participação, bem como de Fábio Filippe.Confira-se:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DESTINAÇÃO DE


TERRENOS DO MUNICÍPIO A PARTICULARES. DOAÇÃO VERBAL. OITIVAS DE
TESTEMUNHAS COLHIDAS EM INQUÉRITO CIVIL. TESTIGOS APRESENTARAM
OUTRA VERSÃO EM DEPOIMENTO JUDICIAL. PREVALÊNCIA DAS PROVAS
PRODUZIDAS SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. DÚVIDA
QUANTO AO ATO ÍMPROBO. AUSÊNCIA DE PROVA IRREFUTÁVEL. NÃO
COMPROVADO QUE A NOVA VERSÃO FOI FRUTO DE TEMOR OU
FAVORECIMENTO AO REQUERIDO. SENTENÇA REFORMADA. APELO
CONHECIDO E PROVIDO. "O valor do inquérito civil como prova em juízo
decorre de ser uma investigação pública e de caráter oficial. Quando
regularmente realizado, o que nele se apurar tem validade e eficácia em juízo,
como as perícias e inquirições. Ainda que sirva essencialmente o inquérito civil
para preparar a propositura da ação civil pública, as informações nele contidas
podem concorrer para formar ou reforçar a convicção do juiz, desde que não
colidam com provas de maior hierarquia, como aquelas colhidas sob as
garantias do contraditório." (MAZZILLI, Hugo Nigro. O inquérito civil:
investigações do Ministério Público, compromissos de ajustamento e
audiências públicas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2000). "As provas colhidas no
inquérito têm valor probatório relativo, porque colhidas sem a observância do
contraditório, mas só devem ser afastadas quando há contraprova de hierarquia
superior, ou seja, produzida sob a vigilância do contraditório." (REsp n.
476.660/MG, rela. Min. Eliana Calmon, j. em 20.05.2003).

(TJSC, Quarta Câmara de Direito Público Apelação Cível n. 2012.058635-6, de Lebon


Régis, rel. Des. Júlio César Knoll, j. 23-05-2013).
fls. 809

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
2.3 Da responsabilidade do réu Miguel Virgílio Câmara de Oliveira

Quanto a Miguel Virgílio inexistem indícios de que tenha concorrido


com as condutas ilícitas indicadas na petição inicial. Existe demonstração nos
autos tão somente do enriquecimento indevido, na proporção das quotas que

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
possuía junto à F.A. Comércio Ltda., que eram de 5% (cinco por cento) do
capital social.

Por essa razão, como os documentos são incapazes de evidenciar


uma conduta desonesta por parte do réu Miguel Virgílio, mas apenas reflexos
pecuniários de sua participação como sócio na F.A. Comércio Ltda., afasta-se
a penalidade da Lei n. 8429/92.

2.4 Da responsabilidade dos réus José Arnaldo Lima Grijó e Regina


Fernandes do Nascimento

José Arnaldo era o responsável por preparar o procedimento


administrativo para que Regina Fernandes, Secretária titular da SEAS e
ordenadora de despesas, autorizasse a realização da despesa objeto do
procedimento.

Em depoimento durante o procedimento administrativo realizado


pelo Ministério Público, José Arnaldo afirma que os processos estavam sim
irregulares, mas que não se recorda de haver trabalhado em quaisquer dos
processos administrativos que são objetos da presente ação (1970/04 e
1971/04).
fls. 810

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
De fato, inexiste qualquer manifestação do réu nos documentos
apresentados junto à petição inicial. Os únicos documentos onde o réu tem o
nome citado são as requisições dos setores interessados (fls. 192 e 209), mas
não há demonstração de que o requerido tenha recebido a requisição e
instruído os processos para que fossem apresentados à Secretária titular com

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
o fito de autorizar a despesa.

Falta afirmar, portanto, que o requerido teve ciência das


irregularidades que contaminaram o processo administrativo de contratação.
Nesse sentido, não há razão em imputar a José Arnaldo o cometimento de
conduta desonesta.

