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DOENÇAS OPORTUNISTAS DA SIDA

DIAGNÓSTICO PRESUNTIVO
● Retinite por citomegalovírus; DIAGNÓSTICO DEFINITIVO
● Herpes simples mucocutânea; ● Candidose de traquéia, brônquios ou pulmões;
● Candidíase do esôfago; ● Criptococose extrapulmonar;
● Citomegalovirose sistêmica; ● Criptosporidiose intestinal crônica (por período
● Leucoencefalopatia multifocal progressiva; superior a um mês);
● Pneumonia por Pneumocystis jirovecii; ● Coccidioidomicose, disseminada ou
● Toxoplasmose cerebral; extrapulmonar;
● Micobacteriose disseminada; ● Histoplasmose disseminada
● Isosporidiose intestinal crônica
● Sepse recorrente por Salmonella (não tifóide)
● Reativação de doença de Chagas
(meningoencefalite e/ou miocardite)

DOENÇAS PRESUNTIVAS

Doença Agente Etiológico Manifestações Clínicas

● Os dois sorotipos de herpes simples podem determinar um quadro


HERPES SIMPLES Herpesvírus persistente, atípico, agressivo e de diagnóstico difícil, nos pacientes
humanos tipos 1 e com HIV;
2 (HSV-1 e HSV-2)
● Aqueles que apresentam relativa preservação da função imunitária
podem apresentar expressões benignas e relativamente comuns de
infecção herpética. Já os quadros persistentes e agressivos estão
associados a condições imunitárias mais precária;
● O herpes simples é polimorfo e pode manifestar-se como sintoma banal
(prurido, ardor) ou com aspecto inesperado de erosão, bolha isolada,
ulcerada, pustulosa, hiperqueratótica ou escara;
● Lesões orais de herpes simples podem apresentar-se como aftas ou
bolhas.

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● A citomegalovirose em indivíduos com HIV é causa comum de infecção
da retina, trato digestivo e dos pulmões;
CITOMEGALOVIROSE Citomegalovírus ● Ocasionalmente, determina lesões dermatológicas ceratósicas
(vírus da herpes
persistentes, vasculite, nódulos e placas pigmentadas, bem como
humana do tipo 5)
lesões vesico-bolhosas;
● Também são produzidos quadros atípicos de úlceras anogenitais
resistentes, de diagnóstico difícil, e de lesões orais em mucosa bucal e
língua;
● Na fase terminal da AIDS, a infecção por CMV causa retinite em até
40% dos pacientes e anormalidades da retina visíveis ao fundo de olho

CANDIDÍASE DO Candida albicans ● Ocorre regularmente como infecção ginecológica em mulheres com
ESÔFAGO (fungo) HIV, sob a forma vulvovaginal com leucorreia intensa;
● Acomete cavidade oral e as pregas, brônquios, traqueia, pulmões e
Atenção pois a candidíase esôfago;
da traquéia, brônquios e ● A forma mais comum é a candidíase pseudomembranosa, conhecida
pulmões é de diagnóstico como “sapinho”. Em sua forma aguda, podemos notar que a mucosa
apresenta-se hiperêmica, recoberta por placas lisas, branco-
definitivo
amareladas, de consistência cremosa, fracamente aderidas, recobrindo
intensamente toda a região orofaríngea, onde nota-se a presença de
placas confluentes.

○ Essas placas são constituídas fundamentalmente por: epitélio


descamado, fibrina, restos necróticos, resíduos alimentares,
leucócitos e bactérias, entremeados pelas hifas dos fungos;

● Pode produzir, em casos mais graves, esofagite, com disfagia e dor


retroesternal intensas ⇒ vem acompanhada da candidíase oral
● afeta tbm pacientes imunossuprimidos como recém-transplantados,
diabéticos, com uso crônico de glicocorticoide
● O diagnóstico é feito por meio de endoscopia ⇒ As lesões encontradas na
endoscopia são placas esbranquiçadas em mucosa de trato digestivo

● Reativação da toxoplasmose quando a imunossupressão está muito


ENCEFALITE Toxoplasma gondii baixa
TOXOPLÁSMICA (protozoário) ● As manifestações dependem principalmente da topografia e do número
(TOXOPLASMOSE
de lesões e incluem: cefaléia, febre, alterações neurológicas focais,
CENTRAL)
convulsões, confusão mental, ataxia, letargia, alterações de pares
cranianos, alterações visuais;
● Também podem ser observados alterações da fala, síndromes
cerebelar, demencial e de hipertensão intracraniana, alterações de
comportamento e movimentos involuntários.

● O HIV aumenta a suscetibilidade à infecção primária e à reativação,


MICOBACTERIOSE produzindo um impacto notável na epidemiologia e história natural da
DISSEMINADA Mycobacterium tuberculose.
avium
● Presente em outro órgão que não o pulmão → tuberculose pode surgir
antes de estar na fase de SIDA

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● Não pode ser Mycobacterium tuberculosis ou leprae

● A pneumocistose é uma das infecções oportunistas mais prevalentes


Pneumocystis em pacientes com AIDS e, comumente, a primeira manifestação da
PNEUMOCISTOSE doença em indivíduos sem diagnóstico prévio de infecção pelo HIV;
jirovecii (fungo)
● Além do Pneumocystis jirovecii, outros fungos podem causar
pneumonias nesses pacientes, porém raramente como forma isolada
de apresentação;
● Os sintomas incluem febre tosse, dispneia, pneumotórax e derrame
pleural
● Cursam com aumento dos níveis séricos da DHL (desidrogenase
láctica).

LEUCOENCEFALOPATIA ● O JC (John Cunningham vírus) é um papovavírus humano ubíquo


MULTIFOCAL Reativação do vírus tipicamente adquirido durante a infância e que permanece latente nos
PROGRESSIVA JC rins e em outros locais;
● Apresenta alterações focais, anormalidade na marcha, alterações
cognitivas, alterações da coordenação, alterações visuais, alterações
da fala e convulsões.
● Observa-se síndrome cerebelar isolada em aproximadamente 30%
dos casos;
● O ideal é diagnosticar a doença precocemente, ainda quando apresenta
apenas uma única manifestação neurológica, podendo evitar, assim,
seu caráter multifocal e progressivo.

DOENÇAS DEFINIDORAS

Doença Agente Etiológico Manifestações Clínicas

● Meningite criptocócica ⇒ manifestações clínicas de meningite – fungo no SNC,


CRIPTOCOSE fase mais avançada da doença
Cryptococcus
EXTRAPULMONAR ● Lesões cutâneas que consistem de pápulas róseas ou nódulos
neoformans (fungo)
indolores, ocasionalmente com crostas ou eritema periférico, não raro
semelhantes a lesões de molusco contagioso ou herpes simples,
localizadas na face, couro cabeludo e pescoço.

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● Pode ser uma das causas de micose pulmonar.
CANDIDÍASE DE Candida albicans
TRAQUÉIA, ○ Os principais sintomas de micoses pulmonar são tosse,
BRÔNQUIOS OU expectoração mucopurulenta, dor torácica, dispneia de esforço,
PULMÕES febre baixa, astenia, anorexia e perda ponderal

● O acometimento pulmonar é tardio e terminal;


● As manifestações pulmonares são pleomórficas;
● Associação com outros órgãos acometidos como monilíase (candidíase)
oral e faríngea.

● Localizado em quaisquer órgão, não apenas pulmão (hilo, linfonodos) ⇒


manifestações cutâneas são as principais
HISTOPLASMOSE Histoplasma ● Praticamente todos os doentes apresentam febre, perda de peso e outros
DISSEMINADA capsulatum (fungo)
sinais constitucionais;
● As lesões cutâneas consistem de erupção maculopapular difusa com
descamação discreta, evoluindo para pústulas, pápulas, nódulos
necróticos e úlceras.

● O quadro diarréico é profuso, líquido, não sanguinolento e pode, algumas


ISOSPORIDIOSE vezes, conter muco, acompanhado de febre, cólicas intestinais, anorexia,
Cystoisospora belli
INTESTINAL emagrecimento, mal-estar, cefaleia, vômitos, desidratação e eosinofilia
CRÔNICA (protozoário)
periférica;
● Pode apresentar ainda quadros de disseminação extraintestinal,
acometendo linfonodos mesentéricos, periaórticos, mediastinais e
traqueobrônquicos.

● Gastrenterite, bacteremia e infecção focal;


SEPSE RECORRENTE Salmonella não ● Sintomas incluem febre, dificuldade respiratória, hipotensão, taquicardia e
POR SALMONELLA tifóide confusão mental.

