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RICARDO REIS
É uma alma gémea da civilização helénica nos seus princípios
fundamentais. Inspira-se em Caeiro, sobretudo na essência do paganismo,
e, também como Caeiro, não lhe interessa o futuro. A sua tese principal
está, também fundamentada em princípios da civilização helénica.
A poesia de Reis, quer em termos formais quer em conteúdo, e muito
próxima da de Horácio no desenho específico, Reis utiliza o verso longo
alternado com verso curto nas suas odes; a nível do conteúdo também Reis
pretende a vivência do momento (um certo epicurismo temperado de
estoicismo) - porque conhece o futuro e este lhe traz irremediavelmente a
morte, Reis prefere viver o momento e desfrutar duma certa felicidade
relativa. Esta atitude é, pois, uma forma de fingimento, e a sua poesia
está, assim, impregnada pelos abismos de Pessoa.
PRINCIPAIS TEMÁTICAS
b) O tempo - Reis tem, em relação ao tempo, uma atitude negativa que lhe
advém da consciência que é imposta pelo destino. Uma consciência que se
liga à transitoriedade e que o projecta numa ânsia de felicidade
relativa. Assim, é também aos gregos que ele vai buscar inspiração e
sabedoria para enfrentar e se antecipar ao próprio destino, é assim que
ele estabelece uma meta - evitar as ciladas da fortuna e projectar-se
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numa atitude de ataraxia, única condição de encontrar a felicidade.
O tempo, efémero e fugaz, vem numa relação directa do epicurismo e por
isso, tal como Epicuro, o que Reis pretende é colocar-se numa atitude de
indiferença com vista ao alcance de uma felicidade relativa. É que,
segundo Reis, nós somos tempo e o tempo é uma breve luz que se interrompe
no meio da vida.
Esta consciência do tempo, condu-lo à vivência do instante, ao ins-
tante presente. Mas é mais uma vez confrontado com uma alternativa: o
estoicismo - é que, esse momento, porque breve, deve ser preenchido pelo
equilíbrio evitando assim, um sofrimento que pode resultar de um excesso
quer positivo quer negativo. Assim, o tempo ensina-lhe que cada momento é
a morte e por isso "o instante é uma duração calculada, voluntária,
construída pacientemente". Daqui, resulta um desencontro entre o tempo
que se deseja (sempre impossível) e o tempo vivido. Desta antinomia surge
o aniquilamento do poeta e a consciência de um sentimento triste com
relação ao tempo.