Você está na página 1de 12

O SOLO URBANO: O ESTATUTO JURÍDICO DO SOLO; SERVIDÕES

ADMINISTRATIVAS E RESTRIÇÕES DE UTILIDADE PÚBLICA

Aula de 14.3.2024
O SOLO URBANO

Propriedade, urbanismo e Constituição

Direito de propriedade privada como direito fundamental de


natureza análoga a direitos, liberdades e garantias

Garantia do direito de propriedade “nos termos da Constituição”


(artigo 62.º, n.º 1, da CRP) remete para necessidade de
concordância prática com outros direitos fundamentais,
nomeadamente com o direito à habitação e com o direito ao
ambiente

Garantia de uma “justa indemnização” pelo sacrifício resultante da


requisição e expropriação por utilidade pública (artigo 62.º, n.º 2,
da CRP)
O SOLO URBANO

Conteúdo urbanístico do direito de propriedade: utilização do solo


para fins de urbanização e de edificação

Admissibilidade de desintegração do direito de construir (jus


aedificandi) do direito de propriedade

Confronto entre o artigo 9.º, n.º 1, e 13.º, n.º 1, e 21.º, n.º 1, da


LBPPSOTU e o artigo 1305.º do Código Civil

Artigo 9.º, n.º 1, da LBPPOTU: “O uso do solo realiza-se no âmbito


dos limites previstos na Constituição, na lei, nos planos territoriais
de âmbito intermunicipal ou municipal em vigor e em
conformidade com a respetiva classificação e qualificação”
O SOLO URBANO

Artigo 13.º, n.º 1, da LBPPSOTU: “Os proprietários do solo têm o


direito a utilizar o solo de acordo com a sua natureza, e com
observância do previsto nos programas e planos territoriais”

Artigo 21.º, n.º 1, da LBPPSOTU: “Os planos territoriais de âmbito


intermunicipal ou municipal podem permitir que a edificabilidade
por eles atribuída a um lote ou a uma parcela de terreno seja
transferida para outros lotes ou parcelas (…)”

Artigo 1305.º do Código Civil: “O proprietário goza de modo pleno


e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas que
lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das
restrições por ela impostas”
O SOLO URBANO

Discussão sobre a inerência do jus aedificandi no direito de


propriedade privada

Colocação do problema no quadro da Constituição e não no


âmbito das disposições do Código Civil; é o Código Civil que tem de
ser interpretado em conformidade com a Constituição e não o
inverso

Direito de propriedade na Constituição tem de ser lido com


sujeição aos influxos da Constituição económica e da Constituição
ambiental

Figurino constitucional do direito de construir remete para uma


regulação jurídico-pública
O SOLO URBANO

Argumentos complementares a favor da não inerência do direito


de construir no direito de propriedade:

- O princípio da igualdade opera com maior nitidez num sistema


que faz depender o direito de construir de um ato jurídico-público;

- No plano prático, a conceção de que todo e qualquer proprietário


seria titular do direito de construir, a exercer sem limitações,
produziria consequências nefastas.

Dúvida: qual ato jurídico-público atribui o direito de construir ao


particular? O plano ou a licença de construção?
O SOLO URBANO

A resposta passa hoje por entender que o plano atribui, desde


logo, um direito de construir mas esse direito vai sendo ampliado à
medida que o particular pratica determinadas atuações

Artigo 15.º, n.º 1, da LBPPSOTU: “A aquisição das faculdades


urbanísticas que integram o conteúdo do aproveitamento do solo
urbano é efetuada de forma sucessiva e gradual e está sujeita ao
cumprimento dos ónus e deveres urbanísticos estabelecidos na lei
e nos planos territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal
aplicáveis”

O proprietário tem, simultaneamente, direitos e deveres (v. artigos


13.º, 14.º e 16.º)
O SOLO URBANO

Função social da propriedade: conceito criado por LEÓN DUGUIT


(juspublicista francês)

Classificação do solo: determina o destino básico do solo,


distinguindo entre solo urbano e solo rústico

Qualificação do solo: define o conteúdo do aproveitamento por


referência às potencialidades de desenvolvimento do território,
fixando os respetivos usos dominantes e, quando, admissível, a
edificabilidade
O SOLO URBANO

Propriedade pública do solo: bens móveis ou imóveis da


titularidade da Administração

Modalidades de bens integrados na propriedade pública:


- Domínio público (bens indispensáveis à satisfação de
necessidades coletivas públicas sujeitos a um regime jurídico-
administrativo);
- Domínio privado indisponível (bens destinados a fins de utilidade
pública);
- Domínio privado disponível (bens cuja finalidade é meramente
financeira ou cujo ingresso no património público se deveu a
razões meramente ocasionais).
O SOLO URBANO

Bens afetos a finalidades públicas urbanísticas integram,


normalmente, o domínio, público ou privado, municipal (artigo
22.º, n.º 1, da LBPPSOTU)

Artigo 22.º, n.º 2, da LBPPSOT: “O disposto no número anterior


[titularidade pública] pode ser afastado no âmbito de uma
operação urbanística, mediante decisão fundamentada das
autarquias locais, quando existir acordo do proprietário e seja
comprovadamente mais adequada, do ponto de vista urbanístico,
a manutenção ou integração das áreas referidas no número
anterior em titularidade privada”

Ónus de utilização pública desses bens em titularidade privada


(artigo 22.º, n.º 3, da LBPPSOTU)
O SOLO URBANO

Poderes da Administração Pública sobre bens privados: bens


privados sujeitos a vinculações jurídico-públicas por razões de
interesse público, sendo submetidos a servidões administrativas ou
restrições de utilidade pública

Servidões administrativas:
- são encargos impostos por lei, ato ou contrato sobre certo prédio
em benefício da utilidade pública de uma coisa;
- em termos de conteúdo, a servidão administrativa não se
distingue da servidão civil, impondo ambas uma oneração do
prédio serviente, a limitação do direito de propriedade para
praticar atos que afetem a servidão e a concessão de utilidades ao
prédio dominante;
- Distinguem-se as duas servidões por a servidão administrativa ter
O SOLO URBANO

como escopo a satisfação de necessidades coletivas públicas

Na restrição por utilidade pública, há uma simples limitação do


conteúdo do direito de propriedade para realização de interesses
públicos abstratos

Exemplo de servidão administrativa: servidão de património


cultural de criação de uma zona de proteção de monumento
nacional ou de imóvel classificado

Exemplo de restrição por utilidade pública: delimitação de solo


integrado na Reserva Agrícola Nacional ou na Reserva Ecológica
Nacional

Você também pode gostar