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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL

DE CARIRI DO OESTE – ESTADO DO PERNAMBUCO

PROCESSO Nº 0001234-56.2022.8.26.999

EUGENIE LALAND, já qualificada nos autos da ação em epígrafe, por seu


advogado infra-assinados, através de instrumento de procuração e
substabelecimento, cuja qualificação e indicação do escritório constam na
procuração anexa, onde ali aponta o endereço para receber notificações e
intimações vem à presença de Vossa Excelência, mui respeitosamente,
apresentar CONTESTAÇÃO na Ação de Despejo com Pedido de Tutela
Antecipada cumulada com Cobrança de Aluguéis, ajuizada por AUGUSTE
DUPIN.

1. DAS INTIMAÇÕES/NOTIFICAÇÕES/PUBLICAÇÕES

Requer a Autora, que todas as intimações, notificações e publicações sejam


endereçadas ao Advogado Antônio Carlos Medeiros, OAB 263, sob pena de
nulidade do ato processual, conforme entendimento jurisprudencial
consolidado.

2. DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA

Cumpre, de início, registrar a hipossuficiência do Autor para custear as


despesas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo de seu
sustento, estando assistida por sua entidade sindical. Desta forma, valendo-se
da lei 1.060/50, cabível os auspícios da Justiça Gratuita, conforme declaração
de hipossuficiência ora anexada.

Ressalte-se que não existem honorários advocatícios previamente


estabelecidos pela parte em caráter contratual, ingressando o defensor no
patrocínio da causa sem este espectro financeiro (pro bono).

3. DA REALIDADE DOS FATOS

Na presente demanda, o Autor pretende o despejo da Ré face ao


inadimplemento no pagamento dos aluguéis a partir de maio de 2022, além de
encargos locatícios.

As partes celebraram Contrato de Locação do imóvel situado à Rua Morgue,


s/n, no Município de Cariri do Oeste, Estado do Pernambuco, por prazo
indeterminado a contar de 13 de março de 2020.

Até abril de 2022, a Ré honrou com o pagamento das cotas locatícias


regularmente, mas Eugenie Lalande é uma jovem mãe solteira e exerce a
profissão de enfermeira. Como está sempre ocupada, em plantões, informou
que não pagou os valores por um lapso de sua parte, mas esclarece que
possui plenas condições de arcar com os débitos que, considerando juros,
correção e honorários, alcançam o valor de R$ 7.300,00 (sete mil e trezentos
reais).

Ela esclareceu, ainda, não ter notado a falta dos pagamentos por não ter sido
cobrada em momento algum pelo autor

Cumpre ressaltar que a Ré, na busca de resolver da melhor maneira possível o


caso, mas o Autor não teve interesse na realização de audiência conciliatória
com o fim de negociar a dívida.

Como é de interesse da Ré continuar no imóvel, pretende estabelecer, junto ao


Autor, uma maneira para negociação da dívida existente.
4. DO DIREITO

O contrato não é mero acordo de vontades e “lei entre as partes”. Esta visão
parcial da relação contratual deve ser completada pelos aspetos
socioeconômicos que revelam ser o contrato uma decorrência direta do contato
social, instrumento fundamental de realização de interesses patrimoniais e
existenciais das pessoas.

Desta forma, verifica-se que o contrato de locação residencial cuida, de um


lado, do legítimo interesse econômico do locador, que, no exercício de seu
direito de propriedade, busca extrair os frutos civis do imóvel. De outro lado, há
o direito fundamental de moradia do locatário.

Sobre o direito de moradia, expressamente incluído no rol dos direitos sociais


elencados no art. 6º, caput da Constituição Federal através da Emenda nº. 26,
de fevereiro de 2000, cabe destacar que sua proteção está diretamente
relacionada à própria tutela da dignidade humana, princípio constitucional
basilar e norteador de todo o ordenamento jurídico.

“Art. 6º-São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.”

O direito fundamental à moradia assegura a todos a garantia de uma


sobrevivência com dignidade.

Ocorre que, como já destacado o despejo da Ré implicará na gravíssima


situação de por uma família enferma para morar na rua. Se é certo que esse
relevante problema, que é social, não poder ser integralmente suportado pelo
locador/Autor, a este se impõe o dever anexo de lealdade e solidariedade, no
sentido de viabilizar o pagamento parcelado do débito, de acordo com as
efetivas possibilidades econômicas da Ré.

