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Incluído em 25/04/2005
HIPOMANIA
A hipomania é um estado semelhante à mania, em grau mais
leve, que aparece em pacientes com TAB, no início dos episódios
de mania ou, se não for no TAB, no Transtorno Ciclotímico da
Personalidade. Observa-se mudança no humor habitual para
euforia ou irritabilidade, reconhecida pelas pessoas mais íntimas
do paciente.
Há também na hipomania, hiperatividade, tagarelice, diminuição
da necessidade de sono, aumento da sociabilidade, atividade
física, iniciativa, atividades prazerosas, libido e sexo, e
impaciência. Ahipomania não se apresenta com sintomas
psicóticos, não precisa de internação e o prejuízo ao paciente não
é tão intenso quanto no episódio de mania.
Como dissemos, em uma sociedade que valoriza demais a
extroversão e eloqüência, pacientes e familiares podem
considerar a hipomania como se fosse uma atitude normal e até
desejável. Assim, a hipomania pode ser confundida com estados
de alegria desencadeada por eventos positivos, não percebidos
pelos outros como exagerados, comparados com o padrão
habitual de humor da pessoa. Já a irritabilidade
dahipomania pode ser confundida, também, com reações
normais aos eventos negativos, como por exemplo, uma má
notícia.
Mas a hipomania pode ou não ter fatores desencadeantes, sejam
positivos ou negativos. Se esses pacientes não forem tratados,
podem apresentar ausência do juízo crítico e proporcionar para
si ou para seus familiares, severos prejuízos morais e
materiais.Incidência
Em nosso meio, segundo dados do Sistema Único de Saúde de
São Paulo, mais de 10 mil internações por ano são devidas
ao TAB, predominantemente entre as mulheres, pois, em
homens, prevalecem os diagnósticos de alcoolismo e
esquizofrenia.
As estimativas acerca da prevalência de TAB na população são
bastante acanhadas, devido à rigidez dos critérios de diagnóstico
propostos pelas classificações atuais. Assim, a prevalência para
o Transtorno Bipolar do Humor do tipo 1, que é o tipo com mais
episódios de euforia do que depressão, ao longo da vida, nos
EUA, alcança 1%.
Na cidade de São Paulo essa prevalência é de 1% (Andrade,
2002). Estudos que consideram critérios mais flexíveis de
diagnóstico já apresentam uma prevalência de 4% a 8% durante
a vida. Apesar do interesse nestes quadros ter aumentado nos
últimos anos, os portadores de TAB continua sendo tardiamente
diagnosticados e, conseqüentemente, inadequadamente tratado.
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Causas do TAB
Em relação às causas do TAB, tem sido muito relevante a
sugestão de hereditariedade. Segundo Cardno (1999), a
concordância de TAB entre gêmeos idênticos (monozigóticos)
varia de 60% a 80%, e o risco de desenvolver TAB em parentes de
primeiro grau de um portador de TABsitua-se entre 2% e 15%. A
quantidade de gêmeos monozigóticos onde não há concordância
de TAB reflete a importância dos fatores ambientais.
A genética considera a TAB como tendo de um “modo complexo”
de transmissão, cuja manifestação dependeria da presença de
um conjunto de genes que interagem entre si, até o momento de
conhecimento pouco definido (veja abaixo). Resumindo,
compreende-se que o aparecimento dessas doenças de
transmissão complexa dependa da presença de um conjunto de
genes de suscetibilidade, os quais, ao sofrerem influência do
meio, manifestam-se precipitando as alterações necessárias para
a eclosão da doença em questão.
Sobre os fatores ambientais associados ao Transtorno Bipolar do
Humor,Leandro Michelon e Homero Vallada (2005) citam
Tsuchiya e colaboradores, que investigaram a possível associação
entre TAB e fatores variados, tais como, demográficos (sexo,
etnia), relacionados à complicações da gestação ou do parto,
estação do ano no nascimento, nascimento em área urbana ou
rural, antecedentes de lateralidade, ajustamento pré-mórbido,
padrão socioeconômico, eventos estressantes de vida, disfunção
familiar, perda de parente e história de epilepsia, trauma
craniencefálico, esclerose múltipla.
De relevante ocorreu, nessa revisão da literatura, uma
associação entre o TAB e a condição socioeconômica
desfavorável, bem como com o desemprego, baixa renda e estado
civil solteiro. Também houve associação da TAB com mulheres
nos três primeiros meses do pós-parto. O restante dos fatores
avaliados não mostrou nenhuma associação com ocorrência
de TAB.
De modo geral, os estudos foram inconclusivos, exceto para a
significante associação do desenvolvimento de TAB com história
familiar positiva, em vários estudos. Volta aqui a questão dos
fatores genéticos, porém, a despeito de todos os fatos que
sugerem uma fortíssima participação genética no
desenvolvimento do TAB, até o momento não foi possível
identificar genes ou regiões cromossômicas envolvidos
diretamente no aparecimento desta doença. Embora algumas
regiões dos cromossomos se mostrem mais significativamente
ligadas ao problema, ainda se aguarda a confirmação científica
por meio de novas pesquisas e novas técnicas de investigação.
Inúmeras alterações na função cerebral têm sido descritas em
pacientes apresentando quadros de depressão e mania.
Pesquisas utilizando modelos genéticos, neuroanatômicos,
neuroquímicos e de neuroimagem no TAB têm trazido
importantes hipóteses teóricas e conceituais para o melhor
entendimento de como certos mecanismos biológicos podem
afetar a manifestação clínica da doença, seu curso e sua resposta
aos tratamentos.
As classificações mais utilizadas em psiquiatria enfatizam o
quadro clássico da mania. O diagnóstico pelo DSM-IV requer
humor persistente e anormalmente elevado, expansivo ou
irritável durando pelo menos uma semana.
Estudos genético-epidemio1ógicos (com famílias)
Alguns estudos apontam para um sólido componente familiar no
Afetivo Bipolar. Nesses estudos de família, Angst, em 1966, na
Suíça, e Perris, no mesmo ano, na Suécia, apresentaram os
primeiros resultados. Ambos demonstraram concordância
familiar para essas alterações do humor. A maioria dos estudos
que se seguiram concorda com esses autores, tanto na agregação
familiar quanto na subdivisão. O Quadro 1 apresenta alguns dos
principais estudos com famílias de pacientes bipolares realizados
nos últimos trinta anos.
Torgersen, 1986 37 51 65 20
para referir:
Ballone GJ - Transtorno Afetivo Bipolar, in. PsiqWeb, internet,
disponível em www.psiqweb.med.br, 2005.
Afetividade
Incluído em 21/02/2005
Conflitos Íntimos
Saber sobre os Conflitos Íntimos é importante para o
entendimento dos sentimentos decorrentes de causas subjetivas,
ou seja, da Ansiedade, Angústia, Depressão, Pânico, Fobias que
aparecem sem uma causa objetiva e concreta aparente.
O ser humano sempre viveu diante do dilema entre aquilo que ele
quer realmente fazer, aquilo que ele deve fazer e aquilo que ele
consegue fazer. Portanto, nem sempre estamos fazendo aquilo
que queremos, muitas vezes não queremos fazer aquilo que
devemos, outras vezes queremos e devemos fazer aquilo que não
conseguimos. Enfim, estamos constantemente diante desse
conflito.
Essa situação não diz respeito apenas às questões de nossa vida
prática, diz respeito também aos nossos sentimentos. Se
devemos gostar ou não de determinada pessoa, gostar ou não de
determinada atitude nem sempre obedece ao fato de querermos
gostar ou não. Às vezes odiamos ou gostamos mesmo não
querendo, outras vezes mesmo não devendo, outras vezes ainda,
mesmo devendo e querendo não conseguimos.
Ora, uma pessoa que não consegue gostar de sua mãe mesmo
sabendo que deveria gostar (afinal, deve-se amar as mães pelo
simples fato de serem nossas mães), ou sua irmã, ou seu pai,
estará experimentando um conflito. Quem vive o drama de
querer namorar uma pessoa embora devesse ficar com outra,
também vive em conflito. Quem queria ser ator embora deva
continuar sendo advogado, idem. Ou queria ter um filho homem
e só consegue gerar mulheres, queria e devia ser respeitada pelo
marido mas não está conseguindo, devia trabalhar mais mas não
quer, ou quer ficar em casa mas deve sair para trabalhar e assim
por diante...
Como vimos, todos nós estamos sujeitos ao Conflito, pois, nem
sempre estamos plenamente felizes com nossa situação atual. Na
verdade, é quase impossível uma pessoa consciente viver sem
nenhum Conflito.
Na saúde emocional conseguimos conviver bem com nossos
Conflitos, conseguimos viver bem apesar de nossos Conflitos.
Entretanto, estando a Afetividade comprometida, podemos
sucumbir à esses Conflitos. Na Depressão, por exemplo, um
Conflito com o qual convivemos pacificamente por muitos anos
passa a ser insuportável.
Algumas vezes não temos consciência plena do Conflito, eles
podem ser inconscientes. Isso geralmente acontece em pessoas
muito ativas e que nunca se detém para refletir sobre suas vidas,
pessoas que suportam tudo porque se acreditam fortes, pessoas
que consideram as emoções uma coisinha trivial. Mesmo essas
pessoas se esgotam. A Afetividade abalada ou esgotada poderá
fazer com que os Conflitos inconscientes sejam capazes de
causar uma ansiedade tão grande ao ponto de produzirem uma
Síndrome do Pânico, ou Fobia, etc.
Outras vezes a Afetividade depressiva ou esgotada mexe e remexe
no baú de nosso psiquismo. Fatos, Vivências, Conflitos e
traumas praticamente esquecidos voltam à tona, incomodam e
torturam. É como se uma cicatriz que possuímos há anos e para
a qual não dávamos tanta importância, passasse a nos
incomodar muito, fazendo nos sentir feios, discriminados e
magoados por causa dela.
Os Conflitos Íntimos, juntamente com as frustrações presentes e
passadas, os traumas presentes e passados e os complexos
compõem aquilo que chamamos de causas subjetivas para as
Reações Vivenciais Não-Normais. Serão sempre não-normais pelo
fato de se originarem sem uma causa concreta e objetiva
detectável. E as causas subjetivas causarão tanto mais
incômodos e tanto mais Reações Vivenciais Não-Normais quanto
mais alterada estiver nossa Afetividade. Portanto, a correção da
Afetividade alterada será o primeiro e mais importante passo
para o tratamento de todos esses quadros emocionais.
Lidando com a Afetividade Alterada
Os transtornos emocionais afetivos podem existir de duas
maneiras:
a) a pessoa está afetivamente abalada ou;
b) ela é afetivamente problemática. É a mesma colocação
que se pode fazer entre estar com alergia e ser alérgico.
Afetividade
Incluído em 21/02/2005
Bases do tratamento
Veja Tratamentos
Aqui, como em tantos outros casos da psiquiatria, os
medicamentos podem ser indispensáveis e insuficientes. Diz-se
que são indispensáveis porque sem eles o tratamento pode ser
impossível e insuficientes, porque só com eles também pode ser
impossível. A associação entre medicamentos e psicoterapia pode
ser o mais indicado, tanto para os casos que são problemáticos
quanto para aqueles que estão com problemas.