● A reativação e formas mais agressivas é induzida por imunossupressão,


REATIVAÇÃO POR Trypanosoma cruzi lesões expansivas no SNC;
DOENÇA DE CHAGAS (protozoário) ● A meningoencefalite chagásica, já descrita na fase aguda da infecção pelo
(meningoencefalite Trypanosoma cruzi, pode estar associada à reativação da infecção crônica
e/ou miocardite) induzida por imunossupressão, como indivíduos submetidos a transplante,
com leucemia linfoblástica e AIDS;
○ essas outra situações são muito rara e a taxa estará muito baixa
● Tendo os linfócitos CD4+ papel nuclear na mediação da imunidade celular
para a infecção pelo Trypanossoma cruzi, esse parasita encontra na
infecção pelo HIV um momento de especial facilitação para sua reativação
e desenvolvimento de lesões expansivas no SNC, devido à depressão da
imunidade celular;
● As manifestações clínicas de reativação da doença em pacientes

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imunossuprimidos incluem miocardite, sintomas cutâneos, como nódulos
subcutâneos, pápulas, úlceras ou paniculite, anemia, icterícia, hepatite e
meningoencefalite.

● Reconhecida mundialmente como importante causa de diarreia em


CRIPTOSPORIDIOSE Cryptosporidium. - crianças e adultos, infectando a mucosa do intestino delgado;
INTESTINAL C. hominis, C. ● Em pessoas imunodeprimidas, pode comprometer o intestino grosso, cólon
parvum e C. e ocasionalmente o trato biliar ⇒ período superior a 1 mês
CRÔNICA (POR
meleagridis. ● A infecção ocorre pela ingestão de oocitos de Cryptosporidium,
PERÍODO SUPERIOR transmitidos pelo contato direto com seres humanos ou animais infectados,
A UM MÊS) especialmente aqueles com diarreia. Os oocistos podem contaminar fontes
de águas e podem persistir, apesar da cloração.
● A transmissão inter-humana é comum, especialmente entre os homens
sexualmente ativos;
● A criptosporidiose pode causar infecção assintomática, doença diarreica
leve ou enterite severa, com ou sem comprometimento das vias biliares.
● Em imunodeprimidos, a diarreia costuma ser aquosa não sanguinolenta
prolongada e severa, sendo muitas vezes acompanhada por náuseas,
vômitos e cólica abdominal.
● Outras manifestações: colecistite acalculosa, colangite esclerosante e
pancreatite, devido a estenose papilar; sinusite, traqueíte e infecção
pulmonar.

● Como na criptococose e na histoplasmose, as manifestações


COCCIDIOIDOMICOS Coccidioides pulmonares são, na maioria das vezes, parte da forma disseminada dessa
E, DISSEMINADA OU immitis e micose, com evidências de envolvimento cutâneo, meníngeo,
Coccidioides linfonodos ou pele;
EXTRAPULMONAR
posadasii ● Os achados radiológicos do comprometimento pulmonar, como nas
(fungo) micoses anteriores, incluem infiltrados alveolares, nodulares, cavitações,
adenopatias hilares e derrame pleural.

● São o tipo de câncer mais frequente em pacientes com infecção pelo HIV;
LINFOMA NÃO Vírus Epstein-Barr ● O LNH-SNC ocorre principalmente em pacientes extremamente
HODGKIN* imunossuprimidos;
● Os sintomas mais frequentes são paresias ou parestesias a depender
da localização do tumor, que sempre se manifesta na forma de massas
intraparenquimatosas, quase sempre múltiplas e acometendo
principalmente estruturas cerebrais profundas como os gânglios da base e
o cerebelo.

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● SK é uma neoplasia vascular multifocal;
SARCOMA Herpes vírus ● É um câncer que provoca lesões nos tecidos moles;
DE KAPOSI* humano tipo 8 ● O tempo de evolução, das primeiras lesões do SK para as formas graves,
(HHV-8) é variável;
● No início, surgem lesões violáceas maculosas, nodulares ou em placas,
em qualquer ponto da superfície corporal, muitas vezes na cavidade oral
em palato duro e língua. As lesões tendem a se reproduzir nos locais de
trauma (fenômeno de Koebner); nos estágios avançados, o linfedema é
persistente e ocorre a constrição de segmentos, principalmente nos
membros inferiores.

Referência:

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de vigilância em saúde. 5ª ed. Brasília. 20211


VERONESI, Ricardo; FOCACCIA, Roberto. Tratado de infectologia. 6. Rio de Janeiro: Atheneu Editor

FÁRMACOS ANTI-RETROVIRAIS

Farmacologia das infecções virais entrada) e inibidores da integrase de transferência de


filamento (INTF) do HIV.. Esses agentes inibem a
● Virucidas: Inativam diretamente os vírus intactos replicação do HIV em diferentes partes do ciclo.
(solventes orgânicos – clorofórmio, éter, etc..., luz
ultravioleta) → Agridem tecidos do hospedeiro. A discussão dos agentes antirretrovirais dessas classes é
● Antivirais (virustáticos): Inibem a replicação específica ao HIV-1. Os padrões de sensibilidade do HIV-2
viral à nível celular. Não são eficazes para a esses agentes podem variar; entretanto, há geralmente
eliminar vírus latentes ou que não estão em fase resistência inata aos INNTR e menores barreiras de
de replicação resistência aos INTR e IP; os dados relacionados ao
● Imunomoduladores: Aumentam ou modificam a maraviroque são inconclusivos.
resposta do hospedeiro à infecção. (Ex.:
interferon-alfa nas hepatites B e C). INIBIDORES NUCLEOSÍDEOS E NUCLEOTÍDEOS DA
TRANSCRIPTASE REVERSA (INTR)
AGENTES ANTIRRETROVIRAIS (ANTI-HIV)
Os INTR são considerados como o “esqueleto” da
Atualmente, dispõe-se de seis classes de agentes terapia antirretroviral e, em geral, são usados em
antirretrovirais: os inibidores nucleosídeos/nucleotídeos associação a outras classes de agentes, como INNTR, IP
da transcriptase reversa (INTR), inibidores não ou inibidor da integrase.
nucleosídeos da transcriptase reversa (INNTR), inibidores
da protease (IP), inibidores da fusão, antagonistas do Representantes:
correceptores CCR5 (também denominados inibidores da

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Zidovudina (AZT), Estavudina (d4T), Didanosina (ddI), resistência viral à o que aumenta a carga viral à diminui
Lamivudina (3TC), Abacavir (ABC), Entricitabina (FTC) ainda mais a imunidade

*Estavudina e didanosina são menos utilizados porque Resistência viral


possuem muitos efeitos adversos
● Causadas por mutação Viral
● Todos são análogos do nucleosídeo, menos o ● Transferência de cepas resistentes entre os
Tenofovir (análogo de nucleotídeo) indivíduos
● Diferença à nucleotídeos possuem um grupo ● Menor ativação dos ITRN na forma de trifosfato
fosfato ● ↑ da carga viral devido à diminuição dos mecanismos
● Os nucleosídeos precisam entrar na célula para imunológicos
poder ser fosfatado ● As mutações típicas que causam resistência
incluem M184V, L74V, D67N e M41L. A terapia
Mecanismo de ação com lamivudina ou com entricitabina tende a
selecionar com rapidez a mutação M184V em
● São análogos de nucleosídeos → dentro da célula esquemas que não são totalmente supressores e
vão virar análogos de nucleotídeos sua presença pode restaurar a sensibilidade
● Os INTR atuam por inibição competitiva da fenotípica à zidovudina.
transcriptase reversa do HIV-1; a sua ● A mutação K65R/N está associada à redução da
incorporação na cadeia de DNA viral em sensibilidade ao tenofovir, abacavir, lamivudina e
crescimento provoca a interrupção prematura da entricitabina.
cadeia, devido à inibição da ligação ao ● Todos os INTR podem estar associados à
nucleotídeo. toxicidade mitocondrial, provavelmente devido à
● Quando a transcriptase reversa está fazendo o inibição da gama DNA- -polimerase mitocondrial.
DNAc utilizando como molde o RNA do vírus, ela Com menos frequência, pode ocorrer acidose
está incluindo nucleotídeos na molécula de DNA. láctica com esteatose hepática, que pode ser
Se esses fármacos forem incorporados no DNA, fatal.
essa síntese é interrompida.
● Competem com os nucleotídeos na formação do DNA Efeitos adversos
viral pela transcriptase reversa → inibição da síntese
de DNA viral ● Distúrbios GI – náuseas e vômitos são os mais
● Cada um desses fármacos exige ativação comuns
intracitoplasmática por meio de fosforilação ● Cefaleia e insônia
por enzimas celulares, produzindo a forma ● Hepatotoxicidade
trifosfato. ● Reação de hipersensibilidade (HLA-B*5701 à
ABC)
● Fadiga, mal-estar e mialgia (AZT)
● Lipoatrofia (AZT)
● Mielotoxicidade (AZT ⇒ anemia, neutropenia)
● Pancreatite (Didanosina, Estavudina)
● Neuropatia Periférica (Estavudina)
● O tratamento com INTR deve ser suspenso na
presença de níveis rapidamente crescentes de
aminotransferase, hepatomegalia progressiva ou
acidose metabólica de causa desconhecida.
● Os análogos da timidina, zidovudina e estavudina
● Maior seletividade: Lamivudina (3TC), podem estar associados, de forma particular, à
Entricitabina (FTC), Tenofovir (TDF) : ↓efeitos dislipidemia e resistência à insulina.
adversos ● Além disso, algumas evidências sugerem um
➔ São mais seletivos porque agem na risco aumentado de infarto do miocárdio em
transcriptase reversa pacientes tratados com abacavir, porém isso
➔ Há fármacos que também agem na DNA ainda não foi confirmado.
polimerase e por isso causam efeitos
colaterais ABACAVIR (ABC)

A maioria desses fármacos não podem ser utilizados ● O abacavir é um análogo da guanosina bem
sozinhos porque eles produzem muita mutação causando absorvido após administração oral (83%) e que
não é afetado pela presença de alimento.

