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1. Tosse
A - Introdução
B - Classificação
a) Tosse aguda
b) Tosse subaguda
c) Tosse crônica
C - Tratamento
O tratamento deve ser direcionado à sua etiologia (a Tabela 4 enumera
recomendações para as principais etiologias da tosse crônica). Como a tosse é
um dos principais mecanismos de defesa das vias aéreas, sua supressão com
fármacos antitussígenos é habitualmente pouco eficaz, devendo ser indicada
apenas a situações em que o controle é extremamente necessário, como em
crises de tosse que promovam desconforto respiratório importante, alguns
casos de pós-operatório e de hemoptise.
2. Dispneia
A dispneia tem sido conceituada de inúmeras formas, mas provavelmente a
definição mais completa é a de que “dispneia é a percepção da respiração”.
De fato, a respiração deve ser um fenômeno automático, não notado, e sua
simples percepção denota um fenômeno anormal.
Dica
Sempre se deve diferenciar dispneia subjetiva (queixa do paciente) de
dispneia objetiva (percebem-se os sinais).
A - Tipos
O tipo mais comum de dispneia é o que acompanha o esforço físico. O centro
respiratório aumenta a frequência respiratória e/ou a profundidade da
respiração (volume corrente) quando os níveis de oxigênio no sangue estão
baixos ou os níveis de dióxido de carbono estão elevados. Por outro lado, se
as funções cardíaca e pulmonar estiverem anormais, mesmo um pequeno
esforço poderá acarretar aumento acentuado da frequência respiratória e
causar a dispneia. Nas formas mais graves, pode acontecer mesmo em
repouso.
A dispneia de causa pulmonar pode ser consequência de defeitos restritivos ou
obstrutivos. Na dispneia restritiva, o trabalho respiratório aumenta em virtude
do comprometimento da expansão torácica devido à perda de distensibilidade
dos pulmões, à deformidade da parede torácica ou ao espessamento pleural. O
volume de ar que chega aos pulmões é inferior ao normal, como mostram as
provas de função pulmonar.
Os indivíduos com dispneia restritiva comumente se sentem confortáveis em
repouso, mas apresentam dificuldade respiratória quando estão em atividade
porque seus pulmões não conseguem expandir-se o suficiente para obter o
volume desejado. Na dispneia obstrutiva, o paciente não é capaz de eliminar
totalmente o ar previamente inalado, e a retenção intratorácica de ar
(hiperinsuflação pulmonar) desloca o diafragma para baixo, diminuindo sua
eficiência ventilatória, o que é interpretado como dispneia (por exemplo, na
DPOC).
Algumas características da falta de ar referida pelo paciente podem ser úteis
na determinação da etiologia, conforme sumariza a Tabela 7.
B - Abordagem diagnóstica
Diagnóstico
Os testes de função pulmonar (espirometria, pletismografia, capacidade
difusiva do monóxido de carbono) e tomografia de tórax são os principais
exames utilizados na avaliação de causa de dispneia por doença pulmonar.
Ecocardiograma, eletrocardiograma e dosagem de BNP podem ser úteis na
diferenciação de dispneia de etiologia cardíaca.
3. Dor torácica
A dor torácica habitualmente é um tópico mais importante de discussão na
área de Cardiologia. Isto se deve ao fato de que, apesar de não ser a etiologia
mais frequente de dor torácica, as síndromes coronarianas agudas ainda
representam uma das principais causas de morbimortalidade no Brasil e no
mundo.
Cabe aqui ressaltar especificamente a caracterização do paciente com suspeita
de doenças pleuropulmonares associadas à dor torácica (Tabela 9), dentre as
quais se destacam as síndromes pleurais, o tromboembolismo pulmonar e as
neoplasias pulmonares. A caracterização da dor pleurítica é a principal pista
para a correta avaliação do caso; trata-se de dor habitualmente posterolateral,
que piora à movimentação do tórax ou decúbito, mas sobretudo relacionada à
inspiração mais profunda do tórax. Uma vez identificada, os exames de
imagem (radiografia de tórax, tomografia de tórax ou angiotomografia de
artérias pulmonares) são os principais exames para condução clínica.
Dica
Todo paciente com dor torácica deve ser avaliado, e o diagnóstico de
síndrome coronariana aguda deve ser descartado; no entanto, quando
identificamos dor de característica pleurítica, as doenças pleuropulmonares
devem ser investigadas adequadamente.
4. Sibilos
Sibilos são sons agudos, semelhantes a assobios, produzidos durante a
respiração, cujos mecanismos ainda são muito discutidos. O mais aceito é que
ocorrem por vibração das paredes de pequenas vias aéreas, principalmente
aquelas com alguma redução do fluxo de ar. Podem ser causados por
estreitamento geral das vias respiratórias (como acontece na asma ou na
DPOC), por estreitamento localizado (como o produzido por tumor) ou por
partícula estranha que se aloje nas vias aéreas.
Importante
Na presença de tosse acompanhada de sibilos e dispneia, sempre se deve
pensar em asma, sugerida por tosse após início de tratamento com
betabloqueador.
Dica
Sibilos traduzem obstruções de vias de pequeno calibre, presentes em
ambas as fases da respiração; roncos traduzem obstruções de vias de
grande calibre, também em ambas as fases, sendo alterados com a tosse.
5. Estridor
O estridor é um sintoma e sinal (pode ser relatado pelo paciente e facilmente
identificado ao exame físico) que, de modo geral, se correlaciona com
obstrução ao fluxo aéreo em vias respiratórias de grande calibre,
frequentemente, laringe, traqueia e brônquios principais. É um ruído
adventício mais facilmente detectado na inspiração. Pode ocorrer nas
síndromes infecciosas agudas, sobretudo em crianças (laringite aguda, crupe),
porém, como sintoma isolado, com frequência, está relacionado a um dos
seguintes diagnósticos: discinesia de pregas vocais (muitas vezes, de difícil
diferenciação com crises de asma pela sua característica intermitente e
súbita), estenose de traqueia (causa mais comum e pós-trauma de intubação
prolongada), tumores endobrônquicos e obstrução por corpo estranho. O
principal cuidado que se deve ter é com a sua evolução rápida para
insuficiência respiratória aguda e necessidade de intubação orotraqueal na
unidade de emergência.
6. Hemoptise
A - Principais causas
B - Diagnóstico
Diagnóstico
O diagnóstico geralmente é realizado com a história clínica, porém a
radiografia e a tomografia de tórax apresentam papel importante. A
broncoscopia deve ser priorizada em casos em que há repercussão
hemodinâmica do paciente.
C - Tratamento
7. Cianose
A cianose corresponde a uma coloração azulada da pele e decorre da
concentração elevada de hemoglobina reduzida – não ligada a oxigênio – no
sangue periférico. Concentrações >5g/dL de hemoglobina reduzida são
capazes de gerar cianose. Esse detalhe é interessante e tem implicação clínica:
para um mesmo grau da doença, é mais provável que um indivíduo com
poliglobulia fique cianótico do que um paciente com anemia. Como denota
uma coloração anormal do sangue, geralmente é mais bem avaliada nos
segmentos periféricos e em mucosas.
Dois fatores concorrem para o surgimento de cianose: deficiência em
oxigenar o sangue no território capilar pulmonar, padrão conhecido como
cianose central, e extração periférica excessiva de oxigênio, denominada
cianose periférica.
A cianose central pode ser consequência de vários tipos de doenças
pulmonares graves e de determinadas malformações vasculares e cardíacas
que desviam o sangue da direita para a esquerda, o que é denominado shunt
direito-esquerdo. A cianose periférica pode decorrer de redução da velocidade
do fluxo sanguíneo na periferia, com aumento da extração de oxigênio pelos
tecidos, como visto nas tromboses arteriais ou venosas e nos estados de
choque.
Uma forma de diferenciar os 2 tipos é a extensão da cianose: enquanto a
central costuma ser identificada tanto na pele quanto nas mucosas, a periférica
geralmente poupa as mucosas oral e labial. A cianose central habitualmente
melhora com a administração de oxigênio, ao contrário da periférica.
Outra forma de classificar a cianose é o local de manifestação. Assim,
podemos encontrar 2 padrões: cianose localizada (restrita a um segmento
corpóreo) e cianose generalizada (acometimento difuso). É necessário
cuidado para não confundir a classificação fisiopatológica com a distribuição
da cianose: toda cianose central é generalizada, no entanto nem toda cianose
generalizada é central, pois pode ser vista também na periférica.
Resumo
A tosse é um dos sintomas respiratórios mais comuns. O tempo de
duração auxilia na definição da etiologia: aguda, com menos de 3
semanas, geralmente se deve a infecções de vias aéreas; subaguda, entre
3 e 8 semanas, associa-se ao estado pós-infeccioso; crônica, com mais de
8 semanas, tendo como causas mais prováveis rinossinusite, hiper-
reatividade brônquica e refluxo gastroesofágico;
A dispneia, outro sintoma comum, pode associar-se a diferentes
etiologias conforme sua apresentação: aguda, na embolia pulmonar;
episódica, na asma; crônica, na DPOC e doenças fibrosantes. A ortopneia
e a dispneia paroxística noturna são vistas na insuficiência cardíaca, esta
última bastante específica. A trepopneia ocorre em derrames pleurais
volumosos, e a platipneia associa-se à síndrome hepatopulmonar;
A sibilância tem como diagnóstico mais comum a asma, mas outras
causas, como obstrução mecânica das vias aéreas e insuficiência
cardíaca, devem fazer parte do diagnóstico diferencial;
As principais causas da hemoptise são as doenças de vias aéreas; pode
ser de pequeno volume (<100mL) ou maciça e ameaçadora à vida.
Pacientes jovens, com hemoptise discreta e radiografia normal, podem
receber antimicrobianos empiricamente; outros pacientes podem ter
evolução mais grave, necessitando de intubação e procedimento
cirúrgico emergencial. A broncoscopia deve ser priorizada em casos em
que há repercussão hemodinâmica do paciente.
A cianose denota aumento da concentração de hemoglobina reduzida no
sangue periférico. Pode ser central ou periférica, conforme a
fisiopatologia, e apresentar distribuição localizada ou generalizada.
Outra forma de classificar a cianose é o local de manifestação. Assim,
podemos encontrar 2 padrões: cianose localizada (restrita a um segmento
corpóreo) e cianose generalizada (acometimento difuso).
Fisiologia respiratória e provas
de função pulmonar
Rodrigo Antônio Brandão Neto
José Alberto Neder
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro.
1. Introdução
A - Definições
Dica
A espirometria não avalia o VR e a CPT, observados apenas na
pletismografia.
B - Princípios fisiológicos
Figura 2 - No final da inspiração (A), a Pressão Alveolar (PA) está em equilíbrio com a pressão de
abertura das vias aéreas (boca), portanto não há fluxo de ar. Em uma expiração tranquila (B), a
Pressão dentro das Vias Aéreas (PVA) é sempre maior do que a pressão circunjacente (pressão
pleural ou Ppl), e o fluxo de ar é contínuo. Na expiração forçada (Ppl elevada), como a realizada na
espirometria, a pressão de expulsão do ar (PA) está aumentada, mas, em algum ponto das vias aéreas
(Ponto de Igual Pressão, ou PIP), a pressão circunjacente (Ppl) será igual ou mesmo superior à PVA
(PIP), limitando, assim, o fluxo para aquele volume pulmonar. Assim, a expiração forçada (C)
permite a obtenção de valores reprodutíveis e confiáveis dos fluxos e volumes pulmonares
C - Siglas e definições
D - Dados
Dica
A CVF sempre estará alterada em doenças restritivas.
O ideal é que pacientes com VEF1 e VEF1/CVF baixos, mas também com
CVF reduzida após o broncodilatador, sejam submetidos à medida direta da
CPT. Diante de distúrbio obstrutivo com redução de CVF, na impossibilidade
de realizar a medida da CPT, recomenda-se a seguinte medida:
F - Resposta a broncodilatadores
Importante
Convém lembrar que a resposta é considerada positiva ao broncodilatador
quando há aumento de 200mL no VEF1 pós-broncodilatador, em relação
ao pré-broncodilatador, e aumento de 7% em relação ao valor previsto.
Vale lembrar que assim como a espirometria não é o melhor exame para
diagnosticar distúrbios restritivos, as mesmas diretrizes internacionais da ATS
e ERS recomendam o uso somente da CPT pela pletismografia com
parâmetro de avaliação de gravidade; a espirometria deverá sempre vir
laudada como sugestiva de distúrbio restritivo e sem graduação de gravidade
somente pelo valor percentual do predito da CVF. Além disso, deve-se ter
muito cuidado com a interpretação da estimativa de gravidade pelo exame;
não pode ser confundida a avaliação de gravidade das doenças específicas.
Por exemplo, em um indivíduo com DPOC, a avaliação de gravidade da
doença é feita com níveis diferentes de VEF1 daqueles usados para
caracterizar a gravidade do distúrbio obstrutivo.
H - Interpretação
I - Teste de broncoprovocação
3. Gasometria arterial
A gasometria arterial é o principal teste utilizado na prática diária com o
objetivo de avaliar as trocas gasosas. A rigor, estará indicado sempre que
houver indícios de anormalidade expressiva nessa função pulmonar, como nos
casos de insuficiência respiratória, cianose e anormalidade na oximetria de
pulso.
a) paO2
b) paCO2
c) pH
d) SatO2
a) paO2 e D(Aa)O2
A redução da paO2 pode ocorrer por uma baixa FiO2 (respiração hipóxica) ou
uma baixa pressão atmosférica e, consequentemente, PIO2 reduzida (altitude),
hipoventilação, desequilíbrio difusivo, distúrbios V/Q e shunt. A exclusão de
hipoventilação como causa de hipoxemia pode ser feita pelo cálculo da
D(Aa)O2, e a respiração de O2 a 100% ajuda na identificação de shunt,
contudo a separação entre fatores difusivos e distributivos V/Q requer testes
mais complexos.
b) D(Aa)O2
c) paCO2
O CO2 tem difusibilidade melhor do que o oxigênio. Disso resulta que sua
eliminação é menos afetada nos distúrbios de unidade alveolocapilar. De fato,
os níveis de CO2 dependem, fundamentalmente, da ventilação alveolar, de
forma que quanto maior a ventilação, menores os níveis de CO2; caso
contrário, se houver hipoventilação, os níveis de CO2 ficarão elevados. As
anormalidades da unidade alveolocapilar só promovem elevação de pCO2 em
fases avançadas da lesão.
d) pH
C - Testes relacionados
A oximetria de pulso separa a oxi-hemoglobina da hemoglobina reduzida
pelas suas diferenças de absorção dos raios vermelho e quase-infravermelho.
Valores elevados de carboxi-hemoglobina (HbCO >3%) e meta-hemoglobina
(HbMet >5%) podem invalidar as medidas de saturação pela oximetria
(SpO2). A SatO2 na gasometria arterial é estimada a partir da paO2 e do pH,
assumindo uma reação normal entre O2 e hemoglobina. Entretanto, se esta
está ocupada pelo monóxido de carbono, por exemplo, a paO2 está pouco
alterada e a SatO2 é grosseiramente superestimada pela gasometria
convencional. Nesse caso, somente a medida direta da SatO2 por
espectrofotometria (co-oxímetro) revelará o distúrbio, já que a oximetria de
pulso não difere HbO2 de HbCO. Uma situação semelhante acontece na
HbMet, em que o oxímetro tende a ler valores fixos de SpO2 de,
aproximadamente, 85%.
A estimativa do shunt pode ser realizada pela respiração de O2 a 100% por 10
a 15 minutos. Esse procedimento elimina todo o N2 alveolar, tornando sabida
a pressão alveolar de O2:
a) Indicações
b) Interpretação
a) Indicações
b) Interpretação
a) Indicações
b) Interpretação
- Indicações
Resumo
s testes de função pulmonar são úteis para o diagnóstico, a avaliação de
gravidade e o seguimento terapêutico;
A espirometria mede volumes e capacidades pulmonares, exceção feita
ao VR e à CPT. Pode identificar os seguintes distúrbios ventilatórios
Obstrutivo: caracterizado por VEF1/CVF reduzida, com graus
variados de redução do VEF1 e da CVF;
Restritivo: pela espirometria, o diagnóstico será presuntivo se
houver redução da CVF (principalmente, se inferior a 50%), com
VEF1/CVF normal, associado ao quadro clínico sugestivo, uma vez
que a espirometria não mede a CPT;
Misto ou combinado: ocorre com VEF1/CVF reduzida e redução
proporcional do VEF1 com a CVF, verificando-se diferença dos
valores preditos entre estes inferiores a 12%;
Inespecífico: quando a espirometria não é capaz de determinar a
presença dos outros distúrbios. Ocorre com CVF reduzida (mas
>50%), com VEF1/CVF normal ou elevada, sem estigmas clínicos
de doença restritiva;
A principal manobra espirométrica é a expiração forçada, que
desencadeia aumento pronunciado das pressões alveolares e da
pressão pleural, que, envolvendo as vias aéreas, tende a fechá-las.
A espirometria avalia resposta a BDs. A resposta será dita significativa
se houver:
Variação do VEF1 >200mL e 7% em relação ao previsto;
Variação da CVF >350mL.
Os métodos capazes de medir VR e CPT são pletismografia (mais
acurado), lavagem de nitrogênio e diluição de hélio;
A gasometria arterial, nas doenças respiratórias, é um parâmetro
fundamental para a avaliação das trocas gasosas. Hipoxemia é definida
como pO2 <60mmHg, já que, abaixo desse valor, o decréscimo na SatO2
é relevante;
Mais de 98,5% do O2 são carreados pela hemoglobina, logo a SatO2 é
extremamente importante para a oferta periférica de O2. O aspecto
sigmoide da curva de dissociação da oxi-hemoglobina determina que
variações de paO2 >60mmHg levam a mudanças apenas discretas na
SatO2 (SatO2 = 90%); em contrapartida, pequenas mudanças da paO2
<60mmHg determinam grandes variações na SatO2;
Alguns fatores podem deslocar a curva de dissociação da hemoglobina:
para a direita (hipertermia, hipercapnia, acidose, aumento de 2,3-
difosfoglicerato, policitemia) e para a esquerda (hipotermia, hipocapnia,
alcalose, redução de 2,3-difosfoglicerato, anemia);
É importante mensurar a diferença alveoloarterial de oxigênio, que pode
alterar-se antes da presença de hipoxemia propriamente dita, e para
avaliar a eventual presença de hipoventilação – hipoxemia, com
hipercapnia e D(Aa)O2 normal. A fórmula simplificada é: D(Aa)O2 =
135 - (paO2 + pCO2); considera-se normal até 15mmHg;
A capacidade de difusão de CO avalia a integridade da membrana
alveolocapilar, constituindo um método de excelência na avaliação de
trocas gasosas. Paradoxalmente, pode estar aumentada em algumas
situações: hemorragia alveolar (o CO é captado pelo sangue dentro do
alvéolo) e asma (a inflamação aumenta o fluxo sanguíneo local).
Radiografia de tórax
Fabrício Martins Valois
1. Introdução
A radiografia de tórax é, ainda hoje, o principal método de imagem utilizado
na Pneumologia, pelo baixo custo e pela grande disponibilidade. Tem
limitações quando comparada a métodos como a tomografia
computadorizada, mas, em número considerável de casos, pode-se prescindir
de exames mais sofisticados com a interpretação adequada desse exame.
Como um método simples e bastante disponível, por vezes é utilizado de
forma inadequada. O American College of Radiology enumera indicações e
situações em que a radiografia de tórax é desnecessária, listadas nas Tabelas 1
e 2.
2. Incidências radiográficas
As incidências radiográficas referem-se à postura do paciente com relação à
ampola de raios X: na anteroposterior (AP), fica de frente para ela, com o
dorso voltado ao filme; no perfil, um dos hemitórax (habitualmente o
esquerdo) é voltado à fonte de raios X, e o lado oposto direcionado ao filme
(Figura 1).
As incidências radiográficas mais utilizadas no estudo das doenças torácicas
são posteroanterior (PA) e perfil (Figuras 1, 2 e 3). A análise das 2 incidências
em conjunto permite a visualização completa de todos os segmentos
pulmonares, permitindo uma avaliação tridimensional. A incidência PA tem
preferência em relação à AP, pelo fato de o coração e os vasos da base terem
posição mais anterior: quanto mais próximos da fonte de raios X (como na
projeção AP), maior a sua sombra no filme, bem como a sua deformação,
ocultando parte do parênquima pulmonar e gerando a falsa impressão de
aumento do índice cardiotorácico, limitando a análise.
Figura 1 - Incidências radiográficas: (A) posteroanterior; (B) perfil; (C) apicolordótica; (D)
anteroposterior; (E) decúbito lateral com raios horizontais – Laurell
Dica
Convém lembrar que a incidência anteroposterior é aquela em que há
maior magnificação da área cardíaca, pela incidência direta dos raios.
Figura 2 - Radiografia em posteroanterior: (T) Traqueia; (C) Clavícula; (E) Escápula; (Diaf)
Diafragma; (Est) Estômago – bolha gástrica; (AD) Átrio Direito; (AE) Átrio Esquerdo; (VE)
Ventrículo Esquerdo; (Hd) Hilo direito; (He) Hilo esquerdo; (Ao) Aorta; (APu) Artéria Pulmonar;
(Pf) Pequena fissura
Figura 3 - Radiografia em perfil normal: (Ao) Aorta; (Pf) Pequena fissura; (Cor) Coração; (Gf)
Grande fissura; (Dd) Diafragma direito; (De) Diafragma esquerdo – observar o sinal “do dégradé”
da coluna torácica, opaca superiormente e transparente inferiormente
Figura 4 - Radiografia de tórax em anteroposterior de paciente em UTI: (T) Tubo orotraqueal; (S)
Sonda enteral; (E) Eletrodo de monitorização
Outras incidências não raramente utilizadas são decúbito lateral com raios
horizontais (Laurell), quando o paciente se deita sobre o hemitórax que se
deseja estudar, adotando posição paralela ao filme (Figura 5), e
apicolordótica, quando a ampola de raios X é inclinada 15° em direção à
cabeça do paciente, na intenção de retirar a clavícula do campo torácico,
facilitando a visualização dos segmentos superiores dos lobos superiores.
Existem outras incidências, como as oblíquas e a penetrada do mediastino,
com utilização bem restrita na prática.
Figura 5 - Radiografia em decúbito lateral esquerdo com raios horizontais evidenciando pequeno
derrame pleural à esquerda
3. Interpretação
A interpretação adequada da radiografia de tórax requer o conhecimento de
um exame normal. Antes de qualquer análise detalhada, é fundamental avaliar
a qualidade da imagem realizada.
Não há regra na interpretação da radiografia de tórax. O ideal é que cada
médico adote a própria rotina de visualização, avaliando todas as estruturas
torácicas, incluindo o parênquima pulmonar, o mediastino, as partes moles
torácicas e extratorácicas e o arcabouço ósseo.
4. Sinais radiográficos
A - Hiperinsuflação
C - Broncograma aéreo
E - Sinal de Hampton
Dica
A corcova de Hampton e o sinal de Westermark são achados clássicos da
embolia pulmonar.
