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Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão-UEMASUL

Centro Ciências Exatas, Naturais e Tecnológicas-CCENT


Curso de Química Licenciatura
Disciplina: Química dos Compostos de Coordenação
Prof. D. Sc. Jorge Diniz de Oliveira

TEORIA DOS ORBITAIS MOLECULAR APLICADA AOS COMPOSTOS DE


COORDENAÇÃO

1 INTRODUÇÃO

Mesmo conseguindo explicar várias propriedades dos compostos de coordenação, a


teoria do campo cristalino se constitui uma simplificação muito grande sobre o que deve
ocorrer na formação desses compostos, uma vez que discute todos os aspectos considerando,
apenas, modificações verificadas nos orbitais d, provocadas por interações de natureza
eletrostática com os ligantes. Por esse motivo, os químicos passaram a utilizar a TEORIA
DO ORBITAL MOLECULAR (TOM) visando interpretar de forma mais completa (e mais
realística) as propriedades dos compostos de coordenação.
De acordo com essa teoria, quando dois átomos se aproximam até uma distância de
equilíbrio entre as forças atrativas e repulsivas, estabelecendo uma ligação, os elétrons desses
átomos passam a ocupar orbitais moleculares, que, em muitos aspectos, se assemelham a
orbitais atômicos. Assim, da mesma forma que os orbitais atômicos (s, p, d, f,...) são
caracterizados por um conjunto de números quânticos, os orbitais moleculares (,  e )
também o são. De forma similar, a distribuição eletrônica nos orbitais moleculares, também,
se faz de acordo com a regra de Hund e o princípio da exclusão de Pauli.
O tratamento teórico de dados relativos aos orbitais moleculares de ligações metal-
ligante através da equação de Schorodinger - além de bem mais complexo do que já é para
orbitais atômicos - fornece resultados, apenas, aproximativos. Porém, existem evidências
experimentais bastante consistentes, que indicam haver compartilhamento de elétrons entre
os ligantes e o metal nos compostos de coordenação, o que justifica ou torna necessário o uso
da teoria do orbital molecular estudo dessas substâncias. Uma das mais significativas
evidências experimentais sobre formação de orbitais moleculares nas interações metal-
ligante, é obtida a partir da espectroscopia de ressonância de spin eletrônico.
Essa técnica de investigação científica tem como fundamento o dimensionamento das
interações entre os elétrons e campos magnéticos à que sejam submetidos. Para elétrons
emparelhados as interações se neutralizam. Porém, quando os elétrons estão
desemparelhados, ao serem submetidos a campos magnéticos, comportam-se como ímãs,
assumindo alinhamento paralelo ou antiparalelo ao campo aplicado, com energias
ligeiramente diferentes de um estado para outro. A diferença de energia entre os dois estados
pode ser estabelecida, mediante a utilização de ondas de rádio, com o uso da espectroscopia
de ressonância paramagnética.
Um elétron num íon isolado mostra apenas um pico de transição. Porém, nos
espectros dos complexos esses picos apresentam-se separados em vários componentes, uma
vez que os ligantes funcionam como campos magnéticos distintos (pois estão em posições
distintas em relação ao elétron) e influem diferentemente sobre aquele elétron, conforme é
mostrado na figura 1.

1
Figura 1. Espectro de ressonância para-magnética do K2[IrCl6] em K2[PtCl6]

75 G

As linhas hiperfinas observadas no espectro resultam do acoplamento dos momentos


magnéticos de spin dos ligantes com o momento magnético de spin dos elétrons
desemparelhados do metal. Os picos observados nesses espectros indicam, portanto, que os
elétrons devem estar em orbitais que pertencem tanto ao metal quanto ao ligante, sendo,
portanto, orbitais moleculares.