Os únicos documentos que constam dos Processos Administrativos


1970/04 e 1971/04 são as requisições dos órgãos interessados, as cotações
de preços, os mapas comparativos de preços e as solicitações de pagamento
feitas pelas empresas contratadas para realizar os serviços de buffet, não
constando desses processos qualquer demonstração do caminho por eles
percorrido até que fosse liquidada a despesa.

Já em relação à ré Regina Fernandes, sua única participação nos


processos de contratação é verificada pela presença de sua assinatura nas
notas de lançamento (fls.202 e 219) e nos programas de desembolso (fls. 203,
204, 220 e 221).
fls. 811

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
A assinatura de Regina era fundamental nesses processos, uma vez
que se tratava da ordenadora de despesas da secretaria. Entretanto, não há
como dizer que foi responsável por conduta desonesta apenas por meio
dessas assinaturas, pois não há como supor que possuía visão global do que
estava ocorrendo no âmbito desses processos de contratação.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
Afirmar que era dever da Secretária monitorar detalhadamente todo
procedimento que ocorra dentro da SEAS é atribuir onisciência à ré, porque
um órgão do porte de uma secretaria envolve um grande número de
servidores, com um número elevado de rotinas, correndo o risco de afetar a
rapidez e produtividade do órgão público caso a relação entre Regina
Fernandes e os demais servidores não fosse fundamentada em confiança.

Também não há depoimentos ou provas no sentido de que sabia do


conluio e concorreu para que ocorresse, ou tivesse se beneficiado da
contratação viciada. A única possibilidade de condenação, portanto, seria por
dano ao Erário caracterizado por culpa grave, onde a negligência teria que
ofender o nível mais básico de percepção do homem médio; entretanto, como
as únicas rubricas da ré se encontram nas notas de lançamento e programas
de desembolso, sequer há certeza de que teve acesso aos processos 1970/04
e 1971/04 na íntegra, ainda que contra ela pese a revelia na presente.

Sobre a revelia no caso em tela, “a ação de improbidade


administrativa, pela proximidade punitiva que tem com a ação penal, impõe ao
autor o dever de provar os atos dados como ímprobos, não sendo suficiente a
'verdade' da confissão ficta decorrente da revelia, mais propícia para as
questões privadas de cunho patrimonial. A similitude de situações punitivas
fls. 812

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
____________________________________________________________________________
(ação de improbidade e ação penal) impõe em ambas às ações a observância
do princípio da verdade real, podendo e devendo o juiz, na medida do
possível, buscar o conhecimento do que efetivamente ocorreu” (Apelação
Cível nº 2005.39.00.010022-5/PA, 4ª Turma do TRF da 1ª Região, Rel.
Olindo Menezes. j. 05.03.2013, unânime, DJ 19.03.2013).

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
DISPOSITIVO

Ante o exposto julga-se improcedente o pedido, nos termos do art.


269, I, do CPC.

Sem custas.

Deixa-se de condenar em honorários de sucumbência, tendo em


vista não haver comprovação de má-fé por parte do Ministério Público,
necessária diante de precedentes jurisprudenciais (STJ - REsp: 577804 RS
2003/0130778-6, Relator: Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI; STJ - REsp:
1177597 RJ 2010/0017153-0, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES).

Após o trânsito em julgado arquivem-se estes autos com baixa


na distribuição.

Publique-se. R.Intime-se.

Manaus, 30 de setembro de 2015.


Juiz de Direito
Everaldo da Silva Lira]
3ª Vara da Fazenda Pública Estadual
Everaldo da Silva Lira – Juiz de Direito
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS

____________________________________________________________________________
fls. 813

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por EVERALDO DA SILVA LIRA, liberado nos autos em 08/10/2015 às 09:47 .
Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0249949-38.2011.8.04.0001 e código 234C40C.

Você também pode gostar