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INSTITUTO SUPEIOR MUTASA

(DELEGAÇÃO DE MAPUTO)

Curso: Direito

2º Ano – Turma ̎"A" – Pós-Laboral

Cadeira: Teoria Geral do Direito Civil II

Tema:
Responsabilidade Civil de Pessoas Coletivas e Pessoas Singulares

TRABALHO DO 1º GRUPO

Docente: Estudantes:
Msc. Osvaldo Paulo Florinda Gustavo Queha
Guidione Bento Cuna
Jamal Mamudo Ndala Uaite
Mateus Romão Cossa
Otilia Nataniel Chongo

Maputo, Outubro de 2023


TRABALHO DO 1º GRUPO

Estudante:
Florinda Gustavo Queha
Guidione Bento Cuna
Jamal Mamudo Ndala Uaite
Mateus Romão Cossa
Otilia Nataniel Chongo

Trabalho de Curso de Direito a ser


Tema:
apresentado no Instituto Superior
Responsabilidade Civil de Pessoas Coletivas e
Mutasa como um dos requisitos
Pessoas Singulares
necessários para conclusão da Cadeira
de Teoria Geral de Direito Civil II

Docente:
Msc. Osvaldo Paulo

INSTITUTO SUPERIOR MUTASA


(Delegação de Maputo)

Maputo, Outubro de 2023


Índice
Índice ..........................................................................................................................................1
CAPÍTULO I .............................................................................................................................1
1. Introdução ...............................................................................................................................1
1.2.1. Geral .................................................................................................................................2
1.2.2. Específico ..........................................................................................................................2
1.3. Metodologia .........................................................................................................................2
CAPÍTULO II ...........................................................................................................................3
2. Conceito de responsabilidade ..................................................................................................3
2.1. Conceito de Pessoas coletivas ...............................................................................................3
2.1.1. Pessoas coletivas ...............................................................................................................3
2.2. Responsabilidade civil ..........................................................................................................4
2.2.1. Conduta .............................................................................................................................5
2.2.2. Dano..................................................................................................................................5
2.2.3. Nexo de causalidade ..........................................................................................................6
2.2.4. Culpa .................................................................................................................................8
2.4. Responsabilidade civil contratual ....................................................................................... 10
2.5. Responsabilidade civil subjetiva ......................................................................................... 11
2.6. Diferença entre obrigação civil e responsabilidade civil ...................................................... 12
2.7. Responsabilidade civil subjetiva x objetiva ......................................................................... 12
2.8. As pessoas singulares ........................................................................................................ 13
2.8.1. O ser humano enquanto pessoa jurídica ........................................................................... 14
2.9. Jurisprudência .................................................................................................................... 15
Conclusão ................................................................................................................................ 16
Referências Biliográficas .......................................................................................................... 17
CAPÍTULO I

1. Introdução
O presente trabalho de pesquisa versa sobre o tema: “Responsabilidade Civil de Pessoas Coletivas
e Pessoas Singulares”, esta pesquisa centrar-se-á na origem do surgimento da sociedade, com
enfoque nas regras, normas, conduta e cultura social. Neste contexto apresentar-se-á com a
sociedade em constante desenvolvimento e mutação, urge solucionar determinados aspetos
jurídicos que, até muito recentemente, não eram encarados como proeminentes.

Em consequência, a pesquisa e a investigação do regime civil responsabilidade de pessoas


coletivas e das pessoas singulares têm vindo a merecer, por parte da doutrina, um enfoque elevado.

Nesta ordem, as pessoas coletivas são um prolongamento das pessoas humanas, existe equiparação
analógica de regimes entre as pessoas coletivas e as pessoas singulares. A personalidade jurídica
equivale à aptidão para ser titular autónomo de relações jurídicas, ou seja, é a medida concreta de
direitos e obrigações de que são suscetíveis. De forma a alcançar esta noção, tem-se que ter em
conta a realidade concreta do ser humano e o Direito permite regular a atividade do ser humano na
prossecução de interesses e na realização de determinados fins. Estes fins ou interesses podem ser
individuais ou coletivos, ou seja, podem respeitar ao ser humano individualmente considerado, ou
ser comum aos membros de uma sociedade.