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● Sua meia-vida sérica é de 1,5 hora. administração concomitante de fármacos que
● O fármaco sofre glicuronidação e carboxilação podem causá-la.
hepáticas. ● Há risco de neuropatia sensitiva distal periférica.
● Como o fármaco é metabolizado pela álcool ● Outros efeitos colaterais relatados incluem
desidrogenase, os níveis séricos de abacavir diarreia, hepatite, ulceração do esôfago,
podem ser aumentados com a ingestão miocardiopatia e toxicidade do sistema nervoso
concomitante de álcool (i.e., etanol). central (cefaleia, irritabilidade, insônia) e
● O abacavir está disponível em uma formulação de hipertrigliceridemia.
dose fixa com lamivudina, bem como com ● Devido a um risco aumentado de acidose láctica e
zidovudina mais lamivudina. esteatose hepática quando associada com
● A resistência de alto nível ao abacavir parece estavudina, essa combinação deve ser evitada,
exigir pelo menos duas ou três mutações particularmente durante a gravidez.
concomitantes e, portanto, tende a desenvolver- ● A hiperuricemia previamente assintomática pode
se lentamente. precipitar crises de gota em indivíduos
● Foram relatadas reações de hipersensibilidade, suscetíveis;
em até 8% dos pacientes que recebem abacavir; ● A observação de alterações da retina e a
essas reações podem ser mais graves em ocorrência de neurite óptica em pacientes em uso
associação a uma dose única ao dia. de didanosina, particularmente em adultos aos
● Os sintomas, que geralmente aparecem nas quais são administradas altas doses e em
primeiras seis semanas de terapia, consistem em crianças, exigem exames periódicos da retina.
febre, fadiga, náuseas, vômitos, diarreia e dor ● A lipoatrofia parece mais comum em pacientes
abdominal. Além de sintomas respiratórios, como em uso de didanosina ou outros análogos da
dispneia, faringite e tosse, e ocorre exantema em timidina.
cerca de 50% dos pacientes. ● Os níveis séricos de didanosina aumentam
● Pode haver elevação dos níveis séricos de quando o fármaco é coadministrado com tenofovir
aminotransferase ou de creatina-cinase ou ganciclovir, ao passo que são diminuídos com
● Embora a síndrome tenda a regredir rapidamente o uso de atazanavir, delavirdina, ritonavir,
com a suspensão da medicação, a reexposição tipranavir e metadona. A didanosina não deve ser
ao abacavir resulta no reaparecimento dos usada em associação com ribavirina.
sintomas dentro de poucas horas e pode ser fatal.
● Recomenda-se a realização de um rastreamento ENTRICITABINA
para HLA-B*5701 antes de iniciar a terapia com
abacavir, a fim de identificar pacientes com risco ● A entricitabina (FTC) é um análogo fluorado da
acentuadamente elevado de reação de lamivudina, com meia-vida intracelular longa (> 24
hipersensibilidade associada ao fármaco. horas), possibilitando a administração de uma
● Pode reduzir os níveis de metadona, os pacientes dose única ao dia.
que fazem uso concomitante desses dois ● A biodisponibilidade oral das cápsulas é de 93% e
fármacos devem ser monitorados à procura de não é afetada pela presença de alimento, porém
sinais de abstinência de opioides, e talvez haja a penetração no líquido cerebrospinal é baixa.
necessidade de aumento da dose de metadona. ● A eliminação ocorre por filtração glomerular e
secreção tubular ativa.
DIDANOSINA ● A meia-vida sérica do fármaco é de cerca de 10
horas.
● A didanosina (ddI) é um análogo sintético da ● A solução oral, que contém propilenoglicol, está
desoxiadenosina. contraindicada para crianças pequenas,
● A biodisponibilidade oral é de cerca de 40%. O mulheres grávidas, pacientes com
ideal é tomar o fármaco com estômago vazio, insuficiência renal ou hepática e aqueles em
porém são necessárias formulações tamponadas uso de metronidazol ou dissulfiram.
para evitar a sua inativação pelo ácido gástrico. ● Além disso, em virtude de sua atividade contra o
● As concentrações do fármaco no líquido HBV, os pacientes coinfectados por HIV e HBV
cerebrospinal são de aproximadamente 20% das devem ser rigorosamente monitorados se o
concentrações séricas. A meia-vida sérica é de tratamento com entricitabina for interrompido ou
1,5 hora, porém a meia-vida intracelular do suspenso, devido à probabilidade de exacerbação
composto ativado alcança 20 a 24 horas. da hepatite
● O fármaco é eliminado por metabolismo celular e ● A entricitabina está disponível em uma
excreção renal. formulação em dose fixa com tenofovir,
● A principal toxicidade clínica associada à terapia isoladamente ou em associação com efavirenz,
com didanosina consiste no desenvolvimento de rilpivirina ou elvitegravir mais cobicistate (um
pancreatite dependente da dose. Deve-se evitar a agente de reforço ou potencialização [boosting]).

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● A associação de tenofovir e entricitabina é ● A lamivudina e a zalcitabina podem inibir a
atualmente recomendada como profilaxia pré- fosforilação intracelular uma da outra; por
exposição para reduzir a aquisição do HIV em conseguinte, deve-se evitar o seu uso
homens homossexuais, em homens e mulheres concomitante, se possível.
heterossexuais ativos e em usuários de drogas
injetáveis. ESTAVUDINA
● À semelhança da lamivudina, a mutação M184V/I
está com mais frequência associada ao uso de ● A estavudina (d4T), um análogo da timidina,
entricitabina e pode surgir rapidamente em possui alta biodisponibilidade oral (86%), que não
pacientes submetidos a esquemas que não são depende da presença de alimentos.
de todo supressores. Não se recomenda a ● A meia-vida sérica é de 1,1 hora, a meia-vida
associação desses dois fármacos. intracelular é de 3 a 3,5 horas, e as
● Os efeitos colaterais mais comuns observados concentrações médias no líquido cerebrospinal
em pacientes em uso de entricitabina consistem correspondem a 55% dos níveis plasmáticos.
em cefaleia, diarreia, náuseas e exantema. Além ● A excreção ocorre por secreção tubular ativa e
disso, observa-se a ocorrência de filtração glomerular.
hiperpigmentação das palmas das mãos ou ● A principal toxicidade consiste em neuropatia
plantas dos pés (cerca de 3%), sobretudo em sensorial periférica relacionada com a dose. A
afro-americanos (até 13%) incidência pode aumentar quando a estavudina é
administrada com outros fármacos
LAMIVUDINA potencialmente neurotóxicos, como didanosina,
vincristina, isoniazida ou ribavirina, ou em
● A lamivudina (3TC) é um análogo da citosina, pacientes com imunossupressão avançada. Os
com atividade in vitro contra o HIV-1, sinérgica sintomas regridem por completo com a
com uma variedade de análogos de nucleosídeos interrupção da estavudina; nesses casos, pode-se
antirretrovirais – inclusive zidovudina e estavudina reiniciar com cautela o fármaco em uma dose
– contra cepas de HIV-1 tanto sensíveis como reduzida.
resistentes à zidovudina. ● Outros efeitos colaterais potenciais incluem
● À semelhança da entricitabina, a lamivudina pancreatite, artralgias e elevação dos níveis
apresenta atividade contra o HBV; por séricos de aminotransferases.
conseguinte, a suspensão do fármaco em ● A acidose láctica com esteatose hepática, bem
pacientes com coinfecçãopor HIV e HBV pode como a lipodistrofia, parece ocorrer com mais
estar associada à exacerbação da hepatite. frequência em pacientes em uso de estavudina
● A terapia com lamivudina leva rapidamente à do que naqueles recebendo outros INTR.
seleção da mutação M184V em esquemas que ● Além disso, como a coadministração de
não são de todo supressores. estavudina e didanosina pode aumentar a
● A biodisponibilidade oral ultrapassa 80% e não incidência de acidose láctica e pancreatite, deve-
depende da presença de alimento. Nas crianças, se evitar o seu uso concomitante. Essa
a razão média entre líquido cerebrospinal e associação foi implicada em várias mortes de
plasma da lamivudina foi de 0,2. mulheres grávidas.
● A meia-vida sérica é de 2,5 horas, ao passo que a
meia-vida intracelular do composto trifosforilado é TENOFOVIR
de 11 a 14 horas.
● A maior parte do fármaco é eliminada de modo ● O tenofovir é um análogo fosfonato de
inalterado na urina. nucleosídeo acíclico da adenosina.
● A lamivudina continua sendo um dos agentes ● À semelhança dos análogos dos nucleosídeos, o
antirretrovirais recomendados em mulheres tenofovir inibe competitivamente a
grávidas. transcriptase reversa do HIV e determina a
● A lamivudina está disponível em uma formulação interrupção da cadeia após a sua
de dose fixa com zidovudina e também com incorporação ao DNA.
abacavir. ● Entretanto, apenas duas fosforilações
● Os efeitos colaterais potenciais consistem em intracelulares, em vez de três, são necessárias
cefaleia, tontura, insônia, fadiga, boca seca e para a inibição ativa da síntese de DNA.
desconforto gastrintestinal, apesar de serem ● O tenofovir também foi aprovado para o
caracteristicamente leves e infrequentes. tratamento de pacientes com infecção por HBV.
● A biodisponibilidade da lamivudina aumenta ● Em pacientes em jejum, a biodisponibilidade oral
quando o fármaco é administrado do fármaco é de cerca de 25%, aumentando para
concomitantemente com sulfametoxazol- 39% após uma refeição com alto teor de gordura.
trimetoprima.

