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Hematú ria nã o é uma doença, é um sinal que pode significar um nú mero grande de doenças
Toda hematú ria deve ser investigada a fim de tentar descobrir a sua causa! Nenhuma hematú ria pode ficar sem
investigaçã o, pois pode representar doença grave, mesmo se já tiver cessado e independentemente da
quantidade
Muitas vezes nã o está acontecendo no momento da consulta, principalmente a hematú ria macroscó pica (é
intermitente), mas mesmo assim, merece ser investigada
IMPORTÂ NCIA
○ Alta prevalência
○ Comuns a vá rias doenças do trato uriná rio (doenças glomerulares e pó s glomerulares)
○ Afetam até 18% da populaçã o em algum momento da vida
○ Prevalência aumenta com a idade
○ 5 a 20% das hematú rias podem ter causas significativas
CLASSIFICAÇÃ O
DEFINIÇÃ O
Causadas por lesã o nas membranas glomerulares que normalmente nã o sã o permeá veis à s hemá cias. Lesõ es
imunoló gicas lesam essa membrana tornando-as permeá veis, elas entã o atingem o sistema tubular e sã o
eliminadas. Sã o chamadas nefroló gicas pois envolvem o néfron.
HEMATÚ RIAS PÓ S-GLOMERULARES
Causadas por doenças macroscó picas, como cistos, tumores em qualquer ponto da via uriná ria, problemas
vasculares, pielonefrite, cá lculos, alteraçõ es na pró stata, pó lipos uretrais. Sã o chamadas uroló gicas pois estã o
mais ligadas à s doenças que o urologista trata.
○ Glomerulares: pode ser uma doença grave que evolui insuficiência renal se nã o houver o
diagnó stico precoce
○ Pó s-glomerular: pode ser um tumor urológico avançado, o diagnó stico precoce evitaria a
progressã o
HEMATÚ RIAS
○ Sintomáticas: sintomas ajudam no diagnó stico (iniciar a investigaçã o no sítio dos sintomas,
orienta o nosso ponto de partida)
○ Assintomáticas: investigaçã o mais trabalhosa, investigar todo o trato uriná rio
○ Transitórias: a hematú ria tem resoluçã o espontâ nea, mas isso nã o encerra o caso pois deve
haver a investigaçã o da causa da hematú ria, pode voltar a qualquer momento
○ Persistentes: diagnó stico oculto mesmo apó s investigaçã o, sem elucidaçã o com permanência
da hematú ria, continuar acompanhando na expectativa de que uma doença significativa se
manifeste com o tempo
○ Disú ria e piú ria aguda: cistite (a inflamaçã o aguda gera microulceraçõ es, gerando o
sangramento)
○ Presença de dor lombar: litíase, tumor, necrose de papila (iniciar a investigaçã o no sítio da dor)
○ Hematú ria no final do jato: inflamaçã o do trígono vesical, cistites
○ Hematú ria em todo o jato (geralmente indolor): tumores (tumor de bexiga: é o tumor uroló gico
que mais causa hematú ria)
○ Disú rias crô nicas (meses ou anos com disú ria): tumores de bexiga
○ Radioterapia pélvica (para tratamento de tumores de colo, reto, etc): cistite actínica (a
radioterapia pode acometer a bexiga, gerando a cistite actínica a longo prazo, que cursa com
neoformaçã o vascular: vasos de parede frá gil que podem romper e sangrar com facilidade)
○ Cirurgia recente de pró stata: complicaçã o cirú rgica
○ Trauma ou exercício vigoroso: trauma de bexiga, diagnó stico de exclusã o, geralmente
microscó pica, comum em atletas, fazer o EAS em repouso e apó s o esforço repetidas vezes
○ Medicaçõ es, como os anticoagulantes (xarelto, marevan): existe um grupo grande de pacientes
que utilizam medicaçõ es anticoagulantes por diversos motivos, mas é importante nã o culpar o
anticoagulante sem investigar outras causas, o anticoagulante pode estar precipitando o
sangramento por outra causa
○ Pacientes da raça negra: anemia falciforme (gera hemó lise, que gera hemoglobinú ria)
○ Piú rias estéreis (paciente realiza diversas culturas repetidamente negativas): tuberculose
uriná ria, gera sintomas mais tardiamente, sempre pesquisar BK ou PCR na urina
○ IVAS recente: nefropatia por IgA (geralmente hematú ria macroscó pica: urina cor de coca cola)
(ú nica causa glomerular que causa hematú ria macroscó pica)
○ OBS: sempre descartar primeiro tumor ou doença glomerular
APRESENTAÇÃ O
○ O paciente queixa
○ O profissional de saú de vê
○ Achado de exame de urina
● Hematúria macroscópica: aparece na coloraçã o da urina
○ Vermelha ou vinhosa: geralmente é pó s-glomerular (mas se o sangue permanecer dentro da
bexiga por muito tempo ele pode ficar cor de coca cola por conta da degradaçã o das
substâ ncias)
○ Cor de coca-cola (preta): geralmente é glomerular (pois a hemá cia já sai destruída, é uma
hemoglobinú ria)
● Coágulos junto com o sangramento: causa pó s glomerular, pois na perda glomerular as perdas sã o
pequenas e nã o sã o suficientes para coagular o sangue, esses coá gulos sã o frequentes em tumores que
sangram com maior intensidade a ponto de formar coá gulo
○ Reaná lise do EAS se os resultados anteriores foram negativos (proteinú ria, cilindros hemá ticos
e proteinú ria de 24h)
○ Pesquisa de dismorfismo eritrocitá rio (é glomerular pois a hemá cia passa apertada pelos poros
da membrana glomerular e sofre distorçã o da sua forma esférica)
■ Tipo de dimorfismo: acantó cito (mais de 5% de acantó cito: confirmaçã o de
dismorfismo eritrocitá rio: hematú ria glomerular, hemá cia com apêndices/orelhas,
parece pedra de um anel)
O QUE FAZER SE A HEMATÚ RIA É GLOMERULAR?
