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Tópicos

Especiais

Prof. Kleber Renan de Souza Santos


Profª. Ana Clarisse Alencar Barbosa
Prof. Arildo João de Souza
Prof. Fábio Roberto Tavares
Profª. Francieli Stano Torres
Profª. Graciela Márcia Fochi
Profª. Grazielle Jenske
Profª. Greisse Moser
Profª. Luciane da Luz
Prof. Lírio Ribeiro
Profª. Maquiel Duarte Vidal
Profª. Meike Schubert
Profª. Vânia Konell
Profª. Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Indaial – 2018
1a Edição
Elaboração:
Prof. Kleber Renan de Souza Santos
Profª. Ana Clarisse Alencar Barbosa
Prof. Arildo João de Souza
Prof. Fábio Roberto Tavares
Profª. Francieli Stano Torres
Profª. Graciela Márcia Fochi
Profª. Grazielle Jenske
Profª. Greisse Moser
Profª. Luciane da Luz
Prof. Lírio Ribeiro
Profª. Maquiel Duarte Vidal
Profª. Meike Schubert
Profª. Vânia Konell
Profª. Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Copyright © UNIASSELVI 2022

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

657
S237t Santos, Kleber Renan
Tópicos Especiais / Kleber Renan Santos et al. Indaial:
UNIASSELVI, 2018.

304 p. : il

ISBN 978-85-515-0131-3

1. Tópicos Especiais.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Vamos iniciar os estudos do Livro Didático de Tópicos Especiais.
Este livro está dividido em três unidades e tem o intuito de apresentar e reforçar temas
no componente de Formação Geral, conforme orientação da Portaria Inep nº 239, de 10
de junho de 2015, art. 3º:

No componente de Formação Geral serão considerados os seguintes


elementos integrantes do perfil profissional: letramento crítico; atitude
ética; comprometimento e responsabilidades sociais; compreensão
de temas que transcendam ao ambiente próprio de sua formação,
relevantes para a realidade social; espírito científico, humanístico e
reflexivo; capacidade de análise crítica e integradora da realidade; e
aptidão para socializar conhecimentos com públicos diferenciados e
em vários contextos.

A partir dessa orientação, queremos que você compreenda que aprender


a questionar é tão importante quanto buscar o saber, e que ao final do estudo deste
livro você seja capaz de formular novas perguntas sobre a realidade humana e consiga
propor soluções responsáveis para os desafios profissionais que surgirem. Assim, este
livro traz conteúdos gerais para você estar bem preparado para o ENADE e também para
o que a vida lhe apresentar. São temas pertinentes, atuais, abrangentes e que fazem
parte da vida de todos nós. Vamos começar?!

Na primeira unidade, que vai tratar sobre cidadania e sociedade, seremos


conduzidos por um mundo intrínseco do comportamento humano em sociedade e suas
regras de conduta e participação social, política e econômica, na qual trabalharemos a
questão da formação dos princípios morais e éticos dos homens que vivem e convivem
em sociedade, além de abordarmos questões pertinentes à democracia, à ética e à
cidadania. Desta forma, abordaremos a compreensão dos significados dos princípios
norteadores da democracia, ética e cidadania, além de realizar uma reflexão e uma
discussão sobre as questões ético-morais na relação indivíduo e sociedade.

Ainda nessa unidade vamos apresentar algumas definições e conceitos a


respeito dos problemas sociais ocasionados pela diversidade que gera diferenças
entre coisas e seres, que por consequência geram os mais diversos preconceitos,
desigualdades e conflitos sociais. Vamos também identificar a necessidade e a
essencialidade da inclusão como uma forma de democratização das relações sociais,
principalmente na emancipação e na sutileza do trato com o outro, seja em relação aos
“iguais” ou entre iguais e diferentes, que de alguma forma ainda não foram incluídos no
contexto social. Relacionado à sociedade e suas relações, vamos trabalhar o conceito
de multiculturalismo, enfatizando as origens do surgimento do movimento e os campos
de conhecimento que acolhem os estudos multiculturais.
Para finalizar a Unidade 1, estudaremos a cultura e a arte como áreas que
interagem entre si e com as demais áreas de conhecimento. Estudar, pesquisar e refletir
sobre as diferentes culturas e suas manifestações artísticas possibilita a compreensão
da vida e das relações entre os sujeitos no meio social. A cultura, assim como a arte,
é dinâmica, vai mudando conforme o tempo e o espaço. A cultura e a arte devem ser
estudadas a partir de três concepções: erudita, popular e de massa.

Começamos a segunda unidade adentrando nos assuntos relacionados à Ciência,
Tecnologia e Sociedade. Veremos como se faz necessário entendermos os fundamentos
da ciência sob diferentes óticas e também analisar definições e pensamentos acerca da
tecnologia e algumas formas de interpretar a sociedade.

Muito próximo dessa temática, avançaremos sobre as tecnologias da informação
e comunicação como fator determinante no advento da sociedade da informação, das
transformações resultantes do processo da globalização de mercados e dos avanços do
uso dos processos tecnológicos na vida cotidiana dos indivíduos.

Concluímos os estudos deste livro com a terceira unidade. Nela, vamos estudar
sobre as políticas públicas, sobre a vivência nos meios urbanos e rurais e a questão
ecológica, temas tão importantes para o desenvolvimento da sociedade como um todo.

Queremos evidenciar a importância das políticas públicas para a concretização
dos direitos e deveres do Estado em relação às pessoas que compõem a sociedade e,
assim como o Estado, gozam de seus direitos civis e políticos. Veremos que estamos
sujeitos ao conjunto de normas jurídicas e sociais, formando assim um marco regulatório
previamente fixado no que diz respeito à distribuição harmônica dos elementos que formam
os direitos, deveres e responsabilidades em prol do desenvolvimento educacional, político,
econômico e social. Nesta via de mão dupla vamos perceber que a vida em sociedade está
ligada à política e não há ação social sem ação política, quer seja promovida pelo Estado
ou pela sociedade. Vamos ainda tratar sobre a saúde e sua gestão, a habitação e moradia
como direitos constitucionais e a segurança em âmbito nacional.

Esperamos que este estudo possa auxiliá-lo na compreensão de tantos temas
que compõem este livro de estudos, preparar-se bem para o ENADE e levar para a vida
as abordagens aqui feitas.

Bons estudos!
GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - CIDADANIA E SOCIEDADE................................................................................ 1

TÓPICO 1 - DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA...................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 A DEMOCRACIA EM PAUTA .................................................................................................4
3 A QUESTÃO DA ÉTICA..........................................................................................................8
4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CIDADANIA.............................................................14
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 17
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 19

TÓPICO 2 - SOCIEDADE E A DIVERSIDADE......................................................................... 21


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 21
2 CONCEITOS DE DIVERSIDADE CULTURAL E DESIGUALDADE SOCIAL......................... 21
3 DIVERSIDADE CULTURAL E DESIGUALDADE SOCIAL................................................... 22
4 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE.......................................................... 31
5 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE HUMANA.......................................... 31
6 CONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DO SABER APRENDIDO ..........................................37
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 39
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 40

TÓPICO 3 - MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E


RELAÇÕES DE GÊNERO....................................................................................................... 43
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 43
2 CONCEITUANDO MULTICULTURALISMO......................................................................... 43
3 SURGIMENTO DO MULTICULTURALISMO........................................................................ 45
4 ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE ABRIGAM O MULTICULTURALISMO.......................... 46
5 MOVIMENTO FEMINISTA....................................................................................................47
5.1 FEMINISMO............................................................................................................................................. 47
5.2 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA......................................................................................................... 48
5.3 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA.........................................................................................................49
5.4 A TERCEIRA ONDA FEMINISTA E O SURGIMENTO DOS ESTUDOS DE GÊNERO...................50
6 CONCEITUANDO GÊNERO................................................................................................ 50
7 ESTUDOS DE GÊNERO...................................................................................................... 54
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................... 58
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 60

TÓPICO 4 - RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRIVADO E


TERCEIRO SETOR................................................................................................................ 65
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 65
2 SETOR PRIVADO............................................................................................................... 65
3 TERCEIRO SETOR ............................................................................................................. 66
3.1 HISTÓRICO ............................................................................................................................................ 67
3.2 REALIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL............................................................68
4 AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS.................................................................70
RESUMO DO TÓPICO 4..........................................................................................................73
AUTOATIVIDADE...................................................................................................................74
TÓPICO 5 - CULTURA E ARTE............................................................................................... 77
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 77
2 CULTURA............................................................................................................................ 77
3 ARTE................................................................................................................................... 81
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................... 88
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 89

UNIDADE 2 — POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A


SOCIEDADE........................................................................................................................... 91

TÓPICO 1 — CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE........................................ 93


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 93
2 CIÊNCIA............................................................................................................................. 93
3 TECNOLOGIA......................................................................................................................95
4 SOCIEDADE .......................................................................................................................97
5 SOCIEDADE ENTRE CIÊNCIA E TECNOLOGIA ................................................................ 98
6 CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE (CTSA) – INTERPRETAÇÕES
SOBRE A NOVA FORMAÇÃO...............................................................................................100
6.1 CTS SOB NOVAS ÓTICAS..................................................................................................................100
6.2 CTS SOB A ÓTICA DE MILTON SANTOS .......................................................................................100
6.3 CTSA SOB A ÓTICA DE WIEBE BIJKER.........................................................................................103
7 CARACTERIZANDO O MUNDO ATUAL.............................................................................105
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................107
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................108

TÓPICO 2 - TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC).............................111


1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................111
2 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) COMO FATOR
DETERMINANTE NO ADVENTO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO...................................111
3 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO – TIC.............................................. 114
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................ 118
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 119

TÓPICO 3 - AVANÇOS TECNOLÓGICOS............................................................................. 121


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 121
2 TENDÊNCIAS ORGANIZACIONAIS DO SÉCULO XXI....................................................... 121
3 COMUNIDADES VIRTUAIS...............................................................................................122
3.1 REDES SOCIAIS................................................................................................................................... 126
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................ 127
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................128

TÓPICO 4 - GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL............................................. 131


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 131
2 GLOBALIZAÇÃO: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA........................................................ 131
2.1 O TERCEIRO SETOR............................................................................................................................134
3 GLOBALIZAÇÃO: UM BALANÇO......................................................................................134
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................135
4 A POLÍTICA INTERNACIONAL.........................................................................................136
5 O ESTADO MODERNO E O LIBERALISMO........................................................................136
6 O NEOLIBERALISMO E A TERCEIRA VIA......................................................................... 137
7 TENDÊNCIAS AOS GOVERNOS E À POLÍTICA INTERNACIONAL...................................138
RESUMO DO TÓPICO 4....................................................................................................... 140
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 141
TÓPICO 5 - RELAÇÕES DE TRABALHO..............................................................................143
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................143
2 ORIGEM/SIGNIFICADO DA PALAVRA TRABALHO.........................................................143
3 AS MULHERES NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL......................................148
4 O TRABALHO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS.........................................................149
4.1 AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO INFORMAL........................................................................150
4.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E OS PROCESSOS LEGAIS NO BRASIL........................................151
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................153
RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................155
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................156

UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS.................................................................................159

TÓPICO 1 — POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO............................................................... 161


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 161
2 POLÍTICA PÚBLICA ATUAL.............................................................................................. 161
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................ 175
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................178
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 179

TÓPICO 2 - POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE....................................................................... 181


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 181
2 CONCEITO DE SAÚDE......................................................................................................183
3 SAÚDE: DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO........................................................186
4 AS REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE...............................................................................187
5 DIVERSOS ATENDIMENTOS EM SAÚDE .........................................................................190
5.1 POLÍTICAS DE SAÚDE E PROGRAMAS ESPECÍFICOS ...............................................................191
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................195
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................196

TÓPICO 3 - HABITAÇÃO E SANEAMENTO.........................................................................199


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................199
2 DIREITO À MORADIA........................................................................................................199
3 SANEAMENTO................................................................................................................. 207
4 SANEAMENTO BÁSICO................................................................................................... 207
5 PRECARIZAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO..................................................................212
6 AVANÇOS NO SANEAMENTO...........................................................................................214
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................216
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 217

TÓPICO 4 - TRANSPORTES E SEGURANÇA......................................................................221


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................221
2 CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSPORTES.......................................................................... 223
2.1 TERRESTRES...................................................................................................................................... 223
2.2 AQUAVIÁRIOS.................................................................................................................................... 225
2.3 AÉREO..................................................................................................................................................227
3 INFRAESTRUTURA......................................................................................................... 228
RESUMO DO TÓPICO 4....................................................................................................... 230
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................231
TÓPICO 5 - POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM ÂMBITO NACIONAL................ 233
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 233
2 A SEGURANÇA PÚBLICA E AS CONTRIBUIÇÕES COMUNITÁRIAS.............................. 234
3 SEGURANÇA PÚBLICA E JUSTIÇA CRIMINAL.............................................................. 235
4 SEGURANÇA PÚBLICA E O PAPEL DO ESTADO............................................................ 240
RESUMO DO TÓPICO 5....................................................................................................... 243
AUTOATIVIDADE................................................................................................................ 244

TÓPICO 6 - VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA.............................................................. 247


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 247
2 VIDA URBANA................................................................................................................. 247
3 VIDA RURAL.................................................................................................................... 249
4 SEMELHANÇAS OU DIFERENÇAS................................................................................. 252
5 ECOLOGIA........................................................................................................................ 255
6 ECOSSISTEMA................................................................................................................ 256
6.1 ORGANIZAÇÃO DOS SERES VIVOS................................................................................................257
6.2 EXEMPLOS DE ECOSSISTEMAS.................................................................................................... 260
6.3 DIVERSIDADE DO ECOSSISTEMA.................................................................................................. 261
7 OS GRANDES BIOMAS.....................................................................................................261
7.1 FATORES QUE DETERMINAM OS BIOMAS..................................................................................... 261
RESUMO DO TÓPICO 6....................................................................................................... 264
AUTOATIVIDADE................................................................................................................ 265

TÓPICO 7 - MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL............................. 269


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 269
2 QUESTÕES AMBIENTAIS – UMA REFLEXÃO SOCIOAMBIENTAL................................. 269
3 SUSTENTABILIDADE: SURGIMENTO ............................................................................. 271
3.1 RELATÓRIO BRUNDTLAND OU “NOSSO FUTURO COMUM”.....................................................273
3.2 AGENDA 21..........................................................................................................................................273
3.3 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL –
RIO+20..................................................................................................................................................274
4 SUSTENTABILIDADE: CONCEITUAÇÃO........................................................................ 274
4.1 OS PILARES DA SUSTENTABILIDADE...........................................................................................275
5 AS FERRAMENTAS PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL.....................................................277
5.1 PACTO GLOBAL ..................................................................................................................................278
5.2 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO - ODM.......................................................279
5.3 PROTOCOLO DE KYOTO................................................................................................................... 280
5.4 ABNT NBR 14064 – INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA..............281
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................... 282
RESUMO DO TÓPICO 7....................................................................................................... 286
AUTOATIVIDADE................................................................................................................ 287

REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 290
UNIDADE 1 -

CIDADANIA
E SOCIEDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender diferentes conceitos de democracia, ética, cidadania e sociodiversidade;

• verificar os padrões de conduta moral ao longo do tempo e em diversas culturas;

• identificar a importância da responsabilidade social e os três setores: público, privado


e terceiro setor para uma sociedade equânime;

• entender a importância da cultura e da arte no desenvolvimento da sociedade.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoa-
tividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA


TÓPICO 2 – SOCIODIVERSIDADE E INCLUSÃO
TÓPICO 3 – MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E
RELAÇÕES DE GÊNERO
TÓPICO 4 – RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRIVADO E
TERCEIRO SETOR
TÓPICO 5 – CULTURA E ARTE

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

Acesse o
QR Code abaixo:

2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA

1 INTRODUÇÃO
Entraremos no mundo do comportamento humano em sociedade e suas regras
de conduta e participação social, política e econômica, no qual trabalharemos a questão
da formação dos princípios morais e éticos dos homens que vivem e convivem em
sociedade, além de abordarmos questões pertinentes à democracia e à cidadania.

Esses conceitos estão previstos na Portaria INEP nº 493 de 6 de junho de 2017,


em seu Art. 1º, que destaca:

O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE),


parte integrante do Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior (SINAES), tem como objetivo geral avaliar o desempenho
dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos
nas diretrizes curriculares, às habilidades e competências para
atuação profissional e aos conhecimentos sobre a realidade
brasileira e mundial, bem como sobre outras áreas do conhecimento
(BRASIL, 2017, grifos nossos).

A mesma portaria, em seu Art. 5º, indica como referência do perfil do concluinte,
no âmbito da Formação Geral, as seguintes características:

I. ético e comprometido com as questões sociais, culturais e


ambientais;
II. humanista e crítico, apoiado em conhecimentos científico, social e
cultural, historicamente construídos, que transcendam o ambiente
próprio de sua formação;
III. protagonista do saber, com visão do mundo em sua diversidade
para práticas de letramento, voltadas para o exercício pleno de
cidadania;
IV. proativo, solidário, autônomo e consciente na tomada de decisões
pautadas pela análise contextualizada das evidências disponíveis;
V. colaborativo e propositivo no trabalho em equipes, grupos e redes,
atuando com respeito, cooperação, iniciativa e responsabilidade
social.

E no Art. 6º é indicado que a prova ENADE avaliará se o concluinte desenvolveu,


no processo de formação, competências para:

I. fazer escolhas éticas, responsabilizando-se por suas consequências;


II. ler, interpretar e produzir textos com clareza e coerência;
III. compreender as linguagens como veículos de comunicação e
expressão, respeitando as diferentes manifestações étnico-culturais
e a variação linguística;

3
IV. interpretar diferentes representações simbólicas, gráficas e
numéricas de um mesmo conceito;
V. formular e articular argumentos consistentes em situações
sociocomunicativas, expressando-se com clareza, coerência e
precisão;
VI. organizar, interpretar e sintetizar informações para tomada de
decisões;
VII. planejar e elaborar projetos de ação e intervenção a partir da
análise de necessidades, de forma coerente, em diferentes contextos;
VIII. buscar soluções viáveis e inovadoras na resolução de situações-
problema;
IX. trabalhar em equipe, promovendo a troca de informações e a
participação coletiva, com autocontrole e flexibilidade;
X. promover, em situações de conflito, diálogo e regras coletivas de
convivência, integrando saberes e conhecimentos, compartilhando
metas e objetivos coletivos.

Para tanto, abordaremos a compreensão dos significados dos princípios


norteadores da democracia, ética e cidadania, além de realizar uma reflexão e uma
discussão sobre as questões ético-morais, na relação indivíduo e sociedade.

2 A DEMOCRACIA EM PAUTA
Estamos vivendo em um país apresentado como democrático! Será que todos
nós compreendemos o sentido real da democracia e seus reflexos na sociedade
brasileira? Em outros termos, o que realmente é este Estado Democrático de Direito em
que vivemos?