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● As meias-vidas séricas (12 a 17 horas) e fosforilado é de 3 a 4 horas, possibilitando a sua
intracelular prolongadas possibilitam a sua administração duas vezes ao dia.
administração em uma dose única ao dia. ● É eliminada principalmente por excreção renal
● A eliminação é via renal, e recomenda-se um após glicuronidação no fígado.
ajuste da dose em pacientes com insuficiência. ● A zidovudina está disponível em uma formulação
● O tenofovir está disponível em várias formulações combinada de dose fixa com lamivudina,
de dose fixa com entricitabina, isoladamente ou isoladamente ou em associação com abacavir.
em associação com efavirenz, rilpivirina e ● Diminui a taxa de progressão da doença clínica e
elvitegravir mais cobicistate. prolonga a sobrevida em indivíduos infectados
● A associação de tenofovir e entricitabina é pelo HIV. A eficácia do fármaco também foi
atualmente recomendada como profilaxia pré- demonstrada no tratamento da demência e da
exposição, a fim de reduzir a aquisição do HIV trombocitopenia associada ao HIV.
em homens homossexuais, em homens e ● Os estudos que avaliaram o uso da zidovudina
mulheres heterossexuais ativos e em usuários de durante a gravidez, o trabalho de parto e o
drogas injetáveis. período pós-parto mostraram reduções
● As principais mutações associadas à resistência significativas na taxa de transmissão vertical,
ao tenofovir são K65R/N e K70E. e a zidovudina continua sendo um dos agentes
● As queixas gastrintestinais constituem os efeitos de primeira linha para uso em mulheres
colaterais mais comuns, porém raramente exigem grávidas.
a interrupção da terapia. Como o tenofovir é ● Em geral, observa-se uma resistência de alto
formulado com lactose, essas queixas podem ser nível à zidovudina em cepas com três ou mais
observadas com mais frequência em pacientes das cinco mutações mais comuns: M41L, D67N,
intolerantes à lactose. K70R, T215F e K219Q. Todavia, o aparecimento
● Outros efeitos colaterais potenciais incluem de certas mutações que conferem menor
cefaleia, exantema, tontura e astenia. suscetibilidade a um fármaco pode aumentar a
● Deve ser usado com cautela em pacientes com sensibilidade à zidovudina em cepas previamente
risco de disfunção renal, devido a ocorrência de resistentes ao fármaco.
insuficiência renal aguda. Os níveis séricos de ● A interrupção da zidovudina pode permitir a
creatinina devem ser monitorados, e o tenofovir reversão de isolados de HIV-1 resistentes à
deve ser interrompido em caso de ocorrência zidovudina no fenótipo suscetível de tipo
recente de proteinúria, glicosúria e taxa de selvagem.
filtração glomerular calculada de < 30 mL/min. ● O efeito colateral mais comum da zidovudina
Também deve ser monitorado em caso de consiste em mielossupressão, resultando em
tubulopatia renal. anemia macrocítica (1 a 4%) ou neutropenia (2 a
● Tem representado um fator de risco independente 8%). Podem ocorrer intolerância gastrintestinal,
para fraturas ósseas em alguns estudos. Deve-se cefaleias e insônia, que tendem a regredir durante
considerar a monitoração da densidade mineral a terapia. A lipoatrofia parece mais comum em
óssea com uso em longo prazo em pacientes com pacientes em uso de zidovudina ou outros
fatores de risco para osteoporose (ou conhecida), análogos da timidina.
bem como em crianças; além disso, devem-se ● Os efeitos tóxicos menos comuns incluem
considerar agentes alternativos em mulheres na trombocitopenia, hiperpigmentação das unhas e
pós-menopausa. miopatia. Altas doses podem causar ansiedade,
● O tenofovir pode competir com outros fármacos confusão e tremor.
ativamente secretados pelos rins, como cidofovir, ● Pode ocorrer aumento dos níveis séricos com a
aciclovir e ganciclovir. O uso concomitante de administração concomitante de probenecida,
atazanavir ou lopinavir/ritonavir pode aumentar os fenitoína, metadona, fluconazol, atovaquona,
níveis séricos de tenofovir. ácido valproico e lamivudina, por meio de inibição
do metabolismo de primeira passagem ou
ZIDOVUDINA (AZT) diminuição da depuração do fármaco. A
zidovudina pode diminuir os níveis de fenitoína.
● A zidovudina (azidotimidina; AZT) é um análogo ● A toxicidade hematológica talvez esteja
da desoxitimidina, que é bem absorvida (63%) e aumentada durante a coadministração de outros
se distribui na maioria dos tecidos e líquidos fármacos mielossupressores, como ganciclovir,
corporais, incluindo o líquido cerebrospinal, no ribavirina e agentes citotóxicos.
qual os níveis do fármaco correspondem a 60 a ● Os esquemas de associação contendo zidovudina
65% dos níveis séricos. e estavudina devem ser evitados, por causa de
● Embora a meia-vida sérica seja, em média, de 1 seu antagonismo in vitro.
hora, a meia-vida intracelular do composto

10
INIBIDORES NÃO NUCLEOSÍDEOS DA ● Outra limitação para o uso de agentes INNTR
TRANSCRIPTASE REVERSA (INNTR) como componente da terapia antirretroviral é o
seu metabolismo pelo sistema CYP450, levando a
Representantes: inúmeras interações medicamentosas potenciais.
● Todos os agentes INNTR são substratos da
● Efavirenz (EFV), Nevirapina (NVP), Delavirdina, CYP3A4 e podem atuar como indutores
Etravirina, Rilpivirina (nevirapina), inibidores (delavirdina) ou indutores
● São compostos quimicamente diversos → agem contra e inibidores mistos (efavirenz, etravirina).
o HIV-1.
● Tendo em vista os inúmeros medicamentos não
● São fármacos mais suscetíveis a desenvolver
HIV que também são metabolizados por essa via
resistência
espera-se a ocorrência de interações
medicamentosas, que devem ser investigadas;
Mecanismo de ação
com frequência, é necessário efetuar um ajuste
da dose, e algumas associações estão
Os INNTR ligam-se diretamente à transcriptase reversa do
contraindicadas.
HIV-1 resultando em inibição alostérica da atividade da
DNA-polimerase dependente de RNA e DNA. O sítio de
DELAVIRDINA
ligação dos INNTR situa-se próximo ao dos INTR, porém é
distinto deste último.
● A delavirdina apresenta biodisponibilidade oral de
cerca de 85%, reduzida por antiácidos e
Ao contrário dos INTR, os INNTR não competem com
bloqueadores H2.
trifosfatos de nucleosídeos nem necessitam de fosforilação
● O fármaco liga-se (cerca de 98%) às proteínas
para a sua atividade. Recomenda-se a realização de um
plasmáticas e apresenta níveis
teste genotípico basal antes de se iniciar o tratamento com
correspondentemente baixos no líquido
INNTR, visto que as taxas de resistência primária variam
cerebrospinal.
em cerca de 2 a 8%.
● A meia-vida sérica é de cerca de 6 horas.
● Ocorre exantema cutâneo em até 38% dos
pacientes tratados com delarvidina; geralmente,
aparece durante as primeiras 1 a 3 semanas de
terapia e não impede uma reintrodução do
fármaco.
● Existem relatos de exantema grave, embora
raros, como eritema multiforme e síndrome de
Stevens-Johnson. Outros efeitos colaterais
possíveis incluem cefaleia, fadiga, náuseas,
Resistência viral diarreia e níveis séricos elevados de
aminotransferases.
A resistência aos INNTR ocorre rapidamente com a ● Deve-se evitar a gravidez durante o uso de
monoterapia e pode resultar de uma única mutação. As delavirdina devido ao risco de teratogenicidade.
mutações K103N e Y181C conferem resistência aos ● É metabolizada pelas enzimas CYP3A e CYP2D6
INNTR de primeira geração, mas não aos agentes mais e também inibe a CYP3A4 e 2C9..
recentes (i.e., etravirina, rilpivirina). Outras mutações (p. ● Não se recomenda o uso concomitante de
ex., L100I, Y188C, G190A) também podem conferir delavirdina com fosamprenavir e rifabutina, devido
resistência cruzada entre a classe dos INNTR. à diminuição dos níveis de delavirdina. Outros
medicamentos que tendem a alterar os níveis de
Entretanto, não se observa nenhuma resistência cruzada delavirdina incluem didanosina, lopinavir,
entre os INNTR e os INTR; com efeito, alguns vírus nelfinavir e ritonavir. A coadministração de
resistentes a nucleosídeos exibem hipersensibilidade aos delavirdina com indinavir ou saquinavir prolonga a
INNTR. Os INNTR, como classe, tendem a estar meia-vida de eliminação desses inibidores da
associados a níveis variáveis de intolerância gastrintestinal protease, possibilitando, assim, a sua
e exantema cutâneo, o último dos quais pode ser, com administração duas vezes ao dia, e não três.
baixa frequência, grave (p. ex., síndrome de Stevens-
Johnson). EFAVIRENZ