Também conhecido como corcova de Hampton, o sinal de Hampton
compreende uma imagem triangular periférica, com a base voltada para as
costelas e o ápice para o hilo. É um achado clássico da embolia pulmonar,
mas visto em menos de 15% dos casos: representa infarto pulmonar ou
pequena área de hemorragia (Figura 10).
F - Sinal de Westermark
G - Centro da lesão
5. Padrões de imagem
A - Hipertransparências
a) Pneumotórax
B - Hipotransparências
a) Atelectasia
b) Derrame pleural
Figura 18 - Opacidade homogênea periférica, com ângulo obtuso com caixa torácica, configurando
imagem pleural; a ultrassonografia confirma a presença de derrame pleural loculado
Pela radiografia em PA, podem-se classificar os derrames como pequeno
(obliteração de seio costofrênico), moderado (além do seio costofrênico e até
o hilo), grande (além do hilo) e maciço (velamento do hemitórax – Figura 19).
Dica
A atelectasia pulmonar gera tração das estruturas em sentido ipsilateral à
lesão, enquanto o derrame pleural “empurra” as estruturas, no sentido
contralateral à lesão.
c) Infiltrados
d) Massas e nódulos
Dica
O nódulo pulmonar solitário apresenta lesão <3cm, totalmente circundada
por parênquima pulmonar.
Importante
Deve-se pensar em etiologia maligna quando o nódulo tem bordas
espiculadas, tamanho >2cm, presença de 2 ou mais nódulos e padrão de
calcificação (excêntricas, reticulares ou puntiformes). Toda massa
pulmonar (lesão >3cm) é altamente suspeita para etiologia neoplásica
maligna.
C - Hilos pulmonares
São estruturas opacas formadas por vasos sanguíneos, linfáticos, linfonodos e
brônquios segmentares. A maior parte da imagem projetada pelos hilos deve-
se às artérias pulmonares, assim hilos exuberantes representam congestão
vascular ou hipertensão pulmonar em boa parte dos casos. Os diagnósticos
diferenciais principais são adenomegalia hilar (Figura 27) e massa tumoral.
Figura 27 - Proeminência de hilos por adenomegalia em paciente com diagnóstico de sarcoidose
D - Mediastino
Resumo
Asma
Rodrigo Antônio Brandão Neto
José Alberto Neder
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
1. Introdução e definições
Dica
Atualmente, o tratamento de manutenção da asma é quase sinônimo de
corticoide inalatório, diferentemente do tratamento das crises nas quais não
exerce o papel principal.
A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas com componentes
genético e ambiental em sua patogênese. Existem alguns genes que
predispõem à hiper-responsividade das vias aéreas, e outros que predispõem à
atopia. Dentre os fatores ambientais, estão alérgenos, infecções, exposição
ocupacional, tabagismo, poluição e dieta. Sua principal característica
fisiológica baseia-se na demonstração de limitação variável ao fluxo de ar nos
exames de função pulmonar, manifestando-se clinicamente por sintomas
como dispneia, tosse, sibilância e opressão torácica, que podem ser
reversíveis espontaneamente ou com o uso de medicamentos.
Estima-se que cerca de 300 milhões de indivíduos sejam acometidos por asma
em todo o mundo. No Brasil, esse número deve situar-se em torno de 20
milhões, o que torna a doença uma das principais causas de morbidade
crônica e mortalidade. A doença, apesar de muito prevalente, tem sofrido
decréscimo nos últimos anos. Segundo dados do DATASUS, em 2017, foram
cerca de 90.000 internações por asma, sendo observada uma taxa de
mortalidade de, aproximadamente, 0,52/100.000 habitantes no mesmo ano. A
doença afeta pessoas de todas as raças e idades, com maior prevalência no
sexo masculino antes da puberdade e no sexo feminino na idade adulta.
Os corticoides inalatórios foram os responsáveis por inúmeros avanços no
controle da asma. No entanto, observamos claramente que o impacto
epidemiológico foi tardio: os corticoides já têm sido indicados há mais de 30
anos, contudo o custo elevado e a necessidade de uso prolongado impediam o
controle adequado da doença. De fato, somente nos últimos anos uma série de
medidas facilitou o acesso a esses fármacos, resultando em melhora dos
indicadores de saúde.
Importante
Convém lembrar que a asma deve apresentar hiper-reatividade das vias
aéreas e limitação variável ao fluxo de ar.
2. Mecanismos de doença
A - Fisiopatogenia
O desenvolvimento da asma é complexo e relaciona diversos mecanismos.
Dentre estes, provavelmente o mais importante é o relacionado à inflamação
crônica das vias aéreas, com espessamento da mucosa, hipersecreção de muco
e exposição de terminações nervosas, o que promove sensibilidade anormal a
diversos estímulos (hiper-responsividade brônquica).
Diversas células são envolvidas, incluindo eosinófilos, monócitos e linfócitos,
encontrados em biópsias brônquicas de pacientes com asma. Os níveis séricos
de IgE desses pacientes estão frequentemente aumentados, o que sugere
ativação crônica da imunidade humoral. Da mesma forma, durante
exacerbações agudas da asma, encontram-se níveis elevados de leucotrienos e
seus metabólitos na urina, no plasma e no lavado broncoalveolar.
A resposta imune associada à asma é provavelmente responsável por seu
quadro clínico. Assim, aeroalérgenos são processados nas vias aéreas por
células apresentadoras de antígenos, como as células dendríticas e os
macrófagos. A forma como esses aeroalérgenos são apresentados à célula T
influencia o tipo de inflamação do paciente. Existem 2 padrões de resposta
imune associada aos linfócitos T: o Th1 e o Th2, este último associado à
asma.
A teoria da “hipótese da higiene” tentou estabelecer um paralelo entre
doenças atópicas, como asma, e os linfócitos Th2. De acordo com a hipótese,
o risco de doenças alérgicas diminuiria pelas infecções precoces na infância
transmitidas por contato não higiênico com irmãos mais velhos ou adquiridas
no período pré-natal, o que direcionaria o padrão de respostas futuras do
organismo para o padrão Th1, afastando-o do perfil Th2. Ainda que lógica,
essa hipótese não foi confirmada, talvez pela interferência de outros fatores,
como os genéticos.
A presença de células Th2 na mucosa das vias aéreas implica produção de
citocinas como IL-4 e IL-5, que, potencialmente, agem de maneira indireta
em células efetoras como células B, mastócitos e eosinófilos, e contribuem
para o quadro clínico do paciente com asma. A IL-4, por exemplo, tem papel
importante no aumento da produção de anticorpos IgE específicos ao
alérgeno. A IgE sintetizada pelas células B penetra na circulação e infiltra os
tecidos das vias aéreas, sensibilizando os mastócitos. Estes, previamente
sensibilizados pela IgE, em contato com um antígeno específico, liberam uma
série de mediadores.
O padrão de resposta dos asmáticos aos aeroalérgenos caracteriza-se por uma
resposta precoce e outra tardia:
B - Fatores desencadeadores
3. Diagnóstico
O diagnóstico de asma pode ser simples, com sinais clínicos sugestivos, como
dispneia e sibilância, em um paciente atópico e com alívio espontaneamente
ou após o uso de broncodilatadores; ou mais difícil, como em pacientes com
tosse crônica isolada. Ademais, a lista de diagnósticos diferenciais é extensa
(Tabela 2), com o diagnóstico definitivo com base em aspectos clínicos,
funcionais e presença de alergia.
A - Diagnóstico clínico
B - Diagnóstico funcional
a) Espirometria
b) Hiper-responsividade brônquica
C - Diagnóstico de alergia
A identificação da exposição a alérgenos relacionados com a asma é um dado
importante da história. A sensibilização alérgica pode ser confirmada por
meio de provas in vivo (testes cutâneos) ou in vitro (determinação de
concentração sanguínea de IgE específica). As primeiras devem ser realizadas
com o uso de extratos biologicamente padronizados (a técnica mais utilizada é
a puntura). Em nosso meio, predomina a sensibilização a antígenos inaláveis,
entre os mais frequentes, os ácaros (Dermatophagoides pteronyssinus,
Dermatophagoides farinae e Blomia tropicalis).
Outros alérgenos inaláveis, como pólen, baratas, epitélio de gatos e cães,
também são importantes, mas sensibilizam um número menor de pessoas, ao
passo que os alimentos raramente são associados. Poluentes ambientais ou
ocupacionais podem estar associados à piora do controle da doença, e a IgE
sérica específica confirma e complementa os resultados dos testes cutâneos.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito com base na história clínica sugestiva (sintomas
episódicos, melhora espontânea ou com medicações específicas, 3 ou mais
episódios de sibilância no último ano, história familiar positiva para asma
ou atopia) somada, em geral, à espirometria (aumento do VEF1 em 7% em
relação ao valor previsto e 200mL em absoluto, após a inalação de beta-2-
agonista de curta duração).
a) Beta-2-adrenérgicos
b) Corticoides inalatórios
d) Metilxantinas
e) Medicações associadas
E - Outras medicações
a) Bambuterol (beta-agonista de ação prolongada por via
oral)
b) Agentes biológicos
d) Antileucotrienos
F - Situações especiais
a) Asma induzida por ácido acetilsalicílico
A asma induzida por esse ácido é uma entidade que surge, em geral, entre a 3ª
e a 5ª décadas de vida, em sujeitos que não apresentavam sensibilidade a anti-
inflamatórios nem a ácido acetilsalicílico. Em geral, concomitantemente à
crise, surgem fenômenos comuns às crises anafilactoides (angioedema,
urticária, flushing facial, rinorreia, congestão ocular, sintomas
gastrintestinais). Não é incomum a associação entre intolerância a ácido
acetilsalicílico, sintomas asmatiformes e polipose rinossinusal, conhecida
como tríade de Samter.
No tratamento ambulatorial, deve-se evitar o uso desse ácido, anti-
inflamatórios não hormonais e dipirona, pela possibilidade de reação cruzada.
Devem-se usar, como analgésico, paracetamol ou, quando necessário, anti-
inflamatórios não hormonais inibidores da cicloxigenase-2. O tratamento deve
ser feito de acordo com a gravidade do caso. O uso de antileucotrienos
costuma ser benéfico.
c) Asma na gestante
d) Asma no lactente
a) Beta-2-agonistas
b) Anticolinérgicos
c) Corticosteroides
Dica
O corticoide tem pico de ação após 6 a 8 horas da administração, portanto
novas doses antes desse período não são indicadas.
Tratamento
De forma direta, na crise aguda de asma, deve-se iniciar com beta-2-
agonista em inalação sequencial (salbutamol, de 2,5 a 5mg – de 10 a 20
gotas, a cada 20 minutos, 3 inalações na 1ª hora), anticolinérgicos pela via
inalatória associada ao beta-2, como brometo de ipratrópio, 30 a 40 gotas, e
corticosteroides como hidrocortisona ou metilprednisolona ou
prednisona/prednisolona oral (conforme a disponibilidade).
d) Metilxantinas
e) Sulfato de magnésio
f) Oxigênio suplementar
Dica
Alterações do nível de consciência (agitação ou sonolência), bradipneia e
ausência de sibilos (silêncio no tórax), além de instabilidade hemodinâmica
são sinais iminentes de parada respiratória na crise asmática. Com
frequência, tais alterações chamam a atenção para a conduta de intubação
imediata em questões de prova. Uso de ventilação não invasiva, nessas
situações, não é indicado. Medicações com efeito sedativo, sobretudo
benzodiazepínicos, nunca devem ser administradass, sob risco de precipitar
parada respiratória.
h) Medidas de benefício duvidoso
- Prognóstico
Em média, de 10 a 20% dos pacientes com crise aguda de asma que procuram
o pronto-socorro necessitam de hospitalização. Destes, menos de 10%
recebem ventilação mecânica. Uma necessidade prévia de ventilação
mecânica em um asmático aumenta em 19 vezes a chance de ser necessária,
novamente, intubação orotraqueal durante uma crise aguda.
Resumo
A asma é uma doença inflamatória crônica e intermitente das vias aéreas,
caracterizada por sinais e sintomas de dispneia, tosse, sibilos, obstrução
variável e hiper-responsividade das vias aéreas, quadro reversível
espontaneamente ou com o uso de broncodilatadores;
O diagnóstico de asma baseia-se em dados clínicos (sintomas
compatíveis, história familiar e pessoal de asma na infância, resposta aos
medicamentos específicos), dados funcionais (principalmente, obstrução
com resposta ao broncodilatador) e diagnóstico de alergia;
A asma pode ser classificada como intermitente, persistente leve,
persistente moderada e persistente grave. Essa classificação é
fundamental para a escolha terapêutica inicial. Posteriormente, o
tratamento baseia-se no nível de controle da doença: controlada,
parcialmente controlada e não controlada;
Todos os asmáticos devem receber educação ambiental e orientação para
o uso de broncodilatadores de demanda em caso de sintomas. Aqueles
com doença persistente devem receber corticoides inalatórios, em doses
variáveis e associados, ou não, a outros fármacos;
O uso de corticoide sistêmico deve ser reservado a situações de
exacerbação ou doença muito grave, para evitar efeitos colaterais
indesejáveis; os paraefeitos dos medicamentos inalatórios são discretos e
geralmente bem tolerados;
O principal diagnóstico diferencial de asma é DPOC. Hoje, em algumas
situações, tem sido aceito o diagnóstico das 2 condições associadas;
A pacientes com tríade de Samter – sintomas asmatiformes, polipose
nasal e intolerância a ácido acetilsalicílico –, os antileucotrienos são os
fármacos com melhor resposta terapêutica;
As xantinas têm sido recomendadas como terapêutica de exceção;
quando usá-las, deve-se ter muito cuidado com os efeitos colaterais,
sobretudo com arritmias e convulsões, e devem-se monitorizar os níveis
séricos.
No idoso, deve-se ter especial atenção ao diagnóstico diferencial; na
gestante, a asma pode piorar (33%), permanecer estável (33%) ou
melhorar (33%) – os fármacos habitualmente utilizados no tratamento da
asma são seguros na gestação;
A etiologia mais comum das exacerbações de asma é infecção
respiratória viral;
Uma regra geral no atendimento de paciente asmático na sala de
emergência é sempre ofertar broncodilatadores inalados como
terapêutica imediata, exceto em caso de sinais de parada cardíaca
iminente, quando a intubação deve ser precoce.
Doença pulmonar obstrutiva
crônica
Rodrigo Antônio Brandão Neto
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
1. Introdução
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma condição clínica
comum, prevenível e tratável, que se caracteriza, basicamente, pelo
desenvolvimento progressivo de limitação ao fluxo aéreo, que não é
totalmente reversível, associado à inflamação crônica das vias aéreas por
inalação de partículas e gases nocivos. A síndrome classicamente é descrita
como representada por 2 polos, detalhados na Tabela 1.
2. Prevalência e fisiopatologia
A DPOC acomete mais de 50 milhões de pessoas no mundo, e, no Brasil,
estimam-se mais de 7 milhões de acometidos, com cerca de 275.000
internações ao ano. Segundo projeções da Organização Mundial da Saúde
para 2020, a DPOC será, globalmente, a 5ª causa de morte. Outras projeções
acreditam que a doença, na verdade, será a 4ª maior causa de mortalidade
mundial.
A perda de Volume Expiratório Forçado no 1º segundo (VEF1) é de 15 a
30mL/ano em pessoas normais. No paciente com DPOC, essa perda anual é
aumentada em 2 a 5 vezes. Curiosamente, tal perda excessiva de VEF1 só
acontece em torno de 15% dos indivíduos que fumam, indicando
componentes genéticos envolvidos (Figura 2). De outra forma, um
componente genético parece também estar envolvido devido a casos
aglomerados em famílias com DPOC, inclusive em indivíduos com menos
idade e diferenças em prevalência de acordo com etnias. Outra evidência vem
da deficiência de alfa-1-antitripsina (alfa-1-AT), com enfisema grave entre
pacientes mais jovens.
Dica
A mensuração da carga tabágica é simples. Utilizando a variável
anos/maço, deve-se multiplicar o número de anos de tabagismo pela média
de maços fumados ao dia (um maço tem 20 cigarros). Considera-se carga
significativa quando superior a 10 anos/maço.
Dica
Apesar de o tabagismo ser o principal fator envolvido na DPOC, deve-se
atentar-se para os fatores ambientais (inalação de partículas de enxofre,
cádmio) e para doenças genéticas (deficiência de alfa-1-antitripsina).
Quadro clínico
Tosse crônica intermitente, expectoração crônica, dispneia progressiva ou
persistente e história positiva para fatores de risco (tabagismo, poeiras e
químicos) são dados clínicos comuns aos pacientes com DPOC.
A - Espirometria
A espirometria tem papel diagnóstico central na DPOC. É por meio dela que o
componente obstrutivo da doença pode ser caracterizado. De fato, a presença
de relação VEF1/CVF <0,7, associada aos dados clínicos e epidemiológicos,
praticamente define o diagnóstico. Em fases precoces da doença, o VEF1
pode ser preservado, com seu valor reduzindo conforme a progressão clínica.
Como, por definição, a limitação ao fluxo de ar na DPOC tende a ser
progressiva e irreversível, na maioria das vezes, não é observada resposta
broncodilatadora na espirometria. No entanto, em até 30% dos casos ela pode
estar presente, não afastando o diagnóstico. Por sinal, recentemente se passou
a denominar pacientes que apresentem, simultaneamente, características de
DPOC e asma como portadores da síndrome ACOS (Asthma-COPD Overlap
Syndrome).
B - Radiografia de tórax
Pode ser normal em formas leves de DPOC, de maneira que não é útil para
definir ou afastar o diagnóstico da doença, mas pode revelar diagnósticos
associados ou diferenciais (neoplasia, pneumonia, doenças fibrosantes etc.). A
radiografia de tórax é importante a pacientes com exacerbação, pois modifica
a conduta em pouco mais de 20% dos casos, sendo, portanto, obrigatória
nessa situação. Na deficiência de alfa-1-AT, essas zonas de enfisema
predominam nos lobos inferiores. Retificação do diafragma, aumento do
espaço retroesternal e retrocardíaco, aumento de espaço entre as costelas e
sinais de hipertensão pulmonar também podem estabelecer o diagnóstico de
DPOC.
Figura 3 - Radiografia de tórax de enfisema de predomínio nos lobos inferiores
Figura 4 - Radiografias posteroanterior e em perfil de doença pulmonar obstrutiva crônica
evidenciando sinais de hiperinsuflação
C - Eletrocardiograma
Dica
A taquicardia atrial multifocal é muito encontrada em pacientes com
DPOC.
E - Gasometria arterial
Importante
Pacientes enfisematosos têm centro respiratório mais sensível ao CO2 e
não permitem o aparecimento de hipoventilação com hipoxemia e retenção
de CO2 mesmo com dispneia. Os bronquíticos têm centro respiratório
pouco sensível ao CO2, permitindo hipoventilação, retenção de CO2,
hipoxemia e elevação da pressão arterial pulmonar (cor pulmonale).
5. Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial é amplo e pode incluir pneumonia, insuficiência
cardíaca, arritmias, pneumotórax, derrame pleural, embolia pulmonar, câncer
de pulmão, tuberculose, bronquiectasias, bronquiolite obliterante e
panbronquiolite difusa. O diagnóstico diferencial com asma é o que gera mais
dificuldade, tanto que hoje em dia se tem aceitado o diagnóstico de associação
de DPOC e asma em alguns casos, principalmente naqueles que mesclam
características relevantes das 2 doenças (corresponde a menos de 10% dos
casos).
Diagnóstico diferencial
Os diagnósticos diferenciais principais são asma (limitação de fluxo
reversível), insuficiência cardíaca congestiva (restrição e não limitação de
fluxo), tuberculose (há confirmação microbiológica), bronquiolite
obliterante (indivíduos jovens, não fumantes) e bronquiectasias (supuração
crônica mais marcante).
6. Particularidades no manejo ambulatorial
A - Classificação de risco
C - Tratamento farmacológico
Anticolinérgico:
c) Corticoides inalatórios
d) Metilxantinas
f) Mucolíticos
Dica
A oxigenoterapia é uma medida que melhora a sobrevida do paciente e
deve ser sempre indicada, quando necessária.
F - Tratamento cirúrgico
G - Prognóstico
7. Exacerbação
A exacerbação é definida como aumento nos sintomas e piora da função
pulmonar e caracteriza-se por piora da dispneia com aumento da produção
e/ou mudança na característica do escarro (torna-se purulento). É uma causa
comum de internação, e, aparentemente, as infecções têm papel central. Uma
diferença importante durante a exacerbação é que aumentam os eosinófilos
nas vias aéreas, o que talvez explique a melhora com corticoide nessa
agudização. A GOLD utiliza 3 critérios cardinais para classificar a
exacerbação de DPOC.
Dica
É essencial o reconhecimento das exacerbações, caracterizadas como piora
da dispneia, aumento da produção ou alteração da característica do escarro.
A avaliação da gravidade deve ser feita por meio dos sintomas e da avaliação
dos gases arteriais. A espirometria não parece adequada para a avaliação da
gravidade da crise. A gasometria apresenta uma nuance importante: a
presença de hipercapnia não necessariamente indica gravidade maior. A razão
é que alguns pacientes, no dia a dia, já apresentam pCO2 elevada pelo
estadiamento avançado da doença – nesses casos, o bicarbonato é
cronicamente elevado, para manter o pH em níveis normais. Na hipercapnia
aguda, esse mecanismo de compensação inexiste, e o pH cai, traduzindo
acidemia; assim, em pacientes na sala de emergência que tenham pCO2
elevada e pH normal, a gasometria não acresce gravidade; entretanto,
naqueles com pCO2 elevada e pH baixo, a exacerbação reveste-se de
gravidade extrema, e medidas devem ser adotadas para a correção da pCO2,
como a ventilação não invasiva.
O papel das infecções bacterianas como o principal fator etiológico das
exacerbações da DPOC ainda é controverso. Um estudo recente procurou
avaliar se, antes da exacerbação, poderia haver uma mudança nas cepas
bacterianas. Os autores estudaram, prospectivamente, 81 pacientes com
DPOC, com coleta de escarro mensalmente e nova coleta durante uma
exacerbação. Em todas as amostras, foi realizada tipagem molecular para
vários germes. Os principais resultados foram 374 episódios de exacerbação:
em 33% das exacerbações, houve mudança na cepa bacteriana. Dos
indivíduos que não tiveram nenhuma exacerbação, apenas 15,4% tiveram
mudança na cepa, o que leva a um risco relativo = 2,15 (IC95%: 1,83 a 2,53).
Nesse estudo, concluiu-se que a aquisição de novas cepas de pneumococo,
Haemophilus ou Moraxella pode estar associada a maior chance de
exacerbação da DPOC. Entretanto, em grande parte, não foi encontrada uma
mudança nas cepas, o que implica a existência de outros fatores envolvidos.
Acredita-se que parte das exacerbações se deva a infecções virais (até 1/3) ou
fatores ambientais (poluição e alterações de temperatura).
Ainda que a etiologia infecciosa seja a principal, é importante valorizar as
etiologias não infecciosas: pneumotórax, síndromes coronarianas agudas,
insuficiência cardíaca congestiva, embolia pulmonar, trauma, arritmia etc.