A alteração da afetividade implicada nos problemas emocionais
aqui referidos, como o Pânico, a Fobia, a Ansiedade e a própria
Depressão, é o rebaixamento afetivo . Voltando ao exemplo que
comparamos a Afetividade aos óculos através dos quais vemos
nossa realidade, corrigir esses óculos é o objetivo do tratamento
da Afetividade.
Os antidepressivos são os medicamentos melhor indicados para
o tratamento do rebaixamento afetivo. Indica-se antidepressivos
com o mesmo objetivo que a medicina indica os antidiabéticos, os
antihipertensivos, os antireumáticos ou antiasmáticos para suas
respectivas doenças.
Além dos antidepressivos, em alguns casos pode-se associar
também os ansiolíticos, medicamentos destinados ao alívio dos
sintomas da ansiedade. Esses ansiolíticos atuam mais nos
sintomas (ansiedade) que na causa básica do problema que é a
Afetividade mas, mesmo assim, nos casos onde os sintomas
ansiosos são muito importantes eles estão indicados durante
algum tempo.
O tempo de uso dos antidepressivos dependerá, como já
dissemos, do caso ser de alguém que está ou de alguém que é
afetivamente problemático. Dependerá também da resposta do
paciente ao tratamento.
A psicoterapia associada ao tratamento com medicamentos é de
fundamental importância. A terapia chamada cognitiva tem sido
uma das mais eficientes nesses casos. Este tipo de terapia busca
uma auxílio de elementos racionais junto aos tropeços
emocionais. Procura corrigir certos esquemas de pensamento
deturpados pelas emoções.
Entendendo as Neuroses
Incluído em 28/01/2005
É muito difícil explicar ou discorrer didaticamente sobre
neuroses, já que se necessita, antes, da perfeita formulação do
conceito sobre o que é a nedurose. Para começo, é bom falarmos
em Transtornos Neuróticos, denominação mais corrente e, mais
conceitualmente, Reação Neurótica. Reação Neurótica é mais
didático. Primeiramente vamos entender que qualquer que seja
um fato ou acontecimento introduzido em nossa consciência,
receberá sempre uma maquiagem pessoal oferecida por nossa
afetividade, dando à ele um significado muito pessoal. Portanto,
os fatos de nossa vida, sejam presentes, passados ou
perspectivas futuras, serão sempre coloridos pela afetividade
(veja Afetividade no menu da esquerda).
Para entender a Reação Neurótica devemos, então, entender a
Reação (vivencial) Normal. Os fatos e acontecimentos
apreendidos por nossa consciência e coloridos por nossa
Afetividade serão chamados de Vivências, portanto, essas
Vivências terão sempre caráter individual e particular em cada
um de nós, de acordo com as particularidades de nossos traços
afetivos. Os fatos podem ser os mesmos para várias pessoas, as
Vivências desses fatos, porém, serão sempre diferentes.
Tais Vivências são sempre capazes de determinar uma resposta
emocional na pessoa sob a forma de sentimento e aos
sentimentos produzidos pelas vivências podemos chamar
de Reações Vivenciais, tal como chamaríamos de reação
alérgica as manifestações determinadas pela imunidade diante
de um objeto alérgeno. Para que uma Reação Vivencial possa ser
considerada normal, Jaspers recomenda ter 3 elementos
1- uma relação causal;
2- uma relação proporcional;
3- uma relação temporal.
TRICÍ
CLICO
S
Desipr
amina Diminuição do desejo, disfunção orgástica,
Nortrip atraso ou ausência de orgasmo, disfunção de
tilina ejaculação e disfunção erétil.
Amitri
ptilina
Imipra
mina
ISRS Diminuição do desejo, disfunção orgástica,
Citalop disfunção de ejaculação e diminuição da
ram lubrificação.
Escital
opram
Fluoxe
tina
Fluvox
amina
Paroxe
tina
Sertral
ina
OUTR
OS
Ansiedade e Depressão
O que há entre elas?
Incluído em 31/01/2005
Comportamento Compulsivo
Incluído em 24/02/2005
Tratamento Psiquiátrico
Considera-se que o desejo sexual seja um complexo vivencial
formado por três componentes principais; a biologia,
a psicologia e asocialização. Todos três interagindo
continuamente uns com os outros, portanto, o Desejo Sexual
deve ser entendido como um fenômeno subjetivo e
comportamental extremamente complexo.
Biologicamente o Desejo Sexual é um "apetite" ou um impulso
produzido pela estimulação de um sistema neurológico
específico, o qual produz sensações específicas e suficientes para
levar a pessoa à busca de experiência sexual ou a mostrar-se
receptiva a ela. Tudo isso depende da ativação de um centro
cerebral específico, o qual, por sua vez, é constituído por dois
setores distintos. Esses dois setores cerebrais são vinculados a
dois importantes sistemas de neurotransmissores: um deles
ativador do desejo e o outro, inibidor do mesmo.
Psicologica e socialmente, a Motivação Sexual ou Aspiração
Sexual brota da conjunção entre as razões psicológicas e as
circunstâncias culturais. Elas se compõem de nosso dinamismo
psíquico colocado à mercê dos valores culturais, solidamente
impressos em nossa personalidade.
Essas motivações variam em temática e potência entre as
pessoas, vão desde os auto-enganos que impomos a nós mesmos
sobre nossas vidas sexuais, perdendo a noção entre o
culturalmente recomendado e o pessoalmente possível, até as
questões ditas de consciência, as quais reprimem sentimentos e
comportamentos por toda a vida. Essas idéias culturais
costumam fazer parte do universo psíquico da pessoa desde
tenra idade até sempre.
Contribuem para a gênese do desejo sexual as fantasias sexuais,
os sonhos sexuais, a iniciação à masturbação, o início do
comportamento sexual, a receptividade do companheiro(a), as
sensações genitais, as respostas aos sinais eróticos no meio
ambiente, entre muitos outros fatores.
Diante dos problemas sexuais que a clínica diariamente nos
apresenta, é necessário procurar entender se o tal problema diz
respeito ao Desejo Sexual, ao Desempenho Sexual ou à ambos.
Talvez uma das coisas mais simples e mais importantes para se
saber é o fato do Desejo Sexual variar muito de pessoa para
pessoa, tendo alguns mais de uma relação sexual por dia, outros
só de vez em quando. Mais importante que tentar seguir um
modelo de "normal" será encontrar um(a) parceiro(a) com o
mesmo perfil sexual.
Quando o homem não se insere no papel sexual que a sociedade
lhe reservava, antes de acreditar que sua performance sexual é
pessoal e diferenciada, queixa de impotência. Na verdade esse
homem que se acha impotente não sente desejo por nenhuma
mulher disponível ou não sente desejo aqui-e-agora. A mulher,
quando não se insere no papel feminino que a sociedade tanto
estabelece e define através da mídia, antes de valorizar sua
individualidade e maneira pessoal de lidar com a sexualidade,
pensa estar sofrendo frigidez, timidez, apatia sexual ou qualquer
coisa doentia. Nesses dois casos falta a Motivação e Aspiração
sexuais e não se tratam de verdadeiros quadros de impotência ou
frigidez (Veja mais sobre Desejo Sexual).
A psiquiatria se preocupa com a Disfunção Erétil na medida em
que esta se apresenta como um dos mais comuns sintomas dos
transtornos emocionais em homens, tendo seu correspondente
feminino representado pela frigidez de origem emocional.
O enfoque maior tem sido dado à Depressão emocional entre as
causas psicológicas para a Disfunção Erétil. Na depressão o
paciente padece da perda continuada e progressiva do interesse,
da capacidade de sentir prazer e da performance global do
organismo. Isso tudo, traduzido para a sexualidade, resulta na
perda do Impulso Sexual, na perda da Motivação Sexual e na
perda do prazer, portanto, na perda da própria sexualidade.
Os sintomatologia depressiva, por exemplo, é muito variada e
muito diferente entre as diferentes pessoas. Por isso a
psicopatologia recomenda como válido a existência de apenas
três sintomas depressivos básicos e suficientes para sua
detecção, no entanto, estes sintomas básicos darão origem à
infinitas manifestações desta alteração afetiva. Trata-se, esta
tríade, da:
1 - Inibição Psíquica,
2 - do Estreitamento do Campo Vivencial e,
3- do Sofrimento Moral.
Tratamento da Depressão
Incluído em 31/01/2005
CLOMIPRAMINA 25 a 225
Anafranil cp. de 25 e 75 mg
mg/dia
MAPROTILINA** 25 a 150
Ludiomil cp. de 25 e 75 mg
mg/dia
NORTRIPTILINA 25 a 100
Pamelor cp. de 25, 50 e 75 mg
mg/dia
* - as doses dos tricíclicos são extremamente variáveis tendo em vista a
sensibilidade pessoal.
Procimax cp de 20/40 mg
Alcytan cp de 20/40 mg
Serenata
cp. de 20 mg
Antidepressivos Atípicos
São os antidepressivos que não se caracterizam como Tricíclicos,
comoISRS e nem como Inibidores da
MonoAminaOxidase (IMAOs). Alguns deles aumentam a
transmissão noradrenérgica através do antagonismo de
receptores a2 (pré-sinápticos) no sistema nervoso central, ao
mesmo tempo em que modulam a função central da serotonina
por interação com os receptores 5-HT2 e 5-HT3 , como é o caso
da Mirtazapina. A atividade antagonista nos receptores
histaminérgicos H1 da Mirtazapina é responsável por seus efeitos
sedativos, embora esteja praticamente desprovida de atividade
anticolinérgica.
Outros atípicos são inibidores da recaptação
de Serotonina e Norepinefrina, alguns inibindo também, a
recaptação de dopamina. É o caso daVenlafaxina,
da Mirtazapina. Também estão aquí os inibidores da reacaptação
da Norepinefrina (Noradrenalina), como é o caso
daRiboxetina.Essa droga também reduz a sensibilidade dos
receptores beta-adrenérgicos, inclusive após administração
aguda, o que pode sugerir um início de efeito clínico mais rápido.
Alguns atípicos, como é o caso da Tianeptina, embora sejam
serotoninérgicos, não inibem a recaptação da Serotonina no
neurônio pré-sináptico mas, induzem sua recaptação pelos
neurônios da córtex, do hipocampo e do Sistema Límbico.
A Amineptina, outro atípico, é uma molécula derivada dos
tricíclicos mas seu mecanismo de ação é essencialmente
dopaminérgico, enquanto que os outros antidepressivos
tricíclicos são essencialmente noradrenérgicos e serotoninérgicos.
As melhoras sintomáticas poderão ser observadas a partir do 3º
ao 5º dias e sobre o sono REM a partir do 20º dia de tratamento
em posologia suficiente.
ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS
Nome
Nome do Sal Apresentação Dose média
Comercial
100 a 300
AMINEPTINA Survector cp. de 100 mg
mg/dia
60 – 120
DULOXETINA Cymbalta cp de 60 mg
mg/dia
Conclusão
A abordagem da clínica em geral, e da psiquiatria em particular,
daDepressão tem ficado cada vez mais extensa e abrangente à
medida em que avançam os conhecimentos sobre todas
implicações sintomáticas desse Transtorno Afetivo (ou
do Humor). Será didático uma analogia daDepressão com a
embriagues, tendo em vista a diversidade de manifestações
clínicas possíveis no quadro depressivo, quer tais manifestações
sejam concomitantes ou conseqüentes à essa alteração afetiva.
