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Complicações da Cirrose Hepática o Peritoneal: por neoplasias (ex: carcinomatose

peritoneal, causada por tumor ginecológico/de


− São essas complicações que levam ao óbito cólon/etc) ou tuberculose;
− Quando aparecem, seja qual for, precisa pensar e ▪ Num país subdesenvolvido, pode haver mais por
conversar com o doente sobre a possibilidade de tuberculose do que por neoplasia; nos países
transplante (colocá-lo na lista de transplante), porque desenvolvidos, o padrão é o contrário
essas complicações, quando ocorrem, modificam o ▪ Um cirrótico pode ter ascite por neoplasia; cirrótico
prognóstico, a história natural da doença pode ter câncer e tuberculose também! Sobretudo
− Muitas vezes, uma complicação dessa tem um o cirrótico por álcool (o alcoolista é desleixado com
prognóstico pior do que o risco cirúrgico do sua saúde, muitas vezes é fumante, desnutrido, etc,
transplante então muitas vezes confunde um pouco)
− A mortalidade de um cirrótico em seu 2º sangramento o Circulação colateral
é de 50%

• Processo de transformação nodular


o O lóbulo hepático é constituído por um hexágono, em
cada canto tem espaço porta
o O infiltrado começa pelo espaço porta, e começa a
entrar por dentro do parênquima, destruindo o
hepatócito ▪ Abdome ascítico com circulação colateral (a
o Necrose em saca-bocado: “mordida” circulação fala mais a favor de hipertensão portal,
o Necrose em ponte: o processo inflamatório entrando porque não tem na neoplasia)
começa a ser transformado em fibrose; o sangue é ▪ Sarcopenia: consumo de musculatura
impedido de ser levado → estimulação de óxido nítrico (braço/musculatura torácica hipotrofiada)
para vasodilatação → formação de colaterais (gástrica
esquerda e outras)
o O produto de nitrogênio e amônia, se não for
metabolizado, sobe para o SNC, causa encefalopatia
o Vasos intra-hepáticos: vão se bifurcando até chegar na
veia central (centro-lobular), volta pela veia hepática

