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Marina Ferrari – MD6

Mente e Cérebro
Problema 5

Pensamento a. Localização das sensações na


superfície corporal
-É a atividade mental organizada, não
b. Sensação de textura
limitada ao mundo físico
c. Reconhecimento visual de
-É um modelo mental para o planejamento,
padrões geométricos
definição de estratégias, previsões e soluções de
-A área pré-frontal é dita como importante
problemas resultante da estimulação de diferentes
para a elaboração do pensamento sendo capaz de
partes do córtex ao mesmo tempo
armazenar, a curto prazo, as “memórias de
-Se constitui a partir de elementos
trabalho” que são usadas para combinar novos
sensoriais, que, embora não sejam propriamente
pensamentos, enquanto eles estão sendo
intelectivos, podem fornecer substrato para o
processados no cérebro
processo do pensar: são as imagens perceptivas e
-Além disso, a área de Wernike também
as representações
estaria envolvida na formação de pensamentos
-Através dele orientamos e integramos
complexos:
todos os conteúdos imaginativos e outros dados do
*É o local de confluência de diversas
nosso conhecimento de juízo e conceitos
áreas interpretativas sensoriais, promovendo a
significativos, concretos ou abstratos
formação de pensamentos complexos
-Em resumo, pensar significa ordenar fatos
*É a área de inteligência do
relativos a nós próprios e ao nosso mundo. Com a
pensamento que, em conjunto com a área visual
linguagem veiculamos e exprimimos o pensamento
(para dar significado às palavras lidas) fazem parte
-Os elementos propriamente intelectivos do
da área associativa parieto-occipto-temporal →
pensamento costumam ser divididos em:
Giro angular
*3 dimensões do processo de pensar:
Pensamentos básicos → centros inferiores; p.ex. dor
1. Curso Pensamentos complexos → envolvem áreas
2. Forma (ou estrutura) corticais mais associação com outras estruturas; p.ex.
3. Conteúdo (ou temática) visão
*3 componentes constitutivos do
pensamento: Processo de pensar
1. Os conceitos -Curso: Modo como o pensamento flui, a
2. Os juízos sua velocidade e ritmo ao longo do tempo (pensa
3. O raciocínio rápido ou lento)
Teoria holística do pensamento -Forma: Estrutura básica, preenchida pelos
conteúdos e interesses do indivíduo (relação de
-O pensamento resultaria de um padrão de
ideias)
estimulação de diversas partes do SN ao mesmo
-Conteúdo: Pode ser definido como aquilo
tempo, provavelmente envolvendo, de modo mais
importante, o córtex cerebral, o tálamo, o sistema que lhe dá substância, seus temas predominantes,
límbico e a formação reticular do tronco cerebral: o assunto em si, as características das ideias. Há
*Sistema límbico + tálamo + formação tantos conteúdos de pensamento quantos são os
reticular:. sua estimulação determina a natureza temas de interesse do ser humano
geral dos pensamentos, como prazer, dor, Constitutivos do pensamento
conforto, desprazer, modalidades brutas sensoriais,
localização grosseira de partes do corpo e outras Conceitos
características gerais -É o elemento estrutural básico do
*Áreas corticais: sua estimulação pensamento
determina características discretas, como:
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-Eles se formam a partir das percepções e -A noção de juízo consiste, portanto, na
representações e se trata de um elemento articulação entre 2 ou mais conceitos ou termos.
puramente cognitivo básico que identifica as Formar juízos é o processo que conduz ao
qualidades mais gerais, abstratas e essenciais de um estabelecimento de relações significativas entre
objeto ou fenômeno conceitos
-O conceito não apresenta elementos de -Por exemplo, ao tomar-se o conceito
sensorialidade, não sendo possível contemplá-lo, cadeira e o conceito utilidade (ou seja, qualidade de
imaginá-lo, visualizá-lo, ouvi-lo ou senti-lo ser útil), pode-se formular o seguinte juízo: a
-Sendo puramente cognitivo e intelectivo, cadeira é útil
não deve ter qualquer resquício sensorial *Tal juízo estabelece determinada
-Para a formação dos conceitos, são relação entre 2 (ou mais) conceitos, relação
necessários 2 passos fundamentais: denominada cópula
*Eliminação dos caracteres de -Portanto, o juízo tem, por função básica,
sensorialidade: Esses caracteres ainda marcam formular uma relação unívoca entre um sujeito e
essencialmente as representações um predicado. Na dimensão linguística, os conceitos
a. Por exemplo, quando se representa se expressam geralmente por palavras, e os juízos,
uma cadeira, ela ainda é visualizada mentalmente; por frases ou proposições
imagina-se uma cadeira preta, de madeira, bonita OBS: Para explicarmos um conceito, fazemos
ou feia, pequena ou grande. Essa representação de inevitavelmente juízos
cadeira ainda tem forte aspecto sensorial. Quando Raciocínio
se conceitualiza cadeira como um objeto de 4 pés,
-A função que relaciona conceitos e juízos
móvel utilizado para sentar, suprime-se a dimensão
formando uma narrativa ou argumentação recebe
sensorial (no caso, aqui, visual), ficando apenas a
a denominação de raciocínio. O processo do
dimensão conceitual
raciocínio representa o modo especial de ligação
*Generalização: Quando, por exemplo,
entre termos ou conceitos, de sequência de juízos,
se pensa em “cadeira” como conceito, tal conceito de encadeamento de conhecimentos, derivando
é válido para qualquer tipo de cadeira, seja a usada sempre uns dos outros, afirmando-os, negando-os
em casa, seja a cadeira de trabalho, a cadeira de ou confrontando-os
criança, etc. Assim, o conceito resulta da síntese, -Por exemplo: “Todas as pessoas precisam
por abstração e generalização, de um número pegar sol. Se Roberto é uma pessoa, também
considerável de fenômenos singulares precisa pegar sol”. Em seu sentido lógico, o raciocínio
Assim, ao evocar a representação visual de uma não é nem verdadeiro nem falso, e sim correto ou
cadeira (ou mesa, carro, etc.), não viria à mente uma
incorreto. No exemplo acima, observa-se que o
massa visual neutra, sem sentido utilitário, mas um
objeto, quase sempre com um assento ou tampo raciocínio está correto. Se ele é verdadeiro ou não,
plano, 4 ou 3 pés de sustentação, de madeira, é outra discussão
plástico ou ferro, ou seja, um objeto que é Assim como a ligação entre conceitos permite a
construído culturalmente e que apresenta significado formação de juízos, a ligação entre juízos conduz à
linguístico formação de novos juízos. Dessa forma, o raciocínio
-O conceito pode ser visto como o elemento e o próprio pensamento se desenvolvem
estrutural básico do pensamento; nele se exprimem Tipos de pensamentos fisiológicos
os caracteres essenciais dos objetos e os
fenômenos da natureza e da cultura. Assim, “o Pensamento lógico
conceito é a unidade 1ª do pensamento e do -O que caracteriza o pensamento normal é
conhecimento: só pensamos e conhecemos na ser regido pela lógica formal e orientar-se segundo
medida em que manipulamos conceitos” a realidade e os princípios de racionalidade da
cultura na qual o indivíduo se insere
Juízos
-Segundo a visão aristotélica, os princípios
-É, a princípio, a afirmação de uma relação básicos do pensamento lógico-formal que orientam
entre 2 conceitos o pensamento normal e maduro são:
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*Princípio da identidade: Também conhecimentos teóricos. Já o método indutivo é
denominado princípio da não contradição. Trata-se mais utilizado nas ciências empíricas, baseadas na
de princípio relativamente simples e essencial do investigação de fatos e objetos do mundo real. Aqui,
pensamento lógico, o qual afirma que: se A é A, e tem-se as ciências naturais (p. ex., física, química,
B é B, logo, A não pode ser B biologia, geologia, etc.) e certos aspectos das
*Princípio da causalidade: Esse princípio ciências humanas (p. ex., sociologia, economia,
afirma que se A é causa de B, A não pode ser ao demografia, ciências políticas, antropologia, etc.)
mesmo tempo efeito de B; ou, dito de outra forma, Pensamento intuitivo
se A é causa de B, então B não pode ser ao -Define-se intuição ou pensamento intuitivo
mesmo tempo causa de A. Também faz parte do a apreensão de uma realidade mais ou menos
princípio da causalidade a regra segundo a qual, complexa de forma direta e imediata
sendo as condições mantidas, as mesmas causas -A intuição é uma forma de conhecimento,
devem produzir os mesmos efeitos de apreensão direta da realidade vivida, oposta ao
*Lei da parte e do todo: Esse princípio pensamento positivista, que abarca os elementos
discrimina rigorosamente a parte do todo; se A é especializados da realidade
parte de B, então B não pode ser parte de A. -Visa captar a interioridade das coisas,
Assim, se o Brasil é uma parte da América do Sul, inclusive aquelas dimensões muito difíceis de serem
então a América do Sul não pode ser uma parte expressas por palavras e pelo pensamento analítico
do Brasil
-Esses princípios receberam tratamento Pensamento crítico
crítico e, em certa medida, foram questionados -Por fim, cabe assinalar a importância para a
pelo desenvolvimento da dialética hegeliana. De saúde mental do chamado pensamento crítico. Este
acordo com o filósofo alemão Georg W. F. Hegel é um modo de pensar no qual o indivíduo, em seu
(1770 1831), as principais leis da dialética que desafiam processo pensante, está atento às possíveis falhas
as limitações da lógica aristotélica são: em seu raciocínio, falhas decorrentes de tendências
1. Lei da transformação da quantidade pré-fixadas, vieses sistemáticos e conclusões
em qualidade prematuras
2. Toda afirmação encerra em si -Deve haver um esforço nos projetos
mesma o princípio de sua negação educacionais para que se desenvolva essa forma de
3. Tudo é, a um só tempo, causa e pensar, ou seja, um pensamento que busque ser
efeito de si mesmo amplo e aprofundado, aberto a visões de mundo
divergentes, sistemático no seu proceder analítico e
Pensamento indutivo e dedutivo curioso em relação a novas possibilidades
-Em termos de tipos de pensamentos -O pensamento crítico busca um estado de
relacionados à aquisição de conhecimentos, foram maturidade no qual se admita que há questões e
propostos 2 outros tipos de pensamento ou problemas multifacetados, complexos, que aceite
métodos de adquirir conhecimentos: indutivo e que há questões que comportam mais de 2
dedutivo respostas (mais que “sim” e “não”) e que exigem
-Pensamento ou método indutivo: parte da diferentes níveis e formas de análise e solução
observação dos fatos elementares, da Pensamentos errôneos e vieses de pensamento sem
experimentação e da comparação entre alterações psicopatológicas
fenômenos para chegar a conclusões e -O tipo e o estilo de pensamento de muitas pessoas
concepções mais gerais, a hipóteses explicativas e da população em geral, sem transtornos mentais,
classificações mais amplas são apenas precariamente lógicos e coerentes,
-Pensamento ou método dedutivo: parte de respeitantes da realidade factual. Na população sem
esquemas, axiomas, definições e teoremas transtornos mentais, vários erros e vieses, comuns e
constituídos, já bem arquitetados, para, por meio de sistemáticos, têm sido identificados por estudos de
demonstrações lógicas, assim deduzir a correção do psicologia cognitiva e neuropsicologia
pensamento. O método dedutivo presta-se mais às *O viés de confirmação: diz respeito à busca
ciências matemáticas, à lógica formal, a ativa e seletiva que um sujeito faz no sentido de
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confirmar hipóteses (ou preconceitos) falsas ou sem expressa por uma nova palavra. Na dimensão da
fundamento e sem observar com cuidado os dados linguagem, são designadas neologismos patológicos
factuais da realidade. Há, assim, uma tendência *Estes diferem dos neologismos não
relativamente comum de muitas pessoas em patológicos, que decorrem da produção poética ou
distorcer, de modo inconsciente, os dados e as literária ou de processos culturais e sociolinguísticos
percepções da realidade para confirmar hipóteses próprios da criação da linguagem normal
previamente formuladas no início de um raciocínio
*O viés de salto para as conclusões: se verifica Alterações dos juízos
quando conclusões apressadas, sem base nas Juízo deficiente ou prejudicado
evidências factuais, são formuladas com grau de -É um tipo de juízo falso que se estabelece
certeza incompatível com tais evidências
porque a elaboração dos juízos é prejudicada por
-Assim, uma série de crenças preconceituosas,
deficiência intelectual e pobreza cognitiva do
sociais ou pessoais, é criada e mantida de forma
insistente por um nº considerável de pessoas. Tudo indivíduo. Aqui, os conceitos são inconsistentes, e o
isso torna difícil a diferenciação e delimitação entre raciocínio, pobre e defeituoso. Os juízos são por
pensamento normal e patológico demais simplistas, concretos e sujeitos à influência
do meio social
Psicopatologia do pensamento -Às vezes, é difícil diferenciar um juízo
Alterações dos componentes deficiente com muito material fantasioso de um
delírio: de modo geral, os erros de juízo que não
constitutivos do pensamento são delírios, mas produzidos pela deficiência
Alterações dos conceitos intelectual, tendem a não ser persistentes e
irredutíveis, mudando com certa frequência
Desintegração e transformação dos
(diferentemente dos delírios, que tendem a ser
conceitos mais contínuos) e tendo frouxa consistência interna
-Ocorre quando os conceitos sofrem um Juízos de realidade ou de existência
processo de perda ou transformação radical de -As alterações do juízo de realidade em
seu significado original. Se desfazem, e uma mesma psicopatologia têm seu exemplo mais
palavra passa a ter significados cada vez mais paradigmático no delírio, ou ideias delirantes. Estas
diversos. A ideia de determinado objeto e a palavra são, de fato, as alterações do juízo mais relevantes
que normalmente a designa passam a não mais
Delírio
coincidir
-É comum que o sujeito passe a utilizar as -As ideias delirantes, ou delírio, são juízos
palavras de forma totalmente pessoal e patologicamente falsos. Dessa forma, o delírio é um
idiossincrática (no plano da linguagem, isso é erro do ajuizar que tem origem no adoecimento
chamado neologismo patológico) mental. Entretanto, cabe assinalar que não é tanto a
-Por exemplo, para um paciente a palavra falsidade do conteúdo que faz um juízo, uma
“ateu” deixa de significar “descrente de Deus” para crença, ser um delírio (embora quase sempre a
significar justamente o seu oposto. O indivíduo crença delirante seja falsa), mas sobretudo a
subverteu o sentido comum de ateu, interpretando justificativa para a crença que o delirante apresenta,
que significava “a teu comando”, ou seja, “a o tipo de evidência que lhe assegura que as coisas
comando de Deus, crente” são assim
*A desintegração e a transformação dos -Karl Jaspers (1979) descreveu 3
conceitos são bastante características da características ou indícios externos que, do ponto
esquizofrenia e podem ocorrer também nas de vista prático, são muito importantes para a
síndromes demenciais identificação clínica do delírio:
1. O indivíduo que apresenta o delírio
Condensação dos conceitos
tem convicção extraordinária, uma certeza
-Ocorre quando 2 ou mais conceitos são subjetiva praticamente absoluta. Sua crença é total;
fundidos; o paciente involuntariamente condensa 2 a seu ver, não se pode colocar em dúvida a
ou mais ideias em um único conceito, que se veracidade de seu juízo delirante
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2. É impossível a modificação do delírio 6. O delírio é uma produção associal,
pela experiência objetiva, por provas explícitas da idiossincrática em relação ao grupo cultural do
realidade, por argumentos lógicos, plausíveis e paciente. Geralmente se trata de uma convicção
aparentemente convincentes. Assim, diz-se que o de uma só pessoa. O delírio não é nem produzido,
delírio é irremovível, irrefutável; mesmo pela prova nem compartilhado por um grupo religioso, político
de realidade mais cabal, ele não pode ser ou de outra natureza. Pelo contrário, ao delirar, o
influenciado externamente por pessoas que indivíduo se desgarra de sua trama social, do
queiram demover o delirante de suas crenças. O universo cultural no qual se formou, e passa,
delírio é, quase sempre, um juízo falso mesmo contra esse grupo cultural, a produzir suas
3. Seu conteúdo é impossível. Embora crenças individuais. Pode-se dizer que, ao produzir
esse seja o aspecto mais evidente do delírio, mais um delírio, o sujeito engendra sua própria “religião,
fácil de caracterizar, é, também, seu aspecto, do seu próprio sistema ideológico ou científico”, que
ponto de vista psicopatológico, mais frágil. Sabe-se são criações geralmente falsas, individuais e
que alguns pacientes delirantes podem associais
eventualmente ter delírios verídicos. O fato que o Tipos alterados de pensamento
paciente relata pode ocorrer realmente. É o caso
do indivíduo com alcoolismo crônico que tem (incluindo juízo e raciocínio)
delírios de ciúmes e sua mulher realmente o trai, ou Pensamento mágico (PM)
o do líder político com delírio de perseguição, -Esse grupo de tipos de pensamento se
sendo que, de fato, algumas pessoas querem caracteriza por ferir os princípios da lógica formal,
prejudicá-lo ou mesmo matá-lo. Isso, entretanto, bem como os indicativos e imperativos da realidade
não invalida o fato de que, para aquele indivíduo, o -Seguem os desígnios dos desejos, das
que se passa, do ponto de vista psicopatológico, é fantasias e dos temores, conscientes ou
um delírio. O modo como ela construiu seu inconscientes, do sujeito, adequando a realidade ao
ajuizamento e como mantém a crença são pensamento, e não o contrário
patológicos. Entretanto, cabe reforçar: na maioria -Relaciona um fato a uma associação
dos casos, o delírio é, de fato, um juízo falso puramente subjetiva de ideias. Por exemplo, porque
-Além das 3 características ou indícios de vi um carro batido hoje cedo, concluo que meu pai
delírio, outros autores acrescentaram alguns irá morrer atropelado nos próximos dias
adicionais relevantes: -O PM possui 2 leis e particularidades:
4. O delírio é muitas vezes vivenciado 1. Lei da contiguidade: É a base da
como algo evidente; o indivíduo acredita que é
magia de contágio, que utiliza o preceito de que
claro, óbvio, que as coisas estejam acontecendo da
“coisas que estiveram em contato continuam
forma como estão (segundo seu juízo delirante);
unidas”. Assim, se o ato mágico agir sobre um
mesmo que o conteúdo seja totalmente impossível,
objeto que pertenceu a uma pessoa (roupa,
o paciente acha que é evidente que as coisas
adorno, móvel, etc.), há a crença de que estará, de