2 ORBITAIS MOLECULARES EM COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO

Uma forma bastante conveniente, pela sua simplicidade, para mostrar a aplicação da
teoria do orbital molecular à compostos de coordenação, é descrita por J. E. Huheey
(Inorganic Chemistry), na forma seguinte. Mesmo que o BeH2 não seja um composto de
coordenação, considere-se que a sua formação ocorra por um mecanismo típico de formação
de compostos dessa natureza. Ou seja: que o Be2+, com os orbitais de valência (2s e 2p)
atuando como receptores de elétrons (ácido de Lewis) e o hidrogênio, na forma de hidreto
(H--), com orbital 1s cheio, funcionando como base de Lewis, doando um par de elétrons.

Be2+ + 2:H-  H:Be:H

A combinação linear dos orbitais atômicos de valência do ácido e da base tem como
resultado os orbitais moleculares formados entre o berílio e o magnésio, mostrados na figura
2.

2
O tratamento dado aqui à formação de BeH2, é o mesmo que pode ser usado na
descrição dos OM de um verdadeiro composto de coordenação, seja ele neutro, do tipo
[MLn], ou iônico, como [MLn]q..

3 COMPARAÇÃO ENTRE A TCC E TOM

Tomando-se como exemplo um complexo hipotético [ML]+ - formado por um íon


M+, funcionando como ácido de Lewis, hibridizado em sp e contendo um elétron nesses
orbitais, e por um ligante molecular L que contém um par de elétrons disponível para doação
- se pode representar a reação entre estas espécies através do esquema seguinte:

( M ↿ )+ + ⇅ L  [ML]+
C C
No ácido isolado, os doisr orbitais híbridos sp,rsão degenerados. Mas, de acordo com a
TCC, durante a coordenação, eles perdem essa característica, cada um se afastando do centro
de gravidade em sentidos opostos, de modo a mantê-lo inalterado. Com isso, os orbitais irão
adquirir a configuração mostrada na figura 29.

Figura 2. Orbitais atômicos e moleculares do BeH2

OM antiligantes

Orbitais 2p OM não ligantes

Orbitais sp

Orbitais do Be2+ ⇅ ⇅ Orbitais 1s do

Hidrogênio (H-)

⇅ ⇅ OM ligantes

3
Figura 3. Orbitais atômicos do ácido M+ no complexo
hipotético [ML]+, segundo a TCC.

↿ 10Dq

Orbitais sp

Ácido hipotético M+

Orbitais sp no complexo hipotético

Pela Teoria do orbital molecular, a formação do complexo pode parecer diferente,


mas o resultado é semelhante. Neste caso, os orbitais envolvidos na ligação, que são dois
orbitais sp e o orbital do ligante, podem se combinar de duas formas, originando os OM de
ligação e de antiligação. O outro orbital sp fica como não ligante, conforme é mostrado na
figura 3.1.
Comparando os dois diagramas, pode-se ver que os resultados são quantitativamente
semelhantes. Logicamente existem diferenças, uma vez que a teoria do orbital molecular
introduz outros orbitais (além dos orbitais d) como participantes das ligações metal-ligante.
Porém, vale ressaltar que, as energias dos orbitais dos ligantes tornam-se menores à medida
que as respectivas eletronegatividade diminuem, em relação aos orbitais sp do metal, e, com
isto, os diagramas de energias dos orbitais moleculares se tornam ainda mais parecidos com
aqueles resultantes da TCC.

Figura 3.1. Orbitais atômicos e moleculares do ácido M+, da base L e do


complexo hipotético [ML]+, segundo a TOM.