Já na responsabilidade civil, aquiliana ou delitual, que é regra geral, sabe-se que quem ilicitamente
violar os direitos de outrem, cairia em responsabilidade1 (483º); esta modalidade não se associa a
qualquer presunção de culpa2 (487º). No entanto, a doutrina tem-se questionado quanto à
possibilidade de os direitos de crédito darem azo a responsabilidade aquiliana. E, perante a
importância de tutelar dadas situações injustas, a doutrina desenvolveu dois institutos: a tutela
relativa de direitos absolutos e a tutela absoluta de direitos relativos. Sendo o Direito uma ciência
que pode ser definida como um conjunto de regras que disciplinam a atividade humana, é
decorrente desta relação entre o ser humano e o Direito, que se considera o próprio Direito com
um fenómeno de cariz social e humano.

1
Responsabilidade por factos ílicitos, nº1 do artigo 483° do Código Civil.
2
Culpa, nº1 do artigo 487° do Código Civil.

1
1.2 Objetivos

A Teoria Geral do Direito Civil é considerada disciplina introdutória ao Curso de Direito, servindo
de base e compreensão para os demais ramos do Direito Civil, por isso, o discente tem que estar
habilitado às figuras introdutórias.

1.2.1. Geral
 Analisar o procedimento da responsabilidade civil de pessoas coletivas e singulares no
ordenamento jurídico moçambicano.

1.2.2. Específico
 Identificar as circunstâncias em que é chamada a responsabilidade civil de pessoas
coletivas e singulares no ordenamento jurídico moçambicano.
 Refletir sobre as razões que levam os cidadãos Moçambicanos lesados pelos actos de que
merecem a sua restituição e não exigir o ressarcimento;

1.3. Metodologia
Segundo LAKATOS e MARCONI (19873, p.15), a pesquisa pode ser considerada um
procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e
se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdade parciais.

Desta feita, segundo GOMES Micheline Dayse Batista4, a pesquisa virtual ou online é um método
de investigação que envolve a coleta de informações com o auxílio da internet. Além disso, com
o advento da internet as técnicas tradicionais de pesquisa com papel e caneta sofreram grande
impacto.

3
MARINA DE ANDRADE MARCONI EVA MARIA LAKATOS, Fundamentos de Metodologia Científica SÃO PAULO 5º
Edição EDITORA ATLAS S.A. – 2003.
4
GOMES, Micheline Dayse Batista, Jornalista e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

2
CAPÍTULO II

2. Conceito de responsabilidade

De acordo com o Dicionário Jurídico de José Naufel (1997, p.729), responsabilidade é a


“obrigação de responder pelos próprios atos e seus efeitos, ou por atos de terceiros, em virtude de
lei ou convenção”.

Para Lopes (2000, p.550): A violação de um direito gera a responsabilidade em


relação ao que a perpetrou. Todo ato executado ou omitido em desobediência a uma
norma jurídica, contendo um preceito de proibição ou de ordem, representa uma
injúria privada ou injúria pública, conforme a natureza dos interesses afetados, se
individuais ou coletivos. Daí a ideia do ato ilícito, que se caracteriza ou por uma
ação ou omissão (...). Assim, o transgressor da lei, que viola o direito ou causa
prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano e incorre, assim, em
responsabilidade.

2.1. Conceito de Pessoas coletivas

Cfr. o no n⸰1 do artigo 33° do CC, que a “pessoa coletiva tem como lei pessoal a lei do Estado
onde se encontra situada a sede principal e efetiva da sua administração”.

2.1.1. Pessoas coletivas

São organizações constituídas por uma coletividade de pessoas ou por uma massa de bens,
dirigidos à realização de interesses comuns ou coletivos, às quais a ordem jurídica atribui a
Personalidade Jurídica.

É um organismo social destinado a um fim lícito que o Direito atribui a suscetibilidade de direitos
e vinculações.
Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente por bens, que
constituem centros autónomos de relações jurídicas.

'A personalidade jurídica tem como definição quase invariável a «suscetibilidade de ser sujeito de
direitos e obrigações».

3
A personalidade jurídica pode ser singular ou coletiva.
É singular quando referida a pessoa humana. Neste caso, adquire-se no momento do nascimento
completo e com vida e cessa com a morte.
É coletiva quando referida a organizações de pessoas e/ou de bens (v. g. associações e fundações).
Neste caso, começa com a constituição e o reconhecimento e cessa com a dissolução da pessoa
coletiva, sua liquidação e transmissão dos seus bens.

2.2. Responsabilidade civil

Mas afinal, o que é responsabilidade civil?

Responsabilidade civil5 é o dever legal de reparação por um dano, patrimonial ou não, que alguém
tenha causado a outra pessoa.