estejam acontecendo como estabelece seu juízo
fato, agindo sobre a própria pessoa (p. ex., ao
delirante
queimar e destruir uma camisa do indivíduo, estará
5. Para se identificar a crença falsa como
queimando e destruindo a própria pessoa)
delírio, é preciso que o indivíduo delirante tenha
2. Lei da similaridade: É a base da
inteligência suficiente, os recursos cognitivos
básicos para avaliar se uma crença desse tipo é de chamada magia imitativa. Nesse caso, domina a ideia
fato real ou falsa (erros por deficiência cognitiva de que “o semelhante produz o semelhante”. A
não podem, de modo geral, ser considerados ação ou o pensamento mágico pensa produzir
“delírio”) efeito desejado por imitação da ação real. Por
-Deve-se acrescentar, aos indicativos ou exemplo, ao queimar e destruir um boneco com
características externas do delírio descritos, uma 6ª alguma semelhança com um inimigo, estará
característica, que ajuda a diferenciar o delírio de queimando e destruindo o próprio inimigo
determinadas crenças culturais. Assim, deve-se -O PM seria mais comum entre as crianças
acrescentar que: (embora nelas, de modo geral, também predomine
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uma visão realista). Também se pode -As relações conceituais, a formação dos
eventualmente verificar a ocorrência de tal forma juízos e a concatenação destes em raciocínios são
de pensar em alguns transtornos da personalidade caracterizadas pela imprecisão. O paciente expõe
(TPs), como nos TPs esquizotípica, histriônica, um pensamento muito ambíguo, podendo mesmo
borderline e narcisista. Nos quadros obsessivo- parecer obscuro. Não há propriamente o
compulsivos, alguns sintomas são permeados de empobrecimento do pensamento, mas, antes, a
PM, constatável em ideias e pensamentos marcante falta de clareza e precisão no raciocínio
obsessivos e rituais compulsivos dominados, de *Pode ocorrer em pessoas sem
forma mais ou menos direta pelas leis da magia. transtorno mental, mas também pode ser um sinal
Também em alguns pacientes com esquizofrenia inicial de esquizofrenia ou ocorrer em quadros
podem se encontrar, eventualmente, PMs demenciais iniciais e em TPs (p. ex., esquizotípica)
Pensamento dereístico (PD) Pensamento prolixo
-Conceito em parte sobreposto ao de PM, -O indivíduo não consegue chegar a
é a descrição do tipo de pensamento que se opõe qualquer conclusão sobre o tema de que está
marcadamente ao pensamento crítico e realista, o tratando, a não ser após muito tempo e esforço. O
qual se submete à lógica e à realidade. Entretanto, paciente dá longas voltas ao redor do tema e
pode não haver aqui a dimensão mágica no mescla, de forma imprecisa, o essencial com o
pensamento supérfluo. Há dificuldade em obter construção
-O PD só obedece à lógica e à realidade direta, clara e acabada, além de notável falta de
naquilo que interessa ao desejo do indivíduo, capacidade de síntese
distorcendo a realidade para que esta se adapte aos -A tangencialidade (pensamento tangencial)
seus anseios. Aqui o pensar volta-se muito mais para e a circunstancialidade (pensamento circunstancial)
o mundo interno do sujeito, suas fantasias e seus são tipos de pensamento prolixo:
sonhos, manifestando-se como um devaneio, no *Tangencialidade: ocorre quando o
qual tudo é possível e favorável ao indivíduo paciente responde às perguntas de forma oblíqua e
Wishful thinking (WT) irrelevante, não sabendo discriminar o supérfluo do
-Descrição em inglês do PD essencial. As respostas apenas tangenciam aquilo
-Indicar a identificação errônea dos próprios que foi perguntado, nunca chegando ao ponto
desejos com a realidade, o conjunto de crenças central, ao objetivo final, sem jamais concluir algo
adotadas pelo indivíduo que se baseia mais nos de substancial
desejos do que em fatos, ou seja, um aspecto do *Circunstancialidade: descreve o
PD raciocínio e a digressão do paciente como “rodando
OBS: os conceitos de PM, PD e WT são muito em volta do tema”, sem entrar nas questões
próximos e usados, às vezes como sinônimos. De essenciais e decisivas. Entretanto, eventualmente, o
modo geral, esse grupo de tipos de pensamento indivíduo alcança o objetivo de seu raciocínio. Em
pode ser observado em TPs (esquizotípica, alguns casos, a conversa torna-se uma “massa de
histriônica, borderline, narcisista, etc.), na esquizofrenia parênteses e cláusulas subsidiárias”
e, eventualmente, em crianças e adolescentes (e *Esses tipos de pensamento podem
mesmo em adultos) sadios ocorrer em alguns pacientes com TPs, em indivíduos
Pensamento inibido com lesões cerebrais, em algumas pessoas com
-Ocorre a inibição do raciocínio, com deficiência intelectual ou naquelas com inteligência
diminuição da velocidade e do número de limítrofe, em pacientes que se encontram no início
conceitos, juízos e representações utilizados no de um processo esquizofrênico e em alguns com
processo de pensar; o pensamento torna-se lento, quadros obsessivo-compulsivos, que, devido ao
difícil, rarefeito, pouco produtivo à medida que o excesso de detalhes e atalhos colaterais, não
tempo flui conseguem desenvolver adequadamente suas
*Ocorre em quadros demenciais e em ideias
quadros depressivos graves Pensamento concreto ou concretismo
Pensamento vago
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-Trata-se de um tipo de pensamento no Pensamento demencial
qual não ocorre a distinção entre a dimensão -Trata-se também de pensamento pobre,
abstrata, simbólica e a dimensão concreta, imediata, porém tal empobrecimento é desigual, diferente do
dos fatos. O indivíduo não consegue entender ou que ocorre no pensamento deficitário, no qual o
utilizar metáforas; o pensamento é muito aderido empobrecimento é mais homogêneo. Em certos
ao nível sensorial da experiência e às coisas pontos, o pensamento demencial pode revelar
concretas elaborações mais ou menos sofisticadas, embora de
-É relativamente comum que faltem, em forma geral seja imperfeito, irregular, sem unidade
pessoas com pensamento concreto, aspectos mais ou congruência
desenvolvidos e sutis do pensar, como a metáfora, -Em relação aos conceitos abstratos e aos
a ironia, o subentendido, o duplo sentido, bem raciocínios diferenciados e complicados, podem-se
como categorias abstratas e simbólicas de modo observar seus resquícios no pensamento demencial,
geral embora, com o progredir da síndrome demencial,
*Tanto os indivíduos com deficiência vá predominando cada vez mais o pensamento
intelectual como os pacientes com esquizofrenia pobre e desorganizado
grave podem apresentar pensamento concreto e -É frequente o indivíduo com demência,
concretismo nas fases iniciais, tentar dissimular suas dificuldades
Pensamento deficitário (deficiência cognitivas. Ao se deparar com a dificuldade em
intelectual) encontrar as palavras (aspecto do início das
-É um pensamento de estrutura pobre e demências), procura termos mais genéricos, evita os
rudimentar. O indivíduo tende a apresentar adjetivos e os substantivos específicos. Por
raciocínio concreto; os conceitos são escassos e exemplo, “Não consigo encontrar aquela coisa, o
utilizados em sentido mais literal que abstrato ou meu.. (batom), aquilo para passar aqui (indica a boca
metafórico. A abstração apenas ocorre com com o dedo).. ”; “Vou pedir ao.. àquele homem (o
dificuldade, sem consistência ou grande alcance guarda), que me ajude a atravessar.. aqui (a rua)”
-Não há falta, porém, da generalização e da Pensamento confusional
utilização da memória, sempre vinculadas às -Verifica-se, devido ao rebaixamento e à
necessidades mais imediatas do sujeito. Há pouca turvação da consciência, um pensamento
flexibilidade na aplicação de regras e conceitos incoerente, de curso tortuoso. O indivíduo está
aprendidos; o indivíduo tende a tomar tudo “ao pé impedido de apreender de forma clara e precisa os
da letra”. Não há distinção pormenorizada e precisa estímulos ambientais e não consegue processar
de categorias como essencial e supérfluo; seu raciocínio adequadamente. Há marcante
necessário ou acidental; causa e efeito; o todo e as dificuldade em estabelecer vínculos entre conceitos
partes; o real e o imaginário; o concreto e o e juízos devido às alterações do nível de
simbólico. A compreensão e a explicação de fatos consciência, da atenção e da memória imediata e
complexos da vida são difíceis, e o paciente de trabalho, impedindo a formação adequada do
apreende apenas a realidade de forma vaga e raciocínio
simplificada *Ocorre principalmente nas síndromes
-A memorização de determinados confusionais agudas (delirium)
conteúdos ou temas (números telefônicos, nomes Pensamento desagregado
de pessoas, ruas, tipos de carros, etc.) pode, -Trata-se de pensamento marcadamente
eventualmente, ser muito extensa e numerosa, incoerente, no qual os conceitos e os juízos não se
porém é mecânica e rígida. Esse fenômeno de articulam minimamente de forma lógica. O paciente
extensa memorização mecânica é denominado produz um pensamento que se manifesta como
ilhotas de memória uma mistura aleatória de palavras, que nada
*Ocorre geralmente em pessoas com comunica ao interlocutor. A linguagem
deficiência intelectual e naquelas com autismo. Em correspondente é o que se denomina “salada de
função de terem tais habilidades, essas pessoas são palavras”, ou esquizofrasia
designadas savant
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*Ocorre nas formas graves e Lentificação do pensamento
marcadamente desorganizadas de esquizofrenia -O pensamento progride lentamente, de
Pensamento obsessivo forma dificultosa. Há certa latência entre as
-Aqui, predominam ideias ou perguntas formuladas e as respostas
representações que, apesar de terem conteúdo *Ocorre principalmente em pacientes
absurdo ou repulsivo para o indivíduo, se impõem gravemente deprimidos, em alguns casos de
à consciência dele de modo persistente e rebaixamento do nível de consciência, em certas
incontrolável. Isso determina uma luta constante intoxicações (por substâncias sedativas) e em
entre as ideias obsessivas, que voltam de forma quadros psico-orgânicos que afetam estruturas
recorrente à consciência, e o indivíduo, que se subcorticais
esforça para bani-las de sua consciência, gerando Bloqueio ou interceptação do
um estado de angústia constante. Com certa
pensamento
frequência, em pacientes gravemente obsessivos,
aspectos do PM também estão presentes (p. ex., -Verifica-se o bloqueio do pensamento
“Se eu tocar na roupa de uma pessoa no ônibus, quando o indivíduo, ao relatar algo, no meio de uma
ficarei contaminado” ou “Se eu repetir a palavra conversa, brusca e repentinamente interrompe seu
santo 50 vezes, impedirei que meu pai morra”) pensamento, sem qualquer motivo aparente. O
paciente pode relatar que, sem saber por que, “o
Ruminações ou pensamento ruminativo
pensamento para”, é bloqueado
perseverativo *Trata-se de alteração quase exclusiva
-Muito próximas e, às vezes, sobrepostas da esquizofrenia
ao pensamento obsessivo, as ruminações são Roubo do pensamento
formas de pensamento repetitivo que implicam -É uma vivência, frequentemente associada
preocupações e pensamentos negativos ao bloqueio do pensamento, na qual o indivíduo
recorrentes, vivenciados de forma passiva. São tem a nítida sensação de que seu pensamento foi
pensamentos com conteúdos negativos, roubado de sua mente, por uma força ou ente
relacionados sobretudo ao futuro e, eventualmente, estranho, por uma máquina, uma antena, etc. O
ao passado. Pré-adolescentes e adolescentes em roubo do pensamento é um tipo de vivência de
fase inicial de transtornos do humor apresentam influência (ver descrição também na seção sobre
com certa frequência as ruminações. Elas podem delírio de influência)
anteceder a eclosão de transtornos de ansiedade, *Trata-se de uma alteração exclusiva da
depressão e compulsões esquizofrenia
*As ruminações correm em pacientes
Fuga de ideias
com quadros de ansiedade, depressão, transtorno
bipolar (TB), no comer e/ou beber compulsivo e -É uma alteração do fluxo e da estrutura
em pessoas que se automutilam do pensamento secundária a acentuada aceleração
do pensamento, na qual uma ideia se segue a outra
Alterações do processo de pensar de forma extremamente rápida, perturbando-se as
Alterações do curso do pensamento associações lógicas entre os juízos e os conceitos
Aceleração do pensamento -Na fuga de ideias, as associações entre as
palavras deixam de seguir uma lógica ou finalidade
-O pensamento flui de forma muito
do pensamento e passam a ocorrer por assonância
acelerada, com uma ideia se sucedendo à outra
(p. ex., amor, flor, cor.. ou cidade, idade, realidade.. ), e
rapidamente, podendo até ser difícil acompanhar o
as ideias se associam muito mais pela presença de
ritmo do indivíduo
estímulos externos contingentes (as pessoas que
*Pode ocorrer nos quadros de mania,
estão presentes na entrevista, os móveis e os
em alguns pacientes com esquizofrenia,
quadros da sala de entrevista, um ruído incidental,
eventualmente nos estados de ansiedade intensa,
alguém que entra na sala, etc.)
nas psicoses tóxicas (sobretudo por anfetamina e
-Na fuga de ideias, há o progressivo
cocaína) e na depressão ansiosa
afastamento da ideia diretriz ou principal, sem
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prejuízo manifesto, contudo, para a coerência final Dissociação e incoerência do
do relato. Tal noção de preservação da coerência
pensamento
nessa condição não é, entretanto, aceita por todos
os autores -É a designação para o tipo de
*A fuga de ideias é uma alteração muito desorganização do pensamento (perda ou
característica dos quadros maníacos do TB afrouxamento das relações associativas) de
importância central na esquizofrenia
OBS: A fuga de ideias pode ser classificada como
-Em geral, quando o afrouxamento das
alteração do curso ou como alteração formal do
pensamento associações se acentua, os pensamentos passam
progressivamente a não seguir uma sequência
Alterações da forma do pensamento lógica e bem organizada, e os juízos não se
-Tais alterações se correlacionam com articulam de forma coerente uns com os outros.
dificuldades nas funções executivas frontais, com De início, a incoerência pode ser discreta, ainda
pior desempenho em “teoria da mente” e em sendo possível captar aquilo que o indivíduo quer
“tomada de perspectiva”. As alterações formais do comunicar. Com o agravamento do processo
pensamento (formal thought disorder – FTD) patológico, o pensamento pode tornar-se
seriam divididas em negativas, positivas ou totalmente incoerente e incompreensível
desorganizadas: Desagregação do pensamento
*As alterações negativas incluem
-Nesse caso, há profunda e radical perda
pobreza do discurso e do conteúdo do
dos enlaces associativos, total perda da coerência
pensamento, assim como bloqueio deste
do pensamento. Sobram apenas “pedaços” de
*As alterações positivas incluem pressão
pensamentos, conceitos e ideias fragmentados,
para falar, verbosidade
muitas vezes irreconhecíveis, sem qualquer
*As alterações desorganizadas incluem
articulação racional, sem que sejam detectadas uma
perda do pensamento objetivo (tangencialidade),
linha diretriz e uma finalidade no ato de pensar
descarrilhamento, pensamento idiossincrático,
*Trata-se de alteração típica de formas
incoerência e ilogicidade
avançadas de esquizofrenia e de quadros
Afrouxamento das associações demenciais
-Nesse caso, embora ainda haja Valor diagnóstico das alterações
concatenação lógica entre as ideias, nota-se já o
afrouxamento dos enlaces associativos. As formais do pensamento
associações parecem mais livres, não tão bem -Na esquizofrenia, de modo geral, o
articuladas progredir da desestruturação do pensamento
*Manifesta-se nas fases iniciais da segue esta sequência (em ordem de gravidade):
esquizofrenia e em TPs (sobretudo TP *Afrouxamento das associações
esquizotípica) *Descarrilhamento do pensamento
Descarrilhamento do pensamento *Dissociação e incoerência do
pensamento
-O pensamento passa a extraviar-se de seu
*Desagregação do pensamento
curso normal, toma atalhos colaterais, desvios,
-Entretanto, tal sequência, embora lógica,
pensamentos supérfluos, retornando aqui e acolá
não é necessária, podendo essas alterações
ao seu curso original. Geralmente está associado a
surgirem nas mais diversas combinações e
marcante distraibilidade. Se o descarrilhamento for
sequências
muito acentuado, e os desvios, muito frequentes e
-Acreditava-se que os transtornos formais
longos, pode-se não mais captar a sequência lógica
do pensamento eram específicos da esquizofrenia.
do pensamento
Entretanto, tem-se verificado que pacientes com
*O descarrilhamento é observado na
transtornos afetivos (mania ou depressão, psicóticas
esquizofrenia e, eventualmente, nos transtornos
ou não psicóticas) também os apresentam. No
maníacos
entanto, quanto mais bizarra for a estrutura do
Marina Ferrari – MD6
pensamento, maior é a probabilidade de se tratar elementares tanto na perspectiva biológica como
de esquizofrenia na psicológica e na sociocultural
-Nos transtornos do espectro autista, Depreciativos, de ataque à autoestima
sobretudo naqueles com alto funcionamento, pode -Os conteúdos depreciativos, de menos-
haver o que alguns autores denominam “alterações valia, vergonha e desvalorização são frequentes,
negativas do pensamento”, o que inclui pois estados afetivos depressivos são muito
empobrecimento em relação às ideias. prevalentes em praticamente todos os grupos
Recentemente, também têm sido relatadas no sociais
autismo alterações “positivas do pensamento”,
De poder, riqueza, grandeza ou missão
como afrouxamento das associações e incoerência
-Os conteúdos de poder, riqueza, grandeza
Alterações do conteúdo do pensamento
ou missão têm conexão com a dimensão de
-O conteúdo do pensamento é aquilo que segurança, mas também se relacionam a questões
preenche a estrutura do processo de pensar. Embora narcísicas e de negação das dificuldades, limites e
muitos autores classifiquem os delírios como sofrimentos da vida cotidiana
alterações do conteúdo do pensamento, isso nos
Religiosos, místicos, mágicos
parece incorreto. O conteúdo do pensamento
apenas preenche uma forma, uma estrutura. Assim, -Os temas religiosos e místicos também
não se pode falar propriamente em alterações são muito comuns na psicopatologia, o que se
patológicas do conteúdo do pensamento justifica pelo fato de não haver cultura ou grupo
-Optou-se, aqui, consequentemente, por social humano em que a religião não desempenhe
não incluir o importante tema dos delírios no item papel central na organização da representação do
“conteúdo do pensamento”, mas no capítulo mundo, na articulação de formas de compreensão
referente às alterações do juízo de realidade. da origem e do destino do ser humano, dos valores