● O efavirenz pode ser administrado uma vez ao


Farmacocinética
dia, em virtude de sua meia-vida longa (40 a 55
horas).
● Administração: VO

11
● Tem absorção moderada após administração oral principalmente pelo fígado. A meia-vida terminal
(45%). média é de aproximadamente 41 horas.
● Como a toxicidade do fármaco pode aumentar em ● Os efeitos colaterais mais comuns da etravirina
virtude de sua biodisponibilidade elevada após consistem em exantema, náuseas e diarreia. Em
uma refeição rica em gordura, o efavirenz deve casos raros, o exantema tem sido intenso ou
ser tomado com estômago vazio. potencialmente fatal.
● O efavirenz é metabolizado sobretudo por ● As anormalidades laboratoriais incluem elevações
CYP3A4 e CYP2B6 a metabólitos hidroxilados dos níveis séricos de colesterol, triglicerídeos,
inativos; o restante é eliminado nas fezes, na glicose e transaminase hepática. As elevações
forma inalterada. das transaminases são mais comuns em
● O fármaco liga-se intensamente à albumina pacientes com coinfecção por HBV ou HCV.
(cerca de 99%), e os níveis no líquido ● A etravirina é um substrato indutor da CYP3A4 e
cerebrospinal variam de 0,3 a 1,2% daqueles um inibidor de CYP2C9 e CYP2C19; apresenta
alcançados no plasma. inúmeras interações medicamentosas
● Os principais efeitos adversos são tontura, a terapeuticamente significativas. É difícil prever
sonolência, a insônia, os pesadelos e a cefaleia algumas das interações. Por exemplo, a etravirina
tendem a diminuir com a continuação da terapia; pode diminuir as concentrações de itraconazol e
a administração da dose ao deitar também pode de cetoconazol, mas aumentar as de voriconazol.
ser útil. Foram observados sintomas psiquiátricos, ● A etravirina não deve ser administrada com outros
como depressão, mania e psicose, podendo exigir INNTR, inibidores da protease não potenciados,,
a interrupção do fármaco. Como também atazanavir/ritonavir, fosamprenavir/ritonavir ou
exantema cutâneo no início da terapia em até tipranavir/ritonavir
28% dos pacientes. Em raros casos, o exantema
tem sido intenso ou potencialmente fatal. Outras NEVIRAPINA
reações adversas potenciais incluem náuseas,
vômitos, diarreia, cristalúria, elevação das ● A biodisponibilidade oral da nevirapina é
enzimas hepáticas e aumento dos níveis séricos excelente (> 90%) e não depende da presença de
totais de colesterol em 10 a 20%. alimento. O fármaco é altamente lipofílico e
● Foram observadas altas taxas de anormalidades alcança níveis no líquido cerebrospinal que
fetais, como defeitos do tubo neural, em macacas correspondem a 45% dos níveis plasmáticos.
prenhes expostas ao efavirenz e foram relatados ● A meia-vida no soro é de 25 a 30 horas.
vários casos de anomalias congênitas em ● A nevirapina é metabolizada pela isoforma da
humanos. CYP3A a metabólitos hidroxilados e, a seguir,
● Deve ser evitado em mulheres grávidas, em excretada, principalmente na urina. Uma dose
particular no primeiro trimestre de gestação. única de nevirapina (200 mg) mostra-se eficaz na
● O efavirenz, como indutor ou como inibidor da prevenção da transmissão do HIV da mãe ao
CYP3A4, induz o seu próprio metabolismo e recém-nascido quando administrada a mulheres
interage com o metabolismo de muitos outros no início do trabalho de parto, seguida de uma
fármacos. dose oral de 2 mg/kg ao recém-nascido três dias
● Monitoramento de pacientes que faz uso após o parto. Entretanto, foi documentada a
concomitante desse fármaco com metadona. ocorrência de resistência depois dessa dose
única.
ETRAVIRINA ● Não há nenhuma evidência de teratogenicidade
humana.
● A etravirina foi desenvolvida para ser eficaz ● Em até 20% dos pacientes, ocorre exantema, que
contra cepas de HIV que desenvolveram apesar de ser em geral leve e autolimitado,
resistência aos INNTR de primeira geração restringe a dose administrada em cerca de 7%
devido a certas mutações, como K103N e Y181C, dos pacientes. As mulheres parecem ter uma
e seu uso é recomendado para pacientes já incidência aumentada de exantema.
tratados, que apresentam resistência a outros ● Quando se institui a terapia, recomenda-se um
INNTR. escalonamento gradual da dose durante 14 dias,
● Embora a etravirina tenha maior barreira genética e pode ocorrer de forma grave e potencialmente
à resistência do que os outros INNTR, as fatal, inclusive na síndrome de Stevens-Johnson e
mutações selecionadas pela etravirina estão necrólise epidérmica tóxica , sendo
geralmente associadas a uma resistência ao imediatamente interrompida.
efavirenz, à nevirapina e à delavirdina. ● Pode acompanhar a hepatotoxicidade
● A etravirina deve ser tomada com uma refeição ● Outros efeitos colaterais incluem febre, náuseas,
para aumentar a exposição sistêmica. Liga-se cefaleia e sonolência.
altamente às proteínas e é metabolizada

12
● A nevirapina é um indutor moderado do periférica e facial, aumento das mamas e aspecto
metabolismo da CYP3A, resultando em níveis cushingoide, talvez menos comumente com o
diminuídos de amprenavir, indinavir, lopinavir, atazanavir.
saquinavir, efavirenz e metadona. Os fármacos ● Foram também observados aumentos
que induzem o sistema da CYP3A podem concomitantes dos níveis de triglicerídeos e
diminuir os níveis de nevirapina, ao passo que os lipoproteínas de baixa densidade, junto com
inibidores da atividade da CYP3A, como hiperglicemia e resistência à insulina.
fluconazol, cetoconazol e claritromicina, podem ● O abacavir, o lopinavir/ritonavir e o
aumentá-los. fosamprenavir/ritonavir têm sido associados a um
● Como a nevirapina pode reduzir os níveis de risco aumentado de doença cardiovascular em
metadona, os pacientes em uso concomitante alguns estudos, mas não em todos eles. Todos os
desses dois fármacos devem ser monitorados IP podem estar associados a anormalidades da
quanto a sinais de abstinência de opioides e condução cardíaca, incluindo prolongamento do
talvez necessitem de uma dose aumentada de intervalo PR ou QT, ou ambos.
metadona. ● Deve-se considerar um eletrocardiograma basal,
e deve-se evitar o uso de outros agentes que
INIBIDORES DA PROTEASE (IP) causam prolongamento do intervalo PR ou QT.
● Foi relatada a ocorrência de hepatite induzida por
A protease do HIV é responsável pela clivagem de fármacos e hepatotoxicidade grave rara em graus
moléculas precursoras, produzindo as proteínas estruturais variáveis com todos os IP; a frequência de
finais do cerne do virion maduro. Ao impedir a clivagem eventos hepáticos é maior com o
pós-tradução da poliproteína Gag-Pol, os inibidores da tipranavir/ritonavir do que com outros IP. A
protease (IP) impedem o processamento das proteínas associação dos IP à ocorrência de perda óssea e
virais em conformações funcionais, resultando na osteoporose após uso prolongado está em fase
produção de partículas virais imaturas e não infecciosas. de investigação.
Ao contrário dos INTR, os IP não necessitam de ativação ● Os IP têm sido associados ao aumento do
intracelular. É bastante comum a ocorrência de alterações sangramento espontâneo em pacientes com
genotípicas específicas com esses fármacos, que hemofilia A ou B; foi relatado um risco aumentado
conferem resistência fenotípica, contraindicando, assim, a de hemorragia intracraniana em pacientes em uso
monoterapia. de tipranavir com ritonavir.

