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ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL NA OBESIDADE E DOENÇAS CARDIOVASCULARES

DISLIPIDEMIAS E
ATEROSCLEROSE

Profª MSc. Andrea Schulz


LIPÍDEOS

Os lipídeos biologicamente mais relevantes:

❖ Fosfolípides – formam a estrutura básica das membranas celulares;


❖ Colesterol;
❖ Triglicérides (TG);
❖ Ácidos graxos.
Colesterol
• Lipídeo esteroide;
• Sintetizado pelo fígado (70%);
• Absorvido no intestino a partir da alimentação (30%);
Funções do colesterol

• O colesterol é precursor dos hormônios esteroides (estrógeno, progesterona,


testosterona);
• Precursor para a síntese de vitamina D;
• É constituinte das membranas celulares;
• Atua na fluidez das membranas;
• Produção de bile;
• Necessário para a função correta dos receptores de serotonina no cérebro.

COLESTEROL NÃO É UM VILÃO! É ESSENCIAL PARA A VIDA.


TRIGLICERÍDEOS - TG
• Os TG são formados a partir de três ácidos graxos ligados a uma molécula de
glicerol;
• Constituem uma das formas de armazenamento energético mais importantes no
organismo, sendo depositados nos tecidos adiposo e muscular.
ÁCIDOS GRAXOS

❖ Classificados como saturados (sem duplas ligações entre seus átomos de carbono), mono
ou poli-insaturados, de acordo com o número de ligações duplas em sua cadeia.

❖ Ácidos graxos saturados: láurico, mirístico, palmítico e esteárico (que variam de 12 a 18


átomos de carbono).

❖ Monoinsaturados: ácido oleico, que contém 18 átomos de carbono.

❖ Poli-insaturados, podem ser classificados como ômega 3 (Eicosapentaenoico − EPA,


Docosahexaenoico − DHA e linolênico) E ômega 6 (linoleico), de acordo com presença da
primeira dupla ligação entre os carbonos, a partir do grupo hidroxila.
LIPOPROTEÍNAS

❖Solubilização e transporte dos lípides (que são substâncias geralmente


hidrofóbicas, no meio aquoso plasmático). São compostas por lipídeos e
proteínas denominadas Apolipoproteínas (apo).

❖Lipoproteínas ricas em TG, maiores e menos densas, representadas pelos


quilomícrons, de origem intestinal;
❖Lipoproteínas de Densidade Muito Baixa (VLDL, sigla do inglês very low density
lipoprotein), de origem hepática;
❖Lipoproteínas ricas em colesterol, incluindo as LDL;
❖Lipoproteínas de Alta Densidade (HDL, do inglês high density lipoprotein).
Dislipidemias

• Aumento dos níveis séricos dos lipídios circulantes.


• Hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia.
• Relação comprovada com a doença cardiovascular aterosclerótica.

• Classificação segundo a etiologia:


Primárias – alterações genéticas e ambientais
Secundárias – outras doenças ou uso de medicamentos
Valores de referência dos lipídios (adultos > 20 anos)
Valores de referência para os lipídios entre 2 e 19 anos

Lípides Idades (anos) Valores (mg/dl)


Desejáveis Limítrofes Aumentados
CT 2 a 19 < 170 170-199 > 200
LDL-C 2 a 19 < 110 110-129 > 130
HDL-C < 10 > 40 - -
-
10-19 > 35 -
TG* < 10 < 100 - > 100
10-19 < 130 - > 130

Fonte: IV Diretriz Brasileira sobre dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.