Quando um indivíduo acometido por uma psicose ético-morais, da compreensão do sofrimento e dos
afirma que “os vizinhos preparam um complô para modos de constituição da subjetividade
matá-lo”, o conteúdo é de perseguição, mas o que Eróticos, sexuais, de ciúmes
está patologicamente alterado é a atribuição de -A sexualidade e a vida erótica, por sua vez,
realidade absoluta a esse pensamento, ou seja, o apesar de secularmente reprimidas em muitas
modo como o juízo de realidade se constitui. De sociedades, nunca deixaram de ser temas de
modo similar, uma pessoa com um cargo político, primordial interesse ao ser humano. Freud e o
em um contexto político tenso e muito conflitivo, desenvolvimento de sua psicanálise trouxeram à luz
pode viver pensando que querem prejudicá-la, da sociedade vitoriana e conservadora a grande
querem “armar contra ela”. Seus conteúdos de importância da sexualidade e da vida erótica para a
pensamento são basicamente de desconfiança e esfera mental e social do ser humano. Tal
possível perseguição; entretanto, ela não está importância se relaciona tanto a fatores instintivo-
necessariamente delirando biológicos (sobrevivência da espécie) como a
-A observação clínica indica que os fatores psicológicos, pois, paralelamente ao
principais conteúdos que preenchem os sintomas desenvolvimento das relações afetivas, há a
psicopatológicos e que são característicos do erotização dessas relações (amar é, ao mesmo
transtorno psicótico delirante são: tempo, um fenômeno afetivo e erótico)
Persecutórios De culpa
-A persecutoriedade (ou vivências de Conteúdos hipocondríacos
perseguição) é muito importante pelo fato de a -Os temas hipocondríacos e de
sobrevivência em um mundo potencialmente preocupações somáticas revelam a importância
ameaçador ser tema onipresente em quase todos que o corpo tem na experiência humana. Toda a
os grupos sociais. A sobrevivência e a segurança do nossa vivência é corporificada; o corpo é central
indivíduo e, em consequência, o seu oposto, ou para nós, é nosso limite, fonte de prazer e de dor,
seja, a possibilidade de ser atacado e destruído, são estejamos saudáveis ou doentes. Também estão
implicados com essas questões o narcisismo
Marina Ferrari – MD6
relacionado às vivências corporais, o desejo de automático, involuntário, realizado sem
bem-estar físico, os temores relacionados ao risco planejamento ou controle. Ao ser questionado
permanente que todo ser humano tem de adoecer “Qual é seu nome?”, o paciente fala “Nome, nome,
fisicamente, sofrer e falecer. Pessoas com quadros nome”; “Qual é sua idade?”, ele diz “Idade, idade,
de ansiedade generalizada e depressão ansiosa idade”. A ecolalia pode ser imediata (logo ao ouvir 1
tendem a expressar em seus pensamentos palavra ou frase) ou tardia (delayed echolalia),
conteúdos sobre eventos futuros negativos quando ocorre minutos, às vezes horas, depois de
Transtornos de pensamento e ouvida a palavra ou frase
-É encontrada principalmente na
sentimento esquizofrenia, sobretudo quando há sintomas
catatônicos; nos transtornos neurocognitivos, em
Loquacidade/logorréia
especial nas demências; nos transtornos do
-Na logorréia, existe a produção aumentada espectro autista (TEAs); e em algumas deficiências
e acelerada (taquifasia) da linguagem verbal, um intelectuais, geralmente graves ou profundas. Em
fluxo incessante de palavras e frases, crianças, entretanto, deve-se alertar que a ecolalia
frequentemente associado à aceleração geral de pode ocorrer no início do desenvolvimento normal
todos os processos psíquicos (taquipsiquismo), da linguagem
podendo haver perda da lógica do discurso -Há também certa controvérsia na literatura
-Descreve-se como pressão para falar a quanto a se a ecolalia é uma repetição sem
atividade linguística do paciente em quadro maníaco significado ou objetivo, uma fala indiferente ao
ou maniatiforme, na qual este sente a pressão outro ou a qualquer interpretação, ou se é uma
incoercível para falar sem parar. Por exemplo, um tentativa primitiva de manter contato social. A
indivíduo em fase maníaca dizia: “Querem que eu ecolalia também é observada, com frequência, em
fale menos, mas não consigo mesmo, tem uma algumas formas de afasia, como na afasia sensorial
coisa aqui dentro de mim que não me deixa parar extrassilviana e na afasia transcortical motora ou
de falar” afasia por lesão na área motora suplementar
-Loquacidade é o aumento da fluência -Tem sido sugerido que a ecolalia ocorre
verbal sem qualquer prejuízo da lógica do discurso. devido a lesão ou disfunção no hemisfério
Em contraposição, na logorreia, há perturbação esquerdo (no córtex temporoparietal, nas áreas
leve ou grave da lógica e da organização do não perissilvianas), lesões na região medial do
discurso córtex frontal bilateral, no córtex do cíngulo anterior,
Lentificação patológica da e devido à ação vicariante (compensatória) do
hemisfério direito
linguagem (bradifasia)
Alogia
-Na bradifasia, o paciente fala muito
vagarosamente; as palavras seguem-se umas às -A alogia, ou discurso lacônico, é o
outras de forma lenta e difícil. Há também, empobrecimento da produção de linguagem (e do
geralmente, latência (duração) aumentada entre a pensamento), que se verifica pela diminuição da
pergunta que lhe fazemos e sua resposta. Em fluência verbal e pelo discurso empobrecido. É
geral, a bradifasia está associada a quadros sintoma principalmente da esquizofrenia, sendo
depressivos graves, estados demenciais e considerado um sintoma de tipo negativo
esquizofrenia crônica ou com sintomas negativos. Verbigeração
Restrição na quantidade da fala, as respostas -A verbigeração é a repetição, de forma
podem ser monossílabas monótona e sem sentido comunicativo aparente, de
Ecolalia palavras, sílabas ou trechos de frases. Alteração na
-É a repetição da última ou das últimas forma de pensamento
palavras que o entrevistador (ou alguém no Mussitação
ambiente) falou ou dirigiu ao paciente, uma -A mussitação, fenômeno próximo à
repetição em eco da fala. É um fenômeno verbigeração, é a produção repetitiva de uma voz
Marina Ferrari – MD6
muito baixa, murmurada, em tom monocórdico, intencionalidade. Normalmente partimos de nós
geralmente sem significado comunicativo. Aqui, o mesmos para dirigir nossa consciência em direção
paciente fala como que “para si”, apenas movendo ao mundo; na psicose, o mundo é que é percebido
discretamente os lábios, emitindo fonemas, palavras como se dirigindo ao sujeito. O mundo invade, por
ou frases pouco compreensíveis e muito assim dizer, a consciência. Há, assim, a chamada
repetitivos inversão do arco intencional da consciência
-Tanto a verbigeração quanto a mussitação -Na visão fenomenológica, profundas
são formas de automatismo verbal, mais modificações do eu corporal e do senso de agência
frequentemente encontradas na esquizofrenia, em do self estariam na base da psicose. Esse modo de
particular em pacientes com predomínio de entender o que é psicose, em certo sentido, se
sintomas negativos e com quadros catatônicos. A contrapõe à orientação da psiquiatria clínica, que dá
mussitação pode ser, eventualmente, encontrada ênfase à noção de psicose como presença de
no delirium tremens sintomas psicóticos (delírios, alucinações,
Pobreza de conteúdo desorganizações marcantes de pensamento e
comportamento). Tais elementos clínicos são os
-Pensamento que transmite pouca
parâmetros de identificação e diagnóstico de
informação por sua imprecisão, repetições vazias
psicoses sugeridos pela Classificação internacional
ou frases obscuras. Fala adequada em quantidade,
de doenças e problemas relacionados à saúde (CID-
mas que transmite pouca informação por
11) e pelo Manual diagnóstico e estatístico de
imprecisão, vazio ou frases esteriotipadas
transtornos mentais (DSM-5)
Psicoses -De toda forma, é consensual que pacientes
-As síndromes psicóticas caracterizam-se psicóticos geralmente têm insight muito prejudicado
por experiências como alucinações e delírios, (precária consciência da doença) em relação aos
desorganização marcante do pensamento e/ou do seus sintomas e a sua condição clínica geral. Além
comportamento ou comportamento catatônico. disso, a condição é um transtorno quase sempre
Experiência intensa de estar sendo perseguido ou muito grave e profundamente perturbador para o
ameaçado (por pessoas ou forças estranhas), assim indivíduo e pessoas próximas
como alterações evidentes na vida pessoal, familiar e Esquizofrenia
social, são frequentes nos quadros psicóticos. São -Embora seja discutida como se fosse uma
condições, de modo geral, de acentuada gravidade única doença, a esquizofrenia engloba um grupo de
-Não há consenso pleno, entretanto, sobre transtornos com etiologias heterogêneas e inclui
a definição precisa de “psicose”. Os autores de pacientes com apresentações clínicas, resposta ao
orientação psicodinâmica, assim como muitos tratamento e cursos da doença variáveis
psicólogos clínicos, tendem a dar ênfase à perda -Os sinais e sintomas variam e incluem
de contato com a realidade e/ou a distorções muito alterações na percepção, na emoção, na cognição,
marcantes na percepção e na relação com a no pensamento e no comportamento. A expressão
realidade. O “teste de realidade”, que é a função do dessas manifestações varia entre os pacientes e ao
ego em avaliar e julgar de modo objetivo o mundo longo do tempo, mas o efeito da doença é sempre
externo, estaria gravemente prejudicada na psicose grave e geralmente de longa duração. O transtorno
(tal visão tem origem nas noções de Freud e de costuma começar antes dos 25 anos, persiste
Bleuler de esquizofrenia) durante toda a vida e afeta pessoas de todas as
-Já os autores de orientação classes sociais
fenomenológica formulam que na psicose ocorrem -Tanto os pacientes como suas famílias
alterações básicas na estrutura de experiências muitas vezes sofrem de cuidados deficientes e
fundamentais, como as do espaço e do tempo. Há, ostracismo social devido a ignorância sobre o
então, perda de elementos normalmente transtorno. A esquizofrenia é um dos mais comuns
compartilhados do senso comum. Ocorre dos transtornos mentais graves, mas sua natureza
transformação de como o indivíduo se dirige ao essencial ainda não foi esclarecida; portanto, às
mundo e às pessoas, uma mudança do vetor da vezes, ela é referida como uma síndrome, como o
Marina Ferrari – MD6
grupo de esquizofrenias ou, como na 5ª edição do tratos dopaminérgicos estão envolvidos, embora os
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos tratos mesocortical e mesolímbico sejam implicados
mentais (DSM-5), o espectro da esquizofrenia. Os com maior frequência. Os neurônios
médicos devem entender que o diagnóstico de dopaminérgicos projetam-se de seus corpos
esquizofrenia tem base inteiramente na história celulares no mesencéfalo para neurônios
psiquiátrica e no exame do estado mental. Não dopaminoceptivos no sistema límbico e no córtex
existe um exame laboratorial para esse transtorno cerebral
-Na esquizofrenia ocorre frequentemente -A liberação excessiva de dopamina em
delírio de conteúdo persecutório, autorreferentes pacientes com esquizofrenia foi associada à
ou de influência, mas pode haver delírios com gravidade de sintomas psicóticos positivos. Estudos
outros conteúdos ou de outra natureza. A duração, de receptores de dopamina com tomografia por
a abrangência, o grau de sistematização e a emissão de pósitron documentam um aumento
implicação de “tendência à ação” dos delírios são nos receptores D2 no núcleo caudado de
bem variáveis. Os delírios e as alucinações com pacientes com esquizofrenia livres de
conteúdos implausíveis, bizarros (eventos ou fatos medicamentos. Também houve relatos de
praticamente impossíveis de ocorrer), assim como aumento da concentração de dopamina na
não congruentes com o humor basal do paciente, amígdala, diminuição da densidade do transportador
são indicadores robustos de esquizofrenia de dopamina e aumento nos números de
Os 4 As receptores de dopamina tipo 4 no córtex entorrinal
-Na esquizofrenia há sintomas fundamentais Serotonina
(ou primários) específicos. Incluem distúrbios -As hipóteses atuais postulam o excesso de
associativos do pensamento, especialmente serotonina como uma das causas de sintomas tanto
frouxidão, distúrbios afetivos, autismo e positivos como negativos na esquizofrenia. A atividade
ambivalência, resumidos como os quatro As: antagonista de serotonina consistente da clozapina e
1. Associação de outros antipsicóticos de 2ª geração, junto com a
2. Afeto eficácia da clozapina para diminuir sintomas
3. Autismo positivos em pacientes crônicos, contribuiu para a
4. Ambivalência validade dessa proposição
-Há também sintomas acessórios Norepinefrina
(secundários), os quais: alucinações e delírios -A anedonia – o comprometimento da
Fatores bioquímicos capacidade para gratificação emocional e a
Dopamina diminuição da capacidade de experimentar prazer –
-A formulação mais simples da hipótese da há muito tem sido observada como um aspecto
dopamina na esquizofrenia postula que o transtorno proeminente da esquizofrenia. Uma degeneração
resulta do excesso de atividade dopaminérgica. A neuronal seletiva no sistema neural de recompensa
teoria evoluiu a partir de 2 observações: da norepinefrina poderia explicar esse aspecto da
I. 1º, a eficácia e a potência da maioria sintomatologia do transtorno. Entretanto, os dados
dos antipsicóticos (i.e., antagonistas do receptor da bioquímicos e farmacológicos que apoiam essa
dopamina [ARDs]) estão correlacionadas a sua proposição são inconclusivos
capacidade de agir como antagonistas do receptor GABA
de dopamina tipo 2 (D2) -O neurotransmissor inibitório ácido gama-
II. 2º, os agentes que aumentam a aminobutírico (GABA) também foi implicado, com
atividade dopaminérgica, notadamente a anfetamina, base nos achados de que alguns pacientes têm
são psicotomiméticos uma perda de neurônios GABAérgicos no
-A teoria básica não indica se a hipocampo. O GABA tem um efeito regulador sobre
hiperatividade dopaminérgica decorre de liberação a atividade da dopamina, e a perda de neurônios
excessiva de dopamina, do excesso de receptores, GABAérgicos inibidores poderia levar à
da hipersensibilidade destes ou de uma combinação hiperatividade dos neurônios dopaminérgicos
de tais mecanismos, tampouco especifica quais
Marina Ferrari – MD6
Neuropeptídeos convicção de realidade ou menor participação do
-Neuropeptídeos, como a substância P e a eu, isto é, o paciente reconhece aquela experiência
neurotensina, estão localizados com os perceptiva como algo estranho a si mesmo, como
neurotransmissores de catecolamina e indolamina e um acontecimento patológico
influenciam a ação destes. A alteração nos -Ou seja, na alucinose, o sujeito é
mecanismos de neuropetídeo poderia facilitar, inibir consciente de que aquilo é um fenômeno estranho;
ou, de outro modo, alterar o padrão de disparo na alucinação não
desses sistemas neuronais *Alucinação → “central ao eu”
*Alucinose → “periférico ao eu”
Glutamato
-Associa-se a causas orgânicas: lesões
-O glutamato foi implicado porque a cerebrais, intoxicação por alucinógenos, epilepsia,
ingestão de fenciclidina, um antagonista do enxaqueca etc.; Por exemplo.: alucinose alcoólica
glutamato, produz uma síndrome aguda (auditiva), síndrome de Charles Bonnet (alucinose
semelhante à esquizofrenia. A hipótese proposta visual), alucinose peduncular de Lhermite (alucinose
sobre o glutamato inclui as de hiperatividade, visual)
hipoatividade e neurotoxicidade induzidas por ele
Ilusão
Acetilcolina e nicotina
-Percepção errônea ou interpretação
-Estudos de necropsia na esquizofrenia incorreta de um estímulo externo real; estímulo
demonstraram aumento dos receptores falso a partir de algo existente. É uma desordem da
muscarínicos e nicotínicos no caudado-putame, no percepção em virtude da qual o objeto é
hipocampo e em regiões selecionadas do córtex deformado. O paciente diz, por exemplo, ver um
pré-frontal. Esses receptores têm um papel na gato onde existe um coelho. Pode resultar da
regulação dos sistemas de neurotransmissores aplicação insuficiente da atenção ou de intervenção
envolvidos na cognição, que é comprometida na enérgica da afetividade e, finalmente, de influência
esquizofrenia da imaginação
Alterações da sensopercepção -A pareidolia é uma variedade de ilusão. A
Alucinações exaltação da imaginação dota um objeto qualquer
de novos atributos, levando a que seja percebido
-Alucinações são experiências semelhantes
como outro. A ilusão nem sempre é patológica e é
à percepção que ocorrem sem um estímulo
muito comum nos estados toxinfecciosos, estados
externo. São vívidas e claras, com toda a força e o
maníacos, alcoolismo, demência senil, etc
impacto das percepções normais, não estando sob
controle voluntário. Podem ocorrer em qualquer
modalidade sensorial, embora as alucinações Antipsicóticos
auditivas sejam as mais comuns na esquizofrenia e -Todos os fármacos antipsicóticos usados
em transtornos relacionados no tratamento da esquizofrenia agem nas vias
-Alucinações auditivas costumam ser vividas dopaminérgicas do prosencéfalo, atuando sobre os
como vozes, familiares ou não, percebidas como receptores de dopamina (D):
diferentes dos próprios pensamentos do indivíduo. Receptores Mecanismo Localização
As alucinações devem ocorrer no contexto de um dopaminérgicos
sensório sem alterações; as que ocorrem ao Família D1 e Acoplados à Expressa no
adormecer (hipnagógicas) ou ao acordar D1 D5 proteína Gs estriado; é o
(hipnopômpicas) são consideradas como principal
pertencentes ao âmbito das experiências normais receptor de
Alucinose dopamina no
-Se refere à percepção de uma imagem córtex e no
hipocampo
patológica com todas as características de uma
Família D2, D3 Acoplados à Expressa em
imagem alucinatória (sobretudo uma notável nitidez),
D2 e D4 proteína Gi; maior densidade
entretanto, ao contrário das alucinações, há menor também atua no estriado, mas
Marina Ferrari – MD6
por via também no dopaminérgica mesolímbica, tem o efeito de
independente córtex, na reduzir a hiperatividade dessa via, que se acredita
envolvendo β- amígdala e no ser a causa dos sintomas positivos da psicose
arretina e AKT hipocampo Sintomas positivos da esquizofrenia:
-Os antipsicóticos podem ser divididos em: -Alucinações
*Antipsicóticos típicos: fármacos mais -Delírios
antigos com ações proeminentes no receptor D2; -Pensamentos desordenados (modos de pensar
*Antipsicóticos atípicos: que constituem incomuns ou disfuncionais)
uma geração mais nova de fármacos com -Distúrbios do movimento (corpo agitado)
antagonismo D2 menos proeminente e,
consequentemente, com menos efeitos
extrapiramidais

