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INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DA EDUCAÇÃO

Docente: José Fernando Fontanari


Aluna: Laura Schutz Torres, 11352251
ESCOLAS DEMOCRÁTICAS - UMA INFLUÊNCIA DIRETA DA PSICANÁLISE
Introdução
As escolas democráticas estão inseridas dentro de uma linha de pensamento chamada
Pedagogia Libertária, que se caracteriza por metodologias que colocam o aluno como ator
central do processo educativo. Nesse modelo, prevalecem idéias de liberdade e igualdade
entre os docentes, discentes e funcionários da instituição, com o objetivo de eliminar relações
autoritárias entre adultos e crianças. Suporta-se, sobretudo, nos princípios democráticos como
pilar pedagógico, oferecendo igual direito a voz entre seus membros. Um importante aspecto
refere-se ao currículo escolar e à gestão de tempo, numa escola democrática não há
obrigatoriedade em frequentar aulas, cabe ao estudante organizar seu próprio cronograma de
aprendizagem e cumpri-lo, a partir do seu ritmo e interesse. Segundo a socióloga Helena
Singer, a Educação Democrática possui três princípios:

“O primeiro é a autogestão. As pessoas que participam de uma


experiência de Educação Democrática são responsáveis por ela. O segundo é
o prazer do conhecimento. Acredita-se que o conhecimento traz alegria,
prazer, e por isso as pessoas se envolvem com ele, não sendo necessárias
punições ou disciplina. O conhecimento científico, o conhecimento
acadêmico, o conhecimento comunitário, o conhecimento tradicional, o
conhecimento religioso, todos os conhecimentos são valorizados, respeitados
e crescem justamente no seu contato.” (SINGER, 2010)
Um dos primeiros esboços de escolas democráticas surgiu no contexto da Escola Nova. No
início do século XX, ocorria na França debates legislativos sobre as reformas da educação,
esse período foi marcado por uma forte preocupação em contrapor-se à pedagogia tradicional.
Esse movimento se expandiu para toda a Europa, como mostra as inúmeras críticas
produzidas por pensadores e pedagogos da época, tais como John Dewey, Maria Montessori,
Cecil Reddie, Alexander Neill, entre outros. As concepções modernas procuravam um novo
modelo que conecta-se a educação aos avanços científicos, em outras palavras, a formação de
uma ciência crítica. De modo análogo ao processo científico, o processo educativo era
entendido através da dedução de hipóteses, coleta de dados, análise, verificação e correção de
erros. Esse fato revela os impactos do Século das Luzes no e sua relevância em fins do século
XIX. Outro aspecto importante, diz respeito ao desenvolvimento de teorias de psicologia
voltadas à compreensão do desenvolvimento cognitivo das crianças, nesse sentido a
psicologia seria uma forma de fundamentar a pedagogia em bases científicas.
Em 1935, sob idealização do pedagogo anarquista francês Célestin Freinet, é fundada
a escola de Vence. Precursora das escolas democráticas, esse espaço se tornou o ambiente
para a livre aplicação das ideias construtivistas de Freinet. Seu projeto atribuía grande ênfase
aos trabalhos (atividades) manuais, almejando a formação de crianças ativas. Acreditava que
não era necessário o oferecimento de conteúdo no modo expositivo, o ideal seria estimular na
criança a necessidade de agir, de examinar os assuntos que lhe despertam interesse. Surge
então a necessidade de construir um ambiente alegre e agradável, recinto que fosse
estimulador à aprendizagem. Freinet entendia que a criança é da mesma natureza que o adulto
e, portanto, rejeita se submeter a regras rígidas passivamente. Desenvolveu inúmeras
técnicas, tais como aulas-passeio, autoavaliação e a imprensa escolar. Ainda hoje, algumas
dessas técnicas continuam a ser aplicadas no planejamento de aulas das escolas.
Outro grande nome nas escolas democráticas é a escola de Summerhill, na Inglaterra,
conhecida como uma das pioneiras desse modelo escolar, ela foi fundada por Alexander S.
Neill o qual acreditava que a educação deveria ser trabalhada com a dimensão emocional dos
alunos, para que assim a sensibilidade superasse a racionalidade. Ele também acreditava que
as vivências das crianças deviam-se dar independente dos pais e dos objetos de controle dos
modelos tradicionais escolares.
Neill teve grande influência da psicanálise na construção de Summerhill, Wilhelm
Reich escreveu muitos trabalhos sobre formas adequadas e não adequadas de educar.

