Contestação Alexandre Dias Santos

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 9ª VARA CÍVEL

DE PORTO VELHO - RONDÔNIA

Ação de Busca e Apreensão

Proc. nº. 7013507-77.2024.8.22.0001

Autor: ADMINISTRADORA DE CONSORCIO NACIONAL HONDA


LTDA

Réu: ALEXANDRE DIAS DOS SANTOS

ALEXANDRE DIAS SANTOS, brasileiro, solteiro, cozinheiro, inscrito


no CPF/MF sob o n. 936.688.562-49, titular da carteira de identidade (RG) nº
10083073-SSP/AC, residente e domiciliada na Rua: Dos Diamantes, n. 4358,
Flodoaldo Pontes Pinto, CEP: 76.820-698, Porto Velho - Rondônia, ora intermediado
por seu patrono ao final firmado – instrumento procuratório acostado –, esse com
endereço eletrônico e profissional inserto na referida procuração, o qual, em
obediência à diretriz fixada no art. 106, inc. I c/c art. 287, ambos do CPC, indica-o
para as intimações que se fizerem necessárias, vem, com o devido respeito à presença
de Vossa Excelência, com suporte nos arts. 336 e segs. c/c art. 337, inc. IV e VII da
Legislação Adjetiva Civil, oferecer a presente

CONTESTAÇÃO,

em face da presente Ação de Busca e Apreensão, aforada por


ADMINISTRADORA DE CONSORCIO NACIONAL HONDA LTDA, em
decorrência das justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas.

PRELIMINARES AO MÉRITO

2.1. Conexão (CPC, art. 64, caput c/c art. 337, inc. VIII)
A instituição financeira em apreço ajuizou na data de 18/03/2024 a
presente Ação de Busca e Apreensão em desfavor do ora Réu.

Ocorre que, o documento de notificação traz dúvida quanto ao seu


conteúdo, visto que, uma das folhas é digital e outra totalmente uma xerox.

Onde se encontra o documento probatório anexado a carta do recibo,


com assinatura original?

O simples aviso de recebimento de correspondência, feita por meio dos


Correios, não tem o condão de presumir-se que o conteúdo da notificação foi de fato
enviado ao notificado.

Sequer se sabe o conteúdo exato da correspondência.

Mostra que não é possível saber o conteúdo anexado ao AR enviado ao


promovido no caso em tela, tão pouco foi juntado aos autos.

Logo a extinção é o que se requer.

Inépcia da inicial (CPC, art. 320 c/c art. 337, inc. IV)

Notificação feita por pessoa não dotada de fé pública

Entende o Promovido que não houve notificação do débito de forma


válida, como exige a lei.

O pretenso ato de ciência do débito não fora feita por Tabelião,


tornando a notificação eivada de vício insanável. É que essa conduta contraria os
ditames do art. 160 da Lei nº 6.015, de 31/12/1973, uma vez que efetivada por
Escritório de Advocacia.

Mesmo com as alterações feitas à Lei de Alienação Fiduciária, por força


da Lei nº 13.043, de 2014, ainda assim tal propósito não foi concretizado (ciência da
mora):
LEI DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

Art. 2º – No caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais


garantidas mediante alienação fiduciária, o proprietário fiduciário ou credor poderá
vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação
prévia ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa
em contrário prevista no contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de
seu crédito e das despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se
houver, com a devida prestação de contas. (Redação dada pela Lei nº 13.043, de 2014)

(...)

§ 2º – A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para


pagamento e poderá ser comprovada por carta registrada com aviso de
recebimento, não se exigindo que a assinatura constante do referido aviso seja a do
próprio destinatário. (Redação dada pela Lei nº 13.043, de 2014)

O simples aviso de recebimento de correspondência, feita por meio dos


Correios, não tem o condão de presumir-se que o conteúdo da notificação foi de fato
enviado ao notificado. Sequer se sabe o conteúdo exato da correspondência.

São documentos dotados de fé pública, segundo previsão contida no


Código Civil:

Art. 216 – Farão a mesma prova que os originais as certidões textuais de


qualquer peça judicial, do protocolo das audiências, ou de outro qualquer livro a cargo
do escrivão, sendo extraídas por ele, ou sob a sua vigilância, e por ele subscritas,
assim como os traslados de autos, quando por outro escrivão consertados.

Art. 217 – Terão a mesma força probante os traslados e as certidões,


extraídos por tabelião ou oficial de registro, de instrumentos ou documentos lançados
em suas notas.
De outro bordo, no aspecto processual, igualmente não tem valor
suficiente probante o documento particular, máxime quando há a indicação de um fato
declarado, ou seja, conteúdo dando conta da ciência da mora:

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Art. 405 – O documento público faz prova não só da sua formação, mas
também dos fatos que o escrivão, o chefe de secretaria, o tabelião ou o servidor
declarar que ocorreram em sua presença..

Art. 408 – As declarações constantes do documento particular escrito e


assinado ou somente assinado presumem-se verdadeiras em relação ao signatário.

Parágrafo único. Quando, todavia, contiver declaração de ciência de


determinado fato, o documento particular prova a ciência, mas não o fato em si,
incumbindo o ônus de prová-lo ao interessado em sua veracidade.

Há forma prescrita em lei. Dessa maneira, quando realizada em


confronto com regra cogente, corresponderá à sua nulidade. (CC, art. 104)

Quanto à imprescindibilidade do ato de notificação do devedor, esse


tema já se encontra sumulado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça.