8. Tratamento da exacerbação
C - Broncodilatadores inalatórios
D - Antibióticos
F - Corticosteroides
O corticosteroide sistêmico é indicado a qualquer exacerbação da DPOC,
independentemente da etiologia. Seu uso é recomendado por 7 dias,
geralmente em doses baixas, de 30 a 40mg de prednisona ou equivalente, sem
necessidade de redução gradual do fármaco. Os corticoides inalados não têm
utilidade na exacerbação da DPOC.
G - Mucolíticos
H - Metilxantinas
K - Algoritmo da exacerbação
Figura 9 - Abordagem inicial da exacerbação da doença pulmonar obstrutiva crônica
Resumo
A DPOC caracteriza-se por sintomas respiratórios crônicos e
progressivos, associados à limitação ao fluxo aéreo e presença de fator
de risco. A bronquite crônica e o enfisema pulmonar raramente são
encontrados isoladamente. A bronquite crônica define-se por tosse
produtiva por mais de 3 meses, por 2 anos consecutivos. A tosse é
ocasionada por hipersecreção de muco, não necessariamente com
obstrução ao fluxo aéreo. Já no enfisema pulmonar ocorre aumento
permanente e anormal dos espaços aéreos distais aos bronquíolos
terminais, acompanhado de destruição de suas paredes, sem fibrose
óbvia; ainda que o termo seja muito utilizado no dia a dia, é considerado
um diagnóstico histopatológico.
O principal fator de risco para DPOC é o tabagismo, relevante em cerca
de 90% dos casos; inalação de outros gases (como fumaça de fogão à
lenha) e deficiência de antiproteases (como alfa-1-AT) respondem pelos
demais;
Deve-se suspeitar da deficiência de alfa-1-AT em pacientes com
enfisema que surge em idade inferior a 45 anos, indivíduos que nunca
fumaram, enfisema com predomínio nos lobos inferiores, vasculite com
c-ANCA positivo, doença hepática inexplicada, história familiar de
cirrose, paniculite, bronquiectasias, ou DPOC em idade precoce. Em
alguns casos, é indicada a reposição da enzima;
O exame necessário e suficiente para o diagnóstico é a espirometria:
deve existir relação VEF1/CVF <0,7, com ou sem redução do VEF1; a
presença de resposta ao broncodilatador não exclui DPOC, apesar de ser
incomum; os principais sintomas da DPOC são tosse e dispneia;
Exames de imagem não são fundamentais ao diagnóstico, mas têm
importância no diagnóstico diferencial;
A classificação de risco (antes denominada estadiamento) é fundamental
para a abordagem terapêutica de pacientes com DPOC. Inicialmente se
baseava apenas na espirometria; nos últimos anos, no entanto, observou-
se que fatores como a intensidade dos sintomas (dispneia) e o número de
exacerbações representavam fatores prognósticos ainda mais robustos,
passando a compor o sistema de categorização. Desde então, os
pacientes passaram a ser classificados em 4 grupos: A, B, C ou D.
As únicas medidas terapêuticas que modificam a sobrevida de pacientes
com DPOC são cessação de tabagismo e oxigenoterapia, quando
indicada;
Os fármacos habitualmente utilizados apenas melhoram a qualidade de
vida, por um melhor controle dos sintomas;
Os corticoides inalatórios são indicados a pacientes com doença grave ou
muito grave (VEF1 <50%), com 2 ou mais exacerbações ao ano;
Vacinações anti-influenza (anual) e antipneumocócica (a cada 5 anos)
estão indicadas, assim como reabilitação pulmonar (esta, para pacientes
com estádio II ou maior);
As indicações de oxigenoterapia domiciliar são pO2 ≤55mmHg ou
SatO2 ≤88%; ela também pode ser indicada a pacientes com pO2 entre
55 e 60mmHg e SatO2 entre 88 e 90, na presença de policitemia ou cor
pulmonale;
Pacientes com doença grave ou muito grave podem ser candidatos a
tratamento cirúrgico: bulectomia, cirurgia redutora de volume pulmonar
ou transplante pulmonar;
Os broncodilatadores são o esteio do tratamento de tais pacientes, e deve
ser usada a combinação de anticolinérgico e beta-2-agonista em
pacientes graves;
O uso de corticosteroide sistêmico está indicado na exacerbação da
DPOC, independentemente da etiologia, por um período de 7 a 10 dias;
Na ausência de pneumonia, os antibióticos são extremamente discutíveis:
têm sido indicados em casos de exacerbação de doença muito grave e em
pacientes com exacerbação purulenta;
As metilxantinas não apresentam benefício nas exacerbações.
Tabagismo
Fabrício Martins Valois
João Batista Carlos de Sá Filho
Rafael Medeiros Carraro
Importante
Atualmente, o tabagismo é uma pandemia e um grave problema de saúde
pública, em razão da alta prevalência de fumantes e da mortalidade
decorrente das doenças relacionadas ao tabaco.
Dica
É interessante observar um dado explorado com certa frequência em
provas de concursos médicos. Alguns trabalhos descritivos sugeriram que
o cigarro tivesse efeito “protetor” para algumas doenças: sarcoidose,
pneumonite de hipersensibilidade, pneumonite actínica e retocolite
ulcerativa. No entanto, esses dados não permitiram estabelecer uma relação
de causa e efeito concreta. O fato é que, ainda que possa ser um dado real,
a evidência mais clara é a de que, se qualquer uma dessas doenças se
manifestar em um tabagista, o prognóstico será pior.
4. Parando de fumar
O tabagismo, por muitos anos, representou um comportamento social
aceitável e amplamente difundido; só passou a ser reconhecido como doença
no final do século passado. Em 1986, surgiu o 1º relatório nos Estados Unidos
citando a nicotina como droga psicoativa. A dependência a ela, conforme
descrito, obriga o tabagista a se expor a inúmeras substâncias tóxicas,
responsáveis por 50 doenças, sendo imprescindível que todos os
consumidores dos derivados de tabaco sejam aconselhados a abandonar o
hábito. Definir o grau de dependência à nicotina é um importante elemento da
avaliação dos tabagistas que querem cessar esse hábito, e, para avaliar essa
dependência, foi desenvolvido o teste de Fagerström, constituído de 6
perguntas. Uma soma acima de 6 pontos indica que, provavelmente, o
paciente sofre de síndrome de abstinência significativa.
Além da avaliação do grau de dependência à nicotina, a motivação é uma
condição imprescindível para iniciar o tratamento. Prochaska e DiClemente
desenvolveram um modelo transteórico que explica os estágios de mudança
de comportamento pelos quais uma pessoa passa até se libertar
definitivamente do vício. Esse modelo baseia-se na premissa de que toda
mudança comportamental é um processo e que as pessoas têm diversos níveis
de motivação, de prontidão para mudar. Os estágios de mudança, quando se
inicia um tratamento com o objetivo de parar de fumar, são:
Sabe-se que cerca de 80% dos fumantes desejam parar de fumar, porém
apenas 3% o conseguem sem ajuda. Destes, 85% deixam de fumar sem apoio
formal, o que aponta para o grande potencial que a abordagem rotineira do
fumante pelos profissionais de saúde pode oferecer para reduzir a prevalência
de fumantes. Assim, quando comparadas com as situações em que nenhum
aconselhamento é dado ao fumante, a abordagem mínima (<3 minutos)
aumenta a taxa de cessação de fumar em 30%, a abordagem de 3 a 10 minutos
aumenta em 60%, e a abordagem de 10 minutos de duração aumenta em mais
de 100%.
Umas das estratégias mais utilizadas para promover planos de ação no auxílio
à cessação do tabagismo é a abordagem dos 5 “A”s, que consistem de 5
etapas, conforme mostrado na Tabela 3.
Resumo
O tabagismo é uma pandemia e um grave problema de saúde pública;
Existem quase 50 doenças relacionadas diretamente ao hábito de fumar;
Há dados que sugerem que algumas doenças são menos frequentes
dentre os tabagistas: sarcoidose, pneumonite actínica, retocolite
ulcerativa e pneumonite de hipersensibilidade; se ocorrerem em um
tabagista, no entanto, o prognóstico será bem pior;
É fundamental reconhecer o grau de dependência à nicotina e o estágio
de cessação do tabagismo;
Os estágios de mudança quando os pacientes iniciam um tratamento para
cessar de fumar são: pré-contemplação (não há intenção de parar, nem
mesmo uma crítica a respeito do conflito sobre o comportamento);
contemplação (há a conscientização de que fumar é um problema, no
entanto há também uma ambivalência quanto à perspectiva de mudança);
preparação (o paciente prepara-se para parar de fumar e aceita escolher
uma estratégia para realizar a mudança de comportamento); ação (o
paciente para de fumar; toma a atitude que o leva a concretizar a
mudança de comportamento); manutenção (o paciente deve aprender
estratégias para prevenir a recaída e consolidar os ganhos obtidos
durante a fase de ação. Nesse estágio, pode ocorrer a finalização do
processo de mudança ou a recaída);
A abordagem mínima do profissional de saúde já é capaz de aumentar a
chance de o paciente parar de fumar;
A abordagem terapêutica envolve terapia cognitivo-comportamental e
farmacoterapia. Os principais fármacos são vareniclina, nicotina e
bupropiona.
Bronquiectasias
Rodrigo Antônio Brandão Neto
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
1. Introdução e fisiopatologia
Bronquiectasias representam dilatações anormais e irreversíveis das paredes
brônquicas. Muitas das manifestações são semelhantes às da doença pulmonar
obstrutiva crônica, incluindo obstrução do fluxo aéreo e inflamação das vias
aéreas. Historicamente, já era descrito no século XIX, por Laennec, um
quadro semelhante, no entanto, apenas em 1922, por meio da broncografia,
Sicard demonstrou, pela 1ª vez, imagens compatíveis com bronquiectasias.
2. Etiologia
Nos países desenvolvidos, as principais causas de bronquiectasias são as
doenças genéticas, com especial citação à fibrose cística, e, em menor
frequência, a discinesia ciliar primária e a deficiência de alfa-1-antitripsina.
Vale ressaltar que a fibrose cística é a doença de transmissão genética que
apresenta maior número de óbitos, e isoladamente é a 3ª maior indicação de
transplante de pulmão, segundo os dados do informe anual da International
Society for Heart and Lung Transplantation. No Brasil, assim como nos
países da África subsaariana e sudeste asiático, acredita-se que mais de 60%
dos casos ocorram por infecção, independentemente da etiologia. No Brasil,
entretanto, é provável que a principal causa de bronquiectasias seja a
tuberculose. Um estudo realizado no Ambulatório de Bronquiectasias da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) avaliou 314 pacientes com
diagnóstico de bronquiectasias, identificando tuberculose como etiologia em
42,7% dos casos. Contudo, em pelo menos um terço dos casos, o diagnóstico
etiológico não é realizado. A Tabela 3 relaciona as principais causas de
bronquiectasias.
Tema frequente de prova
As causas das bronquiectasias são o tema mais prevalente do assunto em
provas de concursos médicos.
A - Obstrução das vias aéreas
Síndromes aspirativas com evolução para bronquiectasias são mais comuns
em segmentos inferiores do pulmão direito ou posteriores dos lobos
superiores, também à direita. Um corpo estranho predispõe a infecções
distais, promovendo um círculo vicioso. Deve-se sempre suspeitar de um
corpo estranho, uma vez que a sua remoção pode eliminar um componente
importante na perpetuação das bronquiectasias. Também se deve suspeitar de
obstrução das vias aéreas, sobretudo nos casos de doença localizada.
B - Síndromes de imunodeficiência
Pacientes com hipogamaglobulinemia podem apresentar quadros de sinusites
e pneumonias de repetição na infância. A deficiência de imunoglobulinas é
uma causa tratável de bronquiectasias, haja vista que se dispõe de
imunoglobulina humana. Os pacientes podem apresentar apenas deficiência
de IgA, de subclasses de IgG3 ou uma deficiência global, como na
imunodeficiência comum variada. Esses pacientes devem ser vacinados para
H. influenzae e pneumococo, e, naqueles com múltiplas infecções e
deterioração da função pulmonar, a reposição de gamaglobulina poderá ser
indicada.
C - Fibrose cística
E - Discinesia ciliar
Embora a descrição original da síndrome dos cílios imóveis tenha incluído a
presença de alteração do espermatozoide, acometimento do trato respiratório
(bronquiectasias, sinusopatias) e dextrocardia (denominada de síndrome de
Kartagener), os pacientes podem ter apenas alterações de motilidade dos
cílios prejudicando o clearance mucociliar, infecções respiratórias de
repetição e bronquiectasias. A herança dessas doenças é autossômica
recessiva, com frequência de 1 a 15 a cada 30.000 nascimentos.
F - Infecções pulmonares
Infecções respiratórias baixas podem evoluir com bronquiectasias, devido à
destruição do parênquima pulmonar, com acúmulo importante de secreção e
atividade ciliar comprometida.
No Brasil, a importância da tuberculose como causa de bronquiectasias é
maior do que em países desenvolvidos, devido às altas taxas de infecção que
ainda existem aqui com o bacilo. A tuberculose destrói o parênquima
pulmonar e a arquitetura normal, formando cavernas e predispondo a
infecções bacterianas de repetição.
Pacientes com AIDS podem ter sinusites e pneumonias de repetição,
evoluindo com bronquiectasias, um achado que ilustra bem a interação da
imunodeficiência e as infecções de repetição. Adenovírus, vírus influenza,
anaeróbios, S. aureus e Klebsiella são causas adicionais de bronquiectasias.
Ainda são descritas em mulheres com mais de 60 anos infecções com
complexo Mycobacterium avium. A pista para o diagnóstico é de tosse
crônica com envolvimento principal do lobo médio.
3. Quadro clínico
Os pacientes costumam referir quadros crônicos de tosse com expectoração
frequente, com o uso prévio de vários antibióticos. Dispneia, sibilância e
hemoptise são outras queixas comuns. Classicamente, as bronquiectasias
localizadas nos segmentos superiores (mais características da tuberculose) são
descritas como “secas”, pela tendência a supuração menos evidente do que as
demais, já que a drenagem gravitacional é favorecida naturalmente;
entretanto, são as mais associadas aos sangramentos. Algumas vezes, os
pacientes procuram assistência médica por hemoptise maciça, que pode ser
fatal.
Quadro clínico
Deve-se suspeitar de bronquiectasias quando o paciente apresenta quadros
de tosse crônica com expectoração, uso de medicação antibiótica sem
sucesso, dispneia, sibilos ou mesmo hemoptise.
4. Exames diagnósticos
A - Exames de imagem
a) Radiografia de tórax
Diagnóstico
O diagnóstico é feito com base na história clínica associada sempre à
tomografia computadorizada de tórax. O sinal do “anel de sinete” costuma
ser citado com frequência em questões de prova, remetendo ao diagnóstico
de bronquiectasias.
B - Identificação da etiologia
5. Tratamento clínico
A - Exacerbação aguda
O diagnóstico da exacerbação aguda baseia-se em critérios clínicos. Em geral,
uma nova infecção bacteriana é responsável por maior produção de escarro,
aumento da purulência, dispneia com ou sem queixas sistêmicas (anorexia,
adinamia, febre ou calafrios). Deve-se acrescentar que a definição de
exacerbação aguda nesses pacientes é mais difícil do que naqueles com
doença pulmonar obstrutiva crônica, pois o escarro dos portadores de
bronquiectasias pode ser cronicamente purulento. Existem alguns critérios
propostos para auxiliar no diagnóstico de exacerbação; um dos mais
utilizados é mostrado na Tabela 6.
Dica
A abordagem da terapia crônica envolve azitromicina por 3 a 6 meses, na
dose diária de 250mg, 3x/sem, em pacientes com mais de 2 exacerbações
ao ano.
C - Higiene brônquica
b) Fisioterapia
D - Broncodilatadores
Os broncodilatadores podem ser úteis em alguns pacientes com
bronquiectasias, pela presença de hiper-reatividade brônquica. Não existe
recomendação universal para seu uso, no entanto, na prática, avalia-se a
resposta individual ao uso de broncodilatadores. Se houver percepção de
melhora (subjetiva), o fármaco deverá ser mantido – broncodilatador de ação
curta ou prolongada. Da mesma forma, os que apresentem resposta
significativa ao broncodilatador na espirometria devem utilizar,
rotineiramente, broncodilatadores.
E - Corticosteroides
Figura 6 - Corticosteroides utilizados nas bronquiectasias
F - Outros tratamentos
G - Prevenção
Aconselhamento genético e planejamento familiar são fundamentais na
prevenção de novos casos de Fibrose Cística e doenças dos cílios imóveis,
embora estas últimas com frequência acometam indivíduos inférteis.
Em relação às bronquiectasias pós-infecciosas (tuberculose, sarampo, fungos,
vírus respiratórios e bactérias), sem dúvida a prevenção passa por medidas de
saúde pública, saneamento básico e condições de moradia adequada, fato
facilmente demonstrado pela sua baixa ocorrência em países desenvolvidos. A
vacinação, conforme o calendário atual do Ministério da Saúde, contempla
causas preveníveis, como o sarampo e as infecções por bactérias, como
Haemophilus influenzae e pneumococos. Em relação à tuberculose, sabemos
que a vacinação na infância é eficaz para prevenção de casos graves de
tuberculose miliar e meníngea, porém não parece reduzir tão drasticamente a
incidência da tuberculose pulmonar em países endêmicos como o Brasil,
sendo, portanto, muito mais um esforço global de saúde pública e melhoria de
condições sociais do que um ato único de prevenção por vacina. O
diagnóstico precoce e o tratamento adequado dos casos diagnosticados de
tuberculose talvez hoje sejam a principal medida clínica de prevenção para
evolução de bronquiectasias, após o diagnóstico da doença. Aqueles pacientes
com diagnóstico de deficiências imunológicas, antes do desenvolvimento de
doença pulmonar manifesta, podem ser adequadamente tratados de modo
preventivo, com administração periódica de concentrados de imunoglobulinas
policlonais.
Resumo
Bronquiectasias são uma desordem adquirida dos brônquios maiores e
dos bronquíolos caracterizada por dilatação anormal dessas estruturas,
com caráter irreversível. Muitas das manifestações são semelhantes às da
doença pulmonar obstrutiva crônica, incluindo obstrução do fluxo aéreo
e inflamação das vias aéreas.
Nas bronquiectasias, algumas áreas da parede brônquica são destruídas e
apresentam inflamação crônica. Os cílios são destruídos ou lesados, e a
produção de muco aumenta.
Infecções de repetição são a principal causa de bronquiectasias em todo
o mundo; no Brasil, estima-se que a tuberculose seja uma das principais
etiologias. Outras etiologias comuns principalmente nos países
desenvolvidos são a discinesia ciliar (quando associada a situs inversus,
que caracteriza a síndrome de Kartagener) e a fibrose cística;
A tomografia de tórax com cortes finos é o método diagnóstico de
escolha para a avaliação desses pacientes;
A prova de função pulmonar pode ser utilizada para avaliar o
comprometimento funcional e, usualmente, mostra distúrbio obstrutivo;
Exacerbações são frequentemente causadas por infecções bacterianas,
que são difíceis de serem identificadas. A colonização por Pseudomonas
aeruginosa é um importante fator de mau prognóstico;
Os pacientes com exacerbação infecciosa aguda devem receber
antibioticoterapia por 7 a 10 dias, preferencialmente betalactâmicos ou
quinolonas, ou conforme o perfil de sensibilidade do germe, sendo que
os cultivos de escarro para identificação de colonização devem sempre
ser realizados nestes pacientes;
Existem várias estratégias para a prevenção de infecção, mas seus efeitos
em longo prazo permanecem incertos;
O tratamento cirúrgico pode ser considerado a pacientes específicos,
quando há falha no tratamento clínico;
A pacientes com bronquiectasias difusas, com comprometimento
funcional importante, o transplante pulmonar pode ser indicado, devendo
ser sempre bilateral.
Derrame pleural
Rodrigo Antônio Brandão Neto
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
1. Etiologias e definições
O derrame pleural é definido como o acúmulo anormal de líquido no espaço
pleural. Normalmente, existe de 0,1 a 0,2mL/kg de líquido entre as pleuras
visceral e parietal, com produção e reabsorção contínuas, de forma que
qualquer doença que modifique essa dinâmica pode promover a formação de
derrame pleural. Inúmeras doenças, sistêmicas ou restritas ao aparelho
respiratório, podem ter esse derrame como manifestação clínica.
Quadro clínico
O quadro clínico envolve sintomas como dispneia aos esforços e tosse
(seca ou produtiva), bem como trepopneia (piora da dispneia com decúbito
lateral) e dor pleurítica (piora com a inspiração profunda). Ao exame
físico, observam-se redução da expansibilidade, macicez à percussão
torácica (mais precoce), frêmito toracovocal diminuído ou abolido e
redução do murmúrio vesicular.
3. Indicações de toracocentese
A toracocentese pode ser diagnóstica ou de alívio. Na Figura 5, seguem as
recomendações universais para realização de toracocentese.
Figura 5 - Indicações de toracocentese
Dica
Derrames pleurais exsudativos geralmente são causados por doenças
pleuropulmonares (tuberculose, pneumonia, tromboembolismo pulmonar,
neoplasia pulmonar primária ou com metástase pulmonar), enquanto os
transudatos são causados por doenças sistêmicas (insuficiência cardíaca,
cirrose, síndrome nefrótica).
A - Características macroscópicas
A aparência e o odor do líquido pleural podem sugerir a etiologia. Dessa
forma, o aspecto inicial do líquido pleural pode ser o relatado na Tabela 7.
B - Bacterioscópico
Na suspeita de derrame exsudativo, deve-se solicitar uma bacterioscopia
(Gram) e inocular, à beira do leito, o líquido pleural em meios de cultura para
aeróbios e anaeróbios. Dependendo do caso, podem-se pedir culturas para
fungos e micobactérias; o micológico direto pode mostrar algum fungo, mas a
pesquisa de micobactérias no esfregaço tem baixíssimo rendimento, exceto na
AIDS ou no empiema tuberculoso.
C - Citologia
D - Bioquímica
a) pH
b) Glicose
c) Adenosina deaminase
Dica
Convém lembrar que adenosina deaminase é sugestiva de tuberculose
pleural, porém o marcador não é patognomônico.
d) Amilase
e) Triglicérides
f) Ureia e creatinina
g) Testes imunológicos
6. Causas específicas
A - Tuberculose
A tuberculose é uma causa frequente de derrame pleural em nosso meio e
deve sempre entrar no diagnóstico diferencial de exsudatos.
Na maioria das vezes, o derrame pleural tuberculoso decorre de uma reação
de hipersensibilidade da pleura ao bacilo. Os antígenos podem entrar no
espaço pleural após ruptura de foco caseoso pulmonar na região subpleural,
por contiguidade da lesão pulmonar, por ruptura do gânglio mediastinal ou
pela via hematogênica/linfática. Por esses motivos, tem-se uma baixíssima
positividade da pesquisa de Bacilos Álcool-Ácido-Resistentes (BAARs) e da
cultura do líquido pleural (crescimento em menos de 30% dos pacientes).