Arteriosclerose Aterosclerose

Espessamento dos vasos e Acúmulo de placas


menor flexibilidade gordurosas
ATEROSCLEROSE

“A aterosclerose é uma doença inflamatória


crônica de origem multifatorial que ocorre
em resposta à agressão endotelial,
acometendo principalmente a camada
íntima de artérias de médio e grande
calibre”

IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Departamento de Aterosclerose da Sociedade


Brasileira de Cardiologia, 2017.
ATEROSCLEROSE

• Os órgãos normalmente mais afetados são: coração , cérebro e artérias do


membro inferior.
• O depósito de lipídios, cálcio e fibrina que se estruturam dentro da camada
íntima é chamado de placa de ateroma.
• As lesões de aterosclerose são classificadas como: estrias gordurosas,
lesões intermediárias, placas fibrosas e lesões complicadas.
Placa de ateroma
Oxidação dos lipídios

Ativação de células endoteliais

Infiltração de macrófagos

Formação de músculo liso

Deposição de colágeno

Formação de capa fibrosa

Ruptura da placa

Shils ME, Nutrição Moderna na Saúde e na Doença, 2009 Agregação de plaquetas


ATEROSCLEROSE

DESEQUILÍBRIO/DISFUNÇÃO ENDOTELIAL
- ↑ Agentes oxidantes
• EROs
• Cigarro
• Monóxido de carbono
• Homocisteína
• Stress emocional ® hormonal

- ¯ Antioxidantes e fosfolipídios
- Hipertensão
- ↑ Glicemia
- AGL, SAT e TRANS
PANORAMA
NACIONAL

Cerca de 40% das pessoas acima


dos 18 anos apresentam taxa de
colesterol acima de 200mg/dl.

Anos 90, a média era de 33%


PANORAMA NACIONAL

• 70% da população brasileira têm um ou mais fatores


de risco.

• Das pessoas que têm colesterol elevado, a


hipertensão é o principal fator de risco.

• Mulheres (21%), apresentam maior incidência de


colesterol elevado, comparadas aos homens (19%).

• A taxa na população feminina piora para 35% na


faixa etária acima dos 55 anos.
Classificação das dislipidemias
Quanto à ETIOLOGIA
Dislipidemias primárias
✓ São aquelas nas quais o distúrbio lipídico é de origem genética.
✓ algumas só se manifestam em função da influência ambiental (dieta inadequada
e/ou sedentarismo);
✓ englobam hiperlipidemias ( LDL-C) e hipolipidemias ( HDL-C).

Dislipidemias secundárias
✓ Decorrentes de estilo de vida inadequado (etilismo, tabagismo, sedentarismo), de
certas condições mórbidas (obesidade, diabetes, hipotireoidismo, síndrome de
cushing, hepatopatia, anorexia), ou de medicamentos (diuréticos,
anticoncepcionais, corticoides Isotretinoína, estrógenos).
Dislipidemias secundárias a doenças
Lipoproteínas (principal alteração)
Causa CT TG HDL-C
1. Diabetes --  
2. Hipotireoidismo    ou 
3. Doenças Renais
Síndrome Netrófica   --
IRC   --
4. Hepatopatias  a  Normal ou leve   → 
5. Obesidade   
6. Anorexia Nervosa  ---- ----
7. Bulimia   ----

Fonte: IV Diretriz Brasileira sobre dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.


Dislipidemias secundárias a medicamentos
Lipoproteínas (principal alteração)
Medicamento CT TG HDL-C
Diuréticos --  
Beta-bloqueadores --  
Anticoncepcionais   --
Corticosteróides   --
Anabolizantes  -- 
Estrógenos (**) → →
Progestágenos (**) → →
Isotretinoína   
Ciclosporinas (droga   
imunossupressora)
Inibidores de Protease   --
(**) efeitos dependem do tipo de estrógeno e progestágeno e da rota de administração: o estradiol VO apesar
de poder causar hipertrigliceridemia, produz redução do LDL-C e aumento do HDL-C; a via transdérmica não
eleva os triglicérides.

Fonte: IV Diretriz Brasileiras sobre dislipidemias Prevenção da Aterosclerose.


