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Aldo Matos
Introdução
Objetivos
Ao finalizar o estudo desse capítulo, você deverá ser capaz de:
● Citar as ações gerais da insulina, faltores que a estimulam e fatores que a inibem;
● Identificar os tipos de insulina e diferenciar seu perfil de ação;
● Identificar os efeitos adversos da insulinoterapia;
● Identificar as classes de hipoglicemiantes orais;
● Descrever os mecanismos de ação das classes de hipoglicemiantes orais;
● Identificar os efeitos adversos dos hipoglicemiantes orais;
● Identificar as classes de fármacos utilizados no tratamento das hiperlipidemias;
● Descrever os mecanismos de ação das classes de fármacos utilizados no tratamento das
hiperlipidemias;
● Identificar as reações adversas, contraindicações e interações medicamentosas dos
principais fármacos utilizados no tratamento das hiperlipidemias;
● Indentificar os fármacos utilizados para contracepção hormonal;
● Identificar os sistemas de administração de contracepção oral combinada;
● Identificar as reações adversas, contraindicações e interações medicamentosas dos
fármacos utilizados na contracepção hormonal.
Esquema
7.1 Fármacos que atuam no metaolismo da glicose
7.1.1 Diabetes
7.1.2 Terapêutica com insulina
7.1.3 Hipoglicemiantes orais
7.2 Fármacos que regulam o metabolismo de lipídeos
7.2.1 Dislipidemia
7.2.2 Tratamento Farmacológico da hiperlipidemia
7.3 Fármacos que impedem a concepção
7.4 Conclusão
Diabetes mellitus (DM) é uma doença metabólica caracterizada pela hiperglicemia. Essa é a
doença mais importante que envolve o pâncreas endócrino, e afeta a produção ou ação da
insulina, que é um hormônio com efeito hipoglicemiante. Um adulto tem em torno de um milhão
de células nas ilhotas de Lagerhans, na porção endócrina do pâncreas. Entre elas, têm-se as
células beta, que são responsáveis pela produção de insulina, proinsulina e peptídeo C. Em
uma pessoa diabética não há produção de insulina ou a produção de insulina é diminuída, ou
ainda, a insulina que é produzida não consegue atuar adequadamente.
A diabetes é classificada em tipo 1 (DM1), tipo 2(DM2), diabetes gestacional e outros tipos de
diabetes. Na DM1 ocorre destruição das células beta das ilhotas de Langerhans, ocasionando
deficiência absoluta de insulina. Essa destruição celular pode ser de natureza autoimune ou
idiopática. A DM2 pode ser predominantemente uma resistência a ação da insulina
(resistência insulínica) com deficiência relativa da produção de insulina; ou
preponderantemente uma deficiência na produção de insulina, com ou sem resistência
insulínica. A diabetes gestacional surge durante a gestação e, com os cuidados adequados,
pode ser um quadro transitório. Ouros tipos específicos de diabetes incluem: defeitos
genéticos funcionais das células beta; defeitos genéticos na ação da insulina; doenças do
pâncreas exócrino; endocrinopatias; induzida por fármacos ou agentes químicos; decorrentes
de infecções; formas incomuns de diabetes imunomediadas; outras síndromes genéticas
geralmente associadas ao diabetes.
A insulina é um hormônio proteico que faz parte dos peptídeos que incluem os fatores de
crescimento similares a insulina (IGFs). É produzido na forma inativa de pró-insulina, uma
estrutura composta pela parte ativa- a insulina propriamente dita- ligada ao peptídeo C. A pró-
insulina é empacotada em vesículas no complexo de Golgi, onde é convertida em insulina
ativa, através da separação o peptídeo C.
A secreção da insulina envolve o influxo ou redistribuição de cálcio para ativar o sistema de
microtúbulos e promover a movimentação das vesículas ou grânulos em direção à membrana
celular. A regulação da secreção de insulina está relacionada a vários fatores, entre eles a
glicose e demais nutrientes, hormônios e neurotransmissores- veja o quadro 1.
● Glicose
● Aminoácidos (arginina, leucina)
● Secretina, pacreozina, GIP
(peptídeo gastroinibidor)
● Ativadores seletivos de ● Estimuladores dos receptores α-
receptores β- isoproterenol exercícios, cirurgias, hipóxia,
queimaduras graves
● Inibidores da monoamino
oxidase ● Β-bloqueadores
● Alfa bloqueadores- fentolamina ● Diazóxido
● Drogas colinomiméticas e ● Somatostatina
estímulo vagal
● Xantinas
● Prostaglandinas
● Sulfoniulureias
Reduz a glicogenólise
Eleva a síntese de glicogêneo
Hepático Reduz a gliconeogênese
Reduz a cetogênese
Regular ou 4-6
Curta 30min 2-5
simples
18-24
NPH ou lenta Intermediária 1-3h 6-12
Utralenta Prolongada 4-6h 8-20
24-28
Também chamada de insulina regular, está na forma de hexâmeros que precisam ser
decompostos no líquido intersticial, após a administração subcutânea, para serem absorvidas.