OM não ligante
OM antiligante

10Dq

sp ↿ ↿
⇅ Orbital doador

⇅ OM ligante
Ácido M+ OM no complexo Base L
Hipotético

4
4 ORBITAIS MOLECULARES DE ALGUNS COMPLEXOS OCTAÉDRICOS

A aplicação da teoria do orbital molecular no estudo de compostos de coordenação é


feita de forma semelhante ao que se faz para moléculas mais simples. A diferença está no
fato de que, nos compostos de coordenação, além dos orbitais atômicos, orbitais moleculares
também podem ser envolvidos na formação das ligações. Com isso, o modelo teórico
utilizado para gerar os orbitais moleculares passa a ser a combinação linear de orbitais
atômicos e moleculares (CLOA-OM).
Esse modelo é razoavelmente complexo em virtude de incluir quase todos os orbitais
de valência do metal e dos ligantes, freqüentemente pode ser simplificado, considerando-se,
apenas, os orbitais diretamente envolvidos nas ligações metal-ligante. Assim, um sistema
octaédrico pode ser discutido com base num diagrama como o apresentado na figura 31.
A construção dos diagramas de orbitais moleculares pode ser sintetizada nas
seguintes etapas:
a) Definição da geometria do composto;
b) Seleção dos orbitais atômicos e moleculares envolvidos nas ligações metal-
ligante;
c) Operações matemáticas com a combinação linear dos orbitais atômicos e
moleculares envolvidos nas ligações metal-ligante;
d) Construção do diagrama de energias dos orbitais moleculares do composto de
coordenação, resultantes das combinações lineares.
Para aplicação desse procedimento, suponha-se um complexo octaédrico que tenha
como átomo central, um elemento da primeira série de transição, cujos orbitais de valência são
3d, 4s e 4p. Na formação do complexo, esses orbitais podem interagir com os orbitais  e 
dos ligantes que tenham a mesma simetria.
Nessas interações pode-se admitir que as energias coulombianas dos orbitais
passíveis de participar das ligações metal-ligante estão na seqüência:

 ligante <  ligante < 3d < 4s < 4p.

Em princípio as energias dos orbitais dos ligantes são mais baixas do que as dos
metais, uma vez que, em geral, os átomos ligantes são sempre, bastante eletronegativos. Da
mesma forma que em compostos mais simples, na formação das ligações nos compostos de

5
coordenação, as participações dos orbitais do metal e dos ligantes na composição dos orbitais
moleculares são tanto maiores quanto mais próximas sejam as suas respectivas energias.
Observa-se, ainda, que os orbitais moleculares de ligação do tipo  são mais estáveis
do que os do tipo . Já os orbitais de antiligação * são menos estáveis do que os *. Em
compostos octaédricos a combinação dos orbitais das espécies participantes gera um
diagrama de energias de orbitais moleculares como o apresentado na figura 4.

Figura 4. Diagrama de orbitais moleculares para compostos do tipo [ML6]q

OM antiligante σ*

OM antiligantes σ*

4p
OM antiligantes σ*
4s

3d Orbitais não ligantes


Orbitais doadores
OM ligantes

OM ligantes

OM ligante

Orbitais moleculares

Analisando-se o diagrama apresentado na figura 31, verifica-se que nele estão


representados os orbitais do átomo central e os orbitais dos ligantes, envolvidos na formação
das ligações σ, e os orbitais moleculares resultantes da combinação destes em sistemas
octaédricos. Neste diagrama, observam-se peculiaridades como:

6
1- Os OM ligantes têm energias inferiores às energias de qualquer dos orbitais que
lhe deram origem;
2- Os OM antiligantes têm energias superiores às energias de qualquer dos orbitais
que lhe deram origem;
3- Os OM não-ligantes têm energias iguais às dos orbitais que lhes originaram;
4 - As energias dos OM ligantes ficam mais próximas das energias dos orbitais dos
ligantes e as energias dos OM antiligantes, situam-se mais próximas das energias dos orbitais
do metal.
Vale destacar que outros orbitais do metal e do ligante podem ser incluídos na
construção do diagrama de energias dos orbitais moleculares dos compostos de coordenação,
o que não foi feito para simplificá-lo. Esta simplificação, porém, não causa problemas para a
aplicação do modelo em vários tipos de estudos. De qualquer modo, vale lembrar que um
ligante como o cloreto tem quatro orbitais cheios no nível de valência (o 3s e os 3p). Destes,
o orbital s e um dos orbitais p (pz) podeam estabelecer ligações do tipo σ com o átomo
central. Os outros dois orbitais p (px e py) podem estabelecer ligações do tipo π. Na figura 31,
porém, considerou-se, apenas, um desses orbitais. Se os outros três fossem colocados,
apareceriam no diagrama como orbitais π ou como não-ligantes.
Para se fazer a distribuição eletrônica nos diagramas de energias de orbitais
moleculares se utiliza o princípio da exclusão de Pauli e a regra de Hund, de forma
semelhante a que se usa para a distribuição eletrônica nos átomos. Assim, no caso de um
complexo como o [CoF6]3-, a configuração eletrônica pode ser a que está mostrada na figura
4.1.