Neste sentido, Moisés (2010, p. 277) expõe que “o significado mais usual da
democracia se refere aos procedimentos e aos mecanismos competitivos de escolha
de governos através de eleições”, ou seja, a democracia é compreendida habitualmente
somente como um processo de escolha dos nossos representantes legais em todas
as esferas, tanto local, municipal, estadual quanto federal, no qual a população dessas
esferas, por meio de seu voto, seleciona e elege o seu representante para legislar em
nome dessa mesma população. Assim, “podemos considerar que a democracia nada
mais é do que um sistema de governo, no qual o povo governa para sua própria
sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 133, grifos do original).

Deste modo, pode-se observar que a democracia pode ser exercida de duas
formas distintas, pois ela pode ser direta ou indireta (Quadro 1). O conceito de democracia
é notoriamente o entendimento de toda massa populacional brasileira nos dias de hoje,
pois quando se indaga às pessoas com relação ao conceito de democracia, é este
conceito de escolha de nossos representantes legais, por intermédio do voto popular,
que aparece nos discursos da população de nosso país.

4
QUADRO 1 – FORMAS DE DEMOCRACIA

FORMAS DE DEMOCRACIA
Democracia Na qual o povo decide diretamente, por meio de referendo/plebiscito,
direta se aceita ou não determinadas questões políticas e administrativas de
sua localidade, Estado ou país.
Democracia Nesta, o povo participa democraticamente, por meio do voto, elegendo
indireta seu representante político, ou seja, uma pessoa que o represente nas
diversas esferas governamentais, para tomar decisões cabíveis em
nome do povo que o elegeu.

FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 133)

Cunha (2011, p. 105) expõe que a democracia pode ser compreendida como
“método de organização social e política tendente à maior realização da liberdade e
da igualdade. [é um] Sistema político em que o povo constitui e controla o governo, no
interesse de todos”.

Outro fator que não podemos esquecer é que, quando falamos em democracia,
também falamos de Estado Democrático de Direito. Segundo Cunha (2011, p. 138), o
“Estado de direito [é aquele] que se organiza e opera democraticamente”. Nossa Carta
Magna de 1988, já em seu preâmbulo, instituiu um Estado Democrático de Direito,
ou seja, a Constituição da República Federativa do Brasil se organizou e definiu suas
normativas em prol de um Estado Democrático, no qual a democracia deverá ser a
base fundamental da República Federativa do Brasil. Assim, segundo Pieritz (2013, p.
133), “este sistema de governo democrático possui formatos diferentes nas diversas
sociedades, pois em cada uma existem regras e normas diferentes, e isto acontece por
causa da constituição dos princípios ético-morais de cada localidade”.

Vale salientar que a democracia vai muito além desse discurso sintético de
representação e de voto, pois Moisés (2010, p. 277, grifos nossos) coloca-nos que:

existem outras perspectivas que ampliam a compreensão do conceito,


incluindo tanto as dimensões que se referem aos conteúdos da
democracia, como também os seus resultados práticos esperados no
terreno da economia e da sociedade. Por uma parte, acompanhando a
abordagem minimalista de Schumpeter (1950) e a procedimentalista
de Dahl (1971), vários autores definiram a democracia em termos de
competição, participação e contestação pacífica do poder.

Neste sentido, no que tange à conotação que a democracia tem de competição,


participação e contestação pacífica do poder, pode-se expor que falar de democracia
também está atrelado ao conceito do “jogo de poderes”, principalmente a disputa e
concorrência de cargos em todas as esferas governamentais ou não, além da competição
entre partidos políticos e outros grupos econômicos, políticos, culturais e sociais.

5
Além disso, não podemos esquecer um elemento fundamental da democracia,
que é a questão da “participação do povo”, em que cada cidadão brasileiro é
elemento fundamental no processo democrático do Brasil, pois direta ou indiretamente
é parte do processo democrático instaurado neste país. Ao proferir sua escolha,
independentemente do que for ou de que escolha fora feita, torna-se automaticamente
parte do Estado Democrático de Direito e integra-se ao sistema vigente de democracia
daquele determinado Estado.

Resumidamente, a Figura 1 apresenta o primeiro entendimento da definição e o


significado da democracia e o Estado Democrático de Direito.

FIGURA 1 – DEMOCRACIA E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

FONTE: Os autores

Maciel (2012, p. 73, grifos do original) complementa expondo que a democracia


“tornou-se uma aspiração universal, por ser o regime de governo mais propenso a
garantir os direitos individuais, porém não se resume simplesmente ao ato de votar,
sendo que o direito à participação tornou-se uma atividade importante diante da
constituição da cidadania”.

Por conseguinte, pode-se expor que democracia denota participação direta ou


indireta da população em todos os espaços que necessitem do veredito do povo em prol
de objetivos comuns a ele mesmo. Assim, Beethan (2003, p. 110 apud MACIEL, 2012, p.
73, grifos nossos) complementa expondo que:

6
O direito à participação pode ser tanto reativo quanto proativo. Em sua
forma reativa, a participação consiste na articulação coletiva de
respostas a políticas de desenvolvimento. Na forma proativa, ela invoca
a responsabilidade popular no desencadeamento da articulação de
políticas de desenvolvimento. No primeiro caso, os governos propõem e
os cidadãos reagem; no segundo, os cidadãos propõem e os governos
reagem. Em ambas as formas, o direito de participação assume
a lógica de colaborar com o desenvolvimento. “No coração da
democracia repousa, assim, o direito do cidadão de opinar nos assuntos
públicos e de exercer controle sobre o governo, em pé de igualdade com
os demais”.

Deste modo, pode-se expor que um dos elementos da democracia é a


articulação coletiva do povo em prol de uma determinada demanda social, política,
cultural ou econômica. Para que se possa debater coletivamente os prós e contras, no
que tange aos assuntos pertinentes ao interesse coletivo, dando assim respostas a esta
mesma demanda.

Vale salientar que a não participação e a omissão também são formas de


participação, pois retratam a sua alienação, indiferença, contestação ou o seu
descontentamento em relação ao sistema vigente. Então, isto não quer dizer que
aquele cidadão que se omitiu ou apenas não quis participar não fez parte do processo
democrático de um país, pelo contrário, todo cidadão tem o direito de participar ou não,
mesmo que o voto no Brasil seja obrigatório, pois ao votar ele exprime a sua vontade,
ou o seu desejo.

Aqui fica claro que a população, ao exercer seu direito de participação de forma
proativa, demonstra seus direitos e responsabilidades perante os efeitos da decisão
coletiva. Entretanto, também existem quatro condições necessárias para que se possa
instaurar um regime governamental pautado na democracia.

QUADRO 2 – CONDIÇÕES BÁSICAS PARA O REGIME DEMOCRÁTICO

Direito dos cidadãos de ESCOLHEREM GOVERNOS por meio de


eleições com a participação de todos os membros adultos da
comunidade política. A isso se dá o nome de sufrágio universal
(direito ao voto).
ELEIÇÕES regulares, livres, competitivas, abertas e significativas.
GARANTIA DE DIREITOS de expressão, reunião e organização, em
Disponível em: <http:// especial, de partidos políticos para competir pelo poder.
rafaelsilva.over-blog.es/
article-objetivo-demo- Acesso a fontes alternativas de INFORMAÇÃO sobre a ação
cracia-iv-124370354. de governos e a política em geral.
html>.

FONTE: Adaptado de Moisés (2010, p. 277)

Essas quatro condições mínimas para implantar um regime democrático são de


fundamental importância para que haja a participação democrática de um povo em prol
dos objetivos comuns do próprio povo, uma vez que a democracia vai muito além da
simples representação e de voto, ela se efetiva e concretiza-se com a participação, com
a competição e a contestação dos processos pacíficos da busca do poder no Estado
Democrático de Direito.
7
Sucintamente, a Figura 2 apresenta a ampliação da compreensão do
entendimento do significado da democracia, ou seja, o seu conceito ampliado:

FIGURA 2 – CONCEITO AMPLIADO DE DEMOCRACIA

FONTE: Os autores

ATENÇÃO
Caro acadêmico, para colaborar com seus estudos, veja que a junção
das Figuras 1 e 2 proporciona o entendimento global do que é
democracia.

3 A QUESTÃO DA ÉTICA
O tema que abordaremos neste momento é relativo à questão da ética, a qual
permeia constantemente nosso dia a dia, seja no âmbito familiar, social ou profissional.
Aparentemente, compreendemos o seu significado e seus efeitos, mas será que
realmente compreendemos o seu sentido real? Será que sabemos o que é certo ou
errado para nós na sociedade em que vivemos?

Neste sentido, Tomelin e Tomelin (2002, p. 89) expõem que “a ética é uma das
áreas da filosofia que investiga sobre o agir humano na convivência com os outros [...]”.
Em outros termos, as nossas ações perante a sociedade em que vivemos são orientadas

8
por princípios éticos e morais, e esses princípios são norteadores de consciência moral
do certo e do errado, do bem e do mal.

De modo mais abrangente, a ética pode ser conceituada como a área da filosofia
que investiga o agir humano, tanto aqueles com repercussão social, quanto aqueles sem
maiores impactos na sociedade, ou seja, não somente os atos relativos à convivência
com os outros, mas também consigo mesmo.

Assim, no que tange a esta problemática relativa à ética, Pieritz (2013, p. 3)


expõe que “a ética não é facilmente explicável, mas todos nós sabemos o que é, pois
está diretamente relacionada aos nossos costumes e às ações em sociedade, ou seja,
ao nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de convivência com os outros
integrantes da sociedade”. E que esses valores éticos são construídos historicamente
pelos povos, de geração em geração.

O que são valores? Pedro (2014, p. 490) faz um resgate etimológico da palavra
Axiologia, de origem grega, que significa estudo dos valores ou ciência do valor, e aponta
para um significado, o da vivência do valor, independentemente do valor que for, pois
este é experienciado como um fenômeno que se apresenta à consciência como tal e
como um acontecimento que nos é imediatamente dado.

Para a filósofa húngara Agnes Heller (1972, p. 4), “valor é tudo aquilo que faz
parte do ser genérico do homem e contribui, direta ou mediatamente para a explicação
desse ser genérico”. Vejamos no Quadro 3 quais são os atributos dos valores humanos
na perspectiva de Heller:

QUADRO 3 – ATRIBUTOS DOS VALORES HUMANOS

- que se expressa prioritariamente por intermédio do trabalho;


OBJETIVAÇÃO - que proporciona sair do subjetivo e passar para o real e
concreto.
- que se expressa com a convivência com o outro, em grupo;
SOCIALIDADE - aprendizagem com o outro;
- assimilação de normas sociais.
- tomar ciência dos fatos ou de alguma coisa;
- reconhecimento da realidade;
CONSCIÊNCIA
- descoberta de algo;
- capacidade de perceber as coisas.
- universal;
UNIVERSALIDADE - o todo;
- fazer parte de um determinado grupo.
LIBERDADE - livre-arbítrio.

FONTE: Adaptado de Bonetti et al. (2010, p. 23)

9
Portanto, os atributos dos valores humanos apresentados no Quadro 3 são
os elementos constitutivos do ser humano, do ser social, que formam os nossos
valores morais. Complementando, no Quadro 4 apresentamos mais exemplos
dos valores e virtudes do ser humano, que vive e convive em sociedade.

QUADRO 4 – EXEMPLOS DOS VALORES E VIRTUDES HUMANOS

Amizade Justiça Obediência Respeito Simplicidade


Lealdade Compreensão Sinceridade Pudor Generosidade
Paciência Ordem Humildade Autoestima Liberdade
FONTE: Os autores

Deste modo, podemos expor que “todos nós possuímos princípios e valores que
foram e são constituídos por nossa sociedade. E, com relação a esses valores, cada um
de nós possui uma visão do que é certo e errado, do que é o bem e o mal” (PIERITZ,
2012, p. 57).

Não podemos nos esquecer de que “esta consciência moral é determinada por
um consenso coletivo e social, ou seja, o conjunto da sociedade é que formula e compõe
as normas de conduta que o regem. Como exemplo, temos a nossa Constituição Federal
e outras regras e normas de nossa sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 4).

São estas regras e normativas jurídicas e sociais que determinam o nosso agir
em sociedade, e cada grupo social possui suas características, ou seja, não se pode
dizer que todos nós somos iguais, que todas as nações e Estados são iguais, porque não
somos, pois, independentemente do Estado, do país ou grupo social, fomos moldando
nossos valores e princípios de forma diferente ao longo de nossa existência.

Agora, acadêmico, raciocine o seguinte: se é um fato que nossa consciência


moral é construída no seio de uma sociedade e com a influência do meio e das
pessoas com as quais convivemos, há ainda outros fatores que concorrem para
a constituição da consciência moral, e esse elemento é chamado de Lei natural
– pelos jusnaturalistas – e tem caráter universal, pois perpassa as sociedades
políticas, é algo mais profundo que elas, constitui-se na própria natureza humana em
sua universalidade (ROHLING, 2012). Segundo Valls (2003, p. 8):

costuma-se separar os problemas teóricos da ética em dois


campos: num, os problemas gerais e fundamentais (como liberdade,
consciência, bem, valor, lei e outros); e no segundo, os problemas
específicos, de aplicação concreta, como os problemas da ética
profissional, de ética política, de ética sexual, de ética matrimonial,
de bioética etc.

10
Em outros termos, os problemas éticos permeiam todas as nossas ações em
sociedade. Neste sentido, vale salientar que “cada sociedade possui suas normas de
conduta comportamental e seus princípios morais, ou seja, cada grupo social constitui o
que é certo e errado, o que é o bem e o mal para o seu povo, portanto, nem sempre o que é
certo para nós pode ser certo para um outro grupo social e vice-versa” (PIERITZ, 2013, p. 4).

Então, como desvelar esta situação? Como saber se estamos no caminho certo?
Se estamos fazendo certo ou errado? Ou se realmente estamos fazendo o bem ou o mal
a alguém? São muitas indagações!

Para auxiliar a reflexão sobre essas questões, Finnis (filósofo e jurista australiano)
identifica sete valores básicos, os quais são os seguintes:

I) vida; II) o conhecimento; III) o jogo; IV) a experiência estética; V)


a sociabilidade; VI) a razoabilidade prática; e, VII) a religião. Esses
valores, contudo, não são os únicos, pois existem, evidentemente,
muitos outros, os quais, segundo propõe o autor, são modos ou
combinações de modos de buscar – embora nem sempre com
sensatez – e de realizar – nem sempre exitosamente – uma das sete
formas básicas de bem, ou alguma combinação delas (ROHLING,
2012, p. 163).

Neste sentido, podemos observar ainda que:

os problemas éticos se distinguem da moral pela sua característica


genérica, enquanto que a moral se caracteriza pelos problemas
da vida cotidiana. O que há de comum entre elas é fazer o homem
pensar sobre a responsabilidade das consequências de suas ações.
A ética faz pensar sobre as consequências universais, sempre
priorizando a vida presente e futura, local e global. A moral faz pensar
as consequências grupais, adverte para normas culturalmente
formuladas ou pode estar fundamentada num princípio ético. A
ética pode, desta forma, pautar o comportamento moral (TOMELIN;
TOMELIN, 2002, p. 90).

Podemos expor que deste ponto de vista existem diferenças nítidas entre ética
e moral, sendo que a ética é generalista e a moral reflete o comportamento socialmente
construído e legitimado pelo seu povo. Enfim, Tomelin e Tomelin (2002, p. 89, grifos
do original) complementam expondo que “a palavra ética provém do grego ethos e
significa hábitos, costumes, e se refere à morada de um povo ou sociedade. A palavra
moral provém do latim moralis e significa costume, conduta”. Logo, conforme Pieritz
(2012, p. 58, grifos nosso):

A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento


que cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que
é certo ou errado, o que é bom ou mal. Porém, este comportamento
sempre partirá do ponto de vista dos princípios morais de cada
sociedade, ou seja, seu grupo social. A ética auxilia no esclarecimento
e na explicação da realidade cotidiana de cada povo, procurando
sempre elaborar seus conceitos conforme o comportamento
correspondente de cada grupo social.

11
Por conseguinte, “o ético transforma-se assim numa espécie de legislador do
comportamento moral dos indivíduos ou da comunidade” (VÁZQUEZ, 2005, p. 20), ou
seja, a ética está para regular o nosso comportamento em sociedade.

Complementando, Vázquez (2005, p. 21) coloca-nos que “a ética é teoria,


investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de
comportamento dos homens [...]”, ou seja, “o valor de ética está naquilo que ela explica
– o fato real daquilo que foi ou é –, e não no fato de recomendar uma ação ou uma
atitude moral” (PIERITZ, 2013, p. 7, grifo nosso).

Devemos compreender as diferenças conceituais de ética e moral, pois


“podemos afirmar que a ética estuda e investiga o comportamento moral dos seres
humanos. E esta moral é constituída pelos diferentes modos de viver e agir dos
homens em sociedade, que é formada por suas diretrizes morais da vida cotidiana,
transformando-se no decorrer dos tempos” (PIERITZ, 2013, p. 19).

Todavia, o que é a moral?

Segundo Aranha e Martins (2003, p. 301, grifos do original), “a MORAL vem do


latim mos, moris, que significa ‘costume’, ‘maneira de se comportar regulada pelo uso’, e
de moralis, morale, adjetivo referente ao que é ‘relativo aos costumes’”. Assim, a moral
é compreendida como um conjunto de regras de condutas socialmente admitidas em
determinadas épocas ou por um grupo de pessoas, ou seja, “a moralidade dos homens
é um reflexo direto do modo de ser e conviver em sociedade, no qual o caráter, os
sentimentos e os costumes determinam o seu comportamento individual e social, que
foi ou está sendo perpetuado num espaço de tempo” (PIERITZ, 2013, p. 35). Ainda de
acordo com Pieritz (2013, p. 38):

A moral sugere, constantemente, a valorização de nossas ações


e de nossos comportamentos em sociedade, mas é a moral que
determina quais são os nossos direitos e deveres perante a sociedade
em que vivemos. Estes deveres são conectados ao nosso modo de
ser e conviver em sociedade, gerando certas responsabilidades com
relação a si próprio e aos outros, tais como:
• sentimentos;
• escolhas;
• desejos;
• atitudes;
• posicionamentos diante da realidade;
• juízo de valor;
• senso moral;
• consciência moral.

Sob estas concepções de ética e moral, apresentamos as suas principais


diferenças na Figura 3:

12
FIGURA 3 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL

FONTE: Adaptado de Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90)

Assim, podemos observar que existem diferenças concretas entre estes dois
conceitos, no entanto, ainda devemos compreender que:

FIGURA 4 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL

FONTE: Adaptado de Paulo Netto (apud BONETTI et al., 2010, p. 23)

13
Assim, concluímos que a moral:

Vem se constituindo historicamente, mudando no decorrer da


própria evolução do homem em sociedade. Em que seus hábitos e
costumes são constituídos por esta relação social, em que a essência
humana é pautada por estes princípios morais. E estes, por sua vez,
constituem o ser social que somos. E a ética nesta questão chega
para simplesmente regular e analisar estes preceitos morais (PIERITZ,
2013, p. 21).