Fármacos: Atazanavir, Darunavir, Fosamprevanir, Farmacocinética


Lopinavir, Nelfivanir, Ritovanir, Saquivanir, Tripanavir.
● Distúrbios GI
Ritonavir geralmente é associado a outros fármacos inibidores ● Anormalidades metabólicas:
de protease → tem efeito mais fraco e acaba sendo metabolizado ○ Resistência à insulina, glicemia
no lugar dos outros que possuem efeito mais forte ○ Hiperlipidemia
○ Lipodistrofia – geralmente há acúmulo de
Resistência viral tecido adiposo no dorso e no abdome e
redução nos membros, glúteos e na face
Algumas das mutações mais comuns que conferem uma ● Todos os IP antirretrovirais são metabolizados
ampla resistência aos IP consistem em substituições nos pela CYP3A4, tendo o ritonavir o efeito inibitório
códons 10, 46, 54, 82, 84 e 90; o número de mutações mais pronunciado, e o saquinavir, o menos
pode prever o nível de resistência fenotípica. pronunciado. Alguns IP, como o amprenavir e o
ritonavir, também são indutores de isoformas
A substituição I50L que emerge durante a terapia com
específicas de CYP.
atazanavir tem sido associada a um aumento de
sensibilidade a outros IP. O darunavir e o tipranavir Interações medicamentosas
parecem exibir melhor atividade virológica em pacientes
portadores do HIV-1 resistente a outros IP. Como classe, ● É interessante assinalar que as propriedades
os IP estão associados a náuseas leves a moderadas, inibitórias potentes do ritonavir para a CYP3A4
diarreia e dislipidemia. são usadas com vantagem clínica com vistas à
produção de um “reforço” dos níveis de outros IP,
Efeitos adversos quando administrados em associação, atuando,
assim, como intensificador farmacocinético, mais
● Foi observada uma síndrome de redistribuição e
do que como agente antirretroviral.
acúmulo de gordura corporal, que resulta em
● O reforço do ritonavir aumenta a exposição ao
obesidade central, aumento da gordura
fármaco, prolongando, assim, sua meia-vida, e
dorsocervical (giba de búfalo), consumpção
possibilitando uma redução na frequência de sua

13
administração; além disso, há aumento da ● O darunavir deve ser coadministrado com
barreira genética à resistência. ritonavir e deve ser tomado com as refeições para
melhorar a sua biodisponibilidade.
ATAZANAVIR ● Liga-se altamente às proteínas e é metabolizado
principalmente pelo fígado.
● O atazanavir é um IP com perfil farmacocinético ● Os efeitos colaterais sintomáticos do darunavir
que possibilita a sua administração uma vez ao consistem em diarreia, náuseas, cefaleia e
dia. exantema.
● O atazanavir necessita de um meio ácido para ● As anormalidades laboratoriais incluem
sua absorção e exibe solubilidade aquosa dislipidemia (embora talvez menos frequente do
dependente do pH; por conseguinte, deve ser que com outros esquemas de reforço de IP) e
tomado com as refeições, e recomenda-se um elevações dos níveis de amilase e transaminase
intervalo de pelo menos 12 horas entre a sua hepática.
administração e a ingestão de agentes redutores ● Em alguns pacientes em uso de darunavir, foi
de ácido. relatada a ocorrência de hepatotoxicidade,
● O uso concomitante de inibidores da bomba de prótons inclusive hepatite grave; o risco de
está contraindicado → ↓ AUC em 76% hepatotoxicidade pode ser maior em indivíduos
● O atazanavir é capaz de penetrar nos líquidos com HBV, HCV ou outra doença hepática crônica.
cerebrospinal e seminal. ● Pode causar uma reação de hipersensibilidade,
● A meia-vida plasmática é de 6 a 7 horas, particularmente em pacientes com alergia às
aumentando para cerca de 11 horas quando o sulfonamidas.
fármaco é coadministrado com ritonavir. ● O darunavir é metabolizado pelo sistema
● A principal via de eliminação é biliar. O atazanavir enzimático CYP3A e também o inibe, resultando
não deve ser administrado a pacientes com em inúmeras interações medicamentosas
insuficiência hepática grave. possíveis.
● O atazanavir é recomendado para mulheres
grávidas FOSAMPRENAVIR
● Resistência ao atazanavir tem sido associada a
várias mutações conhecidas de IP, bem como à ● O fosamprenavir é um profármaco do amprenavir
nova substituição I50L. hidrolisado com rapidez por enzimas no epitélio
● Os efeitos colaterais mais comuns em pacientes intestinal.
em uso de atazanavir consistem em diarreia e ● O fosamprenavir é administrado com mais
náuseas; vômitos, dor abdominal, cefaleia, frequência em associação com ritonavir em
neuropatia periférica e exantema. pequena dose.
● Pode-se observar a ocorrência de ● Após hidrólise do fosamprenavir, o amprenavir é
hiperbilirrubinemia indireta com icterícia franca rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal,
em cerca de 10% dos pacientes, em razão da e o profármaco pode ser ingerido com ou sem
inibição da enzima de glicuronidação UGT1A1. alimento. Todavia, as refeições ricas em gorduras
Foi também observada uma elevação das diminuem sua absorção e, portanto, devem ser
enzimas hepáticas, em geral em pacientes com evitadas.
coinfecção subjacente pelo HBV ou HCV. ● A meia-vida plasmática do fármaco é
● Foi escrita a ocorrência de nefrolitíase recorrente relativamente longa (7 a 11 horas).
ao uso de atazanavir, e a administração ● É metabolizado no fígado e deve ser usado com
prolongada de reforço está associada a uma cautela na presença de insuficiência hepática.
perda cumulativa da função renal. ● Os efeitos colaterais mais comuns consistem em
● Por ser um inibidor da CYP3A4 e CYP2C9, o cefaleia, náuseas, diarreia, parestesias periorais e
potencial de interações medicamentosas com o depressão e pode causar exantema.
atazanavir é grande. ● O amprenavir é tanto indutor como inibidor da
● Além disso, a coadministração do atazanavir com CYP3A4, e a sua administração está
outros fármacos que inibem a UGT1A1, como o contraindicada com vários fármacos.
irinotecano, pode aumentar seus níveis. O ● A solução oral, está contraindicada para crianças
tenofovir e o efavirenz não devem ser pequenas, mulheres grávidas, pacientes com
coadministrados com atazanavir, a não ser que insuficiência renal ou hepática e aqueles em uso
se acrescente o ritonavir para reforço dos níveis. de metronidazol ou dissulfiram. Além disso, as
soluções orais de amprenavir e ritonavir não
DARUNAVIR devem ser coadministradas e também deve-se
evitar qualquer suplementação de vitamina E.
● O amprenavir está contraindicado para pacientes
com história de alergia às sulfonamidas.

14
● O lopinavir e o ritonavir não devem ser ● O nelfinavir é um inibidor do sistema CYP3A, e
coadministrados com o amprenavir, devido à podem ocorrer numerosas interações
diminuição de amprenavir e exposição alterada medicamentosas.
de lopinavir. Recomenda-se um aumento da dose ● Recomenda-se o aumento da dose de nelfinavir
de amprenavir quando ele for coadministrado com quando ele é coadministrado com rifabutina (com
efavirenz (com ou sem adição de ritonavir para diminuição da dose de rifabutina), enquanto uma
reforçar os níveis). redução da dose de saquinavir é sugerida com o
uso concomitante de nelfinavir. Deve-se evitar a
LOPINAVIR coadministração com efavirenz, devido à redução
dos níveis de nelfinavir
● O lopinavir é atualmente formulado apenas em
associação com o ritonavir, que inibe o RITONAVIR
metabolismo do lopinavir mediado por CYP3A,
resultando, assim, em exposição aumentada do ● O ritonavir apresenta alta biodisponibilidade
fármaco. (cerca de 75%), que aumenta com a ingestão de
● O lopinavir liga-se altamente às proteínas (98 a alimentos.
99%), e a sua meia-vida é de 5 a 6 horas. É ● A ligação às proteínas alcança 98%, e o fármaco
extensamente metabolizado pela CYP3A, que é tem meia-vida sérica de 3 a 5 horas.
inibida pelo ritonavir. ● Ocorre metabolização a um metabólito ativo por
● Os níveis séricos de lopinavir podem estar meio das isoformas de CYP3A e CYP2D6, e a
elevados em pacientes com comprometimento excreção acontece sobretudo pelas fezes.
hepático. ● É preciso ter cautela quando se administra o
● O lopinavir/ritonavir é um dos agentes fármaco a indivíduos com comprometimento da
antirretrovirais recomendados para uso em função hepática.
mulheres grávidas. ● É um dos recomendados para uso em mulheres
● Os efeitos colaterais mais comuns do lopinavir grávidas.
consistem em diarreia, dor abdominal, náuseas, ● Os efeitos adversos potenciais do ritonavir, em
vômitos e astenia. O lopinavir reforçado com particular quando administrado em dose integral,
ritonavir pode ser mais comumente associado a consistem em distúrbios gastrintestinais,
eventos adversos gastrintestinais do que outros parestesias (periorais ou periféricas), elevação
IP. dos níveis séricos de aminotransferase, alteração
● É comum a ocorrência de elevações nos níveis do paladar, cefaleia e elevações dos níveis
séricos de colesterol e triglicerídeos. séricos de creatina-cinase. Em geral, ocorrem
● O uso prolongado de lopinavir reforçado está náuseas, vômitos, diarreia ou dor abdominal
associado a uma perda cumulativa da função durante as primeiras semanas de terapia;
renal, e o uso do fármaco tem sido um fator de entretanto, esses efeitos colaterais podem
risco independente para fraturas ósseas em diminuir com o passar do tempo, ou se o fármaco
alguns estudos (mas não em todas). for ingerido nas refeições.
● Deve-se evitar o uso concomitante de ● É um potente inibidor da CYP3A4, resultando em
fosamprenavir, devido à exposição alterada ao numerosas interações medicamentosas
lopinavir com níveis diminuídos de amprenavir. potenciais
Além disso, o uso concomitante de lopinavir/ ● s níveis terapêuticos de digoxina e de teofilina
ritonavir e rifampicina está contraindicado, devido devem ser monitorados quando esses fármacos
ao risco aumentado de hepatotoxicidade. são coadministrados com ritonavir, devido a um
● Como a solução oral de lopinavir/ritonavir contém provável aumento de suas concentrações.
álcool, a administração concomitante de ● O uso concomitante de saquinavir e ritonavir está
dissulfiram e metronidazol está contraindicada. contraindicado, devido a um risco aumentado de
prolongamento do QT (com torsades de pointes)
NELFINAVIR e prolongamento do intervalo PR