-Todos os antipsicóticos convencionais


Antipsicóticos convencionais reduzem os sintomas de modo aproximadamente
-São também chamados de antipsicóticos igual nos pacientes com esquizofrenia, quando
clássicos ou típicos ou de 1ª geração administrados em doses que bloqueiam uma
-Exemplos: Clorpromazina, Ciamemazina, quantidade substancial de receptores D2 nessa via
Flupentixol, Flufenazina, Haloperidol, Loxapina, *Infelizmente, para bloquear uma
Mesoridazina, Perfenazina, Pimozida, Pipotiazina, quantidade adequada de receptores D2 na via
Sulpirida, Tioridazina, Tiotixeno, Trifluoperazina, dopaminérgica mesolímbica com o objetivo de
Zuclopentixol eliminar os sintomas positivos, é preciso bloquear
simultaneamente a mesma quantidade de
Antagonismo dos receptores de
receptores D2 em todo cérebro, e isso provoca
dopamina – D2 efeitos colaterais indesejáveis
-A propriedade farmacológica essencial de *A mesma quantidade de receptores D2
todos os “neurolépticos” com propriedades é bloqueada em todas as áreas do cérebro,
antipsicóticas é a sua capacidade de bloquear os inclusive a área límbica ventral do estriado,
receptores de dopamina D2. Essa ação conhecida como nucleus accumbens da via
demonstrou ser responsável não apenas pela dopaminérgica mesolímbica, o córtex pré-frontal da
eficácia antipsicótica dos antipsicóticos via dopaminérgica mesocortical e a hipófise da via
convencionais, mas também pela maioria de seus dopaminérgica tuberoinfundilar
efeitos colaterais indesejáveis, como a “neurolepsia”
-As ações terapêuticas devem-se, talvez, ao
bloqueio dos receptores D2, especificamente na via
Marina Ferrari – MD6

Via dopaminérgica mesolímbica e antagonistas de D2: na esquizofrenia sem tratamento, foi formulada a
hipótese de que a via dopaminérgica mesolímbica está hiperativa, indicada aqui em vermelho, bem como o excesso
de dopamina na sinapse. Isso ocasiona sintomas positivos, como delírios e alucinações. A administração de um
antagonista de D2, como um antipsicótico convencional, bloqueia a ligação da dopamina ao receptor D2, o que
reduz a hiperatividade nessa via e, portanto, os sintomas positivos
Neurolepsia Estão associados a interrupções nas emoções e
-Postula-se que os receptores D2 no comportamentos normais. Os sintomas incluem:
Redução do afeto (expressão reduzida de emoções
sistema dopaminérgico mesolímbico medeiem não
através da expressão facial ou tom de voz) Reduzir
apenas os sintomas positivos da psicose, mas os sentimentos de prazer na vida cotidiana.
também o sistema de recompensa normal do -A quase paralisação da via dopaminérgica
cérebro mesolímbica necessária para melhorar os sintomas
*O nucleus accumbens é amplamente positivos da psicose pode contribuir para o
considerado como o “centro do prazer” no
agravamento da anedonia, da apatia e dos sintomas
cérebro. Pode constituir a via final comum de toda negativos, o que pode explicar, em parte, a elevada
a recompensa e reforço – não apenas a
incidência de tabagismo e uso abusivo de drogas
recompensa normal (como o prazer de comer ilícitas na esquizofrenia
uma boa comida, o orgasmo e ouvir música), como
-Os antipsicóticos também bloqueiam os
também a recompensa artificial do uso abusivo de
receptores D2 na via DA mesocortical, em que a
substâncias DA já pode estar deficiente na esquizofrenia. Isso
-Se os receptores D2 forem estimulados
pode causar ou agravar os sintomas negativos e
em algumas partes da via mesolímbica, isso pode cognitivos, embora exista apenas baixa densidade
levar à experiência do prazer. Assim, se esses
de receptores D2 no córtex
mesmos receptores no sistema mesolímbico forem *Um estado comportamental adverso
bloqueados, isso pode não apenas reduzir os pode ser produzido pelos antipsicóticos
sintomas positivos da esquizofrenia, como também convencionais; denominado “síndrome de déficit
bloquear os mecanismos de recompensa. Desse induzida por neurolépticos”, visto que se assemelha
modo, os pacientes ficam apáticos, com anedonia e muito aos sintomas negativos produzidos pela
falta de motivação, de interesse e de alegria com própria esquizofrenia e lembra a “neurolepsia” em
as interações sociais, um estado que se assemelha animais
muito ao dos sintomas negativos da esquizofrenia
Sintomas negativos da esquizofrenia:

Via dopaminérgica mesocortical e antagonistas de D2: na esquizofrenia sem tratamento, as vias


dopaminérgicas mesocorticais para o córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL) e para o córtex pré-frontal
ventromedial (CPFVM) são hipoteticamente hipoativas, indicado aqui pelas linhas tracejadas da via. Essa hipoatividade
está relacionada com os sintomas cognitivos (no CPFDL), com os sintomas negativos (no CPFDL e no CPFVM) e
com os sintomas afetivos da esquizofrenia (no CPFVM)
Marina Ferrari – MD6

Sintomas extrapiramidais e discinesia constantemente. Pois podem produzir um distúrbio


de movimento hipercinético, conhecido como
tardia
discinesia tardia. Esse distúrbio provoca movimentos
-Quando um nº substancial de receptores faciais e da língua. Mastigação constante, protrusão
D2 é bloqueado na via DA nigroestriatal, esse da língua, caretas e movimentação dos membros –
bloqueio pode provocar vários distúrbios do que podem ser rápidos, espasmódicos ou
movimento, que podem se assemelhar muito aos coreiformes (em “dança”)
da doença de Parkinson. Este é o motivo pelo qual -Desse modo, acredita-se que que a
esses movimentos são, às vezes, chamados de discinesia tardia seja mediada por alterações, por
parkinsonismo induzido por fármacos. Como a via vezes irreversíveis, dos receptores D2 da via DA
nigroestriatal faz parte do SN extrapiramidal, esses nigroestrital. Especificamente, a hipótese formulada
efeitos colaterais motores associados ao bloqueio é a de que esses receptores se tornam
dos receptores D2 nessa parte do cérebro supersensíveis ou “suprarregulados”. Essa
também são denominados sintomas extrapiramidais suprarregulação pode representar a tentativa inútil
ou SEP pelo neurônio superar o bloqueio de seus
-A situação piora se esses receptores D2 receptores dopaminérgicos induzido pelo fármaco
na via DA nigroestriatal forem bloqueados

Via dopaminérgica nigroestriatal e antagonistas de D2: a via dopaminérgica nigroestriatal teoricamente não é
afetada na esquizofrenia sem tratamento. Entretanto, o bloqueio dos receptores D2, como aquele produzido por
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um antipsicótico convencional, impede a ligação da dopamina e pode causar efeitos colaterais motores que são
conhecidos como sintomas extrapiramidais (SEP)

Discinesia tardia: o bloqueio prolongado dos receptores D2 na via dopaminérgica nigroestriatal pode causar
suprarregulação desses receptores, o que pode levar ao aparecimento de uma condição motora hipercinética,
conhecida como discinesia tardia
Elevação da prolactina menstruais irregulares ou ausentes). Desse modo, a
-Os receptores de dopamina D2 na via DA hiperprolactinemia pode interferir na fertilidade,
tuberoinfundibular também são bloqueados pelos particularmente nas mulheres. Além disso, também
antipsicóticos convencionais, o que provoca pode levar a desmineralização mais rápida dos
elevação das concentrações plasmáticas de ossos, particularmente em mulheres na pós-
prolactina – denominada hiperprolactinemia menopausa que não estejam recebendo terapia de
-Essa condição está associada a galactorreia (i. reposição estrogênica
e., secreção mamária) e amenorreia (i. e., períodos

Via dopaminérgica tuberoinfundibular e antagonistas de D2: a via dopaminérgica tuberoinfundibular, que se


projeta do hipotálamo para a hipófise, está teoricamente “normal” na esquizofrenia não tratada. Os antagonistas de
D2 reduzem a atividade nessa via ao impedir a ligação da dopamina aos receptores D2. Isso provoca elevação dos
níveis de prolactina, o que está associado a efeitos colaterais

Antipsicóticos Atípicos geração. Isto é, os antipsicóticos atípicos têm o perfil


clínico de ações antipsicóticas iguais sobre os
-Um “antipsicótico atípico” é definido, em sintomas positivos, porém com poucos sintomas
parte, pelas propriedades clínicas “atípicas” que o extrapiramidais e menos hiperprolactinemia, em
distinguem em comparação com o que se espera comparação com os antipsicóticos convencionais.
de um antipsicótico convencional clássico de 1ª
Marina Ferrari – MD6
Os antipsicóticos atípicos são também denominados corticais pela serotonina bloqueia hipoteticamente a
antipsicóticos de 2ª geração liberação de dopamina corrente abaixo no estriado
-Do ponto de vista farmacológico, os -Essa ação é produzida pela estimulação da
antipsicóticos atípicos atuais como classe podem liberação de glutamato no tronco encefálico, que
ser definidos como antagonistas da serotonina- desencadeia a liberação de GABA inibitório. Assim, a
dopamina, com antagonismo simultâneo dos liberação de dopamina dos neurônios no estriado é
receptores de serotonina 5HT2A que acompanha inibida
o antagonismo de D2. As ações farmacológicas, O antagonismo de 5HT2A – “corta o cabo
que também podem mediar hipoteticamente o
do freio”
perfil dos antipsicóticos atípicos de menos SEP e
menos hiperprolactinemia, com efeitos -O antagonismo de 5HT2A dos neurônios
antipsicóticos comparáveis, incluem ações agonistas piramidais corticais por um antipsicótico atípico
parciais nos receptores 5HT1A e parciais nos interfere na ação da serotonina como freio contra a
receptores D2 liberação de dopamina por meio dos receptores
5HT2A. Desse modo, o antagonismo de 5HT2A no
córtex estimula hipoteticamente a liberação de
dopamina corrente abaixo no estriado. Isso se deve
à redução da liberação de glutamato no tronco
encefálico, de modo que a liberação de GABA
inibitório nos neurônios dopaminérgicos não é
desencadeada. Consequentemente, a liberação de
Antagonista de serotonina-dopamina: A “atipicidade” dopamina por neurônios corrente abaixo no
dos antipsicóticos atípicos costuma ser atribuída ao estriado é inibida, o que teoricamente deve reduzir
acoplamento do antagonismo de D2 com o da os SEP
serotonina 5HT2A. À direita, a figura mostra um ícone Atuação dos receptores 5HT2A em outras
representando essa dupla ação farmacológica
áreas cerebrais
Receptores 5HT2A
-Teoricamente, os receptores 5HT2A
-A chave para compreender por que os regulam a liberação de dopamina pelos neurônios
antipsicóticos são atípicos é conhecer a dopaminérgicos nigroestriatais por meio de outros
farmacologia dos receptores 5HT2A, assim como o mecanismos em outras áreas cerebrais. Isto é, os
significado dos eventos que ocorrem quando são neurônios serotoninérgicos cujos corpos celulares
bloqueados por esses fármacos. se encontram na rafe do tronco encefálico podem
-Todos os receptores 5HT2A são pós- inervar neurônios dopaminérgicos nigroestriatais
sinápticos e estão localizados em muitas regiões do tanto em nível dos corpos celulares dos neurônios
cérebro. Quando localizados nos neurônios dopaminérgicos na substância negra quanto nos
piramidais corticais, os receptores 5HT2A são terminais axônicos de neurônios dopaminérgicos no
excitatórios e, portanto, podem potencializar a estriado
liberação de glutamato corrente abaixo. O -Essa inervação pode ocorrer por uma
glutamato regula a liberação de dopamina corrente conexão direta entre o neurônio serotoninérgico e
abaixo, de modo que a estimulação ou o bloqueio o neurônio dopaminérgico, ou por meio de uma
dos receptores 5HT2A podem também regular a conexão indireta com um neurônio gabaérgico. A
liberação de dopamina. Igualmente, os receptores estimulação dos receptores 5HT2A pela serotonina
de 5HT1A de localização cortical regulam a em ambas as extremidades dos neurônios da
liberação de dopamina corrente abaixo substância negra, hipoteticamente, bloqueia a
Atuação liberação de dopamina no estriado
-Os receptores 5HT2A atuam como freios -Por outro lado, o antagonismo dos
sobre a liberação de dopamina no estriado. A receptores 5HT2A por um antipsicótico atípico
estimulação 5HT2A dos neurônios piramidais nesses mesmos locais estimula hipoteticamente a
liberação de dopamina corrente abaixo no estriado.
Marina Ferrari – MD6
Essa liberação de dopamina no estriado deve fosse a única ação do fármaco, ocorreria SEP, com
reduzir os SEP, o que teoricamente explica por uma ocupação dos receptores D2 alcançando 80%
que os antipsicóticos com propriedades ou mais (A). Esta é exatamente a situação que
antagonistas de 5HT2A são atípicos. Os receptores ocorre com um antipsicótico convencional
5HT1A também regulam a liberação de dopamina -Entretanto, os antipsicóticos atípicos têm
no estriado uma 2ª propriedade, isto é, a de bloquear os
Ação do antipsicótico atípico receptores 5HT2A, os quais, conforme discutido
anteriormente, apresentam múltiplos mecanismos
Antagonismo dos receptores 5HT2A – pelos quais eles aumentam a liberação de dopamina
redução dos SEP no estriado. O resultado dessa liberação de
-Como exatamente essa liberação de dopamina é que ela compete com antagonistas dos
dopamina por meio do antagonismo de 5HT2A receptores D2 no estriado, nos quais reduz a
reduz os SEP? Normalmente, a serotonina reduz a ligação aos receptores D2 para menos de 80% a
liberação de dopamina do estriado pelas suas ações mais de, provavelmente, 60%, uma diminuição
nos vários receptores 5HT2A discutidos suficiente para eliminar os sintomas extrapiramidais.
anteriormente. Por outro lado, as 2 ações de um Esta é a hipótese mais frequentemente
antipsicótico atípico, isto é, bloqueio de ambos os apresentada para explicar o mecanismo das
receptores D2 e receptores 5HT2A, são propriedades clínicas mais importantes dos
mostradas na Figura, separadamente. À esquerda, antipsicóticos atípicos, isto é, redução dos sintomas
os receptores D2 são bloqueados pelas ações extrapiramidais (SEP) com ações antipsicóticas
antagonistas de D2 do antipsicótico atípico, comparáveis
exatamente como um convencional (A). Se esta

Vista ampliada das interações entre serotonina (5HT) e dopamina (DA) na via DA nigroestriatal nos
terminais axônicos do estriado. Normalmente, a 5HT inibe a liberação de DA. (A) A DA está sendo liberada, pois
não há 5HT para interromper sua liberação. Especificamente, não há 5HT no receptor 5HT2A do neurônio DA
nigroestriatal. (B) Agora, a liberação de DA está sendo inibida pela 5HT na via dopaminérgica nigroestriatal. Quando
a 5HT ocupa seu receptor 5HT2A no neurônio DA (círculo vermelho inferior), isso inibe a liberação de DA, de
modo que não há DA presente na sinapse (círculo vermelho superior)
Marina Ferrari – MD6
Figura 5.18 Antagonistas de serotonina 2A na via nigroestriatal. A. Os receptores de dopamina 2 (D2) pós-
sinápticos estão sendo bloqueados por um antagonista de serotonina e de dopamina (ASD) na via dopaminérgica
nigroestriatal. Isso mostra o que aconteceria se o bloqueio de D2 fosse a única ação ativa de um antipsicótico
atípico – o fármaco só iria se ligar aos receptores D2 pós-sinápticos, bloqueando- os. Em contrapartida, (B) mostra
a dupla ação dos ASD, em que ocorre bloqueio tanto dos receptores D2 quanto dos receptores 5HT2A. O fato
interessante é que a segunda ação do antagonismo de 5HT2A reverte, na realidade, a primeira ação do
antagonismo de D2. Isso acontece devido à liberação de dopamina quando a serotonina não pode mais inibir a sua
liberação. Outro termo empregado para isso é desinibição. Assim, o bloqueio do receptor 5HT2A desinibe o
neurônio dopaminérgico, com consequente extravasamento da dopamina. Em consequência, a dopamina pode,
então, competir com o ASD pelo receptor D2 e reverter a inibição. Como o bloqueio de D2 é assim revertido, os
ASD causam poucos sintomas extrapiramidais (SEP) ou nenhum e tampouco ocorre discinesia tardia
Ações antipsicóticas comparáveis -O humor, ou estado de ânimo, é definido
-Por que o antagonismo de 5HT2A não como o tônus afetivo do indivíduo, o estado
reverte as ações antipsicóticas? Embora um emocional basal e difuso em que se encontra a
antipsicótico convencional só possa reduzir a pessoa em determinado momento. E a disposição
dopamina (o que ele faz nos receptores D2 em afetiva de fundo que penetra toda a experiência
todo o cérebro), os antipsicóticos atípicos com suas psíquica, a lente afetiva que dá as vivências do
propriedades antagonistas adicionais de 5HT2A sujeito, a cada momento uma cor particular,
exercem ações efetivas muito mais complicadas ampliando ou reduzindo o impacto das experiências
sobre a atividade da dopamina. Isso porque eles não reais, e muitas vezes, modificando a natureza e o
apenas diminuem a atividade da dopamina por meio sentido das experiências vivenciadas
do bloqueio dos receptores D2, mas também Bases biológicas dos transtornos de
podem aumentar a sua liberação e, portanto, sua
atividade ao estimularem indiretamente os humor
receptores dopaminérgicos. Entretanto, essas ações Regiões e circuitos encefálicos
parecem ser muito diferentes em partes distintas
do cérebro envolvidos
-Na via dopaminérgica nigroestriatal e na via Giro do córtex cingulado anterior
dopaminérgica tuberoinfundibular, ocorre liberação -Vem sendo consistentemente implicado na
de dopamina suficiente pelos antipsicóticos atípicos depressão maior e transtorno bipolar
para reverter, em parte, as ações indesejadas dos -Apresenta 2 subdivisões funcionais: rostrais
SEP e da hiperprolactinemia. Isso não parece e ventrais:
ocorrer na via dopaminérgica mesolímbica, pois as *Estabelecem conexões com o
ações antipsicóticas dos antipsicóticos atípicos são hipocampo, amígdala, córtex pré-frontal orbital,
exatamente tão eficazes quanto as dos insula anterior e o nucleus accumbens
antipsicóticos convencionais, presumivelmente *A subdivisão caudal parece estar
devido a diferenças regionais no modo pelo qual os envolvida em processos cognitivos e o controle do
receptores 5HT2A podem ou não exercer um comportamento, conectando-se com a porção
controle sobre a liberação de dopamina dorsal do córtex pré-frontal, o córtex motor
-A estratégia tem sido explorar esses secundário e o córtex cingulado posterior
diferentes mecanismos farmacológicos regionais -Alterações funcionais que levam ao
para obter os melhores resultados clínicos por meio transtorno do humor são encontradas com maior
do bloqueio simultâneo dos receptores D2 e dos consistência na subdivisão rostral → relacionada
receptores 5HT2A, em que pode ocorrer bloqueio com as emoções e, especialmente na região
efetivo de quantidades diferentes de receptores D2 subgenual (porção ventral do corpo caloso)
em diferentes áreas do cérebro, ao mesmo tempo
Amígdala
e com o mesmo fármaco
-O aumento da amígdala foi encontrado na
depressão; o aumento dos seus níveis basais de
Humor
Marina Ferrari – MD6
atividade foi observado na depressão, transtorno atenção, vigília, motivação e outros estados
bipolar e transtornos de ansiedade cognitivos e emocionais
Hipocampo -Nesse contexto, surgiu a ideia de que a
-Seu volume pode estar diminuído depressão estaria relacionada com a redução na
-Episódio prolongado de depressão maior disponibilidade das monoaminas e consequente
pode produzir atrofia hipocampal deficiência da transmissão sináptica
monoaminérgica → a efetividade dos
Hipótese monoaminérgica antidepressivos resultaria do aumento da
-Afirma que o humor estaria intimamente disponibilidade de monoamina s nas sinapses
ligado aos níveis de neurotransmissores -Ponto fraco da hipótese: se a ação
monoaminérgicos – NA, serotonina e dopamina: inibitória dos antidepressivos sobre a captação de
*São sintetizadas a partir de um monoaminas, ou sobre a MAO, é rápida (muitas
aminoácido precursor e podem tanto ser vezes ocorre já na 1ª dose do medicamento), por
armazenadas em vesículas sinápticas quanto ser que várias semanas de tratamento são necessárias
metabolizadas pela enzima monoaminoxidase para a redução dos sintomas clínicos de
(MAO), que se encontra associada à membrana depressão?
externa da mitocôndria *1ª hipótese: o ↑transmissão sináptica →
*Núcleos serotoninérgicos e ativaria vias de sinalização → induziriam a
noradrenérgicos estão concentrados no tronco expressão de genes → produção de proteínas →
encefálico caudal, enquanto que a maior parte da seriam capazes de alterar a responsividade dos
dopamina é sintetizada em regiões mais rostrais, na neurônicos ou estimulariam a remodelação das
substância negra e na área tegmentar ventral no junções sinápticas de modo que os sintomas
mesencéfalo depressivos comecem a diminuir
*Estas 3 monoaminas possuem a *2ª hipótese: os fármacos
capacidade de se regularem: antidepressivos aumentaria a taxa de neurogênese
-Serotonina: regula a liberação de no giro denteado da formação hipocampal → o
dopamina através de seus receptores 5HT1A, atraso se daria pelo lento desenvolvimento de
5HT2A, 5HT2C. Também regula a liberação de NA novos neurônios e sua incorporação ao circuitos
através de seus receptores 5HT2C e de ambas a *Recentemente foi descoberto que
dopamina e NA pelo receptor 5HT3 estes fármacos poderiam também modificar
-Noradrenalina: regula os covalentemente histonas, contribuindo para que a
neurônios 5HT através de seus receptores α1 e α2. ação dos antidepressivos persistam mesmo após o
Os receptores α1 são aceleradores e os receptores término do tratamento
α2 são o freio para a liberação de serotonina. Os
neurônios noradrenérgicos do locus coeruleus
seguem seu percurso até os núcleos da rafe, onde
liberam NA nos receptores α1 pós-sinápticos nos
corpos celulares dos neurônios serotoninérgicos,
aumentando a liberação de 5HT. Os neurônios
noradrenérgicos também inervam os terminais
axônicos dos neurônios 5HT; aqui, a NA é liberada
diretamente nos receptores α2 pós- sinápticos que
inibem os neurônios 5HT, atuando como freio
sobre a 5HT e inibindo sua liberação. O tipo de
ação da NA que predomina, aceleradora ou de
freio, depende da extremidade do neurônio 5HT
que mais recebe impulso noradrenérgico no
determinado momento
*Juntos, produzem repostas
coordenadas e influenciam funções como alerta,
Marina Ferrari – MD6
resultado da falha do sistema de retroalimentação
negativa do eixo:

-Em indivíduos deprimidos, a


produção diária de cortisol, CRH e ACTH podem
estar elevadas
-P.ex.: pessoas com síndrome de
Cushing (↑ACTH → ↑cortisol), frequentemente
apresentam depressão e insônia
-Sugere-se que respostas alteradas
ao estresse sejam um componente importante na
depressão
*Pacientes com episódios recorrentes
de depressão apresentam também redução do
volume do hipocampo, provavelmente pelo
aumento da secreção de cortisol; foram propostas
2 teorias para explicar esse fato:
-↑ Persistente de cortisol → dano
aos neurônios → ficam mais sensíveis à
excitotoxicidade glutaminérgica
-Cortisol associado ao estresse
crônico causaria a supressão neurogênese →
Hipótese do estresse hipocampo menor:
-A depressão compartilha várias *Células granulares do giro
características com o estresse crônico, incluindo denteado são produzidas durante a vida adulta. No
mudanças de apetite, no sono e na disposição; entanto, experiências adversas ou estressantes,
podem compartilhar também alterações assim como os GC, inibem a proliferação desses
bioquímicas, como a atividade do eixo HHA precursores
*Essa hipótese afirma que a depressão *Lembrando que: a secreção
resultaria do aumento crônico da atividade do HHA, hipotalâmica de CRH é controlada pela via
assim como dos níveis de cortisol; ambos seriam excitatória da amígdala e pela via inibitória do
Marina Ferrari – MD6
hipocampo. Danos hipocampais podem conduzir a -Até recentemente, os neurotransmissores
um círculo vicioso e em atrofia hipocampal adicional monoaminégicos - norepinefrina, dopamina,
*Pacientes depressivos podem serotonina e histamina - eram o centro das teorias
apresentar prejuízos de memória relacionados com e da pesquisa sobre a etiologia desses transtornos.
a disfunção hipocampal Tem ocorrido uma mudança progressiva do foco
Fatores de risco genéticos e não nos distúrbios de sistemas de um único
neurotransmissor em favor do estudo de sistemas
genéticos nos transtornos de humor neurocomportamentais, circuitos neurais e
-Assim como a esquizofrenia, o padrão de mecanismos neurorreguladores mais complexos
transmissão hereditária, tanto do transtorno bipolar -Os sistemas monoaminérgicos, portanto,
quanto da depressão maior, é inconsistente com são agora considerados sistemas neuromodulares,
uma simples herança mendeliana. No entanto, mais amplos, e os distúrbios tendem a ser efeitos
pode-se estimar a influência dos genes tanto secundários ou epifenomenais quanto
relacionando o grau de parentesco com de um relacionados direta ou causalmente com a etiologia
indivíduo doente com o risco de desenvolver a e a patogenia
doença → razão de risco de ocorrência (λ), que Aminas biogênicas
fornece uma medida aproximada da influência -Das aminas biogênicas, a norepinefrina e a
genética em um traço da doença: serotonina são os 2 neurotransmissores mais
*Demonstra que a esquizofrenia e o implicados na fisiopatologia dos transtornos do
transtorno bipolar são altamente influenciados pela humor
genética, enquanto que a depressão maior é Norepinefrina
moderadamente influenciada
-A correlação sugerida por estudos de
*As taxas de concordância para gêmeos
ciências básicas entre a down regulation dos
monozigóticos é 100% → influência de fatores
receptores β-adrenérgicos e as respostas
ambientais
clínicas aos antidepressivos é provavelmente a
evidência isolada mais convincente indicando um
papel direto do sistema noradrenérgico na
depressão. Outras evidências implicaram também
os receptores β2-pré-sinápticos na depressão,
visto que sua ativação resulta em redução da
quantidade de norepinefrina liberada. Esses
receptores também estão localizados nos
neurônios serotoninérgicos e regulam a quantidade
de serotonina liberada. A eficácia clínica dos
antidepressivos com efeitos noradrenérgicos – por
exemplo, a venlafaxina – apoia ainda mais um papel
-Prevenção: envolve os fatores ambientais da norepinefrina na fisiopatologia de pelo menos
aos quais a pessoa é exposta → eventos alguns dos sintomas da depressão
adversos e estressantes aumentam o risco de Serotonina
depressão maior
-Com o forte efeito que os inibidores
-Genes: também exercem papel no risco de
seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) –
transtorno de humor, pois é responsável pelo
por exemplo, a fluoxetina – têm tido sobre o
temperamento das pessoas; ou seja, influencia o
tratamento da depressão, a serotonina se tornou a
tipo de situação a que essas pessoas se colocam,
amina biogênica neurotransmissora mais
assim como a resposta às experiências adversas
comumente associada à depressão
Alterações do humor -Além do fato de os ISRSs e outros
antidepressivos serotonérgicos serem eficazes no
Fatores etiológicos
tratamento da depressão, outros dados indicam
Fatores biológicos que a serotonina está envolvida na fisiopatologia
Marina Ferrari – MD6
desse transtorno. A depleção da serotonina pode aquelas associadas com depressão grave. Alguns
precipitar depressão, e alguns pacientes com pacientes com transtornos do humor em remissão,
impulsos suicidas têm concentrações baixas de bem como seus parentes em 1º grau que nunca
metabólitos da serotonina no líquido cerebrospinal tiveram a doença, têm aumento do traço de
(LCS) e concentrações baixas de zonas de sensibilidade-tipo a agonistas colinérgicos
captação de serotonina nas plaquetas GABA
Dopamina -O ácido gama-aminobutírico (GABA) tem
-Há a teoria de que a dopamina também um efeito inibidor sobre as vias ascendentes
desempenhe um papel na depressão. Dados monoaminérgicas, particularmente os sistemas
indicam que sua atividade pode estar reduzida na mesocortical e mesolímbico. Reduções dos níveis
depressão e aumentada na mania. Os plasmáticos, do LCS e cerebral de GABA foram
medicamentos que reduzem as concentrações da observadas na depressão
dopamina – por exemplo, a reserpina – e as -Os aminoácidos glutamato e glicina são os
doenças que também têm esse efeito (p. ex., principais neurotransmissores excitatórios e
doença de Parkinson) estão associados com inibitórios no SNC. Esses aminoácidos ligam-se a
sintomas depressivos. Em contraste, medicamentos sítios associados com o receptor de N-metil-D-
que aumentam suas concentrações, como a aspartato (NMDA), e um excesso de estimulação
tirosina, a anfetamina e a bupropiona, reduzem os glutamatérgica pode causar efeitos neurotóxicos.
sintomas de depressão. 2 teorias recentes sobre Significativamente, existe alta concentração de
dopamina e depressão são que a via mesolímbica receptores de NMDA no hipocampo. O glutamato,
da dopamina pode ser disfuncional e que seu portanto, pode operar em conjunto com a
receptor D1 pode ser hipoativo na depressão hipercortisolemia para mediar os efeitos
Outros distúrbios de neurotransmissores neurocognitivos prejudiciais da depressão
recorrente grave. Evidências recentes apontam
Acetilcolina
que agentes que antagonizam os receptores
-A acetilcolina (ACh) é encontrada nos NMDA têm efeitos antidepressivos
neurônios que se distribuem de forma difusa por
2º mensageiros e cascatas intracelulares
todo o córtex cerebral. Os neurônios colinérgicos
têm relações recíprocas ou interativas com todos -Evidências crescentes indicam que agentes
os 3 sistemas de monoamina. Níveis anormais de estabilizadores do humor agem sobre as proteínas
colina, que é um precursor de ACh, foram G ou outros 2ºs mensageiros
encontrados em cérebros de alguns pacientes -A ligação de um neurotransmissor e um
deprimidos, talvez refletindo anormalidades na receptor pós-sináptico desencadeia uma cascata de
composição de fosfolipídeo das células processos ligados à membrana e intracelulares
-Agentes agonistas e antagonistas mediados por sistemas de 2º mensageiro. Os
colinérgicos têm efeitos clínicos diferentes sobre receptores nas membranas celulares interagem
depressão e mania. Os agonistas podem produzir com o ambiente intracelular por meio de proteínas
letargia, falta de energia e retardo psicomotor em ligantes do nucleotídeo guanina (proteínas G). As
indivíduos saudáveis, exacerbar os sintomas na proteínas G, por sua vez, se conectam a várias
depressão e reduzir os sintomas na mania. Esses enzimas intracelulares (p. ex., adenilato ciclase,
efeitos em geral não são suficientemente fortes fosfolipase C e fosfodiesterase) que regulam a
para ter implicações clínicas, e os efeitos adversos utilização de energia e a formação de 2ºs
são problemáticos mensageiros, como o nucleotídeo cíclico (p. ex.,
-Em um modelo animal de depressão, adenosina monofosfato cíclico [cAMP] e
linhagens de camundongos supersensíveis ou monofosfato cíclico de guanosina [cGMP]), bem
subsensíveis a agonistas colinérgicos revelaram-se como os fosfatidilinositóis (p. ex., inositol trifosfato e
suscetíveis ou mais resistentes a desenvolver diacilglicerol) e cálcio-calmodulina. Os 2ºs
impotência aprendida. Os agonistas colinérgicos mensageiros regulam a função dos canais iônicos
podem induzir alterações na atividade hipotalâmico- da membrana neuronal
hipofisário-suprarrenal (HHS) e no sono que imitam Alterações da regulação hormonal
Marina Ferrari – MD6
-Alterações duradouras nas respostas por somatostatina, um neuropeptídeo hipotalâmico,
neuroendócrinas e comportamentais podem e por CRH. Níveis de somatostatina do LCS
resultar de estresse precoce grave. A atividade do diminuídos foram relatados na depressão e níveis
gene codificando para o fator neurotrófico derivado aumentados foram observados na mania
do cérebro (BDNF) neuroquinina é diminuída após Prolactina
estresse crônico, assim como o processo de -A prolactina é liberada da hipófise pela
neurogênese. Estresse prolongado, portanto, pode estimulação da serotonina e é inibida por dopamina.
induzir alterações no estado funcional dos neurônios A maioria dos estudos não encontrou anormalidades
e acabar levando a morte celular significativas da secreção de prolactina basal ou
*Estudos recentes com humanos circadiana na depressão, embora uma resposta
deprimidos revelam que uma história de trauma embotada a vários agonistas de serotonina tenha
precoce está associada com atividade HHS sido descrita. Essa resposta é incomum entre
aumentada acompanhada de alterações estruturais mulheres antes da menopausa, o que sugere que
(i.e., atrofia ou diminuição de volume) no córtex o estrogênio tenha um efeito moderador
cerebral
Alterações da neurofisiologia do sono
-Atividade de HHS elevada é uma
característica de respostas a estresse em -A depressão está associada com perda
mamíferos e uma das ligações mais claras entre prematura do sono profundo (de onda lenta) e
depressão e a biologia do estresse crônico aumento no despertar noturno. Este último é
*Hipercortisolemia na depressão sugere refletido por 4 tipos de distúrbio:
1 ou mais dos seguintes distúrbios centrais: tônus 1. Aumento nos despertares noturnos
inibitório de serotonina diminuído; impulso 2. Redução no tempo de sono total
aumentado de norepinefrina, ACh ou hormônio 3. Aumento do sono de movimentos
liberador de corticotrofina (CRH); ou diminuição da oculares rápidos (REM) fásico
inibição do feedback do hipocampo 4. Aumento da temperatura corporal
*A não supressão da secreção de -A combinação de movimento REM
cortisol às 8h da manhã seguinte ou subsequente aumentado e sono de onda lenta diminuído resulta
não supressão às 16h ou às 23h é indicativa de em uma redução significativa no 1º período de sono
comprometimento da inibição do feedback não REM (NREM), um fenômeno chamado de
latência REM reduzida. Esta, junto com déficits do
Atividade do eixo tireoidiano
sono de onda lenta, normalmente persistem após a
-Aproximadamente 5 a 10% das pessoas recuperação de um episódio depressivo. A
avaliadas para depressão têm disfunção tireoidiana secreção de GH embotada após o início do sono
ainda não detectada, conforme refletido por nível está relacionada com diminuição do sono de onda
basal do hormônio estimulante da tireoide (TSH) lenta e mostra comportamento independente de
elevado ou resposta de TSH aumentada a uma estado ou tipo traço semelhante. A combinação de
infusão de 500 mg do neuropeptídeo hipotalâmico latência REM reduzida, densidade REM aumentada e
hormônio liberador de tireotrofina (TRH) manutenção do sono diminuída identifica
-Essas anormalidades muitas vezes estão aproximadamente 40% dos pacientes ambulatoriais
associadas com níveis elevados de anticorpos deprimidos e 80% dos internados deprimidos
antitireoidianos e, a menos que corrigido com
Distúrbios imunológicos
terapia de reposição hormonal, podem
comprometer a resposta ao tratamento. Um -Os transtornos depressivos estão
subgrupo ainda maior de pacientes deprimidos (p. associados com várias anormalidades imunológicas,
ex., 20 a 30%) apresenta uma resposta de TSH incluindo diminuição da proliferação de linfócitos em
embotada à administração de TRH resposta a mitógenos e outras formas de
imunidade celular comprometida. Esses linfócitos
Hormônio do crescimento
produzem neuromoduladores, como o fator
-O hormônio do crescimento (GH) é liberador de corticotrofina (CRF), e citocinas,
secretado da hipófise anterior após estimulação por peptídeos conhecidos como interleucinas. Parece
norepinefrina (NE) e dopamina. A secreção é inibida haver uma ligação com gravidade clínica,
Marina Ferrari – MD6
hipercortisolemia e disfunção imunológica, e a -Além disso, foi observado aumento do
citocina interleucina-1 pode induzir atividade gênica metabolismo da glicose em diversas regiões
para a síntese de glicocorticoide límbicas, em particular entre pacientes com
Imagem cerebral estrutural e funcional depressão recorrente relativamente grave e história
-A tomografia computadorizada (TC) e a familiar de transtorno do humor. Durante episódios
ressonância magnética (RM) têm permitido de depressão, o aumento do metabolismo da
métodos sensíveis e não invasivos para avaliar o glicose está correlacionado com ruminações
cérebro vivo, incluindo os tratos cortical e importunas
subcortical, bem como lesões da substância branca. Considerações neuroanatômicas
A anormalidade mais consistente observada nos
transtornos depressivos é a maior frequência de
hiperintensidades anormais nas regiões subcorticais,
tais como as regiões periventriculares, os gânglios
da base e o tálamo
-Mais comuns no transtorno bipolar I e
entre idosos, essas hiperintensidades parecem
refletir os efeitos neurodegenerativos prejudiciais
de episódios afetivos recorrentes. Aumento
ventricular, atrofia cortical e alargamento sulcal
também foram relatados em alguns estudos
-Alguns pacientes deprimidos também -A neurociência afetiva moderna focaliza-se
podem ter volumes reduzidos do hipocampo ou do na importância de 4 regiões cerebrais na regulação
núcleo caudado, ou de ambos, sugerindo defeitos das emoções normais:
mais focais em sistemas neurocomportamentais *O córtex pré-frontal (CPF): é
relevantes. Áreas de atrofia difusas e focais foram
considerado a estrutura que contém
associadas com maior gravidade da doença,
representações de objetivos e as respostas
bipolaridade e aumento dos níveis de cortisol
adequadas para alcançá-los. As evidências indicam
-O achado de tomografia por emissão de
alguma especialização hemisférica na função do
pósitrons (PET) mais amplamente reproduzido na
CPF. Por exemplo, enquanto a ativação do lado
depressão é uma diminuição no metabolismo
esquerdo de regiões do CPF é mais envolvida em
cerebral anterior, que é em geral mais pronunciada
comportamentos dirigidos a objetivos ou
no lado esquerdo. De um ponto de vista diferente,
necessidades naturais, as regiões do CPF direito
a depressão pode estar relacionada com um
são implicadas em comportamentos de esquiva e
aumento relativo na atividade do hemisfério não
na inibição de atividades orientadas a necessidades
dominante. Além disso, uma inversão da
naturais. Sub-regiões no CPF parecem localizar
hipofrontalidade ocorre após mudanças de
representações de comportamentos relacionados a
depressão para hipomania, de modo que maiores
recompensa e punição
reduções do hemisfério esquerdo são vistas na
*Cingulado anterior (CCA): Pensa-se
depressão, comparadas com maiores reduções do
que sirva como ponto de integração de estímulos
hemisfério direito na mania
atencionais e emocionais. 2 subdivisões foram
-Outros estudos observaram reduções mais
identificadas: uma nas regiões rostral e ventral
específicas do fluxo sanguíneo ou do metabolismo
(compartilha conexões extensivas com outras
cerebrais, ou de ambos, nos tratos
regiões límbicas) e uma cognitiva envolvendo o
dopaminergicamente inervados dos sistemas
CCA dorsal (interage mais com o CPF e com
mesocortical e mesolímbico na depressão.
outras regiões corticais). Foi proposto que a
Novamente, as evidências sugerem que os
antidepressivos normalizam essas mudanças pelo ativação do CCA facilita o controle da excitação
emocional, sobretudo quando a realização do
menos em parte
objetivo foi frustrada ou quando problemas novos
foram encontrados
Marina Ferrari – MD6
*O hipocampo – está mais claramente amostra dinamarquesa, uma taxa 3x maior de
envolvido em várias formas de aprendizagem e transtorno bipolar e 6x maior de suicídio
memória, incluindo o condicionamento do medo, completado nos parentes biológicos de probandos
bem como na regulação inibitória da atividade do com doenças afetivas foi relatada. Outros estudos,
eixo HHS entretanto, foram menos convincentes e não
*A amígdala – parece ser um local encontraram diferença nas taxas de transtornos do
crucial para o processamento de estímulos novos humor
de significado emocional e para a coordenação e Estudo de gêmeos
organização de respostas corticais. A amígdala -Esses estudos fornecem a abordagem
sempre foi considerada o coração do sistema mais poderosa para separar fatores genéticos de
límbico. Embora a maior parte das pesquisas tenha ambientais, ou a “natureza” da “criação”. Dados de
se concentrado no papel da amígdala na resposta a gêmeos fornecem evidências convincentes de que
estímulos assustadores ou dolorosos, pode ser a os genes explicam apenas 50 a 70% da etiologia
ambiguidade ou a novidade, e não a natureza dos transtornos do humor. O ambiente ou outros
aversiva do estímulo em si, que ative a amígdala fatores não hereditários devem explicar o restante
Fatores genéticos -Portanto, é uma predisposição ou
-Inúmeros estudos de famílias, de adoção suscetibilidade à doença que é herdada.
e de gêmeos há muito têm documentado a Considerando os transtornos unipolar e bipolar
hereditariedade dos transtornos do humor juntos, esses estudos encontram uma taxa de
Estudos de famílias concordância para transtorno do humor nos
-Os estudos de famílias investigam se um gêmeos monozigóticos (MZ) de 70 a 90%,
transtorno é familiar. Dados familiares indicam que, comparada com a de gêmeos dizigóticos (DZ) do
se 1 dos genitores tem um transtorno do humor, 1 mesmo sexo de 16 a 35%. Estes são os dados mais
dos filhos tem um risco entre 10 e 25% de convincentes do papel dos fatores genéticos nos
também apresentá-lo. Se ambos os genitores são transtornos do humor
afetados, o risco praticamente duplica. Quanto Estudos de ligação
mais membros da família forem afetados, maior o -Marcadores do DNA são segmentos de
risco para um filho. O risco é maior se os afetados DNA de localização conhecida no cromossomo,
forem parentes em 1º grau do que mais distantes muito variáveis entre os indivíduos. Eles são usados
-Uma história familiar de transtorno bipolar para rastrear a segregação de regiões
confere um risco maior para transtornos do humor cromossômicas específicas em famílias afetadas
em geral e, em particular, um risco muito maior com o transtorno
para transtorno bipolar. O transtorno unipolar -Quando um marcador é identificado com
costuma ser a forma mais comum de transtorno do doença em famílias, diz-se que a doença é
humor em famílias de probandos bipolares. Essa geneticamente ligada. Os cromossomos 18q e 22q
sobreposição familiar sugere algum grau de bases são as 2 regiões com evidência mais forte de
genéticas comuns entre essas duas formas de ligação a transtorno bipolar. Vários estudos de
transtorno do humor. A presença de doença mais ligação encontraram evidências do envolvimento de
grave na família também confere um risco maior genes específicos em subtipos clínicos. Por
Estudos de adoção exemplo, foi demonstrado que a evidência de
-Esses estudos fornecem uma abordagem ligação em 18q é derivada, em grande parte, de
alternativa para separar fatores genéticos e pares de irmãos bipolar II-bipolar II e de famílias nas
ambientais na transmissão familiar. Apenas um quais os probandos tinham sintomas de pânico
número limitado desses estudos foi relatado, e seus -Estudos de mapeamento genético da
resultados foram mistos depressão unipolar encontraram evidência muito
-Um grande estudo encontrou uma taxa 3x forte de ligação ao locus para a proteína ligadora
maior de transtorno bipolar e 2x maior de do elemento de resposta a cAMP (CREB1) no
transtorno unipolar nos parentes biológicos de cromossomo 2. Outras 18 regiões genômicas
probandos bipolares. De modo semelhante, em uma também eram ligadas; algumas delas exibiam
Marina Ferrari – MD6
interações com o locus de CREB1. Outro estudo padrão de personalidade, podem e ficam
relatou evidência de uma interação gene-ambiente deprimidos sob determinadas circunstâncias.
no desenvolvimento de depressão maior. Foi Aqueles com certos transtornos da personalidade
demonstrado que indivíduos com eventos de vida (obsessivo-compulsiva, histriônica e borderline)
adversos em geral tinham risco aumentado para podem ter um risco maior de depressão do que
depressão. Destes, entretanto, aqueles com uma pessoas com personalidade antissocial ou paranoide.
variante no gene transportador de serotonina Estas últimas podem usar projeção e outros
apresentavam o maior aumento no risco mecanismos de defesa externalizantes para se
Fatores psicossociais protegerem de sua raiva interior
-Nenhuma evidência indica que qualquer
Acontecimentos de vida e estresse
transtorno da personalidade em particular esteja
ambiental associado com o desenvolvimento posterior de
-Uma observação clínica de longa data é a transtorno bipolar I; porém, pacientes com distimia
de que eventos de vida estressantes mais e transtorno ciclotímico têm o risco de desenvolver
frequentemente precedem os 1ºs episódios de depressão maior ou transtorno bipolar I
transtornos do humor, e não os subsequentes. Essa Fatores psicodinâmicos na depressão
associação tem sido relatada tanto em pacientes -O entendimento psicodinâmico da
com transtorno depressivo maior como naqueles depressão definido por Sigmund Freud e
com transtorno bipolar I. Uma teoria proposta para expandido por Karl Abraham é conhecido como a
explicar essa observação é a de que o estresse visão clássica da depressão. A teoria envolve 4
que acompanha o 1º episódio resulta em mudanças pontos fundamentais:
duradouras na biologia do cérebro 1. Distúrbios na relação bebê-mãe
-Essas mudanças podem alterar os estados durante a fase oral (os 1ºs 10 a 18 meses de vida)
funcionais de vários neurotransmissores e sistemas predispõem a vulnerabilidade subsequente a
sinalizadores intraneuronais, mudanças que podem depressão
incluir mesmo a perda de neurônios e uma 2. A depressão pode estar ligada a
redução excessiva de contatos sinápticos. Como perda real ou imaginada do objeto
resultado, uma pessoa tem alto risco de 3. A introjeção de objetos que partiram
desenvolver episódios subsequentes de um é um mecanismo de defesa invocado para lidar
transtorno do humor, mesmo sem um estressor com o sofrimento associado com a perda do
-Alguns médicos acreditam que os eventos objeto
de vida tenham um papel primário ou principal na 4. Visto que o objeto perdido é
depressão; outros sugerem que seu papel seja percebido com uma mistura de amor e ódio,
apenas limitado no início e no momento da sentimentos de raiva são dirigidos contra o self
depressão. Os dados mais convincentes indicam
que o evento de vida associado com mais
frequência ao desenvolvimento da depressão é a Transtornos do Humor
perda de um dos genitores antes dos 11 anos de -Os transtornos do humor – às vezes
idade. O estressor ambiental mais associado ao início chamados de transtornos afetivos – constituem
de um episódio de depressão é a perda do cônjuge. uma categoria importante de doença psiquiátrica,
Outro fator de risco é o desemprego; indivíduos consistindo em transtorno depressivo, transtorno
desempregados têm 3x mais probabilidade de bipolar e outros transtornos
relatar sintomas de um episódio de depressão -Sinais e sintomas de transtorno do humor
maior do que os que estão empregados. A culpa incluem mudanças no nível de atividade, nas
também pode ter um papel capacidades cognitivas, na fala e nas funções
Fatores de personalidade vegetativas (p. ex., sono, apetite, atividade sexual e
outros ritmos biológicos). Esses transtornos quase
-Nenhum traço ou tipo de personalidade
sempre resultam em comprometimento do
isolado predispõe de forma única uma pessoa a
funcionamento interpessoal, social e ocupacional
depressão; todos os seres humanos, com qualquer
Marina Ferrari – MD6
-Pacientes apenas com episódios -Egocêntrico, grandioso, com
depressivos maiores têm transtorno depressivo autoestima altamente elevada
maior ou depressão unipolar. Aqueles com -Pode ocorrer delírios de grandeza,
episódios tanto maníacos quanto depressivos ou paranoides ou místicos, e alucinações auditivas
somente com episódios maníacos são considerados -Pensamento torna-se acelerado, e
com transtorno bipolar. Os termos “mania unipolar” existe a sensação subjetiva de aumento da
e “mania pura” às vezes são usados para pacientes velocidade de ideias
bipolares que não têm episódios depressivos *Distraibilidade: atenção voluntária está
-3 categorias adicionais de transtornos do reduzida e a espontânea apresenta-se aumentada
humor são hipomania, ciclotimia e distimia. *Irritabilidade e arrogância