Por conseguinte, segundo Pieritz (2013, p. 21, grifo nosso), “a ética é precursora
da TRANSFORMAÇÃO SOCIAL dos diversos sistemas ou estruturas sociais. Sistemas
estes que imprimiam suas mudanças sociais, tais como: Capitalismo e Socialismo”.

Por fim, Pieritz (2013, p. 21) expõe que “quando é constituída uma nova estrutura
social, a ética, os valores e princípios morais são modificados para constituir assim esta
nova concepção de sociedade”. Ou seja, historicamente, com as transformações sociais,
políticas e econômicas de um povo, automaticamente o sistema de valores morais e
éticos se transforma, para que assim seja possível constituir um novo padrão sócio-
histórico daquele determinado grupo.

Salientando ainda que nesse processo de transformação social devemos


respeitar a permanência de alguns valores socialmente construídos, como a
solidariedade, a igualdade e a fraternidade, para que todos possamos construir uma
sociedade mais justa, ética, democrática e cidadã.

4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CIDADANIA


No que tange às questões pertinentes à cidadania, partiremos de sua concepção
advinda do Título I – “Dos Princípios Fundamentais” da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, a qual assim expressa:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.

Neste sentido, podemos observar que um dos princípios fundamentais da Carta


Magna brasileira é a cidadania, mas você sabe o seu significado?

14
Vejamos: cidadania “é um conjunto de direitos e deveres que denotam e
fundamentam as condições do comportamento de cada indivíduo em relação à
sociedade, ou seja, a cidadania designa normas de conduta para o convívio social,
determinando nossas obrigações e direitos perante os outros integrantes da nossa
sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 132). Neste sentido:

Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade, para


melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca
esquecer das pessoas que mais necessitam. A cidadania deve ser
divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação,
para o bem-estar e desenvolvimento da nação. A cidadania consiste
desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros,
respeitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como
todas as outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer
obrigado, desculpe, por favor e bom dia quando necessário [...], até
saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas,
o direito das crianças carentes e outros grandes problemas que
enfrentamos em nosso país. ‘A revolta é o último dos direitos a
que deve um povo livre para garantir os interesses coletivos: mas
é também o mais imperioso dos deveres impostos aos cidadãos’.
Juarez Távora - Militar e político brasileiro (WEB CIÊNCIA, 2009 apud
PIERITZ, 2013, p. 132).

Portanto, podemos observar que a cidadania possui três dimensões.

QUADRO 5 – DIMENSÕES DA CIDADANIA

DIMENSÕES DA CIDADANIA
Cidadania São aqueles direitos advindos da LIBERDADE de cada indivíduo, por
civil exemplo:
• o livre-arbítrio para expressar nossos pensamentos;
• o direito de propriedade (venda e compra de um
imóvel, um bem ou serviço);
• entre outros.
Cidadania Podemos considerar que a cidadania política se legitima quando os
política homens exercem seu poder político de ELEGER e SER ELEITOS
para o exercício do poder político, independentemente da instituição
pública ou privada na qual venham exercer suas atribuições.
Cidadania Compreendida como o conjunto de direitos concernentes ao
social CONFORTO de cada cidadão, no que tange à sua vida econômica e
social, ou seja, do seu bem-estar social.

FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 132-133)

A cidadania expressa os direitos e deveres de todas as pessoas que vivem e


convivem em sociedade, seja na esfera social, política ou civil, no que tange ao respeito a
si, ao próximo e ao patrimônio público e privado. Além de que a cidadania é participação
nos espaços públicos de discussão, a qual permeia as questões de democracia e ética
de toda a população daquele determinado grupo social, político ou econômico.

15
Deste modo, Maciel (2012, p. 29) expõe que hoje em dia a cidadania é “sinônimo
de participação que remete ao exercício da democracia para além das eleições. Somos
‘controladores’ da política, do orçamento, ou seja, das ações do Estado como um todo”.
Cada cidadão tem o dever e o direito de participar de todos os espaços democráticos do
seu município, Estado ou Federação.

Nesse sentido, tem-se a participação como um mecanismo do exercício da


cidadania, ou seja, “O conceito contemporâneo de cidadania transcende a simples
lógica da garantia de direitos legais. Segundo a concepção de Dallari (2004), a cidadania
expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar da
vida e do governo de seu povo” (MACIEL, 2012, p. 31). Portanto, a palavra de ordem é
“participar”, fazer parte do processo democrático, pois, de acordo com Maciel (2012,
p. 32), quem não exerce sua cidadania “está excluído da vida social e da tomada de
decisões. A cidadania não significa apenas uma conquista legal de alguns direitos,
mas sim a realização destes direitos. Ela é construída e conquistada a partir da nossa
capacidade de organização, participação e intervenção social”.

Vale salientar que a cidadania é conquistada pela nossa participação nos


momentos das discussões e decisões coletivas, portanto a cidadania se dá pela
participação ativa de nossa vida em sociedade e na vida pública.

16
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A compreensão do significado mais usual da democracia denota que a democracia


é compreendida como um sistema de governo, no qual o povo governa para sua
própria sociedade.

• A democracia pode ser exercida de duas formas distintas, pois ela pode ser direta ou
indireta.

•   A democracia é compreendida popularmente como a escolha de nossos


representantes legais, por intermédio do voto popular.

• O Estado Democrático de direito, que é aquele Estado que se organiza e opera


democraticamente.

• A Constituição da República Federativa do Brasil se organizou e definiu suas


normativas em prol de um Estado Democrático, no qual a democracia deverá ser a
base fundamental da República Federativa do Brasil.

• A democracia também está atrelada ao conceito do “jogo de poderes”, principalmente


a disputa e concorrência de cargos em todas as esferas governamentais ou não.

• É importante relembrar que o elemento fundamental da democracia é a “participação


do povo”.

• A ética é uma das áreas da filosofia que investiga o agir humano na convivência com
os outros.

•  A ética está diretamente relacionada aos nossos costumes e às ações em sociedade,


ou seja, ao nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de convivência com os
outros integrantes da sociedade.

• Todos nós possuímos princípios e valores que foram e são constituídos por nossa
sociedade. E, com relação a estes valores, cada um de nós possui uma visão do que
é certo e errado, do que é o bem e o mal.

• A consciência moral é determinada por um consenso coletivo e social, ou seja, o


conjunto da sociedade é que formula e compõe as normas de conduta que o regem.

• Os problemas éticos permeiam todas as nossas ações em sociedade.

17
• Existem diferenças nítidas entre ética e moral, sendo que a ética regula a moral,
a ética é generalista e a moral reflete o comportamento socialmente construído e
legitimado pelo seu povo.

• A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento que cada pessoa
ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que é certo ou errado, o que é bom
ou mal.

• O valor da ética está naquilo que ela explica, o fato real daquilo que foi ou é, e não no
fato de recomendar uma ação ou uma atitude moral.

• Um dos princípios fundamentais da Carta Magna brasileira é a cidadania.

• A cidadania designa normas de conduta para o convívio social, determinando nossas


obrigações e direitos perante os outros integrantes da nossa sociedade.

• A cidadania expressa os direitos e deveres de todas as pessoas que vivem e convivem


em sociedade, seja na esfera social, política ou civil, no que tange ao respeito a si, ao
próximo e ao patrimônio público e privado.

• Cada cidadão tem o dever e o direito de participar de todos os espaços democráticos


do seu município, Estado ou Federação. A participação é compreendida como um
mecanismo do exercício da cidadania.

18
AUTOATIVIDADE

1 (ENADE-2010, Formação Geral, Questão 9) As seguintes acepções


dos termos democracia e ética foram extraídas do Dicionário Houaiss
da Língua Portuguesa.

democracia. POL. 1 governo do povo; governo em que o povo exerce


a soberania 2 sistema político cujas ações atendem aos interesses
populares 3 governo no qual o povo toma as decisões importantes
a respeito das políticas públicas, não de forma ocasional ou
circunstancial, mas segundo princípios permanentes de legalidade 4
sistema político comprometido com a igualdade ou com a distribuição
equitativa de poder entre todos os cidadãos 5 governo que acata a
vontade da maioria da população, embora respeitando os direitos e a
livre expressão das minorias.
ética. 1 parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios
que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento
humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas,
valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade
social. 2 p.ext. conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa
e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade.
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Considerando as acepções acima, elabore um texto dissertativo, com até 15 linhas, acerca
do seguinte tema: Comportamento ético nas sociedades democráticas.

Em seu texto, aborde os seguintes aspectos:

a) conceito de sociedade democrática;


b) evidências de um comportamento não ético de um indivíduo;
c) exemplo de um comportamento ético de um futuro profissional comprometido com
a cidadania.

2 (ENADE-2010, Formação Geral, Questão 2)

19
A charge acima representa um grupo de cidadãos pensando e agindo de modo
diferenciado, frente a uma decisão cujo caminho exige um percurso ético. Considerando
a imagem e as ideias que ela transmite, avalie as alternativas que seguem.

I- A ética não se impõe imperativamente nem universalmente a cada cidadão; cada um


terá que escolher por si mesmo os seus valores e ideias, isto é, praticar a autoética.
II- A ética política supõe sujeito responsável por suas ações e pelo seu modo de agir na
sociedade.
III- A ética pode se reduzir ao político, do mesmo modo que o político pode se reduzir à
ética, em um processo a serviço do sujeito responsável.
IV- A ética prescinde de condições históricas e sociais, pois é no homem que se situa a
decisão ética, quando ele escolhe os seus valores e as suas afinidades.
V- A ética se dá de fora para dentro, como compreensão do mundo, na perspectiva do
fortalecimento dos valores pessoais.

Estão corretas:
a) ( ) I e II. 
b) ( ) I e V. 
c) ( ) II e IV. 
d) ( ) III e IV. 
e) ( ) III e V.

20
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
SOCIEDADE E A DIVERSIDADE

1 INTRODUÇÃO
Vamos iniciar o nosso tópico apresentando algumas definições e conceitos
a respeito dos problemas sociais ocasionados pela diversidade que gera diferenças
entre coisas e seres, que por consequência geram os mais diversos preconceitos,
desigualdades e conflitos sociais.

Vamos reconhecer a necessidade e a essencialidade da inclusão como uma


forma de democratização das relações sociais, principalmente na emancipação e na
sutileza do trato com o outro, seja em relação aos “iguais” ou entre iguais e diferentes, o
que significa apenas uma concepção criada para diferenciar pessoas ou grupos sociais
que, de alguma forma, ainda não foram incluídos no contexto social.

2 CONCEITOS DE DIVERSIDADE CULTURAL E


DESIGUALDADE SOCIAL
A diversidade cultural e a desigualdade social, apesar de terem conceitos
distintos, desempenham uma ampla relação entre seus termos, isto é, quanto maior for
a diversidade cultural, maior será a desigualdade social.

Neste sentido, Gomes (2012, p. 678) afirma que “a diversidade, entendida como
construção histórica, social, cultural e política das diferenças, realiza-se em meio às
relações de poder e ao crescimento das desigualdades e da crise econômica que se
acentuam no contexto nacional e internacional”.

A diversidade cultural brasileira se deu pelo processo de miscigenação entre


brancos, índios e negros e foi marcada por uma série de crenças, hábitos, costumes e
conceitos contraditórios, alimentando assim uma discussão permanente a respeito dos
direitos e deveres dos seres humanos. Principalmente no combate aos preconceitos
remanescentes e oriundos dessa relação, que perdurou por séculos, trazendo sérias
consequências a uma imensa população de oprimidos, incluindo-se aí os negros, os
índios, os pobres, os portadores de algum tipo de deficiência, tipos de preferências,
relações e diferenças sexuais, doenças crônicas, dentre outras formas de relações
consideradas por uma boa parte da sociedade como algo fora da normalidade e, por
esse motivo, não aceitável.

21
3 DIVERSIDADE CULTURAL E DESIGUALDADE SOCIAL
A diversidade no contexto cultural significa uma grande quantidade de coisas,
ações, pensamentos, ideias e pessoas que se diferenciam entre si dentro de grupos
sociais ou dentro de uma mesma sociedade, e os mesmos são passíveis de discussão,
apelos, protestos, discórdia e geralmente acabam em conflitos, chegando até às
desigualdades sociais.

Por isso, a presença da diversidade no acontecer humano nem sempre


garante um trato positivo dessa diversidade. Os diferentes contextos
históricos, sociais e culturais, permeados por relações de poder e
dominação, são acompanhados de uma maneira tensa e, por vezes,
ambígua de lidar com o diverso. Nessa tensão, a diversidade pode ser
tratada de maneira desigual e naturalizada (GOMES, 2007, p. 19).

No entanto, existem pontos de vista convergentes e pontos de vista divergentes,


ambos discriminatórios, um no sentido positivo e outro no sentido negativo, isto é,
no primeiro caso, trata-se daquilo que já foi estipulado pela sociedade como regras
relacionadas com bom senso; já no segundo caso, são ações que não condizem com
a ordem preestabelecida através das leis, normas e regras que regulam e inibem o que
podemos definir como procedimentos absurdos. Portanto, a desigualdade social tem os
seus princípios pautados nas tendências e nas diferenças de cada indivíduo. Vejamos:

A pobreza: é uma condição que faz parte de um determinado grupo de pessoas


que vivem à margem da sociedade, que são carentes dos recursos existentes, como
moradia, alimentação, situação financeira etc. O que, na visão de alguns autores, é a
condição que mais degrada o ser humano e a que mais se aproxima e se identifica como
um fator ou um elemento causal do desequilíbrio econômico e da desigualdade social.

Raça: trata-se da discriminação social, o que é muito presente nos dias de


hoje por alguns grupos inescrupulosos que agridem com palavras ou pela violência
física pessoas que não são da mesma etnia, não têm a mesma cor da pele, ou são de
diferentes religiões ou, até mesmo, por causa de seu comportamento sexual.

A discriminação racial diz respeito à raça/cor/fenótipo, que é um fator inerente


à pessoa. Tal discriminação é abominável, assim como a discriminação a deficientes
físicos ou idosos, pois tratam-se de aspectos involuntários e que, ademais, revelam a
riqueza multifacetada da ordem criada, da diversidade natural.

Outro tipo de discriminação é a avaliação dos atos e comportamentos, seja na


escolha de uma religião e suas práticas ou nas ações que envolvem a sexualidade, entre
outros aspectos do comportamento humano, pois nesses casos não se trata de aspectos
inerentes ou involuntários, mas de opções sobre as quais podemos [e devemos] fazer
juízos morais. Do contrário, por que estaríamos discutindo isso? Será que o ser humano,
com toda capacidade de raciocínio e reflexão sobre si mesmo, reconhece a riqueza da
pessoa? Haveria alguma etnia “melhor” que outra?

22
Podemos citar como exemplo o que aconteceu com os judeus, conhecido
como o holocausto, ou o caso da África do Sul, que teve repercussão mundial, também
conhecido como segregação racial (Apartheid), que significa separação entre negros e
os brancos das classes dominantes.

DICAS
Sugerimos que você assista ao filme Mandela, que fala sobre a vida do ex-
presidente da África do Sul e líder da luta contra o Apartheid. O filme tem
como diretor Justin Chadwick.

Como podemos perceber, o preconceito, a discriminação e o descaso com


algumas pessoas têm ocasionado uma série de sofrimento e dor, principalmente para
aquelas que são rejeitadas por uma grande parte da sociedade, em que as mesmas são
julgadas e condenadas ao mesmo tempo, após serem classificadas como diferentes,
porém, diferentes no sentido tendencioso e pejorativo, e muitas vezes essas pessoas
são taxadas e rotuladas como pervertidas, no caso dos homossexuais, e frágeis, no caso
das mulheres. Vejamos:

Mulher: infelizmente, as estatísticas comprovam que apesar das várias leis


existentes, no caso específico da Lei Maria da Penha, instituída para a proteção da
integridade da mulher brasileira contra casos de violência doméstica, ainda existem
casos absurdos de desrespeito à dignidade humana, não discriminando raça, religião
ou posição social.

Homossexualidade: é o comportamento sexual entre pessoas do mesmo sexo,


e para alguns indivíduos esse tipo de comportamento fere as normas de conduta
universal. No entanto, já existem projetos no Congresso Nacional que criminalizam
certas atitudes discriminatórias contra essa parcela da sociedade, o que significa um
avanço na busca de um espaço alternativo, o que é perfeitamente compreensivo em
uma sociedade cultural democrática.

De acordo com Silva (2007, p. 133), “[...] os diferentes grupos sociais, situados em
posições diferenciadas de poder, lutam pela imposição de seus significados à sociedade
mais ampla”. Assim, é fundamental que percebamos as diferenças e desigualdades não
de forma natural, mas como uma construção histórica possível de ser desestabilizada
em sua forma rígida, para ser transformada em algo que possa ser identificado e

23
reconhecido como base para a construção de relações interpessoais mais democráticas
dentro da sociedade, isto é, devemos pensar e repensar o seu conceito histórico e a sua
trajetória futura, pois, de acordo com Gomes (2007, p. 22):

A diversidade cultural varia de contexto para contexto. Nem sempre aquilo


que julgamos como diferença social, histórica e culturalmente construída
recebe a mesma interpretação nas diferentes sociedades. Além disso, o
modo de ser e de interpretar o mundo também é variado e diverso.
Por isso, a diversidade precisa ser entendida em uma perspectiva
relacional. Ou seja, as características, os atributos ou as formas
‘inventadas’ pela cultura para distinguir tanto o sujeito quanto o
grupo a que ele pertence dependem do lugar por eles ocupado na
sociedade e da relação que mantêm entre si e com os outros.

Portanto, o caráter multicultural de nossas sociedades revela-se hoje temática


quase obrigatória nas discussões sobre sociedade e sobre educação. Porém, refletir
sobre a diversidade exige um posicionamento crítico diante de uma realidade cultural
e racialmente miscigenada, assunto que, apesar de já ter sido discutido anteriormente,
achamos prudente e viável inserir neste parágrafo outra opinião, que confirma as
anteriores a respeito do processo de miscigenação.

“Não podemos esquecer que a sociedade é construída em contextos históricos,


socioeconômicos e políticos tensos, marcados por processos de colonização e dominação.
Estamos, portanto, no terreno das desigualdades, das identidades e das diferenças” (GOMES,
2007, p. 22). E ainda segundo Gomes (2003, p. 73):

O reconhecimento dos diversos recortes dentro da ampla temática


da diversidade cultural (negros, índios, mulheres, portadores de
necessidades especiais, homossexuais, entre outros) coloca-nos
frente a frente com a luta desses e outros grupos em prol do respeito
à diferença. Coloca-nos também diante do desafio de implementar
políticas públicas em que a história e a diferença de cada grupo
social e cultural sejam respeitadas dentro das suas especificidades,
sem perder o rumo do diálogo, da troca de experiências e da garantia
dos direitos sociais. A luta pelo direito e pelo reconhecimento das
diferenças não pode se dar de forma separada e isolada e nem resultar
em práticas culturais, políticas e pedagógicas solidárias e excludentes.

