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RAZÕES DE APELAÇÃO

Processo nº 2006.800.515515-3
Ação de Investigação de Paternidade c/c pedido de alimentos
Apelante : Helena Peres, rep. p/ sua genitora, Isabel Peres
Apelado : Pedro Borba

EGRÉGIA CÂMARA,

Merece reforma a sentença recorrida em razão da má


apreciação das questões de fato e de direito, como irá demonstrar a apelante:

DOS FUNDAMENTOS DE FATO E DE DIREITO

1 – Trata-se de Ação de Investigação de Paternidade


Cumulada com Pedido de Alimentos a serem fixados desde a data da concepção.

2 - O apelado foi condenado ao pagamento de alimentos em


15% de seus vencimentos líquidos, a serem descontados em folha, a partir do
trânsito em julgado da sentença.

3 – No curso do processo, o apelado recusou-se a fazer exame


de DNA, faltando em todas as ocasiões marcadas.

4 – Na audiência de instrução e julgamento foram ouvidas


várias testemunhas que afirmaram que, durante os dois anos anteriores ao período
da concepção de Helena, Pedro e Isabel eram namorados e estavam sempre
juntos.

5 – Além disso, as testemunhas também declararam que, tão


logo soube da gravidez de Isabel, o apelado afastou-se alegando que nunca
quisera ser pai e que, se a gravidez fosse mantida, não continuaria com ela e nem
forneceria qualquer ajuda. O que, de fato, aconteceu, pois durante toda gravidez,
a mãe da apelante teve que se sustentar sozinha, custeando todo o pré-natal, o
parto, bem como sustentando a criança desde o nascimento.

6 – Inicialmente, cabe ressaltar que a recusa do investigado


em se submeter ao exame de DNA, deixou evidente a confissão de paternidade,
uma vez que o referido exame seria a comprovação científica do alegado.
Também, não se pode esquecer o fato de constarem nos autos provas
fundamentadas em depoimentos testemunhais acerca do relacionamento mantido
entre a mãe da apelante e o apelado.

7 – Portanto, deve-se considerar que a obrigação alimentar


imputada ao apelado é certa, pela declaração judicial de sua paternidade em
relação à apelante.

8 – Com relação ao tema referente ao termo inicial dos


alimentos em ação de investigação de paternidade, a doutrina e jurisprudência
admitem que, na maioria das vezes, é extremamente difícil fixar os alimentos a
partir da concepção ou do nascimento, porque o investigado sempre terá a seu
favor a alegação de que desconhecia o fato. Entretanto, diante da existência de
prova nos autos, no sentido de o apelado ter conhecimento prévio do fato natural
da concepção, ou do nascimento do filho que lhe é atribuído, antes mesmo de
tomar ciência da ação investigatória de paternidade que lhe é movida, os
alimentos devem ter como termo inicial data anterior à citação.
9- No caso em tela, o apelado foi informado por Isabel que
seria pai, na época da gravidez, o que provocou o afastamento do apelado e
recusa a fornecer qualquer auxílio. Assim, quando o apelado foi citado na
referida ação, não desconhecia o fato de o relacionamento com Isabel ter como
fruto uma criança. Portanto, é evidente que os alimentos são devidos desde a data
da concepção, pois a gravidez é um período em que são necessários todos os
cuidados com a gestante e o feto, tais como alimentação, médico, exames,
medicamentos etc., não havendo sentido em aguardar o trânsito da sentença.

10 – Em artigo publicado sobre o tema, Thycho Barhe


Fernandes (in Do Termo Inicial dos Alimentos na Ação de Investigação de
Paternidade, Revista dos Tribunais, São Paulo, 1993, p. 268-270) defende que
“(...) o filho pode postular alimentos desde que reconhecido, com efeitos
anteriores à sentença que declara a paternidade e toma como correta a
fixação dos alimentos a partir do nascimento ou, até mesmo da concepção”
(...) ressaltando, ainda, que não se pode dizer que “o nascituro não tem
necessidade de alimentos, pois, sua alimentação se dá através da correta
alimentação da mãe.” (...). Assim, o pai, prestando alimentos para mãe, estará
fazendo para o filho.

11 – No mesmo sentido, é a opinião de Miguel Borghezan (O


Termo Inicial e a Concreta Defesa da Vida na Ação de Investigação de
Paternidade, Repertório IOB de Jurisprudência: São Paulo, 2001, 3/18048), para
quem é “biológico que o início da vida se dá com a fecundação do óvulo pelo
espermatozóide, de ordinário, no ventre materno” e, portanto, lhe parece ser
“jurídico e justo sejam os alimentos da dignidade de concessão, espontânea
ou impositivamente, desde que seja possível determinar a paternidade” .
Prossegue, ainda, o autor:

“Essa ilação decorre do disposto no art. 229,


primeira parte, da ‘Lex Principalis’, segundo
a qual ‘os pais têm o dever de assistir, criar e
educar os filhos menores’ (...).

12 – De acordo com as provas produzidas nos autos, através


dos depoimentos pessoais e das testemunhas, não resta dúvida de que o apelante
tinha conhecimento prévio da gravidez, antes mesmo de ser citado para responder
à presente demanda, do resulta seu dever de pagar alimentos em favor do filho, a
partir da concepção deste, ou seja, desde o mês de agosto de 2004, período que
antecede em nove meses ao nascimento da apelante, ocorrido em 21/4/2005.

13 - Neste sentido já decidiu o Tribunal de Justiça do Rio


Grande do Sul:

“INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE.
RECUSA EM SUBMETER AO EXAME DE
DNA. ALIMENTOS. FIXAÇÃO E TERMO
INICIAL À DATA DA CONCEPÇÃO. A
recusa em se submeter ao exame de
paternidade gera presunção da paternidade.
O fato de inexistir pedido expresso de
alimentos não impede o magistrado de fixá-
los, não sendo extra petita a sentença. O
termo inicial da obrigação alimentar deve ser
o da data da concepção quando o genitor
tinha ciência da gravidez e recusou-se a
reconhecer o filho. REJIEITADA A
PRELIMINAR. APELO DESPROVIDO,
POR MAIORIA. SEGREDO DE JUSTIÇA”.
(Apelação Cível nº 70012915062, Sétima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Maria Berenice Dias, Julgado em
09/11/2005.).

14 – Portanto, a sentença proferida pelo juízo a quo, que


determinou o pagamento dos alimentos a partir do trânsito em julgado da decisão,
deve ser reformada.

DO PEDIDO

Diante do exposto, requer a V. Exa.:

A – conheça do recurso interposto e lhe dê provimento para reformar a r. sentença


recorrida, no sentido de julgar procedente o pedido, autorizando o pagamento dos
alimentos de imediato, retroagindo à data da concepção da apelante, ou seja, agosto
de 2004;

B – caso os eméritos julgadores assim não entendam, que seja determinado o


pagamento dos alimentos imediatamente, tendo como termo inicial da obrigação
alimentar a data da citação: 12/12/2005;

C – que seja o apelado condenado aos ônus da sucumbência.

Por ser medida de Direito e de Justiça.

P. deferimento.

Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2006.


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ADVOGADO
OAB/RJ

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