Se várias pessoas ficarem embriagadas, por exemplo, teremos
também várias manifestações individuais dessa embriagues,
apesar da causa subjacente do estado de cada uma delas ser a
mesma. Da mesma forma acontece com a Depressão.
Do ponto de vista psiquiátrico podemos suspeitar
de Depressão diante do paciente que apresente sintomas tais
como tristeza, angústia, pessimismo, perda do prazer com as
coisas, desinteresse, insônia ou dormir demais. Suspeitamos
mais ainda quando se queixa de perda de energia, falta de
vontade de viver, lentificação, apatia, preguiça, fadiga, perda de
força, cansaço. E continuamos a hipotese de Depressão quando
junta-se ainda, a diminuição do raciocínio, concentração e/ou
memória, pensamentos sobre a morte, desejar ou não se
importar em morrer, auto-desvalorização e sentimentos de culpa.
Saber desses sintomas e concluir pelo diagnóstico
de Depressão passa a ser o primeiro requisito para instituirmos o
um tratamento médico.
Apela-se à medicina clínica para a sensibilidade sobre essas
questões emocionais. Suspeitar da Depressão diante de quadros
de complicada propedêutica e difícil solução diagnóstica, como é
o caso das inconclusivas palpitações, arritmias, taquicardias, dor
no peito, cólicas abdominais, epigastralgia, constipação, diarréia,
etc, deve fazer parte das opções de diagnóstico.
Apela-se para que o clínico conside como uma linguagem afetiva
e instituir um tratamento adeqüado para as parestesias,
anestesias, formigamentos, cefaléia, alterações sensoriais,
vertigens, tonturas, zumbidos, falta de ar, etc, sem solução e que
pode-se considerar a hipótese de Transtorno Somatoforme.
Reinvidica-se da medicina uma interpretação além da fisiologia
orgânica para casos como o tal bolo na garganta, as sensação de
desmaio, a tão mal compreendida fraqueza dos membros, a falta
de apetite ou apetite demais, as inexplicáveis cólicas pélvicas das
mulheres queixosas, assim como a dor na relação sexual e
alterações menstruais. Abordando o paciente sob a ótica da
emoção, podemos resolver, com freqüência as incômodas
lombalgias, artralgias, cervicalgias, dor na nuca, irritabilidade,
alterações do sono, angústia, tristeza, medo, insegurança,
tendência a ficar em casa e pensamentos ruins.
Esses quadros polimórficos, sem correspondência orgânica e
refratários aos tratamentos sintomáticos habituais, podem (e
devem) ser abordados do ponto de vista emocional e, dentro
desse prisma, enfocados como manifestações somáticas de
transtornos muito provavelmente depressivos. Agindo assim,
podemos interromper satisfatoriamente a "via crucis" pelos
ambulatórios médicos de um sem número de queixosos crônicos
e incompreendidos.
Por outro lado, muita atenção; diante desse polimorfismo
sintomático não devemos negligenciar um completo exame clínico
e todos os procedimentos para investigar a participação ogânica,
de fato. Mesmo o psiquiatra, diante de casos com hipóteses
emocionais deve proceder uma completa investigação clínica,
principalmente naqueles pacientes estigmatizados pelos
diagnósticos anteriores de transtorno emocional.
Obedecidas as diretrizes de exame clínico e diagnóstico,
lembramos que os medicamentos mais modernos costumam
resolver a maiorias dos quadros depressivos, e seu uso como
coadjuvante no tratamento de várias especialidades tem
encontrado indicação formal em grande número de casos.
Tratamento da Ansiedade
Incluído em 31/01/2005
BUSPIRONA Ansienon
Ansitec
Bromopirim (assoc.)
Brozepax
Buspanil
Buspar
CLOBAZAM Frizium
Urbanil
CLONAZEPAM Rivotril
Clonempax
CLORDIAZEPÓXIDO Psicosedim
CLOXAZOLAM Elum
Olcadil
DIAZEPAM Ansilive
Calmociteno
Diazepam
Diazepan
Kiatriun
Noam
Somaplus
Valium
LORAZEPAM Lorium
Lorax
Mesmerin
Alterações da Afetividade
Incluído em 16/02/2005
Sentimentos
Segundo Kurt Schneider, um dos componentes principais
do estado de ânimo é o sentimento geral de maior ou menor
vitalidade que se encontra ligado a múltiplas sensações dos
diferentes órgãos ou regiões do corpo. O afeto (humor) é vivido
corporalmente e está unido à própria corporeidade. É exemplo
disso o afeto (humor) eufórico do paciente maníaco, o qual sente
o seu próprio corpo como flutuante, infatigável e cheio de vigor,
enquanto o depressivo sente-o como apagado, pesado, fraco,
decaído e murcho. O estado de ânimo depende
consideravelmente das condições vegetativas do organismo e, de
modo especial, de uma função que tem o seu centro no
diencéfalo, à qual se dá o nome de função tímica.
Enquanto o afeto tem uma representação corpórea mais
pronunciada, osentimento aparece como um estado emocional
mais atenuado, estável, duradouro e organizado com maior
riqueza e complexidade. Kurt Schneider considera os sentimentos
como estados do eu que não podem ser controlados pela vontade
e que são provocados por nossas representações, pelos estímulos
procedentes do mundo exterior ou por alterações sobrevindas no
interior do organismo. Uma classificação dossentimentos com
base em sua estratificação foi estabelecida por Max Scheler, que
os diferencia em quatro grupos:
1) sentimentos sensoriais;
2) sentimentos vitais;
3) sentimentos anímicos ou psíquicos, considerados como
sentimentos do eu;
4) sentimentos espirituais ou da personalidade.
Os Sentimentos Sensoriais se encontram muito próximos da
corporeidade, estão localizados em determinadas partes sensíveis
do corpo e se representam tais como a dor e o prazer. Esses
sentimentos são mais abrangentes e não devem ser confundidos
com as sensações simples dos cinco sentidos. Os Sentimentos
Sensoriais têm algumas características especiais: atualidade,
localização e funcionam como sinal de que algo está ocorrendo,
não têm duração definida e falta-lhes a intencionalidade, o que
não ocorre com os sentimentos superiores.
Os Sentimentos Vitais, tais como o bem-estar e o mal-estar, o
sentimento de saúde ou de enfermidade, os sentimentos de vida
ascendente ou descendente, a calma e a tensão, a alegria, a
tristeza e a angústia não espiritual, pertencem ao organismo
como totalidade. Ao contrário dos anteriores, os sentimentos
vitais não estão localizados corporalmente, neles existe
continuidade, duração e intencionalidade.
Os Sentimentos Anímicos ou psíquicos pertencem ao eu e são
formas sentimentais reativas diante do mundo exterior. A tristeza
e a alegria intencionais e reativas são claramente formas de
sentimentos anímicos. A pessoa pode tornar-se triste ou alegre
em conseqüência de uma notícia, o que demonstra, neste caso, a
participação ativa do eu. Os sentimentos anímicos, então, não
estão ligados à percepção, mas sim ao sentido, ao significado e
representação daquilo que é percebido. Tristeza e alegria são
uma modalidade do eu, e são sentimentos vitais, quando
provenientes do fundo endotímico ou afetivo.
Por último, os Sentimentos Espirituais. Trata-se de
sentimentos relativos ao núcleo da personalidade e à sua atitude
afetiva diante de determinada situação. Esses sentimentos
derivam do núcleo de sua personalidade, do próprio eu, e
ocasionam o sentido pleno dos sentimentos, assim como as
tendências valorativas da pessoa. O desespero, o remorso, a paz,
o amor, o arrependimento, o perdão e a serenidade espiritual são
exemplos deste sentimento sublime e supremo.
Hipotimia (depressão)
Na hipotimia ou depressão, verifica-se o aumento da reatividade
e sensibilidade para os sentimentos desagradáveis, podendo
variar desde o simples mal-estar até ao estupor melancólico.
Caracteriza-se, essencialmente por uma tristeza profunda,
normalmente imotivada, que se acompanha de lentidão e inibição
de todos os processos psíquicos. Em suas formas leves, a
depressão se revela através de um sentimento de mal-estar, de
abatimento, de tristeza, de inutilidade e de incapacidade para
realizar qualquer atividade.
Os pacientes hipotímicos estão dominados por um profundo
sentimento de tristeza imotivada. No doente deprimido, as
percepções são acompanhadas de uma tonalidade afetiva
desagradável: tudo lhe parece negro. Esses pacientes perdem
completamente o interesse pela vida. Nada lhes interessa do
presente nem do futuro e, do passado, são rememorados apenas
os fatos desagradáveis. As percepções são lentas, monótonas,
descoloridas. Ao paciente parece que os alimentos perderam o
sabor habitual. Nos estados depressivos, as ilusões são mais
freqüentes do que as alucinações.
As idéias deliróides nos pacientes hipotímicos são comuns,
expressando geralmente idéias de culpa, de indignidade, ruína,
pecado e de auto-acusação. O pensamento é lento e o próprio ato
de pensar é acompanhado de um sentimento desagradável. O
conteúdo do pensamento exprime motivações dolorosas. O
paciente é incapaz de livrar-se de suas idéias tristes pela simples
ação de sua vontade ou dos "pensamentos positivos", como se
diz.
O quadro clínico do estado afetivo depressivo é caracterizado pela
inibição geral da pessoa, pelo baixo desempenho global refletido
na lentidão e pobreza dos movimentos, pela mímica apagada,
pela linguagem lenta, monótona e pelas dificuldades
pragmáticas.
Os sintomas somáticos são bastante evidentes nos pacientes
hipotímicos. Os distúrbios vasomotores se traduzem em mãos
frias, algumas vezes pálidas e cianosadas, pela palidez dos lábios
e hipotermia. São freqüentes os espasmos ou dilatações
vasculares, com conseqüente oscilação da pressão arterial. Os
pacientes deprimidos dão-nos a impressão de mais velhos. As
perturbações digestivas também são constantes, a língua pode se
apresentar saburrosa, há alterações do apetite, tanto com
inapetência quanto com hiperfagia e constipação intestinal. Os
distúrbios circulatórios ocasionam um sentimento subjetivo de
opressão na região cardíaca, causando a chamada angústia
precordial.
Em determinados casos, sob a influência de fatores externos ou
em conseqüência de causas internas temporárias, a depressão
pode aumentar de modo considerável, determinando um estado
de excitação ansiosa. Quando o paciente, não encontra solução
para seu sofrimento costuma pensar no suicídio.
A depressão é um dos sintomas fundamentais do Transtorno
Afetivo Bipolar, em sua fase depressiva. Estados depressivos
também podem ser observados em todas as psicoses e neuroses.
No Transtorno Afetivo Bipolar, entretanto, a depressão tem
uma origem ligada a fatores afetivos internos (sentimentos vitais),
que escapam à compreensão do doente e de seus familiares.
Nas Distimias, nas Reações Agudas ao Estresse e nas
neuroses de modo geral, a depressão costuma ser mais reativa,
isto é, mais psicogênica (mais anímica que vital), originando-se
de situações psicologicamente compreensíveis e de experiências
desagradáveis. A anormalidade do sentimento depressivo nesses
quadros psicogênicos está na intensidade e na duração desse
afeto em comparação às pessoas normais e não em sua
qualidade, como acontece nosTranstornos Afetivos Bipolares.