A psicanálise e seu papel na formação de pensamento de Alexander Neill


Em um livro de Wilhelm Reich, O Caráter Impulsivo: um Estudo Psicanalítico da
Patologia do Ego, (1925/1975) o qual foi grande influência para a construção física e
ideológica da escola democrática de Neill, a linha de pensamento reichiana dialoga com a
obra de Freud O Ego e o Id (1923/1976) e fala sobre impulsos, onde o caráter impulsivo
seria uma forma específica de caráter neurótico dominado pela pulsão. Essa pulsão seria
inibida de forma defeituosa, tardia e traumática e com isso o desenvolvimento do ego ao
invés de incorporar ao superego, ele acaba isolado e isso se dá pela repressão direta ou
indireta dos pais ou figuras parentais.
Por isso, para Reich para a criança ter uma educação saudável, as pulsões infantis
devem ser parcialmente reprimidas e parcialmente gratificadas pelos pais, assim não seria
uma experiência traumática para o desenvolvimento do jovem. No caso do caráter
impulsivo, a pulsão teria seguido muito tempo sem ser reprimida, fortalecendo as demandas
pulsionais e o ego primitivo, estando impedido o desenvolvimento de tolerância à
frustração. Com isso a criação de um superego isolado fruto das autoridades repressoras
para com a criança.
Alexander S. Neill então, inspirado pelo pensamento de Reich, acreditava que a
educação das crianças deveria se dar longe das influências dos pais e da repressão dos
modelos tradicionais das escolas. Para ele, em sua íntegra, uma educação que frustra os
alunos está fadada ao fracasso.Os modelos tradicionais de escolas repreendem e
desestimulam os instintos da infância e essa repressão é responsável por muitos problemas
psicológicos (neurose, apatia, dificuldade em viver socialmente) tanto na infância quanto na
vida adulta, essa análise feita pelos psicanalistas influenciou diretamente na construção de
pensamento do Neill. A escola Summerhill conta com todas as características da escola
democrática, adultos e crianças têm os mesmos direitos e poder de fala, tudo é decidido por
assembleias e as aulas são decididas pelos próprios alunos, os mesmos vivem como uma
comunidade nos domínios da escola.

Conclusão
Uma das pioneiras na história das escolas democráticas, a Summerhill, teve como
influências diretas a psicanálise com um grande nome da área, Wilhelm Reich. Neill
conseguiu construir um ambiente saudável e de aprendizado, tanto do educador quanto do
educando, e de incentivo. A escola hoje em dia é referência para o mundo de um espaço
democrático escolar, sem repressão aos impulsos infantis mas sim um lugar onde as
crianças aprendem a ter autonomia e seu lugar na sociedade.
Referências
SINGER, Helena. República de Crianças: sobre experiências escolares de resistência.
Campinas, Mercado de Letras, 2010.

COSTA, Michele Cristine da Cruz. A Pedagogia de Célestin Freinet e a Vida Cotidiana como
Central na Prática Pedagógica. Revista HISTEDBR On-line. Campinas, n.23, p. 26 –31, set.
2006 - ISSN: 1676-2584. <https://www.fe.unicamp.br/pf-fe/publicacao/4927/art02_23.pdf>.

TOSTO, Rosanei. Escolas Democráticas Utopia ou Realidade. Revista Pandora Brasil.


Edição especial Nº 4 - "Cultura e materialidade escolar" - 2011.
<http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/materialidade/rosanei.pdf>

An Overview of Summerhill - The original alternative “free” school.,


Summerhillschool.co.uk, disponível em: <http://www.summerhillschool.co.uk/an-
overview.php>

WAGNER, C.M. Freud e Reich: Continuidade ou Ruptura? São Paulo: Summus, 1996.

NEILL, A. S.. Liberdade sem medo. São Paulo: IBRASA, 1977.

MATTHIESEN, S. Q. A Educação em Wilhelm Reich: da Psicanálise à Pedagogia


Econômico-sexual. Tese de Doutorado em Educação. Universidade Estadual Paulista,
Marília, 2001.
The Impulsive Character: a Psychoanalytic Study of Ego Pathology. In Early Writings, v. 1.
New York, Farrar, Straus and Giroux, (1925) 1975.

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