Hipomania é um episódio de sintomas maníacos *Tendência exagerada a gastos
que não satisfaz os critérios para episódio maníaco. excessivos
Ciclotimia e distimia são transtornos que *Sintomas psicóticos: delírios de
representam formas menos graves de transtorno grandeza ou poder → podem estar associados a
bipolar e de depressão maior, respectivamente alucinações auditivas
Manifestações clínicas *Afeto: é instável e o humor eufórico,
exaltado ou irritável
Mania *Humor: pode haver alterações abruptas
-Caracterizada por euforia ou irritabilidade, de humor (labilidade afetiva)
aumento significativo das atividades, ↓necessidade *Sintomas vegetativos: aumento da
de dormir, impulsividade e envolvimento excessivo libido e desinibição sexual, perda de peso,
em vários projetos, frequentemente com ↓bom- anorexia e insônia, geralmente associada à
senso e caracterizado por otimismo extremo sensação de diminuição da necessidade de sono
(quando se gasta muito além do que se tem): Hipomania
*Aparência: extravagante, com roupas -É a forma atenuada do episódio maníaco
coloridas, excesso de maquiagem e acessórios, -Apresenta aumento da disposição e
desatenção quanto à aparência pessoal energia, sensação subjetiva de que o fluxo de
*Concentração: dificuldade para ideias é mais amplo e acelerado, e bom humor
concentrar-se (hipotenaz), dispersando-se à medida excessivo
que surgem novos estímulos (hipervigil) -Discurso com loquacidade, sarcasmo e
*Psicomotricidade: apresenta-se inquieto, ideias abundantes
agitado, com agressividade física ou verbal -Irritação, autoritarismo, excesso de gastos
*Aumento da autoestima: sente-se e comportamento imprudente
superior, melhor, mais potente -Pode haver diminuição da necessidade do
*Intensa satisfação pessoal e bem estar sono e aumento da energia sexual
exagerado -De modo geral, a hipomania não produz
*Elação: sentimento de expansão e disfunção social grave, mas pode haver uma
engrandecimento do eu convivência difícil, devido indiscrições sociais e
*Linguagem: financeiras, discussões e endividamentos
-Fala: é pressionada, dramática,
podendo tornar-se incompreensível Depressão
-Logorreia: produção verbal rápida, -São os mesmos sintomas da depressão
fluente e persistente unipolar (depressão maior), com presença de
-Pressão para falar: necessidade de humor entristecido (principalmente):
falar ininterruptamente *Aspecto geral: ao exame psíquico, o
*Conteúdo do pensamento: paciente deprimido pode parecer cansado e
-Fuga de ideias: não consegue preocupado, apresentando fraco contato visual. O
ater-se a um tema e pode trocar rapidamente de cuidado com a aparência é reduzido e há tendência
assunto, dificultando a compreensão ao choro
Marina Ferrari – MD6
*Sintomas afetivos: tristeza, melancolia; alucinações, geralmente auditivas, com conteúdos
choro fácil e/ou frequente; apatia (indiferença depressivos, outros sintomas psicóticos
afetiva); sentimento de falta de sentimento; incongruentes com o humor
incapacidade de sentir prazer; tédio e *Uma das alterações principais é a falta
aborrecimento crônico; irritabilidade aumentada; de energia, com tendência ao isolamento
angústia ou ansiedade; desespero *A capacidade de exercer critica fica
*Alterações físicas: fadiga, cansaço fácil prejudicada, pois os acontecimentos são
e constante; distúrbios do sono (insônia terminal interpretados de modo depressivo
ou hipersonia); perda ou aumento do apetite/peso; Depressão
constipação; indigestão; distúrbios sexuais
(diminuição da libido, disfunção erétil); palidez; Teorias formuladoras da depressão
alterações na menstruação; cefaleia Teoria cognitiva
*Alterações da psicomotricidade e
-De acordo com a teoria cognitiva, a
volição: aumento da latência entre as perguntas e
depressão resulta de distorções cognitivas
as respostas, lentificação psicomotora; diminuição
específicas presentes nas pessoas predispostas a
do discurso, redução do tom de voz, fala lentificada;
desenvolvê-la. Essas distorções, referidas como
mutismo (negativismo verbal); negativismo (recusa
esquemas depressogênicos, são modelos que
alimentar, recusa à interação pessoal), ausência de
percebem tanto os dados internos quanto os
planos e perspectivas
externos de formas alteradas por experiências
*Alterações cognitivas: dificuldade de
precoces
concentração e esquecimentos, dificuldade para
-Aaron Beck postulou a tríade cognitiva da
tomar decisões; pseudodemência depressiva
depressão:
*Distúrbios da linguagem: a fala é
1. Visão sobre si próprio: uma
monossilábica, sem espontaneidade, monótona e
autopercepção negativa
com longas pausas
2. Sobre o mundo: uma tendência a
*Concentração: pode ocorrer
experimentar o mundo como hostil e exigente
diminuição da atenção (hipotenacidade). Em função
3. Sobre o futuro: a expectativa de
disso, associado ao desinteresse, às informações
sofrimento e fracasso
não são fixadas a memória
*Distúrbios do pensamento: ideação Impotência aprendida
negativa, pessimismo, ideias de arrependimento e -A teoria da impotência aprendida da
culpa; ideias de abandono e autopunição; ideias de depressão associa fenômenos depressivos à
morte e desejo de desaparecer; ideação, planos ou experiência de acontecimentos incontroláveis. Por
tentativas suicidas exemplo, quando cães, em laboratório, foram
*Alterações da autovaloração: expostos a choques elétricos dos quais não podiam
sentimento de baixa autoestima e desvalia; escapar, exibiram comportamentos que os
sentimento de vergonha, autodepreciação e diferenciavam de cães que não foram expostos a
autoacusação. As ideias de suicídio sempre devem tais eventos incontroláveis. Os cães expostos ao
ser investigadas e o risco avaliado. O paciente pode choque não cruzaram uma barreira para
apenas desejar a morte, ou pensar e mesmo interromper o fluxo de choque elétrico quando
planejar o suicídio colocados em nova situação de aprendizagem. Eles
*Humor e afeto: apresenta-se triste ou permaneceram passivos e não se moveram
irritável. Situações que antes representavam prazer -De acordo com a teoria da impotência
deixam de interessar e perdem a graça. Em aprendida, os cães submetidos a choques
depressões menos acentuadas o humor oscila aprenderam que os desfechos eram independentes
durante o dia com piora matutina ou vespertina, e das respostas, de modo que tinham tanto déficit
o paciente pode levar horas para retornar à cognitivo motivacional (i.e., não tentavam escapar
normalidade ao choque) quanto emocional (indicando reatividade
*Sintomas psicóticos: ideias delirantes de diminuída do choque). Na visão reformulada da
conteúdo negativo, delírios de ruína ou miséria, impotência aprendida aplicada à depressão humana,
Marina Ferrari – MD6
pensa-se que explicações causais internas exceção de alteração do peso e ideação suicida.
produzem perda de autoestima após eventos Insônia ou fadiga frequentes são a queixa principal
externos adversos. Os behavioristas que apoiam a apresentada; Pode ter irritabilidade aumentada e
teoria enfatizam que a melhora da depressão diminuição dos níveis de interesse ou desejo sexual.
depende de o paciente desenvolver um senso de A família percebe retraimento social ou negligência
controle e domínio do ambiente de atividades prazerosas (criança que gostava de
jogar futebol encontra desculpas para não
praticar); Alterações psicomotoras incluem
agitação (incapacidade de ficar sentado quieto,
agitar as mãos, puxar ou esfregar a pele, roupas
ou objetos) ou retardo psicomotor (discurso,
pensamento ou movimentos corporais lentificados,
maiores pausas antes de responder, fala diminuída).
Podem mostrar-se facilmente distraídas ou queixar-
se de dificuldades de memória (em idosos podem
ser a queixa principal e ser confundidas com os
sinais iniciais de uma demência)
OBS: O diagnóstico é difícil em individuo que
apresenta uma condição como câncer, AVC, IAM,
DIA, gravidez, pois alguns sintomas são idênticos às
características de condições médicas (perda de peso
com DIA não tratado; fadiga com o câncer;
Transtornos depressivos
hipersonia no inicio da gravidez; insônia no fim da
Transtorno depressivo maior gravidez ou no pós-parto)
-Os sintomas dos critérios para diagnóstico
devem estar presentes quase todos os dias, com
Transtorno depressivo maior – Critérios diagnósticos
A. 5 (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de 2 semanas e
representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos 1 dos sintomas é (1) humor
deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer
*Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a outra condição médica
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex.,
sente-se triste, vazio, sem esperança) ou por observação feita por outras pessoas (p. ex., parece choroso). (Nota:
Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.)
2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia,
quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas)
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do
peso corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças,
considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.)
4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente
sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento)
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os
dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente)
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo
ou observação feita por outras pessoas)
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um
plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio
B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou
em outras áreas importantes da vida do indivíduo
Marina Ferrari – MD6
C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica
*Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior
*Nota: Respostas a uma perda significativa (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por um desastre natural, uma
doença médica grave ou incapacidade) podem incluir os sentimentos de tristeza intensos, ruminação acerca da
perda, insônia, falta de apetite e perda de peso observados no Critério A, que podem se assemelhar a um
episódio depressivo. Embora tais sintomas possam ser entendidos ou considerados apropriados à perda, a
presença de um episódio depressivo maior, além da resposta normal a uma perda significativa, também deve ser
cuidadosamente considerada. Essa decisão requer inevitavelmente o exercício do julgamento clínico baseado na
história do indivíduo e nas normas culturais para a expressão de sofrimento no contexto de uma perda
D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo,
esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e
outro transtorno psicótico especificado ou transtorno da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não
especificado
E.. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco
*Nota: Essa exclusão não se aplica se todos os episódios do tipo maníaco ou do tipo hipomaníaco são
induzidos por substância ou são atribuíveis aos efeitos psicológicos de outra condição médica
Transtorno depressivo persistente depressivo maior (i.e., 3, em vez de 5), e os
sintomas devem estar presentes durante a maioria
(distimia)
dos dias, em vez de quase todos os dias, como no
-Embora os critérios sintomáticos de transtorno depressivo maior. Um grande percentual
transtorno depressivo persistente (distimia) sejam de indivíduos que satisfazem os critérios para
semelhantes aos de transtorno depressivo maior, transtorno depressivo persistente pode satisfazer
com humor deprimido como característica principal, os critérios para transtorno depressivo maior
o aspecto fundamental do transtorno depressivo durante o curso da doença
persistente é sua qualidade crônica – ou seja, o *Inúmeras regiões cerebrais (córtex pré-
humor deprimido deve estar presente ao longo de frontal, cingulado anterior, amígdala, hipocampo)
um período de pelo menos 2 anos em adultos. No foram implicadas no transtorno depressivo
caso de crianças, a duração mínima é de 1 ano, e o persistente; Início precoce (antes dos 21 anos) e
humor pode ser predominantemente irritável tardio (após 21 anos)
-O transtorno depressivo persistente requer
menos sintomas totais do que o transtorno
Transtorno depressivo persistente (distimia) – Critérios diagnósticos
-Este transtorno representa uma consolidação do transtorno depressivo maior crônico e do transtorno distímico
definidos no DSM-IV
A. Humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias, indicado por relato subjetivo ou por observação
feita por outras pessoas, pelo período mínimo de 2 anos
*Nota: Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável, com duração mínima de 1 ano
B. Presença, enquanto deprimido, de 2 (ou mais) das seguintes características:
1. Apetite diminuído ou alimentação em excesso
2. Insônia ou hipersonia
3. Baixa energia ou fadiga
4. Baixa autoestima
5. Concentração pobre ou dificuldade em tomar decisões
6. Sentimentos de desesperança
C. Durante o período de 2 anos (1 ano para crianças ou adolescentes) de perturbação, o indivíduo jamais esteve
sem os sintomas dos Critérios A e B por mais de 2 meses
D. Os critérios para um transtorno depressivo maior podem estar continuamente presentes por 2 anos
E.. Jamais houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco e jamais foram satisfeitos os critérios para
transtorno ciclotímico
F. A perturbação não é mais bem explicada por um transtorno esquizoafetivo persistente, esquizofrenia,
transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou
transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado
Marina Ferrari – MD6
G. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento)
ou a outra condição médica (p. ex., hipotireoidismo)
H. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou
em outras áreas importantes da vida do indivíduo
*Nota: Como os critérios para um episódio depressivo maior incluem 4 sintomas que estão ausentes da lista
de sintomas para transtorno depressivo persistente (distimia), um número muito limitado de indivíduos terá
sintomas depressivos que persistiram por mais de 2 anos, mas não irá satisfazer os critérios para transtorno
depressivo persistente. Caso tenham sido satisfeitos todos os critérios para um episódio depressivo maior em
algum momento durante o episódio atual da doença, tais indivíduos devem receber diagnóstico de transtorno
depressivo maior. De forma alternativa, um diagnóstico de outro transtorno depressivo especificado ou transtorno
depressivo não especificado é justificado
Transtorno disfórico pré-menstrual presentes durante a maior parte do ciclo menstrual
-Envolve alterações de humor na semana no ano precedente ao diagnóstico
final antes do início da menstruação; esses OBS: Diagnóstico diferencial – Síndrome pré-
sintomas começam a melhorar alguns dias após o menstrual: difere do transtorno, por não ser
início da menstruação e reduzem-se ao mínimo ou necessária a presença de 5 sintomas no mínimo e
desaparecem na semana após a menstruação por não existir estipulação de sintomas afetivos e
essa condição pode ser mais comum. Embora a
-Os sintomas fundamentais devem incluir
SPM também tenha expressão dos sintomas na fase
pelo menos 1 dos citados nos critérios diagnósticos pré-menstrual, é considerada menos grave
– sendo que o critério B é obrigatório. Pelo menos
5 sintomas são necessários para satisfazer os
critérios diagnósticos. Os sintomas devem estar
Transtorno disfórico pré-menstrual – Critérios diagnósticos
A. Na maioria dos ciclos menstruais, pelo menos 5 sintomas devem estar presentes na semana final antes do início da
menstruação, começar a melhorar poucos dias depois do início da menstruação e tornar-se mínimos ou ausentes
na semana pós-menstrual
B. 1 (ou mais) dos seguintes sintomas deve estar presente:
1. Labilidade afetiva acentuada (p. ex., mudanças de humor; sentir-se repentinamente triste ou chorosa ou
sensibilidade à rejeição)
2. Irritabilidade ou raiva acentuadas ou aumento nos conflitos interpessoais
3. Humor deprimido acentuado, sentimentos de desesperança ou pensamentos autodepreciativos
4. Ansiedade acentuada, tensão e/ou sentimentos de estar nervosa ou no limite
C. 1 (ou +) dos seguintes sintomas deve adicionalmente estar presente para atingir um total de 5 sintomas quando
combinados com os sintomas do Critério B
1. Interesse diminuído pelas atividades habituais (p. ex., trabalho, escola, amigos, passatempos)
2. Sentimento subjetivo de dificuldade em se concentrar
3. Letargia, fadiga fácil ou falta de energia acentuada
4. Alteração acentuada do apetite; comer em demasia; ou avidez por alimentos específicos
5. Hipersonia ou insônia
6. Sentir-se sobrecarregada ou fora de controle
7. Sintomas físicos como sensibilidade ou inchaço das mamas, dor articular ou muscular, sensação de “inchaço”
ou ganho de peso
D. Os sintomas estão associados a sofrimento clinicamente significativo ou a interferência no trabalho, na escola, em
atividades sociais habituais ou relações com outras pessoas (p. ex., esquiva de atividades sociais; diminuição da
produtividade e eficiência no trabalho, na escola ou em casa)
E.. A perturbação não é meramente uma exacerbação dos sintomas de outro transtorno, como transtorno
depressivo maior, transtorno de pânico, transtorno depressivo persistente (distimia) ou um transtorno da
personalidade (embora possa ser concomitante a qualquer um desses transtornos)
F. O Critério A deve ser confirmado por avaliações prospectivas diárias durante pelo menos 2 ciclos sintomáticos.
(Nota: O diagnóstico pode ser feito provisoriamente antes dessa confirmação.)
G. Os sintomas não são consequência dos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso,
medicamento, outro tratamento) ou de outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo)
Marina Ferrari – MD6
Transtorno disruptivo da desregulação do raiva frequentes (em média, 3 ou mais vezes por
semana), as quais podem ser verbais ou
humor
comportamentais (p. ex., agressão física a pessoas
-Deve ser distinguido de outros transtornos ou propriedade). A criança também deve
da infância, incluindo transtorno bipolar pediátrico. O manifestar humor negativo persistente entre as
sintoma-chave do transtorno disruptivo da explosões. Ela deve ter pelo menos 6 anos de
desregulação do humor é irritabilidade grave idade, e o início deve ocorrer antes dos 10 anos. Os
persistente em resposta a estressores do cotidiano. sintomas devem estar presentes durante um
Indivíduos com transtorno disruptivo da período mínimo de 12 meses
desregulação do humor apresentam explosões de
Transtorno disruptivo da desregulação do humor – Critérios diagnósticos
A. Explosões de raiva recorrentes e graves manifestadas pela linguagem (p. ex., violência verbal) e/ou pelo
comportamento (p. ex., agressão física a pessoas ou propriedade) que são consideravelmente desproporcionais
em intensidade ou duração à situação ou provocação
B. As explosões de raiva são inconsistentes com o nível de desenvolvimento
C. As explosões de raiva ocorrem, em média, 3 ou mais vezes por semana
D. O humor entre as explosões de raiva é persistentemente irritável ou zangado na maior parte do dia, quase
todos os dias, e é observável por outras pessoas (p. ex., pais, professores, pares)
E.. Os Critérios A-D estão presentes por 12 meses ou mais. Durante esse tempo, o indivíduo não teve um
período que durou 3 ou mais meses consecutivos sem todos os sintomas dos Critérios A-D
F. Os Critérios A e D estão presentes em pelo menos 2 de 3 ambientes (p. ex., em casa, na escola, com os
pares) e são graves em pelo menos 1 deles
G. O diagnóstico não deve ser feito pela 1ª vez antes dos 6 anos ou após os 18 anos de idade
H. Por relato ou observação, a idade de início dos Critérios A-E é antes dos 10 anos
I. Nunca houve um período distinto durando mais de 1 dia durante o qual foram satisfeitos todos os critérios de
sintomas, exceto a duração, para 1 episódio maníaco ou hipomaníaco
*Nota: Uma elevação do humor apropriada para o desenvolvimento, como a que ocorre no contexto de um
evento altamente positivo ou de sua antecipação, não deve ser considerada como um sintoma de mania ou
hipomania
J. Os comportamentos não ocorrem exclusivamente durante um episódio de transtorno depressivo maior e não
são mais bem explicados por outro transtorno mental (p. ex., transtorno do espectro autista, transtorno de
estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade de separação, transtorno depressivo persistente)
*Nota: Este diagnóstico não pode coexistir com transtorno de oposição desafiante, transtorno explosivo
intermitente ou transtorno bipolar, embora possa coexistir com outros, incluindo transtorno depressivo maior,
transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno da conduta e transtornos por uso de substância. Os
indivíduos cujos sintomas satisfazem critérios para transtorno disruptivo da desregulação do humor e transtorno
de oposição desafiante devem somente receber o diagnóstico de transtorno disruptivo da desregulação do
humor. Se um indivíduo já experimentou um episódio maníaco ou hipomaníaco, o diagnóstico de transtorno
disruptivo da desregulação do humor não deve ser atribuído
K. Os sintomas não são consequência dos efeitos psicológicos de uma substância ou de outra condição médica
ou neurológica
Transtorno depressivo induzido por desenvolveram em conjunto com a exposição a
medicamentos conhecidos por causar esses
substância/medicamento
sintomas ou em proximidade temporal a
-Um diagnóstico de transtorno depressivo intoxicação por substância ou abstinência
induzido por substância/medicamento é adequado
quando os sintomas de depressão se
Transtorno depressivo induzido por substância – Critérios diagnósticos
A. Uma perturbação proeminente e persistente do humor que predomina no quadro clínico, caracterizada por
humor depressivo ou diminuição acentuada de interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades
B. Existem evidências, a partir da história, do exame físico ou de achados laboratoriais, de (1) e (2):
1. Os sintomas no Critério A desenvolveram-se durante ou logo após intoxicação ou abstinência de substância
Marina Ferrari – MD6
ou após exposição a medicamento
2. A substância/medicamento envolvida é capaz de produzir os sintomas no Critério A
C. A perturbação não é mais bem explicada por um transtorno depressivo não induzido por substância/
medicamento. Tais evidências de um transtorno depressivo independente podem incluir: os sintomas precedem
o início do uso da substância/medicamento; persistem por um período substancial (p. ex., cerca de 1 mês) após a
cessação da abstinência aguda ou intoxicação grave; ou existem outras evidências sugerindo a existência de um
transtorno depressivo independente, não induzido por substância/medicamento (p. ex., história de episódios
recorrentes não relacionados a substância/medicamento)
D. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o curso de delirium
E.. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou
em outras áreas importantes da vida do indivíduo
*Nota: Este diagnóstico deve ser feito em vez de um diagnóstico de intoxicação por substância ou
abstinência de substância apenas quando os sintomas no Critério A predominam no quadro clínico e quando são
suficientemente graves a ponto de justificar atenção clínica
Transtorno depressivo devido a outra -Determinar se uma condição médica que
acompanha um transtorno depressivo está
condição médica
causando o transtorno depende dos seguintes
-As consequências funcionais dizem fatores:
respeito àquelas associadas à condição médica. Em a. Ausência de episódios depressivos
geral, acredita-se, mas não está estabelecido, que antes do início da condição médica
um episódio depressivo maior induzido pela doença b. Probabilidade de que a condição
de Cushing não terá recorrência se essa doença médica associada tenha um potencial de promover
for curada ou interrompida. No entanto, também é ou causar um transtorno depressivo
sugerido, mas não está estabelecido, que os c. Um curso de sintomas depressivos
transtornos do humor, incluindo os depressivos logo após o início ou piora da condição médica,
maníacos/hipomaníacos, podem ser episódicos (i.e., sobretudo se os sintomas depressivos entram em
recorrentes) em alguns indivíduos com lesões remissão próximo ao momento em que a condição
cerebrais estáticas e outras doenças do sistema médica é efetivamente tratada ou entra em
nervoso central remissão
Diagnóstico diferencial
Transtorno depressivo devido a outra condição médica – Critérios diagnósticos
A. Um período proeminente e persistente de humor deprimido ou de diminuição acentuada de interesse ou
prazer em todas ou quase todas as atividades que predomina no quadro clínico
B. Existem evidências, a partir da história, do exame físico ou de achados laboratoriais, de que a perturbação
é consequência fisiopatológica direta de outra condição médica
C. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., transtorno de adaptação com
humor depressivo em resposta ao estresse de ter uma condição médica grave)
D. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o curso de delirium
E.. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou
em outras áreas importantes da vida do indivíduo
Outro transtorno depressivo especificado menstrual) por pelo menos 12 meses consecutivos
-Aplica-se a apresentações em que em um indivíduo cuja apresentação nunca satisfez
sintomas característicos de um transtorno os critérios para qualquer outro transtorno
depressivo não satisfazem todos os critérios para depressivo ou transtorno bipolar e atualmente não
qualquer transtorno na classe diagnóstica dos satisfaz critérios ativos ou residuais de qualquer
transtornos depressivos transtorno psicótico
-Exemplos de apresentações incluem: *Episódio depressivo de curta duração (4
*Depressão breve recorrente: presença a 13 dias): afeto depressivo e pelo menos 4 dos