O termo Depressão, mais comumente usado que Hipotimia,
pode significar um sintoma que faz parte de inúmeros distúrbios
emocionais sem ser exclusivo de nenhum deles. Pode significar
uma síndrome traduzida por muitos e variáveis sintomas
somáticos ou pode significar uma doença, caracterizada por
marcantes alterações afetivas. Portanto, não está errado dizer
que o termo Depressão seja por demais descritivo e muito pouco
explicativo. Há sempre uma estranha expectativa do público ao
ouvir, do psiquiatra, com freqüência, que isso ou aquilo é
Depressão, sem muito zelo com maiores explicações sobre este
misterioso fenômeno.
O público está certo, ao estranhar a ostensiva e constante
presença desta tal Depressão em quase tudo que diz respeito aos
transtornos emocionais e, os psiquiatras, não estão menos certos
ao procurarem descobrir uma ponta de Depressão em quase tudo
que lhes aparece pela frente.
Do ponto de vista semiológico, seria extremamente fácil e cômodo
se a Depressão fosse caracterizada, exclusivamente, por um
rebaixamento do humor com manifestação de tristeza; coisa que
até o amigo íntimo, o vizinho ou o dono da padaria da esquina
poderiam diagnosticar. Entretanto, não se trata de saber se o
paciente tem ou não Depressão, mas sim, o que exatamente ele
faz com a sua Depressão, mais precisamente, de que forma este
transtorno afetivo nele se manifesta.
Os afetos depressivos, da mesma forma como dissemos dos
afetos expansivos, podem aparecer como uma resposta
a Situações Reais, através de uma Reação Vivencial Depressiva,
quando diante de fatos desagradáveis, aborrecedores, frustrações
e perdas. Trata-se, neste caso, de uma resposta a conflitos
íntimos e determinados por fatores vivenciais. Daí
denominação Depressão Reativa, ou seja, em reação a alguma
coisa real e acontecida, à uma fonte exógena que pode ser
casualmente relacionada àquela reação.
Esta Depressão Reativa, embora compreensiva por tratar-se de
uma reação afetiva à uma vivência desagradável, não deve ser
entendida como normal e fisiológica mas apenas compreensível.
Diante de fatos desagradáveis podemos esperar, fisiologicamente,
a tristeza e não a Depressão e, quanto à isso, não devemos fazer
nenhuma confusão. Esta última, a Depressão, deve ser uma
denominação reservada para asReações Vivenciais
Anormais proporcionadas por circunstâncias vivenciais
desagradáveis, ou seja, reações desproporcionais em quantidade,
qualidade e temporalmente ao agente causal. Os sentimentos de
tristeza que normalmente acompanham situações frustrantes são
diferenciados da Depressão por não comportarem a tríade
sintomática de Inibição Psíquica, Estreitamento de Campo
Vivencial e Sofrimento Moral.
A Depressão pode aparecer ainda acompanhado, ou
aparentemente motivada, por Situações Anímicas. Neste caso,
certas perspectivas futuras, certos anseios e objetivos de vida
estão representados intrapsiquicamente de maneira negativa. Há
um sentimento depressivo associado às conjecturas irreais de tal
forma que o panorama atual dos acontecimentos e a expectativa
do porvir são funestamente valorizados. Sofre-se por aquilo que
não existe ainda ou, muito possivelmente, nem existirá. Um
exemplo disso é a depressão experimentada diante da
possibilidade da perda de um emprego, ou da perspectiva de vir a
sofrer de grave doença e assim por diante.
Evidentemente, não se trata aqui, de que tais perspectivas
sombrias estejam a alimentar a Depressão, mas muito pelo
contrário, ou seja, a Depressão é quem confere um significado
lúgubre às possibilidades do futuro. Não se pode acreditar que,
neste caso, exista uma relação causal vivencial solidamente
vinculada à Depressão, pois, de qualquer forma, as situações
referidas como promovedoras e alimentadoras da Depressão não
aconteceram ainda. Em outros termos e de acordo com que se
sabe sobre Reações Vivenciais (vide adiante), falta o elemento
estressor, o qual existe apenas na imaginação do paciente.
Portanto, é lícito pensar já numa Depressão mais profundamente
arraigada no ser, a qual, embora atrelada à personalidade, utiliza
os elementos vivenciais apenas para nutrir sua necessidade de
sofrimento (uma vez que, ainda não aconteceram
concretamente).
Há, finalmente, casos de Depressão procedentes de um
temperamento francamente depressivo ou seja, a nível
de Sentimentos Vitais. São, neste caso, transtornos da
afetividade emancipados dos elementos vivenciais quanto à
causalidade. Isso não impede que sejam desencadeados por
vivências traumáticas. Trata-se de uma Tonalidade Afetiva
Básica rebaixada e, evidentemente, talhada à reagir sempre
depressivamente à vida.
As pessoas que se encontram depressivas durante uma fase de
suas vidas, cujo contexto vivencial sugere-nos uma circunstância
sofrível, quer como conseqüência de um fato único, quer como
uma somatória de fatos traumáticos sucessivos, sem que
possamos detectar um temperamento depressivo prévio,
provavelmente estarão apresentando uma Depressão Reativa.
Neste caso, esta reação depressiva não pode ser tida como
decorrência de uma Tonalidade Afetiva Depressiva de Base,
mas como uma resposta emocional à uma circunstância de vida.
Daí empregar-se, antigamente, a denominação de Depressão
Exógena, ou seja, dependente de fatores externos à
personalidade da pessoa. Depois de estabelecido nesta pessoa o
estado depressivo, ainda que, conseqüente a fatores reais e
externos à sua personalidade, tudo mais em sua vida parecerá
depressivo, até que saia desta fase afetiva. Assim sendo, poderá
também ser pessimista quanto à sua situação futura, portanto,
depressivo quanto a Situações Imaginárias.
Da mesma forma, os pacientes portadores de Tonalidade
Afetiva Depressiva de Base, por possuírem um temperamento
previamente depressivo, independentemente dos fatos vividos,
sempre estarão tingindo de negro suas perspectivas futuras. São
portadores da, anteriormente denominada, Depressão
Endógena e, como se viu, relacionada não apenas
ao Sentimentos Vitais como também àsSituações
Imaginárias.
A questão em se saber a natureza endógena ou exógena do
estado depressivo, hoje em dia, parece não despertar o mesmo
interesse de antes. Os indivíduos com características afetivas
depressivas (anteriormente denominados de depressivos
endógenos) reagirão sempre aos estímulos da vida de uma forma
consoante ao seu afeto depressivo, portanto, dando-nos a falsa
impressão de apresentaremDepressão Reativa: a maioria dos
eventos, para eles, terá uma conotação negativa. Por outro lado,
a clínica tem mostrado, com freqüência, determinadas vivências
bastante suportáveis para alguns, ocasionando, em outros,
verdadeiras Reações Depressivas. Isso nos sugere que
tal Reação Depressiva não deve ser legada apenas aos
elementos vivenciais.
No fundo, considerando o estado afetivo no qual o indivíduo se
encontra no momento, tem sido tarefa muito penosa estabelecer
a natureza de sua Depressão. Nestes casos, recorremos quase
sempre à personalidade pregressa do paciente; se a tonalidade
afetiva era, anteriormente, depressiva, há possibilidade deste
estado depressivo atual ser de natureza endógena, mas mesmo
assim não será uma implicação obrigatória.
Outras vezes, também de acordo com exemplos cotidianos da
prática clínica, personalidades previamente bem adaptadas e
sugerindo uma boa adequação afetiva poderão, não obstante,
apresentar fases de profunda Depressão sem motivação vivencial.
Procura-se, nestes casos de depressão sem motivação ambiental
ou, talvez, em atenção a um conforto do terapeuta, justifica-la
como decorrência da eventual somatória de vivências passadas.
Certeza disso, entretanto, ninguém pode ter.
A psicopatologia recomenda como válido a existência de apenas
três sintomas depressivos clássicos e suficientes para sua
detecção, no entanto, estes sintomas podem manifestar-se de
infinitas maneira nas diversas pessoas. Trata-se, esta tríade,
da Inibição Global, doEstreitamento do Campo Vivencial e
do Sofrimento Moral. Compete à sensibilidade do observador,
relacionar um sentimento, uma conduta, um pensamento ou um
determinado sintoma como sendo uma tradução pessoal e
individual de um desses três sintomas básicos da Depressão,
tradução esta adequada a disposição pessoal da personalidade
de cada um.
A- Inibição Global
Inibição Global é uma espécie de freio ou lentificação dos
processos psíquicos em sua globalidade, uma dormência
generalizada de toda a atividade mental. Em graus variáveis, esta
inibição geral torna o indivíduo apático, desinteressado, lerdo,
desmotivado, com dificuldade em suportar tarefas elementares
do cotidiano e com grande perda na capacidade em tomar
iniciativas. O campo da consciência e da motivação estão
seriamente comprometidos, daí a dificuldade em manter um bom
nível de memória, de rendimento intelectual, da atividade sexual
e até da agressividade necessária para tocar adiante o dia-a-dia.
Percebe-se os reflexos desta Inibição Global inclusive na
atividade motora, bastante diminuída, e até na própria expressão
da mímica, através da aparência de abatimento e de
desinteresse. Esta Inibição Global tem sido a responsável pelo
longo itinerário que tais pacientes percorrem antes de se
acertarem com um tratamento psíquico. Começam pensando
tratar-se de anemia, fraqueza, problema circulatório, depois
passam a tratamentos alternativos de macrobiótica, yoga, tai-chi-
chuam, submetem-se a passeios de gosto duvidoso levados por
amigos bem intencionados e, muitas vezes, consultam até um
neurologista. É o mais próximo que chegam da mente,
provavelmente por considerarem que "nervoso" é uma doença
ruim que só dá nos outros.
Diante da Inibição Global da Depressão, uma das primeiras
atitudes é submeter-se a algum exame de sangue, depois
inúmeras radiografias. Normalmente a causa psíquica é a última
a ser questionada, embora seja a primeira que se faz sentir. Os
que rodeiam o paciente portador de Inibição Global são solícitos
em lembrá-lo de que a vida é boa, ressaltam que nada lhes falta,
que gozam de saúde, não são ricos, mas tem gente em pior
situação, pertencem a uma família decente e compreensiva... O
paciente, por outro lado, não sendo um retardado mental, sabe
de tudo isso e as palavras estimulantes apenas aumentam sua
perplexidade e seu aborrecimento consigo mesmo. A Inibição
Global é secundária à Depressão, um sintoma decorrente da
Depressão e não uma doença que corrompe o juízo crítico,
tornando os pacientes completamente desorientados em relação
às condições de vida ou familiar. Para tratá-la, de fato,
deveremos abordar o problema de base, ou seja, abordar a
Depressão.