Bem mais raramente pode haver ruptura de cavitação subpleural, provocando
o que se chama de empiema tuberculoso, com pesquisa de BAAR e cultura
habitualmente positivas.
Os pacientes costumam buscar auxílio médico com tosse seca (eventualmente
com secreção), febre e dispneia. Na maioria das vezes, o quadro é agudo,
simulando infecção pulmonar bacteriana. O quadro clínico pode ser arrastado
(perda de peso, sudorese noturna, febre vespertina), principalmente na
presença de envolvimento de outros órgãos na apresentação inicial.
O aspecto do líquido pleural é geralmente amarelo-citrino ou turvo, sendo
incomum a apresentação hemática. O derrame pleural é unilateral,
habitualmente de tamanho pequeno a moderado, mas podendo ocupar todo
um hemitórax.
Deve-se suspeitar de tuberculose se houver predomínio de linfócitos no
líquido pleural, mas, em pacientes com sintomas há menos de 15 dias, é
possível o predomínio de neutrófilos, caracterizando a fase aguda da
inflamação. A porcentagem de células mesoteliais é geralmente inferior a 5%
(pela inflamação difusa da pleura), e pacientes com mais de 5% dessas células
no derrame pleural tuberculoso sugerem diagnóstico alternativo. Outro dado
contrário ao diagnóstico é a presença de mais de 10% de eosinófilos no
líquido, a menos que o paciente tenha realizado múltiplas punções ou
pneumotórax.
O PPD é negativo em 1/3 dos pacientes, ao passo que o parênquima
pulmonar, à radiografia de tórax, é normal na maioria dos casos, podendo
mostrar sinais de tuberculose prévia.
Como se trata de reação de hipersensibilidade na pleura, mesmo se a
tuberculose pleural não for tratada, pode ocorrer cura espontânea, embora
50% dos pacientes acabem desenvolvendo tuberculose ativa em outro sítio
nos próximos anos.
A positividade da baciloscopia direta do líquido pleural é muito baixa: menor
do que 5% na maioria das séries. A positividade da cultura em meio de
Löwenstein-Jensen varia de 10 a 35% para o líquido pleural e de 39 a 65% em
submetidos a biópsia pleural. Além de pesquisa direta e cultura, há outras
possibilidades diagnósticas, descritas a seguir.
b) Adenosina deaminase
c) Gamainterferona
e) Lisozima
Dica
Na tuberculose, o líquido pleural possui características exsudativas,
predomínio linfocitário, <5% de células mesoteliais e <10% de células
eosinófilas, cor amarelo-citrino, derrame unilateral e ADA >40. O
tratamento é similar ao da doença pulmonar (2RHZE/4RH).
Importante
Os dados clínicos não têm acurácia suficiente para determinar o estágio da
doença pleural e, assim, a necessidade de drenagem. Dessa forma, todos os
pacientes com derrame pleural associado à infecção, que seja clinicamente
significativo, devem ser submetidos à toracocentese. O que determina o
estágio e, logo, o prognóstico e a conduta a ser tomada são as análises de
volume de líquido, a presença de loculações, o pH, a DHL, a glicose e a
presença de germes. A indicação clássica de drenagem pleural fechada se
faz no estágio de derrame fibrinopurulento, para evitar progressão para
empiema e sepse ou encarceramento pulmonar.
Dica
O líquido pleural neoplásico tem característica exsudativa, cor amarelo-
citrino ou hemático, predomínio linfocitário e pH e glicose reduzidos (20%
dos casos). Pode apresentar, ainda, elevação da amilase em 10% dos casos.
A citologia oncótica tem baixa sensibilidade, que é um pouco maior nos casos
de adenocarcinoma; sempre deve ser solicitada, pois, se positiva, define o
diagnóstico. Quanto aos pacientes ainda sem diagnóstico de neoplasia, é
importante realizar um exame de imagem logo após a toracocentese, para
visualizar por completo o parênquima pulmonar.
Uma vez confirmado o derrame pleural maligno em paciente com carcinoma
pulmonar, está caracterizada doença avançada, com estádio, no mínimo, IIIb,
apresentando tratamento paliativo. Nesse caso, o objetivo do tratamento é a
melhora da dispneia. Os derrames pleurais malignos de pequeno volume,
minimamente sintomáticos, não progressivos e não recidivantes, podem ser
acompanhados somente com observação clínica. A toracocentese é o
procedimento de escolha para o alívio da dispneia em pacientes com
sobrevida curta (3 a 6 meses). A taxa de reacúmulo de líquido pleural, após 30
dias da toracocentese, está próxima de 100%, e deve-se evitar a retirada de
mais de 1,5L por punção devido ao risco de edema de reexpansão, embora
este não pareça comum.
Uma opção de tratamento, para pacientes em que não ocorre expansão
pulmonar após a toracocentese, é a drenagem pleural, usando cateter de fino
calibre. A pleurodese representa uma opção para o tratamento definitivo. O
uso de substâncias esclerosantes determina reação inflamatória aguda das
superfícies pleurais, que resulta em intensa fibrose e sínfise do espaço pleural.
Tal processo pressupõe aposição das pleuras visceral e parietal, mediante a
drenagem de todo o líquido acumulado e a reexpansão pulmonar. Algumas
condições são necessárias para o sucesso do procedimento: melhora clínica
com toracocentese com remoção parcial ou total do volume, natureza maligna
do derrame bem determinada e reexpansão pulmonar com a toracocentese, a
qual pode não acontecer em pacientes com obstrução brônquica,
encarceramento neoplásico do pulmão e linfangite carcinomatosa.
D - Outras causas
a) Tromboembolismo pulmonar
b) Pleurite reumatoide
Apenas 5% dos pacientes com artrite reumatoide têm derrame pleural. É mais
frequente em homens, idosos, 80% deles com nódulos subcutâneos e artrite
reumatoide de longa data. Febre, tosse e dor torácica são comuns. O derrame
costuma ser de tamanho pequeno a moderado e bilateral em 25%. Pode haver
regressão espontânea do derrame de um lado e, em seguida, surgir do outro.
Em 1/3, há manifestações pulmonares associadas. A pleura costuma tornar-se
espessada e apresenta vários nódulos.
São características do líquido pleural: glicose (<30mg/dL), pH diminuído
(<7,2), DHL aumentado e alto título de fator reumatoide (>1:320). No início,
a glicose do líquido pleural pode estar normal, mas, com o tempo, diminui.
Concentração de colesterol aumentada é comum, assim como a formação de
cristais. O prognóstico é pouco conhecido. Alguns têm remissão em 3 meses,
outros evoluem com espessamento pleural, necessitando de decorticação. Não
há estudos do efeito de anti-inflamatórios ou drogas indutoras de remissão na
pleurite reumatoide. Curiosamente, não costuma responder a corticosteroides.
c) Pleurite lúpica
Os pacientes com lúpus podem ter derrame pleural associado à própria doença
ou relacionado a drogas. Estima-se que 40% dos lúpicos terão um derrame
pleural ao longo da vida. Geralmente, artrite e artralgia precedem as
manifestações pleurais, mas, em até 30%, as manifestações pleurais podem
preceder as articulares. A pleurite lúpica costuma fazer parte de uma
exacerbação sistêmica da doença. Em geral, o derrame pleural é pequeno e,
em até 50% dos casos, bilateral. A pleurite lúpica deve ser considerada
hipótese diagnóstica em todos os derrames pleurais exsudativos de causa
indeterminada.
As características do líquido pleural são exsudativo, glicose normal ou baixa e
possibilidade de predomínio de PMN precocemente, evoluindo com
predomínio linfomononuclear. O achado de fator antinúcleo positivo no
líquido pleural não costuma fornecer informação adicional à obtida pelos
testes sorológicos, e essa pesquisa não mais é recomendada de rotina. O
diagnóstico é feito por meio de dados clínicos e marcadores séricos de
atividade lúpica. Sempre se deve descartar uma etiologia infecciosa. Ao
contrário da artrite reumatoide, a pleurite lúpica responde bem a
corticosteroides, mas só estão indicados a casos cujos sintomas são
exuberantes.
d) Doenças abdominais
e) Quilotórax
g) Reação medicamentosa
h) Síndrome de Meigs
i) Sarcoidose
Apesar de rara, pode ser confundida com tuberculose. O derrame pleural é
pequeno e pode ser bilateral em 1/3, além de ser exsudativo e rico em
linfócitos. A biópsia pleural mostra granulomas não caseosos. Os pacientes
costumam ter sarcoidose pulmonar extensa, inclusive extratorácica. Costuma
responder bem a corticosteroides.
Resumo
O derrame pleural representa diagnóstico sindrômico, correspondendo ao
acúmulo anormal de líquido no espaço pleural;
As principais etiologias são insuficiência cardíaca, pneumonia com
derrame parapneumônico, tuberculose e neoplasia. Todo derrame pleural
de etiologia indeterminada e clinicamente significativa (>10mm de
espessura em radiografia em decúbito lateral) deve ser puncionado;
A propedêutica específica do derrame pleural envolve sua caracterização
com transudato e exsudato, o que pode limitar as etiologias;
A radiografia de tórax geralmente identifica derrames com volume
>200mL (posteroanterior); em casos de dúvida da existência de derrame,
ou se este é livre, solicita-se a radiografia em decúbito lateral com raios
horizontais. A ultrassonografia e a tomografia computadorizada podem
ser úteis;
Os critérios de Light podem definir a presença de exsudato: proteína do
líquido pleural >50% da sérica, ou DHL pleural >60% da sérica, ou DHL
>2/3 do limite de normalidade do laboratório. A especificidade dos
critérios não é tão boa, e, se houver suspeita importante de transudato
(principalmente se o paciente estiver em uso de diurético), pode-se
utilizar critério adicional: gradiente de albumina pleura-sangue ≥1,2
indica transudato;
Algumas características sugerem algumas etiologias:
Líquido hemorrágico: neoplasia, embolia pulmonar ou hemotórax;
Líquido esbranquiçado: quilotórax ou empiema;
Líquido achocolatado: abscesso hepático ou derrame antigo;
Transudato com pH reduzido: urinotórax;
Glicose reduzida: artrite reumatoide, pleurite lúpica, tuberculose e
empiema;
pH reduzido: artrite reumatoide, ruptura esofágica, empiema,
neoplasias;
Amilase elevada: neoplasia (principal causa), ruptura esofágica e
pancreatite;
ADA elevada: tuberculose (principalmente se >60), linfoma,
empiema, mesotelioma, artrite reumatoide;
Eosinofilia: ar ou sangue no espaço pleural; raramente: reação a
drogas, paragonimíase, Churg-Strauss.
O derrame pleural associado à insuficiência cardíaca é mais comum à
direita, ou bilateralmente, raramente sendo unilateral esquerdo (15%);
pode apresentar conformações atípicas, como acúmulo na fissura,
gerando a imagem conhecida como “tumor fantasma”, por vezes
confundido com neoplasia. O tratamento diurético fornece boa resposta
em 48 horas;
Derrame parapneumônico é aquele que ocorre associado à infecção do
parênquima: é um exsudato neutrofílico, em que podem coexistir
redução de glicose e pH; em fases avançadas, os germes podem atingir o
espaço pleural, caracterizando empiema; a drenagem está indicada a
derrames com pH <7,2 (7 para alguns autores), glicose <40mg/dL,
presença de loculação ou identificação de germes;
O derrame neoplásico indica doença em fase avançada: o tratamento
proposto é o paliativo. Toracocenteses repetidas podem ser necessárias,
bem como pleurodese, que é mais efetiva quando realizada por
videotoracoscopia;
O derrame pleural tuberculoso pode ocorrer:
Por reação de hipersensibilidade na pleura, com evolução benigna,
resolução em 30 a 60 dias e apresentação simulando quadro
infeccioso agudo, com derrame exsudativo e ADA elevada; a
biópsia de pleura tem alto rendimento mostrando granulomas; o
tratamento é importante para evitar surgimento de tuberculose em
outro órgão na evolução (ocorre em 60% após 1 ano);
Empiema tuberculoso: trata-se de um quadro insidioso, que resulta
de ruptura de um foco caseoso para o espaço pleural, quando a
baciloscopia no líquido pode encontrar o germe; o tratamento está
indicado e é feito com o esquema básico para tuberculose.
O TEP pode causar derrame transudativo (pequeno volume, em pacientes
com TEP maciço ou submaciço) ou exsudativo (pequeno volume,
resultado de pleurite reacional, caracteristicamente sero-hemorrágico). O
derrame exsudativo habitualmente ocorre por pleurite reacional à área de
infarto periférica; o transudativo associa-se a eventos com algum grau de
repercussão hemodinâmica, já que resulta de elevação significativa e
rápida das pressões em câmaras direitas, transmitidas às vênulas do
espaço pleural, as quais têm sua drenagem prejudicada.
Pneumonia adquirida na
comunidade
Durval A. G. Costa
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
1. Introdução e definições
A Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) é uma doença de grande
morbimortalidade, definida como um processo infeccioso agudo do
parênquima pulmonar e diagnosticada em pacientes que estejam fora do
ambiente hospitalar ou nos quais ela se manifeste em até 48 horas após a
admissão.
A microaspiração de micro-organismos da via aérea superior, associada à
falha dos mecanismos de defesa do hospedeiro, geralmente é responsável pelo
desenvolvimento da pneumonia. No entanto, outras vias como a inalatória,
disseminação hematogênica e contaminação por contiguidade são
mecanismos conhecidos que também podem ser responsáveis pela chegada
dos micro-organismos ao pulmão, com posterior dano tecidual. Deve ocorrer
consolidação da área do parênquima pulmonar, representada
microscopicamente pelo preenchimento dos espaços alveolares com exsudato
infeccioso.
O diagnóstico de pneumonia envolve, além de quadro clínico compatível, a
evidência de infiltrado pulmonar nos exames radiológicos, lembrando que a
tomografia de tórax apresenta maior sensibilidade do que a radiografia. Os
padrões radiológicos podem variar desde densa consolidação do parênquima
até infiltrados de padrão alveolar mais tênue (vidro fosco ou micronódulos
centrolobulares agrupados) ou de padrão intersticial, dependendo do agente
infeccioso e da interação com o sistema imune do indivíduo.
O broncograma aéreo é o achado radiológico classicamente associado ao
diagnóstico de pneumonia em questões de prova, porém vale lembrar que não
é o mais comum e muito menos patognomônico; ele nada mais representa do
que a visualização de um segmento brônquico pérvio em meio a uma região
do parênquima pulmonar densamente preenchida por exsudato inflamatório.
Pode também estar presente em outras doenças, como atelectasia e tumores,
como o linfoma e o carcinoma bronquíolo-alveolar.
Figura 1 - Presença de broncograma aéreo: como existe condensação em um pulmão com
pneumonia, a imagem não é de ar (que sai preto na radiografia normal), mas ressalta o bronquíolo
ao redor, facilitando a sua visualização
Figura 3 - Hepatização cinzenta: observa-se bastante exsudato – observar que o alvéolo está cheio de
células leucocitárias (mais especificamente neutrófilos)
Dica
As 4 fases da pneumonia vistas ao microscópio são congestão e edema,
hepatização vermelha, hepatização cinzenta e resolução.
Dica
Quando você se deparar com o termo pneumonia atípica, saiba que o autor
da questão está fazendo referência aos seguintes agentes infecciosos: C.
pneumoniae, M. pneumoniae e L. pneumophila.
2. Etiologia
Mesmo em ensaios clínicos conduzidos para esta finalidade em pacientes com
pneumonia de tratamento hospitalar, menos de 50% das pneumonias têm um
agente etiológico identificado. Com relação à identificação por hemoculturas,
menos de 20% são positivas e dependem muito do tipo de agente infeccioso.
Isso significa que o tratamento, na maioria das vezes, é feito empiricamente,
considerando os potenciais patógenos envolvidos. A partir desse momento,
torna-se muito importante a coleta de características clínicas,
epidemiológicas, radiológicas e de faixa etária para a definição do perfil a ser
tratado.
Importante
Em qualquer idade e qualquer situação, o micro-organismo mais frequente
causador de pneumonia é o Streptococcus pneumoniae. Há apenas 2
exceções: recém-nascidos, em que as bactérias mais prevalentes são
aquelas do canal vaginal (Gram negativos, como E. coli), e, em pacientes
com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), o principal germe
causador de PAC é o H. influenzae.
Figura 4 - Pneumonia por bactéria atípica, em paciente com identificação posterior de Mycoplasma:
o quadro de infiltrado intersticial também está presente em infecções virais, portanto deve haver
outras características para tratá-la como bacteriana (como alteração no leucograma ou
características específicas do quadro clínico descrito)
Importante
Deve-se pensar em infecção pulmonar por bactérias Gram negativas nas
seguintes situações: diabéticos, pacientes renais crônicos ou em uremia,
pacientes com doença cerebrovascular (acidente vascular cerebral prévio),
indivíduos com fibrose cística, institucionalizados (principalmente
crônicos) e etilistas (pensar principalmente em Klebsiella pneumoniae).
C - Idosos
Figura 6 - Criança de 2 anos com quadro de pneumatoceles (setas): nesse caso, a imagem auxilia
bastante na escolha da terapia antimicrobiana, devido ao maior risco de infecção por S. aureus,
apesar de não ser definidora do agente etiológico. Porém, como é muito mais frequente, o
pneumococo é o agente etiológico mais comum em número absoluto, mesmo nos pacientes com
pneumonias necrotizantes. Esta pode ser uma armadilha em questões de prova
Importante
Algumas parasitoses intestinais podem, eventualmente, ocasionar um
processo pneumônico migratório associado à passagem pulmonar de suas
larvas, quadro conhecido como síndrome de Löeffler. Para memorizar os
agentes que podem cursar com esses quadros, deve-se utilizar a regra
mnemônica “SANTA”: S = Strongyloides stercoralis (estrongiloidíase), A
= Ascaris lumbricoides (ascaridíase), N = Necator americanus
(necatoríase), T = Toxocara canis (toxocaríase) e A = Ancylostoma
duodenale (ancilostomíase).
3. Diagnóstico
Diagnóstico
O diagnóstico de PAC envolve os sintomas clínicos de tosse, febre,
expectoração e dor torácica, os achados radiológicos que podem evidenciar
áreas de condensação ou derrame pleural e, ainda, os achados laboratoriais
que evidenciam aumento das provas inflamatórias, podendo haver, ainda,
leucocitose ou leucopenia.
A - Clínico
Importante
É fato que a pneumonia comunitária apresenta frequência elevada.
Entretanto, trata-se de um diagnóstico frequentemente superestimado, pela
eventual semelhança das apresentações clínicas de outras patologias, como
DPOC e Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC), dificultando o
diagnóstico nesses grupos epidemiológicos específicos, entre outros. Além
disso, sobretudo nos casos mais leves de tratamento domiciliar, não há
evidência de alteração radiológica conclusiva para o diagnóstico.
B - Radiológico
Dica
Os raios X de tórax são os exames essenciais no diagnóstico de pneumonia,
sendo necessário solicitar o perfil, principalmente por aumentar a
sensibilidade para detecção de infiltrados em lobos inferiores em posição
retrocardíaca.
Figura 7 - Pneumonia de base do hemitórax esquerdo associada a derrame pleural: notar região com
possível cisurite (líquido até na região da cisura), mostrada pela seta. Neste caso, os raios X de
decúbito lateral (incidência de Laurell) são bastante úteis para avaliar septações e nível líquido
Figura 8 - Corte sagital de tomografia de tórax de uma pneumatocele, dificilmente visualizada nos
raios X de tórax comum
Figura 9 - Tomografia de tórax em corte coronal do mesmo paciente dos raios X do derrame pleural
mostrado na Figura 7: notar que foi confirmada a presença de líquido na base esquerda, além da
cisurite previamente demonstrada, mas sem septações visualizadas
C - Exames laboratoriais versus diagnóstico de
pneumonia adquirida na comunidade
Importante
Quando há derrame pleural, é mandatória a toracocentese diagnóstica
(sempre que o derrame tiver quantidade puncionável), a fim de definir se
há derrame complicado ou empiema.
Figura 10 - Principais características e sequência de condutas diante de um derrame pleural
Importante
A classificação da CRB-65 é o método mais utilizado para indicação de
internação de um paciente com pneumonia: confusão mental (C),
frequência respiratória ≥30irpm (R), pressão arterial sistólica <90mmHg ou
diastólica ≤60mmHg (B) e idade ≥65 anos. Com o escore de 0, o
tratamento é ambulatorial; com 1 ou 2 pontos, considera-se tratamento
hospitalar; e, com mais de 3 pontos, a internação hospitalar é urgente e
talvez com necessidade de terapia intensiva.
Por último, vem o paciente com pneumonia grave. Define-se como portador
de PAC grave todo indivíduo que necessite de internação em UTI pela
infecção. Existem critérios sugeridos pela Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia – é necessário 1 critério maior ou 2 menores,
conforme a Tabela 14.
Esses critérios, no entanto, não substituem o julgamento clínico como
indicativo da necessidade de UTI. A própria Infectious Diseases Society of
America recomenda que se acoplem como critérios menores fatores como
hipotermia, plaquetopenia, leucopenia, uremia, confusão mental, taquipneia
(com esses critérios adicionais, sugerem aumentar para 3 o número de fatores
menores como definidores de PAC grave).
4. Tratamento
Importante
Considerando a realidade brasileira, consensos como o Infectious Disease
Society of America/American Thoracic Society Consensus Guidelines on
the Management of Community-Aquired Pneumonia in Adults de 2007
mostram realidade diferente da nossa (perfil de resistência que se espera
maior, sobretudo do pneumococo, o principal causador). Com base nisso,
este capítulo visa discorrer acerca das Diretrizes Brasileiras para
Pneumonia Adquirida na Comunidade em Adultos Imunocompetentes
(2009), último documento desse assunto publicado em consenso. Ainda
que não haja trabalhos nacionais extensos sobre perfis de resistência, esse é
o que mais se aproxima da nossa realidade. Além disso, o tratamento
cobrado em concursos médicos é mais voltado para o consenso brasileiro
do que para o norte-americano, por razões óbvias. Não caberia, portanto,
apresentar mais dados e confundir o entendimento do estudante neste
momento.
A - Doses de antimicrobianos
Importante
Há algumas situações nas quais é necessário pensar em infecção pulmonar
por Pseudomonas: bronquiectasia, fibrose cística, uso de antibiótico de
amplo espectro por mais de 7 dias recentemente (últimos 30 dias),
internação recente (últimos 7 dias), corticoterapia, transplantados e
neutropênicos.
Diversas outras situações devem ser avaliadas em um paciente com PAC, para
tentar direcionar a terapêutica antimicrobiana, como já foi dito. Assim, um
paciente previamente sadio não deve receber o mesmo tipo de terapia que um
institucionalizado, ou, ainda, com uso prévio recente de antibióticos.
D - Definição do tempo de antimicrobianos para
tratamento
Dica
O interessante não é memorizar o antimicrobiano, mas entender qual é a
bactéria que se quer tratar. Quando se disser que se trata PAC em um
paciente de 19 anos com ceftriaxona e claritromicina, por exemplo, se
saberá que a cobertura é para S. pneumoniae (ceftriaxona) e atípicos como
Mycoplasma (com claritromicina). Isso facilita o entendimento,
principalmente quando o paciente não pode usar um dos medicamentos e
precisa trocá-lo, como os alérgicos.
