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Anderson Flogner

OAB/PR – 78.164
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Tudo é possível para aquele que crê, pois, o Senhor é o Deus todo poderoso
que pode todas as coisas! Perdoar é ação!

MM JUÍZO.

A parte autora, já qualificado nos autos em epígrafe, por seu Procurador (ex lege), vem,
respeitosamente, perante a jurisdição de Vossa Excelência, exarar ciência quanto ao
despacho retro, e se manifestar no que se segue.

Diante da R. Entendemos que não provas a produzir. Requerendo desde já o


julgamento antecipado. É o que se requer!

Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
Datado assinado digitalmente.

OAB/PR - 78164

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO


EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE PARANA

Rua Quintino Bocaiuva | n. 183 | Centro | Cornélio Procópio | Estado do Paraná | Email: flogner.adv@gmail.com | Tel. (43) 98462-1048
Anderson Flogner
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Tudo é possível para aquele que crê, pois, o Senhor é o Deus todo poderoso
que pode todas as coisas! Perdoar é ação!

Razões de Apelação

Apelante: CLEITON VEGA MACEDO

Apelada: Justiça Pública

Origem: VARA CRIMINAL DE ASSAÍ

Processo: 0001185-71.2019.8.16.0039

EGRÉGIO TRIBUNAL

COLÊNDA CÂMARA

DOUTOS DESEMBARGADORES

1 – SÍNTESE DO PROCESSADO

O Ministério Público do Estado do Paraná, no uso de suas atribuições constitucionais e


em exercício nesta Comarca, com base no incluso Inquérito Policial, ofereceu denúncia
em desfavor de CLEITON VEGA MACEDO, devidamente qualificado na denúncia,
declarando-o incurso nas sanções do artigo 147, caput, c/c artigo 61, inciso II, alínea f,
ambos do Código Penal, sob a égide da Lei n. 11.340/06, descritos os fatos delituosos da
seguinte forma (mov. 7.1):

No dia 16 de novembro de 2018, por volta das 12h00min, na Rua Constantino C.


Nelmam, n. 30, Vila Santa Inês, no município e Comarca de Andirá/PR, o denunciado
CLEITON VEGA MACEDO, agindo dolosamente, ameaçou, por meio de palavras, causar
mal injusto e grave à vítima Ana Vitória Bernardino, sua ex-companheira, dizendo-lhe que
a mataria caso fosse à Delegacia de Polícia. A denúncia foi recebida em 20 de setembro
de 2019 (mov. 14.1).

O réu foi devidamente citado (mov. 26.1), tendo sido nomeado defensor (mov. 29.1), o
qual apresentou reposta à acusação ao mov. 32.1. O recebimento da denúncia foi
mantido, determinando-se o prosseguimento do feito (mov. 34.1). Em audiência de
instrução (mov. 139.1/139.3), realizou-se a oitiva da vítima Ana Vitória Bernardino da Silva
(mov. 139.2), sendo, ao final, realizado o interrogatório do réu Cleiton Vega Macedo (mov.
139.3).

Na fase do artigo 402 do Código de Processo Penal, as partes nada requereram. O


Ministério Público, em suas alegações finais (mov. 143.1), pugnou pelo acolhimento da
pretensão acusatória, com a consequente condenação do réu, nos termos da denúncia,
diante da existência de substrato probatório coeso a delinear a autoria e materialidade
delitivas. A defesa, em memoriais por escrito (mov. 147.1), requereu a absolvição do réu

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pela ausência de provas. Em caso de condenação, pela aplicação da atenuante da


confissão.

Com a máxima vênia, o douto magistrado a quo não agiu como o costumeiro acerto que
lhe é peculiar, motivo pelo qual o r. decisum deve ser reformado, pelos fundamentos
expostos a seguir.

2 – DO DIREITO

2.1) DO MÉRITO

Denunciado como incurso no artigo 147, caput, c. c artigo 61, II, f, ambos do Código
Penal, o apelante fora condenado porque sua conduta descrita na peça acusatória teria o
condão de ameaçar e abalar a tranquilidade da vítima, prometendo causar-lhe mal injusto
e grave.

Data máxima vênia, não é o que se observa no presente caso, posto que o dolo não
restou demonstrado nos autos uma vez que o apelante confessou estar sob efeitos de
entorpecentes e álcool e não se lembrar do ocorrido, retomando sua consciência tão
somente quando já estava sob custódia da polícia.

Primeiramente cabe destacar que na época dos fatos o apelante e a vítima residiam na
mesma casa, conforme declarado por ambos em audiência.

(descrever fatos relevantes à defesa)

Nobre julgadores, no âmbito das relações familiares é costumeiro o desentendimento,


ainda mais entre irmãos.