No entanto, a diversidade e a diferença dizem respeito não somente aos sinais


que podem ser vistos a olho nu, mas também àqueles que são construídos socialmente
ao longo de um processo histórico, tendo os seus pontos divergentes e convergentes,
que são construídos através das relações sociais e, principalmente, nas relações de
poder e de submissão, e para algumas pessoas, nem sempre esse posicionamento é
entendido dessa forma.

Como nos diz Carlos Rodrigues Brandão (1986 apud GOMES, 2007, p. 25), “por
diversas vezes, os grupos humanos tornam o outro diferente para fazê-lo inimigo”.
Aprofundando essa reflexão, tomamos como exemplo a Constituição Federal de 1988, que
trata no Artigo 5º dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos:

24
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano
ou degradante; [...] (BRASIL, 1988, s.p.).

Neste sentido, surgem algumas perguntas relacionadas à diversidade humana


e seus direitos: se “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”,
tendo reconhecidas suas individualidades de homem e mulher como cidadãos, por
que tanto se discute sobre as “questões de gênero”? Será que essa ideologia propõe
a valorização da pessoa humana? Ou está disposta a trazer divisão, confusão de ideias
ou até mesmo a negação da ordem natural? Ao privilegiar determinados grupos em
detrimento de outros, não estaria contrariando a própria Constituição?

Acadêmico, são muitos os questionamentos, e conforme destacado na


apresentação deste livro, “aprender a questionar é tão importante quanto buscar
o saber”. Por isso, nosso propósito é estimular o seu raciocínio crítico sobre a realidade
em que vivemos, em um tempo de profundas e rápidas mudanças culturais, um tempo
de aumento do individualismo, da comunicação quase que exclusivamente on-line,
em que pouco se ouve, vê, toca ou sente. O diálogo é o caminho que nos une, revela
nossa capacidade de aprender com o próximo e permite que as diferenças favoreçam a
complementariedade promotora da paz.

Pensar na diversidade cultural é pensar em sociedade, que envolve pensamento,


ideia, ação e mudanças, isto é, significa pensar não apenas no reconhecimento do outro,
mas pensar na relação entre o eu e o outro, pois, quando consideramos o outro estamos
também considerando a nossa história, o nosso grupo e o nosso povo, mas não apenas
como um simples padrão de comparação, e sim em sua totalidade.

FIGURA 5 – DIVERSIDADE CULTURAL

FONTE: Disponível em: <http://educacaobilingue.com/2010/01/17/indigena/>. Acesso em: 12 fev. 2014.

25
Nessa perspectiva, percebemos que “somos todos iguais como seres humanos.
Por isso devemos combater qualquer forma de discriminação e de arrogância, agindo
solidariamente uns com os outros” (AQUINO et al., 2002, p. 16). O ser humano veio ao
mundo não somente para compor ou contribuir para o povoamento da Terra, mas para
ser útil, participativo, democrático, ético, moral e solidário para com os seus semelhantes.

Essas são as diversas opções existentes, que além de motivadoras, também


servem como estímulo na adaptação do ser humano, bem como no seu processo de
desenvolvimento pessoal frente às diversidades existentes no universo, que poderíamos
denominá-las como um conjunto de atos e fatos diferentes entre si que formam a
sociedade como um todo. Para Saji (2005, p. 13), “o tema diversidade é bastante amplo.
Sua abordagem vai desde definições restritas às questões de raça, etnia e gênero, até
as mais abrangentes, que consideram como diversidade qualquer diferença individual
entre as pessoas”.

AUTOATIVIDADE
Chegou a sua vez!
Escreva o seu conceito para Diversidade.

Assim, a diversidade faz parte da natureza das coisas existenciais, sendo elas a
diversidade relacionada à situação socioeconômica, ou à diversidade cultural, em que as
mesmas foram se transformando em essência no decorrer dos tempos, principalmente
em se tratando das diferenças relacionadas às diferentes raças e suas manifestações
culturais, incluindo-se aí a sua descendência, que, por consequência, deixam de fazer
parte da cultura original e passam a fazer parte de outra cultura produzida para atender
a uma demanda econômica. Como foi o caso da cultura da cana-de-açúcar, explorada
pelos grandes latifundiários, gerando um longo período de uma relação conflitante e
tumultuada entre o poder daqueles grupos de exploradores e a submissão dos negros,
dos índios, das mulheres, das crianças e adolescentes.

26
Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através
de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos
nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios
supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa
que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui
se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos
e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de
escravos e de senhores de escravos, seremos sempre servos da
malignidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento
da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo
exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre
crianças convertidas em pasto de nossa fúria (RIBEIRO, 1995, p. 120).

Então, caro acadêmico, existe uma diversidade de coisas diferentes e uma


diversidade de pessoas diferentes em todos os seus aspectos. A esse tipo de diversidade
denominamos de diversidade cultural, o que significa, na prática, o relacionamento
comunitário, ou melhor, o relacionamento em diferentes comunidades, podendo esse
relacionamento contribuir significativamente no sentido cooperativo ou na geração de
conflitos, que são chamados de conflitos sociais.

Portanto, são essas diferenças que geram o princípio da desigualdade social, que
vão além das características humanas, ultrapassando o bom senso, descaracterizando o
princípio da igualdade e do amor ao próximo, modificando ou alterando outros princípios
considerados de grande importância para as questões relacionadas com o respeito, a
dignidade, a reciprocidade e as boas práticas das relações humanas no contexto social.

AUTOATIVIDADE
Qual o seu conceito para desigualdade social?

Acadêmicos! É preciso que haja um basta nesta triste trajetória de descaso


e discriminação entre os seres humanos, principalmente frear os impulsos daqueles
mais exaltados, que ferem com palavras e atos e cada vez mais maculam a imagem
e obscurecem a identidade do indivíduo como pessoa e como cidadão com direitos e
deveres. Dessa forma, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social. Isso é
cidadania, isso é respeito e é também uma forma de inclusão social.

27
Assim, a desigualdade significa não só a diferença existente entre pessoas ou
coisas que compõem o universo, mas significa também a diferença no tratamento e no
respeito para com o outro. Nesse caso, estamos nos referindo à desigualdade humana,
que na maioria das vezes está caracterizada pelo preconceito e pelos diversos tipos
de violências e pelas suas relações conflitantes dentro do contexto social. Exemplo: a
desigualdade socioeconômica, as desigualdades raciais, a falta de segurança, a falta
de acesso à moradia, ao saneamento básico, dentre outras formas de exclusão social.
Muitas vezes, essas diferenças são ocasionadas pela falta de oportunidade, excluindo
até o mais digno do ser humano, o que não deixa de ser uma forma preconceituosa de
relação e convivência social. Aquino et al. (2002, p. 34-35) afirmam que:

Toda vez que julgamos uma pessoa, um grupo ou mesmo um


povo sem conhecê-los, estamos usando de preconceito. [...]. O
termo preconceito significa o conjunto de opiniões formadas
antecipadamente sobre o outro, sem levar em conta suas qualidades
ou suas capacidades. Os preconceituosos têm atitudes intolerantes
com as pessoas que são diferentes deles. Julgam-se superiores e,
por isso, desvalorizam e desrespeitam outras pessoas. Preconceito e
intolerância andam sempre juntos.
São atitudes que acontecem no dia a dia, por meio de atos, gestos
ou palavras que tentam diminuir, rebaixar os modos de ser, agir e
sentir dos outros. E, algumas vezes, elas ocorrem sem que as
percebamos com clareza, até senti-las na própria pele – por exemplo,
quando não somos aceitos por alguém ou por um grupo. Neste caso,
somos vítimas de um preconceito aberto, direto e explícito. E isso já
aconteceu com todos nós, de um modo ou de outro. Mas há também
o preconceito indireto, implícito, como as piadas de mau gosto, que
ofendem as pessoas só por causa de sua raça, nacionalidade, sexo e
outras características.

Ainda com relação aos preconceitos, segundo a denominação de inclusão e


exclusão social, estas são pautadas e divididas em grupos ou classes sociais, que, por
sua vez, são classificadas hierarquicamente de acordo com o seu poder aquisitivo, sua
relação social, diferenças culturais, a cor da pele, sexualidade, etnia, deficiências físicas,
idade, crenças etc.

Portanto, a diversidade humana (pessoas diferentes) deveria ser um instrumento


de unificação dos seres, diferentemente das desigualdades sociais, que significam que
nem todos têm as mesmas oportunidades, o que em grande parte se deve às diversas
formas de preconceito. Alguns deles, no modo de ver do seu praticante, lhe soam como
se isso fosse uma espécie de elogio ao próximo. Exemplo: E aí, negão!? Essa expressão,
que parece simples, é uma forma disfarçada de discriminação. “Algumas expressões
corriqueiras que falamos sem pensar são carregadas de preconceito” (AQUINO et al.,
2002, p. 44).

Aquino et al. (2002, p. 44) trazem mais exemplos: “é o caso de determinadas


expressões preconceituosas, como: os negros que têm ‘almas brancas’, os homossexuais
que parecem ‘pessoas normais’, os idosos que parecem ‘jovens’, os obesos que são
‘engraçados’, as pessoas pobres que são ‘limpas’. E assim por diante”.

28
Como sabemos, o descaso e as práticas discriminatórias em relação a essas
pessoas, que fazem parte, assim como todos nós, de um mesmo espaço planetário,
não deveriam existir, mesmo porque a diferença existente entre os seres de todas as
espécies faz parte de um processo natural, ou melhor, da natureza das coisas existentes.
E os seres humanos vão além das diferenças, pois nós somos dotados de raciocínio e
discernimento para avaliar e distinguir o certo do errado, comportamento esse que deveria
ser institucionalizado pelas tradições, pelos valores éticos e morais, sem a necessidade de
uma imposição legal, como é o caso da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

No entanto, parece que pouco têm efeito as leis que reprimem essas práticas
discriminatórias, preconceituosas e racistas, visto que, infelizmente, parece existir
uma autorrejeição por parte de algumas pessoas ou grupos que ainda mantêm certos
padrões de comportamento que não mais condizem com a realidade dos padrões
atuais e universais, dos direitos constituídos e com o processo democrático, com
as leis de proteção às crianças, aos idosos, aos negros, às mulheres, aos indígenas,
aos deficientes físicos, entre outros. São seres humanos que sofrem discriminação e
negação de direitos que estão incluídos na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
conforme citado no parágrafo acima.

Nesta perspectiva, não se desconsidera que as diferenças existam


e estejam colocadas socialmente, porém, elas não significam,
necessariamente, exclusão social. Por exemplo, a condição de raça,
gênero, religião, entre outras, não seria elemento de exclusão, mas
de diferenciação entre as pessoas, não as tornando ‘desiguais’. As
pessoas são diferentes umas das outras e isto nada tem a ver com
privilégios. Assim, racismos e preconceitos se fundamentam no
entendimento da diferença/diversidade como desigualdade. Nestes
termos, as pessoas e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando
a diferença os inferioriza e o direito a ser diferentes quando a igualdade
os descaracteriza (SANTOS, 2003 apud MARQUES, 2009, p. 68).

Para que possamos entender e discursar sobre o conceito de diversidade não
é tão fácil como parece, pois é preciso nos aprofundarmos sobre o seu real significado
e a sua real importância no equilíbrio natural e social, na relação homem-natureza, e
principalmente na relação entre seres humanos, tanto no que diz respeito à tolerância
e ao respeito mútuo entre seres da mesma espécie, bem como a compreensão e o
sentimento solidário, que são a base do princípio da igualdade.

Sem diversidade não há estímulos para pensar diferente, não há estímulos para
pensar no princípio da igualdade. Portanto, pensar diferente é o caminho para viver
e compreender o sentimento solidário que devemos ter. Apesar de que, no dia a dia,
relacionar-se com as inúmeras diferenças humanas e sociais do mundo atual nem
sempre traz harmonia.

Assim, seguindo o raciocínio de Aquino et al. (2002), o problema é o seguinte:


se todas as pessoas são únicas e especiais a seu modo, quem haveria de ser “mais” ou
“melhor” do que o outro? Em outras palavras, somos únicos como indivíduos, e por isso

29
somos diferentes, somos iguais como seres humanos. A isso se dá o nome de equidade.
Convém lembrar que ser igual não é ser idêntico. Ao contrário, somos semelhantes,
embora diversos. Afinal de contas, em que nos diferenciamos uns dos outros? A resposta
é óbvia: em praticamente tudo. A começar pela nossa história de vida, passando pelas
características biológicas (raça, cor, sexo), até as de cunho social (escolaridade, condição
econômica, opções políticas etc.). Mesmo sendo únicos, continuamos a pertencer à
mesma espécie, à raça humana. Por essa razão, não há seres humanos “superiores”
ou “inferiores”. Cada um é especial a seu modo. Só teremos um convívio democrático e
pacífico se tratarmos o outro da mesma forma que gostaríamos de ser tratados.

Todos esses conceitos fazem parte de uma cultura geral, ou seja, da construção
e da desconstrução do processo de desenvolvimento humano, e da sua própria
sobrevivência. A cultura é, pois, “o conteúdo da construção histórica da humanidade
dos seres humanos, humanizando-os ou desumanizando-os” (SOUZA, 2002, p. 53). O
principal objetivo do nosso estudo é justamente conscientizar os nossos acadêmicos
rumo a uma reflexão mais humanista a respeito das nossas ações e na superação
definitiva da desigualdade social, o que diz respeito ao cidadão e à relação com o meio
em que ele vive, em que o respeito pelas diferenças forma o espírito da academia e a
humanização social.

Com base no que foi dito e analisado até aqui, nos parece que o ponto de
partida para a solução, pelo menos de parte dos problemas raciais, das diferenças, da
exclusão e da inclusão social, pode estar na educação de base, ou seja, se o aluno
tiver uma educação inicial que o motive a ultrapassar essas barreiras. A partir daí ele
poderia formar uma base sólida para ingressar na faculdade melhor preparado, o que
sem dúvida é parte integrante para o seu desenvolvimento profissional e pessoal.

DICAS
Você quer descansar um pouco, sem deixar de refletir sobre o conteúdo?
Assista ao filme “O Visitante”, ele contribuirá com seus estudos.
Sinopse: Walter, solitário professor universitário, tem 62 anos e já não
encontra prazer na vida. Ao viajar a Nova York para uma conferência,
encontra o casal Tarek e Zainab, imigrantes sem documentos,
morando em seu apartamento. Eles não têm para onde ir, e Walter
acaba deixando que fiquem. Para retribuir, o talentoso Tarek ensina
Walter a tocar o tambor africano e os dois ficam
amigos. Quando a polícia prende o jovem e decide
deportá-lo, Walter faz de tudo para ajudá-lo, com
uma garra que há muito não sentia. Surge então a mãe de Tarek em busca
do filho e um improvável romance tem início.

FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1aSoTQbewiI>.


Acesso em: 9 set. 2017.

30
4 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE
Acadêmicos! Já compreendemos o caráter plural de nossas sociedades e as
complexas relações estabelecidas socialmente. Diante disso, percebemos que vivemos
em uma sociedade dividida em classes, em que a luta pela manutenção ou superação
das divisões sociais é constante.

Nesse sentido, lutamos em favor da inclusão escolar, em favor de currículos mais


inclusivos, abertos às diferenças sociais, psíquicas, físicas, culturais, religiosas, raciais
e ideológicas, no intuito de respeitar o caráter plural da nossa sociedade, contribuindo
para formar sujeitos autônomos, críticos e criativos, aptos a compreender como as
coisas são e por que são assim.

O principal objetivo é a possibilidade da mudança, da construção de uma


ordem social mais justa e menos excludente. Sendo isso um legado do presente para
as gerações futuras, o que pode ser uma prática aprendida e reproduzida a partir da
família e da escola, que são os agentes formadores de opinião, e que juntamente com a
sociedade esses agentes irão definir o sucesso ou o fracasso no contexto social.

5 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE


HUMANA
Acadêmico! A inclusão escolar tem sido mal interpretada tanto por parte da
escola, seja ela comum ou especial, quanto dos profissionais da educação. “O certo,
porém, é que os alunos jamais deverão ser desvalorizados e inferiorizados pelas suas
diferenças, seja nas escolas comuns, seja nas especiais” (MANTOAN, 2006, p. 190).

Ainda com base nesse raciocínio, “[...] a educação escolar não pode ser pensada
nem realizada senão a partir da ideia de uma formação integral do aluno – segundo
suas capacidades e seus talentos – e de um ensino participativo, solidário, acolhedor”
(MANTOAN, 2006, p. 9). Reverter o que historicamente foi construído é difícil, implica
em construir alternativas que possibilitem a emancipação social dos diferentes sujeitos,
fazendo uma clara opção política por um compromisso contra as discriminações, as
desigualdades e o respeito à diversidade cultural.

O que, de acordo com Mantoan (2006, p. 9, grifo do original), trata-se de um


trabalho de “‘ressignificação’ do papel da escola com professores, pais e comunidades
interessadas, bem como de adoção de formas mais solidárias e plurais de convivência.
Para terem direito à escola, não são os alunos que devem mudar, mas a própria escola!”.
E a autora continua: “O direito à educação é natural e indisponível. Por isso, não faço
acordos quando me proponho a lutar por uma escola para todos, sem discriminações,
sem ensino à parte para os mais e para os menos privilegiados”.

31
Dessa forma, a escola pode fazer o anúncio da construção de novos tempos na
educação, contribuindo para formar alunos não conformistas, e sim, questionadores,
reagentes e competentes, aptos a rejeitar valores celebrados pela nova ordem mundial,
como o egoísmo e o individualismo. Mantoan (2006, p. 14) nos coloca que, seja ou
não “uma mudança radical, toda crise de paradigma é cercada de muita incerteza e
insegurança, mas também de muita liberdade e ousadia para buscar outras alternativas,
novas formas de interpretação e de conhecimento [...] para realizar a mudança”.

Mudança essa que é direito expresso na Constituição Federal de 1988. A


Constituição respalda em seu artigo 206, inciso I, que o ensino será ministrado em
“igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”. Portanto, temos que
entender que:

Ao garantir a todos o direito à educação e ao acesso à escola, a


Constituição Federal não usa adjetivos. Por essa razão, toda escola deve
atender aos princípios constitucionais sem excluir nenhuma pessoa
em decorrência de sua origem, raça, sexo, cor, idade ou deficiência.
Apenas esses dispositivos já bastariam para que não se negasse a
qualquer pessoa, com ou sem deficiência, o acesso à mesma sala de
aula que qualquer outro aluno (MANTOAN, 2006, p. 26-27).