• Anatomia
o Vasos intra-hepáticos: vão se bifurcando até chegar na ▪ Diagnóstico de ascite na TC;
veia central (centro-lobular), volta pela veia hepática ▪ A faixa cinza entre o fígado e o peritônio parietal
o Na cirrose, há aumento da resistência, o fígado obstrui ocorre porque o fígado é pequeno e porque tem
pela fibrose, há hipertensão portal por aumento da líquido na cavidade
resistência ▪ Nesse caso, também tem um “novelo” que significa
o Em doenças de hiperfluxo esplênico (ex: as varizes de esôfago; além de baço crescido
esquistossomose), há maior crescimento do lobo
esquerdo do fígado – no esquistossomótico, fazendo o Ascite Hepatogênica
esplenectomia a pressão abaixa e a hipertensão portal ▪ Principal complicação da cirrose hepática
desaparece, as varizes murcham. No cirrótico, não ▪ É a mais comum e geralmente é a 1ª complicação
acontece isso, se tirar o baço piora o quadro na que aparece
realidade. ▪ Metade dos casos de ascite evoluirão para óbito em
2 anos (depois que faz ascite, metade vai morrer em
• Hipertensão portal 2 anos)
o Cirrose: pressão = fluxo x ↑ resistência ▪ Fisiopatologia
• Ascite • Vasodilatação arterial periférica (óxido nítrico)
o Acúmulo de líquido na cavidade peritoneal • Aumento da pressão capilar esplâncnica
o Hepatogênica: 70% das causas de ascite; causadas por (capilares que drenam para a veia porta; fica
hipertensão portal
tudo túrgido, o peritônio de um cirrótico é o Se for ascite peritoneal ou não
hipervascularizado) hepatogênica (TB, neoplasia, etc), a
• Redução da pressão oncótica (nos vasos como albumina no sangue estará normal (ou
um todo, devido à redução da albumina, porque pode estar desnutrido), mas no líquido
os cirróticos não tem hepatócitos capazes de ascítico a albumina dele será menor que a
sintetizá-la). Isso gera aumento do fluxo de do soro, mas não tanto assim, a diferença é
fluido para o extracelular, culminando em menor que 1,1 – isso indica que o líquido
ascite. Quando esse líquido sai, há redução do nesse caso é um exsudato, um líquido
volume circulante, reduzindo o fluxo sanguíneo inflamatório
renal. o OBS: tem situações que o GASA não ajuda
• Redução da filtração glomerular muito (ex: cirrótico com neoplasia ou com
(hiperaldosteronismo) TB), mas são situações incomuns
o Ativação do SRAA – hiperaldosteronismo • < 300 células/mm³
secundário o As células no líquido ascítico geralmente
o Um doente que tem síndrome nefrótica são baixas
que perde muita albumina pela urina o Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE)
também tem PO diminuída por falta de ▪ Infecção do líquido ascítico na cirrose
albumina, só que o nefrótico tem edema ▪ É assintomática em 30% dos casos; pode não ter
generalizado (anasarca) aquele caso de peritonite com dor à
o O cirrótico tem um fator localizador do descompressão busca como na apendicite, etc, a
edema, que é a pressão capilar aumentada febre pode ser baixa
(dentro do território mesentérico portal, da ▪ O cirrótico é imunocomprometido e tem tendência
porta pra trás, está toda aumentada – por a infecção em qualquer lugar
isso o edema primeiro é ali, gerando ▪ Geralmente bactérias e geralmente Gram negativas
ascite). O doente que tem cirrose, o (E. coli e Klebsiella), porque vêm do intestino
primeiro edema dele é a ascite. Na medida • Nas pessoas normais, há barreira mucosa (feita
que a ascite vai aumentando, vai tendo as custas de IgA secretória, etc), para impedir a
outros edemas (MMII, derrame pleural, penetração, mas quando tem edema, a mucosa
etc). Pode subir tanto a ponto de fazer fica congesta, a bactéria penetra, e quando
hérnia umbilical, inguinoescrotal, etc. penetra na submucosa é drenada pelo sistema
▪ Diagnóstico da ascite linfático; os linfonodos estão boiando no líquido
• Quadro clínico só consegue detectar a partir de ascítico e a bactéria se prolifera, dando PBE
700 mL (piparote, etc) ▪ Translocação do intestino para linfonodos
• Em líquidos menores, precisa usar USG ou ▪ Características do líquido
outros exames de imagem • Geralmente turvo (não infectado é translúcido,
• Punção do líquido citrino)
▪ Características do líquido • Albumina > 2,5 g/dL
• Amarelo citrino (parece xixi, é translúcido contra o Geralmente mais alta porque tem infecção