5. Profilaxia
A profilaxia de pneumonias é feita pela vacinação contra o principal agente
causador, o pneumococo. A vacina disponível na rede pública
tradicionalmente é a pneumocócica 23-valente, muito questionada sobre sua
efetividade. É utilizada para vacinação gratuita em pacientes com
comorbidades e infecções de repetição (asmáticos, DPOC,
institucionalizados), todos com indicação médica. Também é utilizada para
pacientes HIV positivo, esplenectomizados e transplantados. Deve ser feita a
cada 5 anos.
Desde 2011, a rede pública oferece no calendário de vacinação da criança a
vacina contra pneumococos chamada pneumocócica 10-valente. Há a
expectativa de que essa vacina, apesar de nunca ter sido utilizada em larga
escala, diminua drasticamente a incidência de pneumonias em crianças, a
exemplo do que já ocorre com as infecções por Haemophilus influenzae, cuja
vacinação já é administrada em crianças há cerca de 20 anos.
Na rede privada, existe, ainda, a vacina pneumocócica 13-valente, com
perspectiva de melhor espectro para evitar pneumonias e meningites por
pneumococo. No entanto, para ser realizada, deve ser paga separadamente do
calendário de vacinação oferecido pelo governo brasileiro.
A pneumonia bacteriana secundária é uma das principais complicações da
influenza. Por esse motivo, a vacinação contra essa enfermidade deve ser
sempre incentivada.
Importante
A profilaxia de pneumonias é feita com a vacinação contra pneumococo,
por meio da vacina pneumocócica 23-valente em adultos com
comorbidades como asmáticos, com DPOC, institucionalizados, HIV
positivo, esplenectomizados e transplantados, devendo ser repetida a cada
5 anos.
Resumo
Tuberculose
Rodrigo Antônio Brandão Neto
Durval A. G. Costa
Carolina dos Santos Lázari
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
1. Epidemiologia
Trata-se da doença infecciosa que mais mata no mundo, superando as mortes
causadas pela AIDS, que apresenta coincidência de 10% dos casos de
tuberculose (TB). Estimou-se a incidência de 10,6 milhões de casos em 2016,
sendo que 87% se concentrariam em apenas 30 países. No Brasil, ao contrário
de outros países da África e Ásia, existe uma tendência de redução de
incidência na última década, com cerca de 69 mil novos casos diagnosticados
entre 2016 e 2017, totalizando 4.500 óbitos. O Brasil é, atualmente, o 20º país
no ranking de atenção à TB, segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS). A coinfecção por TB-HIV e a doença multirresistente ainda não são
consideradas alarmantes em relação ao total de casos diagnosticados.
2. Fisiopatologia
A TB é uma doença infecciosa crônica causada por micobactérias de
replicação lenta, do complexo Mycobacterium tuberculosis, integrante do
grupo das micobactérias. Trata-se de pequenos bacilos, não esporulados,
aeróbios, que contam com uma parede celular rica em lipídios. As
características físico-químicas dessa parede fazem que a bactéria seja corada
por fucsina na técnica de Ziehl-Neelsen, o que a define como Bacilo Álcool-
Ácido-Resistente (BAAR). O crescimento é lento, com tempo de duplicação
em torno de 18 horas, formando colônias em cultura ao redor de 30 dias.
Locais com tensão elevada de O2, os alvéolos pulmonares, sobretudo aqueles
presentes nos ápices dos pulmões, são mais propícios à proliferação do M.
tuberculosis.
A transmissão ocorre por meio da inalação de aerossóis contendo o bacilo
proveniente das secreções da via respiratória de indivíduos bacilíferos. As
partículas inspiradas atravessam as barreiras mecânicas existentes nas vias
aéreas superiores e instalam-se nos alvéolos. A alteração do clearance
mucociliar do receptor é fundamental na patogênese da doença. Existe um
processo inflamatório local inespecífico do qual participam células
polimorfonucleares e macrófagos não ativados. Os macrófagos fagocitam os
bacilos, processam seus antígenos e apresentam epítopos para linfócitos T
CD4+ específicos, os quais secretam citocinas quimiotáxicas e ativadoras de
macrófagos. Estes se diferenciam em células epitelioides e organizam-se em
uma estrutura característica da resposta granulomatosa. Se os granulomas
estão bem formados, a infecção é contida.
A capacidade de conter a multiplicação do bacilo e impedir que a infecção
progrida para doença envolve a integridade do sistema imune celular. A célula
responsável pela resposta imune efetiva é o macrófago, entretanto sua
funcionalidade depende da interação com os linfócitos T CD4+. As citocinas
produzidas e liberadas pelos linfócitos T CD4+ – sobretudo IFN-gama, IL-2 e
TNF-alfa – promovem a ativação e a diferenciação dos macrófagos e a
migração de células específicas, como monócitos e linfócitos. Além disso,
garantem a formação e a manutenção da estrutura do granuloma, cujo
microambiente é dinâmico, com constante renovação das células ali presentes.
Deste modo, condições que interfiram quantitativa ou qualitativamente na
imunidade celular configuram fatores de risco para o desenvolvimento de TB.
Entre elas, destacam-se a infecção por HIV/AIDS e outras condições de
imunossupressão, como transplante de órgão sólido, idade <5 anos ou >60
anos, desnutrição, alcoolismo, diabetes mellitus e doenças autoimunes,
especialmente aquelas em tratamento com corticosteroides.
Importante
O contato com a TB não garante a evolução da doença. Há necessidade de
alteração nos mecanismos de imunidade celular para ativação de focos,
como nos casos de transplante de órgão sólido, idade <5 anos ou >60 anos,
desnutrição, alcoolismo, diabetes mellitus e doenças autoimunes,
especialmente aquelas em tratamento com corticosteroides.
3. Apresentação clínica
A - Tuberculose primária
Importante
A maioria dos casos de TB primária evolui para cura espontânea e
granuloma com calcificação, que perde a sua capacidade de reativação.
Quando ocorre a doença disseminada, a frequência é maior em crianças e
imunodeficientes.
B - Secundária ou de reativação
Anos depois da infecção inicial, os bacilos viáveis, presentes no complexo
primário, podem voltar a se multiplicar e induzir a doença. O processo é
denominado reativação e geralmente origina um quadro de febre vespertina,
tosse produtiva ou não, queda do estado geral e perda de peso. A reativação é
mais comum em indivíduos com algum tipo de imunodepressão, desnutrição,
alcoolismo, na gravidez e em doentes com outras afecções pulmonares
subjacentes, como doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer de pulmão. A
ausculta pulmonar, no início, é de diminuição dos murmúrios vesiculares,
principalmente nos ápices, que pode progredir para ausculta de sopro (nem
sempre presente), produzido pela presença de cavidade.
Admite-se que a maioria dos casos de TB secundária deve-se à reativação de
bacilos latentes, resultante de uma falha localizada da resposta imune no
microambiente dos granulomas do complexo primário. A resposta imune
adaptativa específica ao M. tuberculosis desencadeia reação inflamatória à
infecção, levando à formação de focos de necrose caseosa importante. Se esse
sítio de inflamação e necrose se comunica com um brônquio, o material
necrótico é drenado pelas vias aéreas, formando uma cavidade.
Importante
Paciente com presença de cavitação nos raios X é aquele com maior fonte
de transmissão da TB, devido à grande presença de bacilos em tais locais.
Figura 3 - Cavitação no ápice direito: lembrar que o hemitórax direito é mais frequentemente
atingido pela facilidade de o bacilo alcançá-lo na primoinfecção; no entanto, pode haver qualquer
imagem, inclusive sem cavitações
C - Extrapulmonar
a) Neurotuberculose
É a forma mais grave de TB, mas representa somente uma pequena proporção
dos casos de TB extrapulmonar, efeito principalmente da alta cobertura de
vacinação com BCG em crianças com menos de 5 anos. Os pacientes
apresentam quadro clínico de meningite ou meningoencefalite, caracterizado
pela ocorrência de irritação meníngea e sintomas de hipertensão intracraniana
com febre, rigidez de nuca, sinais de Kernig e Brudzinski presentes, náuseas,
vômitos e cefaleia. A meningite tuberculosa evolui de maneira mais lenta em
relação à bacteriana e cursa com envolvimento de pares cranianos, embora
seja difícil a diferenciação entre os casos de meningite bacteriana e
tuberculosa, pelos achados clínicos isoladamente.
O diagnóstico pode ser realizado por punção liquórica, que evidencia liquor
com pleocitose e predomínio de linfomononucleares – embora possa haver
um número maior de neutrófilos na fase inicial da doença –, proteína muito
elevada e glicose baixa (<50% da sérica). A bacterioscopia por método de
Gram é negativa, a pesquisa de BAAR pode ser positiva, e a cultura, embora
seja mais sensível que a baciloscopia, permite o isolamento do bacilo em
apenas 15% dos casos.
Testes indiretos, assim como a dosagem de adenosina deaminase (ADA) no
liquor, apresentam sensibilidade entre 60 e 100% e especificidade de 84 a
99%, nem sempre auxiliando no diagnóstico. A pesquisa por reação de cadeia
de polimerase (PCR) apresenta bons resultados.
A tomografia de crânio pode conter achados como hidrocefalia, edema
cerebral, espessamento da meninge basal e indícios de pequenos infartos
parenquimatosos.
Outra forma de manifestação da neurotuberculose é o tuberculoma
intracraniano, isto é, uma meningoencefalite com formação de lesão
expansiva encefálica. Esse diagnóstico requer exame de imagem, como
tomografia computadorizada ou ressonância magnética.
Importante
A neurotuberculose raramente causa lesão focal (tuberculoma),
apresentando predomínio de meningoencefalite (com alteração
comportamental, nunca focal), e frequentemente se associa ao HIV.
b) Pleural
Dica
A adenosina deaminase aumentada não é específica de TB pleural – pode
ocorrer também nos linfomas, artrite reumatoide, mesotelioma e empiema
pleural.
Figura 6 - Derrame pleural: lembrar que, no Brasil, um dos principais diagnósticos diferenciais para
causas de derrame pleural é a tuberculose pleural, principalmente se à direita (tuberculose mais
frequente à direita)
c) Ganglionar
d) Pericárdica
e) Do trato urinário
f) Osteoarticular
Importante
A TB osteoarticular causa o mal de Pott, que, por sua vez, causa a
destruição de vértebras (em geral lombares), podendo formar abscessos
paravertebrais e, consequentemente, paraplegia.
g) Outras formas
Dica
É importante lembrar que, mesmo em pacientes assintomáticos
respiratórios, na suspeita clínica de TB extrapulmonar, deverá sempre ser
realizado exame radiológico do tórax (de preferência tomografia
computadorizada pela sua maior sensibilidade), visto que até 50% destes
pacientes apresentam alterações compatíveis com a doença, mesmo que
sem doença bacilífera em atividade.
Importante
São os grupos populacionais com maior probabilidade de apresentar a TB:
sintomáticos respiratórios (pessoas com tosse e expectoração por 3
semanas ou mais); contactantes de casos de TB; suspeitos radiológicos;
pessoas com doença ou condição social que predisponham à doença
(indivíduos em situação de rua, imigrantes, imunodeficientes).
Os contatos, definidos como toda pessoa, parente ou não, que coabita com um
doente de TB, constituem um grupo para o qual se recomenda uma atitude de
“busca ativa”.
Os locais ideais para organizar a procura de casos são os serviços de saúde,
públicos ou privados, com “busca ativa” de sintomáticos respiratórios. Nas
áreas onde as ações já estão organizadas, a visita domiciliar periódica do
agente de saúde deve incluir a detecção de casos entre sintomáticos
respiratórios e contatos, principalmente de casos bacilíferos e crianças. Deve-
se ter atenção especial com populações de maior risco de adoecer,
representadas, sobretudo, por residentes em comunidades fechadas, como
presídios, instituições psiquiátricas, abrigos e asilos. Nesses ambientes,
justifica-se a busca ativa periódica de casos. Alcoolistas, usuários de drogas,
moradores de rua, trabalhadores de saúde, imunodeprimidos por uso de
medicamentos ou por doenças imunossupressoras também são prioridade.
Importante
Os serviços de saúde, em especial as Unidades Básicas de Saúde, devem
fazer a “busca ativa” de sintomáticos respiratórios.
A - Definições importantes
B - Diagnóstico
Diagnóstico
O diagnóstico de TB é feito principalmente com base na baciloscopia, com
pelo menos 2 amostras de escarro, e na cultura desse escarro.
Importante
O teste molecular para o diagnóstico de TB já é utilizado em todo o Brasil
como instrumento auxiliador no diagnóstico da forma pulmonar,
principalmente em locais em que há baixa quantidade de técnicos treinados
para leitura de bacilo álcool-ácido-resistente no escarro.
Os meios líquidos de cultura têm-se tornado cada vez mais frequentes. Apesar
do alto custo comparado ao Löwenstein, esses métodos são mais rápidos, com
crescimento em 15 dias, em média, em comparação ao anterior, que leva até
60 dias para crescer. Provavelmente, substituirão o Löwenstein em médio
prazo. No caso de suspeita de TB de vias urinárias, lembrar-se de solicitar em
pelo menos 5 amostras de urina em dias alternados, utilizando toda a urina da
manhã (após centrifugação, pode ser feita baciloscopia e cultura).
Dica
Os meios líquidos de cultura são mais rápidos, mas podem resultar falsos
positivos para outras micobactérias não tuberculosas simbióticas apenas no
ser humano.
d) Radiografia de tórax
e) Tomografia de tórax
Dica
Na prova tuberculínica (PPD), o valor de corte é de 5mm, sendo os
indivíduos classificados da seguinte forma: PPD <5mm é não reator, e PPD
≥5mm é considerado reator. No entanto, no adulto, não tem nenhum
impacto para o diagnóstico da doença, servindo especificamente para
avaliação de TB latente.
Importante
Todos os indivíduos infectados por HIV devem ser submetidos a PPD, e,
de acordo com o resultado, deve ser adotada uma das seguintes condutas:
se PPD ≥5mm, deve-se fazer tratamento de TB latente (após afastamento
da forma ativa); se PPD entre 0 e 4mm, não há indicação de tratamento
nem de repetição de exame; se PPD igual a zero, deve-se repetir o teste
anualmente.
g) IGRA
b) Extrapulmonar
5. Tratamento
A TB é uma doença grave, porém curável em praticamente 100% dos casos
novos. A associação medicamentosa adequada, com doses corretas, e o uso
por tempo suficiente com supervisão da tomada dos medicamentos são os
meios para evitar a persistência bacteriana e o desenvolvimento de resistência
às drogas, assegurando, assim, a cura do paciente.
O tratamento dos bacilíferos é a atividade prioritária de controle da TB, uma
vez que permite anular, rapidamente, as maiores fontes de infecção. O
tratamento para caso suspeito de TB sem comprovação bacteriológica deve
ser iniciado após tentativa de tratamento específico para pneumonia, com
antibiótico de largo espectro, sem melhora dos sintomas. Uma vez iniciado, o
tratamento não deve ser interrompido, salvo após uma rigorosa revisão clínica
e laboratorial que determine mudanças de diagnóstico.
Apesar de o tratamento medicamentoso ser essencial, as políticas de saúde
englobam medidas para diminuir a disseminação que surtem resultado, como
“busca ativa” de contactantes, medidas sanitárias e culturais envolvendo
comunidades pobres e aglomeração em favelas. Dessa maneira, o
envolvimento de agentes comunitários, os programas de Medicina de Família
e o tratamento supervisionado melhoram a transmissibilidade da infecção.
Tratamento
O esquema básico de tratamento da TB para adultos e adolescentes é feito
da seguinte forma: fase de ataque por 2 meses, com 4 drogas (rifampicina,
isoniazida, pirazinamida e etambutol), e, posteriormente, fase de
manutenção por 4 meses, com 2 drogas (rifampicina e isoniazida). O
acompanhamento é mensal, com baciloscopia.
A - Regimes
Importante
Na meningoencefalite tuberculosa, o tratamento é semelhante ao da forma
pulmonar, porém feita por mais tempo: 2 meses com esquema de 4 drogas
(rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol) e 7 meses com
esquema de 2 drogas (rifampicina e isoniazida). Nesses casos, deve ser
associado também um corticoide (prednisona oral 1 a 2mg/kg/d, por 4
semanas, ou dexametasona intravenosa nos casos graves de 0,3 a
0,4mg/kg/d, por 4 a 8 semanas).
Na meningoencefalite tuberculosa, deve ser associado corticosteroide ao
esquema anti-TB: prednisona oral (1 a 2mg/kg/d), por 4 semanas, ou
dexametasona intravenosa nos casos graves (0,3 a 0,4mg/kg/d), por 4 a 8
semanas, com redução gradual da dose nas 4 semanas subsequentes.
Dica
Lembrar que a definição para TB multidrogarresistente é a presença de
resistência comprovada tanto à rifampicina quanto à isoniazida. Outro dado
importante é o papel fundamental da rifampicina no tempo de tratamento,
visto que qualquer esquema alternativo, na impossibilidade de uso da
rifampicina, implica tempo de tratamento de, no mínimo, 12 meses.
Importante
O esquema para multirresistência não é melhor do que o esquema básico.
Na realidade, é a única opção a alguns pacientes. Quais? Aqueles com
resistência aos fármacos. Parece um raciocínio elementar, mas na prática
precisamos relembrar esse aspecto para não incorrer em erro.
d) Esquemas especiais para adultos e adolescentes
Rifampicina (2HZES/10HE);
Isoniazida (2RZES/7RE);
Pirazinamida (2RHE/4RH);
Etambutol (2RHZ/4RH).
6. Efeitos colaterais
A - Isoniazida – hidrazida
Dica
A isoniazida pode causar toxicidade neurológica, especialmente neuropatia
periférica, tratada com piridoxina (vitamina B6).
Trata-se de uma droga geralmente bem tolerada, cujos efeitos adversos podem
ocorrer em até 5,4% das pessoas. Os efeitos adversos mais importantes são a
toxicidade hepática e a hepatite potencialmente fatal. A frequência de hepatite
associada à isoniazida é, primariamente, em função da idade, diretamente
associada à idade avançada. Outros fatores que predispõem ao dano hepático
associado à isoniazida incluem abuso de álcool, uso de drogas ilícitas e
história de doença hepática prévia.
A elevação assintomática das transaminases é possível em até mais de 20%
dos pacientes durante os primeiros 2 meses de tratamento, com o retorno aos
valores normais com o prosseguimento da terapêutica. Entre outras reações
adversas atribuídas à isoniazida, inclui-se a toxicidade ao sistema nervoso: a
neuropatia periférica é a mais comum, relacionada à dose e, provavelmente,
causada pelo aumento da excreção da piridoxina (vitamina B6).
Encefalopatia tóxica, neurite óptica, ataxia cerebelar e psicoses são sintomas
neurológicos menos frequentes. Reações de hipersensibilidade são
encontradas casualmente e manifestam-se por febre, prurido e erupção
cutânea, podendo, ainda, ser acusada como causa de uma reação semelhante
ao lúpus. Artralgia e distúrbios hematológicos (anemia e agranulocitose)
também são descritos.
Além disso, monitoriza-se a hepatotoxicidade e procede-se conforme já
descrito nos esquemas especiais para essa situação.
B - Rifampicina
Importante
A rifampicina causa, como principais efeitos colaterais, alterações
gastrintestinais como anorexia, náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia.
Pode causar, também, aumento de enzimas hepáticas.
C - Pirazinamida
D - Etambutol
Dica
O etambutol pode causar manifestações oculares como neurite óptica.
7. Situações especiais
B - Gravidez
Os pacientes com função renal alterada devem ser tratados com o esquema
básico com ajuste das doses. Já aqueles em regime crônico de hemodiálise
devem receber as doses dos medicamentos logo após a diálise. A recente nota
técnica não traz informações específicas quanto aos esquemas preconizados
para pacientes renais crônicos.
D - Outras situações
F - Coinfecção TB-HIV
Os pacientes coinfectados por M. tuberculosis e HIV têm risco aumentado de
desenvolver TB. Por conta disso, recomenda-se, para aqueles com PPD
positivo (>5mm), afastada TB ativa, quimioprofilaxia com isoniazida por um
período de 6 meses. Também é recomendada quimioprofilaxia quando há
aumento de 10mm no PPD de um ano para outro (descartando TB ativa). E,
em pacientes que melhoram a imunidade (com PPD anterior de zero ou
<5mm), também deve ser repetido o PPD, pois valores >5mm devem receber
quimioprofilaxia, desde que excluída TB em atividade.
Apesar de ser considerada uma doença oportunista, frequentemente
resultando de reativação endógena, a ocorrência de TB com padrão clínico-
radiológico típico (acometimento apical) não caracteriza, necessariamente,
comprometimento significativo da imunidade ou falha da terapia
antirretroviral (TARV). Já quadros incomuns e graves de TB
(meningoencefalite, TB miliar) associam-se, habitualmente, a quadros de
baixa contagem de linfócitos T CD4+. Deve-se ressaltar que,
independentemente da situação imunológica inicial, o adoecimento por TB
com frequência promove elevação da carga viral e redução concomitante da
contagem de células T CD4 em pacientes HIV positivo.
Atenção especial deve ser dada ao tratamento da TB em HIV positivos que
fazem uso de esquema antirretroviral, incluindo um inibidor de protease e/ou
nevirapina. Essas drogas têm interação com a rifampicina, gerando grande
risco de toxicidade e diminuição da efetividade (diminuição do nível sérico)
do antirretroviral. A rifampicina pode ser utilizada, concomitantemente, com
esquemas que contenham inibidores da transcriptase reversa análogos de
nucleosídeos (ITRN) associados ao efavirenz. A nota técnica traz uma nova
possibilidade de tratamento da coinfecção TB-HIV: para os casos que
necessitam de TARV, que é incompatível com o uso da rifampicina, em seu
lugar, a rifabutina estará disponível para a composição do esquema básico e
para a meningoencefalite.
O uso de esquemas antirretrovirais com apenas 2 drogas está proscrito, em
razão da sua inferioridade na redução da carga viral do HIV, além da
possibilidade de induzir rápida resistência viral. É importante considerar que a
adesão adequada aos esquemas tuberculostáticos e antirretrovirais
concomitantemente é um grande desafio para o paciente, devido à elevada
quantidade de comprimidos a serem tomados por dia e à ocorrência de efeitos
colaterais. Portanto, deve-se considerar, sempre que possível, a possibilidade
de postergar o início do tratamento antirretroviral em pacientes com
coinfecção TB-HIV, particularmente naqueles com quadros de
imunodeficiência menos graves do ponto de vista clínico-laboratorial.
Dica
Deve-se ofertar teste para HIV a todo paciente com TB ativa. Em caso
positivo, o tratamento do HIV não deve ser imediato; recomenda-se
aguardar cerca de 4 semanas para iniciar, reduzindo o risco de síndrome de
reconstituição imune.