● O nelfinavir sofre alta absorção quando ingerido SAQUINAVIR


com alimento (70 a 80%); é metabolizado pela
CYP3A e excretado principalmente nas fezes. ● Em sua formulação original como cápsula de gel
● Nos seres humanos, a meia-vida plasmática é de duro, o saquinavir oral era pouco biodisponível
3,5 a 5 horas, e a ligação do fármaco às proteínas (apenas cerca de 4% após a ingestão de
é de mais de 98%. alimento). Entretanto, a reformulação do
● Os efeitos colaterais mais comuns associados ao medicamento para dose única diária em
nelfinavir consistem em diarreia e flatulência. associação com ritonavir em baixa dose melhorou

15
a eficácia antiviral e também diminuiu os efeitos ● Devido ao risco aumentado de hemorragia
adversos gastrintestinais. intracraniana em pacientes em uso de
● O saquinavir deve ser tomado dentro de 2 horas tipranavir/ritonavir, o fármaco deve ser evitado em
após uma refeição gordurosa para melhor pacientes com traumatismo cranioencefálico ou
absorção do fármaco. diátese hemorrágica.
● A ligação do saquinavir às proteínas alcança ● O tipranavir inibe e induz o sistema CYP3A4.
97%, e a meia-vida sérica do fármaco é de Quando usado em associação com ritonavir, seu
aproximadamente 2 horas. O saquinavir efeito final consiste em inibição.
apresenta um grande volume de distribuição, ● O tipranavir também induz o transportador de P-
porém a sua penetração no líquido cerebrospinal glicoproteína e, portanto, pode alterar o
é insignificante. processamento de muitos outros fármacos.
● A excreção ocorre principalmente nas fezes. ● Deve-se evitar a administração concomitante de
● Os efeitos colaterais relatados consistem em tipranavir com fosamprenavir ou saquinavir,
desconforto gastrintestinal (náuseas, diarreia, devido aos níveis sanguíneos diminuídos desses
desconforto abdominal e dispepsia) e rinite. fármacos. A associação tipranavir/ritonavir
● O saquinavir sofre extenso metabolismo de também pode diminuir os níveis séricos de ácido
primeira passagem pela CYP3A4 e atua como valproico e omeprazol. Pode ocorrer elevação dos
inibidor e como substrato da CYP3A4. níveis de estatinas, aumentando o risco de
● Recomenda-se uma diminuição da dose de rabdomiólise e miopatia.
saquinavir quando coadministrado com nelfinavir.
Os níveis elevados de saquinavir quando INIBIDORES DE ENTRADA
coadministrado com omeprazol exigem uma
rigorosa monitoração quanto à ocorrência de
toxicidade. Os níveis de digoxina podem
aumentar se ela for coadministrada com
saquinavir e, portanto, devem ser monitorados.
As provas de função hepática devem ser
monitoradas se o saquinavir for coadministrado
com delavirdina ou rifampicina.

TIPRANAVIR

● Tipranavir é um IP mais recente indicado para


uso em pacientes previamente tratados que
abrigam cepas resistentes a outros IP.
● É usado em associação com ritonavir para obter
níveis séricos efetivos.
ENFUVIRTIDA
● A biodisponibilidade é pequena, porém aumenta
quando se ingere o fármaco com uma refeição
● A enfuvirtida é um peptídeo sintético de 36
rica em gordura.
aminoácidos, inibidor da fusão, que bloqueia a
● O tipranavir é metabolizado pelo sistema
entrada do HIV na célula. A enfuvirtida liga-se à
microssomal hepático e está contraindicado para
subunidade gp41 da glicoproteína do envelope
pacientes com insuficiência hepática.
viral, impedindo as alterações de conformação
● Não deve ser administrado a pacientes com
necessárias à fusão das membranas viral e
alergia conhecida às sulfonamidas.
celular.
● Os efeitos colaterais mais comuns do tipranavir
● É administrada em associação com outros
consistem em diarreia, náuseas, vômitos e dor
agentes antirretrovirais em pacientes que já
abdominal. A ocorrência de exantema
receberam tratamento, com evidências de
urticariforme ou maculopapular é mais comum em
replicação viral, apesar da terapia antirretroviral
mulheres e pode ser acompanhada de sintomas
contínua.
sistêmicos ou descamação. Foi observada a
● Deve ser administrada por injeção subcutânea e é
ocorrência de hepatotoxicidade, inclusive
o único agente antirretroviral de administração
descompensação hepática potencialmente fatal.
parenteral.
● O tipranavir deve ser interrompido em pacientes
● O metabolismo parece envolver hidrólise
que apresentam níveis séricos elevados de
proteolítica sem a participação do sistema
transaminase, que alcançam mais de 10 vezes o
CYP450.
limite superior da normalidade ou mais de cinco
● A meia-vida de eliminação é de 3,8 horas.
vezes o normal em associação a níveis séricos
aumentados de bilirrubina.

16
● Pode ocorrer resistência à enfuvirtida em ● A resistência ao maraviroque está associada a
consequência de mutações na gp41; tanto a uma ou mais mutações na alça V3 da gp120. Não
frequência como a importância desse fenômeno parece haver resistência cruzada com fármacos
estão sendo investigadas. Todavia, a enfuvirtida de qualquer outra classe, incluindo o inibidor de
carece de resistência cruzada com as outras fusão, a enfuvirtida.
classes de fármacos antirretrovirais atualmente ● O maraviroque é um substrato da CYP3A4 e,
aprovados. portanto, exige um ajuste da dose na presença de
● Os efeitos colaterais mais comuns associados à fármacos que interagem com essas enzimas.
terapia com enfuvirtida consistem em reações no ● Trata-se também de um substrato para a P-
local de injeção, inclusive nódulos eritematosos glicoproteína, o que limita as concentrações
dolorosos, insônia, cefaleia, tontura e náuseas. intracelulares do fármaco.
Raras vezes ocorrem reações de ● A dose precisa ser diminuída se o fármaco for
hipersensibilidade de gravidade variável, com coadministrado com inibidores potentes da
possível recidiva devido a uma nova exposição ao CYP3A, ao mesmo tempo em que precisa ser
fármaco. aumentada quando coadministrado com indutores
● A eosinofilia constitui a principal anormalidade da CYP3A.
laboratorial observada com a administração de ● Os efeitos colaterais potenciais do maraviroque
enfuvirtida. Não foi identificada interações consistem em tosse, infecções das vias
medicamentosas importantes. respiratórias altas, dor muscular e articular,
diarreia, distúrbio do sono e elevações dos níveis
MARAVIROQUE séricos de aminotransferases. Foi relatada a
ocorrência de hepatotoxicidade, que pode ser
● O maraviroque está aprovado para uso em precedida de reação alérgica sistêmica deve-se
associação com outros antirretrovirais em considerar a interrupção imediata do maraviroque
pacientes adultos já tratados e infectados apenas se esse conjunto de sinais aparecer e em
pelo HIV-1 trópico para CCR5 detectável, que se pacientes com disfunção hepática.
mostram resistentes a outros agentes ● Foi observada a ocorrência de isquemia e infarto
antirretrovirais. do miocárdio em pacientes em uso de
● O maraviroque liga-se de modo específico e maraviroque; por esse motivo, aconselha-se ter
seletivamente à proteína do hospedeiro CCR5, cautela em pacientes com risco cardiovascular
um dos dois receptores de quimiocinas aumentado.
necessários para a entrada do HIV nas células
CD4+. Como o maraviroque é ativo contra o HIV INIBIDORES DA INTEGRASE DE TRANSFERÊNCIA DE
que usa exclusivamente o correceptor CCR5, e FILAMENTO (IINTF)
não contra cepas de HIV com tropismo para
CXCR4, duplo ou misto, deve-se determinar o Mecanismo de ação
tropismo para correceptor por meio de um teste
específico antes de iniciar o tratamento com ● Essa classe de agentes liga-se à integrase, uma
maraviroque, usando o ensaio de tropismo de alta enzima viral essencial para a replicação do HIV-1
sensibilidade. e do HIV-2. Por meio dessa ligação, esses
● A absorção do maraviroque é rápida, porém variável, fármacos inibem a transferência de filamento, a
sendo o tempo necessário para a sua absorção máxima terceira e última etapa de integração do provírus,
geralmente de 1 a 4 horas após a ingestão do fármaco. interferindo, assim, na integração do DNA do HIV
A maior parte do fármaco (≥ 75%) é excretada nas de transcrição reversa nos cromossomos da
fezes, ao passo que cerca de 20% são excretados na célula hospedeira.
urina.
● A dose recomendada de maraviroque varia de
acordo com a função renal e o uso concomitante
de indutores ou inibidores da CYP3A.
● O maraviroque está contraindicado para
pacientes com comprometimento renal grave ou
terminal, que estão fazendo uso concomitante de
inibidores ou indutores da CYP3A, e recomenda-
se ter cautela quando o fármaco é administrado a
pacientes com comprometimento hepático
preexistente, bem como a pacientes coinfectados
pelo HBV ou HCV. Efeitos adversos
● Exibe uma excelente penetração no líquido
cervicovaginal.