Para aprofundar o tema sobre responsabilidade civil, é importante introduzir algumas definições.
No âmbito jurídico, dever é entendido como obrigação, legal é imposição por lei, reparação é a
restauração a um estado anterior, dano é um prejuízo e a causa é a relação de causa e consequência.

A responsabilidade civil significa ser responsável pelas consequências de uma


ação ou omissão que causou danos a outra pessoa. O objetivo principal é
compensar a vítima pelos danos sofridos, oferecendo uma indenização adequada.

Para solucionar essa dúvida recorremos aos ensinamentos do Prof. Sílvio de Salvo Venosa6 (2009,
p.1), que lembra que a atividade humana pode ou não resultar num dano. Em havendo esse dano,
nasce para a vítima o direito de tê-lo reparado (seja pelo retorno ao estado anterior ou mediante o
pagamento de uma indenização para compensar financeiramente o evento causado).

Essa é a ideia central da responsabilidade civil (dano x reparação).

Ainda, nessa mesma linha de pensamento, continua lecionando que:

Haverá, por vezes, excludentes que impedem a indenização, como veremos. O


termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa,

5
Secção V, Subsecção I CC
6
Prof. Sílvio de Salvo Venosa (2009, p.1).

4
natural ou jurídica, deva arcar com as consequências de um ato, fato ou negócio
jurídico. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever
de indenizar;

Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto de


princípios e normas que regem a obrigação de indenizar.

De forma resumida, temos como requisitos indispensáveis para que haja a responsabilização civil:
a) Conduta humana ilícita (que pode ser por ação ou omissão seja dolosa ou culposa);
b) Existência de um dano;
c) Nexo de causalidade entre esse dano e a referida conduta.
d) Culpa aplicada em determinados casos.

2.2.1. Conduta

Preconiza o nº1 do artigo 487º7 CC que a conduta nada mais é do que uma ação, omissão ou uma
conduta humana que produz consequências jurídicas. Pelo texto legal, define-se que a conduta
causadora de um dano é ilícita, como pode se observar adiante.
Responsabilidade por factos ilícitos: art.483º CC
“Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito
de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger
interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos
resultantes da violação”.

2.2.2. Dano

Para a caracterização da responsabilidade civil e, por consequência, o dever de indemnizar a


consequência de tal ação ou omissão ato ilícito deve ser o dano. Sem dano, não há dever de
indenizar, não se caracteriza a responsabilidade civil.

7
Omissões As simples omissões dão lugar à obrigação de reparar os danos, quando, independentemente dos outros
requisitos legais, havia, por força da lei ou do negócio jurídico, o dever de praticar o omitido.

5
O dano, para fins de responsabilização civil, pode ser patrimonial ou não patrimonial8 (material)
quanto extrapatrimonial, também dividido em danos de caráter moral9 ou estético.
O conceito de dano, para os estudiosos do Direito, não é muito harmônico. Entretanto, sabe-se que
está intimamente ligado à ideia de prejuízo. Portanto, nem sempre um ato ilícito poderá resultar
em um dano, e por essa razão, parece-nos correto afirmar que não haverá a necessidade de
reparação do dano se não houver um efetivo prejuízo.

Em relação à vítima, pode ser classificado como individual ou coletivo.

Em qualquer dos casos, será definido como dano material (como já explicamos anteriormente, é
aquele que se pode traduzir em uma quantia em dinheiro. Ex: quebrou o vidro, deverá providenciar
outro) ou dano moral (de índole psicológica, ou seja, interna de um indivíduo, que atinge sua
personalidade).

Cfr o n⸰1 do art, 253.° CC, “entende-se por dolo qualquer sugestão ou artifício que alguém
empregue com a intenção ou consciência de induzir ou manter em erro o autor da declaração, bem
como a dissimulação, pelo declaratório ou terceiro, do erro do declarante”.

2.2.3. Nexo de causalidade

E o que liga a conduta ao dano é justamente o nexo de causalidade, ou nexo causal. Se há apenas
conduta, sem dano, não se fala em responsabilidade civil. E se há dano, por si só, sem restar
comprovada uma conduta, igualmente.
Em contrapartida, diferentemente do que ocorre no direito penal, o nexo causal desempenha um
papel crucial no Direito Civil, especialmente no âmbito da responsabilidade civil, estabelecendo
assim o liame de conexão, como citado no capítulo anterior, da relação de causa e efeito entre a
conduta do agente e o dano sofrido pela vítima, sendo um elemento fundamental para determinar
a responsabilidade civil e a reparação dos prejuízos.
Entende-se responsabilidade civil como:

8
Artigo 496° CC, Danos não patrimoniais “1. Na fixação da indemnização deve atender-se aos danos não patrimoniais
que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito.
9
Artigo 484° CC, Ofensa do crédito ou do bom nome “Quem afirmar ou difundir um facto capaz de prejudicar o
crédito ou o bom nome de qualquer pessoa, singular ou colectiva, responde pelos danos causados”.