concomitante de humor depressivo e pelo menos outros 8 sintomas de um episódio depressivo maior
4 outros sintomas de depressão por 2 a 13 dias associados a sofrimento clinicamente significativo
pelo menos 1x por mês (não associados ao ciclo ou prejuízo que persiste por mais de 4 dias,
Marina Ferrari – MD6
porém menos de 14 dias, em um indivíduo cuja -É usada nas situações em que o clínico
apresentação nunca satisfez critérios para qualquer opta por não especificar a razão pela qual os
outro transtorno depressivo ou transtorno bipolar, critérios para um transtorno depressivo específico
atualmente não satisfaz critérios ativos ou residuais não são satisfeitos e inclui apresentações para as
para qualquer transtorno psicótico e não satisfaz quais não há informações suficientes para fazer um
critérios para depressão breve recorrente diagnóstico mais específico (p. ex., em salas de
*Episódio depressivo com sintomas emergência)
insuficientes: afeto depressivo e pelo menos 1 dos Bipolaridade
outros 8 sintomas de um episódio depressivo
maior associados a sofrimento ou prejuízo Transtorno bipolar tipo I
clinicamente significativo que persiste por pelo -Pacientes com transtorno bipolar tipo I
menos 2 semanas em um indivíduo cuja sofreram pelo menos 1 episódio maníaco. Episódios
apresentação nunca satisfez critérios para qualquer maníacos duram pelo menos 1 semana (ou menos,
outro transtorno depressivo ou transtorno bipolar, se houver hospitalização) e requerem humor
atualmente não satisfaz critérios ativos ou residuais elevado, expansivo ou irritável, acompanhado por
para qualquer transtorno psicótico e não satisfaz aumento da energia/atividade e pelo menos 3
critérios para transtorno de adaptação com outros sintomas (4 se o humor for apenas irritável),
sintomas mistos de ansiedade e depressão como autoestima inflada, redução da necessidade
Outro transtorno depressivo não de sono, loquacidade acima do normal, experiência
subjetiva de que os pensamentos estão acelerados,
especificado
distraibilidade, aumento da atividade dirigida a
-Aplica-se a apresentações em que objetivos e impulsividade
sintomas característicos de um transtorno -Episódios maníacos são, por definição,
depressivo que causa sofrimento clinicamente graves; eles envolvem psicose, hospitalização ou
significativo ou prejuízo no funcionamento social, prejuízo grave do funcionamento ocupacional ou
profissional ou em outras áreas importantes da vida psicossocial. “Aumento da atividade dirigida a
do indivíduo predominam, mas não satisfazem objetivos ou agitação psicomotora” foi
todos os critérios para qualquer transtorno na acrescentado no DSM-5 como um novo sintoma
classe diagnóstica dos transtornos depressivos fundamental de elevação do humor
Transtorno Bipolar tipo I – Critérios diagnósticos
Para diagnosticar transtorno bipolar tipo I, é necessário o preenchimento dos critérios a seguir para 1 episódio
maníaco. O episódio maníaco pode ter sido antecedido ou seguido por episódios hipomaníacos ou depressivos
maiores
Episódio maníaco
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal
e persistente da atividade dirigi da a objetivos ou da energia, com duração mínima de 1 semana e presente na
maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração, se a hospitalização se fizer necessária)
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, 3 (ou mais) dos seguintes
sintomas (4 se o humor é apenas irritável) estão presentes em grau significativo e representam uma mudança
notável do comportamento habitual:
1. Autoestima inflada ou grandiosidade
2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas 3h de sono)
3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando
4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados
5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou
irrelevantes), conforme relatado ou observado
6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja sexualmente) ou
agitação psicomotora (i.e., atividade sem propósito não dirigida a objetivos)
7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (p. ex.,
envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos)
C. A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento
Marina Ferrari – MD6
social ou profissional ou para necessitar de hospitalização a fim de prevenir dano a si mesmo ou a outras pessoas,
ou existem características psicóticas
D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento,
outro tratamento) ou a outra condição médica
*Nota: Um episódio maníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento,
eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse
tratamento, é evidência suficiente para um episódio maníaco e, portanto, para um diagnóstico de transtorno
bipolar tipo I
*Nota: Os Critérios A-D representam um episódio maníaco. Pelo menos 1 episódio maníaco na vida é
necessário para o diagnóstico de transtorno bipolar tipo I
Episódio hipomaníaco
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal
e persistente da atividade ou energia, com duração mínima de 4 dias consecutivos e presente na maior parte do
dia, quase todos os dias
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento de energia e atividade, 3 (ou mais) dos seguintes
sintomas (4 se o humor é apenas irritável) persistem, representam uma mudança notável em relação ao
comportamento habitual e estão presentes em grau significativo:
1. Autoestima inflada ou grandiosidade
2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas três horas de sono)
3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando
4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados
5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou
irrelevantes), conforme relatado ou observado
6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja sexualmente) ou
agitação psicomotora
7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (p. ex.,
envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos)
C. O episódio está associado a uma mudança clara no funcionamento que não é característica do indivíduo
quando assintomático
D. A perturbação do humor e a mudança no funcionamento são observáveis por outras pessoas
E.. O episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou
profissional ou para necessitar de hospitalização. Existindo características psicóticas, por definição, o episódio é
maníaco
F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento,
outro tratamento)
*Nota: Um episódio hipomaníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento,
eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse
tratamento, é evidência suficiente para um diagnóstico de episódio hipomaníaco. Recomenda-se, porém, cautela
para que 1 ou 2 sintomas (principalmente aumento da irritabilidade, nervosismo ou agitação após uso de
antidepressivo) não sejam considerados suficientes para o diagnóstico de episódio hipomaníaco nem
necessariamente indicativos de uma diátese bipolar
*Nota: Os Critérios A-F representam um episódio hipomaníaco. Esses episódios são comuns no transtorno
bipolar tipo I, embora não necessários para o diagnóstico desse transtorno
Episódio depressivo maior
A. 5 (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de 2 semanas e
representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos 1 dos sintomas é (1) humor
deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer
*Nota: Não incluir sintomas que sejam claramente atribuíveis a outra condição médica
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex.,
sente-se triste, vazio ou sem esperança) ou por observação feita por outra pessoa (p. ex., parece choroso).
(Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.)
2. Acentuada diminuição de interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as atividades na maior parte do
dia, quase todos os dias (conforme indicado por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa)
Marina Ferrari – MD6
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., mudança de mais de 5% do peso
corporal em 1 mês) ou redução ou aumento no apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o
insucesso em obter o ganho de peso esperado.)
4. Insônia ou hipersonia quase diária
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outras pessoas; não meramente
sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os
dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente)
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão quase todos os dias (por relato subjetivo
ou observação feita por outra pessoa)
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um
plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio
B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou
em outras áreas importantes da vida do indivíduo
C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica
*Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior. Esse tipo de episódio é comum no
transtorno bipolar tipo I, embora não seja necessário para o diagnóstico desse transtorno
Transtorno bipolar tipo II hipomaníacos são definidos de modo semelhante a
episódios maníacos, mas não envolvem psicose,
-Pacientes com transtorno bipolar tipo II
hospitalização nem prejuízo funcional grave, e sua
experimentaram pelo menos 1 episódio
duração mínima é mais breve (4 dias, em vez de
hipomaníaco e pelo menos 1 episódio depressivo
7)
maior, mas nenhum episódio maníaco. Episódios
Transtorno bipolar tipo II – Critérios diagnósticos
Para diagnosticar transtorno bipolar tipo II, é necessário o preenchimento dos critérios a seguir para um episódio
hipomaníaco atual ou anterior e os critérios a seguir para um episódio depressivo maior atual ou anterior:
Episódio hipomaníaco
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal
e persistente da atividade ou energia, com duração mínima de 4 dias consecutivos e presente na maior parte do
dia, quase todos os dias
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento de energia e atividade, 3 (ou mais) dos seguintes
sintomas (4 se o humor é apenas irritável) persistem, representam uma mudança notável em relação ao
comportamento habitual e estão presentes em grau significativo:
1. Autoestima inflada ou grandiosidade
2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas três horas de sono)
3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando
4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados
5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou
irrelevantes), conforme relatado ou observado
6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja sexualmente) ou
agitação psicomotora
7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (p. ex.,
envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos)
C. O episódio está associado a uma mudança clara no funcionamento que não é característica do indivíduo
quando assintomático
D. A perturbação do humor e a mudança no funcionamento são observáveis por outras pessoas
E.. O episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou
profissional ou para necessitar de hospitalização. Existindo características psicóticas, por definição, o episódio é
maníaco
F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento,
outro tratamento)
*Nota: Um episódio hipomaníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento,
Marina Ferrari – MD6
eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse
tratamento, é evidência suficiente para um diagnóstico de episódio hipomaníaco. Recomenda-se, porém, cautela
para que 1 ou 2 sintomas (principalmente aumento da irritabilidade, nervosismo ou agitação após uso de
antidepressivo) não sejam considerados suficientes para o diagnóstico de episódio hipomaníaco nem
necessariamente indicativos de uma diátese bipolar
Episódio depressivo maior
A. 5 (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de 2 semanas e
representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos 1 dos sintomas é (1) humor
deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer
*Nota: Não incluir sintomas que sejam claramente atribuíveis a outra condição médica
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex.,
sente-se triste, vazio ou sem esperança) ou por observação feita por outra pessoa (p. ex., parece choroso).
(Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.)
2. Acentuada diminuição de interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as atividades na maior parte do
dia, quase todos os dias (conforme indicado por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa)
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., mudança de mais de 5% do peso
corporal em um mês) ou redução ou aumento no apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o
insucesso em obter o ganho de peso esperado.)
4. Insônia ou hipersonia quase diária
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outras pessoas; não meramente
sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os
dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente)
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão quase todos os dias (por relato subjetivo
ou observação feita por outra pessoa)
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um
plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio
B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou
em outras áreas importantes da vida do indivíduo
C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica
*Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior. Esse tipo de episódio é comum no
transtorno bipolar tipo I, embora não seja necessário para o diagnóstico desse transtorno
*Nota: Respostas a uma perda significativa (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por desastre natural, doença
médica grave ou incapacidade) podem incluir sentimentos de tristeza intensos, ruminação acerca da perda,
insônia, falta de apetite e perda de peso observados no Critério A, que podem se assemelhar a um episódio
depressivo. Embora tais sintomas possam ser entendidos ou considerados apropriados à perda, a presença de
um episódio depressivo maior, além da resposta normal a uma perda significativa, deve ser também
cuidadosamente considerada. Essa decisão exige inevitavelmente exercício de juízo clínico, baseado na história do
indivíduo e nas normas culturais para a expressão de sofrimento no contexto de uma perda
Transtorno ciclotímico hipomaníaco; e os sintomas depressivos têm nº,
gravidade, abrangência ou duração insuficientes
-Tem como característica essencial, a
para preencher a todos os critérios de um episódio
cronicidade e oscilação do humor, envolvendo
depressivo maior. Durante período inicial de 2 anos
vários períodos de sintomas hipomaníacos e
(1 ano para crianças e adolescentes), os sintomas
períodos de sintomas depressivos distintos entre si
precisam ser persistentes (presentes na maioria dos
(critério A); Os sintomas hipomaníacos têm nº,
dias), e qualquer intervalo sem sintomas não pode
gravidade, abrangência ou duração insuficientes
durar mais do que 2 meses
para preencher a todos os critérios de um episódio
Transtorno ciclotímico – Critérios diagnósticos
A. Por pelo menos 2 anos (1 ano em crianças e adolescentes), presença de vários períodos com sintomas
hipomaníacos que não satisfazem os critérios para episódio hipomaníaco e vários períodos com sintomas
depressivos que não satisfazem os critérios para episódio depressivo maior
Marina Ferrari – MD6
B. Durante o período antes citado de 2 anos (1 ano em crianças e adolescentes), os períodos hipomaníaco e
depressivo estiveram presentes por pelo menos metade do tempo, e o indivíduo não permaneceu sem os
sintomas por mais que 2 meses consecutivos
C. Os critérios para um episódio depressivo maior, maníaco ou hipomaníaco nunca foram satisfeitos
D. Os sintomas do Critério A não são mais bem explicados por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno
esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno
psicótico especificado ou transtorno espectro da esquizofrenia e outro transtorno fisiológico não especificado
E.. Os sintomas não são atribuíveis aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso,
medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo)
F. Os sintomas causam sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou
em outras áreas importantes da vida do indivíduo
Mania visão negativa que ele tem de si mesmo e acerca
do futuro
-Um episódio maníaco é um período
-Bases neurológicas não estabelecidas, mas
distinto de humor anormal e persistentemente
supõe-se que haja o estabelecimento de um
elevado, expansivo ou irritável que dura pelo menos 1
controle cognitivo neurocortical sobre padrões de
semana, ou menos se o paciente tiver de ser
atividade em circuitos funcionalmente perturbados;
hospitalizado. Um episódio hipomaníaco dura pelo
É efetiva no tratamento da depressão maior leve e
menos 4 dias e é semelhante a um episódio
moderada e para o transtorno da distimia
maníaco, exceto por não ser grave o suficiente
para causar comprometimento no funcionamento Eletroconvulsoterapia (ECT)
social ou ocupacional e por aspectos psicóticos não -Eficiente no tratamento agudo de casos
estarem presentes graves de depressão maior, sendo especialmente
-Tanto a mania como a hipomania estão importante quando há alto risco de suicídio.
associadas com autoestima inflada, necessidade de Também é eficaz em ambas as fases, maníaca e
sono diminuída, distratibilidade, grande atividade física depressiva, do transtorno bipolar
e mental e envolvimento excessivo em -Utilizado quando o paciente não responde
comportamento prazeroso. O transtorno bipolar I é ao uso de medicações ou quando está muito
definido como tendo um curso clínico de 1 ou mais debilitado para ingerir medicamentos; Geralmente
episódios maníacos e, às vezes, episódios consiste em 6-8 sessões:
depressivos maiores. Um episódio misto é um *Instala-se eletrodos unilateralmente
período de pelo menos 1 semana no qual tanto um (mais comum) ou bilateralmente
episódio maníaco quanto um episódio depressivo *O paciente é anestesiado
maior ocorrem quase diariamente. Uma variante de *A estimulação elétrica é realizada nos
transtorno bipolar caracterizada por episódios de níveis mais baixos necessários
depressão maior e hipomania, em vez de mania, é *Resulta no aumento da disponibilidade
conhecida como transtorno bipolar II de aminas biogênicas no encéfalo → não se sabe
como isso ocorre
Tratamento dos transtornos de *O alívio ocorre rapidamente, as vezes
humor após a 1ª sessão de tratamento
-Efeito adverso: prejuízo temporário da
Tratamento não farmacológico memória, com alguns casos de amnésia
Psicoterapia prolongada → a ECT geralmente apaga a
-A psicoterapia usada para combater a memória de eventos que ocorreram até 6 meses
depressão mais estudada é a terapia cognitivo antes do tratamento
comportamental, que se concentra na identificação Tratamento farmacológico
e na correção das interpretações negativas e
Lítio
distorcidas de eventos e pensamentos negativos
automáticos, as quais podem iniciar ou perpetuar o -É a 1ª linha de tratamento e profilaxia do
humor depressivo → o paciente procura superar a transtorno bipolar; também pode ser utilizado no
tratamento de crises maníacas;
Marina Ferrari – MD6
-Não somente trata os episódios agudos de expressão de genes por um complexo de
mania, mas também previne os ciclos recorrentes de transcrição TCF/LEF-1
mania e depressão, chamado de ”estabilizador do *Não se sabe quais genes podem
humor”; ser induzidos por essa via ou como eles estabilizam
-Seus efeitos terapêuticos requerem uma o humor
utilização a longo prazo → mudança adaptativa do Representantes
SNC (não se sabe ao certo como) -Carbolitium®
Farmacodinâmica Efeitos adversos
-É um cátion monovalente que passa -O risco de intoxicação, assim como o perfil
livremente através de canais neuronais de Na+ de efeitos adversos, tem limitado o seu uso,
-Seu mecanismo é desconhecido, sendo fazendo com que outras drogas (ex: valproato -
aventadas 2 hipóteses: anticonvulsivante) sejam mais usadas. Por isso, é
1. O lítio teria capacidade de bloqueio recomendada a monitoração periódica dos seus
das enzimas envolvidas em vias de sinalização níveis séricos no inicio do tratamento, alterações de
intracelular por meio da inibição das fosfatases de doses ou momentos em que haja suspeita de
inosol, inclusive da inosol-monofosfato-fosfatase: intoxicação
*O PiP2 (responsável por formar os -Sede, poliúria (pela ↓estimulação do ADH –
2º mensageiros da proteína Gq – IP3 e DAG) é mecanismo incerto), alteração da memória,
normalmente sintetizado a partir do inositol livre. No tremores das mãos, ganho significativo de peso,
entanto, os neurônios do SNC não pode obter sonolência, náuseas e diarreia, reações alérgicas
inositol livre a partir do plasma devido à BHE, sendo (dermatite, foliculite e vasculite; piora da acne etc.);
necessário reciclar o inositol (requer a geração de aumento benigno e prolongado dos leucócitos
fosfatos de inositol pela hidrólise do fosfatidilinositol), circulantes
ou sintetiza-lo a partir da glicose-6-fosfato
Contraindicações
(intermediário da glicólise)
*A partir do momento em que o lítio -Gravidez: categoria D → anomalias
inibe as fosfatases de inositol, limita a capacidade dos cardiovasculares (malformação de Ebstein)
neurônios de gerar 2º mensageiros → Interações medicamentosas
↓capacidade de disparos em ↑frequência -São múltiplas; carbamazepina, AINEs, iECA,
*O esgotamento do inositol pode tiazídicos, tetraciclina
gerar também a alteração da expressão de genes, Ácido valpróico
os quais modificam propriedades de resposta de -Anticonvulsivo utilizado no tratamento de
neurônios críticos crises de ausência e de convulsões mioclônicas,
2. Outra hipótese é de que o lítio parciais e tonicoclônicas; também é utilizado no
estabilizaria o humor por meio da inibição da tratamento do transtorno bipolar
glicogênio-sintase-quinase tipo 3 (GSK3), uma
Farmacodinâmica
importante enzima na via de sinalização da proteína
Wnt (desempenha notável função no -Parece facilitar a ação do GABA,
desenvolvimento encefálico): possivelmente por aumentar a sua liberação
*Wnt liga-se aos receptores da *In vitro, pode estimular a atividade da
família Frizzled, iniciando uma cascata de sinalização enzima que sintetiza o GABA (ácido glutâmico
para o núcleo que envolve a proteína descarboxilase); OU
citoplasmática Dishevelled (Dsh) e o glicogênio- *Inibir as enzimas que degradam o
sintase-quinase-3β (GSK-3β) que, quando GABA (GABA-transaminase e semialdeído succínico
fosforilado, causa a degradação da proteína β- desidrogenase)
catenina -Como esse anticonvulsivante trata a
*O lítio inibe a GSK-3β e, bipolaridade permanece sem resposta
consequentemente, a degradação da β-catenina, a -Além disso, possui semelhante à da
qual se transloca para o núcleon onde ativa a carbamazepina e da fenitoína por meio do
Marina Ferrari – MD6
+
bloqueio de canais de Na → prolongamento da apresentar distimia, recomenda-se o tratamento ao
inativação dos canais de Na+ longo da vida
-Também produz discretas reduções das Antidepressivos de 1ª geração:
correntes de Ca2+ nos canais do tipo T -Antidepressivos tricíclicos
Representantes -IMAO
-Depakene® Antidepressivos de 2ª geração:
-Inibidores seletivos de recaptação de serotonina
Efeitos adversos
(ISRS)
-Mais comuns incluem sintomas GI -Inibidores de recaptação de serotonina e
(anorexia, náuseas e vômitos) norepenefrina (IRSR)
-Efeitos sobre o SNC: sedação, ataxia, e -Inibidores relativamente seletivos de recaptação de
tremor norepinefrina
-Exantema, alopecia e ↑apetite Antidepressivos tricíclicos – clássicos
-Elevação das transaminases → não causa
(ATCs)
sintomas nos 1ºs meses
-Assim designados em virtude de sua
Interações medicamentosas
estrutura química, que possui 3 anéis
-Valproato inibe o metabolismo de fármacos -Representantes: Imapramina (Tofranil®),
que são substratos do CYP2C9: fenitoína e amitriptilina (Tryptanol®, Amytril®), nortriptilina
fenobarbital (Pamelor®), desipramina, clomipramina (Anafranil®)
-Também inibe as UGTs, e desse modo o Em virtude de seus efeitos colaterais e potencial
metabolismo da lamotrigina e do lorazepam risco de morte em superdosagem, os
-Pode deslocar a fenitoína e outros antidepressivos tricíclicos passaram a ser usados
fármacos da albumina como agentes de 2ª linha na depressão
-Valproato + clonazepam = ausência (raro) Farmacodinâmica
Antidepressivos -Inibem os transportadores de recaptação
-Após o início do tratamento com fármacos de NA (NET) ou da serotonina (SERT) ou ambos:
antidepressivos, geralmente há uma “defasagem *Amitriptilina, doxepina e imipramina: são
terapêutica” com duração de 3-4 semanas antes ATCs com cadeia lateral de amina terciária capazes
da resposta terapêutica mensurável tornar-se de inibir a captação tanto de NA quanto de
evidente; essa é a razão pela qual a serotonina → mais eficazes
eletroconvulsoterapia pode ser tratamento de *Clomipramina: seletiva para a inibição da
escolha para pacientes agitados, deprimidos, com captação da serotonina
↑risco de suicídio -Também bloqueiam os receptores de
-~2/3 dos pacientes irão apresentar uma muitos outros receptores: muscarínicos M1 (Gq), H1
diminuição de 50% nos sintomas de depressão ao histamínicos, α1-adrenérgicos e canais de Na+
longo de um ensaio de 8 semanas; 1/3 vai sensíveis à voltagem → principal limitação para o
apresentar remissão completa em um único seu uso!
antidepressivo Inibidores da monoaminaoxidase
-Se o paciente não responde ao
tratamento após 8 semanas em dose adequada, (IMAOs)
deve-se mudar para um mecanismo de ação -Aprovados para o tratamento da
diferente; se houver resposta parcial, outros depressão: tranilcipromida (Parnate®), fenelzina e
fármacos podem ser adicionados (bupropiona, T3 isocarboxazida; a selegilina (Jumexil®) está
ou antipsicótico atípico) aprovada para o tratamento da depressão
-Após fase de sucesso inicial, iniciar fase de Farmacodinâmica
manutenção de 6-12 meses, após o qual o fármaco -Os IMAO impedem que a MAO degrade a
é gradualmente retirado. Mas se o paciente sofrer NA, a serotonina ou a dopamina nos terminais pós
2 episódios separados de depressão maior ou sinápticos
-A MAO apresenta 2 formas:
Marina Ferrari – MD6
a. Tanto a MAO-A quanto a MAO-B são -Acredita-se, também, que a MAO-
encontradas no cérebro. Acredita-se que os B converta alguns substratos amínicos derivados do
neurônios noradrenérgicos e os neurônios ambiente, denominados protoxinas, em toxinas que
dopaminérgicos contenham tanto MAO-A quanto podem causar lesão dos neurônios e contribuir
MAO-B, talvez com predomínio da atividade da para a causa ou para o declínio da função na
MAO-A, enquanto os neurônios serotoninérgicos doença de Parkinson → a inibição da MAO-B
supostamente contêm apenas MAO-B poderia interromper esse processo
b. A MAO-A também é encontrada no *2 IMAO, a selegilina e a rasagilina,
intestino e no fígado, sendo responsável por quando administrados por VO em doses seletivas
catabolizar as aminas bioativas presentes nos para a inibição da MAO-B, foram aprovados para
alimentos uso em pacientes com doença de Parkinson,
-Os IMAOs têm eficácia equivalente à dos porém não são efetivos como antidepressivos
ATCs, mas raramente são utilizados devido à sua nessas doses seletivas para a MAO-B
toxicidade e importantes interações 3. Inibidores da MAO-A + Inibidores da
medicamentosas e alimentares MAO-B
1. Inibidores seletivos da MAO-A *Quando combinados, observa-se
*Inibe a MAO-A encefálica, aumentando elevação consistente da dopamina, bem como da
preferencialmente os níveis de serotonina e NA serotonina e da noradrenalina – produziria a melhor
(mais metabolizados pela MAO-A). Tanto a MAO-A eficácia antidepressiva em toda a gama de sintomas
quanto a MAO-B metabolizam a dopamina, porém depressivos, desde a diminuição do afeto positivo
a inibição da MAO-A por si só não parece levar a até o aumento do afeto negativo
aumentos consistentes dos níveis de dopamina no *Constitui uma das poucas estratégias
cérebro, já que a MAO-B ainda pode metabolizá-la terapêuticas disponíveis para aumentar a dopamina
*Além disso, os inibidores da MAO-A na depressão e, portanto, para tratar os sintomas
permitem que aminas bioativas provenientes dos refratários de redução afeto positivo
alimentos, com a tiramina, entrem na corrente OBS: Alguns estudos sugerem que pacientes que
sanguínea com ↑concentrações (p.ex. queijos se recuperam da depressão mediante tratamento
maturados); as aminas são captadas pelos neurônios com ISRS, mas que não readquirem
do SN simpático por transportadores, deslocando simultaneamente níveis normais de MAO-A,
aminas endógenas. No entanto, esse processo por apresentam vulnerabilidade contínua à recaída
promover a liberação abundante de NA e Bupropiona
adrenalina, resultando em grave ↑da pressão
Representantes
arterial → inibidores não seletivos da MAO-A e da
-Zyban ®, Zetron®, Wellbutrin SR®
MAO-B e os seletivos da MAO-A exigem que os
pacientes evitem alimentos com ↑teor de Farmacodinâmica
monoaminas (p.ex.: queijos envelhecidos; não é -Age através de mecanismos múltiplos:
restringido o consumo de queijo industrializado ou *Inibe a recaptação de NA (NET) e de
de pizza) dopamina (DAT)
2. Inibidor seletivo da MAO-B *Seu mecanismo de ação envolve ainda
*Não é tão efetivo como ação a liberação pré-sináptica de NA e dopamina
antidepressiva, visto que não há nenhum efeito *Tem efeito sobre o VMAT2,
direto sobre o metabolismo da serotonina ou da transportador vesicular de monoamina
noradrenalina. Além disso, ocorre pouco ou nenhum -Largamente utilizada em combinação com
acúmulo de dopamina, em virtude da ação os ISRS para maior resposta antidepressiva →
continuada da MAO-A mais eficaz na depressão do que na ansiedade
*No entanto, é utilizado no tratamento Inibidores seletivos de receptação de
de Parkinson: serotonina (ISRS)
-Reforça a ação da levodopa
-São eficazes no tratamento da depressão
administrada concomitantemente
maior e são mais seguros quando comparados aos
Marina Ferrari – MD6
ATCs em caso de overdose; são mais seletivos, *Causa o bloqueio de 5-HT2 e de
tendo ↓efeitos adversos; Também são ansiolíticos receptores α1-adrenérgicos → efeitos mais
com eficácia demonstrada no tratamento da TAG, potentes
pânicos, ansiedade social e TOC (1ª linha de *Também inibe o transportador de
tratamento deste); ISRS também são usados no serotonina (SERT)
tratamento do transtorno disfórico pré-menstrual *Difere-se dos tricíclicos e tetracíclicos
*Sertralina e paroxetina também são por não ter quase nenhum efeito anticolinérgico
aprovadas para o tratamento de estresse pós- adverso. Distingue-se também por apresentar
traumático efeitos sedativos mais marcados do que os
Inibidores de receptação de serotonina e encontrados em outros antidepressivos. Por essa
razão, é empregado no tratamento de insônia
norepinefrina (IRSN)
-Mirtazapina:
-Utilizados quando pacientes respondem *Bloqueia potencialmente os receptores
apenas parcialmente aos IRSR H1 histamínicos → sedativos; tratamento de escolha
Representantes para pacientes deprimidos com insônia
-Venlafaxina (Efexor®), Duloxetina *Possui alguma afinidade pelos
(Cymbalta®) receptores α2-adrenérgicos pré-sinápticos do SNC
Farmacodinâmica (Gi), relacionado a sua eficácia terapêutica
-Inibem tanto a SERT quanto a NET; (questionável)
dependendo do fármaco, da dose e da potência *Possui ↑afinidade pelos receptores 5-
em cada local, provocam aumento da HT2A, 5-HT2C e 5-HT3, embora menos do que
neurotransmissão serotoninérgica e noradrenérgica; pelos receptores H1 → não se sabe ao certo qual
Semelhante à ação dos ISRS, a inibição inicial da receptor monoamina é o responsável pelos seus
SERT causa ↑serotonina na fenda sináptica, efeitos antidepressivos, mas acredita-se que sua
ativando autorreceptores 5-HT1A (Gi) e 5- HT1D ação mais potente seria sobre os receptores 5-
(Gi)→ diminui a neurotransmissão serotoninérgica HT2A
por mecanismo de retroalimentação negativa, até *Aumentam a resposta antidepressiva
que os autorreceptores sejam dessensibilizados quando combinados com ISRS (quando comparado
-Venlafaxina: Bloqueia o transportador de à ação do ISRS isoladamente)
recaptação de 5HT e o transportador de
recaptação de NE através de um mecanismo que
depende de sua concentração:
*Em ↓concentrações → o fármaco
comporta-se como um ISRS
*Em ↑concentrações → aumenta
também os níveis de NE
-Duloxetina: Também inibe especificamente
a recaptação de NE e de 5HT, e o seu uso foi
aprovado para o tratamento da dor neuropática e
de outras síndromes de dor, além do tratamento
da depressão
Antagonistas dos receptores de
serotonina (5-HT)
Representantes
-Mirtazapina (Remeron®), Mianserina,
Trazodona (Donaren®), Nefazodona
Farmacodinâmica
-Trazodona:

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