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● Reações muito comuns: dor de cabeça, náusea e ● Como os cátions polivalentes (p. ex., magnésio,
diarreia. cálcio e ferro) podem ligar-se a inibidores da
● Reações comuns: insônia, tontura, vômito, integrase e interferir na sua atividade, os
lipodistrofia, reações de hipersensibilidade e antiácidos devem ser usados com cautela e
depressão. tomados separadamente do raltegravir, com
○ Lipodistrofia bem menos que a dos intervalo de pelo menos 4 horas.
inibidores de protease ● Os comprimidos mastigáveis podem conter
● Dolutegravir - relatos de má formação do sistema fenilalanina, que pode ser prejudicial para
nervoso (teratogenicidade) pacientes com fenilcetonúria.
○ 2019: evento raro - novas ● A resistência in vitro exige apenas uma única
recomendações da OMS à uso na mutação pontual (p. ex., nos códons 148 ou 155).
gravidez A baixa barreira genética à resistência ressalta a
importância das terapias de combinação e da
DOLUTEGRAVIR adesão do paciente ao tratamento. Não se espera
que a ocorrência de mutações da integrase possa
● O dolutegravir pode ser tomado com ou sem afetar a sensibilidade a outras classes de agentes
alimentos. A sua biodisponibilidade oral absoluta antirretrovirais.
não foi estabelecida. Deve ser tomado 2 horas ● Os efeitos colaterais potenciais do raltegravir
antes ou 6 horas após o uso de antiácidos consistem em insônia, cefaleia, tontura, diarreia,
contendo cátions ou laxativos, sucralfato, náusea, fadiga e dores musculares. Podem
suplementos de ferro orais, suplementos de cálcio ocorrer elevações da amilase pancreática, dos
orais ou medicamentos tamponados. níveis séricos de aminotransferases e da creatina-
● A meia-vida terminal é de aproximadamente 14 cinase (com rabdomiólise). Foram relatadas
horas. reações cutâneas graves, potencialmente fatais e
● O dolutegravir é metabolizado principalmente por fatais, incluindo síndrome de Stevens-Johnson,
meio do UGT1A1, com alguma contribuição da reação de hipersensibilidade e necrólise
CYP3A. epidérmica tóxica.
● Deve-se evitar a sua coadministração com os
indutores metabólicos fenitoína, fenobarbital,
carbamazepina e erva-de-são-joão. O
dolutegravir inibe o transportador renal de cátions
orgânicos OCT2, aumentando, assim, as
concentrações plasmáticas de fármacos
eliminados pelo OCT2, como a dofetilida e a
metformina.
● As evidências atuais sugerem que o dolutegravir
mantém a sua atividade contra alguns vírus
resistentes ao raltegravir e ao elvitegravir.
● As reações adversas mais comuns associadas ao
uso do dolutegravir consistem em insônia e ESQUEMA TERAPÊUTICO
cefaleia. Foram relatadas reações de
hipersensibilidade, caracterizadas por exantema, ● Politerapia
achados constitucionais e, algumas vezes,
● Mecanismo de ação diferentes
disfunção orgânica, incluindo lesão hepática, que
podem ser potencialmente fatais. Outros efeitos ○ Maior eficácia à atinge diversos alvos
colaterais relatados incluem elevações dos níveis ○ o Menor resistência
séricos de aminotransferases e síndrome de ● Mínimo de 3 fármacos
redistribuição da gordura.
○ Ex: Tenofovir + Lamivudina + Efavirenz
RALTEGRAVIR ● Não há cura da doença
○ Reservatório: Linfócitos T quiescentes e
● A biodisponibilidade absoluta do raltegravir, um macrófagos
análogo da pirimidinona, não foi estabelecida,
mas não parece depender da presença de PREP (PROFILAXIA PRÉ EXPOSIÇÃO)
alimento.
● O fármaco não interage com o sistema do Contextos de risco aumentado que podem indicar
citocromo P450, porém é metabolizado por necessidade:
glicuronidação, em particular pela UGT1A1.

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● Repetição de práticas sexuais anais ou vaginais ● Tenofovir + Lamivudina + Dolutegravir
com penetração sem o uso de preservativo (TDF+3TC+DTG) → possui menor número de efeitos
● Frequência de relações sexuais com parcerias adversos e baixa interação medicamentosa → melhor
eventuais; adesão e manejo clínico.
● Quantidade e diversidade de parcerias sexuais; ● Duração de 28 dias
● Histórico de episódios de IST; ● Deve-se continuar a prevenção por preservativos
● Busca repetida por PEP; e o uso de objetos compartilhados.
● Contextos de relações sexuais em troca de
dinheiro, objetos de valor, drogas, moradia etc.;
● Chemsex: prática sexual sob a influência de
drogas psicoativas (metanfetaminas, gama-
hidroxibutirato – GHB, MDMA, cocaína, poppers)
com a finalidade de melhorar ou facilitar as
experiências sexuais.

Esquema:

● Fumarato de tenofovir desoproxila + entricitabina


(TDF/FTC): comprimidos de 300 mg + 200 mg.:

Candidatos clinicamente elegíveis à PrEP poderão iniciá-la


após o teste negativo para HIV, realizado
preferencialmente no mesmo dia de início da profilaxia. A
recomendação é de que o início da PrEP seja o mais
próximo do dia da realização do exame, preferencialmente
no mesmo dia da testagem negativa para HIV, até um
máximo de sete dias após o teste.

Tempo para fazer efeito:

● Mulheres cisgênero, pessoas trans ou não


binárias designadas como sexo feminino ao
nascer, e qualquer pessoa em uso de hormônio a
base de estradiol, que façam uso de PrEP oral
diária, devem tomar o medicamento por pelo
menos 7 (sete) dias para atingir níveis de
proteção ideais. Antes dos sete dias iniciais de
introdução da PrEP, medidas adicionais de
prevenção devem ser adotadas.
● Homens cisgêneros, pessoas não binárias
designadas como do sexo masculino ao nascer, e
travestis e mulheres transexuais - que não
estejam em uso de hormônios à base de estradiol Prevenção da transmissão vertical por HIV:
- e que usem PrEP, seja ela diária ou sob
demanda, devem tomar uma dose de 2 (dois)
comprimidos de TDF/FTC de 2 a 24 horas antes
da relação sexual para alcançar níveis protetores
do medicamento no organismo para relações
sexuais anais (4, 5).
● Ressalta-se que os estudos de PrEP sob
demanda não apresentam evidências de proteção
para relações sexuais (neo)vaginal recepvas.

PEP (PROFILAXIA PÓS EXPOSIÇÃO)

Esquema::

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Referências:

Katzung, B.G.; Masters SB; Trevor AJ. Farmacologia


Básica e Clínica. 12a edição. Rio de Janeiro. McGraw-Hill,
2014. 1228 p.
Ministério da Saúde
Aula da prof Aline

Esquema terapêutico inicial em crianças e


adolescentes:

A TARV deve ser indicada para todas as crianças e


adolescentes vivendo com HIV, independente de fatores
clínicos da contagem de LT-CD4+ e da CV-HIV

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