8. Seguimento
Realização mensal da baciloscopia de controle, sendo indispensáveis aquelas
do 2º, 4º e 6º meses;
Acompanhamentos clínico e radiológico periódicos, visando à identificação
de reações adversas às medicações e ao acompanhamento da evolução das
lesões pulmonares da doença;
Controle pós-cura: a maioria dos casos curados não necessita de controle após
o término do tratamento. Alguns casos especiais justificam 1 ou mais
controles após o final do tratamento: portadores de HIV/AIDS e outras
condições de imunodeficiências; os que permaneceram com graves sequelas
anatômicas ou funcionais; os que tiveram graves efeitos adversos durante toda
a evolução da terapia, sem comprovação bacteriológica da cura.
9. Prevenção
A - Controle dos contatos
B - Vacinação BCG
Dica
Os recém-nascidos contactantes de tuberculosos bacilíferos devem fazer
quimioprofilaxia antes de serem vacinados com a BCG.
b) Contraindicações
Importante
A quimioprofilaxia da TB é feita com isoniazida na dose de 10mg/kg por 6
meses e está indicada para: recém-nascidos coabitantes de foco tuberculoso
ativo; crianças <15 anos sem sinais de TB ativa e com comunicantes de
tuberculosos bacilíferos; indivíduos com viragem tuberculínica recente (até
12 meses); população indígena; imunodeprimidos por uso de drogas ou
doenças imunodepressoras; reatores fortes à tuberculina sem sinais de TB
ativa, mas com condições clínicas associadas a alto risco de desenvolvê-la;
coinfectados por HIV e M. tuberculosis.
Resumo
Gripe
Ralcyon F. A. Teixeira
Durval A. G. Costa
Carolina dos Santos Lázari
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
1. Introdução
A infecção pelo vírus influenza pandêmico pode ser por H1N1, H3N2, ou
outra mutação decorrente de um drift que pode ocorrer nos próximos anos.
Por esse motivo, não é correto mencionar infecção pelo H1N1. Para se ter
uma ideia, nos últimos anos, a infecção mais prevalente foi a do H3N2.
O vírus influenza A (H1N1) que circulou até o início de 2017 é dotado de
propriedades moleculares dos vírus influenza humano, suíno e aviário,
resultante de alterações antigênicas frequentes (drift antigênico) e do rearranjo
de segmentos gênicos provenientes de cepas dos 3 tipos de hospedeiros (shift
antigênico), que são a base virológica da epidemia sazonal. Está relacionado a
uma pandemia atual por não ser detectada imunidade prévia a esse vírus no
homem, por ser capaz de causar doença no homem e por demonstrar
transmissão eficiente entre humanos. A partir de 2013, outra variação, a
H3N2, passou a ser crescente em muitos países, inclusive no Brasil.
A emergência de uma séria epidemia global de origem animal aponta para a
necessidade crítica do conhecimento mais aprofundado das viroses
zoonóticas, incluindo estudos in vivo de patogênese em animais, além de
estudos epidemiológicos, genéticos e imunológicos.
Anualmente, apesar dos esforços na realização de vacinas que protejam contra
os principais vírus que causaram infecções no inverno do hemisfério
contrário, os casos novos se sucedem. Assim, apesar de a vacina de gripe pré-
inverno no Hemisfério Norte no final de 2012 ter contemplado os vírus
H1N1, H3N2 e influenza B, não foi suficiente para evitar novos casos,
principalmente por conta de H3N2.
A preocupação relacionada à infecção é a possibilidade de evolução
desfavorável, principalmente por ser um quadro considerado benigno tanto
por pacientes quanto por profissionais de saúde, o que inibe as medidas de
precaução de contato. De fato, parecemos muitas vezes não nos importar por
estarmos “gripados”. Ainda que houvesse dados mais alarmantes nas
epidemias, a taxa de mortalidade registrada no Brasil, no 1º semestre de 2018,
foi de 0,40/100 mil habitantes, segundo os dados do Ministério da Saúde.
Dica
Houve pandemia de H1N1 em 2009, com um novo vírus, derivado de vírus
de porcos (gripe suína). A partir de 2013, o H3N2 passou a ser o causador
mais frequente de infecção pelo vírus influenza.
2. Histórico
As primeiras suspeitas de infecção pelo vírus influenza ocorreram por volta
do século V a.C. por Hipócrates, que relatou casos de uma doença respiratória
que, em algumas semanas, matou muitas pessoas e depois desapareceu.
Antes de 1918, a influenza em humanos já era bem conhecida, mas nunca
havia sido descrita nos suínos. Nesse ano, houve uma pandemia de H1N1 –
chamada de “gripe espanhola” –, responsável por 50 milhões de mortes.
Simultaneamente, foi identificada nos porcos uma forma clínica semelhante à
humana. A adaptação viral a uma nova espécie de hospedeiro é um processo
complexo, que envolve a adaptação a novos receptores de superfície celular,
alterações nos tropismos celulares na imunidade inata e nos mecanismos de
transmissão. O vírus H1N1 ultrapassou essas barreiras e emergiu, em 1918,
de uma fonte aviária simultaneamente no homem e nos suínos.
O vírus H1N1, assim denominado pelos antígenos hemaglutinina e
neuraminidase, desapareceu abruptamente dos humanos em 1957 e foi
substituído por um novo vírus influenza A (H2N2). Seu desaparecimento
naquele ano foi decorrente, provavelmente, de 2 razões: níveis elevados de
imunidade homóloga e heteróloga da nova cepa H2N2, o que foi suficiente
para eliminar o vírus.
Em abril de 2009, nos Estados Unidos, no final da estação comumente afetada
pela influenza usual, foram identificados os primeiros casos de gripe suína. O
Centers for Disease Control and Prevention confirmou que esses casos foram
causados por um vírus suíno geneticamente modificado, capaz de infectar o
homem. Embora não se saiba se esse fato confere imunidade cruzada, o novo
vírus tem 3 segmentos de genes em comum com a influenza humana A
sazonal (H1N1) e 3 segmentos em comum com a influenza A (H3N2).
Figura 1 - Distribuição dos vírus respiratórios identificados em amostras de pacientes com síndrome
gripal, no Brasil, em 2018 (dados até julho)
3. Patogênese e transmissão
Os vírus influenza são compostos de RNA de hélice única, da família dos
ortomixovírus, e subdividem-se em 3 tipos: A, B e C, de acordo com a sua
diversidade antigênica. Os vírus podem sofrer mutações (transformações em
sua estrutura), e os tipos A e B causam maiores morbidade e mortalidade que
o tipo C. Geralmente, as epidemias e pandemias (epidemia em vários países)
estão associadas ao vírus influenza A.
Figura 2 - Vírus influenza: as 2 imagens mostram ângulos diferentes do vírus. Notar a presença das
neuraminidases (NAs) e hemaglutininas (HAs). A variedade dessas estruturas faz os diferentes tipos
de vírus (vide texto)
Importante
São características principais da influenza: alta transmissibilidade,
principalmente quando considerado o influenza A; maior gravidade entre
idosos, crianças, gestantes, imunodeprimidos, cardiopatas e pneumopatas;
rápida variação antigênica do vírus, o que favorece a rápida reposição do
estoque de suscetíveis na população e apresentação como zoonose entre
aves selvagens e domésticas, suínos, focas e equinos que, desse modo,
também se constituem em reservatórios dos vírus.
Dica
A transmissão do vírus influenza ocorre de pessoa para pessoa, por meio da
inalação de gotículas eliminadas na tosse ou pelo espirro dos indivíduos
doentes. O período de transmissão estende-se de 24 horas antes de
começarem os sintomas até 7 dias depois.
Figura 3 - Ciclo do vírus influenza
Importante
As neuraminidases e hemaglutininas fazem diferença na capacidade do
vírus em causar infecção. Por esse motivo, ficamos infectados por
diferentes tipos de influenza, de acordo com os diferentes tipos de
hemaglutininas e neuraminidases.
4. Quadro clínico
Quadro clínico
As manifestações clínicas da infecção pelo vírus influenza envolvem o
surgimento de febre alta, mialgia, dor de garganta, artralgias, prostração e
fadiga, cefaleia e tosse seca. Podem estar presentes, também, diarreia e
vômitos.
Diagnóstico
O diagnóstico do vírus influenza é feito por meio da RT-PCR de swabs de
nasofaringe e orofaringe coletados de pacientes com quadro clínico
sugestivo da infecção. O swab deve ser coletado da narina esquerda, narina
direita e orofaringe (total de 3 swabs.
6. Diagnóstico diferencial
Além dos outros vírus não influenza, vírus sincicial respiratório e
parainfluenza, é importante entender a diferença entre gripe e um simples
resfriado. Por esse motivo, a Tabela 4 elucida essas diferenças.
Tratamento
O tratamento é feito com oseltamivir ou zanamivir e é indicado a todos os
hospitalizados com infecção suspeita, provável ou confirmada pelo novo
vírus H1N1 e, também, para aqueles com alto risco de complicações pela
infecção.
Se o paciente não faz parte do grupo de alto risco ou não está hospitalizado,
os profissionais de saúde devem usar o julgamento clínico para guiar decisões
de tratamento. Muitos pacientes infectados com o novo vírus H1N1
apresentam uma forma autolimitada da doença, sem benefício significativo do
tratamento específico antiviral. Assim, esforços a fim de realizar o exame
diagnóstico e estabelecer quimioprofilaxia e tratamento devem ser
direcionados, primariamente, para hospitalizados ou de alto risco para
complicações.
Se a decisão for o tratamento específico, este deverá ser iniciado o mais
rapidamente possível, pois está demonstrado maior benefício do tratamento
quando instituído dentro de 48 horas do início dos sintomas. Entretanto,
alguns estudos demonstram que, entre hospitalizados, o oseltamivir reduz a
mortalidade mesmo se iniciado após 48 horas da apresentação dos sintomas.
O tratamento antiviral deve ser mantido por 5 dias. Em áreas que continuam a
apresentar atividade da influenza sazonal, especialmente aquelas nas quais há
circulação de vírus resistentes ao oseltamivir, recomenda-se o zanamivir,
combinação entre oseltamivir e rimantadina, e amantadina para tratamento ou
quimioprofilaxia de pacientes com provável influenza sazonal.
Em 2012, foi recomendado pelo Ministério da Saúde o uso de dose dobrada
de oseltamivir para tratamentos de pacientes graves. Pode ser estendido o
tratamento por mais de 5 dias (geralmente até 10 dias) em imunodeprimidos e
graves, pelo maior tempo de disseminação do vírus.
Importante
A quimioprofilaxia do vírus influenza é indicada para pacientes de grupos
de alto risco e que apresentaram contato próximo com casos confirmados
ou suspeitos ou prováveis, e também para os profissionais da saúde ou
cuidadores que apresentam contato próximo com indivíduos infectados ou
suspeitos, sem proteção adequada.
Instabilidade hemodinâmica;
Sinais e sintomas de insuficiência respiratória;
Extenso comprometimento pulmonar ao exame radiológico;
Hipoxemia, com necessidade de suplementação de oxigênio acima de
3L/min para manter saturação arterial de oxigênio acima de 90%;
Relação pO2/FiO2 <300, caracterizando a lesão pulmonar aguda;
Necessidade de atendimento fisioterápico contínuo;
Alterações laboratoriais como elevação significativa de desidrogenase
láctica (DHL) e creatinofosfoquinase (CPK), alteração da função renal e
alteração do nível de consciência.
A - Antibioticoterapia
B - Prevenção
A principal medida para prevenir a gripe é a higiene das mãos. Se uma pessoa
tiver tocado uma superfície que contenha saliva de pessoa infectada e levar as
mãos à boca ou aos olhos, poderá se infectar. A higiene das mãos pode ser
realizada com água e sabonete ou com álcool gel a 70%.
O paciente deve cobrir sempre o nariz e a boca quando espirrar ou tossir, para
evitar a transmissão a outras pessoas. E, sempre que possível, devem-se evitar
aglomerações ou locais pouco arejados. Além de tudo isso, manter uma boa
alimentação e hábitos saudáveis.
Importante
As orientações de prevenção são as mesmas para todos os tipos de gripe,
não apenas para o H1N1, e servem para orientar aqueles que estão com
quadro gripal e que necessitam de isolamento domiciliar.
A partir do final de 2009, uma vacina de uso nasal foi desenvolvida para o
controle dessa gripe pandêmica, realizada inicialmente nos Estados Unidos.
Essa vacina foi motivo de muita controvérsia, já que a incidência de efeitos
colaterais foi bastante disseminada, com associação principalmente de
quadros neurológicos, como síndrome de Guillain-Barré.
No Brasil, a vacina contra H1N1 foi realizada no 1º semestre de 2010, com
apresentação diferente da norte-americana. Sua apresentação foi
intramuscular, produzida pelo Instituto Butantan e, em parte, importada da
França. Poucos casos de quadros neurológicos foram descritos (ao contrário
dos Estados Unidos).
No ano de 2011, o Ministério da Saúde disponibilizou a vacina para os
seguintes grupos populacionais, considerados de maior risco para desenvolver
a síndrome respiratória aguda grave relacionada à influenza:
Dica
A vacina contra influenza (inativada) é disponibilizada na rede pública para
os seguintes grupos populacionais: idosos com 60 anos ou mais,
profissionais da saúde, povos indígenas, crianças entre 6 meses e 2 anos e
em gestantes, que podem tomar em qualquer idade gestacional.
Resumo
Doenças pulmonares
intersticiais
Rodrigo Antônio Brandão Neto
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
1. Introdução
Figura 1 - Doença intersticial fibrosante – faveolamento (honey-combing): (A) radiografia e (B)
tomografia
Importante
Convém lembrar que as pneumopatias infecciosas e neoplásicas (linfoma
MALT e linfangite carcinomatosa) apresentam acometimento
parenquimatoso similar, mas não são DPIs, estando sempre como
diagnóstico diferencial.
2. Etiologias
Apesar de, muitas vezes, tratar-se de um desafio ao pneumologista, o
diagnóstico preciso é fundamental no manejo das doenças intersticiais
pulmonares, visto que mesmo apresentações clínicas que cursam com fibrose
extensa do parênquima pulmonar podem ser de distinta evolução com o
tratamento correto empregado.
As DPIs estão associadas, mais comumente, a exposições ambientais
domiciliares e ocupacionais, especialmente a poeiras orgânicas e inorgânicas.
Podem estar relacionadas, também, a doenças reumatológicas ou, ainda, de
etiologia idiopática. As Tabelas 1 e 2 reúnem as causas mais comuns.
Dica
As principais DPIs são fibrose pulmonar idiopática, colagenoses e
pneumoconioses.
3. Patogênese
É difícil descrever a patogênese das DPIs de maneira simplista. Em linhas
gerais, devemos entender que, em resposta a gatilhos dos mais diferenciados,
determinados indivíduos geneticamente predispostos (mesmo que ainda não
conheçamos especificamente essa predisposição para cada tipo de DPI)
desenvolvem um dano inflamatório estereotipado e anormal em nível
pulmonar, levando ao desenvolvimento de formas clínico-radiológico-
patológicas semelhantes de lesão tecidual. O dano comum mais associado a
esse grupo de doenças é a substituição do parênquima pulmonar por tecido
reparativo fibrótico, levando à perda progressiva da função do órgão. De
maneira geral, após a agressão pulmonar (única ou de repetição), a resposta
biológica pode ocorrer de 2 formas, descritas a seguir.
A - Processo granulomatoso
Ocorre o acúmulo de linfócitos T, macrófagos e células epitelioides
organizados em estruturas discretas, embora estejam difusamente presentes,
denominadas granulomas. Tais lesões granulomatosas podem agravar-se,
evoluindo para fibrose pulmonar. Contudo, quando diagnosticadas a tempo e
tratadas adequadamente, apresentam excelente prognóstico.
A maioria permanece pouco sintomática até fases avançadas. Dentre os
diagnósticos diferenciais, estão as vasculites sistêmicas, a sarcoidose e a
pneumonite de hipersensibilidade.
Dica
Quando a fisiopatologia é de processo granulomatoso, devem ser
lembradas sarcoidose, pneumonite de hipersensibilidade e vasculites
sistêmicas.
Dica
Quando a fisiopatologia é de processo alveolar associado à fibrose
intersticial, devem ser lembradas pneumonia organizante (antiga BOOP),
pneumoconioses, fibrose intersticial idiopática, infiltração linfocítica etc.
4. Anamnese
A - Sintomas respiratórios
B - Duração da doença
a) Aguda
b) Subaguda
c) Crônica
d) Recorrente
C - Idade e sexo
E - Tabagismo
F - Fármacos
Dica
O paciente com DPI pode apresentar queixas de comprometimento
sistêmico antes dos sintomas respiratórios (doenças do colágeno,
sarcoidose); outras vezes, queixas pulmonares precedem o aparecimento da
doença reumática.
5. Diagnóstico
A - Exame físico
Dica
Estertores crepitantes em VELCRO®, via de regra, correlacionam-se com
acometimento crônico das DPIs e fibrose pulmonar, enquanto outros
achados, como sibilos e grasnido, em manifestações mais agudas, como na
pneumonia por hipersensibilidade.
C - Exames de imagem
a) Radiografia de tórax
Figura 2 - Radiografia de tórax, com redução volumétrica dos pulmões e opacidades intersticiais com
predomínio em bases e periferia
Diagnóstico
A tomografia de tórax computadorizada de alta resolução ou cortes finos é
o principal exame na abordagem diagnóstica de pacientes com DPI.
D - Exames laboratoriais
F - Anatomopatológico
a) Biópsia transbrônquica
Diagnóstico
São critérios diagnósticos para fibrose pulmonar idiopática: >50 anos,
estertores “em VELCRO®”, distúrbio funcional restritivo com difusão
baixa, tomografia com infiltrado reticular, faveolamento nas bases e sem
fibrose peribrônquica, ausência de nódulos centrolobulares ou “vidro
fosco” fora das áreas de fibrose, além de exclusão de outra etiologia.
Dica
O baqueteamento digital não é exclusivo da FPI, mas, quando presente em
um paciente com DPI, sugere muito este diagnóstico.
7. Pneumonite de hipersensibilidade
A - Introdução
A pneumonite, ou pneumonia de hipersensibilidade, engloba um grupo de
doenças pulmonares causadas pela inalação de poeiras orgânicas, muitas
vezes relacionadas ao ambiente ocupacional do paciente, portanto é
frequentemente discutida em capítulos de doenças ocupacionais. Outro termo
utilizado é alveolite alérgica extrínseca, que não é adequado, porque o
envolvimento bronquiolar é regra nessa doença.
A doença não se associa a atopia nem a elevações da IgE ou eosinofilia
sanguínea. Centenas de etiologias surgem a cada ano, podendo ser causadas
por agentes microbianos, poeiras ou substâncias químicas. Exposições a
pombos, periquitos, canários e outros pássaros podem levar à pneumonia de
hipersensibilidade por inalação de antígenos presentes em suas penas e fezes;
o tabagismo costuma apresentar relação de proteção para o desenvolvimento
da síndrome.
Outros agentes comuns são os fungos presentes no mofo e as medicações
como a nitrofurantoína. Bactérias do grupo termofílico e não termofílico
contaminantes de substratos, como feno, cogumelos, reservatórios de água,
bagaço de cana-de-açúcar, umidificadores e sistemas de ar condicionado,
podem causar pneumonia de hipersensibilidade, com denominações
específicas.
Dica
O tabagismo reduz a chance de o paciente desenvolver pneumonite por
hipersensibilidade (reduz resposta imunológica alveolar).
B - Patogênese
A doença desenvolve-se pela combinação de mecanismos imunológicos
humorais com mecanismo mediado por células, atuando sequencialmente. O
mecanismo humoral parece ser importante na fase precoce da alveolite após a
exposição antigênica, induzindo, nos predispostos, a uma resposta aguda
inflamatória mediada por imunocomplexos. Quando a exposição antigênica se
prolonga, segue-se uma resposta típica granulomatosa mediada por células.
Os macrófagos alveolares encontram-se aumentados, como pode ser
observado no lavado broncoalveolar, assim como os linfócitos CD8, com
alteração da relação CD4/CD8.
Diagnóstico
A história clínica é composta de exposição a antígeno, como feno, excretas
de pássaros, saunas etc. Na tomografia computadorizada de alta resolução,
há infiltrado nodular broncocêntrico, com opacidades “em vidro fosco”;
nos pacientes com acometimento crônico, esses achados juntam-se ao
faveolamento e à fibrose do parênquima pulmonar. Trata-se de uma DPI
com vários padrões radiológicos possíveis, portanto o dado que,
individualmente, mais chama atenção para o diagnóstico é a caracterização
da exposição inalatória que deve ser exaustivamente pesquisada, sendo
que, em alguns casos, até mesmo, é necessária a visita domiciliar para
tanto.
O afastamento do agente, usualmente, resulta na regressão da doença,
especialmente nas formas agudas. Em casos com insuficiência respiratória
aguda, o uso de corticosteroides por 2 ou 3 semanas pode acelerar a
recuperação. Nas formas crônicas, o curso prolongado de corticoterapia pode
ser necessário, devendo ser bem ponderado, a fim de diminuir, ao máximo, os
efeitos adversos desse tipo de tratamento.
8. Sarcoidose
A - Etiologia e sintomas
Diagnóstico
Estabelece-se o diagnóstico de sarcoidose por meio de dispneia, tosse seca
e dor torácica, associadas à fraqueza, astenia e febre baixa, perda de peso
de 2 a 6kg, além de acometimentos cutâneo, articular, renal, ocular,
cardíaco e ganglionar (cadeia cervical, axilar, epitroclear e inguinal).
Sempre em associação à biópsia de órgão-alvo, com inflamação
granulomatosa característica.
C - Tratamento
Dica
Deve-se pensar em granulomatose com poliangiite quando o acometimento
pulmonar é acompanhado de febre, perda de peso, úlceras mucosas, crostas
nasais, otite média e otalgia, assim como perda da audição, alterações de
raios X e sedimento urinário anormal. O achado radiológico que mais
chama a atenção para o diagnóstico são nódulos ou massas pulmonares
com cavitação, devido ao caráter necrotizante da doença.
C - Tratamento
A - Introdução
A granulomatose com poliangiite e eosinofilia é uma doença autoimune e de
etiologia indeterminada. Descrita inicialmente em 1951 por Churg e Strauss,
foi definida como angiite granulomatosa, determinada por 3 critérios maiores:
presença de vasculite necrosante, infiltração tecidual eosinofílica e
granulomas extravasculares.
A etiologia da doença ainda não está esclarecida, mas parece haver um
importante componente alérgico e imunomediado, já que há forte relação de
pacientes com eosinofilia persistente, sintomas asmatiformes e elevação de
IgE. A doença é considerada sistêmica, mas acomete, principalmente,
pulmões, sistema nervoso e pele. Mialgias e artralgias ocorrem entre 35 e
40%. O coração também pode ser atingido, e, após o pulmão, é a 2ª causa de
morte nesses indivíduos, manifestando-se como infarto agudo do miocárdio
ou pericardite (podendo ser constritiva).
C - Tratamento
Resumo
As etiologias das DPIs são inúmeras, sendo as mais comuns aquelas
associadas a exposições ambientais, especialmente poeira orgânica ou
inorgânica; representam um grande número de patologias que envolvem
o parênquima pulmonar, ou seja, o alvéolo, a membrana alveolocapilar, o
endotélio, estruturas perivasculares e linfáticos. Apesar da diversidade de
etiologias, essas doenças são colocadas no mesmo grupo devido a
manifestações fisiopatológicas, clínicas e radiológicas semelhantes;
As queixas respiratórias dificilmente são úteis no diagnóstico diferencial.