Iniciam a ação em 30 minutos, com pico entre 2 a 3 horas. Comparadas às de ação rápida,
existe o risco de elevação mais rápida da glicemia do que da concentração de insulina,
podendo ocorrer hiperglicemia pós-prandial tardia. Para tentar minimizar esse risco, a insulina
de ação curta deve ser injeta 30 a 45 minutos, ou até mais, antes das refeições.
Insulina NPH (Protamina Neutra Hagedorn) é uma insulina de ação intermediária que
tem se misturado a lispro, aspart ou glulisina e administrada 2 a 4 vezes ao dia. Em pequenas
doses apresenta picos mais baixos e mais precoces e curta duração, o inverso ocorre com
doses altas. A ação da insulina NPH é imprevisível, e tem grande a variabilidade de absorção.
A variabilidade de sua farmacocinética tem levado ao declínio do seu uso clínico.
Insulina detemir é o análogo de insulina de ação longa com efeito mais reprodutível e
também produz menos hipoglicemia que a NPH. Seu início de ação depende da dose,
variando de 1 a 2 horas, com duração de mais de 12 horas. É administrada duas vezes ao dia
para obtenção de um nível basal uniforme de insulina.
Na figura 2, é possível comparar a cinética da ação das insulinas de ação rápida, curta,
intermediária e prolongada.
Figura 2: Extensão e duração de ação de vários tipos de insulina
Fonte: KATZUNG e TREVOR (2017, p. 728)
Complicações da insulinoterapia
Fármacos secretagogos
Sulfoniluréias
A repaglinida e a nateglinida são dois outros fármacos que elevam a secreção de insulina
através de mecanismo semelhante ao descrito para as sulfonilureias. A repaglinida superpõe-
se às sulfuniluréias quanto aos sítios moleculares de ação e seu efeito secretagogo é glicose-
dependente, isto é, na ausência de glicose esse fármaco não promove a secreção de insulina.
Assim como a repaglinida, a nateglinida inibe os canais de potássio dependentes de ATP nas
células beta pancreáticas, porém seu efeito hipoglicemiante é menos intenso.
A hipoglicemia é a principal reação adversa nesse grupo.
Biguanidas
A meformina é o representante das biguanidas. Seu mecanismo de ação ainda não está
totalmente esclarecido, mas esse fármaco ativa a enzima proteína-cinase ativada pelo AMP
(AMPK) e reduz a produção hepática de glicose. O resultado é um bom controle da
hiperglicemia de jejum e pós-prandial, com rara ocorrência de hipoglicemia.
Como reações adversas têm-se anorexia, náusea, vômito, desconforto abdominal e diarreia.
Tiazolidinedionas
Essa categoria inclui a acarbose, miglitol e volglibose, cujo mecanismo de ação consiste na
inibição das enzimas α-glicosidases (glicoamilase, α-amilase, sacarase e isomaltase)
reduzindo a absorção de glicose ao retardar a digestão e absorção do amido e dos
dissacarídeos.
As reações adversas são flatulência, diarreia e dor abdominal.
Esse grupo de fármacos inclui exenatida, liraglutida, albiglutida e dulaglutida, cujas reações
adversas mais relatadas são náuseas e vômito.
Inibidores da DPP-4
Nos rins, a glicose livre é filtrada no glomérulo e reabsorvida nos túbulos proximais através de
transportadores de sódio-glicose (SLGT). O SLGT2 é responsável pela reabsorção de 90%
da glicose que filtrada. Portanto, a inibição do SGT2 resulta em glicosúria e consequente
redução da glicemia.
Como representantes dessa categoria de hipoglicemiantes orais temos canaglifozina,
dapagliflozina e empagliflozina.
A redução da glicemia chega a ser da ordem de 90 a 110mg/dL. A dapagliflozina não é
recomendada para uso em pacientes cuja taxa de filtração glomerular estimada é inferior a 60
mL/min/1,73 m2. A principal reação adversa é maior risco de infecções genitais e infecções do
trato urinário.
7.2.1 Dislipidemia
Além das medidas dietéticas e o exercício físico, que são as primeiras a serem adotadas, o
tratamento farmacológico costuma ser necessário. Os fármacos utilizados no tratamento da
hiperlipidemia incluem os inibidores da HMG-CoA redutase, os fibratos, a niacina, as resinas
de ligação de ácidos biliares e os inibidores da absorção intestinal de esteróis. A figura 5
apresenta os sítios de ação desses grupos de fármacos.
LDL- lipoproteína de densidade baixa; VLDL- lipoproteína de densidade muito baixa; R- receptor de
LDL. Os receptores de LDL são aumentados pelo tratamento com resinas e inibidores da HMG-CoA
redutase.
Figura 5: Sítios de ação dos fármacos utilizados no tratamento das hiperlipidemias.
Fonte: KATZUNG e TREVOR (2017, p. 607)
Esse grupo, também conhecido como classe ou família das “estatinas”, inclui a lovastatina, a
atorvastatina, a fluvastatina, a pravastatina, a sinvastatina, a rosuvastatina e a pitavastatina.