SÚMULA 72 DO STJ

A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do


bem alienado fiduciariamente.

Desse modo, constata-se que o banco credor não comprovou a


constituição em mora do devedor, ora Réu. A pretensa e aludida “notificação
extrajudicial” não se realizou por meio do Cartório de Títulos e Documentos, o qual
tem fé pública para exarar o teor do ato ansiado pela correspondência. Ao revés disso,
foi expedida diretamente por Escritório de Advocacia, o qual patrocina os
interesses do banco credor(fl. 22), notoriamente destituído de fé pública. Ineficaz,
portanto, a ciência do débito ao Réu.

Nesse sentido:

APELAÇÃO CIVIL.

Preliminar de não conhecimento parcial do apelação de


reintegração de posse fundada em contrato de arrendamento
mercantil. Fundamentos fáticos-jurídicos para rechaçar a decisão
impugnada destoantes dos fundamentos da decisão guerreada.
Não conhecimento parcial do recurso. Preliminar de carência da
ação: alegação de ausência de notificação extrajudicial válida.
Matéria não relacionada aos requisitos de adimissibilidade
recursal. Transferência para o mérito. Mérito: notificação
extrajudicial expedida exclusivamente por escritório de
advocacia. Atividade particular não chancelada pelo poder
público. Impossibilidade. Violação ao artigo 2º, § 2º, do
Decreto-Lei nº 911/69. Ausência de demonstração satisfatória da
mora. Extinção do feito sem resolução de mérito. Precedentes
desta corte de justiça. Impossibilidade. Reforma da sentença que
se impõe. Improcedência do pedido reintegratório. Recurso
conhecido e provido. (TJRN; AC 2014.024685-0;
Canguaretama; Primeira Câmara Cível; Rel. Des. Expedito
Ferreira de Souza; DJRN 26/08/2015)

PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE


REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ARRENDAMENTO
MERCANTIL. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL
ATRAVÉS DE ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA.
IMPOSSIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO.
1. Este órgão fracionário tem se posicionado no sentido de que
"a notificação feita diretamente pela parte, ou por meio de
escritório de advocacia, não tem o condão de comprovar a
constituição em mora do devedor, pois neste caso não é
possível presumir que o conteúdo da notificação foi de fato
enviado ao notificado, vez que pelo simples aviso de
recebimento dos correios não é possível saber o conteúdo da
correspondência" (TJES, Classe: Apelação, 47110007516,
Relator: FABIO CLEM DE OLIVEIRA, Órgão julgador:
PRIMEIRA Câmara Cível, Data de Julgamento: 19/08/2014,
Data da Publicação no Diário: 26/08/2014). 2. Considerando a
invalidade da notificação extrajudicial apresentada inicialmente
pelo recorrente, haja vista que a notificação foi enviada pelo
escritório de advocacia representante da instituição financeira, é
intuitivo concluir que restou inviabilizada a constituição em
mora do recorrido. 3. Recurso conhecido e não provido. (TJES;
APL 0004959-27.2011.8.08.0035; Primeira Câmara Cível; Relª
Desª Janete Vargas Simões; Julg. 18/08/2015; DJES 25/08/2015)

ARRENDAMENTO MERCANTIL. AÇÃO DE


REINTEGRAÇÃO DE POSSE. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. APELAÇÃO DO RÉU.

Notificação extrajudicial expedida por escritório de advocacia.


Inadmissibilidade. Notificação que deve ser feita por cartório
de títulos e documentos, em razão da fé pública decorrente
do seu ofício. Extinção do processo, de ofício (arts. 295, III e
267, VI, do CPC). Prejudicado o recurso do réu. (TJSP; APL
0016097-71.2012.8.26.0320; Ac. 8682911; Limeira; Vigésima
Quinta Câmara de Direito Privado; Relª Desª Carmen Lucia da
Silva; Julg. 06/08/2015; DJESP 20/08/2015)
A ação, por esse ângulo, deve ser extinta, sem resolver-se o mérito
(CPC, art. 485, inc. IV).

DO PEDIDO

Em arremate, requer o Contestante que Vossa Excelência se digne de


tomar as seguintes providências:

a) Pleiteia-se, antes de se adentrar ao exame do mérito, que o processo


seja extinto, em razão da ausência de notificação do devedor, ou seja, a ausência de
requisito essencial ao desenvolvimento do processo;

b) eventualmente ultrapassada a fase anterior, pede seja acolhido o


pedido de inicial de declaração de inconstitucionalidade da regra inserta no art. 3º, §
3º, do Dec.-Lei nº 911/69, requer sejam JULGADOS IMPROCEDENTES OS
PEDIDOS FORMULADOS NA PRESENTE AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO,
em face da ausência de mora do Réu, condenando a Autora no ônus da sucumbência e,
mais, com a cominação prevista no art. 3º, 6º, da lei de Alienação Fiduciária(50% do
valor financiado);

c) subsidiariamente, pleiteia sejam afastados os encargos contratuais


abusivos citados nesta defesa, com a condenação supra-aludida, além do pagamento
de custas e honorários advocatícios (CPC, art. 85);

d) protesta provar o alegado por todos meios admissíveis em direito,


nomeadamente pelo depoimento pessoal do representante legal da Autora, prova
pericial e testemunhas a serem arroladas oportunamente, tudo de logo requerido.

Respeitosamente, pede deferimento.

Porto Velho, 5 de março de 2024

PEDRO HENRIQUE PAMPLONA RODRIGUES


OAB/RO 9624

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