Dislipidemias secundária a hábitos de vida inadequados

Hábito Lipoproteínas (principal alteração)

CT TG HDL-C

Tabagismo -- -- 
Etilismo --  

Fonte: IV Diretriz Brasileira sobre dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.


Classificação das dislipidemias
Laboratorial
Classificadas de acordo com a fração lipídica alterada

Hipercolesterolemia isolada:
✓ aumento isolado do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL).

Hipertrigliceridemia isolada:

✓aumento isolado dos triglicérides (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/dL, se a


amostra for obtida sem jejum).
Classificação das dislipidemias
Laboratorial
Classificadas de acordo com a fração lipídica alterada

Hiperlipidemia mista:

✓ aumento do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL) e dos TG (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175
mg/ dL, se for sem jejum).

HDL-c baixo:

✓redução do HDL-c (homens < 40 mg/dL e mulheres < 50 mg/dL) isolada ou em


associação ao aumento de LDL-c ou de TG.
Fator causal da Aterosclerose
✓ LDL-C

Fatores de risco para aterosclerose


• Idade (> 45 anos homens e > 55 anos mulheres);
• História familiar precoce de aterosclerose (parentes de 1º grau < 55 anos homens e < 65
anos mulheres);
• Hipertensão arterial sistêmica (PA > 140x90 mmHg);
• Fumo;
• Diabetes mellitus;
• HDL-C < 40 mg/dl.

Shils ME, Nutrição Moderna na Saúde e na Doença, 2009


Síndrome Metabólica
✓ Fator de risco elevado para aterosclerose
Presença de 3 dos 5 critérios abaixo:
 TG > 150 mg/dl
 HDL-C < 40 mg/dl nos homens e < 50 mg/dl nas mulheres
 Pressão arterial > 130 x 85 mmHg
 Glicemia jejum > 110 mg/dl
 Obesidade andróide - medida de cintura
Sexo Risco de complicações metabólicas
Aumentado Muito aumentado
Homens > 94 cm > 102 cm
Mulheres > 80 cm > 88 cm
Fonte: IV Diretrizes Brasileiras sobre dislipidemias e Diretriz de Prevenção da Aterosclerose.
Estratificação do risco de desenvolver aterosclerose
Categoria Risco absoluto evento Perfil Meta
Baixo risco < 10% em 10 anos 1 FR (exceto DM) LDL-C < 130 mg/dl
Além de LDL-C > 160 mg/dl Tolerável até 160 mg/dl
CT < 200 mg/dl
HDL-C > 40 mg/dl
TG < 150 mg/dl
Médio risco > 10% e < 20% em 10 anos 2 FR (exceto DM) LDL-C < 130 mg/dl
além de LDL-C > 160 mg/dl CT < 200 mg/dl
HDL-C > 40 mg/dl
TG < 150 mg/dl
Alto risco > 20% em 10 anos ou 2 FR (exceto DM) LDL-C < 100 mg/dl
> 20% extrapolando-se a além de LDL-C > 160 mg/dl CT < 200 mg/dl
idade para 60 anos principalmente homens > HDL > 40 mg/dl
60 anos >45 mg/dl (DM)
TG < 450 mg/dl
DM: diabetes mellitus, FR = fator de risco
Fonte: IV Diretriz Brasileira sobre dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arq. Bras. Cardiol. 88, Suplemento I, 2007.
Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Lipídicos e das Apolipoproteínas

Orientações para realizar o exame:

- Jejum de 12h a 14h.