Percebe-se então que os discursos precisam ser revistos, compreendendo


a diversidade humana como algo positivo, liberto de olhares preconceituosos,
possibilitando a valorização pela cultura do outro. Portanto, a inclusão:

[...] exige uma mudança de mentalidade e de valores nos modos


de vida e é algo mais profundo do que simples recomendações
técnicas, como se fossem receitas. Requer complexas reflexões de
toda a comunidade escolar e humana para admitir que o princípio
fundamental da educação inclusiva é a valorização da diversidade,
presente numa comunidade humana (STRIEDER; ZIMMERMANN,
2011, p. 146).

E na sequência os autores continuam afirmando que a escola:

Foi e continua sendo um espaço de padronizações ao promover a


construção de conhecimentos com pouco significado, formalizado,
pronto, sem relação e sentido com a vida dos seres humanos que lá
estão, sejam alunos ou docentes. Ela é construtora de pensamentos,
ações e movimentos que denotam igualdade e repetição.
É importante a escola oportunizar vivências capazes de desconstruir
a realidade do igual, da repetição, para valorizar a diferença,
acreditando na diversidade da vida, das cores, sabores e movimentos
(STRIEDER; ZIMMERMANN, 2011, p. 148).

Assim, falar sobre inclusão escolar e/ou social é falar sobre a conscientização
humana na democratização das relações entre os povos e os demais indivíduos que
fazem parte do contexto social como um todo, independentemente de credo, raça,
poder aquisitivo ou posição social, visto que fazemos parte de uma mesma sociedade e

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as diferenças fazem parte integrante do equilíbrio social e da própria espécie humana.
No entanto, fica aqui a indagação: quais as oportunidades que estão sendo oferecidas
pelos agentes sociais a essa massa de desamparados e excluídos do sistema social?

De acordo com texto publicado no livro “Ética e cidadania: construindo valores


na escola e na sociedade”, desenvolvido pelo Ministério da Educação, a escola pode e
deve ser um ponto de partida na formação de cidadão e cidadã comprometidos com a
construção dos valores éticos e morais, tanto no contexto escolar, como no âmbito das
relações sociais.

Aprender a ser cidadão e cidadã é, entre outras coisas, aprender


a agir com respeito, solidariedade, responsabilidade, justiça, não
violência; aprender a usar o diálogo nas mais diferentes situações
e comprometer-se com o que acontece na vida da comunidade e
do país. Esses valores e essas atitudes precisam ser aprendidos e
desenvolvidos pelos estudantes e, portanto, podem e devem ser
ensinados na escola.
Para que o(a)s estudantes possam assumir os princípios éticos, são
necessários pelo menos dois fatores:
- que os princípios se expressem em situações reais, nas quais o(a)
s estudantes possam ter experiências e conviver com a sua prática;
- que haja um desenvolvimento da sua capacidade de autonomia
moral, isto é, da capacidade de analisar e eleger valores para si,
consciente e livremente.
Outro aspecto importante desse processo é o papel ativo dos
sujeitos da aprendizagem, estudantes e docentes, que interpretam
e conferem sentido aos conteúdos com que convivem na escola, a
partir de seus valores previamente construídos e de seus sentimentos
e emoções (LODI; ARAÚJO, 2006, p. 69).

Com relação aos agentes citados nos parágrafos anteriores, também


concordamos que a partir da inclusão escolar, principalmente no tocante à educação
básica, ela deveria ser um espaço voltado para a harmonização da convivência social
e não simplesmente uma mera reprodução de saberes. Em que, na maioria das vezes,
esses saberes são direcionados apenas para produzir agentes econômicos, dando
pouca ou quase nenhuma ênfase às questões relacionadas à ética e às características
comportamentais do ser humano como uma forma de equilíbrio no convívio das
relações sociais, o que já é um processo discriminatório e de exclusão, ou, no mínimo,
uma forma de omissão do próprio sistema de ensino, principalmente com relação aos
índios e negros.

A luta travada em torno da educação do campo, indígena, do negro,


das comunidades remanescentes de quilombos, das pessoas com
deficiência, tem desencadeado mudanças na legislação e na política
educacional, revisão de propostas curriculares e dos processos
de formação de professores. Também tem indagado a relação
entre conhecimento escolar e o conhecimento produzido pelos
movimentos sociais (GOMES, 2007, p. 32).

E na continuação o autor chega às seguintes conclusões:

33
A diversidade é muito mais do que o conjunto das diferenças.
Ao entrarmos nesse campo, estamos lidando com a construção
histórica, social e cultural das diferenças, a qual está ligada às
relações de poder, aos processos de colonização e dominação.
Portanto, ao falarmos sobre a diversidade (biológica e cultural) não
podemos desconsiderar a construção das identidades, o contexto
das desigualdades e das lutas sociais.
A diversidade indaga o currículo, a escola, as suas lógicas, a sua
organização espacial e temporal. No entanto, é importante destacar
que as indagações aqui apresentadas e discutidas não são produtos
de uma discussão interna à escola. São frutos da inter-relação entre
escola, sociedade e cultura e, mais precisamente, da relação entre
escola e movimentos sociais. Assumir a diversidade é posicionar-se
contra as diversas formas de dominação, exclusão e discriminação. É
entender a educação como um direito social e o respeito à diversidade
no interior de um campo político (GOMES, 2007, p. 41).

Assim, é através dos movimentos sociais que podemos melhorar o sistema


educacional e corrigir as distorções sociais, que são frutos de um processo longo que
vem se arrastando através dos tempos, em que pouco ou quase nada tem sido feito como
forma de reparar ou pelo menos minimizar os seus efeitos negativos e na reparação dos
erros cometidos. Portanto, é de extrema necessidade a inserção e a interação de todos
os seres humanos, independentemente de suas características ou condições sociais.

Para Stainback (1999), a total inclusão de todos os membros da


humanidade, de quaisquer raças, religiões, nacionalidades, classes
socioeconômicas, culturas ou capacidades, em ambientes de
aprendizagem e comunidade, pode facilitar o desenvolvimento
do respeito mútuo, do apoio mútuo e do aproveitamento dessas
diferenças para melhorar nossa sociedade. É durante seus anos de
formação que as crianças adquirem o entendimento das diferenças,
o respeito e o apoio mútuos em ambientes educacionais que
promovem e celebram a diversidade humana.
A construção de sociedades e escolas inclusivas, abertas às diferenças
e à igualdade de oportunidades para todas as pessoas, é um objetivo
prioritário da educação nos dias atuais. Nesse sentido, o trabalho
com as diversas formas de deficiências e uma ampla discussão sobre
as exclusões geradas pelas diferenças social, econômica, psíquica,
física, cultural, racial, de gênero e ideológica, devem ser foco de
ação das escolas. Buscar estratégias que se traduzam em melhores
condições de vida para a população, na igualdade de oportunidades
para todos os seres humanos e na construção de valores éticos
socialmente desejáveis por parte dos membros das comunidades
escolares é uma maneira de enfrentar essas exclusões e um bom
caminho para um trabalho que visa à democracia e à cidadania
(ARAÚJO, 2007, p. 16-17).

Portanto, as mudanças comportamentais e as inclusões sociais relacionadas


com todos os povos não podem e não devem ser somente responsabilidade da família
e das instituições de classes, mas também de responsabilidade das escolas inclusivas e
dos seus agentes sociais. Neste sentido, reafirmamos que a inclusão escolar:

34
Só será viável se o professor e toda a comunidade escolar mudarem
seu jeito de lidar com a diferença, via aceitação de formas relacionais
de afetividade, de escuta e de compreensão, suspendendo juízos
de valores como pena, repulsa e descrença. Uma mudança como
desejo interior, porque algo interior nos diz que vale a pena mudar
(STRIEDER; ZIMMERMANN, 2011, p. 148).

E quando falamos em mudanças, estamos nos referindo a uma mudança


estrutural, em que todas as partes se relacionam, interagem e se complementam para
a harmonização do todo, que por sua vez é parte de uma estrutura maior, que podemos
chamar de estrutura social, que é composta, dentre outras, pela escola, família, igreja,
governo com suas políticas públicas, instituições financeiras, jurídicas e organizações
sociais propriamente ditas, as ONGs. Como podemos perceber, tudo isso constitui um
grande desafio rumo a uma mudança significativa. E, por estas e outras razões, nos
parece que a sociedade está caminhando no rumo certo.

AUTOATIVIDADE
Então, acadêmico, você acredita que ainda existe perspectiva e
esperança de dias melhores? Como podem ser superadas as barreiras
que afetam a harmonia entre os humanos?

Vejamos o que nos propõem os autores Assmann e Sung (2000, p. 103):

A esperança humana, da qual estamos falando, é um horizonte de


futuro tecido com desejo. Não o desejo de um único indivíduo, nem
o desejo de subir na ‘escada do sucesso’ segundo os parâmetros
da eficiência do mercado regendo todos os aspectos da nossa vida,
mas o desejo do reconhecimento mútuo e respeitoso entre pessoas
e grupos sociais, o desejo de uma vida mais digna e prazerosa para
todos\as. O desejo de um mundo onde caibam muitos e muitos
mundos.

E concluindo o seu pensamento:

É esse horizonte de esperança que nos mostra, nos revela, a


mesquinhez e a irracionalidade de uma sociedade centrada na
exclusão e insensibilidade, e a desumanidade de uma vida humana
voltada para negar a sua condição humana.

35
Horizonte de esperança não é algo que se toma dentre as ofertas
do mercado, nem pode ser produzido individualmente. Como
todo horizonte de compreensão, ele deve ser tecido no diálogo,
na construção de uma linguagem e esperanças comuns. Por isso,
um horizonte de esperança que nos abra e nos interpele para a
sensibilidade solidária só pode ser fruto de um desejo de dialogar
com os\as que estão dentro e fora da sociedade, do nosso mundo
(o mundo de cada um, o mundo de cada grupo social). Diálogo que
pressupõe o reconhecimento mútuo (ASSMANN; SUNG, 2000, p. 103).

O que Assmann e Sung (2000) nos esclarecem é que o ser humano precisa,
em primeiro lugar, conscientizar-se do seu papel na sociedade, e que isso não pode
ser uma ação única, mas sim uma ação conjunta, como um grande suporte em prol da
democratização solidária. Essa solidariedade deve trazer benefícios tanto para o indivíduo,
quando analisado separadamente, quanto na sua convivência em sociedade, ou seja, a
relação do indivíduo com ele mesmo ou no convívio social. E na sequência os autores
analisam com muita propriedade o resultado ocasionado por esse processo de interação:

Quando imergimos nesse horizonte, descobrimos algumas verdades


humanas básicas. A descoberta da minha condição humana não
se dá fora do reconhecimento da condição humana (da dignidade
humana) dos que estão ‘dentro e fora’ da sociedade. Eu não posso
me descobrir como pessoa humana se não ‘descobrir’ o\a outro\a,
o\a diferente, como participante da mesma condição humana. É o
reconhecimento do\a diferente como ‘igual’, isto é, coparticipante
da mesma condição humana, que me possibilita encontrar comigo
mesmo. Na década de 70 havia uma propaganda que mostrava um
menino e uma menina, cada um olhando dentro do short de banho
do\a outro\a. Acima do desenho, a frase: ‘Ah! Descobri a diferença!’
É a descoberta de que existe um sexo diferente na mesma espécie
humana, que me faz descobrir que eu sou um ser sexuado, masculino
ou feminino (ASSMANN; SUNG, 2000, p. 104).

E para finalizar, os autores fazem um breve resumo a respeito das relações de


convivência e de reciprocidade humana, principalmente para aqueles que possam ter
algumas dificuldades para entender a complexidade a respeito da inclusão social e
escolar da diversidade humana.

Em resumo, tentar encontrar-se consigo mesmo e realizar-se como


ser humano negando o\a outro\a que lhe revela e lhe lembra as suas
angústias e medos inerentes à sua condição humana é um caminho
trágico, no sentido grego desse conceito, isto é, não como destino,
mas como tomada de consciência de um desafio radical que parte da
nossa condição humana. A única forma de nos realizarmos como seres
humanos é reconhecendo e assumindo a nossa condição humana.
É isto que nos possibilita vivermos as alegrias da vida, mas também
os momentos tristes e angustiantes. Esse assumir a nossa condição
humana pressupõe o reconhecimento do(a) outro(a) que nos lembra
das nossas inseguranças. Este reconhecimento mútuo só é possível
se cultivarmos e vivermos a sensibilidade solidária e o horizonte de
esperança. Educar para a esperança é uma das chaves para educar
para a sensibilidade solidária (ASSMANN; SUNG, 2000, p. 104).

36
Estamos nos referindo ao processo de educação e aprendizagem, e já ficou
evidente que esse é o caminho. No entanto, é preciso levantar algumas bandeiras e
eliminar algumas barreiras, principalmente as do descaso, da arrogância e da intolerância,
que são ações que principiam e dão origem ao preconceito e à desigualdade social, que,
pelo visto, parece povoar e circular por quase todas as fases da questão educacional.
A começar pelas dificuldades de acesso à educação de base, ou pela falta de espaço
adequado, não só em termos de locomoção e acesso, mas, principalmente, para aquelas
pessoas com certo grau de dificuldades.

Com relação às dificuldades de acesso, estas parecem não ser privilégio somente
daqueles com alguma deficiência física, mas de todos aqueles motivados por razões
circunstanciais, sejam elas pela distância, pelas condições de transporte ou, ainda, pelo
descaso das autoridades, que deveriam ser os mentores, incentivando e facilitando o
acesso às escolas da rede pública e privada, oferecendo escolas e ensino de qualidade,
com professores qualificados e comprometidos com o processo educacional. Isso
evitaria, pelo menos em parte, a desagregação, a degradação e o êxodo escolar, em que
o abandono ou o afastamento de alunos das salas de aulas podem ter diversos motivos,
muitos deles justificados pelas condições precárias de algumas escolas, bem como a
falta de compromisso e atitude das autoridades, a improbidade administrativa, o desvio
de verbas, dentre outras formas de descaso das autoridades públicas.

Observe, acadêmico, que ainda existe uma série de problemas a serem


resolvidos nas instituições escolares. De acordo com Prieto (2006, p. 33), “as instituições
escolares, ao reproduzirem constantemente o modelo tradicional, não têm demonstrado
condições de responder aos desafios da inclusão social e do acolhimento às diferenças,
nem de promover aprendizagens necessárias à vida em sociedade [...]”.

Acadêmicos, percebemos que os que mais sofrem com essa situação de penúria
são os menos afortunados, os que não possuem as mínimas condições de frequentar
uma escola particular, ou os deficientes físicos, que, muitas vezes, além das condições
financeiras, também lhes faltam as condições principais ao acesso e permanência no
âmbito escolar.

6 CONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DO SABER APRENDIDO


Assim, de acordo com o que foi aprendido até agora, podemos afirmar que a
diversidade, as diferenças, a identidade, a exclusão e a inclusão, quando reparadas na
sua desarmonia social, representam partes integrantes da vida em comunidade, em
que são introduzidas as mudanças necessárias ao desenvolvimento social e, ao mesmo
tempo, produzidas outras formas de relacionamentos, outras formas de diversidade,
ou até mesmo outras maneiras e meios de abordagens no processo de interação do eu
com o outro. Isso faz parte da natureza humana, ou seja, um estado em movimento, de
renovação e de mudanças.

37
Dessa maneira, a sociedade continuará a produzir saberes e realidades relativas,
seja em relação à diversidade existente, seja em relação ao comportamento humano na
convivência social, ou na interação da pessoa com ela mesma, com os outros, bem
como as abordagens relacionadas aos contrastes da vida cotidiana, caracterizadas
pelas desigualdades sociais. Portanto, essas verdades continuarão a ser questionadas,
até que outras verdades as sobreponham.

Assim, a exclusão e a inclusão social das diferenças são formas de construção


e desconstrução de uma variedade de elementos históricos e atuais, distintos e
circunstanciais e que, muitas vezes, vão além da nossa compreensão.

Caros acadêmicos, de acordo com o que vimos, percebemos que uma das
verdades absolutas é que: sempre haverá o eu e o outro, e esse outro será sempre
diferente do eu, e essa diferença continuará sendo o fio condutor responsável pela
diversidade cultural e pelos diversos tipos de conflitos sociais, seja no sentido negativo
ou no sentido positivo.

38
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A diversidade, no contexto cultural, significa uma grande quantidade de coisas,


ações, pensamentos, ideias e pessoas que se diferenciam entre si dentro de grupos
sociais ou dentro de uma mesma sociedade, e os mesmos são passíveis de discussão,
apelos, protestos, discórdia e geralmente acabam em conflitos, chegando até às
desigualdades sociais.

• É fundamental que percebamos as diferenças e desigualdades, não de forma natural,


mas como uma construção histórica possível de ser desestabilizada em sua forma
rígida, para ser transformada em algo que possa ser identificado e reconhecido
como base para a construção de relações interpessoais mais democráticas dentro
da sociedade, isto é, devemos pensar e repensar o seu conceito histórico e a sua
trajetória futura.

• A desigualdade significa não só a diferença existente entre pessoas ou coisas que


compõem o universo, mas significa também a diferença no tratamento e no respeito
para com o outro. Nesse caso, estamos nos referindo à desigualdade humana, que
na maioria das vezes está caracterizada pelo preconceito e pelos diversos tipos de
violência e pelas suas relações conflitantes dentro do contexto social.

• A diversidade humana (pessoas diferentes) deveria ser um instrumento de unificação


dos seres, diferentemente das desigualdades sociais, que significam que nem todos
têm as mesmas oportunidades, o que em grande parte se deve às diversas formas de
preconceito, algumas delas no modo de ver do seu praticante.

• Falar sobre inclusão escolar e/ou social é falar sobre a conscientização humana
na democratização das relações entre os povos e os demais indivíduos que fazem
parte do contexto social como um todo, independentemente de credo, raça, poder
aquisitivo ou posição social, visto que fazemos parte de uma mesma sociedade e as
diferenças fazem parte integrante do equilíbrio social e da própria espécie humana.

39
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE-2014, Pedagogia) Da visão dos direitos humanos e do
conceito da cidadania fundamentado no reconhecimento das
diferenças e na participação dos sujeitos decorre uma identificação
dos mecanismos e processos de hierarquização que operam na
regulação e produção de desigualdades. Essa problematização explicita os
processos normativos de distinção dos alunos em razão de características
intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, estruturantes do modelo
tradicional de educação escolar.

FONTE: BRASIL, MEC: Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 2008, p.
6 (adaptado).