6
A responsabilidade civil é a obrigação de recompor o dano injustamente
causado a alguém, impondo ao seu autor o dever de repará-lo, restituindo o
equilíbrio jurídico e material que foi rompido. É um instituto que visa
assegurar a justiça nas relações sociais, promovendo a compensação do
prejuízo suportado pela vítima e desestimulando condutas lesivas
(GAGLIANO, 2022, p.3).

No Direito Civil, o nexo causal busca estabelecer se a conduta do agente foi a causa efetiva e direta
do dano, ou seja, se a ação ou omissão do agente foi o fator determinante para a produção do
resultado lesivo. Para isso, é necessário analisar se a conduta do agente foi a causa necessária e
suficiente para a ocorrência do dano, levando em consideração os elementos de causalidade
adequada.
A causalidade adequada é um critério utilizado no Direito Civil para determinar qual foi a causa
mais provável e relevante para atribuir a responsabilidade civil ao agente. A referida teoria
considera não apenas a causa direta, mas também aquela que, de acordo com a experiência comum,
é a causa mais adequada para explicar o dano.
Assim explica Venosa:

A teoria da causalidade adequada busca identificar a causa mais provável e


relevante para atribuir a responsabilidade civil ao agente, considerando não
apenas a causa direta, mas também aquela que, de acordo com a experiência
comum, é a causa mais adequada para explicar o dano. Assim, a causalidade
adequada não se limita a uma relação de causa única e exclusiva, mas
abrange a causa que, segundo os critérios de razoabilidade e probabilidade,
é a mais apta a produzir o resultado danoso (VENOSA, 2016, p.95).

A prova do nexo causal é um aspeto essencial no Direito Civil. A parte que alega a existência de
um dano causado pela conduta de outra pessoa deve apresentar provas que demonstrem de forma
convincente a relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do agente e o dano sofrido. Essas
provas podem incluir testemunhos, documentos, laudos periciais e outros elementos que
corroborem a existência do nexo causal.

7
2.2.4. Culpa

Doutrinariamente, há divergência quanto à necessidade da configuração de culpa para a

responsabilidade civil, principalmente quando se adentra na discussão acerca da responsabilidade

objetiva e subjetiva. O conceito de culpa segundo CHRISTIAN RANG10 (1886, p.67) explica que

não estava ainda nesta época suficientemente desenvolvido, certo é que o ato deveria ser ilícito,

mas não tinha de se demonstrar que poderia ter sido evitado pelo agente.

Autores como os Mazeaud, afirmam que “En matière de responsabilité contractuelle, le


droit romain classique n’ignorait pas non plus tout à fait la nécessité de la faute; mais il
est loin de lui avoir donné la place que l’on croit”11. Portanto, exigirse-ia um delito, uma
infração, mas sem os contornos que hoje lhe atribuímos.

Apoiando o entendimento de Arangio-Ruiz, o sistema aproximava-se mais do que hoje


conhecemos como responsabilidade objetiva: definidos os contornos do contrato, haveria
duas possibilidades.

Deste modo, é possível afirmar que o abuso de direito é objetivo, não exige culpa, para se
concretizar, mas antes faz cessar uma permissão de agir, em nome do sistema.

A título de exemplo: o C penetra no círculo de A e B, obtendo informações privilegiadas,


induzindo A a não cumprir com suas obrigações contratuais, incorre que, em abuso de direito, por
violar deveres fundamentais de confiança e da tutela da materialidade subjacente (boa-fé).

Em suma, distinga-se duas soluções possíveis:


a) Abuso de direito: quando haja uma contratação que seja incompatível com
a obrigação preexistente; considera-se ilícita a conduta do terceiro, que
impede que se aplique a liberdade contratual; dá lugar a responsabilidade
delitual do terceiro.