● Todas as hematú rias merecem investigaçã o: merecem avaliaçã o completa por métodos de imagem
○ Ex: uso de coagulantes nã o pode ser atribuído como a ú nica causa de hematú ria, deve-se
pressupor a existência de lesõ es uriná rias, o anticoagulante pode predispor o sangramento, mas
pode ter outra causa
○ Litíase
○ Estenose de JUP (má formaçã o congênita)
○ Refluxo vesico-ureteral
○ Hidronefrose (dilataçã o do rim com ureter normal)
○ Estenoses de uretra (estreitamento)
○ HPB
○ Necrose de papila
○ Cistite intersticial
● USG de bexiga - A bexiga é uma víscera oca que só deve conter urina. Bexiga normal: anecó ica (preta).
Alteraçã o: presença de elemento hiperecó ico (branco): tumor, cá lculo, pó lipo, etc
● USG de rim - O rim é preto (pois tem muito sangue), centro do rim é mais branco e gordura perirrenal é
branca
ALTERAÇÕ ES EM USG:
*Ureter com urina represada por conta de obstruçã o por cá lculo: preta
CONCLUSÃ O
○ As hematú rias ocorrem em mú ltiplas doenças
○ Para as hematú rias glomerulares, o risco em potencial é a insuficiência renal
○ Para as hematú rias pó s-glomerulares existem vá rias doenças de risco, sendo as mais
importantes, o câ ncer urotelial e renal
○ Pacientes sem causa diagnosticada: realizar acompanhamento destes pacientes a cada 6 meses
por 3 anos e depois, anualmente
A urologia depende muito da imagem pois o exame físico e o exame de urina sã o pobres
CASO CLÍNICO
Hematú ria microscó pica de causa nã o glomerular, idoso, ex tabagista, sem proteinú ria, com histó ria de cá lculo,
USG mostra cá lculo - Pensar em câ ncer de bexiga! Nem tudo é urolitíase!
SINTOMAS DO TRATO URINÁ RIO INFERIOR - LUTS
(LOWER URINARY TRACT SYMPTOMS)
Paciente de 59 anos, com histó ria de HPB e sintomas do trato uriná rio inferior (anteriormente chamados de
prostatismo, sintomas causados pelo aumento da pró stata gerando obstruçã o, nem todo crescimento da pró stata
geram sintomas do trato uriná rio inferior e esses sintomas nã o sã o exclusivos do aumento da pró stata)
HPB (hiperplasia prostá tica benigna): termo da patologia que foi para a clínica, ocorre quando uma pró stata
cresce (visto no exame físico ou nos exames de imagem), a pró stata deveria ter 20g
HPB e LUTS começam a ocorrer apó s 40-50 anos (na verdade a manifestaçã o sintomá tica ocorre nesse
período)
Doxazosina: medicaçã o alfa bloqueadora / bloqueador alfa adrenérgico (relaxa musculatura prostá tica)
Sintomas mesmo com a medicaçã o: noctú ria, jato uriná rio fraco e polaciú ria (alta frequência uriná ria)
CAUSAS
LUTS: sintomas causados por vá rias situaçõ es do trato uriná rio inferior
● Crescimento prostá tico com obstruçã o: sintomas pois a urina nã o consegue sair adequadamente
● Poliú ria noturna (normalmente urinamos mais de dia do que de noite pois à noite normalmente tem
mais ADH, nessa situaçã o produz mais urina a noite e começa a acordar mais a noite para urinar)
● Tumor de bexiga
● Cá lculo no ureter distal: paciente com có lica renal + polaciú ria e urgência miccional: significa que o
cá lculo está no ureter distal (bem perto da bexiga)
FISIOLOGIA DA MICÇÃ O
● Trato uriná rio inferior: bexiga e uretra
● Musculatura lisa ao redor da pró stata e do colo vesical no homem e envolvendo a uretra proximal na
mulher = esfincteriana (esfíncter uretral interno)
● Esfíncter uretral externo = musculatura estriada (inervada pelo nervo pudendo e se contrai junto com os
mú sculos do assoalho pélvico)
DUAS ETAPAS
■ Bexiga tem que ter boa elasticidade para acomodar o volume (capacidade entre 350-
500 ml/complacência)
■ Sem fístulas - Fístulas sã o mais comuns nas mulheres (vesicovaginais: urina da bexiga
cai na vagina, impedindo o armazenamento)
■ Noradrenalina: relaxa a musculatura detrusora e contrai a esfincteriana e periprostá tica (na bexiga
tem receptores beta e no colo vesical tem receptores alfa)
■ Está tica: obstruçã o pelo volume da pró stata que nã o permite o esvaziamento
○ Contraçã o sustentada: musculatura detrusora fraca ou nã o contrai (em pacientes com DM)
SINTOMAS
■ Noctúria (com relevâ ncia clínica: > 2x/noite) (na verdade acordar 1x já é noctú ria
■ Intermitência
■ Mais comum nos homens (pró stata e uretra mais susceptível a lesã o iatral)
○ Localizado na ponte - Se estimula a ponte: urina. Se destró i a ponte: retençã o uriná ria.