7
Figura 4.1. - Diagrama de orbitais moleculares para o [CoF6]3-

OM antiligante

OM antiligantes

4p

↿ ↿ OM antiligantes
4s 10Dq

⇅ ↿ ↿ ↿ ↿ ⇅ ↿ ↿
3d Orbitais não ligantes ⇅ ⇅ ⇅ ⇅ ⇅ ⇅
Orbitais doadores

⇅ ⇅ OM ligantes

⇅ ⇅ ⇅ OM ligantes

⇅ OM ligante

Orbitais do cobalto(III) Orbitais moleculares Orbitais do ligante

Pode-se verificar que essa distribuição eletrônica não contradiz a que se faz com base
na teoria do campo cristalino, onde a distribuição nos orbitais t2g e eg é a mesma (t42g, e2g) e,
conseqüentemente, oferece as mesmas interpretações sobre algumas propriedades do
complexo, tais como espectro de absorção eletrônica, características magnéticas cor, entre
outras.
Por fim, vale lembrar que o ligante (F-) deste complexo, apresenta no seu nível de
valência os orbitais 2s dois p que, se colocados no diagrama de orbitais moleculares,
apareceriam como orbitais não-ligantes cheios. Outro exemplo em que se pode ver
semelhança com a aplicação da teoria do campo cristalino, é o diagrama de orbitais
moleculares do [Co(NH3)6]3+, mostrado na figura 4.2. Neste composto, o ligante (NH3)
dispõe, apenas, de um orbital no seu nível de valência, capaz de estabelecer ligação, já que os
outros três estão comprometidos pelas ligações com os átomos de hidrogênio.

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Figura 4.2. Diagrama de orbitais moleculares para o [Co(NH3)6]3+

OM antiligante

OM antiligantes

4p
OM antiligantes
4s 10Dq

⇅ ↿ ↿ ↿ ↿ ⇅ ⇅ ⇅
3d Orbitais não ligantes ⇅ ⇅ ⇅ ⇅ ⇅ ⇅
10Dq Orbitais doadores
OM ligantes

⇅ ⇅

⇅ ⇅ ⇅ OM ligantes

⇅ OM ligante

Orbitais do cobalto(III) Orbitais moleculares Orbitais do ligante

Neste diagrama também se observa que a distribuição eletrônica nos orbitais t2g e eg é
igual a obtida com a aplicação da teoria do campo cristalino. Se verifica, igualmente, a
mesma diferença na dimensão de 10DQ, encontrada quando se usa a teoria do campo
cristalino para se estudar esses dois complexos. Mesmo usando-se o modelo
simplificado, o tratamento teórico utilizado na teoria do orbital molecular não pode ser
simples, uma vez que envolve a resolução de equações bastante complexas. Essa razão faz
com que, freqüentemente, os químicos usem a teoria do campo cristalino para resolver
problemas relacionados às interações metal-ligante.