10
CHRISTIAN RANG, Die Haftung des Schuldners für Dritte nach gemeinem Recht, Bona, Universitäts-Buchdruckerei
von Carl Georgi, 1886, p. 67. Cf. ainda, sobre o tema, GIANNETTO LONGO, Manuale Elementare di Diritto Romano,
Torino, Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1939, pp. 66 e seguintes.
11 HENRY MAZEAUD / LÉON MAZEAUD / ANDRÉ TUNC, Traité théorique et pratique de la responsabilité civil
délictuelle et contractuelle, Tome premier, ob. cit., p. 38.

8
b) Violação do princípio da boa-fé: quando ocorra violação da titularidade,
que também dá lugar a responsabilidade delitual do terceiro.
De acordo com Venosa (2009, p.23), culpa “é a inobservância de um dever que o agente deveria
conhecer e observar”, em suma “contém uma conduta voluntária, mas com resultado involuntário,
a previsão ou a previsibilidade e a falta de cuidado devido, cautela e atenção”.

Podemos resumir culpa como sendo uma atitude ou falta de atitude que causa uma consequência
não desejada. Pode se dar por falta de conhecimento técnico ou despreparo profissional (também
chamada de imperícia), por preguiça ou indiferença (negligência) ou desatenção às regras que
deveriam ser observadas (imprudência).

Podemos resumir culpa como sendo uma atitude ou falta de atitude que causa uma consequência
não desejada. Pode se dar por falta de conhecimento técnico ou despreparo profissional (também
chamada de imperícia), por preguiça ou indiferença (negligência) ou desatenção às regras que
deveriam ser observadas (imprudência).

A noção civil da culpa é confirmada pelo Código Penal12, ao conceituar um crime culposo como
aquele “quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”
(art.13 CP13).

2.3. Imputabilidade
De maneira simplista, imputabilidade se traduz na possibilidade de se atribuir a alguém alguma
responsabilidade. E para tanto, será necessário verificar se essa pessoa possuir alguns requisitos
pessoais mínimos. Para melhor, exemplifica Venosa (2009, p.66) explica que:

12
(Dolo) artigo 12° do Código Penal aprovado pela Lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro.
“1.Age com dolo quem, representando um facto que preenche um tipo legal de crime, actuar com intenção de o
realizar.”
2.Age ainda com dolo quem representar a realizaçãode um facto que preenche um tipo de crime como consequência
necessária da sua conduta.
3. Quando a realização de um facto que preenche um tipode crime for representada como consequência possível da
conduta, há dolo se o agente actuar conformando-se com a sua realização.
13
(Neglegência) Age com negligência quem, por não proceder com o cuidado a que, segundo as circunstâncias, está
obrigado e de que é capaz:
a) Representar como possível a realização de um facto que preenche um tipo de crime, mas atuar sem se
conformar com essa realização; ou
b) Não chegar sequer a representar a possibilidade de realização de um facto que preenche um tipo de crime.

9
Se o agente, quando da prática do ato ou da omissão, não tinha condições de
entender o caráter ilícito da conduta, não pode, em princípio, ser
responsabilizado. Nessa premissa, importa verificar o estado mental e a
maturidade do agente. Para que o agente seja imputável, exige-se lhe capacidade
e discernimento. A imputabilidade retrata a culpabilidade. Não se atinge o
patamar da culpa se o agente causador do dano for inimputável art. 488 CC14.

No mesmo sentido arremata Lopes (2000, p.551) que a imputabilidade “define-se como sendo
determinação da condição mínima necessária a ser um fato referido e atribuído a alguém, como o
autor do mesmo e com o objetivo de torná-lo passível das consequências”.
Pois bem, várias são as situações em que uma pessoa pode ser inimputável, dentre as quais
destacamos: menores de 16 (dezesseis)15 anos de idade, os que não possuem o necessário
entendimento.
Em regra, se o agente causador do dano não detiver imputabilidade, outra pessoa poderá por ele
responder pelos prejuízos causados. Exemplo: o pai responderá pelo filho menor de idade, o
empregador responderá pelos atos praticados pelos seus empregados, etc.

Artigo 48 do CP, Não são suscetíveis de imputação16:


a) os menores que não tiverem completado 16 anos; e
b) os que sofrem de anomalia psíquica sem intervalos lúcidos.