C - Sofrimento Moral
O Sofrimento Moral, ou sentimento de menos-valia, é o
fenômeno mais marcante e mais desagradável na trajetória do
depressivo. É um sentimento de autodepreciação, auto-acusação,
inferioridade, incompetência, pecaminosidade, culpa, rejeição,
feiúra, fraqueza, fragilidade e mais um sem-número de adjetivos
autopejorativos. Evidentemente, tais sentimentos aparecem em
grau variado; desde uma sutil sensação de inferioridade até
profundos sentimentos depreciativos.
Quando a Depressão adquire características psicóticas
o Sofrimento Moral pode ser traduzido sob a forma de delírios
humor-congruentes. Um judeu psicótico depressivo, durante
uma de suas crises de depressão profunda apresentava um
pensamento francamente delirante, o qual dava-lhe a certeza de
ter parte de seu cérebro apodrecido. Igualmente, julgava-se
culpado por ter ingerido, contra os preceitos de sua religião,
carne suína há mais de 15 anos atrás. Uma espécie de punição
divina aplicada ao pecador incauto.
O prejuízo da auto-estima proporcionado pela Depressão pode
ainda, dependendo da intensidade, determinar uma ideação
claramente paranóide, onde a culpa adquire uma posição
destacada. Para fins de diagnóstico, deve-se ter em mente que
nas psicoses esquizofrênicas, onde freqüentemente aparece a
ideação paranóide, a auto-estima não se encontra perturbada
como nos estados depressivos psicóticos. Esta observação pode
auxiliar o diagnóstico diferencial entre uma depressão com
sintomatologia psicótica (ideação deliróide) e uma psicose
esquizofrênica (com delírios).
O Sofrimento Moral deve, ainda, ser considerado como o
sintoma mais responsável pelo desfecho suicida das depressões
severas. Aparece como uma prova doentia da incompetência do
ser, de seu fracasso diante da vida e de sua falência existencial.
Enquanto nos estados eufóricos a auto-estima encontra-se
patologicamente elevada e as idéias de grandeza proporcionam
uma aprazível sensação de bem-estar ao paciente, na Depressão,
através do Sofrimento Moral, coloca-se numa das posições mais
inferiores entre seus semelhantes.
Incontinência Emocional
A Incontinência Emocional é uma forma de alteração da
afetividade que se manifesta pela facilidade com que se
produzem as reações afetivas, acompanhadas de certo grau de
incapacidade para inibi-las. Diz Bleuler que a maioria dos
pacientes com incontinência emocional domina-se pior que os
demais. Tem de ceder diante dos acontecimentos mais
insignificantes, tanto no que se refere a sua expressão como à
ação que deles se deriva. Bleuler cita o exemplo de um paciente
que não podia jogar cartas porque denunciava seu jogo com a
fisionomia.
A Incontinência Emocional é um dos sintomas freqüentes nas
perturbações psíquicas provocadas por lesões orgânicas do
cérebro, manifestando-se também em várias psicoses e neuroses.
Na arteriosclerose cerebral a Incontinência Emocional constitui
um dos sintomas mais característicos. Nesses casos, os próprios
pacientes se queixam de extrema facilidade para emocionar-se,
com tendência ao choro fácil, o que não ocorria antes de adoecer.
Segundo Nágera, aInstabilidade Afetiva nem sempre se
apresenta junto com aIncontinência Emocional, pois existem
pessoas que não podem conter as emoções, embora revelem
tenacidade afetiva.
Sugestibilidade
Sugestibilidade é uma alteração de ordem tanto afetiva quanto
volitiva. Trata-se de uma predisposição psíquica especial que
determina uma grande receptividade e submissão às influências
estranhas exercidas sobre a pessoa. No terreno puramente
psíquico, encontra-se asugestibilidade nos histéricos, razão
pela qual se tornam esses pacientes muito favoráveis à produção
de estados hipnóticos, de sintomas somáticos e até mesmo s de
sintomas psicóticos. Em alguns histéricos a sugestibilidade é
exercida tanto no domínio da vida interior (auto-sugestibilidade)
quanto em relação ao meio exterior (hétero-sugestibilidade).
A sugestibilidade é também muito comum nos estados
demenciais, nos quais é uma conseqüência de insuficiência
intelectual. Na demência senil, a sugestibilidade adquire grande
significação do ponto de vista médico-legal, em virtude de
estarem esses pacientes sujeitos a explorações prejudiciais a
seus interesses pessoais, extorsão de dinheiro, captação de
herança etc.
A sugestibilidade pode ser também observada nos estados de
excitação maníaca e nos alcoolistas. No delirium tremens, por
exemplo, podem-se sugerir facilmente várias coisas ao paciente,
inclusive as alucinações. Na catatonia, a sugestibilidade é
predominantemente motora, razão pela qual será estudada nas
alterações da atividade voluntária.
Ambivalência Afetiva
Apesar de não usar a palavra Ambivalência, Bleuler descreve as
acentuações afetivas opostas e basicamente simultâneas nos
indivíduos normais. Fala do amor e temor ou ódio que uma
pessoa pode ter em relação a outra, dos acontecimentos que se
temem e são desejados (uma operação, a tomada de posse de um
cargo). O paciente ambivalente, apesar de não pode unir ambos
sentimentos e tendências opostas, percebe-os ao mesmo tempo
(ama e odeia), sem que ambos os sentimentos ajam entre si ou se
debilitem. Deseja a morte da mulher e se as alucinações a
apresentam morta, pode ao mesmo tempo ficar desesperado e
chorar por isso.
Honório Delgado define a Ambivalência como a anormalidade
das tendências, e que se caracteriza pela coexistência de juízos
contraditórios sobre o mesmo objeto simultaneamente. Portanto,
no plano afetivo a Ambivalência consiste em experimentar
sentimentos opostos, simultaneamente e em relação ao mesmo
objeto.
A Ambivalência Afetiva surge em todas as situações de conflito,
especialmente nos Transtornos Neuróticos mas, será na
esquizofrenia que a Ambivalência se apresentará com aspectos
mais característicos e mais extremos.
Fobias
O termo Fobia é definido como um temor insensato, obsessivo e
angustiante, que certos doentes sentem em situações específicas.
A característica essencial da Fobia consiste no temor patológico,
absurdo que escapa à razão e resiste a qualquer espécie de
objeção da lógica e da razão. Refere-se a certos objetos, atos ou
situações e pode apresentar-se sob os aspectos mais variados. O
temor obsessivo aos espaços abertos (agorafobia) ou fechados
(claustrofobia), aos contatos humanos ou com animais (cães,
ratos), temor de atravessar ruas, de subir ou descer elevadores,
de lugares altos etc.
A percepção sensorial real, direta e material da coisa ou do ser
sobre o qual a fobia se sistematiza não é obrigatória ou
necessária ao desencadeamento da reação ansiosa. Esta pode
resultar de representações fotográficas. Apresentam-se as fobias
em vários tipos de Transtornos Neuróticos, particularmente
no Transtorno Fóbico-Ansioso e em alguns estados psicóticos.
Irritabilidade
Bleuler considera a irritabilidade como uma predisposição
especial ao desgosto, à ira e ao furor. Os pacientes irritáveis
manifestam impaciência e aumento da capacidade de reação
para determinados estímulos e intolerância à frustração, aos
ruídos, às aglomerações. Nesses casos, a perturbação consiste no
aumento da tonalidade afetiva própria das percepções, tanto que
se pode verificar certa contradição na conduta dos doentes, os
quais sofrem mais com a falta de consideração do ambiente do
que propriamente com os ruídos produzidos no meio exterior, ou
seja, interpretam o ruído mais como uma provocação do que um
incômodo acústico.
No Transtorno Explosivo da Personalidade o sintoma
principal é a irritabilidade. Nesses pacientes existe um grau
elevado de reatividade emotiva, unido a uma extraordinária
tensão afetiva, que se descarrega sob a forma de reações de tipo
"curto-circuito". Estes surtos sãoparoxismos coléricos ou
furiosos que põem em perigo a vida de pessoas do ambiente e a
integridade da propriedade. Esses indivíduos, por exemplo,
ouvem uma palavra qualquer e, antes que tenham compreendido
o seu verdadeiro sentido, reagem de maneira explosiva,
respondendo com insultos ou com atos de violência.
Nos estados de exaltação eufórica, quando os conflitos se tornam
inevitáveis em virtude de o paciente manifestar superestimação
da própria personalidade e elevação das aspirações, observam-se
freqüentemente explosões de cólera e irritabilidade. Onde as
manifestações de irritabilidade mórbida se tornam mais
características é na epilepsia. Bleuler dizia que nos epilépticos
existe, freqüentemente, uma irritabilidade crônica.
Desde o século passado autores de compêndios apontavam para
a concordância clínica entre irritabilidade e epilepsia. Legrande
du Saulle escreveu que “fora da crise convulsiva, os epilépticos
são egoístas, desconfiados, sombrios, irritáveis e coléricos. Um
gesto, um simples olhar bastam para causar-lhes muitas vezes, a
mais penosa das impressões, inflamar-lhes a cólera”. Já para
Schüle, “o caráter dos epilépticos consiste numa extraordinária
irritabilidade mórbida, que rapidamente se transforma em atos
impulsivos. São indivíduos caprichosos, desconfiados, excitados
contra si mesmos e contra os outros, turbulentos, ora de uma
alegria cuja causa muitas vezes ignoram, ora de uma depressão
exagerada, agora humildes e com tendências religiosas. Mas logo
são orgulhosos, duros maus”.
Foi de Falret o mérito de ter sido o primeiro a destacar as
características psicológicas dos epilépticos, fora das crises
convulsivas. Em 1861, Falretescreveu que a “irritabilidade
constitui o traço dominante dos epilépticos. Esses doentes são
geralmente desconfiados, questionadores, predispostos à cólera...”
“...irritam-se com grande facilidade pelos motivos mais simples,
entregando-se, freqüentemente, a atos de violência, instantâneos
as mais das vezes, sem provocação nenhuma de parte daqueles
que são suas vítimas”. Júlio de Matos Fernandes refere-se a
esses pacientes como apresentando “uma excessiva irritabilidade,
sempre pronta a explodir em cólera, não raro impulsionados à
prática das ações mais violentas e cruéis”.
Na década de 80, Maria Lúcia Coelho fazia seu doutorado em
psiquiatria relacionando traços dos epilépticos, tanto dos
convulsivos quanto dos não-convulsivos, e apontando também a
irritabilidade e baixa tolerância a frustrações, entre outros
traços, num minucioso e completo trabalho científico.
Entretanto, modernamente, para evitar alguma confrontação com
o critério de epilepsia adotado pela neurologia, fala-se
em Transtorno Explosivo Intermitente ou Transtorno
Explosivo da Personalidadecomo uma ocorrência co-mórbida
com a epilepsia. Mas, de qualquer forma, vale a dica e
observação de tantos autores virtuosos...
Angústia
Blaser e Poeldinger estudaram a evolução do conceito de
angústia, admitindo que se deve a Kierkegaard a primeira
distinção entre temor a um objeto e a angústia, livre e flutuante,
desprovida de objeto. Esta distinção foi adotada por Karl Jaspers,
tendo deixado claro o seu conceito ao escrever que a angústia é
um sentimento freqüente e torturante, e que o medo sempre se
refere a alguma coisa, enquanto a angústia é sem objeto.