As questões sucintas no texto ratificam a necessidade de novas posturas docentes, de


modo a atender à diversidade humana presente na escola. Nesse sentido, no que diz
respeito ao seu fazer docente frente aos alunos, o professor deve:

I- Desenvolver atividades que valorizem o conhecimento historicamente elaborado


pela humanidade e aplicar avaliações criteriosas com o fim de aferir, em conceitos
ou notas, o desempenho dos alunos.
II- Instigar ou compartilhar as informações e a busca pelo conhecimento de forma
coletiva, por meio de relações respeitosas aceitas pelos diversos posicionamentos
dos alunos, promovendo o acesso às inovações tecnológicas.
III- Planejar ações pedagógicas extracurriculares, visando ao convívio com a
diversidade, selecionar e organizar os grupos, a fim de evitar conflitos.
IV- Realizar práticas avaliativas que evidenciem as habilidades e competências
dos alunos, instigando esforços individuais para que cada um possa melhorar o
desempenho escolar.
V- Utilizar recursos didáticos diversificados, que busquem atender às necessidades de
todos e de cada um dos alunos, valorizando o respeito individual e coletivo.

É CORRETO apenas o que se afirma em:


a) ( ) I e II.
b) ( ) II e V.
c) ( ) II, III e IV.
d) ( ) I, II, IV e V.
e) ( ) I, III, IV e V.

2 (IFC-2015) Sobre a Educação Inclusiva, marque V para as afirmativas


verdadeiras e F para as falsas:

40
( ) Na Educação Inclusiva, os alunos com deficiência têm a chance de se prepararem para
a vida em sociedade, os professores de melhorarem suas habilidades profissionais e
a sociedade passa a valorizar a igualdade para todos.
( ) Na Educação Inclusiva, o aluno com deficiência tem a facilidade de construir
conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capacidade cognitiva,
principalmente nas escolas que mantêm um modelo conservador de atuação e uma
gestão autoritária e centralizadora.
( ) Na Educação Inclusiva, a escola se baseia na lógica do concreto e na repetição
alienante e descontextualizada das atividades.
( ) A Educação Inclusiva requer que os sistemas educacionais modifiquem não apenas
as suas atitudes e expectativas em relação aos alunos com deficiência, mas que
se organizem para construir uma real escola para todos, onde o currículo leve em
conta a diversidade e seja concebido com o objetivo de reduzir barreiras atitudinais
e conceituais e se pautar por uma ressignificação do processo de aprendizagem na
sua relação com o desenvolvimento humano.

Assinale a alternativa com a sequência correta.


a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) F – V – V – F.

41
42
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA,
TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE
GÊNERO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos trabalhar o conceito de multiculturalismo, enfatizando as
origens do surgimento do movimento e os campos de conhecimento que acolhem os
estudos multiculturais. Nesse sentido, temos como objetivo situar o multiculturalismo do
ponto de vista político (movimentos sociais multiculturais e políticas públicas) e teórico
(ciências multiculturalistas), visando oferecer conteúdo de base para a interpretação
desse campo de estudos.

No desenvolvimento deste tópico, também será abordado os temas tolerância/


intolerância e relações de gênero, discutindo de modo reflexivo os conceitos de
feminismo e ideologia de gênero. O objetivo é apresentar diferentes pontos de vista
para os referidos conceitos, e conduzir o acadêmico a uma reflexão crítica da realidade,
de modo que possa – com embasamento crítico e sempre que possível científico –
compreender melhor esses temas.

2 CONCEITUANDO MULTICULTURALISMO
Como a própria etimologia da palavra nos sugere, o termo “multi” significa vários;
o termo “culturalismo” refere-se à cultura; e o sufixo “ismo” está associado às posições
assumidas ou ideias aceitas sobre a possibilidade do conhecimento, ou seja, no caso do
multiculturalismo significa uma posição assumida sobre as diferentes relações entre as
várias culturas.

O ‘multiculturalismo’ é um termo polissêmico e existem, pelo menos,


dois sentidos diferentes em que este pode ser utilizado. Um primeiro
sentido é descritivo e reporta a um fato da vida humana e social, que é
a diversidade cultural étnica, religiosa que se pode observar no tecido
social, ou seja, um certo cosmopolitismo que atualmente é fácil de
ver em qualquer grande cidade da Europa e da América do Norte.
Um segundo sentido é prescritivo e está associado às chamadas
políticas de reconhecimento da identidade e/ou da diferença que os
poderes públicos prosseguem, ou deveriam prosseguir, segundo os
seus defensores, em nome dos grupos minoritários e/ou ‘subalternos’
(FERNANDES, 2011, p. 2, grifos do original).

43
Dito de outra forma, multiculturalismo significa a existência de grupos de
diversas culturas, assim como o embate político, econômico e social travado pelos
diferentes grupos sociais na luta pelo respeito à diversidade. Por isso, além de estudos
teóricos e empíricos, o termo implica na conquista de reivindicações das chamadas
minorias ou grupos marginalizados, como os negros, índios, mulheres, homossexuais e
outros tantos que buscam assegurar seus direitos sociais através de políticas públicas
de ação afirmativa.

FIGURA 6 – MULTICULTURALISMO, DIVERSIDADE E DESAFIO DO HOMEM PARA O SÉCULO XXI

FONTE: Disponível em: <http://fadivagrupo7.blogspot.com/>. Acesso em: 7 dez. 2017.

O multiculturalismo é pluralista, porque as diferenças coexistem em um mesmo


país ou região. Ali convivem diferentes culturas, valores e tradições. Há o diálogo e
convivência pacífica entre as culturas diversas. No entanto, esta coexistência pacífica
não significa negar as diferenças entre as culturas, nem homogeneizá-las, mas
compreendê-las a partir de uma visão dialética sobre os termos igualdade e diferença,
na medida em que não se pode falar em igualdade sem levar em conta as diferenças
culturais, e não se pode relacionar a diferença como medida de valor.

Nesse sentido, entendemos que igualdade e diferença não são termos opostos.
Na verdade, a igualdade opõe-se à desigualdade, enquanto diferença opõe-se à
padronização, à homogeneização, à produção em série. O que o multiculturalismo quer
é lutar pela igualdade e pelo reconhecimento das diferenças.

Por esse motivo, um dos temas centrais do multiculturalismo tem sido o Direito
à Diferença e à Diminuição das Desigualdades, bandeira de luta de vários movimentos
sociais contemporâneos espalhados pelo mundo inteiro.

44
3 SURGIMENTO DO MULTICULTURALISMO
O termo multiculturalismo é relativamente recente e sua utilização ocorreu pela
primeira vez na Inglaterra, entre as décadas de 1960 e 1970. De acordo com Fernandes
(2006), o multiculturalismo surgiu na linguagem oficial do Canadá e na Austrália, para
designar as políticas públicas com o objetivo de valorizar e/ou promover a diversidade
cultural. Ainda nesse período, o autor destaca que outros países anglo-saxônicos, como
o Reino Unido, a Nova Zelândia e os EUA, também iniciam políticas públicas qualificadas
como multiculturais.

NOTA
Países anglo-saxônicos são países cujos descendentes são provenientes
de povos germânicos (anglos, saxões e jutos). Esta denominação é
resultado da fusão desses povos que se fixaram ao sul e leste da Grã-
Bretanha, no século V.

Tomando como base o caso dos Estados Unidos, o multiculturalismo surge


como movimento organizado na década de 1960, a partir dos primeiros movimentos
sociais, como: o negro, feminista, hippie, ambientalista, entre outros. No entanto,
para entender o motivo pelo qual esses movimentos surgiram, devemos resgatar o
aspecto da constituição histórica dos Estados Unidos, marcada por um longo processo
de colonização, que teve como base a eliminação e a opressão das diversas tribos
indígenas que ali estavam. Além disso, prezado acadêmico, devemos levar em conta
o processo de escravidão que ocorreu no país, no qual os negros serviram como base
para o desenvolvimento da nação.

Essas posturas dos colonizadores norte-americanos foram influenciadas pelos


valores religiosos de igrejas protestantes, comuns à maioria dos colonos de origem
anglo-saxã. Esta influência permeou o pensamento e as atitudes dos colonizadores
norte-americanos em relação aos demais grupos, desencadeando, mais tarde, uma
série de movimentos pela busca de justiça social.

O que queremos destacar neste momento é que, a exemplo do caso dos EUA, o
movimento multiculturalista surgiu em grande escala nas sociedades nas quais o direito
à diversidade cultural foi historicamente negado.

45
Segundo Silva (2000), o multiculturalismo teve início em países em que a
diversidade cultural era vista como um problema para a construção da unidade nacional.
Muitas nações construíram suas identidades por intermédio de processos autoritários,
pela imposição de uma cultura, dita superior, a todos os membros da sociedade.

4 ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE ABRIGAM O


MULTICULTURALISMO
Já entendemos que o multiculturalismo é, ao mesmo tempo, uma rede de
movimentos sociais em prol da afirmação dos grupos minoritários, historicamente
excluídos pela sociedade. Neste sentido, podemos compreender que o multiculturalismo
é um campo de estudos que aborda a problemática dos grupos de forma multidisciplinar.
Portanto, vamos tratar agora de alguns aspectos sobre o caráter científico do
multiculturalismo, que são os estudos multiculturais.

Prezados acadêmicos, vocês sabiam que os estudos multiculturais são


provenientes de várias áreas do conhecimento?

Pois bem, entre as áreas de conhecimento podemos destacar os campos da


Antropologia Cultural, Psicologia Social, História e Sociologia, que abordam diferentes
problemas relativos ao multiculturalismo. Algumas áreas se ocupam do ponto de vista
histórico do movimento, outras se ocupam da genealogia dos mesmos, outras se ocupam
dos processos políticos e sociais que os movimentos promovem, e ainda, outras áreas
se ocupam de aspectos epistemológicos do estudo dos movimentos. Enfim, há uma
variedade de estudos sobre o tema nas mais diferentes áreas disciplinares.

NOTA
GENEALOGIA: estudo da origem das famílias.
EPISTEMOLOGIA: estudo do grau de certeza do conhecimento científico
em seus diversos ramos.

Portanto, o estudo do multiculturalismo requer uma compreensão interdisciplinar


do contexto histórico, socioeconômico e cultural desses diferentes grupos sociais e da
sua diversidade cultural construída conforme seu tempo e suas condições humanas e
geográficas.

46
NOTA
Abordagem Interdisciplinar: refere-se ao trabalho e estudo de
profissionais de diversas áreas do conhecimento ou especialidades
sobre um determinado tema ou área de atuação, implicando
necessariamente na integração dos mesmos para uma compreensão
mais ampla do assunto.

Daí a complexidade em se abordar a temática do multiculturalismo em todas


as regiões do planeta, levando em consideração a diversidade e a história dos seus
diversos povos em cada um dos cinco continentes e seus diferentes países. No entanto,
o multiculturalismo já alcançou um elevado nível na discussão acadêmica. De acordo
com Sidekum (2003, p. 9), “esse alcance é a marca principal das últimas décadas do
século XX, consolidando-se, especialmente, pelos estudos comparados da cultura,
desenvolvidos pela antropologia cultural e pela psicologia aplicada, também conhecida
por psicologia social intercultural”.

5 MOVIMENTO FEMINISTA
O surgimento dos estudos atuais sobre a condição feminina, o Estudo de
Gênero só foi possível porque, ao longo do tempo, o movimento social de mulheres “fez
muito barulho”, denunciando as situações de opressão, preconceito e dominação que
sofreram. A amplitude do movimento feminista não pode e não deve ser reconhecida
apenas como um dos movimentos de luta das mulheres, porque muitas mulheres com
perfis e histórias diferentes participaram. Se hoje o gênero representa uma categoria
de análise tão importante para as ciências humanas e sociais, é porque se fez legítimo
pelas tantas batalhas dos movimentos feministas, tornando-se fundamental para a
compreensão das relações humanas.

5.1 FEMINISMO
O feminismo é um conceito múltiplo, ele possui uma dimensão política, que se
refere aos movimentos de luta por direitos, e uma dimensão acadêmica, que se refere
aos estudos da condição feminina. A dimensão acadêmica, ou seja, o campo de pesquisa
e de conhecimento sobre as mulheres, pode ser considerada multidisciplinar, porque
ocorre em diferentes campos disciplinares, como: Antropologia, História, Educação,
Sociologia, Direito e vários outros.

47
O principal objetivo do movimento feminista não foi alcançar a igualdade entre
homens e mulheres, mas sim a equidade entre eles. Para assegurar a igualdade não
deve ser necessário que as mulheres assumam posturas “masculinas”. Elas devem
preservar suas identidades. Por isso a ideia de “equidade” e não igualdade.

Com relação ao Movimento Feminista, ele surgiu no século XVIII, na Europa,


especialmente na Inglaterra e França, mas logo repercutiu em outros países e se
desenvolveu de diferentes formas e expressões até os dias atuais. Para dar uma ideia
de totalidade ao movimento, ele foi dividido em três grandes momentos, que explicam
as diferentes concepções e lutas do movimento.

5.2 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA

Esse primeiro momento do feminismo, chamado “Primeira Onda Feminista”,


refere-se a um período extenso de atividade feminista ocorrido durante o século
XIX e início do século XX, no Reino Unido, na França e Estados Unidos, que tinha
o foco originalmente na promoção da igualdade nos direitos contratuais e de
propriedade para homens e mulheres, e na oposição de casamentos arranjados e
da propriedade de mulheres casadas (e seus filhos) por seus maridos. No entanto,
no fim do século XIX, o ativismo passou a se focar, principalmente, na conquista de
poder político, especialmente o direito ao sufrágio (voto) por parte das mulheres.

FONTE: Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/09/14/historia-da-primeira-onda-fe-


minista/>. Acesso em: 19 set. 2017.

Ainda assim, muitas feministas já faziam campanhas pelos direitos sexuais,


reprodutivos e econômicos das mulheres.

Na França do século XVIII, envolvidas pelo ideal de “Liberdade, Igualdade e


Fraternidade” da Revolução Francesa, mulheres de todas as classes sociais juntaram-
se ao movimento revolucionário. Elas acreditavam que, uma vez estabelecida a
democracia, seus direitos ao voto, à vida pública, ao divórcio e à emancipação social (já
que eram subordinadas ao pai ou marido) seriam assegurados. Muitas mulheres lutaram
nos fronts de batalha na revolução, e algumas morreram guilhotinadas, por defenderem
suas convicções depois que a Revolução se consolidou e lhes negou, de forma desleal,
seus direitos.

48
5.3 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA
A Segunda Onda Feminista culminou com os movimentos sociais em andamento
nos Estados Unidos, e o país foi, desta vez, a referência do movimento para o restante
do mundo. A segunda onda se refere a um período da atividade feminista que teve início
na década de 60 e durou até o fim da década de 80.

As ativistas femininas fizeram campanhas pelos direitos legais das


mulheres (direitos de contrato, direitos de propriedade, direitos ao voto), pelo direito
da mulher à sua autonomia e à integridade de seu corpo, pelos direitos ao aborto
e pelos direitos reprodutivos (incluindo o acesso à contracepção e a cuidados
pré-natais de qualidade), pela proteção de mulheres e garotas contra a violência
doméstica, o assédio sexual e o estupro, pelos direitos trabalhistas, incluindo a
licença-maternidade e salários iguais, e todas as outras formas de discriminação.

FONTE: Disponível em: <http://igualdadedegeneroeraca.blogspot.com/2011/09/movimento-feminista>.


Acesso em: 20 out. 2011.

No livro, Friedan levanta a hipótese de que as mulheres seriam vítimas


de um sistema falso de crenças, que exige que elas encontrem identidade e
significado em suas vidas através de seus maridos e filhos; esse sistema faz com
que a mulher perca completamente a sua identidade para a de sua família.

Disponível em: <http://www.veracruz.edu.br/palavradeprofes sor/2010/cinema1.htm>.

49
Friedan, especificamente, localiza esse sistema nas comunidades
suburbanas de classe média pós-Segunda Guerra Mundial; ao mesmo tempo, o
boom econômico pós-guerra nos Estados Unidos levou ao desenvolvimento de
novas tecnologias que tornaram o trabalho das donas de casa menos difícil, mas
que frequentemente tinham o resultado de tornar o trabalho das mulheres menos
significante e menos valorizado.

FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Feminismo>. Acesso em: 20 out. 2011.

5.4 A TERCEIRA ONDA FEMINISTA E O SURGIMENTO DOS


ESTUDOS DE GÊNERO
De acordo com Grossi (2010), o movimento feminista e o movimento gay
merecem destaque como aqueles que de fato questionaram as relações “afetivo-
sexuais” no espaço privado. A partir de então, esses questionamentos começaram a
adentrar o espaço universitário e pesquisas passaram a ser desenvolvidas no interior de
várias disciplinas.

No Brasil, a partir dos anos 1970/80 começam a se desenvolver estudos sobre a


condição feminina, em que basicamente se discutia a opressão das mulheres em uma
sociedade patriarcal. Já a partir dos anos 1980 surgem os estudos sobre as mulheres,
pois: “[...] se percebe que não é possível falar de uma única condição feminina no Brasil,
uma vez que existem inúmeras diferenças, não apenas de classe, mas também regionais,
de classes etárias, de ethos, entre as mulheres brasileiras” (GROSSI, 2010, p. 3-4).

Nesse período, várias teses são desenvolvidas, porém, segundo Grossi (2010,
p. 4), a referência utilizada para o reconhecimento das mulheres enquanto grupo está
ainda associada a uma “unidade biológica (vagina, útero, seios)”.

6 CONCEITUANDO GÊNERO
O conceito de gênero surge no Brasil através de pesquisadoras norte-americanas,
que vão tratar as relações entre homens e mulheres de forma a negar as diferenças
biológicas como constituidoras das identidades dos seres humanos, e introduzir a
perspectiva de que somos construídos a partir de determinados mecanismos sociais.
Uma das pensadoras responsáveis por essa nova perspectiva é a autora Joan Scott. No
artigo intitulado “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”, ela diz que:

50
O gênero torna-se uma maneira de indicar ‘construções sociais’ –
a criação inteiramente social de ideias sobre os papéis adequados
aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir às origens
exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das
mulheres. O gênero é, segundo esta definição, uma categoria social
imposta sobre um corpo sexuado (SCOTT, 1990, p. 7).

Para a estudiosa Françoise Héritier (1996), o conceito de gênero é relacional,


ou seja, se constrói na relação entre homens e mulheres, haja visto que ninguém vive
só, pois todas as pessoas se relacionam desde que nascem, independente das regras
sociais e culturais.

Segundo Grossi (2010), papéis de gênero são as representações (tomadas


como representações de uma personagem no teatro) de cada sexo, ou seja, papéis
sexuais são as características atribuídas a cada sexo, de acordo com sua cultura. São
modelos do que é próprio e concernente a cada sexo. Sabe-se, através de relatos de
historiadores, que os papéis de gênero podem ser alterados dentro de uma mesma
sociedade, dependendo das situações.

Com relação à identidade de gênero, ela se forma, segundo Grossi (2010), a


partir da socialização de valores e comportamentos que são internalizados logo nas
primeiras fases da infância. Esses valores e comportamentos que são repassados são
diferentes para cada sexo e também variam de uma cultura para outra.

Um dos estudos da autora clássica de Antropologia, Margaret Mead (1979),


poderá ilustrar o que procuramos dizer até aqui. Essa autora procura nos fazer refletir
como, nas diferentes sociedades, são construídos padrões de conduta, comportamento,
culturas, atribuindo-se valores a algumas coisas e a outras não, como idade e sexo,
ritmo de nascimento, maturação e velhice, a estrutura do parentesco consanguíneo.