Todos esses fármacos são análogos estruturais da HMG-CoA, que inibem a enzima HMG-
CoA redutase, que é uma enzima reguladora da primeira etapa de produção dos esteróis. Seu
melhor efeito é a redução níveis de LDL, em parte porque induzem um aumento dos
receptores de LDL de alta afinidade. Também diminuem a inflamação vascular, colaborando
para estabilizar as lesões ateroscleróticas.
Como efeitos adversos, tem-se observado a elevação das transaminases hepáticas, que são
marcadores de dano hepático e da CPK, que é um marcador de dano muscular. Os pacientes
em uso de estatinas podem queixar de dor muscular, resultante de miosite e rabdomiólise,
que parece ser mais frequente com o uso da sinvastatina.
Fibratos
Ácido nicotínico
Também conhecido como niacina ou vitamina B3, o ácido nicotínico diminui tanto os níveis de
LDL quanto de triglicerídeos. Sua ação consiste em inibir a secreção hepática de VLDL,
diminuindo assim a síntese de triglicerídeos. Como a LDL é derivado do VLDL, a redução da
concentração de VLDL diminui concentração plasmática de LDL e, consequentemente, de
colesterol.
A reação adversa mais comum à niacina é intenso rubor facial e prurido cutâneo, que surgem
dentro de 1 a 2 horas após a ingestão. Também há relato de ressecamento da pele e mucosas
e acantose nigricans.
<INSERIR EM GLOSSÁRIO>
Acantose nigricans é uma doença da pele, caracterizada por hiperqueratose (excesso de queratina) e
hiperpigmentação (lesões de cor cinza e engrossadas, que dão um aspecto verrugoso )
<FECHAR GLOSSÁRIO>
Importante!
Para evitar a interação na absorção, os outros fármacos devem ser administrados 1 hora
antes ou pelo menos 2 horas depois da resina.
A ezetimiba é a droga representante desse grupo. Atua sobre a NPC1L1, que é uma proteína
transportadora, inibindo seletivamente a absorção intestinal de colesterol e de fitoesteróis.
Inibe tanto a absorção do colesterol e fitoesteróis provenientes da dieta, quanto a reabsorção
do colesterol excretado na bile.
Usada isoladamente, a ezetimiba reduz em 18% o LDL. Tem ação sinérgica com as estatinas,
e em combinação com algum desses inibidores da HMG-CoA redutase, promove redução de
até 25% a mais do LDL do que usando apenas uma estatina.
A concentração plasmática de ezetimiba aumenta quando associada a fibratos e diminuem
quando é administrado com colestiramina ou outra resina.
A maturidade sexual da mulher é caracterizada pela atividade cíclica nos órgãos sexuais
(ovários e útero) e na hipófise. A figura 6 representa a variação hormonal e os efeitos sobre o
útero e a maturação dos folículos ovarinos nessa atividade cíclica, conhecida como ciclo
menstrual.
Se você tem dúvida ou não se lembra do ciclo menstrual, faça uma revisão dos seus
estudos de fisiologia da reprodução.
E- estrogênico; P- Progestínico.
Figura 7: Diagrama esquemático da administração dos contraceptivos orais combinados
7.4 Conclusão
Resumo
As hiperlipidemias e a diabetes mellitus são as doenças metabólicas mais prevalentes na
população. Considerado que ambas são risco para doenças cardiovasculares, seu tratamento
farmacológico assume grande importância na saúde coletiva.
As insulinas disponíveis no mercado são classificadas quanto a origem (humana, suína,
bovina, ou mistura suína/bovina), quanto a pureza e quanto ao início e duração da ação
(ultrarrápida, rápida, intermediária e lenta). A hipoglicemia e a lipodistrofia no local de injeção
são os principais efeitos adversos na insulinoterapia. Os fármacos hipoglicemiantes orais são
indicados para o tratamento da DM2. Incluem primordialmente os fármacos que elevam a
secreção de insulina, aqueles que aumentam a sensibilidade dos receptores para a insulina
e também os que reduzem a absorção de glicose.
Os fármacos utilizados no tratamento da hiperlipidemia incluem os inibidores da HMG-CoA
redutase, os fibratos, a niacina, as resinas de ligação de ácidos biliares e os inibidores da
absorção intestinal de esteróis. As reações adversas, contraindicações e interações
medicamentosas varia em cada classe desses fármacos.
Com o objetivo de anticoncepção, podem ser utilizadas fármacos progestínicos associados
ou não a estrogênios. Os anticoncepcionais orais combinados são os mais utilizados. Os
efeitos colaterais leves da contracepção hormonal incluem náuseas, edema e sangramento
uterino de escape (inesperado). Já os efeitos graves incluem tromboembolia, com aumento
do risco para acidente vascular encefálico. Mas, por outro lado reduzem o risco de câncer
endometrial e ovariano e parecem não influenciar o risco para câncer de mama.
Referências
FUCHS, Flávio Danni (Org.). Farmacologia clínica e terapêutica. 5. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2017. 883 p.
KATZUNG, Bertram G. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre (RS): AMGH,
2017. 1046 p.