2.4. Responsabilidade civil contratual

A responsabilidade civil contratual17 é o campo de estudo das consequências do não cumprimento


das obrigações jurídicas (tecnicamente chamada de inadimplemento) decorrentes de contratos ou

14
Imputabilidade
1. Não responde pelas consequências do facto danoso quem, no momento em que o facto ocorreu, estava, por
qualquer causa, incapacitado de entender ou querer, salvo se o agente se colocou culposamente nesse estado,
sendo este transitório.
2. Presume-se falta de imputabilidade nos menores de sete anos e nos interditos por anomalia psíquica.
15
artigo 48 (Inimputabilidade absoluta) do Código Penal aprovado pela
16
Os menores so ineputaveis no caso de se vazer passer por maior ou emacipado cfr artigo 126 CC.
17
Responsabilidade civil extracontratual

10
negócios jurídicos em geral. Neste caso, a fonte de obrigações é o próprio contrato entabulado
entre as partes. Para caracterizar o descumprimento do contrato e, portanto, a responsabilidade,
basta o credor demonstrar que o devedor não respeitou suas obrigações no prazo e forma
pactuados.

Tem, por essa razão, fundamento no dever genérico de não causar dano a outrem, sob pena de
responsabilização civil do causador.

Para melhor ilustrar, analisemos o seguinte exemplo: em um acidente de trânsito, se o A não


respeitar o semáforo e passar no sinal vermelho, vindo a causar um acidente com B, terá a
obrigação “extracontratual” (legal) de corrigir integralmente o dano causado ao B.

Em relação ao ônus da prova, é um pouco mais complicado, pois ao credor (vítima) cabe
demonstrar que o fato ilícito se deu por culpa do agente. No paralelo com o exemplo acima, deverá
comprovar que o responsável pelo acidente “furou” o sinal.

2.5. Responsabilidade civil subjetiva

Essa modalidade de responsabilidade civil é, a mais clássica.

Isto porque leva em consideração a vontade do agente em causar um ato ilícito (dano), seja por
dolo (vontade expressa) ou por culpa (negligência, imprudência ou imperícia).

Relembre os conceitos de culpa (negligência, imprudência ou imperícia). Pois bem, na


responsabilidade civil subjetiva abre-se uma variante: pode ser direta (quando o próprio agente
responde pelo dano que causar) ou indireta (quando a lei previr a responsabilidade de alguém
por algum dano causado por outra pessoa).

Segundo Jorge Neto e Cavalcante (2005, p.753), a responsabilidade civil objetiva é aquela que é
aplicada sem verificar se houve dolo ou culpa do agente causador do dano.

Já na responsabilidade civil extracontratual, também conhecida como “aquiliana”, a situação é bem diferente, pois
não há partes previamente definidas, muito menos um contrato para dar origem a direitos e obrigações.
Basta causar um dano, uma lesão, um prejuízo a um indivíduo ou mesmo a uma pessoa jurídica (empresa),
seja ele de ordem material financeira ou mesmo moral (atingindo o psicológico), nascerá desse ato o dever
de reparar o dano.

11
Pode-se afirmar que é a nova tendência da responsabilidade civil considerá-la como objetiva, pois
modernamente tem-se entendido que a culpa não é elemento para caracterizar o dever de
indemnizar, bastando a ocorrência do dano em si e seu nexo.

2.6. Diferença entre obrigação civil e responsabilidade civil

A obrigação civil é o dever dos cidadãos em cumprirem com as normas civis, impostas em seu
ordenamento (local, nacional, internacional). Já a responsabilidade civil advém como
consequência de alguma ação anterior. Não se trata de uma obrigação originária, mas sim de um
dever de reparação, justamente de algo que foi realizado anteriormente e que causou prejuízo a
outrem.

É importante não confundir obrigação com responsabilidade civil. A obrigação é definida por si
mesma, há um dever de comportamento originário, decorrente das normas jurídicas de
determinado ordenamento.

2.7. Responsabilidade civil subjetiva x objetiva

O elemento culpa norteia a concepção de responsabilidade civil subjetiva quando há um sujeito


que opera, pessoalmente, em algum dos requisitos da culpa: imperícia, imprudência, negligência.

A recondução da responsabilidade pela custódia à responsabilidade objetiva não pode, no entanto,


ser feita sem prévia ponderação. Com efeito, é bom ter em consideração que, à data em questão, o
conceito de responsabilidade objetiva era inexistente18. Por outro lado, é inegável que a custódia
surge conexionada com o dever de guardar. Assim, é no mínimo duvidoso que se tratasse de
responsabilidade objetiva, pelo menos nos moldes em que hoje a conhecemos.

Pelo que, apesar de algumas dúvidas, o entendimento descrito, de que a custódia dava origem a
uma responsabilidade objetiva, tem vindo a ser questionado por alguns autores 19.