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5 APLICAÇÕES DA TEORIA DO ORBITAL MOLECULAR À LIGAÇÀO (pi) EM
COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO

Já foi visto que admitir-se a existência de ligações  metal-ligante em compostos de


coordenação é bastante conveniente como suporte à teoria da ligação de valência. Essas
ligações podem ser feitas entre orbitais d do metal com orbitais p ou d do átomo coordenante
ou, ainda, com orbitais  antiligantes do ligante. O requisito para isso é que os orbitais
envolvidos tenham simetria adequada, possibilitando superposição dos mesmos. Isso pode
acontecer, por exemplo, com orbitais de simetria t2g, com a participação de orbitais dxy do
metal e um orbital antiligante de uma carbonila, conforme é mostrado na figura 5.

Figura 5. Ligações σ e π (retrodoativa) numa carbonila metálica.

 *
σ σ
M C O
dxy

Em alguns compostos a ligação  retrodoativa é pouco importante. No [CoF6]3-, cujo


diagrama de orbitais moleculares σ já foram mostrados, os orbitais dxy, dxz e dyz do metal (de
simetria t2g) podem interagir com os orbitais 2p do ligante (também de simetria t2g). Porém,
como o fluoreto é mais eletronegativo do que o cobalto, os seus orbitais 2p terão energia bem
menor do que os 3d do metal. Nessa condição, o orbital de ligação formado terá energia
próxima à energia do orbital do 2p do fluoreto e o antiligante ficará próximo ao nível de
energia do orbital 3d do metal, como é mostrado na figura 5.1. Como os orbitais 2p dos
ligantes estão cheios, seus elétrons passarão a ocupar os orbitais moleculares  (t2g) e os
elétrons d do metal ocuparão os orbitais moleculares *, de energia mais elevada. Isso pode
ocorrer devido à estabilização causada pela ocupação dos orbitais  com os elétrons 2p do
ligante.

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Figura 5.1 - Diagrama de energias de OM  do [CoF6]3-.

σ*
eg eg*
10Dq

10Dq ⇅ ↿ ↿ OM σ antiligante
t2g ⇅ ↿ ↿ Π * (t2g*)

⇅ ⇅ ⇅ T2g
⇅ ⇅ ⇅ OM π ligante
Orbitais do Co(III) Π (t2g) Orbvitais do F-

Considerando-se que os orbitais eg, não mudam de energia, o valor de 10Dq deve
diminuir com o estabelecimento da ligação . Isto explica porque o fluoreto é um dos
ligantes mais fracos dentro da série espectroquímica.
Por outro lado, em compostos com ligantes que apresentem orbitais vazios e com
simetrias adequadas (como o caso apresentado na figura 5.1), as ligações π podem tornar-se
bastante significativas. Isto ocorre com ligantes como R3P, R2S, CO e CN-, entre outros,
gerando diagramas de energias como o apresentado na figura 5.2, que mostra os orbitais
atômicos e moleculares do tipo π envolvidos na ligação de um metal com configuração d6 e
três carbonilas.

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Figura 5.2. Diagrama de energias de OM do [Mn(CO)6]+.

π*
t2g*

Ddx2-y2, dz2 σ* t2g


eg* ↿ ↿ eg* π*

10Dq
t2g ⇅ ↿ ↿ 10Dq
dxy, dxz e dyz

⇅ ⇅ ⇅ t2g
Orbitais do Mn+ π Orbitais do CO

Neste caso, como os orbitais π de ligação formados apresentam energias bem


menores do que as energias dos orbitais do ácido e da base isolados, todos os elétrons os
elétrons d ocuparão os orbitais π de ligação formados. Este modelo mostra que ocorre um
grande aumento no valor de 10Dq, que é comprovado experimentalmente por várias técnicas
de investigação científica, e explica porque a carbonila é um dos mais fortes ligantes dentro
da série espectroquímica. No caso de compostos com R3P, apesar deste ligante ser muito
parecido com R3N (pois o tanto P quanto o N estão hibridizados, aproximadamente, em sp3),
o comportamento dos dois grupos de ligantes como aceptores π é bastante diferente. Isto
ocorre porque o fósforo tem os orbitais 3d, no nível de valência, vazios.
Assim, após a formação de uma ligação σ M-P, pode ocorrer uma interação do tipo 
entre os orbitais t2g do metal e do ligante. Como, em geral , os metais estão carregados
positivamente, pode-se dizer que a eletronegatividade nos orbitais t2g do metal é maior do
que no fósforo, ficando o primeiro num nível de energia menor do que o segundo. Com isso,
o diagrama de energia dos OM  deve ser semelhante ao tipo mostrado na figura 5.2. Já para
compostos com R3N, esta possibilidade não existe, o que faz com as aminas não sejam boas
aceptoras , sendo porém bases de Lewis razoavelmente fortes.