o sol) • Gradiente albumina soro-ascite (GASA) < 1,1
• Albumina < 2,5 g/dL g/dL
• Gradiente soro-ascite (GASA) > 1,1 g/dL • > 300 células/mm³
o Gradiente é a subtração do valor da o Sobretudo às custas de neutrófilos (> 50%),
albumina sérica menos a albumina do PMN. Na TB, isso também ocorre, mas às
líquido ascítico custas de linfócito.
o A albumina do soro do cirrótico está o Na peritonite fecaloide (perfuração de
diminuída, porque ele não tem hepatócito divertículo intestinal), tem esse mesmo
pra produzir padrão, mas a contagem de células é bem
o Esse GASA indica que é uma ascite mais alta
hepatogênica, que é um transudato ▪ Tratamento da ascite hepatogênica
o O doente tem albumina no sangue bem • Repouso
mais alta que no líquido
• Dieta hipossódica (impede que haja retenção de o Passa um fio guia pelo cateter e perfura até
líquido por acúmulo de sódio) encontrar um ramo da veia porta que vem
• Diuréticos: FUROSEMIDA (40-160 mg) + de baixo
ESPIRONOLACTONA (100-400 mg) o Quando encontra esse ramo, empurra o
o Geralmente usa a proporção 40 furosemida cateter e faz conexão direta entre ramo da
: 100 espironolactona veia porta com um ramo de supra-hepática,
• Paracentese de grande volume daí ele coloca um stent, uma prótese, que
o Enfiar uma agulha na barriga do paciente e abre e se fixa na parede do vaso no trajeto
esperar o líquido descer, só que quando se construído
tira o líquido rapidamente, se quebra um o Isso é um by-pass porto-cava, e acaba com
equilíbrio pressórico que havia entre a a resistência que tinha da fibrose, faz uma
pressão da cavidade peritoneal pela conexão direta, a pressão porta cai muito,
própria ascite em cima da parede das veias porque ela era às custas da resistência
colaterais o Mecanismo muito usado para tratar ascite
o Isso gera saída do líquido do espaço intra difícil de tratar; ou na emergência, em
para extravascular, para tentar hemorragia digestiva (a variz murcha)
reestabelecer o equilíbrio que havia antes o Problema: encefalopatia hepática (ocorre
com a ascite em 30% dos pacientes que fizeram TIPS),
o Quando sai muito líquido do intra para o porque o sangue passa direto do intestino,
peritônio, diminui o volume circulante, o sem ser metabolizado pelo hepatócito, sem
que diminui o volume na arteríola aferente a amônia sendo transformada em ureia
do glomérulo, ativa SRAA e pode fazer pelo hepatócito para ser transformada pela
hiperaldosteronismo, depois fazendo urina
insuficiência renal (diminui TFG, clearance) o A amônia funciona como um falso
– insuficiência renal iatrogênica pela neurotransmissor e gera uma complicação
paracentese de grande volume neuropsíquica, pode ficar em coma; às
o Para evitar isso: injetar albumina liofilizada vezes, tem que obstruir/fechar o TIPS
humana quando se remove o líquido o Pode ser usado como tratamento de ponte,
ascítico, porque aumenta a pressão para o doente esperar transplante hepático
oncótica nos vasos • Transplante hepático
o Para cada litro de ascite que se retira, • Tratamento da PBE:
precisa fazer de 5-8g de albumina o Mesmo tratamento da ascite
o Até 4-5 litros de ascite que se retirar, não é o Cefalosporina de 3ª geração (ideal:
uma paracentese de grande volume, é de cefotaxime 2g IV 8/8h), se não tiver fazer
alívio, e aí não precisa de albumina (muito rocefin
feita na emergência, quando não tem o Síndrome hepato-renal
albumina) ▪ Insuficiência renal em cirrótico com ascite
• Anastomose peritônio-venosa ▪ Na+ urinário < 1 mEq/L
o Usada antigamente, não é mais usada ▪ Na+ sérico < 130 mEq/L
atualmente ▪ Ausência de proteinúria e hematúria – não tem
o Duas complicações importantes: se o doença glomerular, é uma insuficiência renal pré-
doente fizesse PBE, ia jogar bactéria direto renal mas sem lesão glomerular, a biópsia é normal
na veia, fazendo sepse; e segundo era (só se colocar na microscopia eletrônica)
obstruir ▪ Tipo 1: muito rápida, doente morre e entra em IR
• Anastomose porto-cava (TIPS) muito rapidamente, às vezes precisa fazer diálise
o Radiologista intervencionista entra pela ▪ Tipo 2: mais lento, tem mais chance de conseguir
jugular externa sob radioscopia, entra no um fígado na lista de transplante porque demora;