Esclareça-se que, durante um longo período, a Ré, honrou com pontualidade o


pagamento dos aluguéis. Porém, neste momento de extrema dificuldade em
relação aos seus horários de trabalho, não se pode admitir que seu desalijo
seja autorizado, sem que se esgotem as tentativas de uma real e possível
composição.

Portanto, não sendo dada observância ao inciso II do art. 62 da Lei 8.245/91,


que se refere ao prazo de 15 dias, a contar da citação, o pagamento do débito
atualizado.

Contudo, a Ré não se opõe ao pagamento da dívida; o que deseja é efetuar a


purga da mora no valor que entende devido. Porém, em razão de fato
imprevisível e alheio a sua vontade (arrimo de família com horário adverso de
trabalho), requer-se a autorização para o pagamento da dívida atualizada, com
supedâneo no art. 317 do Código Civil que trata da onerosidade excessiva,
vejamos:

“Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta


entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o
juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o
valor real da prestação.”

Ademais, a proteção ao Locatário encontra amparo também na regra expressa


do Código Civil segundo a qual prevê a redução da penalidade nos casos em
que a obrigação principal tenha sido cumprida em parte ou a penalidade seja
excessiva, observadas a natureza e a finalidade do negócio.
“Art. 413 - A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a
obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da
penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a
finalidade do negócio.”

Convém destacar, ainda, que, em sua inicial o Autor requer a antecipação da


tutela alegando que o contrato em questão é desprovido das modalidades de
garantias previstas no art. 37 da Lei 8.245/91.

Desse modo, o pleito do Autor não merece prosperar, visto que o entendimento
a que se presta a tutela antecipatória é a urgência e no caso em análise há que
se considerar que a natureza da tutela é mandamental (despejo) e
desconstitutiva (contrato de locação).

Ora, qual o propósito de desconstituir algo provisoriamente?

Pode-se, isso sim, mandar que se faça ou não se faça algo em caráter
provisório, mas a desconstituição de certa situação parece não trazer riscos ao
resultado útil do processo, restando, portanto, incompletos os requisitos que
evidenciam a concessão da tutela antecipada, conforme previsão do art. 300
do Novo Código de Processo Civil.

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.”

O princípio da necessidade impõe que se observe a adequação da medida


antecipatória ao fim a que se destina a antecipação, e que outro não é senão o
de assegurar a efetividade do processo.
Assim, nos casos em que a tutela somente poderá servir ao Demandante
quando concedida em forma definitiva, não haverá utilidade alguma em
antecipá-la provisoriamente, o que torna incabível antecipar simplesmente os
efeitos declaratórios e meramente constitutivos.

Destarte, requer a improcedência da antecipação da tutela por não atender os


requisitos que evidenciam a sua concessão.

Em resumo, o processo deve ser extinto sem julgamento do mérito, haja vista
inexistir a memória discriminada do débito, o que evidencia a falta de interesse
de agir.

DOS REQUERIMENTOS FINAIS

Ante o exposto, REQUER o Demandado:

1. Que seja deferido os auspícios da Justiça Gratuita nos termos, da Lei


1.060/1950, por não ter a Ré condições de arcar com o pagamento de custas e
demais despesas processuais sem prejuízo de seu sustento;

2. Que todas as intimações, notificações e publicações sejam endereçadas ao


Advogado Carlos Antônio Medeiros, OAB 263, bem como:

A autorização para o pagamento da dívida, em parcelas que não comprometam


o seu orçamento a serem acordadas com o Demandante.

Seja extinta a presente ação sem resolução do mérito, haja vista em virtude de
erros e falta de respeito aos procedimentos previstos na Lei de Inquilinato, o
que evidencia a falta de interesse de agir;
Seja julgado TOTALMENTE IMPROCEDENTE o pedido de antecipação dos
efeitos da tutela por não atender aos requisitos legais para a concessão da
medida;

Por fim, protesta e requer provar o alegado por todos os meios de prova
admitidos em direito, notadamente, depoimento pessoal, oitiva de testemunhas,
juntada ulterior de documentos, bem como, quaisquer outras providências que
Vossa Excelência julgue necessária à perfeita resolução do feito, ficando tudo
de logo requerido.

Nesses Termos,

Pede Deferimento.

Cariri do Oeste, 25 de abril de 2022.

Carlos Antônio Medeiros - Advogado OAB 263

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