Em seu livro “Sexo e Temperamento”, essa antropóloga aborda três grupos


diferentes em uma ilha da Nova Guiné: os montanheses Arapesh, os canibais Mundugumor
e os caçadores de cabeças de Tchambuli. A autora faz o estudo com estes três grupos
porque as diferenças de sexo fazem parte da organização sociocultural dos mesmos,
ainda que estas diferenças sejam percebidas e dramatizadas de formas diferentes.

A partir dessa observação, a autora constata: ainda que, de uma forma geral, as
sociedades se organizem levando em conta as diferenças entre os sexos, não significa
dizer que essa organização esteja baseada em sistemas de oposição ou dominação.

Na visão do escritor argentino Jorge Scala, especialmente em seu livro intitulado


“Ideologia de Gênero: o neototalitarismo e a morte da família” (2011), bem como em uma
entrevista sobre o tema (2012), o termo gênero é associado a uma ideologia e não a uma
teoria ou hipótese, pelo seguinte motivo:

51
Uma teoria é uma hipótese verificada experimentalmente. Uma
ideologia é um corpo fechado de ideias, que parte de um pressuposto
básico falso – que por isto deve impor-se evitando toda análise racional
-, e então vão surgindo as consequências lógicas desse princípio
falso. As ideologias se impõem utilizando o sistema educacional
formal (escola e universidade) e não formal (meios de propaganda),
como fizeram os nazistas e os marxistas (SCALA, 2012, s.p.).

O autor argumenta ainda que o fundamento da ideologia de gênero é falso.

Seu fundamento principal e falso é este: o sexo seria o aspecto


biológico do ser humano, e o gênero seria a construção social ou
cultural do sexo. Ou seja, que cada um seria absolutamente livre, sem
condicionamento algum, nem sequer o biológico -, para determinar
seu próprio gênero, dando-lhe o conteúdo que quiser e mudando
de gênero quantas vezes quiser. Agora, se isso fosse verdade, não
haveria diferenças entre homem e mulher – exceto as biológicas
-; qualquer tipo de união entre os sexos seria social e moralmente
bom, e todas seriam matrimônio; cada tipo de matrimônio levaria a
um novo tipo de família; o aborto seria um direito humano inalienável
da mulher, já que somente ela é que fica grávida; etc. Tudo isso é
tão absurdo, que só pode ser imposto com uma espécie de “lavagem
cerebral” global (SCALA, 2012, s.p.).

Para concluir sua explicação, Scala responde à seguinte pergunta: quais são,
então, as consequências para nossos filhos, para a próxima geração, caso a ideologia de
gênero seja incentivada nas escolas infantis?

Eu respondo com um fato real. Dei uma palestra sobre esta ideologia,
a todos os professores de uma cidade de 7.000 habitantes, numa
área rural da minha província. Gente simples e trabalhadora. Ao
concluí-la, uma professora comentou em voz alta: ‘Agora eu entendo
porque há alguns dias meu filho de sete anos me perguntou: mamãe,
eu sou menino ou menina …? As pessoas formadas e maduras estão
imunes dessa ideologia, mas se a permitirmos penetrar nas crianças
desde tenra idade – cinema, rádio, TV, escola, revistas -, em muitos
casos, teremos que lamentar com o tempo tragédias de todo tipo
(SCALA, 2012, s.p.).

Vejamos o que nos apresenta o autor Dale O’Leary (1997, p. 1), em sua obra “A
agenda de gênero”.

Sem alarde ou debate, a palavra ‘sexo’ foi substituída pela palavra


‘gênero’. Nós costumávamos falar de ‘discriminação de sexo’, mas
agora é ‘discriminação de gênero’. Com certeza parece bastante
inocente. ‘Sexo’ possui um significado secundário, subentendendo
relação sexual ou atividade sexual. ‘Gênero’ parece mais delicado
e refinado. As militantes feministas aprenderam a partir de suas
derrotas. Quando elas não puderam vender sua ideologia radical para
as mulheres em geral, elas lhe deram uma nova roupagem. Agora
elas são bastante cuidadosas em revelar seus verdadeiros objetivos.
Elas pretendem alcançar seus fins não por uma confrontação direta,
mas através de uma mudança no significado das palavras.

52
No decorrer de seu texto, O’Leary (1997) faz menção à Conferência da ONU sobre
População, realizada no Cairo, em 1994, e a Conferência sobre as Mulheres, realizada
em Pequim, em 1995, em que foi incluída na plataforma de ação destas conferências a
“perspectiva de gênero”. Sobre este tema, o autor faz os seguintes questionamentos:

Qual é a relação entre a “perspectiva de gênero” e o fato de que os


seus proponentes possuem uma extrema aversão a palavras como
mãe, pai, marido e esposa? Por que os defensores da Agenda de
Gênero referem-se ao casamento e à família em termos negativos?
Por que um documento da ONU sobre as mulheres não tem quase
nada de positivo a dizer sobre as mulheres que são mães de tempo
integral? Por que a ONU não promove mais a “perspectiva da mulher”?
(O’LEARY, 1997, p. 2).

Caro acadêmico, agora é com você. Diante das discussões apresentadas até o
momento, como você define gênero? O que você pensa sobre o assunto? Você considera
que o objetivo da ideologia de gênero é promover a defesa da mulher? Promover a
defesa do homem? Defender a vida humana e as crianças? Lutar pela equidade entre
homens e mulheres? São muitas as indagações que precisam ser feitas para elucidar
seu pensamento, e para que de modo crítico e racional você possa chegar às suas
próprias conclusões.

DICAS
Para complementar nossa conversa, leia atentamente a introdução do livro de Marilena Chauí
sobre “O que é ideologia” e tire suas próprias conclusões sobre os fundamentos da “ideologia
de gênero”.

“Frequentemente, ouvimos expressões do tipo “partido político ideológico”, é preciso ter uma
“ideologia”, “falsidade ideológica”.
Essas expressões tomam a palavra ideologia para com ela significar “conjunto
sistemático e encadeado de ideias”. Ou seja, confundem ideologia com
ideário.
Nossa tarefa, aqui, será desfazer a suposição de que a ideologia é um
ideário qualquer ou qualquer conjunto encadeado de ideias e, ao contrário,
mostrar que a ideologia é um ideário histórico, social e político que oculta
a realidade, e que esse ocultamento é uma forma de assegurar e manter a
exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política.

FONTE: Chauí, M. O Que é Ideologia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2001.


Disponível em: <https://goo.gl/VMihTF>. Acesso em: 9 set. 2017.

53
7 ESTUDOS DE GÊNERO
Especialmente nas três últimas décadas, os estudos de gênero passaram a
se preocupar com várias questões relativas ao universo das relações sociais. Observar
a realidade a partir da análise de gênero possibilitou novas interpretações sobre o
comportamento humano e a observação das desigualdades de gênero. Vejamos, a
seguir, alguns estudos de gênero e suas principais contribuições.

A construção social da desigualdade de Gênero (Educação Diferenciada):


Os estudos compreendem que há uma educação diferenciada para meninos e meninas
desde o seu nascimento. Nessa educação, reproduzem-se idealizações e modelos de
papéis destinados a homens e mulheres na sociedade. Por exemplo, os meninos brincam
de bola e carrinho, enquanto as meninas brincam de boneca e casinha, deixando claro o
espaço que cada um ocupará dentro da sociedade. Por este motivo é que se organizam
papéis diferenciados para homens e mulheres.

Papéis femininos ou Feminilidades: De acordo com os estudos, os modelos


de feminino em nossa sociedade são criados a partir de símbolos antagônicos: Eva
e Maria, bruxa e fada, mãe e madrasta. Sendo que essas definições propõem o que
é bom para as mulheres e culpam-nas quando não correspondem a este padrão. A
sociedade espera que as mulheres cuidem da casa, dos filhos e do marido, que sejam as
guardiãs da moral da família, que sejam meigas, atenciosas, maternais e frágeis. Outras
expressões de feminino são marginalizadas.

Papéis masculinos ou Masculinidades: Os estudos sobre masculinidade


tratam da construção da identidade masculina e das diferentes masculinidades.
Além disso, tratam do discurso sobre o masculino, a idealização dele e os padrões de
masculinidade. O que a sociedade espera do papel desempenhado pelos homens é
que sejam provedores, fortes e viris. Outras expressões de masculinidade também são
consideradas desviantes.

Violência de gênero: Os estudos apontam que a violência de gênero é


demonstrada no exercício de poder dos homens (na forma de espancamentos, insultos,
ameaças, estupros, assédio, assassinatos e outros) sobre as mulheres e demais
pessoas consideradas "inferiores" (homossexuais, crianças, idosos etc.). Esses estudos
demonstram uma série de situações em que as mulheres têm sido historicamente
violentadas em seus direitos, tanto no aspecto físico, quanto psicológico.

Famílias: Muitos estudos reconhecem que há uma visão tradicional de


família que não reconhece a existência de núcleos familiares chefiados somente por
mulheres ou a constituição de famílias compostas por "agrupamento". De igual forma,
são abordadas aqui as questões relativas aos papéis tradicionais desempenhados por
homens e mulheres dentro das estruturas familiares.
 

54
A imagem das mulheres nos meios de comunicação: Os estudos
demonstram que os meios de comunicação parecem dar às mulheres "visibilidade" e
"espaço para discussão", mas que reforçam constantemente o seu papel de "objeto de
consumo", de "utilidade pública" e "sexual". Por exemplo, nas propagandas de bebidas
alcoólicas.

A educação escolar: Os estudos reforçam que a educação escolar é


transmissora de valores, atitudes e preconceitos, reprodutora das desigualdades de
gênero e homofobia. Isso porque, no universo das instituições de ensino do nosso país,
assuntos como Gênero e Sexualidade têm sido tratados historicamente como tabus.
Quando se permite falar sobre esses temas, a escola tende a tratar a questão como uma
dimensão da vida adulta, ligada à constituição da família e da reprodução, através de
uma perspectiva biológica. Desta forma, tanto o exercício da sexualidade por si, quanto
as orientações homoafetivas, neste espaço disciplinar, são negados. A escola tem
assumido, entre outros, o papel de vigiar os limites entre as identidades e os papéis de
gênero. Nesta função, de acordo com Louro (1997), a norma a ser mantida e reafirmada
pela instituição valoriza, prioritariamente, o modelo tradicional dos papéis de gênero e o
comportamento heterossexual, reafirmando os padrões da moral dominante vigente na
sociedade, tomando por modelo as relações hierárquicas e desiguais entre os sexos e
o homem e a mulher branca heterossexual de classe média urbana e cristã. Os que são
diferentes deste modelo são considerados como tendo um comportamento "desviante".
Louro (1997, p. 36) destaca que “ninguém é essencialmente diferente, ninguém é
essencialmente o outro; a diferença é sempre constituída a partir de um dado lugar que
se toma como centro".

No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Secretaria de Educação


Continuada (SECAD/MEC) possuem a perspectiva de que os temas gênero, identidade
de gênero e orientação sexual devem ser considerados pela política educacional como
uma questão de direitos humanos. Por este motivo é que existe no Brasil uma agenda
de enfrentamento ao sexismo e homofobia através do Plano Nacional de Políticas para
as Mulheres (PNPM) e do Programa Brasil sem Homofobia (BSH).

Por outro lado, a questão tornou-se tão polêmica a ponto de gerar a elaboração
de um projeto de lei (Projeto de Lei 7382/2010), que prevê a penalização pela
discriminação contra heterossexuais e determina que as medidas e políticas públicas
antidiscriminatórias atentem para essa possibilidade, ou seja, pune a “heterofobia”. No
momento, o projeto encontra-se em pedido de vista pela Comissão de Direitos Humanos
e Minorias (CDHM).

Público e Privado: Os estudos demonstram que, a partir da consolidação do


capitalismo, consolida-se também a ideologia de que existe uma esfera pública e outra
privada. Esfera privada: Lugar próprio das mulheres, do doméstico, da subjetividade,
do cuidado, da honra. Esfera pública: Espaço dos homens, da objetividade, dos iguais,
da liberdade e do direito. Desta maneira, convencionou-se nas sociedades ocidentais

55
o espaço privado para a mulher, a casa, o cuidado com os filhos e marido; e o espaço
público ao homem, relações sociais, políticas e de trabalho. Essa “ordem” social criou
diferenças e justificou desigualdades sexuais ao longo da história, sendo que muitas
ainda permanecem nos dias de hoje.

A divisão sexual do trabalho: Os estudos demonstram que historicamente


a divisão sexual do trabalho enfatiza para os homens a produção e a subsistência da
família e para as mulheres a reprodução e a educação das crianças.

Acadêmico, sobre esses temas, reflita as seguintes perguntas: O que você


entende por viver sem preconceito de gênero? E sem preconceito de sexo? Existe
diferença entre essas perguntas? Como você responderia cada uma delas?

Você deve ter percebido que nos últimos cinco ou dez anos houve, no Brasil,
uma evidente tendência ao uso do termo gênero – em referência aos papéis masculinos
e femininos das pessoas – em substituição ao termo sexo – referente ao sexo biológico
– em muitos sites governamentais e não governamentais, quando da necessidade de
informar dados pessoais para cadastros. Já se deparou com isso?

Apesar de serem conceitos diferentes (sexo e gênero), observe que são perguntas
semelhantes, que nos remetem ao reconhecimento das diferenças entre homens e
mulheres e ao respeito para com ambos. No entanto, até pouco tempo não se fazia
esse questionamento, mesmo reconhecendo que há manifestações de comportamento
afetivo ou sexual diferente do sexo de nascimento. Contudo, o momento delicado em
que a sociedade vivencia esse debate não pode motivar violência e intolerância e, muito
menos, a adoção do relativismo, teoria filosófica que admite que todo conhecimento é
relativo. Pois se assim o fosse, perguntas como “de onde vim?”, “o que sou?” e “para onde
vou?” não seriam tão intrigantes quanto são para a única espécie capaz de raciocinar
sobre si mesma, o Homo sapiens.

Assim, o modo como o termo gênero vem sendo utilizado nos diversos meios
de comunicação apresenta uma fragilidade. Por exemplo, se o gênero representa o
comportamento social da pessoa e o sexo a determinação biológica, as duas perguntas
deveriam ser feitas. Agora, se só existe uma espécie humana e nesta se manifestam
apenas dois sexos (ou dois gêneros), estaria coerente discutir relações de gênero?

O debate acerca do assunto é amplo, e para nós, brasileiros, a Constituição prevê,


no Art. 3º, inciso IV, que constituem objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil, dentre outros, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, religião, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).
Portanto, já estaria respaldado o reconhecimento da diversidade humana e o combate
à discriminação de qualquer origem.

56
A produção foi sempre mais valorizada do que a reprodução, por este
motivo é que as atividades ditas reprodutivas, como as funções domésticas, são
desvalorizadas. De acordo com Faria (1997), referindo-se ao trabalho das mulheres
rurais no Brasil:

Carpir no sertão nordestino era uma tarefa dos homens e era


considerado um trabalho pesado. Carpir no brejo paraibano era
tarefa das mulheres e era considerado trabalho leve. Como se
vê, no cultivo da cana o que caracterizava um trabalho como
leve ou pesado não era a força física necessária para realizá-
lo, mas o valor social de quem o fazia (FARIA, 1997, p. 14).

Nesse sentido, a desigualdade sexual não é refletida como um problema de


gênero, ela é naturalizada. Essa postura é que mantém o padrão de desvalorização
do trabalho feminino, e é o que explica porque muitas mulheres ainda ganham
menos que os homens, mesmo ocupando cargos iguais.

Por outro lado, após a expansão do capitalismo, quando as mulheres entram


no mercado de trabalho permanecem ainda com as atividades domésticas, o cuidado
com a casa e com os filhos. De acordo com o IBGE (2005):

O IBGE mostra que a crescente participação das mulheres


no mercado de trabalho não reduziu a jornada delas com os
afazeres domésticos. Pelo contrário, na faixa etária de 25 a 49
anos de idade, onde a inserção das mulheres nas atividades
remuneradas é maior e que coincide com a presença de filhos
menores, o trabalho doméstico ocupa 94% das mulheres.
Aumentando o tempo de trabalho da mulher em função da
dupla jornada de trabalho.

FONTE: Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2012/anais/122f.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.

Dupla Jornada de Trabalho:

A partir da segunda metade do século XX, com a expansão do capitalismo,


as mulheres entraram definitivamente no mercado de trabalho. Fato que, por um
lado, possibilitou a inserção da mulher no mundo do trabalho “produtivo” e no
espaço público, e por outro, lhe manteve a condição de trabalhadora doméstica,
pois ela continuou com a integralidade das atividades do lar. Ocorre, assim, o
acúmulo de funções, chamado de dupla jornada de trabalho. Além disso, do
ponto de vista do desenvolvimento do capitalismo, a contratação de mulheres
foi estrategicamente conveniente, pois a remuneração do trabalho feminino era
mais baixa do que a masculina, dada a sua condição histórica de inferioridade.
Por esse motivo, ainda nos dias de hoje, em alguns setores, o trabalho feminino é
menos valorizado do que o masculino.

FONTE: Disponível em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos14/20320175.pdf>. Acesso em: 7


dez. 2017.
57
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O multiculturalismo significa a existência de grupos de diversas culturas, assim como:


o embate político, econômico e social travado pelos diferentes grupos sociais na luta
pelo respeito à diversidade.

• O termo “multiculturalismo” é recente, e sua utilização ocorreu pela primeira vez na


Inglaterra, entre as décadas de 1960 e 1970.

• A ideia de que os estudos multiculturais são multidisciplinares, na medida em que


são provenientes de diversos campos de conhecimento, como: Antropologia Cultural,
Psicologia Social, História, Sociologia, entre outros.

• O direito à diferença e a diminuição das desigualdades são temas centrais para o


multiculturalismo, bandeira de luta de vários movimentos sociais contemporâneos
espalhados pelo mundo inteiro.

• O conceito de cultura corresponde ao conjunto das regras sociais aceitas como


normas pela sociedade ou grupo que as compõe.

• O etnocentrismo é a maneira de ver os “outros” com base nos nossos padrões


culturais, com os nossos valores sociais, morais e éticos, e não os valores do outro.

• O relativismo cultural significa uma perspectiva mais ampla sobre o outro, uma
perspectiva que vê e compreende o outro a partir dos parâmetros e regras sociais do
outro.

• O feminismo como conceito múltiplo. Ele possui uma dimensão política, que se refere
aos movimentos de luta por direitos, e uma dimensão acadêmica, que se refere aos
estudos da condição feminina.

• O Movimento Feminista surgiu no século XVIII, na Europa, e foi dividido em três


grandes momentos, sendo a 1ª, a 2ª e a 3ª ondas feministas.

