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Pericardite

OBJETIVOS ALTERAÇÕES DO PERICÁRDIO

 Entender a etiofisiopatogênese das possíveis alterações  As doenças do pericárdio englobam derrames e


no pericárdio. condições inflamatórias, que às vezes resultam em
 Compreender as manifestações clínicas, diagnósticos constrição fibrosa.
(ECG) e tratamentos da pericardite.  O pericárdio está sujeito a muitos dos mesmos
 Estudar os mecanismos imunológicos das doenças processos patológicos (p. ex., doenças congênitas,
autoimunes. infecções, traumatismo, distúrbios imunes e doença
neoplásica) que afetam outras estruturas do corpo.
PERICÁRDIO  A doença pericárdica isolada é incomum, e as lesões
pericárdicas normalmente estão associadas a um
 É um revestimento fibroso que envolve o coração, processo patológico localizado em outra parte do
mantendo-o em uma posição fixa no tórax e fornecendo coração ou nas estruturas circunjacentes, ou são
proteção física e barreira contra infecções. secundárias a um distúrbio sistêmico.
 O pericárdio é um saco de três camadas constituído por
uma camada fibrosa e resistente externa e uma CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS DO PERICÁRDIO
camada fina serosa interna.
Infeciosa: viral (ecovírus, vírus
- CAMADA FIBROSA coxsackie e outros), bacteriana
(tuberculose, staphylococcus,
 Localizada externamente. streptococcus) e fúngica
 Está conectada aos grandes vasos que entram e saem Distúrbios imunes e do colágeno (FR,
do coração, do esterno e do diafragma. artrite reumatoide, lúpus eritematoso
 O pericárdio fibroso é altamente resistente à distensão. sistêmico).
INFLAMAÇÃO
 Age impedindo a dilatação aguda das câmaras Transtornos metabólicos (uremia,
cardíacas e exerce um efeito restritivo sobre o ventrículo diálise, mixidema).
esquerdo. Isquemia e lesões dos tecidos (IM,
cirurgia cardíaca, traumatismo
- CAMADA SEROSA torácico).
Agentes físicos e químicos
 Localizada internamente. (radioterapia e outros).
 Consiste em duas camadas: uma camada visceral e uma DOENÇA
camada parietal. Primária ou secundária.
NEOPLÁSICA
 A camada visceral, também conhecida como epicárdio,
Ausência parcial ou total do
recobre todo o coração e os grandes vasos e depois se DOENÇAS
pericárdio e cistos pericárdicos
dobra para formar a camada parietal, que reveste o CONGÊNITAS
congênitos.
pericárdio fibroso.
 Entre as camadas visceral e parietal encontra-se a
cavidade pericardial, um espaço potencial que contém PERICARDITE AGUDA
de 30 a 50 mℓ de líquido seroso.
o Esse líquido age como um lubrificante para minimizar  Definida como conjunto de sinais e/ou sintomas
o atrito à medida que o coração se contrai e relaxa resultantes da inflamação pericárdica com duração
contra estruturas adjacentes. máxima de uma a duas semanas, pode ocorrer em uma
gama de doenças.
 A maioria dos casos é considerada idiopática.

FISIOPATOGENESE

- PERICARDITE FIBRINOSA OU SEROFIBRINOSA

 São os tipos mais frequentes de pericardite.