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6 EFEITOS DAS LIGAÇÕES 

Até agora a força das interações metal-ligante têm sido discutidas, principalmente, a
partir dos valores de 10Dq, determinados por espectroscopia de absorção eletrônica. Muitas
outras técnicas, porém, podem ser utilizadas. Uma destas, de uso rotineiro para investigações
sobre ligações químicas de qualquer natureza, é a espectroscopia de infravermelho. Essa
técnica fundamenta-se no seguinte: Mesmo constituindo moléculas ou conjuntos iônicos, os
átomos ou íons não ficam estáticos. Ao invés disto, em todas as ligações os átomos ou íons
ficam vibrando, variando os comprimentos e ângulos de ligações, entre estados energéticos
quantizados dentro de limites de freqüências de vibração correspondentes a energias da
região do infravermelho.
Assim, ao se fazer incidir um feixe de radiações do infravermelho sobre um material,
as radiações correspondentes às freqüências de vibrações das ligações presentes na amostra
serão absorvidas, promovendo essas vibrações. O que os espectrofotômetros de
infravermelho fazem é detectar os comprimentos de onda (ou outro parâmetro associado,
número de onda ou freqüência) absorvidos pelo material. Nos espectros obtidos por esta
técnica, os picos de absorção observados correspondem às freqüências de absorção das
ligações e estão diretamente relacionados com as energias das ligações. Usando-se esse
método, pode-se, por exemplo, determinar quando o carbono está ligado ao oxigênio através
de ligações simples, duplas ou triplas, uma vez que o aumento da ordem de ligação entre os
dois átomos faz aumentar energia da ligação e, conseqüentemente, a freqüência de vibração.
Para verificar o efeito da ligação sobre a ligação carbono-oxigênio nas carbonilas metálicas,
observe-se o que acontece com as freqüências de vibração da ligação C-O nos casos
apresentados na tabela 1.
Tabela 1. Freqüências de estiramento carbono-oxigênio em alguns adutos
e complexos.

Composto Número de oxidação Freqüência em cm-1

C≡ O 2.143
[Mn(CO)6]+ +1 2.090
[Cr(CO)6] 0 2.000
[V(CO)6]- -1 1.860
[Ti(CO)6]2- -2 1.748

13
[Ni(CO)4] 0 2.060
[Co(CO)4] 0 1.890
[Fe(CO)4] 0 1.790

Nos exemplos apresentados, verifica-se que, em todas as espécies coordenadas, às


freqüências de vibração carbono-oxigênio diminuem. Isto ocorre por dois motivos. Em
primeiro lugar, devido à coordenação ligante-metal, com a retirada parcial de um par elétrons
do ligante, o que diminui a densidade eletrônica nos orbitais da carbonila, inclusive nos
orbitais ligantes, acarretando o enfraquecimento das ligações. Em segundo lugar e, no caso
das carbonilas, mais importante, pela entrada de elétrons dos metais nos orbitais antiligantes

das carbonilas, o que, também, enfraquece as ligações C≡ O. Pode-se observar, ainda, que as

freqüências de estiramento C≡ O e, consequentemente, as energias de ligação carbono-

oxigênio, diminuem com o abaixamento do número de oxidação do átomo central.