Desde então, esta tem sido a orientação seguida pelos
tratadistas, entre os quais se encontra Binder, que desenvolveu
amplas considerações no sentido de estabelecer os limites entre
medo e angústia. “Se procurarmos estabelecer a diferença entre
esses dois estados de ânimo, a introspecção nos mostrará que a
vivência afetiva de encontrar-se em perigo aparece em duas
modalidades diferentes: em uma forma diferenciada, em que o
referido sentimento surge em estruturas psíquicas amplamente
configuradas, precisas e determinadas; quando se costuma falar
quase sempre da presença de medo ou temor, e em forma mais
primitiva, que se designa de modo geral como angústia e que
corresponde a estratos psíquicos mais profundos que, com
freqüência, são menos claramente conscientes e conservam
conexões psíquicas mais difusas e menos articuladas. Alguém
teme algo ou sente medo diante de algo, enquanto alguém se
angustia, e nestas locuções se expressa que no temor ou no medo
do objeto perigoso aparece mais claramente destacado do
indivíduo e é percebido, imaginado ou pensado como uma
articulação e uma delimitação clara e determinada, enquanto na
angústia os processos do conhecimento que a precedem são,
freqüentemente, muito mais vagos e indiferenciados,
características que correspondem a estratos psíquicos mais
primitivos”.
Com referência a sua origem, o próprio Binder admitiu a
possibilidade de a angústia apresentar três aspectos diferentes:
1 - Angústia Vital
Lopez Ibor considera a angústia vital como o elemento básico da
personalidade humana, podendo surgir sem características
patológicas, mas em condições mórbidas, está representada por
seus graus mais acentuados. A angústia se acha corporificada.
De acordo com Binder, esta forma de angústia apodera-se do
consciente quando existem condições corporais íntimas
ameaçadoras da vida. “Surge de modo mais claro nos estados de
hipoxemia e anoxemia de qualquer natureza, seja devido a
espasmos das coronárias (angina do peito), à perda de sangue
(sempre que não leve à inconsciência), à dificuldade respiratória
(asma brônquica, estrangulação) ou a asma cardíaca”.
Bash considera que, nesses casos, a reação psíquica é
perfeitamente normal: “O objeto se apresenta no consciente sob a
forma de sensações viscerais”. A própria debilidade
constitucional, seja do sistema ou de sua regulação vegetativa,
pode determinar o aparecimento de sensações desagradáveis, as
quais são captadas como ameaça à integridade do eu, estando,
nesse caso, a angústia vital ligada à depressão ou à transtorno
orgânico. A angústia vital, exceto nos casos de depressão, indica
um grave transtorno orgânico.
2 - Angústia Real
O perigo ameaça a partir da circunstância. Ao contrário
da Angústia Vital, a Angústia Real tem origem em uma ameaça
conscientemente percebida, a qual provém do meio exterior e não
de alguma parte interna do corpo. Bash admite que
“circunstâncias da vida persistentemente humilhantes podem
ocasionar o desenvolvimento de um estado de angústia crônica”.
3 - Angústia Moral
O perigo se encontra localizado na própria psique e,
especialmente, em determinadas tendências psíquicas primitivas,
que são afastadas por outras tendências, superiores e mais
evoluídas, e que se orientam em outro sentido
(conflito). Kielholz propôs uma subdivisão da Angústia Moral,
levando em consideração a possibilidade de uma angústia
consciente e outra inconsciente, correspondendo esta última à
angústia dita neurótica, à qual se refere de modo especial a
literatura psicanalítica.
Kammerer é de opinião que todas as definições da angústia se
reduzem a três condições essenciais:
a) o sentimento da iminência de um perigo que virá, mas de um
perigo indeterminado. Esse sentimento se acompanha da
elaboração de temas trágicos, os quais ampliam todas as imagens
na proporção de um drama;
b) a atitude atenta diante do perigo, verdadeiro estado de alerta,
que invade todo o indivíduo, tendendo para a catástrofe que se
avizinha;
c) a desordem, isto é, a convicção da incapacidade absoluta e o
sentimento de desorganização e de prostração diante do perigo.
O estado de angústia quase sempre perturba as funções
fisiológicas e se expressa através de uma série de distúrbios
autonômicos. Normalmente há constrição respiratória, dispnéia,
opressão cardíaca, taquicardia, palpitações, lentidão ou
aceleração do pulso, palidez, relaxamento da musculatura facial,
espasmos em órgãos diversos, transpiração nas mãos e na face.
A angústia é um dos elementos fundamentais em Psicopatologia,
representa o sintoma dominante na maioria dos transtornos
neuróticos, e está presente em muitas psicoses, mormente em
sua fase prodrômica.
Atenção e Memória
Incluído em 16/02/2005
O Estresse e a Memória
Atualmente um novo problema parece estar associado ao
desgaste da capacidade de fixação. É o excesso ou sobrecarga de
informação. As informações dos tempos modernos chegam até
nós através dos mais variados meios: jornal, revista, rádio,
televisão, cinema, fax, carta, e-mail, internet, escola, cursos,
etc... Muitas vezes essa avalanche de informações superam
nossa capacidade de apreensão eficaz.
Nossa Atenção sobre algo é tanto mais intensa quanto mais nos
interessa esse algo, quanto mais desejamos conhecê-lo e
compreendê-lo, quanto mais isto nos proporcione prazer ou
satisfação. É por isso que, durante os episódios depressivos,
onde o prazer e o interesse estão significativamente
comprometidos, a Atenção e a Memória estarão também
severamente prejudicadas; por falta de interesse e prazer.
Despertam mais nossa Atenção as coisas com as quais
mantemos algum laço de interesse, alguma predileção.
Passeando num shopping as pessoas detém-se (prestam Atenção)
diante das vitrinas que lhes despertam maior interesse, que mais
lhes mobilizam afetivamente. Ao estudarmos a sensopercepção
também constatamos o fenômeno de predileção sensorial de
acordo com as tendências afetivas, como é o caso do artista,
capaz de perceber com mais acuidade a obra de arte. A Atenção
seria a principal parte dessa predileção sensorial.
De acordo com o papel que determinado estímulo desempenha
ou possa eventualmente desempenhar na vida pessoal, ele
exercerá uma força maior ou menor de atração sobre a Atenção.
A Atenção realiza uma seleção natural de seus objetivos em
função da disposição pessoal, a qual tende a iluminar
determinados objetos. A Atenção está sempre dirigida para algo
conscientemente desejado e esse tipo de disposição da pessoa
para com o objeto é chamado interesse. O interesse e a Atenção
estão tão intimamente ligados que não é possível existir Atenção
completamente desprovida de interesse (Stern).
Níveis e Distribuição da Atenção
Ao estudar a extensão do campo de Atenção, julga-se muito mais
importante a captação de uma totalidade ou captação do todo
significativo, que a quantidade de objetos que a serem captados
pela Atenção. Para William Stern, a Atenção é a condição
imediata para a produção de uma realização pessoal e suas
características consistem num esclarecimento consciente, na
concentração de uma força psíquica disponível para o
esclarecimento da realidade.
Tenacidade e Vigilância
Já vimos, no capítulo da sensopercepção, que o ato de perceber
consiste na apreensão de uma totalidade e que essa totalidade
não representa uma simples soma do elementos isolados
captados pelos órgãos sensoriais. O todo sensorial caracteriza
uma determinada forma, e esta forma percebida pelos sentidos
será qualitativamente diferente daquilo que representa suas
partes isoladas.
Alteração da Memória
Hiperminésia
Ocorre Hipermnésia quando lembranças casuais são evocadas
com mais vivacidade e exatidão que normalmente, ou quando se
recordam particularidades que comumente não surgem na
consciência. A Hipermnésia pode ser observada em alguns
estados orgânicos, como é o caso das afecções febris toxi-
infecciosas. Nesses casos podem aparecer lembranças da
juventude ou da infância ou de fatos que a pessoa nem sequer
tinha mais consciência de sua existência. Também pode haver
Hipermnésia por estimulação hipnótica, onde recordações de
particularidades muito complicadas são revividas com exatidão.
Na Hipermnesia não existe um verdadeiro aumento da memória.
O que se observa é, na realidade, uma maior facilidade na
evocação dos elementos mnêmicos, normalmente limitados a
períodos específicos ou a eventualidades específicas ou, ainda, a
experiências revestidas de forte carga afetiva.
Um fenômeno curioso é a Hipermnésia que pode ocorrer em
estados que precedem a morte ou quando a pessoa se defronta
com situações extremamente ameaçadoras à sobrevivência. Na
literatura psiquiátrica há algumas referências de casos onde a
pessoa se recorda, em poucos instantes, de todos os
acontecimentos da vida com absoluta clareza.
Algumas pessoas que foram salvas da morte iminente por
afogamento descrevem que no momento da asfixia pareciam ver
toda a sua vida passada, nos seus mais pequenos incidentes.
Pareciam ver toda a vida anterior desenrolando-se em sucessão e
com pormenores muito precisos, formando um panorama de toda
existência . Também Jaspers descreve essas situações limites.
Perante o infortúnio, o sofrimento e a morte iminente, diz ele, a
existência humana é lançada numa situação anímica extrema.
Hipomnésia e Amnésia
A Hipomnésia e a Amnésia podem ser consideradas como graus
de hipofunção da memória, ou seja, são diminuições do número
de lembranças evocáveis. A Amnésia, por sua vez, seria a
desaparição completa das representações mnêmicas
correspondentes a um determinado tempo da vida do indivíduo".
Bleuler prefere o termo debilidade da memória ao invés de
hipomnesia. Ele diz ainda que a Amnésia não precisa ser
completa, havendo várias gradações entre o nada absoluto e a
lembrança incompleta.
Segundo Jaspers, "amnésias são perturbações da memória que
se estendem a um período de tempo delimitado, do qual nada ou
quase nada pode ser evocado (Amnésia parcial), ou ainda a
acontecimentos menos nitidamente delimitados no tempo". Em
seguida, estuda quatro variedades de Amnésia :
1. Primeiro - Há profunda obnubilação da consciência
mais do que perturbação da memória. Como nada se
pode aprender na obnubilação, nada se pode fixar, ou
seja, como nenhum acontecimento atinge a consciência,
não será possível alguma reprodução.
2. Segundo - Aqui verifica-se ser possível a compreensão
durante algum período de tempo, porém a capacidade de
fixação está profundamente diminuída, não sendo
possível reter nada. Isso é comum em psicoses orgânicas,
notadamente na Korsakov.
3. Terceiro - É quando certos acontecimentos podem ser
compreendidos passageiramente, porém as disposições
da memória foram destruídas por um processo orgânico
bem delimitado no tempo. É, por exemplo, o que acontece
nas amnesias retrógradas, após graves lesões cerebrais,
em que desaparecem totalmente as experiências das
últimas horas ou dias antes do acidente.
4. Quarto - Trata-se de amnésias extremamente
acentuadas, normalmente de origem psicogênica, sendo o
principal defeito uma alteração da capacidade de
reprodução, apesar da soma das lembranças existentes
estar conservada. Nesses casos, muitas vezes a solução é
conseguida por meio de hipnose
Existem, aliás mais comumente, Amnésias Parciais, onde se
verifica o desaparecimento de algumas lembranças e não de
todas elas. Seriam as chamadas Amnésias Sistematizadas
Bleuler. Embora possam ser de causa orgânica, como por
exemplo, após traumatismo cerebral ou envenenamento, a
maioria é de natureza psicogênica. Quando o esquecimento se
limita a certos acontecimentos da vida do indivíduo, mas este
continua sendo capaz de lembrar outros fatos vividos na mesma
época, Bleuler chama de Amnésia catatímica.