Conforme Doutrina de Damásio de Jesus, atualizada por André Estefam:

“É posição vencedora em nossos tribunais a de que o delito exige ânimo calmo e refletido.
Requer a produção de um justo alarme, inexistente no fato praticado pelo agente em
estado de ira. O tipo requer a intenção calma, especial e refletida de prenunciar um mal a
alguém, elemento subjetivo incompatível com o ânimo de quem realiza a conduta sob a
influência de manifestação de ira. Essa orientação encontra fundamento doutrinário em
Nélson Hungria e Aníbal Bruno. O STF, chamado a pronunciar-se a respeito da matéria,
filiou-se a essa orientação.”

(Jesus, Damásio de Parte especial: crimes contra a pessoa a crimes contra o patrimônio –
arts. 121 a 183 do CP / Damásio de Jesus; atualização André Estefam. – Direito penal vol.
2 – 36. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 350, grifo nosso)

No mesmo sentido:

“Apesar de o art. 28, I, do Código Penal, estabelecer que a emoção não exclui o crime, o
entendimento que prevalece é no sentido de que a pessoa que profere ameaça em
momento de ira não tem intenção de causar temor à vítima, e sim de fazer uma bravata,
razão pela qual não responde pelo delito. A melhor solução, contudo, é deixar a análise

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para o caso concreto. Se resta demonstrado que o sujeito proferiu as palavras


ameaçadoras “da boca pra fora” em razão da alteração de ânimos, o fato é atípico porque
não tem o condão de fazer a vítima se sentir atemorizada. Não é raro, por exemplo, em
uma discussão entre irmãos ou amigos um deles gritar “eu te mato”.

(Gonçalves, Victor Eduardo Rios Curso de direito penal: parte especial (arts. 121 a 183) –
volume 2 / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 3. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

(grifo nosso)

Em relação a embriaguez e o uso de entorpecentes:

“Igual raciocínio se aplica à ameaça proferida pelo ébrio. A embriaguez como se sabe,
não exclui a imputabilidade penal ( CP, art. 28, inc. II.) Em algumas situações, subsiste o
crime, pois o estado de embriaguez pode causar temor ainda maior à vítima; em outros
casos, todavia, retira completamente a credibilidade da ameaça, levando a atipicidade do
fato.”

(MASSON, Cleber Rogério. Direito penal esquematizado: parte especial. 2ª Ed. São
Paulo: Método, 2010) (grifo nosso)

Segundo as seguintes jurisprudências:

APELAÇÃO CRIME. AMEAÇA. ART. 147 DO CP.


ATIPICIDADE DA CONDUTA. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA
MANTIDA. Não se reveste de tipicidade penal a conduta do réu
que profere ameaça sem concretude, em momento de
alteração anímica, provocada pelo próprio policial que atirou
em seu cachorro, e que sequer referiu ter se sentido intimidado.
RECURSO MINISTERIAL DESPROVIDO.

(Recurso Crime Nº 71002544534, Turma Recursal Criminal,


Turmas Recursais, Relator: Cristina Pereira Gonzales, Julgado
em 10/05/2010).

RECURSO CRIME. AMEAÇA. ART. 147, CAPUT, DO CP.


ATIPICIDADE DA CONDUTA. SENTENÇA CONDENATÓRIA
REFORMADA. O crime de ameaça não se configurou na
espécie, em que a afirmação foi proferida no calor de uma
discussão, não se verificando a ocorrência de promessa séria
de mal futuro e grave, mas mero desabafo ou bravata, que não
correspondem à vontade de preencher o tipo penal. RECURSO
PROVIDO. (Recurso Crime Nº 71002437036, Turma Recursal
Criminal, Turmas Recursais, Relator: Cristina Pereira Gonzales,
Julgado em 15/03/2010)

APELAÇÃO CRIMINAL – CRIME DE AMEAÇA –


INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA - APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
DO “IN DUBIO PRO REO” – ABSOLVIÇÃO. – Diante da

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fragilidade da prova ao produzida em desfavor do acusado,


impõe-se a sua absolvição, em atendimento ao princípio do “in
dubio pro reo”. (TJ – MG – APR: XXXXX20018186001 MG,
Relator: Beatriz Pinheiro Caires, Data de Julgamento:
05/06/2014, Câmaras Criminais/ 2ª Câmara Criminal, Data de
Publicação: 18/06/2014.

RECURSO CRIME – AMEAÇA – ART. 147 DO CP.


INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. ELEMENTARES DO TIPO
PENAL NÃO CONFIGURADAS. SENTENÇA
CONDENATÓRIA REFORMADA. Não resultou claro que o réu,
efetivamente, tenha ameaçado a vítima, diante das versões
conflitantes apresentadas, resolvendo-se a dúvida em favor
dele. Ademais, não demonstrada a seriedade da ameaça, que
não produziu intimidação penalmente relevante. A dúvida é
ainda agravada pela existência de prévio desentendimento
entre as partes, relacionado com o namoro entre o réu e a filha
da vítima. APELAÇÃO PROVIDA. (Recurso Crime nº
71003729554, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais,
Relator: Volcir Antônio Casal, Julgado em 25/06/2012.