Esse fato é coerente com as idéias sobre as ligações  metal-ligante, pois, certamente
uma espécie (íon ou átomo central) mais rica em elétrons terá maior facilidade em fazer
ligações retrodoativas, cedendo elétrons para os orbitais * do ligante. Assim, o
preenchimento desses orbitais, ao mesmo tempo em que fortalece as ligações metal-ligante,
provoca o enfraquecimento da ligação carbono-oxigênio. Outro conjunto de dados
interessantes para ser analisado refere-se a carbonilas metálicas do tipo [M(CO)3L3]q, onde
os ligantes L ficam em posições trans em relação às carbonilas.

Tabela 2. Freqüência de estiramento carbono-oxigênio em sistemas do


tipo [M(CO)3L3]n

Estiramento C-O em cm-1


Compostos Simétrico Assimétrico
[(PCl3)3Mo(CO)3] 1.989 2.041
[(PCl2)3Mo(CO)3] 1.943 2.016
[(2PCl)3Mo(CO)3] 1.885 1.997
[(3P)3Mo(CO)3] 1.835 1.949
[Py3Mo(CO)3] 1.746 1.888
[dien3Mo(CO)3] 1.723 1.883
 = fenil py = piridina dien = dietilenodiamina

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Em compostos desse tipo, pode-se dizer que em cada conjunto L-M-CO, deve haver
uma distribuição de elétrons  diferente, uma vez que L é diferente para cada caso. Essas
espécies podem, então, assumir estruturas entre os limites:
L═M─CO e L─M═CO
dependendo de L ser mais forte ou mais fraco como aceptor .
Nos exemplos apresentados, verifica-se que a habilidade dos ligantes, como aceptores
 diminui do PCl3 para o dien. Esta seqüência é fácil de ser entendida, uma vez que, do
primeiro até o quarto composto, a eletronegatividade de L diminui em função da troca de
cloro (mais eletronegativo) por fenil (menos eletronegativo) sobre o átomo de fósforo. Com
isso os elétrons do metal ficam mais livres para serem transferidos para os orbitais * do CO,
enfraquecendo as ligações carbono oxigênio. Nos dois últimos compostos, essa transferência
é mais facilitada ainda, uma vez que os átomos coordenantes (nitrogênio) não dispõem de
orbitais vazios de baixa energia para receber elétrons. Estudos mais completos, com vários
conjuntos de compostos diferentes, mostram que a habilidade dos ligantes para funcionar
como aceptores  está na seqüência:

NO > CO  RNC  PF3 > PCl3 > PCl2OR > PBr2R > PCl(OR)2 >PClR2 >
P(OR)3 > PR3  SR2 > RCN > o-fenantrolina > alquilamina, éteres e álcoois.

6 COMPLEXOS TETRAÉDRICOS E QUADRADOS PLANARES

As discussões sobre complexos tetraédricos e quadrados planares, será limitada


(quase exclusivamente) a apresentação dos diagramas de energias dos orbitais moleculares
apresentados nas figuras 6 e 7. Deve-se destacar, porém, que a semelhança do que foi visto
para compostos de simetria octaédrica, aspectos observados nos diagramas obtidos pela
teoria do campo cristalino são preservados quando se analisa pela teoria do orbital molecular.
Sobre os compostos quadrados planares, podem ser feitas considerações semelhantes
às feitas sobre compostos octaédricos, porém com interações nulas sobre o orbital dz2 e muito
pequenas sobre orbitais que contenham a componentes z.

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Figura 6. Diagrama de orbitais moleculares para compostos tetraédricos.

OM antiligante σ*

4p OM antiligantes σ*
4p

4s
OM antiligantes σ*

10Dq

3d Orbitais não ligantes

Orbitais doadores

OM ligantes

OM ligante

Orbitais moleculares

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Figura 7. Diagrama de orbitais moleculares para compostos quadrado planares.

4p OM antiligantes

4s

10Dq

3d Orbitais não ligantes

Orbitais doadores

OM ligantes m

Orbitais moleculares

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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