átrio direito, cai na cava inferior e vai com quando coloca um fígado novo, o rim volta a
o cateter até o ramo terminal da veia funcionar. Às vezes, precisa fazer diálise no pós-
hepática operatório no transplante.
o Encefalopatia Hepática
▪ Síndrome neuropsiquiátrica decorrente da cirrose • Acidificação do cólon (lactulose, manitol)
▪ Há aumento da circulação de amônia, que funciona o Carcinoma hepatocelular
como falso neurotransmissor no SNC, pode dar ▪ CHC vem sendo considerado uma das neoplasias
mudanças discretas no humor/comportamento até mais comuns (antigamente não se fazia muito
um coma diagnóstico)
▪ Prognóstico sombrio ▪ Complicação fatal
▪ Fisiopatologia ▪ Levantamentos têm revelado aumento na
• Não é muito bem compreendida incidência de CHC, nos últimos 15 anos, de
• Níveis elevados de amônia no LCR aproximadamente 80%, nos EUA, Reino Unido e
• Aumento de aminoácidos aromáticos França
(funcionam como falsos neurotransmissores), ▪ É uma das neoplasias com pior prognóstico, visto
tem algumas proteínas, sobretudo de carnes que a sobrevida em 5 anos é inferior a 5%
vermelhas (por isso, esses indivíduos devem ▪ Qualquer doença hepática crônica pode levar a CHC
evitar comer carne vermelha)
• Diminuição de aminoácidos de cadeia
ramificada
• Ácido gama-aminobutírico (GABA) aumentado
no SNC, indivíduo fica lentificado, há menor
excitabilidade
▪ Fatores precipitantes
• Infecções ou sepse
• Hemorragia digestiva
o Doente sangra, passa SNG para fazer
lavagem com SF gelado (tentativa de
vasoconstrição), como tentativa de retirar ▪
o sangue que o indivíduo bebeu, para evitar ▪ Esse processo de necrose/regeneração pode
que haja absorção de mais proteínas e induzir displasia/neoplasia, ao longo de 15-20 anos
piorar a encefalopatia ▪ Nessa história natural, se não impedir, se não tratar
uma doença dessas no meio, há maior risco
• Constipação intestinal
▪ Hepatite crônica (HBV ou HCV): 20% evoluirá para
o Aumenta formação de amônia pela flora
cirrose; e destas que evoluíram, 20% evolui para
• Insuficiência renal
CHC
o Diminui transformação de amônia em
▪ A vacina contra hepatite B é efetiva em prevenir
ureia; pode ter encefalopatia urêmica
CHC
• Uso de sedativos (benzodiazepínicos)
▪ No HC-UFPE: proporção maior em homens (1,6:1),
o Fígado doente não consegue metabolizar
idade média de 59 anos
os BDZ
▪ A grande maioria dos pacientes com CHC (95%) têm
▪ Gradação Clínica da Encefalopatia Hepática
cirrose “por baixo”, uma doença hepática crônica.
• Grau 0: pré-clínica, encefalopatia
Todo doente com cirrose deve ser triado (e não a
mínima/encoberta; é o doente que não se
população geral, o custo seria muito alto), porque
identifica clinicamente, “mas se fizer um
constituem um grupo de risco com chance muito
psicotécnico ele reprova”, só descobre com
maior para CHC.
testes psicométricos
▪ Dos com CHC, 70% tiveram infecção viral (HCV, HBV
• Grau I: alterações do humor, confusão
ou ambos) como base; 8% etanol; 22% indefinido
• Grau II: demência, flapping
(esse último grupo engloba pacientes que tinham S.
• Grau III: redução do nível de consciência, torpor
mansoni, que a princípio não induz CHC, mas parece
• Grau IVa: coma com resposta à dor haver outros fatores, como a própria cápsula do ovo
• Grau IVb: coma sem resposta à dor pode induzir displasia)
▪ Medidas terapêuticas ▪ Nos lugares mais pobres, é mais frequente ser por
• Identificar e controlar fator predisponente HBV do que por HCV
• Dieta hipoproteica (proteína vegetal)
• Limpeza do cólon (antibióticos e lavagens)
Tumor pequeno em lobo direito; agulha nele, fazendo alcoolização, é
Grande tumor no lobo direito uma das opções de tratamento

▪ Critérios diagnósticos e opções de tratamento (ele disse que não ia falar do algoritmo porque era complicado)

▪ Conclusões
• Os resultados do tratamento do CHC “sintomático” são desapontadores
• Isto posto, a prevenção e o diagnóstico precoce do CHC tornam-se fundamentais
▪ Rastreamento de cirróticos
• Alfa-fetoproteína (produzida pelo hepatócito imaturo): a cada 6 meses
• Ultrassonografia (quanto menor o tumor, melhor, inclusive para transplante): a cada 6 meses
o O ideal é fazer os dois exames, para aumentar a acurácia

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