O documento descreve um processo administrativo contra uma mercearia por vender produtos vencidos. A mercearia recorreu da decisão que aplicou uma multa de R$12.000, alegando que poucos produtos estavam vencidos e não causariam dano. O juiz negou o recurso e manteve a multa, afirmando que foram encontrados centenas de produtos impróprios para consumo e que a responsabilidade do comerciante é objetiva.
O documento descreve um processo administrativo contra uma mercearia por vender produtos vencidos. A mercearia recorreu da decisão que aplicou uma multa de R$12.000, alegando que poucos produtos estavam vencidos e não causariam dano. O juiz negou o recurso e manteve a multa, afirmando que foram encontrados centenas de produtos impróprios para consumo e que a responsabilidade do comerciante é objetiva.
O documento descreve um processo administrativo contra uma mercearia por vender produtos vencidos. A mercearia recorreu da decisão que aplicou uma multa de R$12.000, alegando que poucos produtos estavam vencidos e não causariam dano. O juiz negou o recurso e manteve a multa, afirmando que foram encontrados centenas de produtos impróprios para consumo e que a responsabilidade do comerciante é objetiva.
485/2007 Autuada/Recorrente: Mercearia Félix e Felix (Supermercado Bom Preço)
Julgamento do Recurso
Trata-se de recurso interposto pela Mercearia Felix e Felix, cujo
nome fantasia é Supermercado Bom Preço, em face da decisão administrativa que julgou subsistente o auto de infração e de apreensão e depósito que originou o presente processo administrativo e ao final aplicou sanção pecuniária de R$12.000,00 (doze mil reais) por violação aos art. 18, §6º, I, II e III; e art. 39, VIII, do CDC e art. 13, I, do Decreto Federal 2.181/97.
Aduz a Recorrente que embora “alguns” produtos estivessem
com a data de validade vencida ou aparentemente deteriorados, os vencimentos eram recentes, “não apresentando condições impróprias para o consumo humano”. Argumenta que “não restou caracterizado que o consumo dos produtos apreendidos poderia causar dano a quem os consumisse”. Diz que era “fácil observar se estavam impróprios ou não para o consumo” e que “não há notícia de danos graves causados a quem os ingerisse, senão pequenas ocorrências de dores de barriga”.
Continua, informando que a empresa é pequena e “não possui
condições de promover diariamente a conferência de vencimentos de produtos colocados à venda, em face de existência de poucos empregados” e que é alertada do vencimento das mercadorias pelos próprios consumidores.
Por fim, alega que é primária, que a multa é exagerada e que
sua confirmação poderá “quebrar” o estabelecimento, que não houve dolo, má fé ou dano, pugnando, enfim, pelo provimento do recurso.
É o relatório, conciso.
Recurso próprio e tempestivo.
Trata-se, até agora, da maior apreensão de produtos vencidos
num estabelecimento de Uberaba pelo Procon. Conforme os documentos probatórios, foram recolhidos 210 kilos de produtos impróprios para o consumo, entre vencidos e deteriorados.
A defesa fala em “alguns” produtos. Não é verdade. Foram
centenas e centenas, de todos os tipos, marcas e características, como se pode facilmente observar da leitura dos autos de apreensão e de constatação que este acompanham. Chega ao ponto de dizer que “alguns” estavam aparentemente deteriorados, mas era uma deterioração recente, um apodrecimento recente, coisa à toa. Me parece que a Recorrente consegue ver diferenças num alimento podre de pouco tempo e um alimento podre de muito tempo. Alega também que não restou provado que os produtos poderiam causar dano à saúde de quem os consumisse. Essa alegação é estapafúrdia: se não pudessem causar dano, porque então, devem ser retirados das prateleiras? Não existe meio termo: está vencido ou não está vencido! É próprio ou é impróprio!
A defesa traz ao processo a noticia de que não foram
registrados danos graves à saúde dos consumidores, apenas pequenas dores de barriga! O Procon/Uberaba não sabia disso! A Recorrente confessa em sua defesa que pessoas sofreram com dor de barriga após consumirem o alimento vencido!