- Estado metabólico estável.
- Dieta habitual.
- Não fazer atividade física vigorosa nas 24h que antecedem a realização do exame.
- Evitar o uso de bebida alcoólica nas 48-72h que antecedem o teste.
- Procurar realizar as dosagens seriadas no mesmo laboratório para minimizar o
efeito da variação analítica.
Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Lipídicos e das Apolipoproteínas
Fórmula de Friedewald:
LDL Colesterol = colesterol total – (HDL + VLDL) sendo que VLDL é igual a TAG/5

INDICES ATEROGÊNICOS
Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Lipídicos e das Apolipoproteínas

INDICES ATEROGÊNICOS
Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Lipídicos e das Apolipoproteínas

INDICES ATEROGÊNICOS

Apo A

• Principal proteína da HDL;


– aprox. 50% da massa da HDL; apo A- I e A-II.
• Apo A-I
– Remove colesterol livre dos tecidos extra hepáticos e das LDL.
Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Lipídicos e das Apolipoproteínas

PADRÃO DE NORMALIDADE
Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Lipídicos e das Apolipoproteínas

Índice de Castelli:
• Permite avaliar o fator de risco para doenças cardiovasculares.

Índice de Castelli I = colesterol total / HDL;


Índice de Castelli II = LDL /HDL.

❖O risco de doença cardiovascular estará AUMENTADO quando:

CT/ HDL M: > 4,3


H: > 5,1
LDL/ HDL M: > 2,9
H: > 3,3
Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Lipídicos e das Apolipoproteínas

Índice de Castelli:

Assim, quanto maior o nível de LDL


e menor de HDL, maior será o risco
que pode ser quantificado através
dos índices de Castelli.
Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Lipídicos e das Apolipoproteínas

4. Indivíduo sexo feminino, 25 anos de idade.

- Colesterol total: 270,0 mg/dl


- HDL: 92,0 mg/dl
- Triglicerídeos: 48,0 mg/dl
- LDL: 110 mg/dL

- Índice de Castelli I:

- Índice de Castelli II:


Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Lipídicos e das Apolipoproteínas

5. Indivíduo sexo masculino, 50 anos de idade.

- Colesterol total: 170,0 mg/dl


- HDL: 28 mg/dl
- Triglicerídeos: 321 mg/dl
- LDL: 99 mg/dL

- Índice de Castelli I:

- Índice de Castelli II:


Tratamento medicamentoso das Dislipidemias

• Estatinas ou Vastatinas;
- HMG CoA Redutase;
• Resinas de troca;
• Inibidor de absorção de colesterol;
- Ezetimiba;
• Fibratos;
- LPL;
• Ac. Nicotínico (>500mg) e ômega-3 (>3g).
Dislipidemia e Estatinas

✓ Estatinas reduzem COLESTEROL por inibir a enzima hidroximetilglutaril Coenzima A


(HMG-CoA) – mas a mesma via biossintética é compartilhada pela coenzima Q10;

✓ Tanto a biossíntese do colesterol como da coenzima Q10 são reduzidas com o


tratamento com estatinas;

✓ Coenzima Q10 é componente essencial do sistema de transporte de elétrons


mitocondrial;

✓ A deficiência de Coenzima Q10 pode afetar a produção de ATP;

DANOS NO METABOLISMO ENERGÉTICO MUSCULAR


RISCO DE DESENVOLVIMENTO DE MIOPATIA E SINTOMAS MUSCULARES
Coenzima Q10 e Doença Cardiovascular

• Melhora na função endotelial de artérias;


• Reduz PCRus, reduz insulina e reduz PA.

O uso de estatinas
depleta CoQ10.
Tratamento das Dislipidemias

•Vitaminas C e E - antioxidantes
•→inibem a oxidação das LDL-c
Tratamento não medicamentoso das Dislipidemias

Mudanças no estilo de vida

✓ Dieta

✓ Exercício físico

✓ Abandono do tabagismo
Tratamento não medicamentoso das Dislipidemias
Tratamento não medicamentoso das Dislipidemias

PESSOAS DE TODAS AS IDADES E AMBOS OS SEXOS SE BENEFICIARÃO


COM MAIOR ATIVIDADE FÍSICA

 Incluir um tipo de atividade física moderada dos dias da semana.

 Benefícios adicionais podem ser obtidos com o aumento semanal da


atividade.

 Enfatizar a quantidade e não a intensidade da atividade física.

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