18
Assim, G. C. J. J. VAN DEN BERGH, Custodia and furtum pignoris, ob. cit., p. 603.
19
ROBAYE, RENÉ, L’obligation de garde. Essai sur la responsabilité contractuelle en Droit Romain, ob. cit.

12
Nas palavras de Caio Mário da Silva Pereira:

A essência da responsabilidade subjetiva vai assentar, fundamentalmente, na


pesquisa ou indagação de como o comportamento contribui para o prejuízo sofrido
pela vítima. Assim procedendo, não considera apto a gerar o efeito ressarcitório um
fato humano qualquer. Somente será gerador daquele efeito uma determinada
conduta que a ordem jurídica reveste de certos requisitos ou de certas
características.

Assim considerando, a teoria da responsabilidade subjetiva erige em pressuposto


da obrigação de indenizar, ou de reparar o dano, o comportamento culposo do
agente, ou simplesmente a sua culpa, abrangendo no seu contexto a culpa
propriamente dita e o dolo do agente.”

Por outro lado, a responsabilidade objetiva é justamente quando surge o dever de indenizar sem a
necessidade de culpa, diante de uma permissão legal.

2.8. As pessoas singulares

O ser humano é um ser voluntária e iminentemente social, que se desenvolve em função das
relações sociais que estabelece com a sociedade em que está inserido.

De acordo com Pereira de Sousa20 (2013), a sociedade é o resultado da associação de indivíduos


que apresentam interesses comuns e que procuram realizar esses objetivos em conjunto, formando
grupos de interesses. Os indivíduos realizam os seus interesses particulares através de
comportamentos concorrenciais, que envolvem uma permanente disputa de bens escassos, e
cooperando uns com os outros acabam por participar na realização dos interesses coletivos, o que
fazem de uma forma organizada e estruturada. No entanto, por vezes, acontece que o Homem
procura impor a sua vontade aos restantes elementos do grupo, originando, consequentemente,
momentos de tensão e até mesmo de conflito nas relações sociais. Daqui se justifica o aparecimento
da ordem jurídica.

20
Pereira de Sousa, D. (2013). Noções Fundamentais de Direito Coimbra: Coimbra Editora.

13
Esta vida em sociedade exige, de uma forma natural, a presença e a tutela do Direito. A ordem
jurídica surge, assim, como um complexo conjunto de regras que procura regularizar a vida em
sociedade, para a tornar o mais justa, segura e harmoniosa possível (Oliveira Ascensão, 2000).

Para Baptista Machado 21 (2002), pode-se dizer que o ser humano está envolvido numa ordem
social preexistente, onde, em regra, se verifica um ajustamento conforme da conduta dos
indivíduos a estruturas de ordem de comportamento que os envolvem e os dirigem em todas as
suas relações sociais, a que é chamado de Direito ou ordem jurídica. A ordem jurídica constitui,
assim, uma parte integrante e necessariamente complementar da ordem social global, ou seja,
participa da ordem social global e é co-construtiva dela.

2.8.1. O ser humano enquanto pessoa jurídica

O conceito de personalidade jurídica, no seu significado substancial, deriva da própria natureza


humana e, assim sendo, poderíamos pensar que, na pureza do princípio, apenas o ser humano
poderia ser considerado pessoa jurídica, embora esta regra conheça diversas excepções que
resultam da circunstância do Direito atribuir igualmente essa qualidade às pessoas coletivas
(Pereira de Sousa, 2013).

Refere ainda Pais de Vasconcelos 22 (2006) que o Direito não tem poder nem legitimidade para
atribuir a personalidade individual, já que ele apenas se limita a constatar e a verificar a qualidade
de ser humano, daí que o Direito de Personalidade esteja relacionado com a posição das pessoas
humanas no Direito e com a consequente exigência da sua dignidade.

À personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica ou a capacidade de gozo de direitos, tal


como considera o art. 66.º do CC, que estabelece que “as pessoas podem ser sujeitos de quaisquer
relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário: nisto consiste a capacidade jurídica”.

Percebe-se assim que a personalidade jurídica corresponde a uma aptidão para ser titular autónomo
das relações jurídicas e, nas pessoas singulares, esta aptidão é uma exigência do direito à dignidade
e ao respeito que se tem de reconhecer a todos os seres humanos e não uma mera técnica de

21
Baptista Machado, J. (2002). Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador 13ª reimpressão. Coimbra:
Almedina.
22
Pais de Vasconcelos, P. (2006). Direitos de Personalidade Coimbra: Almedina.