 Compostas por um líquido seroso, variavelmente
mesclado e um exsudato fibrinoso.
 Causas mais comum: IM, síndrome pós-infarto
(Dressler, uma resposta autoimune que aparece dias a
semanas após o IM), uremia, irradiação do tórax, febre
reumática, LES e traumas.
 Sintoma: inclui dor, febre, insuficiência congestiva pode
estar presente e o atrito pericárdico sonoro é o achado
clínico mais notável.
- PERICARDITE PURULENTA OU SUPURATIVA  A pericardite caseosa é um antecedente comum da
pericardite constritiva, fibrocalcificada, crônica e
 Reflete a infecção ativa provocada pela invasão de incapacitante.
micróbios no espaço pericárdico.
 Pode ocorrer em função de: MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
o Propagação direta a partir de infecções vizinhas.
o Disseminação pelo sangue.  Consiste em tríade de sintomas: dor torácica, atrito
o Propagação linfática. pericárdico e alterações no ECG.
o Introdução direta durante uma cardiotomia.  As manifestações clínicas podem variar de acordo com o
 O exsudato varia de um líquido turvo fino a um pus agente etiológico.
evidente, com um volume de até 400 a 500 mL.
 As superfícies serosas estão avermelhadas, granulares - DÓR TORÁCICA
e cobertas com exsudato
 Microscopicamente, existe uma reação inflamatória  Quase todos os pacientes com pericardite aguda
aguda que algumas vezes se estende até as estruturas referem dor torácica.
circunjacentes.  Em geral, a dor tem início repentino, é bem demarcada
 A resposta inflamatória intensa e a cicatrização na área precordial e pode irradiar ao pescoço, dorso,
subsequente frequentemente produzem pericardite abdome ou lado do tórax.
constritiva, uma consequência grave.  Os pacientes com pericardite aguda não complicada
 Sintoma: na fase ativa são semelhantes àqueles vistos com frequência sentem-se desconfortáveis, ansiosos,
na pericardite fibrinosa, embora a infecção evidente leve com febre baixa e taquicardia sinusal.
a sintomas sistêmicos mais acentuados, incluindo picos  A dor na crista escapular pode ser causada pela irritação
febris e calafrios. do nervo frênico.
 Nos casos típicos, em razão das alterações do retorno
venoso e do enchimento cardíaco, a dor piora quando o
paciente respira profundamente, tosse, deglute e muda
de posição.
 Em muitos casos, o paciente sente alívio na posição
sentada e inclinado para frente.

DIAGNÓSTICOS

 O único achado no exame físico é um atrito pericárdico


provocado pelo contato entre o pericárdio parietal e o
visceral.
 O atrito clássico é um achado facilmente reconhecível à
ausculta e patognomônico.
 Tem sido associado ao som produzido ao se caminhar
sobre neve crepitante.
 O atrito normalmente é mais alto na borda esternal
inferior esquerda e é mais bem auscultado com o
paciente inclinado para frente. Ele é, em geral, dinâmico,
-Pericardite supurativa aguda resultante da propagação direta de desaparecendo e retornando durante curtos períodos.
uma pneumonia adjacente. Um extenso exsudato purulento é
evidente. - ALTERAÇÕES NO ECG
- PERICARDITE HEMORRÁGICA
 O eletrocardiograma (ECG) é o exame complementar
mais importante no diagnóstico da pericardite aguda.
 Apresenta um exsudato composto por sangue misturado
 O achado clássico é uma elevação difusa do segmento
com derrame fibrinoso ou supurativo.
ST.
 Pode ocorrer em função:
o O vetor do segmento ST na pericardite aguda
o Da disseminação de uma neoplasia maligna ao
aponta, de modo característico, para a esquerda,
espaço pericárdico (comum).
anteriormente e inferiormente.
o Infecções bacterianas.
 A depressão do segmento PR é outro achado comum na
o Após uma cirurgia cardíaca e, às vezes, é
pericardite aguda.
responsável por uma perda significativa de sangue
o Pode ocorrer sem elevação do segmento ST e ser a
ou mesmo por tamponamento, exigindo uma nova
única manifestação ou a manifestação inicial de uma
cirurgia.
pericardite aguda no ECG.
- PERICARDITE CASEOSA  Outras alterações eletrocardiográficas que não a
elevação do segmento ST e a depressão do intervalo PR
são raras em pacientes avaliados logo após o início dos
 Causa principal: Tuberculose (TB).
sintomas.
 Causa possível: infecção por micobactérias atípicas e
 As alterações eletrocardiográficas diferentes dessas
fungos, como Histoplasma e Candida.
devem ser cuidadosamente consideradas, uma vez que
 Ocorre envolvimento pericárdico por disseminação direta
sugerem outros diagnósticos.
a partir de focos tuberculosos dentro dos linfonodos
 Assim como o atrito, as alterações eletrocardiográficas
traquebrônquicos.
na pericardite aguda podem ser dinâmicas.
característico da sombra do coração nas radiografias de
tórax. Por outro lado, o desenvolvimento rápido de
acúmulo de líquido pode produzir uma compressão
clinicamente devastadora dos átrios de paredes
delgadas e da veia cava, ou dos próprios ventrículos.