Tipos de Amnésia
Amnésia Anterógrada
Amnésia Anterógrada se refere ao esquecimento dos fatos
transcorridos depois da causa determinante do distúrbio e o
transtorno mais freqüente desse tipo de alteração da memória é o
de fixação. Costuma ser devido à uma concomitante perturbação
da atenção, tanto da tenacidade quanto da vigilância.
Como a maioria dos casos se deve a alterações orgânicas, é como
se houvesse uma diminuição da receptividade do sistema
nervoso aos estímulos. A Amnésia Anterógrada pode ser
observada em lesões cerebrais agudas ou crônicas, sejam devidas
a causas traumáticas, circulatórias ou tóxicas. Os doentes com
Amnésia Anterógrada não podem relembrar os fatos recentes,
porém, conservando a capacidade para recordar acontecimentos
passados mais remotamente.
Nos estados demenciais os graves defeitos da fixação se
acompanham freqüentemente de fabulações, ou seja, tentativas
do paciente preencher as lacunas mnêmicas com afirmativas
completamente aleatórias.
Amnésia Retrógrada
Amnésia Retrógrada é quando ocorre perda da memória para os
fatos ocorridos antes do evento que a causou. Aqui também o
dano cerebral, de qualquer natureza, tem destaque principal
entre as causas. Esse tipo de Amnésia se estende por dias ou
semanas anteriores à lesão. Em alguns raros casos, a Amnésia
Retrógrada pode compreender todos os acontecimentos
anteriores da vida do enfermo.
A Amnésia Retrógrada é bastante observada nos quadros neuro-
psicológicos senis, após um ictus circulatório cerebral e nos
traumatismos cranianos, principalmente quando há perda de
consciência. Apesar da sintomatologia exuberante, a Amnésia
Retrógrada pode ser reversível, ocorrendo a regressão a partir dos
fatos mais antigos para os mais recentes.
Além de neurológica a Amnésia Retrógrada pode ser psicogênica,
em conseqüência de traumas emocionais intensos. Nesses casos
a Amnésia pode referir-se apenas a determinado período de
tempo, limitada a lembranças relacionadas com acontecimentos
angustiantes. Nesses casos, na realidade, não há um verdadeiro
apagamento mnêmico e a dificuldade da evocação resulta de um
mecanismo de defesa (negação).
Amnésia Retroanterógrada
Amnésia Retroanterógrada se refere ao esquecimento dos fatos
ocorridos antes e depois da causa determinante. Trata-se de uma
alteração simultânea da fixação e da evocação. Encontra-se nos
casos graves de demências orgânicas e de traumatismos crânio-
encefálicos. O antigo termo psicorrexe, pouco em uso
atualmente, se refere à amnésia de instalação súbita e total,
privando o indivíduo da capacidade de compreensão e de
orientação no tempo e no espaço.
Amnésia Transitória
Amnésia Transitória é, como o nome diz, uma síndrome
amnésica transitória que se caracteriza pela incapacidade de
fixar os acontecimentos recentes. É observada com relativa
freqüência na convalescença de enfermidades toxi-infecciosas
graves onde, apesar dos pacientes conservarem boa capacidade
de evocação, manifestam sérios transtornos da orientação
têmporo-espacial, fabulações e perseveração.
Nestes casos de estados toxi-infecciosos graves verificamos um
empobrecimento mental global e simplificação do pensamento,
amortecimento da vida emocional, indiferença, apatia, falta de
iniciativa e apragmatismo. Em alguns casos, podem surgir
síndromes de transição confusional e do tipo paranóide-
alucinatória.
Tipos de Amnésia
Paramnésias
Os distúrbios da qualidade da memória de evocação denominam-
se, de modo geral, paramnesias. Estudam-se neste grupo as
seguintes alterações:
1) ilusões mnêmicas;
2) alucinações mnêmicas;
3) fabulações;
4) fenômeno do já visto;
5) criptomnesia;
6) ecmnesia.
Ilusões Mnêmicas
Tratam-se, as Ilusõs Mnêmicas de verdadeiras lembranças
fictícias, ou seja, a recordação vívida de alguma coisa irreal.
Nesses casos haveria um acréscimo de elementos falsos na
consciência, os quais resultariam em lembranças fantásticas
como, por exemplo, ter existido antes do universo, ter vivido 10
mil anos, ser mãe de dezenas de filhos, ter participado da queda
da Bastilha ou da Guerra de Tróia e assim por diante. São algo
diferente dos delírios devido ao fato da pessoa poder descrever
minuciosamente as cenas vividas, algo como um acontecimento
oniróide.
As Ilusõs Mnêmicas são a forma mais freqüente de paramnesia e
desempenham importante papel na psicopatologia,
principalmente na sintomatologia psicótica. Segundo Bleuler, as
Ilusõs Mnêmicas constituiriam o principal material para
elaboração dos delírios. Bleuler inclui nas Ilusõs Mnêmicas as
lembranças imprecisas também observadas no alcoolismo agudo
e crônico, nos orgânicos e nos epilépticos.
Entre as Ilusõs Mnêmicas se incluem os falsos reconhecimentos,
observados em psicóticos quando, muitas vezes, insistem em
identificar o médico ou a enfermeira como uma pessoa de sua
família, a quem até atribuem algum nome de sua familiaridade.
Nesses casos não se trata de alteração da percepção e sim de
formação da Ilusõs Mnêmicas, que leva o paciente a identificar
uma pessoa desconhecida com a lembrança de alguém familiar.
Alucinações Mnêmicas
Alucinações Mnêmicas são criações imaginativas com aparência
de reminiscências e lembranças, porém, não correspondem a
nenhuma imagem de épocas passadas. Nos psicóticos surgem,
freqüentemente, lembranças reais de vivências irreais que podem
atribuir uma história de vida completamente diferente. São
lembranças que não correspondem a nenhum acontecimento
vivido.
Pacientes pré-demenciais ou demenciais podem apresentar essas
Aucinações Mnêmicas como cenas acontecidas recentemente.
Uma nossa paciente em início de demenciação insistia que um
antigo namorado vinha quase todas as noites visitá-la de
carruagem. Descrevia a cena com detalhes minuciosos.
Não se trata de realização de sonhos nem tampouco de
alucinação dos sentidos, pois muitos dos acontecimentos são
situados no tempo em que o indivíduo normalmente se ocupava
do seu cotidiano. Em outros casos, as alucinações da memória
são menos sistematizadas e constam apenas de particularidades
isoladas.
Fabulações
A Fabulação consiste no relato de temas fantásticos que, na
realidade, nunca aconteceram. Em grande parte, resultam de
uma alteração da fixação e de uma incapacidade para reconhecer
como falsas as imagens produzidas pela fantasia. O conteúdo
das fabulações, como bem salientou Lange, procede do curso
habitual da vida anterior, acontecendo muitas vezes que,
achando-se perturbada a capacidade de localizá-las no tempo,
lembranças isoladas autênticas completam erroneamente as
lacunas da memória. Nos casos em que existem alterações dos
conceitos e desorganização da vida instintiva, pode-se observar a
produção rica de conteúdos fabulatórios absurdos e
inverosímeis, que, habitualmente, adquirem um aspecto
oniróide. Em outros casos, certas imagens oníricas são
rememoradas e atualizadas como lembranças autênticas.
Enquanto as Fabulações preenchem um vazio da memória e se
mostram como que criadas para este fim, podendo variar de tema
e conteúdo, as Alucinações Mnêmicas não mudam, tal como uma
idéia delirante. No sentido mais particular, a Fabulação é, nos
estados em que não há delírio, um sintoma de comprometimento
orgânico.
Psicopatologia
Vejamos agora como pode se apresentar a Atenção e a Memória
em alguns estados psíquicos mais encontradiços.
Transtorno Afetivo Bipolar
Nos período de euforia do Transtorno Afetivo Bipolar, a Atenção
se caracteriza por uma exagerada distraibilidade devido a hiper-
vigilância e hipo-tenacidade, portanto, trata-se daquilo que vimos
aqui chamar-se Hiperprosexia. Como a Atenção é muito
superficial e dispersa, detendo-se nos estímulos ambientais, o
paciente tem grande dificuldade para concentrar a Atenção em
determinado objeto. Nas fases de leve excitação maníaca, ou nos
estados hipomaníacos, os doentes percebem rapidamente tudo o
que ocorre em torno de sua pessoa, inclusive o que carece de
significação, entretanto, a Atenção só consegue manter-se em
cada objeto durante um breve tempo, voltando-se novamente
para novas impressões.
Por outro lado, nos estados de depressão há lentidão e
dificuldade de concentrar a Atenção devido à hipo-vigilância e à
hipo-tenacidade, ou seja Hipoprosexia. Em alguns pacientes,
porém, pode haver aumento da tenacidade da Atenção sobre
seus próprios pensamentos de teor negativo e depressivo. Nesses
casos haveria super-tenacidade e sub-vigilância: dificilmente o
enfermo desvia a Atenção da idéia ou do objeto a que se refere o
seu estado mental.
Quanto à Memória nos estados maníacos, sua evocação está, via
de regra, exaltada. Diante da menor solicitação da consciência o
eufórico tende a reviver uma sucessão ininterrupta de idéias e de
imagens mnêmicas. Entretanto, as ligações entre as idéias é
fraca e fragmentada.
As combinações dos conceitos e dos juízos se fazem de maneira
acidental na euforia e, na maioria das vezes, estabelecem-se
relações secundárias e aleatórias, de acordo com assonâncias,
rimas e jogo de palavras. As idéias se sucedem sem direção, ao
acaso das circunstâncias psicológicas. A Memória das
lembranças afluem à consciência em sucessão torrencial e pode
remontar à tempos muito pregressos.
O pensamento do eufórico é extremamente dinâmico, instável,
salta sem transição de uma idéia a outra (fuga de idéias), as
evocações se fazem ao acaso. Os atos intencionais estão todos
nivelados para cima, têm igual interesse de ânimo e se atualizam
com o mesmo grau de consciência. Mundo exterior, impressões
sensoriais, imagens verbais, motoras, tudo se encontra sob o
mesmo plano, tudo é vivido com igual intensidade.
Afetivamente as tendências anteriormente reprimidas dos
pacientes em crises de euforia tendem a liberação, favorecendo a
emotividade e a expansividade exagerada. Os estados afetivos
comandam o encadeamento veloz das representações mnêmicas
e estas provocam juízos que se expressam eloqüentemente. A
Memória exaltada proporciona freqüentes retornos de
lembranças agradáveis, suscita pensamentos otimistas, projetos
de vida sem uma ordenação adequada. À medida que a excitação
maníaca aumenta de intensidade, a hiperevocação automática da
Memória cresce de modo progressivo.
Com o evoluir do quadro, apesar da pseudo-hiperprodução
mental do eufórico, a evocação eloqüente e automática da
Memória, por mais rica e fiel que seja, não serve mais para nada,
pois o doente não mais a controla, não escolhe nada de
prioritário entre as evocações tumultuosas e as representações
incoerentes não podem mais dirigir a atividade no sentido de
uma via razoável, prática e objetiva.