Dispneia costuma ser a principal queixa referida; no início, ocorre aos
esforços, mas, posteriormente, pode ocorrer ao repouso; crepitações em
ambas as bases, com som descrito como “em VELCRO®”, são comuns e
podem ser audíveis, assim como roncos difusos;
Dados epidemiológicos, sintomas sistêmicos, uso de fármacos, hábitos e
hobbies podem fornecer indícios importantes sobre a etiologia;
Os exames de imagem antes eram considerados insuficientes para o
diagnóstico, e a biópsia quase sempre inevitável; hoje, com o advento da
tomografia de tórax de alta resolução, pode-se evitar a biópsia em grande
número de casos. As alterações radiográficas mais frequentes são
infiltrados reticulonodulares difusos; na tomografia, o padrão de
infiltrado pode ser bem caracterizado, bem como a presença de
faveolamento, que traduz fibrose estabelecida;
Existe um grupo de doenças intersticiais ditas idiopáticas. Dentre elas, a
FPI é a forma mais comum, em indivíduos na 6ª a 7ª décadas de vida.
Presume-se que seja uma doença imunológica, pois muitos apresentam
imunocomplexos circulantes, autoanticorpos positivos e crioglobulinas;
tem curso dramático, com sobrevida estimada em 3 a 5 anos, sendo
geralmente refratária ao tratamento imunossupressor. O melhor
tratamento proposto é o transplante pulmonar;
A pneumonite ou pneumonia de hipersensibilidade engloba um grupo de
doenças pulmonares causadas pela inalação de vários materiais
antigênicos usualmente orgânicos (principalmente exposição a pássaros e
mofo). O afastamento da exposição pode controlar a doença, mas
eventualmente é necessário o uso de imunossupressores;
A sarcoidose é uma doença sistêmica granulomatosa que tem o pulmão
como órgão mais afetado, apresentando cursos de exacerbação-remissão.
O estadiamento da doença é feito com radiografia de tórax, com graus
variados de envolvimento pulmonar ou ganglionar. As manifestações
sistêmicas são diversas, sendo indicado tratamento a pacientes com
envolvimento de órgãos nobres (ocular, hepático, cardíaco e sistema
nervoso central), envolvimento pulmonar sintomático, hipercalcemia
persistente e artrite. O tratamento é feito com corticoides e
imunossupressores;
A granulomatose com poliangiite (Wegener) é uma doença sistêmica
caracterizada por vasculite necrosante granulomatosa com acometimento
preferencial das vias aéreas superiores e inferiores, pulmões, além de
glomerulonefrite. Os achados radiológicos mais comuns são infiltrados
pulmonares e nódulos; estes são geralmente múltiplos, bilaterais, com
cavitação em cerca de 50% dos casos (lesões cavitadas podem apresentar
resolução relativamente rápida);
A poliangiite de Churg-Strauss é uma vasculite sistêmica, que se
manifesta, predominantemente, com sintomas asmatiformes, que podem
preceder as outras manifestações da doença em até 3 anos.
Pneumoconioses
Rodrigo Antônio Brandão Neto
José Alberto Neder
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
1. Introdução e definições
O termo pneumoconiose foi criado por Zenker em 1866 para designar um
grupo de doenças que se originam da exposição a várias substâncias presentes
no ar, por reação tissular à inalação. Definiu-se poeira como um aerossol
composto de partículas sólidas inanimadas. As pneumoconioses são doenças
fibróticas crônicas do pulmão, ocasionadas pela inalação de poeira e várias
outras substâncias inertes, inorgânicas (Tabela 1). Em geral, ocorrem após
exposição longa e continuada ao agente. De acordo com portaria do
Ministério da Saúde, as pneumoconioses são doenças de notificação
compulsória.
Importante
Convém lembrar que as pneumoconioses são doenças de notificação
compulsória, além de ser obrigatória a notificação por meio de
Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT).
2. Fisiopatologia
As partículas suspensas no ar (sílica, carvão, asbesto, outras) menores de 3µm
(especialmente, menores de 0,1µm) chegam aos alvéolos, sendo, inicialmente,
fagocitadas pelo macrófagos ali presentes, porém, como são partículas
inorgânicas, não conseguem ser adequadamente eliminadas pelos mecanismos
de imunidade celular, e como consequência o processo inflamatório se torna
crônico. Inflamação, formação de tecido reparativo granulomatoso e fibrótico
formam o componente anatomopatológico das pneumoconioses.
O preciso mecanismo que faz um indivíduo evoluir com uma doença
ocupacional não é conhecido. Sabe-se que os macrófagos alveolares têm
função central no processo, sobretudo ao interagir com neutrófilos, linfócitos,
fibroblastos, além da rede de interação das várias citocinas.
Existe um forte componente genético, embora mecanismos precisos também
não sejam conhecidos.
a) Manifestações clínicas
Quadro clínico
O quadro clínico da asbestose é bastante inespecífico, com dispneia aos
esforços e piora progressiva, além de estertores crepitantes em bases, tosse
seca crônica e, em alguns casos, expectoração.
b) Diagnóstico
Diagnóstico
No diagnóstico da asbestose, sempre deve estar presente exposição
ocupacional, em associação a método de imagem, podendo ser radiografia
(opacidades intersticiais, faveolamento e derrame pleural) ou tomografia de
cortes finos (infiltrado reticular com predomínio de bases).
Figura 1 - Radiografia de tórax de asbestose: notar as opacidades lineares, principalmente nas bases
pulmonares
Figura 2 - Placas pleurais em indivíduo com exposição ao asbesto
c) Tratamento e prognóstico
Dica
Lembrar que o asbesto é a principal exposição inalatória relacionada à
ocorrência de doenças pleurais benignas e malignas.
4. Silicose
A sílica é um composto natural formado pelos 2 elementos químicos mais
abundantes na crosta terrestre: o oxigênio e o silício. É encontrada na natureza
nas formas amorfa e cristalina, que, combinadas com metais e óxidos,
originam silicatos como talco, feldspato, caulim e mica.
A exposição à sílica aumenta o risco de o indivíduo desenvolver doença
pulmonar obstrutiva crônica e câncer de pulmão; a incidência de tuberculose
também é elevada, por esses pacientes apresentarem redução da atividade de
macrófagos e linfócitos. Há evidências do aumento de incidência de esclerose
sistêmica em homens (síndrome de Erasmus), artrite reumatoide (síndrome de
Caplan) e granulomatose de Wegener, além da demonstração de que mesmo
os pacientes que cessam a exposição continuam com elevação perene de
marcadores de atividade inflamatória (PCR e VHS), deixando claro o papel
pró-inflamatório sistêmico dessa partícula.
Outra característica clínica importante da silicose é a associação de risco de
desenvolvimento de tuberculose, que, dependendo das séries analisadas, varia
de 3 a 39 vezes de aumento do risco da infecção. Recomenda-se sempre a
investigação ativa de tuberculose em paciente com progressão mais acelerada
da doença, além da realização de teste tuberculínico nos pacientes estáveis
clinicamente, e de quimioprofilaxia com isoniazida naqueles com PPD ≥10,
segundo as diretrizes do Ministério da Saúde para controle da tuberculose.
A silicose é a pneumoconiose mais comum no Brasil, ainda que os dados
epidemiológicos sejam escassos. Em um estudo realizado no Ceará com 687
cavadores de poços, encontrou-se prevalência de silicose de 27%.
Uma vez inaladas, as partículas de sílica depositam-se nos bronquíolos
respiratórios e nos alvéolos. Se essas partículas não são removidas, ocorre um
processo inflamatório, inicialmente como alveolite inflamatória, evoluindo,
posteriormente, para fibrose.
Habitualmente, classificamos a silicose de acordo com sua apresentação
clínica, que, por sua vez, tem relação com a intensidade de exposição e o tipo
de partícula inalada. Classicamente, os indivíduos que trabalham com
jateamento de areia têm uma evolução mais frequente para silicose acelerada
com tempo de latência <5 anos, enquanto cavadores de poços artesianos e
trabalhadores de pedreira evoluem para silicose crônica clássica, com tempo
de latência de 15 a 20 anos para o diagnóstico.
A Tabela 4 mostra essas formas clínicas e suas principais características.
Ademais, a silicose também pode ser classificada como simples (pouco
sintomática e com mínima alteração espirométrica) ou complicada (formação
de grandes conglomerados em segmentos pulmonares superiores e alterações
espirométricas marcantes).
O risco de desenvolvimento de silicose tem relação com o tamanho da
partícula inalada, o tempo de exposição, a concentração do material, o tipo de
sílica e a suscetibilidade individual. Dentre todas as atividades de risco, têm
maior risco os jateadores de areia e os cavadores de poços.
A - Manifestações clínicas
Quadro clínico
Assim como na asbestose, na silicose há tosse e dispneia progressiva, com
características evolutivas restritivas ou obstrutivas.
B - Diagnóstico
Diagnóstico
O diagnóstico de silicose é feito com base na história de exposição à sílica,
além de alterações de imagem características, como presença de
opacidades intersticiais em campos pulmonares superiores, ou nodulações
em ápices nos raios X, e micronódulos de disseminação perilinfática e
enfisema em regiões superiores na tomografia de cortes finos.
C - Tratamento e prognóstico
A - Manifestações clínicas
B - Diagnóstico
C - Tratamento e prognóstico
O tratamento é de suporte, sendo fundamental o afastamento da exposição.
Em geral, pacientes com a forma simples não apresentam evolução
progressiva, com sobrevida próxima à normal. Por outro lado, aqueles com a
forma fibrótica progressiva (nódulos à radiografia >1cm de diâmetro, com
predomínio em ápices) têm sobrevida reduzida e prognóstico ruim e podem
evoluir com fibrose progressiva, cor pulmonale, necessidade de oxigênio
domiciliar, ou com uma neoplasia (câncer de pulmão).
A - Sintomas e diagnóstico
Resumo
Pneumoconioses são doenças pulmonares originadas por inalação de
poeiras e várias outras substâncias inertes, inorgânicas ou poeira de
sílica;
Independentemente da etiologia, o nexo causal é fundamental para a
definição diagnóstica;
As pneumoconioses fibrosantes mais comuns são silicose, asbestose e
pneumoconiose do trabalhador de carvão;
A sílica é um composto natural formado pelos 2 elementos químicos
mais abundantes na crosta terrestre: o oxigênio e o silício. É encontrada
na natureza nas formas amorfa e cristalina, que, combinadas com metais
e óxidos, originam silicatos como talco, feldspato, caulim e mica;
A silicose pode ter apresentação acelerada (meses a anos desde a
exposição), aguda (5 a 10 anos desde a exposição) ou crônica (mais de
10 anos desde a exposição);
Os trabalhadores com maior risco de desenvolver silicose são os
jateadores de areia e os cavadores de poços;
O diagnóstico de silicose é feito com base na história de exposição à
sílica, além de alterações de imagem características, como presença de
opacidades intersticiais em campos pulmonares superiores, ou
nodulações em ápices nos raios X, micronódulos de disseminação
perilinfática e enfisema em regiões superiores na tomografia de cortes
finos;
A silicose aumenta o risco de o paciente desenvolver tuberculose,
esclerodermia, artrite reumatoide, granulomatose de Wegener e neoplasia
de pulmão;
A exposição ao asbesto, além da asbestose, associa-se a doenças
benignas (placas pleurais, espessamento pleural difuso, derrame pleural,
atelectasia redonda) e doenças malignas (neoplasia de pulmão e
mesotelioma);
A asbestose é a fibrose pulmonar associada à exposição ao asbesto, tem
um período de latência longo (chega a 30 anos) e pode ocorrer em
familiares de indivíduos que trabalham com amianto;
A pneumoconiose dos trabalhadores de carvão tem muitas características
semelhantes à silicose, mas com o tempo de latência habitualmente mais
longo;
As pneumoconioses são doenças de notificação compulsória.
Tromboembolismo pulmonar
Rodrigo Antônio Brandão Neto
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
1. Introdução e definições
O tromboembolismo pulmonar (TEP) representa um desafio diagnóstico e
terapêutico para qualquer médico. Sem tratamento, a mortalidade pode chegar
a 30%; com a anticoagulação, gira em torno de 2 a 8%, e, em cerca de 60%
dos pacientes, o diagnóstico de TEP é feito associado ao de Trombose Venosa
Profunda (TVP), sendo que as definições mais atuais agrupam TEP e TVP
como espectros da mesma doença – o tromboembolismo venoso (TEV).
Historicamente, tem sido considerada uma doença pouco diagnosticada: em
estudos de autópsia, o TEP é encontrado em 12 a 15% dos pacientes que
estavam hospitalizados. Acredita-se que a sua incidência esteja aumentando
devido a fatores como envelhecimento global da população e aumento de
neoplasias, doenças respiratórias e acamados.
3. Achados clínicos
A suspeita diagnóstica decorre da presença de quadro respiratório agudo,
principalmente quando associado à presença de fator de risco para trombose
vascular. Os sintomas mais frequentes são dispneia, tosse, dor pleurítica e
hemoptise; ao menos 1 desses sintomas estará presente na maioria dos casos.
Ao exame físico, achados frequentes são taquipneia e taquicardia e, com
menos frequência, cianose, sinais de trombose profunda, crepitações e febre.
No entanto, a definição diagnóstica exige metodologia complementar. Já foi
demonstrado que os dados clínicos de pacientes com suspeita de TEP na sala
de emergência são iguais naqueles em que o diagnóstico é confirmado e
naqueles em que a embolia foi afastada (Tabela 4). Apesar disso, os dados
clínicos terão importância adicional na definição da probabilidade pré-teste
(como veremos adiante), o que é fundamental para a escolha da metodologia
complementar.
Dica
Em questões de provas de concursos médicos, quando o tema for
hemoptise, devemos sempre lembrar do diagnóstico de TEP, embora seja
um sintoma pouco frequente na apresentação clínica inicial dos pacientes.
Os diagnósticos diferenciais habituais são neoplasia pulmonar, tuberculose
e vasculites pulmonares.
4. Exames complementares
Os exames complementares em tromboembolismo são fundamentais para a
definição diagnóstica. São inúmeros os testes propostos, alguns que auxiliam
o diagnóstico e outros de caráter confirmatório ou excludente.
Tema frequente de prova
Exames complementares para o diagnóstico de tromboembolismo
pulmonar estão sempre presentes nas provas de concursos médicos,
portanto é preciso estar atento às suas diferenças.
A - Auxílio no diagnóstico
a) Radiografia de tórax
b) Gasometria arterial
c) Eletrocardiograma
Dica
O padrão S1Q3T3 não é patognomônico de tromboembolismo pulmonar,
porém, nas questões, sua presença geralmente aponta para o diagnóstico.
d) Ecocardiograma
Dica
Convém lembrar que o dímero-D é um exame diagnóstico de alto valor
preditivo negativo, sobretudo em pacientes que não sejam considerados de
alto rico para o diagnóstico de TEP.
D - Angiotomografia de tórax
Dica
Além do diagnóstico, a angiotomografia de tórax é importante porque
aponta diferentes diagnósticos diferenciais, além da presença de sobrecarga
do ventrículo direito.
F - Arteriografia pulmonar
6. Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial é amplo e inclui síndromes coronarianas agudas,
dissecção aguda de aorta, pneumotórax, pneumonia, asma e doença pulmonar
obstrutiva crônica, insuficiência cardíaca congestiva, pericardite,
costocondrite, fratura de costela, pleurite e dor osteomuscular, hipertensão
pulmonar idiopática, embolia não venosa (gasosa, gordurosa, amniótica) e
ansiedade. Deve-se dar atenção especial ao diagnóstico de embolia gordurosa,
já que ocorre em um cenário comum à embolia venosa – pacientes com
fraturas ortopédicas e imobilizados. Na Tabela 7, estão listadas suas principais
características.
Importante
A tríade clássica da embolia gordurosa é composta por dispneia, alteração
da consciência e petéquias (mais comuns em conjuntiva ocular e segmento
superior do tronco). Ao contrário da embolia gordurosa, a trombótica
geralmente ocorre após o 5º dia de pós-operatório ou grandes traumas,
diferentemente da primeira, mais precoce – antes do 3º dia.
7. Estratificação de risco
A mortalidade na embolia pulmonar tem relação com a sobrecarga de câmaras
direitas. Os pacientes eram classificados como portadores de embolia maciça
(se houvesse choque), submaciça (sobrecarga do VD sem hipotensão) e não
maciça (sem sobrecarga do VD ou hipotensão). Atualmente, a classificação é
feita conforme o risco de evolução desfavorável:
A avaliação inicial dos pacientes tem sido proposta por meio do escore PESI
simplificado. Na presença de pontuação superior a 1, o paciente deve realizar
avaliação laboratorial de sobrecarga do VD, possivelmente com dosagem de
troponinas ou BNP (se elevados, sugerem sobrecarga) e por meio de imagem
(dilatação do VD no ecocardiograma ou angiotomografia).
8. Tratamento
Ainda que se utilize o termo “tratamento”, a rigor, as medidas farmacológicas
na embolia de pulmão têm como objetivo impedir a progressão da lesão
trombótica. A dissolução do coágulo/êmbolo é função do sistema fibrinolítico
endógeno. O uso de trombolíticos é reservado a um grupo mais grave de
pacientes com TEP, pelo elevado risco de complicações hemorrágicas.
A - Baixo risco
Tradicionalmente, a anticoagulação de pacientes com TEP era iniciada com
heparina não fracionada, heparina de baixo peso molecular ou fondaparinux
(Tabela 10), em associação a um cumarínico (varfarina), fármaco de
manutenção. A heparina era mantida até que se atingisse anticoagulação
efetiva com a varfarina (INR entre 2 e 3), o que habitualmente demandava de
4 a 5 dias. No entanto, o advento dos anticoagulantes orais não antagonistas
da vitamina K mudou esse cenário. Guidelines atuais (American College of
Chest Physicians, 2016) recomendam que esses sejam os fármacos de escolha
em pacientes com TEP de baixo risco e sem câncer, podendo ser iniciados
imediatamente (exceto dabigatrana e edoxabana, que necessitam do uso de
heparina por 5 dias para ser iniciada) – Tabela 10. Já foi demonstrado
exaustivamente que esses fármacos são mais seguros do que o tratamento
tradicional, além de não inferiores em eficácia. Ainda que sejam mais
custosos, prescindem de monitorização laboratorial e têm poucas interações
medicamentosas/alimentares.
Para pacientes com câncer, a American College of Chest Physicians (2016)
ainda recomenda heparina de baixo peso molecular (injetável) como
tratamento de 1ª linha. Caso exista limitação para seu uso, a escolha entre
cumarínico ou um anticoagulante oral não antagonista da vitamina K fica a
critério do médico.
O período de anticoagulação é variável e dependerá do fator de risco
identificado.
Situações especiais:
Importante
Nos pacientes com TEP de risco elevado, há indicação de trombólise, com
janela terapêutica de até 14 dias, embora o principal benefício aconteça nas
primeiras 72 horas do evento.
Figura 7 - Tromboembolismo pulmonar com sinais de hipertensão pulmonar: notar aumento do hilo
à direita
Há vários tipos de filtros, que podem ser inseridos por via percutânea
(femoral ou jugular), o que facilita e diminui a chance de complicações. As
principais indicações são contraindicações à anticoagulação plena e TEPs de
repetição em adequadamente anticoagulados.
9. Prevenção
A prevenção, aspecto muito importante da embolia pulmonar, deve ser sempre
instituída, caso sejam identificados fatores de risco exuberantes. Apesar de
não eliminar a possibilidade de sua ocorrência, reduz de forma significativa
essa probabilidade. Hospitalização prolongada, procedimentos ortopédicos,
cirurgias com tempo de anestesia superior a 1 hora, politraumatismo, uso de
contraceptivos orais, neoplasias, insuficiência cardíaca e antecedente de
TVP/TEP são os fatores de risco mais importantes. O risco deve ser
estratificado, e a modalidade escolhida pode variar da deambulação precoce
isoladamente ao uso de anticoagulantes orais – nos casos de trombofilia e
fatores de risco adicionais (Figura 8).
Figura 8 - Recomendações para profilaxia de trombose venosa profunda e embolia pulmonar a
pacientes hospitalizados
Fonte: Rocha et al., 2005.
Resumo
A maioria dos eventos tromboembólicos é ocasionada por êmbolos
provenientes das veias dos membros inferiores, principalmente do
território iliofemoral; veias poplíteas ou mais periféricas podem ser
responsáveis, mas com menor frequência;
O diagnóstico de TEP por vezes não é realizado. A mortalidade, quando
não há tratamento, pode chegar a 30%; com o tratamento, é de até 8%;
A maioria dos casos de TEP é secundária à TVP do território iliofemoral;
raramente decorre de trombose poplítea, veias de membros superiores e
trombos intracavitários;
Os fatores de risco são os que interferem na tríade de Virchow
(hipercoagulabilidade, estase venosa e lesão endotelial). Podem ser
hereditários ou adquiridos. Os principais são TVP ou TEP prévios,
cirurgia e imobilização recentes (3 meses), AVC com membro plégico e
neoplasia. Dentre os fatores hereditários, o principal é o fator V de
Leiden;
Clinicamente, caracteriza-se o evento em maciço (com instabilidade
hemodinâmica), submaciço (sem hipotensão ou choque, mas com sinais
de disfunção do VD) e não maciço (sem disfunção do VD);
O quadro clínico geralmente é representado por sintomas súbitos, como
dispneia, tosse, dor torácica e hemoptise. Entretanto, as queixas e os
dados do exame físico são inespecíficos e podem estar presentes em uma
ampla lista de diagnósticos diferenciais. Os exames complementares são
fundamentais;
A radiografia de tórax está anormal na maioria dos casos, mas com
alterações inespecíficas, como pequenas atelectasias. Achados clássicos
estão presentes em cerca de 10%: corcova de Hampton (imagem
triangular periférica), sinal de Westermark (oligoemia focal) e sinal de
Fleischner ou Palla (alargamento das artérias pulmonares). Exames que
podem definir ou afastar o diagnóstico são dímero-D, cintilografia
pulmonar, ultrassonografia de membros inferiores, angiotomografia de
tórax e angiografia pulmonar;
A angiografia ainda é o padrão-ouro para o diagnóstico, mas é invasiva e
tem morbimortalidade de cerca de 1,5%. Assim, os demais exames são
preferidos. Para definir a sequência de exames, é importante classificar o
paciente conforme o grau de probabilidade clínica de ter TEP. Algumas
escalas são propostas, como a de Wells, Pisa e Geneva. Pacientes com
probabilidade alta devem ser anticoagulados enquanto a investigação é
realizada;
O método complementar ideal também depende de contraindicações,
disponibilidade e experiência local;
Em pacientes com probabilidade baixa ou intermediária, o dímero-D
pode ser solicitado (ELISA); se negativo, exclui o diagnóstico, pois tem
alta sensibilidade. Quando positivo, indica continuidade de investigação.