14
organização (Mota Pinto & Pinto Monteiro, 2005). Esta aptidão é, nas pessoas singulares, uma
exigência do Direito ao respeito e à dignidade que se deve reconhecer a todos os indivíduos. Por
outro lado, nas pessoas coletivas, trata-se de um processo técnico de organização das relações
jurídicas conexionadas com um dado empreendimento coletivo.

Para CLÓVIS (2000)23, todo ser humano é sujeito da relação jurídica. Mas não é somente a ele
que o ordenamento legal reconhece esta faculdade. No anterior estudamos a pessoa natural e a sua
aptidão genérica para ser sujeito ativo ou passivo de direito, o seu poder de exerce lo ou obrigar
se. Mas a complexidade da vida civil e a necessidade da conjugação de esforços de vários
indivíduos para a consecução de objetivos comuns ou de interesse social, ao mesmo passo que
aconselham e estimulam a sua agregação e polarização de suas atividades, sugerem ao direito
equiparar à própria pessoa natural certos agrupamentos de indivíduos e certas destinações
patrimoniais e lhe aconselham atribuir personalidade e capacidade de ação aos entes abstratos
assim gerados. Surgem, então, as pessoas jurídicas, que se compõem, ora de um conjunto de
pessoas, ora de uma destinação patrimonial, com aptidão para adquirir e exercer direitos e contrair
obrigações.

2.9. Jurisprudência

Exemplo: Caso Enron (2001).

Enron Corporetion foi um exemplo notório de fraude financeira em grande escala. A empresa
forneceu informações financeiras falsas que levaram a investigadores a sofrer a sofrerem perdas
substanciais quando a fraude foi desvendada. Neste caso, tanto a pessoa coletiva (Enron) quanto a
pessoas singulares, incluindo altos executivos, foram responsabilizadas por práticas fraudulentas
e violações de valores mobiliários.

23
Clóvis Beviláqua, Teoria Geral, § 17; Cunha Gonçalves, Tratado, I, tomo 2, nº 117.

15
Conclusão

Diante de tudo exposto, compreende-se que a responsabilidade civil faz parte do cotidiano dos
cidadãos, devendo seu estudo seguir os liames legais para a busca da aplicação e da defesa das
penalidades civis, comumente revertidas em indemnizações pecuniárias.

O conhecimento do preenchimento dos pressupostos de sua caracterização é de extrema


importância, tanto para o ofendido, quanto para o suposto ofensor, como demonstrado na pesquisa
acima.

Assim, a responsabilidade civil seja de pessoas coletivas assim como singulares é tema de grande
valia, notadamente para os aplicadores do Direito, sendo matéria de necessário conhecimento e
reciclagem, eis que todos estão sujeitos a sofrerem e causarem danos, intencionais ou não,
decorrentes de culpa, ou não.

O seu conhecimento resulta numa proteção jurídica tanto para responder a uma ofensa, quanto a
um ofendido, de modo que o nexo criado pela conduta e o dano tenha como fim a aplicação justa
da Lei.

16
Referências Biliográficas

 CAMILA Betoni, Mestrado em Sociologia Política (UFSC, 2014) Graduação em Ciências


Sociais (UFSC, 2011.
 CASTRO, Eduardo Viveiros. O conceito de sociedade em antropologia: um sobrevôo.
 DURKHEIM, Émile, As Regras do Método Sociológico.
 G. C. J. J. VAN DEN BERGH, Custodia and furtum pignoris, ob. cit., p. 603.
 Gagliano, Pablo Stolze; Pamplona Filho, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil:
Responsabilidade Civil. 15ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2022.

 GOMES, Micheline Dayse Batista, Jornalista e doutoranda pelo Programa de Pós-


Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
 MORIN, Edgar. O método 5: a humanidade da humanidade. 3 ed. Porto Alegre: sulina,
2015.

 MARINA DE ANDRADE MARCONI EVA MARIA LAKATOS, Fundamentos de


Metodologia Científica SÃO PAULO 5º Edição EDITORA ATLAS S.A. – 2003.

 Pais de Vasconcelos, Teoria Geral do Direito Civil, op. cit., p. 15., Teoria Geral, Relatório,
op. cit., p. 60.

 Oliveira Ascensão, O Direito, op.cit., pp. 25-32, 203.

 Venosa, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 16ª ed. São Paulo: Atlas.
2016.

 in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte


iul.pt/consultorio/perguntas/o-conceito-de-personalidade-juridica/19061 [consultado em
25-10-2023]

Leis apicadas:

 Código Civil e

 Código Penal.

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