○ Bexiga vai enchendo (simpá tico) > esfíncter uretral mantém contraçã o impedindo o escape da
urina (simpá tico) > reflexo da micçã o (inibiçã o do simpá tico) > bexiga contrai e esfíncter relaxa
(parassimpá tico)
○ Adquirido, sistema límbico, controle consciente: Com 2-3 anos adquire controle consciente da
micçã o, aprendemos a bloquear o reflexo (normalmente desencadeado com 150 mL), mantém
controle inibitó rio da ponte, postergando a micçã o para quando quiser urinar, a inibiçã o da
micçã o é inicialmente voluntá ria e depois se torna um ato involuntá rio
○ Inervaçã o simpá tica: armazenamento (T11-L2> plexo hipogá strico superior > nervo
hipogá strico)
○ Inervaçã o parassimpá tica: esvaziamento (S2-S3-S4 > nervo pélvico > sinapse em gâ nglio
pró ximo a bexiga ou na parede da bexiga) + inervaçã o somá tica (nervo pudendo) que inerva
musculatura estriada do esfíncter uretral externo
○ Centro sacral da micçã o (na regiã o sacral): partem nervos que vã o fazer a bexiga contrair
(esvaziamento) - nervos pélvicos
○ Na regiã o torá cica/lombar: partem nervos que vã o fazer a bexiga relaxar (armazenamento) -
nervos hipogá stricos
○ Nervos parassimpá ticos e simpá ticos se juntam pró ximo ao reto e a bexiga Iateralmente)
formando o plexo hipogá strico inferior ou plexo pélvico - inervam a regiã o pélvica
OBS: cirurgias amplas dessa regiã o (para neoplasia ou endometriose) podem causar lesã o do
plexo e denervaçã o da bexiga
ARMAZENAMENTO
Atividade do nervo hipogá strico (simpá tico) > NOR na bexiga > contrai esfíncter (receptor alfa) + inibe o
detrusor (receptor beta). Predominâ ncia do simpá tico + tô nus do nervo pudendo que mantém esfíncter
uretral externo contraído
o OBS: se o receptor alfa contrai o esfíncter, o bloqueador alfa relaxa o esfíncter
Bexiga enche > aferência pelo nervo pélvico (parassimpá tico) > via ascendente > mesencéfalo
(substâ ncia cinzenta periaquedutal) > barorreceptores com limiar em 150 mL > ativaçã o do centro
pontino da micçã o > bloqueia o simpá tico + bloqueio do pudendo + estímulo ao parassimpá tico dos
nervos pélvicos > relaxa o esfíncter + contrai a bexiga
○ Ponte controla a micçã o com sinergismo: estimular o parassimpá tico e inibe o simpá tico
○ Trauma raquimedular acima da regiã o sacral: efeito sinérgico nã o ocorre mais, reflexo passa a
ser medular, parassimpá tico e simpá tico agindo junto (bexiga e esfíncter contraem junto) >
dissinergismo, bexiga nã o esvazia > pode lesar trato uriná rio alto por alta pressã o da bexiga
MEDICAÇÕ ES
Obstruçã o dinâ mica (musculatura da pró stata contraída): alfabloqueador (doxazosina e tansulosina)
Bexiga contraindo (sintoma de urgência): anticolinérgico/antimuscarínico (atropina, escolopamina,
pirenzepina, tropicamida, ciclopentolato, benztropina, ipratró pio) ou beta adrenérgico (adrenalina,
noradrenalina, isoproterenol, dopamina, dobutamina)