Afirma Eduardo Gabriel Saad que a venda de produtos com
prazo de validade vencido é uma infração típica do comerciante, principalmente no comércio de produtos alimentícios. Para o renomado autor, não resta dúvida que ao consumidor cabe a substituição do produto ou a devolução da quantia paga e, ainda, o pagamento de perdas e danos derivado do perigo causado pela transgressão legal de autoria do comerciante. Como se trata de ato intentado pela fiscalização do órgão de defesa do consumidor, a multa é, nesse caso, simbólica e reparadora, em nome do número impreciso de consumidores que correram o risco.
A responsabilidade do comerciante é objetiva, independe de
danos subseqüentes ao consumo dos produtos podres. Basta expor à venda para caracterizar a infração ora repudiada. Pouco importa se o estabelecimento é grande ou pequeno, se tem ou não funcionários, o que importa é que quando as pessoas se lançam a exercer determinada atividade no comércio, em tese, deveriam estar preparadas para tal exercício. É ridículo ler a confissão da Recorrente de que é avisada pelos consumidores quando há produtos vencidos. Isso é transferir ao consumidor obrigação precípua do fornecedor, que deveria zelar para que o primeiro jamais tivesse esse trabalho ou corresse esse risco. Gerard-Jerôme Nana, em “La repartion dês dommagens causes par lês vices d’une chose”, citado por Saad em sua obra comentada, assinala que consoante o art. 1.641 do Código Civil Francês, compete ao comerciante a responsabilidade pelos defeitos da coisa que a tornem impróprias para o consumo. No Brasil, é assim também. Se o produto está deteriorado e o comerciante tem conhecimento disso, não resta dúvida que ele assume toda a responsabilidade pelo que advier de sua venda ao consumidor. Se pelo tempo decorrido entre a entrega do fabricante e a venda, o produto deteriorou-se, de toda a evidência que o comerciante deverá arcar com as conseqüências do ato ilícito.
No âmbito criminal, vender ou expor à venda produtos com a
validade vencida é crime contra o consumo previsto no inciso IX, do art. 7º da Lei 8.137/90. Acertadamente, o julgado a quo solicitou providências à Polícia Civil, pois sobejamente provado que a conduta do comerciante amoldou-se à conduta delituosa. Sobre o assunto, já decidiu a 13ª Câmara do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo:
A conduta do comerciante que expões à venda produto com prazo
de validade vencido é suficiente para caracterização do crime previsto no art. 7º, IX, da Lei Federal 8.137/90, sendo irrelevante que após a apreensão da mercadoria se constate, através de análise laboratorial, que a mesma era própria para o consumo, visto que o delito em apreço é de perigo abstrato, aperfeiçoando-se com a mera transgressão da norma incriminadora, independentemente de comprovação da impropriedade material ou real do produto (Ap. 986.425/8, julgada em 27/02/96).
Se o estabelecimento não possui condições de promover
diariamente a conferência dos produtos que vende, para ver se estão poderes ou não, talvez não devesse mesmo exercer o varejo. O valor da multa atendeu rigorosamente os critérios esculpidos nos arts. 24, 25, 26 27 e 28 do decreto regulamentador e não merece reparos.
Considerando todo o exposto, nego provimento ao recurso e
assim mantenho a decisão anterior nos seus claros e bem lançados fundamentos. Concedo o benefício do art. 45 do Decreto Municipal 2.575/07, que dá 5% de desconto caso a multa seja recolhida em dez dias, a contar do conhecimento desta decisão, em favor do Fundo Municipal dos Interesses Difusos do Município de Uberaba (C/C 64/7, operação 006, agência 3988, da Caixa Econômica Federal). O depósito deverá ser informado nos autos. O não recolhimento da multa acarretará a inscrição do crédito na dívida ativa do municio e será cobrada em posterior execução fiscal.