(grifo nosso)

Da instrução processual extrai-se veemente que o réu não estava em seu estado de
lucidez na data dos fatos devido ao vício que infelizmente suporta e tamanho fora o
desentendimento com sua irmã. Não houve dolo, uma vez que o próprio crime em tela
exige a presença do ato volitivo, ou seja, a vontade consciente de realizar o crime.

Resta demonstrado que o réu proferiu as palavras “da boca pra fora” em razão da
alteração de ânimos e nem se quer lembra dos fatos ou que realmente tenha dito.

Por fim, o réu ficou preso ilegalmente conforme decisão de fls.28/29, já suportou um ônus
de ver sua liberdade tolhida sem aplicação de suas garantias constitucionais.

2.2) DA DOSIMETRIA DA PENA

Nobre julgadores, o juízo a quo na segunda fase da dosimetria da pena, a aumentou em


¼, por cinco vezes, em relação as circunstâncias agravantes pela reincidência.

Todavia, importante ressaltar o entendimento do STJ, segundo o qual as atenuantes e


agravantes devem ser aplicadas na fração de 1/6, tanto para diminuir quanto para
aumentar a pena:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


HABEAS CORPUS. CRIME DE AMEAÇA. REINCIDENCIA.
AUMENTO ACIMA DE 1/6. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. ILEGALIDADE FLAGRANTE.
PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO IMPROVIDO. [...]. 2.
Apesar de a lei penal não fixar parâmetros específicos para o

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aumento na segunda fase da dosimetria da pena, o magistrado


deve se pautar pelo princípio da razoabilidade, não se podendo
dar as circunstancias agravantes maior expressão quantitativa
que as próprias causas de aumento, que variam de 1/6 (um
sexto) a 2/3 (dois terços). Portanto, via de regra, deve se
respeitar o limite de 1/6 (um sexto) (HC XXXXX/RR, Rel.
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA,
julgado em 07/08/2014, Dje 15/08/2014). 3. Hipótese em que a
pena foi elevada em 100%, na segunda fase, face de
circunstancia agravante, sem fundamentação, o que não se
admite, devendo, pois, ser reduzida a 1/6, nos termos da
jurisprudência desta Corte. 4. Agravo regimental improvido.
(AgRg no HC XXXXX/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2016, Dje 13/12/2016)

Desta forma, requer seja aplicada a diminuição para 1/6 em relação as circunstâncias
agravantes em desfavor do apelante.

2.3) DO REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA

O Meritíssimo juiz a quo determinou o regime semiaberto para cumprimento de pena, nos
termos do art. 33, § 3º, do Código Penal, tendo em vista a reincidência do apelante.

Nobres Julgadores, a reincidência, por si só, não constitui manifestação idônea que
justifique a não aplicação do artigo 33, § 2º, c do Código Penal no que diz a respeito a
fixação do regime de cumprimento de pena. É completamento desproporcional que,
somente devido à agravante de reincidência, o recorrente inicie a condenação em regime
intermediário.

Conforme entendimento a seguir:

Diante do princípio da proporcionalidade, ao condenado a pena de dez meses e


vinte dias de reclusão, e multa, pode ser aplicado o regime aberto, ainda que
reincidente. (TACrSP, AP, 1. 215.695-4, rel. Juiz Marcio Bártoli, j. 25.10.00)

(grifo nosso)

De acordo com o exposto, verifica-se que, a reincidência não impede que o apelante inicie
sua pena em regime inicial aberto.

No mesmo sentido, temos a Súmula nº 719 do STF:

A imposição de regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir


exige motivação idônea.

(grifo nosso)

Posto isso, pode-se concluir que o regime inicial aberto é o mais adequado para o caso
em tela, razão

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pela qual a r. sentença merece ser reformada.

3 – DO PEDIDO

Diante do exposto, requer o apelante que após conhecido, seja dado provimento ao
presente Recurso de apelação para o fim de:

a) Absolver o apelante, nos termos do artigo 386, inciso II, do Código de Processo Penal,
ante a atipicidade do fato narrado;

b) Subsidiariamente, caso não seja o entendimento de Vossas Excelências, requer-se


seja aplicada a diminuição para 1/6 em relação as circunstâncias agravantes em desfavor
do apelante, reu confesso, bem como o início de cumprimento de pena no regime aberto;

Por derradeiro, rende-se as homenagens aos ínclitos Julgadores, em lhes cabem árdua
tarefa de buscar o equilíbrio e a paz social aplicando com maestria o direito e distribuindo
a justiça com equidade e retidão;

Nestes termos,
Pede e espera deferimento.

Datado e assinado digitalmente.

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