- TAMPONAMENTO CÁRDIACO

 O derrame pericárdico pode causar uma condição


conhecida como tamponamento cardíaco, na qual há
compressão do coração em consequência da
acumulação de líquido, pus ou sangue no saco
pericárdico.
- O eletrocardiograma na pericardite aguda. Observe tanto a  Essa condição potencialmente fatal pode ser causada
elevação difusa do segmento ST como a depressão do segmento por infecções, neoplasias e hemorragia.
PR.
 Consequências:
- OUTROS EXAMES o Aumenta a pressão intracardíaca.
o Causa limitação progressiva do enchimento diastólico
 Hemograma: apresentam com frequência elevações discretas dos ventrículos.
da contagem leucocitária com linfócitose leve. o Diminui o volume ejetado e o débito cardíaco.
 PCR: ocorre elevação da proteína C reativa de alta  A gravidade do quadro depende do volume de líquido e
sensibilidade (PCR-as) em aproximadamente três quartos dos da velocidade com que se acumula.
pacientes com pericardite aguda. Correlaciona-se de forma
independente com a recorrência dos sintomas (por isso usada
- DIAGNÓSTICO
para monitorização da atividade da doença e para ajudar a
determinar a duração da terapêutica).
 Radiografia de tórax: geralmente é normal nos casos não  Um elemento diagnóstico fundamental é o pulso
complicados de pericardite aguda idiopática. Às vezes, paradoxal, que pode ser detectado por palpação,
pequenos infiltrados pulmonares ou derrames pleurais estão esfigmomanometria convencional ou monitoramento da
presentes, presumivelmente em virtude de infecções por vírus pressão arterial.
ou por micoplasma.  Nos pacientes com pulso paradoxal, o pulso arterial
 Ecocardiograma: a principal razão para a realização da palpado na artéria carótida ou femoral torna-se
ecocardiografia é a exclusão de um derrame. Também é útil
para avaliar se a miocardite associada é grave o bastante para
enfraquecido ou impalpável durante a inspiração e mais
alterar a função ventricular e para detecção de IM. forte durante a expiração.
 TC: Em casos difíceis, a tomografia computadorizada (TC) e/ou  O ecocardiograma é uma técnica rápida, precisa e
a ressonância magnética (RM) cardíaca podem ser úteis na amplamente utilizada para avaliar derrames pericárdicos.
detecção de espessamento pericárdico. O ECG geralmente revela alterações inespecíficas da
 Pericardiocentese: objetivo terapêutico e diagnóstico. Indicado onda T e complexos QRS com voltagem baixa.
na presença de tamponamento pericárdico e em alguns casos
do derrame moderado.
TRATAMENTO
PERICARDITE CRONICA OU CONSTRITIVA
A maioria dos pacientes devem ser hospitalizados para
determinação da etiologia, observar sinais ou sintomas de
 Em alguns casos, a organização produz apenas
tamponamento e iniciar tratamento.
espessamentos fibrosos, semelhantes a placas, nas
membranas serosas ou aderências finas e delicadas que
 AINE: principal tratamento nas pericardites idiopática e
raramente causam distúrbios na função cardíaca.
viral. Promove alívio da dor e a resolução do processo
 Em outros casos, a fibrose, na forma de aderências
inflamatório.
filamentosas e semelhantes a malha, oblitera
 Colchicina: coadjuvante no alívio da dor e na prevenção
completamente o saco pericárdico.
da recorrência por 1,5 anos.
 Consequência: como o saco pericárdico está obliterado,
 Corticoides: supressão da atividade inflamatória e
e a aderência da face externa da camada parietal às
melhora clínica e inflamatória importante.
estruturas circunjacentes dificulta a função cardíaca.
Ocasionalmente, a sobrecarga de trabalho aumentada  Antiviral: melhora dos sintomas, remissão e evita sua
provoca hipertrofia e dilatação cardíacas graves. ocorrência.
 Os sinais de pericardite constritiva incluem sons
cardíacos distantes ou abafados, pressão venosa jugular  Tratamento no tamponamento cardíaco: drenagem do
elevada e edema periférico. líquido pericárdico para reduzir a pressão
intrapericárdica para melhorar a hemodinâmica do
 O tratamento consiste na ressecção cirúrgica da
paciente.
carapaça de tecido fibroso constritivo (pericardiectomia).
 Tratamento cirúrgico: A pericardiocentese ou
DERRAME PERICÁRDICO
drenagem pericárdica aberta terapêutica em pacientes
com tamponamento cardíaco. A pericardiectomia pode
 Normalmente o saco pericárdico contém menos de 50