Em muitos casos de excitação maníaca observa-se hipermnesia,
caracterizada pela revivescência acentuada de lembranças, que
fluem à consciência do enfermo em verdadeira avalanche mas, ao
contrário de um enriquecimento da Memória, como poderia
parecer, há sim um verdadeiro tumulto e uma real desordem da
Memória.
Alguns poucos casos o paciente maníaco está incapacitado para
relembrar os fatos vividos durante a agitação e, dessa forma,
passa a apresentar uma amnésia total ou parcial relativa à fase
de agitação maníaca.
Estados depressivos
Nos estados depressivos, as funções psíquicas também estão
perturbadas em seu conjunto, tal como dissemos sobre o
sintoma da Inibição Global dos deprimidos. Os sintomas mais
destacados são a tristeza vital, a angústia e a inibição da
psicomotilidade. Entretanto, ao lado desses sintomas axiais, os
enfermos deprimidos se queixam de um sentimento de
impotência psíquica que os impede de realizar as suas tarefas
habituais, diminuição da capacidade de concentração e
enfraquecimento da vontade. A Memória se acha comprometida
em suas capacidades de fixação e de evocação. Na maioria dos
casos, os doentes revelam redução da atividade voluntária global,
além da mnêmica.
Estando a Atenção voluntária (tenacidade) e involuntária
(vigilância) severamente prejudicadas nos quadros depressivos,
automaticamente também estará prejudicada a Memória de
Fixação e de Evocação, a primeira pela alterações da Atenção e a
Segunda por desinteresse.
Esquizofrenia
A alteração da Atenção que se observa na Esquizofrenia é,
predominantemente, da Atenção voluntária, ou seja, da
tenacidade. O esquizofrênico tem dificuldade para ater-se à
temas necessários à vida pragmática, profissional ou social,
embora possa estar desperdiçando a energia psíquica necessária
à Atenção, concentrando-se em temas interiores e pertinentes à
sua própria patologia delirante.
No caso da Esquizofrenia, a alteração da Atenção seria uma
conseqüência da alteração da afetividade (embotamento ou
empobrecimento) em primeiro lugar, a qual determinaria, em
segundo lugar, alteração vontade, sendo esta última
imprescindível para a manutenção da Atenção. Na Esquizofrenia
Paranóide os pacientes podem ter a Atenção fortemente
concentrada em suas alucinações, ou se sentem forçados a
polarizar a Atenção para determinados acontecimentos do
ambiente. Nestes casos, segundo Bleuler, seria uma espécie de
vigilância sistematizada, isto é, uma tendência patológica de
relacionar os estímulos do meio externo às concepções
delirantes.
Nas esquizofrenias Hebefrênica e Catatônica há grande
dificuldade de Atenção, com notável diminuição da Atenção
involuntária por indiferença aos acontecimentos externos, sendo
muito difícil mobilizar a Atenção voluntária do doente. Nessas
psicoses, algumas vezes, pode-se observar uma verdadeira
interceptação da Atenção.
Quantitativamente a Memória, por sua vez, não está perturbada
na esquizofrenia. Entretanto, a fixação e a capacidade de
evocação podem se achar alteradas em função do prejuízo da
Atenção e da falta de interesse. Em alguns casos observam-se,
como dissemos, alterações qualitativas da Memória, como são os
casos de Ilusões e Alucinações Mnêmicas.
Epilepsia
Na epilepsia, a Atenção sofre a influência da perseveração
revelando aumento da tenacidade. Entretanto, de modo geral,
este aumento da tenacidade secundário à perseveração do
epiléptico resulta em prejuízo da extensão dessa tenacidade, isso
em virtude de um interesse circular, repetitivo e pouco prático.
Por outro lado, a tenacidade voluntáriamente invocada para
outros temas pode estar severamente prejudicada,
principalmente quando o enfermo concentra a Atenção num
tema que se lhe apresenta obsessivamente muito importante.
Quando se promove a variação rápida de temas, nota-se que a
Atenção se fatiga facilmente.
Os epilépticos também estão sujeitos à alguns transtornos da
Memória que merecem atenção especial. A Memória dos
epilépticos pode ser insegura, principalmente em relação à
evocação e na localização das lembranças. Na medida em que a
enfermidade progride no tempo, a fixação vai-se tornando cada
vez mais difícil. Com muita freqüência, alguns enfermos
apresentam esquecimentos de nomes, de datas, de
acontecimentos da vida cotidiana (fixação), enquanto conservam
de modo perfeito os conhecimentos adquiridos anteriormente
(evocação).
Parece que tais alterações mnêmicas dos peilépticos não têm
uma relação direta com a freqüência das eventuais convulsões,
visto serem observadas também em pacientes cujas crises são
controladas pelo tratamento. Alguns autores consideram que
estes fenômenos dependentes de elementos subclínicos e
demonstráveis no EEG através de um traçado elétrico típico,
mesmo o paciente não manifestando alteração clinica.
Nas epilepsias francamente convulsivas, com a evolução da
doença aumenta gradativamente a alteração da Memória,
revelada pela perda dos conhecimentos adquiridos, pelo
estreitamento do círculo de interesses e o empobrecimento dos
meios de expressão .
Estado Psicorgânicos e Senis
Nos estados demenciais há, inegavelmente, um enfraquecimento
global e progressivo de todas as funções intelectuais, incluindo, é
lógico, a Atenção e a Memória. Na Atenção o prejuízo da
tenacidade resulta em decréscimo progressivo da concentração, e
a diminuição da vigilância caracteriza uma conseqüente
diminuição da extensão e fatigabilidade rápida da Atenção.
Segundo Bleuler, nos quadros orgânicos senis a Atenção
espontânea (vigilância) é alterada antes e mais intensamente do
que a Atenção voluntária (tenacidade). Por esse motivo, esses
pacientes, apesar de darem a impressão de que estão com a
Atenção bem conservada, em termos de tenacidade, costumam
atrapalhar-se no pragmatismo cotidiano, onde a vigilância é de
suma importância. Esse estado, que freqüentemente acomete
idosos, não pode ser atribuído à alteração exclusiva da Memória
(que pode estar até bem) mas sim da Atenção.
Nos quadros francamente orgânicos, como aqueles secundários
ao envelhecimento cerebral, aos problemas circulatórios e aos
traumatismos cranianos, ao contrário dos quadros senis simples
onde há alteração da Atenção, verifica-se alterações da fixação e
da evocação da Memória. O distúrbio da fixação é observado
desde o início, evoluindo progressivamente até alcançar uma
completa incapacidade para fixar os acontecimentos novos. Em
certos casos, os fatos recentes são recordados, mas rapidamente
são esquecidos.
Especialmente na Demência Senil, a evocação se mostra
deficiente e os pacientes revelam uma tendência progressiva a
utilizarem cada vez menos os seus conhecimentos. Observa-se,
nesses casos, a perda da capacidade de evocação, mais
acentuada nos acontecimentos mais recentes e menos grave para
os acontecimentos mais antigos. É comum os demenciados
rememorarem com detalhes histórias muito antigas e não
conseguirem evocarem o que comeram no almoço.
Deficiência Mental
Em geral a Deficiência Mental se torna manifesta e mais
prontamente diagnosticada através do atraso geral na
aprendizagem. Na Deficiência Mental há comprometimento global
da capacidade intelectual e, sobretudo, dificuldade de
concentração (tenacidade) da Atenção. Em todos os graus de
deficiência mental a Atenção é lenta e fatigável e, por causa
disso, as características especiais da Deficiência Mental serão
sempre de natureza deficitária, evidenciando-se, notadamente, as
alterações da fixação e da evocação da Memória.
Sendo a alteração primária a da Atenção, em muitos casos, os
deficientes mentais mostram uma excelente capacidade para a
reprodução mecânica da Memória em certas especializações,
como por exemplo, acerca de conhecimentos musicais,
matemáticos ou visuais.
Nas Alterações do Estado de Consciência
Nos estados confusionais, observa-se uma crescente dificuldade
na percepção do mundo objetivo, com diminuição da atividade
intelectual, diminuição essa que se acentua de maneira
progressiva até atingir todas as formas de atividade psíquica.
Uma espécie de véu espesso cai sobre a consciência: eis aqui os
traços essenciais da obnubilação da consciência nas psicoses
sintomáticas. Dentro desse quadro sintomatológico, as
perturbações da Atenção ocupam o primeiro plano. O
interrogatório clínico não progride, em virtude da incapacidade
revelada pelo enfermo para concentrar a tenção e responder às
perguntas de modo acentuado. É necessário repetir as palavras,
pressionar, praticar uma verdadeira estimulação para conseguir
que o olhar perdido ou apagado se volte para o interlocutor. Esta
diminuição da Atenção e da capacidade de concentração é
característica; é o elemento essencial e não representa o
resultado de distração, nem a conseqüência de concentração
intelectual ou de polarização afetiva sobre uma idéia ou um
sentimento prevalente. Ela se manifesta também por extenuação
rápida das reações; quando o enfermo, em resultado de um
grande esforço, consegue concentrar a Atenção, ela não se
mantém por muito tempo vinculada ao objeto.
Na obnubilação da consciência, a Atenção do enfermo é vaga e
capta o ambiente de maneira incompleta e inexata.
Na opinião de Walther-Büel, o transtorno da Atenção representa
o sintoma obrigatório na obnubilação da consciência. "O
indivíduo obnubilado, por não dispor de capacidade de
concentração suficiente, encontra-se à mercê de suas vivências,
sem poder participar na configuração das mesmas".
Transtornos Neuróticos
Habitualmente há fatigabilidade e distraibilidade da Atenção nas
neuroses. Os enfermos se queixam de que não podem concentrar
a Atenção, porque logo se sentem fatigados. Embora a
capacidade intelectual esteja conservada nos pacientes com
Transtornos Neuróticos, há quase sempre uma alteração da
Atenção, a qual acaba por se refletir, secundariamente, na
Memória de fixação.
Os pacientes com Transtornos Neuróticos, sejam eles do tipo
Fóbico-Ansioso, Obsessivo-Compulsivo, Distímicos ou mesmo
Histriônicos costumam se queixar de uma certa fraqueza da
Memória. A mesma quesixa que encontramos nos pacientes
leigamente considerados com "Esgotamento". O que significa,
nesses casos, é uma certa dificuldade de fixar os acontecimentos,
particularmente a fixação de assuntos lidos ou de temas de
estudo. Observa-se que existe uma oscilação no rendimento da
Atenção tenaz e, conseqüentemente da Memória de fixação,
muito provavelmente ligada à fadiga e ao desinteresse.
Entre os portadores de Transtornos Neuróticos, são os histéricos
que mais costumam apresentar Amnésias Psicogênicas, as quais,
como vimos, obedecem a determinados mecanismos de defesa do
ego. Em alguns pacientes, entretanto, o que poderia ser tomado
por um mecanismo de Negação há, na realidade uma Repressão
(outro mecanismo de defesa) por pudor, angústia ou timidez.
Nesses casos, não se trata de uma verdadeira Amnésia
Psicogênica.
Sentimentos e Emoções
Incluído em 15/02/2005