Não deve ser utilizado em casos de probabilidade alta;
A angiotomografia tem sido indicada como o melhor exame inicial.
Além de poder visualizar o trombo, pode determinar diagnósticos
diferenciais e avaliar disfunção do VD (dilatação de parede). Pode falhar
em casos de trombos pequenos e periféricos, e pode ser necessário outro
exame em seguida. Sua principal desvantagem é a necessidade de
contraste intravenoso;
A cintilografia pode demonstrar áreas de perfusão ruim, com ventilação
normal, altamente característica de TEP; quando normal, exclui o
diagnóstico. A principal limitação é para pacientes com doença
parenquimatosa prévia, quando o exame apresenta, naturalmente,
algumas áreas de déficit de inalação e perfusão;
A ultrassonografia tem a vantagem de poder ser realizada à beira do
leito; é bem indicada principalmente se há sinais clínicos de TVP, com
boa acurácia para trombos em território iliofemoral;
Ecocardiograma, peptídio natriurético cerebral e troponinas são úteis
para definir disfunção do VD, que é característica de mau prognóstico;
O tratamento é feito com anticoagulação: heparina (baixo peso ou não
fracionada) e anticoagulante oral, ou isoladamente com rivaroxabana;
aquela deve ser mantida até o efeito adequado do fármaco oral se
estabelecer (INR entre 2,5 e 3,5). A duração do tratamento depende da
etiologia e de recorrência do quadro, de 3 meses a indefinidamente;
Os trombolíticos ainda são ponto de debate intenso: são indicados a
casos de instabilidade hemodinâmica; mais recentemente, têm sido
propostos em casos selecionados de TEP submaciço;
O filtro de veia cava está indicado a pacientes com TEP na vigência de
anticoagulação ou em casos de contraindicações à anticoagulação;
A profilaxia de TEP deve ser indicada a pacientes com fatores de risco
identificados, envolvendo deambulação precoce após cirurgias, métodos
mecânicos (meias elásticas e de compressão pneumática) e heparina
subcutânea.
Hipertensão arterial pulmonar
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
Importante
A HP tem diversas etiologias e é definida pela Pressão Média da Artéria
Pulmonar (PMAP) ≥25mmHg, medida por cateterismo cardíaco.
Dica
Em relação à conduta diagnóstica na HP, o ecocardiograma transtorácico
será sempre o exame inicial, e o cateterismo cardíaco, com medida direta
das pressões pulmonares, deverá ser o exame definitivo para o diagnóstico.
Este último é fundamental antes do início da terapia específica naqueles
pacientes que tenham indicação do tratamento.
Importante
O diagnóstico de HAP exige medida hemodinâmica: PMAP ≥25mmHg,
com pressão de oclusão da artéria pulmonar ≤15mmHg, na exclusão de
doença pulmonar/hipóxia e embolia crônica. O exame padrão-ouro é o
cateterismo direito.
Importante
A HP é contraindicação ao transplante de fígado, pelo risco de disfunção
aguda do ventrículo esquerdo e consequente congestão venosa do enxerto.
a) Vasodilatadores/antiproliferativos
Existem vários fármacos disponíveis para uso, agindo nas 3 principais vias
fisiopatológicas da HAP: da endotelina (bosentana, ambrisentana,
macitentana), do óxido nítrico (sildenafila, tadalafila e riociguate) e das
prostaciclinas (iloprosta, treprostinila, epoprostenol). Uma outra classe
possível de medicamento, não específica para tratamento de HP, são os
bloqueadores de canais de cálcio (diltiazem ou nifedipino).
No passado, o tratamento era iniciado apenas para pacientes com repercussão
clínica maior – classe funcional III-IV, disfunção do ventrículo direito,
elevação de BNP ou NT-proBNP etc. Hoje, no entanto, o início tende a ser
precoce; havendo sintomas, o tratamento é recomendado. Não há
superioridade demonstrada na literatura de um fármaco sobre outro.
Habitualmente, um dos fármacos é iniciado, e, conforme a evolução (sintomas
e capacidade de exercício), a dose pode ser aumentada, ou pode-se considerar
a associação de droga de outra classe, culminando com terapia dupla ou tripla.
Já se considera aceitável iniciar o tratamento com 2 fármacos em casos de
maior gravidade. Segundo as diretrizes para o manejo da HP publicadas em
2014, a recomendação atual do Ministério da Saúde é iniciar o tratamento
com sildenafila; não havendo resposta adequada ao tratamento, pode ser
associado algum inibidor da endotelina (bosentana ou ambrisentana). Ainda
se recomenda o uso como 1ª linha ou em associação do iloprosta, porém este
medicamento não está disponível para comercialização no Brasil. Os
inibidores de canal de cálcio (diltiazem ou nifedipino) podem ser utilizados
nos pacientes que apresentem teste de vasorreatividade positivo, no entanto
sabemos que estes representam menos de 10% dos casos de HAPi.
É importante observar que a PSAP medida pelo ecocardiograma não é uma
variável importante para o seguimento. Seus níveis não guardam relação clara
com gravidade, tampouco com evolução favorável ou não. De fato, sempre
que houver indícios de piora clínica, testes de esforço deverão ser realizados
para melhor caracterização do quadro, sendo necessário, inclusive, novo
cateterismo em grande parte dos casos, para reavaliar a circulação pulmonar.
b) Anticoagulação
c) Diuréticos
d) Digitálicos
e) Medidas gerais
Resumo
A síndrome de HP tem diversas etimologias e cursa com disfunção do
endotélio vascular e remodelamento, trombose in situ e vasoconstrição.
Essas alterações levam à elevação da PMAP e da sua resistência
vascular, com subsequentes disfunção ventricular direita, insuficiências
cardíaca e respiratória crônicas até o óbito;
A investigação etiológica da HP deve ser feita de forma organizada,
seguindo protocolos específicos, orientados por diretrizes;
O exame complementar inicial de triagem será sempre o
ecocardiograma, devendo-se prosseguir com investigação invasiva com
cateterismo cardíaco para valores de PSAP >50mmHg;
Caso se considere que o diagnóstico de HP é provável, deveremos
avaliar a possibilidade de doença cardíaca esquerda e doença
pulmonar/hipóxia;
Após afastar doença cardíaca e pulmonar, o próximo passo é excluir
embolia crônica; confirmado o diagnóstico, o tratamento de escolha é
cirúrgico;
Caso a embolia crônica seja afastada, a possibilidade maior é ser HAP,
que deve ser confirmada com cateterismo;
O tratamento da HAP pode ser feito com monoterapia ou associação de
fármacos, e o paciente deve ser acompanhado preferencialmente em
centro de referência. Existem vários fármacos disponíveis para uso,
agindo nas 3 principais vias fisiopatológicas da HAP: da endotelina
(bosentana, ambrisentana, macitentana), do óxido nítrico (sildenafila,
tadalafila e riociguate) e das prostaciclinas (iloprosta, treprostinila,
epoprostenol). Bloqueadores de canal de cálcio (nifedipino e diltiazem)
também podem ser utilizados nos pacientes com teste hemodinâmico de
vasorreatividade positivo.
Neoplasias pulmonares
Rodrigo Antônio Brandão Neto
Fabrício Martins Valois
Rafael Medeiros Carraro
A - Fatores de risco
a) Tabagismo
É o principal fator de risco. Cerca de 90% dos casos entre homens e 80%
entre mulheres são relacionados ao cigarro. A década de 1990 demonstrou
uma queda de casos e de mortes entre os homens, com aumento de ambos
entre as mulheres, implicados, diretamente, no aumento de mulheres
tabagistas.
A chance de aparecimento do câncer está ligada ao tempo de tabagismo e ao
número de cigarros fumados por dia, de forma que uma carga tabágica
superior a 10 anos/maço é considerada clinicamente significativa. Já a carga
tabágica de 40 anos/maço aumenta o risco em 20 vezes de desenvolver câncer
de pulmão, ao passo que deixar de ser fumante reduz drasticamente o risco de
desenvolver câncer de pulmão em 15 a 20 anos após a cessação, apesar de
ainda permanecer um pouco maior do que em não fumantes. Sabidamente,
existe correlação dose-dependência no tabaco como fator de risco.
As pessoas que fumam charutos ou cachimbos também apresentam mais
riscos de desenvolver câncer. Há ligação entre o número de anos que a pessoa
fuma, o de charutos ou de cachimbos fumados por dia e o quão
profundamente a fumaça é inalada. Mesmo sem inalação, existe o aumento de
risco de tumores de cabeça e pescoço entre os seus usuários.
A associação de maconha à neoplasia de pulmão não é tão bem documentada
quanto a do cigarro, mas ocorrem lesões no epitélio brônquico. Sabe-se que 3
ou 4 cigarros de maconha equivalem, em média, em termos de material
particulado, a 20 cigarros, mas a magnitude de risco ainda não é quantificada,
e, apesar de alguns estudos demonstrarem relação, outros falharam em
demonstrar uma associação clara de risco.
O risco do tabagismo passivo é proporcional ao tempo em que o indivíduo
inala o ar com substâncias liberadas pelo cigarro e ao número de indivíduos
no ambiente. Estima-se que, a cada 3 cigarros consumidos por um fumante, o
indivíduo que divide o ambiente com ele inala 1 cigarro inteiro.
Todos os subtipos histológicos de câncer de pulmão guardam relação com o
tabagismo, o que é mais intenso no carcinoma de células pequenas (97% dos
casos) e menos no adenocarcinoma (85% dos casos). Outros tumores
relacionados ao hábito de fumar são: cavidade oral, laringe, esôfago, bexiga,
rins, pâncreas, estômago, mama, cólon e reto e colo de útero.
Dica
Todos os subtipos histológicos de câncer de pulmão têm relação com
tabagismo, sendo maior no carcinoma de células pequenas (97%) e menor
no adenocarcinoma (85%).
b) Asbesto
B - Tipos histológicos
Dica
O adenocarcinoma é o tumor mais comum, com localização periférica. Em
questões de prova de concursos médicos, as lesões que se apresentam
como nódulo pulmonar isolado ou em indivíduos não tabagistas e jovens
(<40 anos), habitualmente, referem-se a este tipo histológico.
Figura 2 - Tomografia de tórax demonstrando consolidação persistente no lobo inferior direito, com
diagnóstico final de carcinoma bronquíolo alveolar
É um tumor tipicamente central, que se origina nas vias aéreas mais proximais
das células de revestimento do epitélio brônquico metaplásico. Vale lembrar
que o epitélio brônquico normal é do tipo colunar pseudoestratificado ciliar
com células glandulares, ou seja, onde estão as células escamosas? Elas se
originam por metaplasia do epitélio colunar, habitualmente relacionado a
exposição à fumaça do tabaco, um mecanismo inicial de defesa daquela
agressão; logo, é óbvia a sua relação muito grande com o tabagismo ou outras
exposições correlatas, em cerca de 95% dos casos. São tumores de localização
mais próxima aos brônquios principais e, como consequência, apresentam
características muito exploradas em questões de provas: massa pulmonar
central, pneumonia obstrutiva, atelectasia pulmonar, hemoptise, facilidade de
diagnóstico por meio de broncoscopia e biópsia endobrônquica pela fácil
visualização da lesão pelo exame endoscópico. É o tipo histológico que mais
cursa com hipercalcemia e com necrose tumoral central (cavitação). Há
metástases linfonodais e ósseas com bastante frequência.
Dica
O carcinoma epidermoide tem localização central, maior relação com
hemoptise, atelectasia pulmonar, pneumonias obstrutivas, hipercalcemia e
necrose tumoral central. O diagnóstico costuma ser facilmente realizado
pela broncoscopia.
Dica
O carcinoma de pequenas células, ou oat cells, tem maior relação com
tabagismo, localização central, grande potencial de metástases com massas
mediastinais compressivas, metástases a distância e síndrome
paraneoplásica.
Dica
O carcinoma de grandes células, ou anaplásico, tem localização periférica e
grandes massas tumorais com potencial de cavitação.
C - Achados clínicos
A maioria dos pacientes apresenta sintomas à época do diagnóstico; no
entanto, nessa fase, o tumor já percorreu mais de 60% de sua evolução
natural.
Perda de peso, anorexia e adinamia acontecem em 55 a 88% dos pacientes.
Até 60% têm nova tosse ou piora do padrão de tosse crônica, e até 1/3 pode
manifestar hemoptise (de 3 a 31%). Dor torácica ocorre em 25 a 40%.
Alterações radiográficas que não apresentam resolução com o tempo devem
levantar a suspeita de neoplasia de pulmão – principalmente consolidações
previamente consideradas como relacionadas a pneumonias e que mantêm o
padrão após 40 a 60 dias do uso de antibióticos.
Existem algumas síndromes associadas a efeitos locais do tumor: atelectasia
(Figura 3), derrame pleural, síndrome de Claude Bernard-Horner, síndrome de
Pancoast e síndrome da veia cava superior.
Figura 3 - Atelectasia do pulmão esquerdo: notar o desvio da traqueia para o mesmo lado da lesão
(seta)
Dica
A síndrome de Horner envolve ptose palpebral, miose, enoftalmia e
anidrose facial ipsilateral.
b) Síndrome de Pancoast
Dica
A síndrome de Pancoast envolve dor no ombro, parestesias e redução da
força muscular no membro afetado. Pode ter associação à síndrome de
Horner.
Dica
A síndrome da veia cava superior envolve edema de face e membros
superiores, pletora facial, ingurgitamento jugular, circulação colateral
superior, associados à dispneia e à tosse que pioram ao decúbito dorsal. As
etiologias mais frequentes são as neoplasias: carcinomas de pequenas
células pulmonares e linfomas com massas mediastinais.
D - Síndromes paraneoplásicas
Correspondem a manifestações clínicas associadas ao tumor, mas por efeito a
distância, não por proximidade. São inúmeras, e, ainda hoje, algumas não são
completamente conhecidas (Tabela 3).
Ocorrem em cerca de 10 a 20% e são mais comuns com o tipo histológico de
pequenas células. Podem preceder e ocorrer durante ou somente após o
diagnóstico. A presença delas não necessariamente indica doença metastática.
Cerca de 15% dos tumores de pequenas células manifestam secreção
inapropriada de hormônio antidiurético, e em torno de 10% dos tumores de
células escamosas desenvolvem hipercalcemia. Outras paraneoplasias são
anemia, síndrome de Cushing (secreção ectópica de ACTH),
hipercoagulabilidade, neuropatia periférica e síndrome miastênica de Eaton-
Lambert. A ginecomastia é mais comum com o tipo histológico de grandes
células, e a osteoartropatia hipertrófica (associação de baqueteamento digital
e reação periosteal em ossos longos – Figura 4) ocorre com todos os tipos,
mas raramente com os de pequenas células.
Figura 4 - Baqueteamento digital e unhas “em vidro de relógio”
a) Broncoscopia
b) Biópsia transtorácica
A punção aspirativa com agulha por via transtorácica, sem dúvida, é o método
diagnóstico que mais evoluiu na última década, para auxílio no diagnóstico de
nódulos pulmonares. É um método pouco invasivo, que pode ser realizado
somente com anestesia local e sedação leve (embora, em alguns casos, a
depender da localização da lesão e do posicionamento necessário do paciente,
possa precisar de anestesia geral). Anteriormente, era realizado somente em
lesões de localização muito periférica, de preferência em contato com a
superfície pleural. Hoje em dia, cada vez mais, são feitas biópsias de lesões
distantes da superfície pleural e com baixos índices de complicações graves.
O pneumotórax pela transfixação de parênquima pulmonar normal necessária
para o alcance da lesão-alvo é frequente (5 a 30%, dependendo, sobretudo, da
localização do nódulo e da presença de enfisema que aumenta o seu risco),
porém é adequadamente tratado com blood patch e punção aspirativa guiada
pela própria Tomografia Computadorizada (TC), eventualmente necessitando
de drenagem pleural fechada. A sensibilidade do método chega a mais de
95%, dependendo do centro onde a biópsia foi realizada (inclui aqui tipo de
tomógrafo, equipe envolvida radiologia-patologia) e da localização da lesão.
Naqueles casos em que existe limitação do método para biópsia, pode ser
importante para estereotaxia da lesão-alvo e para procedimento cirúrgico
convencional posterior.
c) Biópsia cirúrgica
A biópsia pode ser necessária quando exames menos invasivos não são
capazes de estabelecer um diagnóstico. O método de escolha hoje é a
toracoscopia videoassistida, que permite a ressecção adequada da lesão,
estadiamento ganglionar, se necessário, e a visualização de possíveis lesões de
metástases pleurais. Cada vez menos, utiliza-se a toracotomia sem o uso de
vídeo nos centros onde existe tal disponibilidade.
d) Exames de imagem
Dica
Os pacientes candidatos à cirurgia de ressecção pulmonar deverão sempre
realizar exame funcional pulmonar: VEF1 >2L ou VO2 máximo
>20mL/kg/min = permite pneumonectomia; VEF1 >1,5L ou VO2 máximo
>15mL/kg/min = permite lobectomia.
Dica
Os locais mais frequentes de metástases são adrenais, fígado, ossos e
cérebro.
H - Tratamento
Tratamento
O tratamento do câncer de pulmão depende de vários fatores, como tipo de
tumor, tamanho, localização, sua extensão e, principalmente, o estado geral
do paciente.
I - Prognóstico
2. Metástase pulmonar
Qualquer tumor maligno pode apresentar metástases no pulmão, tanto por
invasão direta quanto por extensão linfática ou vascular (Figura 7).
Raramente, a metástase pulmonar é oriunda de embolização arterial
(hipernefroma, coriocarcinoma, hepatocarcinoma, por exemplo). Em
particular, denomina-se linfangite carcinomatosa quando há envolvimento
difuso da rede linfática pulmonar. Nesse caso, tanto pode ocorrer com
tumores primários de pulmão quanto com tumores metastáticos (câncer de
mama, por exemplo).
Em estudos de autópsia, cerca de 20 a 55% dos que morreram de câncer
apresentaram achados de metástases parenquimatosas de pulmão.
Na maioria, é feito o diagnóstico do câncer de base, e, posteriormente, surgem
metástases pulmonares. Todavia, a apresentação inicial pode ser de sinais e
sintomas pulmonares (tosse, dispneia, hemoptise, cianose etc.), com
radiografia mostrando múltiplos nódulos pulmonares periféricos. Nesses
casos, o diagnóstico diferencial inclui malformações arteriovenosas
pulmonares, estafilococcemia, infecções granulomatosas, sarcoidose,
vasculite reumatoide e granulomatose de Wegener.
Figura 7 - Opacidades nodulares de tamanhos variados, com predomínio nos lobos inferiores:
achado clássico de lesões metastáticas
A - Abordagem
B - Tratamento
Em geral, deve-se tratar a doença de base e, quando isso não for possível,
fornecer cuidados paliativos. Em alguns casos, a ressecção das metástases é
factível:
Dica
O nódulo pulmonar solitário tem lesão <3cm de diâmetro, com pulmão
normal circundando-o.
Figura 8 - Nódulo pulmonar periférico em tomografia de tórax, com calcificação “em pipoca”,
característico de hamartoma
A - Diagnóstico diferencial
b) Idade
c) Tabagismo
e) Tamanho
É mais bem avaliado por TC. Um estudo recente mostrou relação direta entre
o tamanho do nódulo e a chance de câncer: nódulos menores do que 5mm têm
0,1% de chance de serem malignos; os maiores do que 2cm, 80%.
f) Velocidade de duplicação
Lesões que dupliquem de tamanho entre 30 dias e 1,5 ano sugerem etiologia
maligna; caso contrário, a probabilidade de benignidade é maior.
g) Margens
h) Cálcio
j) Cavitação
B - Avaliação complementar
a) Tomografia de tórax
Múltiplas lesões;
Detalhes do mediastino e vias aéreas centrais;
Linfonodomegalias;
Análise do nódulo após contraste: lesões malignas são mais
vascularizadas. Por isso, nódulos malignos são mais densos após
contraste intravenoso.
Dica
Convém lembrar que lesão com as mesmas características há 2 anos é
altamente sugestiva de benignidade.
Entretanto, grande parte estará em um grupo não claramente benigno e não
obviamente maligno. Nesse caso, existem algumas opções diagnósticas e
terapêuticas, com vantagens e desvantagens.
d) PET-TC
f) Videotoracoscopia
Resumo
A neoplasia de pulmão é a mais frequente em todo o mundo; no Brasil, é
aquela com maior mortalidade no sexo masculino e a segunda no
feminino e representa cerca de 13% de todos os casos novos de câncer;
Após o diagnóstico, apenas 40% continuam vivos depois de 1 ano. A
sobrevida em 5 anos é de apenas 15%;
O principal fator de risco para neoplasia de pulmão é o tabagismo,
independentemente do tipo histológico (relação maior com o carcinoma
de células pequenas e menor com o adenocarcinoma);
Os principais tipos histológicos, em ordem de prevalência, são
adenocarcinoma, carcinoma epidermoide, carcinoma de pequenas células
e carcinoma de grandes células. O adenocarcinoma e o carcinoma de
grandes células são considerados tumores periféricos; o epidermoide e de
pequenas células, centrais;
Queixas como dispneia, tosse e perda ponderal sugerem, geralmente, que
a neoplasia está em fase um tanto avançada; síndromes por efeito direto
do tumor são comuns, como síndrome de Horner (miose, enoftalmia,
ptose palpebral, anidrose ipsilateral), síndrome de Pancoast (parestesia
em membro superior, com dor e fraqueza muscular associada) e
síndrome de compressão da veia cava superior;
Síndromes paraneoplásicas são comuns em neoplasia de pulmão,
geralmente mais associadas ao carcinoma de pequenas células; fora
desse padrão estão a osteoartropatia hipertrófica (que tem o
baqueteamento digital como manifestação), mais comum no
adenocarcinoma, e a hipercalcemia, mais comum no epidermoide. Em
boa parte das síndromes paraneoplásicas, o tratamento do tumor
promove o alívio de seus sinais e sintomas;
O estadiamento é feito com base em características do tumor (T),
linfonodos (N) e metástase (M); o envolvimento pleural e de linfonodos
deve ser confirmado por análise histológica;
O único tratamento curativo para as neoplasias pulmonares é a cirurgia; a
possibilidade de tratamento depende do estágio e das condições clínicas
do paciente: tumores em estádios IIIB e IV são ditos inoperáveis, com
tratamento paliativo sugerido;
A presença de 2 ou mais nódulos no parênquima pulmonar denota
neoplasia em mais de 70% dos casos;
Os nódulos pulmonares solitários são lesões com menos de 3cm de
diâmetro à radiografia de tórax, com pulmão normal circundando e na
ausência de infiltrados, atelectasia ou linfonodomegalia;
A abordagem do paciente com nódulo pulmonar solitário depende da
estimativa de risco de neoplasia;
O exame mais relevante na avaliação de um paciente com nódulo
pulmonar é a avaliação radiológica (radiografia ou TC de tórax prévia),
principalmente dos últimos 2 anos. A presença de lesão com as mesmas
características há 2 anos é altamente sugestiva de benignidade;
As principais características de malignidade de nódulo são hábito de
fumar, tamanho superior a 2cm, bordas espiculadas e calcificação
excêntrica.