ser feitas nos pacientes com pericardite constritiva
mL de um líquido cor de palha, claro e transparente.
sintomáticos refratários ao tratamento clínico, com o
 Sob várias circunstâncias, o pericárdio parietal sofre objetivo do procedimento de liberar os ventrículos do
distensão por um líquido seroso (derrame pericárdico), pericárdio densamente aderido. A ressecção completa
sangue (hemopericárdio), ou pus (pericardite purulenta). deve restaurar a curva depressão-volume.
 Nos derrames crônicos de menos de 500 mL de volume,
a única importância clínica é o aumento globular
MECANISMO DE AUTOIMUNIDADE linfócitos, é a causa subjacente de todas as doenças
autoimunes.
 Os fatores que contribuem para o desenvolvimento da  Apresentação anormal de autoantígenos: essas
autoimunidade são a suscetibilidade genética e os anormalidades podem incluir expressão aumentada e
gatilhos ambientais, como infecções e lesão local no persistência de autoantígenos que são normalmente
tecido. degradados ou alterações estruturais nesses antígenos.
 Inflamação ou resposta imunológica inata inicial: essas
 Genes de suscetibilidade podem prejudicar os reações podem contribuir para o desenvolvimento de
mecanismos de autotolerância, a infecção ou necrose nos doença autoimune, talvez pela ativação das APCs, que
tecidos promovem o influxo de linfócitos autorreativos e a se sobrepõem aos mecanismos regulatórios, resultando
ativação dessas células, resultando em lesão tecidual. em ativação excessiva da célula T.
 Infecções e lesão tecidual também podem alterar a forma
como os autoantígenos são apresentados para o sistema BASES GENÉTICAS DA AUTOIMUNIDADE
imunológico, levando à falha da autotolerância e à
ativação dos linfócitos autorreativos.  A maioria das doenças autoimunes é consequência de
 Outros fatores como mudanças na microbiota do indivíduo características poligênicas complexas, nas quais os
e alterações epigenéticas nas células imunológicas podem indivíduos afetados herdam polimorfismos genéticos
desempenhar papéis importantes na patogênese. múltiplos que contribuem para a suscetibilidade da
doença.
CARACTERÍSTICAS GERAIS  Estes genes agem em conjunto com os fatores
ambientais para causarem as doenças.
 Doenças autoimunes podem ser sistêmicas ou órgão-
específicas, dependendo da distribuição dos PAPEL DAS INFECÇÕES NA AUTOIMUNIDADE
autoantígenos que são reconhecidos.
o Complexos imunológicos circulantes (ex. lúpus  Infecções virais e bacterianas podem contribuir para o
eritematoso sistêmico). desenvolvimento e exacerbação da autoimunidade.
o Complexos imunológicos com distribuição específica  As lesões da autoimunidade não se devem ao agente
(ex. esclerose múltipla). infeccioso por si só, mas resultam das respostas
 Vários mecanismos efetores são responsáveis pela imunológicas do indivíduo, que podem ser disparadas ou
lesão do tecido em diferentes doenças autoimunes. desreguladas pelo microrganismo.
o Podem ser: complexos imunológicos, autoanticorpos
circulantes e linfócitos T autorreativos.  Infecções de tecidos particulares podem induzir respostas
 Doenças autoimunes tendem a ser crônicas, imunológicas inatas locais que recrutam leucócitos para
progressivas e de autoperpetuação. esses tecidos, resultando na ativação de APCs teciduais.
o Pois os autoantígenos disparam reações de forma Essas APCs começam a expressar coestimuladores e a
persistente e quando se inicia uma resposta, pode secretar citocinas ativadoras de células T, resultando no
acontecer a liberação de outros antígenos e a colapso da tolerância da célula T. Sendo assim, a infecção
exacerbação da doença. resulta na ativação de células T que não são específicas
para o patógeno infeccioso.
ANORMALIDADES IMUNOLÓGICAS
 Microrganismos infecciosos podem conter antígenos que
 Tolerância ou regulação defeituosas: a falha dos têm reatividade cruzada com autoantígenos, então,
mecanismos de autotolerância em células T ou B, respostas imunológicas a esses microrganismos podem
levando ao desequilíbrio entre ativação e controle de resultar em reações contra autoantígenos. Este fenômeno
chama-se mimetismo molecular, porque os antígenos do
microrganismo mimetizam os autoantígenos.

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