• A primeira onda feminista se refere a um período extenso de atividade feminista,


ocorrido durante o século XIX e início do século XX, na Europa. Sendo que o foco
original do movimento se concentrou na promoção da igualdade, nos direitos
contratuais e de propriedade para homens e mulheres.

58
• A segunda onda feminista tem como cenário de surgimento os Estados Unidos já
no século XX, na década de 1960, na medida em que o processo de industrialização
se acelera. O movimento feminista, neste momento histórico, luta por melhores
condições de trabalho e renda, além de questionar as relações na família.

• Com a terceira onda feminista – a partir da década de 1980 –, vem a introdução da


discussão da desigualdade de gênero no meio acadêmico, momento em que surge o
conceito de gênero.

• O conceito de gênero surge no Brasil através de pesquisadoras norte-americanas,


que vão tratar as relações entre homens e mulheres de forma a negar as diferenças
biológicas como constituidoras das identidades dos seres humanos, e introduzir a
perspectiva de que somos construídos a partir de determinados mecanismos sociais.

• Existem pensamentos contrários à ideologia de gênero e outros favoráveis, a


depender do autor que se leva em consideração.

• Questionar é tão importante quanto buscar o saber, e que é preciso estimular o


pensamento crítico diante dos problemas cotidianos, de modo a desenvolver a
capacidade de propor soluções viáveis e sustentáveis.

• Avaliar criticamente a realidade à luz dos conhecimentos científicos, éticos e morais


contribui para o reconhecimento da diversidade e o respeito à dignidade humana.

59
AUTOATIVIDADE
1 As mulheres frequentam mais os bancos escolares que os homens,
dividem seu tempo entre o trabalho e os cuidados com a casa, geram
renda familiar, porém, continuam ganhando menos e trabalhando
mais que os homens.

As políticas de benefícios implementadas por empresas preocupadas em facilitar a


vida das funcionárias que têm criança pequena em casa já estão chegando ao Brasil.
Acordos de horários flexíveis, programas como auxílio-creche, auxílio-babá e auxílio-
amamentação são alguns dos benefícios oferecidos.

FONTE: Adaptado de <http://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 30 jul. 2013.

JORNADA MÉDIA DE TRABALHO POR SEMANA

NO BRASIL - (EM HORAS)

FONTE: Disponível em: <http://ipea.gov.br>. Acesso em: 30 jul. 2013.

Considerando o texto e o gráfico, avalie as afirmações a seguir.

I- O somatório do tempo dedicado pelas mulheres aos afazeres domésticos e ao


trabalho remunerado é superior ao dedicado pelos homens, independentemente
do formato da família.
II- O fragmento do texto e dos dados do gráfico apontam para a necessidade de
criação de políticas que promovam a igualdade entre os gêneros no que concerne
a tempo médio dedicado ao trabalho e remuneração recebida.

60
III- No fragmento de reportagem apresentado, ressalta-se a diferença entre o tempo
dedicado por mulheres e homens ao trabalho remunerado, sem alusão aos afazeres
domésticos.

É correto o que se afirma em:


a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III apenas.
e) ( ) I, II e III.

2 O conceito de feminismo possui uma perspectiva política, que se


refere ao movimento social em prol de políticas de reconhecimento
e uma perspectiva acadêmica, que se refere aos estudos feministas.
Com relação ao conceito de feminismo e à atuação do movimento
feminista, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 

( ) O feminismo é um movimento social e um campo de conhecimento que tem como


objetivo defender a igualdade entre homens e mulheres, seja do ponto de vista
jurídico, político ou econômico.
( ) O movimento feminista está dividido historicamente em três "ondas", sendo que
a primeira onda refere-se ao feminismo do século XVIII, e tem como referências
países como França e Inglaterra.
( ) Os estudos feministas têm como objetivo denunciar as desigualdades biológicas
entre homens e mulheres, no sentido de garantir direitos apenas para as mulheres.
( ) Os estudos feministas podem ser classificados como multidisciplinares, pois são
desenvolvidos a partir de várias áreas de estudos.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) F – V – F – F.
c) ( ) F – F – V – F.
d) ( ) F – V – F – V.

3 O feminismo é um movimento social e um campo de estudos


cujo objetivo é defender a igualdade entre os sexos. Na história
do feminismo, convencionou-se dividir o movimento em três
momentos: primeira, segunda e terceira onda feminista. Classifique
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 

61
( ) Uma das autoras mais importantes da Segunda Onda Feminista é Betty Friedan. Ela
ficou conhecida por escrever o livro "A Mística Feminina". Nele, a autora enobrece a
vida vazia das donas de casa de classe média nos Estados Unidos, destacando que
a identidade da mulher deve ser exclusiva da família.
( ) Na Segunda Onda, a revolucionária Olímpia de Gouges, em 1791, escreveu uma
declaração muito importante, argumentando que as mulheres deveriam ter os
mesmos direitos que os homens, podendo participar da vida política, governando
e formulando leis.
( ) A Segunda Onda Feminista culminou com os movimentos sociais em andamento
nos Estados Unidos. Esse momento do feminismo começa na década de 1960 e
dura até o fim da década de 1980.
( ) A Terceira Onda Feminista inicia na década de 1990, com o objetivo de compreender
os problemas femininos de um ponto de vista mais amplo, e não apenas do ponto
de vista das "mulheres brancas de classe média-alta", como fez a segunda onda.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – F – V – V.
b) ( ) F – V – F – F.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) V – V – F – V.

4 (ENADE - 2017, FORMAÇÃO GERAL, questão 1).

TEXTO 1

Em 2001, a incidência da sífilis congênita – transmitida da mulher para o feto durante


a gravidez – era de um caso a cada mil bebês nascidos vivos. Havia uma meta da
Organização Pan-Americana de Saúde e da Unicef de essa ocorrência diminuir no Brasil,
chegando, em 2015, a cinco casos de sífilis congênita por 10 mil nascidos vivos. O país
não atingiu esse objetivo, tendo se distanciado ainda mais dele, embora o tratamento
para sífilis seja relativamente simples, à base de antibióticos. Trata-se de uma doença
para a qual a medicina já encontrou a solução, mas a sociedade ainda não.

FONTE: Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 23 jul. 2017 (adaptado).

TEXTO 2

O Ministério da Saúde anunciou que há uma epidemia de sífilis no Brasil. Nos últimos
cinco anos, foram 230 mil novos casos, um aumento de 32% somente entre 2014 e
2015. Por que isso aconteceu?
Primeiro, ampliou-se o diagnóstico com o teste rápido para sífilis realizado na unidade
básica de saúde e cujo resultado sai em 30 minutos. Aí vem o segundo ponto, um dos
mais negativos, que foi o desabastecimento, no país, da matéria-prima para a penicilina.

62
O Ministério da Saúde importou essa penicilina, mas, por um bom tempo, não esteve
disponível, e isso fez com que mais pessoas se infectassem. O terceiro ponto é a
prevenção. Houve, nos últimos dez anos, uma redução do uso do preservativo, o que
aumentou, e muito, a transmissão.
A incidência de casos de sífilis, que, em 2010, era maior entre homens, hoje recai sobre
as mulheres. Por que a vulnerabilidade neste grupo está aumentando?
As mulheres ainda são as mais vulneráveis a doenças sexualmente transmissíveis
(DST), de uma forma geral. Elas têm dificuldade de negociar o preservativo com o
parceiro, por exemplo. Mas o acesso da mulher ao diagnóstico também é maior, por
isso, é mais fácil contabilizar essa população. Quando um homem faz exame para a
sífilis? Somente quando tem sintoma aparente ou outra doença. E a sífilis pode ser uma
doença silenciosa. A mulher, por outro lado, vai fazer o pré-natal e, automaticamente,
faz o teste para a sífilis. No Brasil, estima-se que apenas 12% dos parceiros sexuais
recebam tratamento para sífilis.

FONTE: Entrevista com Ana Gabriela Travassos, presidente da regional baiana da Sociedade
Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Disponível em: <http://www.agenciapatricia-
galvao.org.br>. Acesso em: 25 jul. 2017 (adaptado).

TEXTO 3

Vários estudos constatam que os homens, em geral, padecem mais de condições


severas e crônicas de saúde que as mulheres e morrem mais que elas em razão de
doenças que levam a óbito. Entretanto, apesar de as taxas de morbimortalidade
masculinas assumirem um peso significativo, observa-se que a presença de homens
nos serviços de atenção primária à saúde é muito menor que a de mulheres.

GOMES, R.; NASCIMENTO, E.; ARAUJO, F. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as
mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Cad. Saúde
Pública [on-line], v. 23, n. 3, 2007 (adaptado).

A partir das informações apresentadas, redija um texto acerca do tema: Epidemia de


sífilis congênita no Brasil e relações de gênero

Em seu texto, aborde os seguintes aspectos:

• A vulnerabilidade das mulheres às DSTs e o papel social do homem em relação à


prevenção dessas doenças.
• Duas ações, especificamente voltadas para o público masculino, a serem adotadas
no âmbito das políticas públicas de saúde ou de educação, para reduzir o problema.

5 (ENADE – 2017, FORMAÇÃO GERAL, questão 2).

63
A pessoa trans precisa que alguém ateste, confirme e comprove que ela pode ser
reconhecida pelo nome que escolheu. Não aceita que se autodeclare mulher ou homem.
Exige que um profissional de saúde diga quem ela é. Sua declaração é o que menos
conta na hora de solicitar, judicialmente, a mudança dos documentos.

FONTE: Disponível em: <http://www.ebc.com.br>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).

No chão, a travesti morre


Ninguém jamais saberá seu nome
Nos jornais, fala-se de outra morte
De tal homem que ninguém conheceu

FONTE: Disponível em: <http://www.aminoapps.com>. Acesso em 31 ago. 2017 (adaptado).

Usava meu nome oficial, feminino, no currículo porque diziam que eu estava cometendo
um crime, que era falsidade ideológica se eu usasse outro nome. Depois fui pesquisar
e descobri que não é assim. Infelizmente, ainda existe muita desinformação sobre os
direitos das pessoas trans.

FONTE: Disponível em: <http://www.brasil.elpais.com>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).

Uma vez o segurança da balada achou que eu tinha, por engano, mostrado o RG do
meu namorado. Isso quando insistem em não colocar meu nome social na minha ficha
de consumação.

FONTE: Disponível em: <http://www.brasil.elpais.com>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).

Com base nessas falas, discorra sobre a importância do nome para as pessoas
transgêneras e, nesse contexto, proponha uma medida, no âmbito das políticas públicas,
que tenha como objetivo facilitar o acesso dessas pessoas à cidadania.

64
UNIDADE 1 TÓPICO 4 -
RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO,
SETOR PRIVADO E TERCEIRO SETOR

1 INTRODUÇÃO
Nosso tempo apresenta enormes desafios éticos que decorrem da diversidade
cultural das sociedades contemporâneas, do consumismo, do individualismo, do
hedonismo, do desprezo ao próximo e à natureza, gerando um quadro de crise que tem
sérias implicações sobre a ética, sobre os valores e sobre a responsabilidade social.

Podemos notar um triplo aspecto nesta crise: primeiro, o agravamento da


desigualdade social, com crescente pobreza e miséria de uma parte considerável da
população mundial. A desigualdade hoje se mostra tão grande que pode até levar à
desumanização de uma parte considerável das pessoas, com os laços de cooperação e
solidariedade atingindo níveis tão baixos como nunca vistos antes na história de nossa
espécie.

Em segundo lugar, vemos uma crise do sistema de trabalho, com o desemprego,


a perda dos postos de trabalho para a automação, e a exclusão social, que colocam o
problema ético de como construir uma sociedade que não gere destituídos dela.

Em terceiro lugar, vemos a crise ecológica, com os níveis de consumo atuais


esgotando os recursos naturais e degradando a natureza a ponto de comprometer a
sobrevivência dos seres vivos, o que nos chama a atenção para a necessidade de uma
nova ética em nossa relação com a natureza.

2 SETOR PRIVADO
Toda a realidade relatada anteriormente vem acompanhada do entendimento
de que cada setor da sociedade tem suas responsabilidades.

O setor privado, por mais óbvio que seja, não deveria ter participação do
setor público. Esse setor também é conhecido como ‘iniciativa privada’ e tem papel
preponderante na economia e desenvolvimento de um país.

65
3 TERCEIRO SETOR
Tradicionalmente, as organizações são pensadas e divididas a partir de uma
lógica política administrativa que dirige a organização, partindo de dois pontos: de
ordem pública ou de ordem privada. As organizações que estão fora desses dois grupos,
que não apresentam objetivo meramente lucrativo ou não (apenas) desempenham
funções públicas, são as organizações sociais, ou seja, todas as organizações residuais
são definidas nesse guarda-chuva, o que abarca um conjunto muito heterogêneo
de tipos e práticas. Não podemos aqui confundir com o terceiro setor do ponto de
vista econômico, ou também conhecido como setor terciário, que se caracteriza por
desenvolver as atividades de comércio da produção industrial, e por serviços, como
transportes, telecomunicações e energia.

“A expressão ‘terceiro setor’ pode considerar-se também adequada na medida


em que sugere uma terceira forma de propriedade entre a privada e a estatal, mas se
limita ao não estatal enquanto produção, não incluindo o não estatal enquanto controle”
(BRESSER-PEREIRA; GRAU, 1999, p. 16).

Pode-se notar que existe um problema de definição conceitual sobre o que


abrange o terceiro setor. “[...] o conceito de terceiro setor descreve um espaço de
participação e experimentação de novos modos de pensar e fazer sobre a realidade
social. É um campo marcado por uma irredutível diversidade de atores e formas de
organização” (CARDOSO, 1997 apud BRESSER-PEREIRA; GRAU, 1999, p. 37).

É importante levar em conta que a Organização Social é um tipo específico de


ator dentro do terceiro setor. Apesar disso, algumas características podem ser apontadas
como típicas das Organizações Sociais (BRESSER-PEREIRA; GRAU, 1999), que aqui são
listadas:

• iniciativas privadas que buscam suprir uma utilidade de ordem pública, ou seja, seus
fins são públicos;
• constituído em grande parte por voluntários. Isso quer dizer que alguns membros
devem trabalhar sem remuneração;
• sem fins lucrativos (o que não quer dizer que não haverá salário para alguns membros,
mas sim que o objetivo não é enriquecer);
• deve ser formalmente constituída. Isso não significa que deve necessariamente ser
uma instituição legalizada, mas sim possuir regras, procedimentos que assegurem a
existência e atuação da organização;
• a gestão é própria, não deve ser realizada por grupos externos;
• passar por processo de regulamentação nesses últimos anos.

Assim, pode-se afirmar que o terceiro setor não é público nem privado. Ele se
situa num entremeio, preenchendo lacunas do Estado através de uma atuação na esfera
privada. Assim, as organizações visam prestar serviços com fins de atender demandas

66
sociais em áreas como saúde, educação, cultura etc. Seu formato típico não é da
Organização Não Governamental (ONG), e sim do setor estatal e do setor privado, que
visam suprir as falhas do Estado e do setor privado no atendimento às necessidades da
população, numa relação conjunta. Entretanto, algumas organizações estão evitando
tal denominação, motivos explicados por Fischer e Falconer (1998, p. 4):

Esta característica pode ser observada quando se analisa a


adoção do termo ONG – Organização Não Governamental – pelas
entidades brasileiras. O termo foi adotado mais por influência dos
financiadores internacionais do que por uma tendência espontânea
das organizações brasileiras. Até, pelo contrário, muitas entidades
atualmente não aceitam esta denominação por considerá-la
restritiva, ou mesmo porque ela omite princípios e valores que lhe
são mais caros do ponto de vista ideológico, ou que, na sua opinião,
expressam com mais clareza sua missão institucional.

De fato, a imagem das Organizações Sociais colou nas ONGs, mas elas são, na
verdade, múltiplas e assumem vários formatos. Uma das críticas a essas organizações
seria sobre uma atuação que serviria apenas a fins privados, não abrangendo a dimensão
social da questão. Outro ponto seria sobre o enriquecimento de algumas organizações,
que obtinham lucro irregularmente. Entretanto, as organizações sociais se apresentam
como uma alternativa que, quando considerados todos os seus preceitos, funcionam
efetivamente junto à população.

3.1 HISTÓRICO
O surgimento das Organizações Sociais acontece no contexto de crise do
último quarto do século XX, a partir da proposta de Estado mínimo nos anos 1980 pelo
neoliberalismo, que significa a maior redução possível do Estado na economia, o que
significou um corte nos programas destinados ao apoio da população. Na década de
1990 essa proposta começa a se mostrar irreal e se inicia um retorno do Estado a uma
posição mais atuante.

O contexto foi agravado pela abertura do capitalismo na década de 1990 e pela


globalização. O processo de globalização e o fortalecimento das estruturas capitalistas
no mundo, com o fracasso dos sistemas socialistas, aumentam a competitividade entre
as empresas, que a partir deste momento não concorrem apenas com as nacionais,
mas com aquelas situadas em outras partes do mundo.

Assim, o Estado nacional teve dificuldade em proteger as empresas nacionais e


os seus trabalhadores, o que levou à crise. “Esta crise levou o mundo a um generalizado
processo de concentração de renda e a um aumento da violência sem precedentes,
mas também incentivou a inovação social na resolução dos problemas coletivos e na
própria reforma do Estado” (BRESSER-PEREIRA; GRAU, 1999, p. 15).

67
Uma dessas inovações refere-se justamente ao fortalecimento do controle
social através do público não estatal. Isso a tal ponto que se pode afirmar que o século
XXI é o momento em que o público não estatal torna-se chave para a manutenção
da vida social. Outro ponto que fortalece é a visão dessas organizações como espaço
possível para a prática da cidadania, tornando efetiva a democracia participativa.

No Brasil, existem algumas particularidades sobre o histórico dessas


organizações. Na verdade, desde o período militar, em meados do século XX, o Estado
brasileiro realizou intervenção maciça na economia. Na década de 1990 esse modelo
começou a ser criticado, algumas críticas em direção do desvio da função do papel do
Estado, outras em direção do gasto gerado por essa atuação. Na década de 1990 surge,
de fato, uma reação a essa conjuntura: “Só em meados dos anos 90 surge uma resposta
consistente com o desafio de superação da crise: a ideia da reforma ou reconstrução do
Estado, de forma a resgatar sua autonomia financeira e sua capacidade de implementar
políticas públicas conjuntamente com a sociedade” (BRASIL, 1997a, p. 8).

Desta forma, o Estado inicia um processo de repensar o desenvolvimento. Ele


toma para si outros papéis, o de promotor e regulador do desenvolvimento, deixando
de se responsabilizar diretamente, como o fazia antigamente. Nesse sentido, por um
lado, ele deixa a função de prestador direto de serviços sociais, principalmente saúde e
educação, para assumir a sua regulação. Por outro lado, enquanto promotor, ele oferece
subsídios a esses novos atores que assumirão essa atuação direta (BRASIL, 1997b).

Nesse contexto, surgem as Organizações Sociais, figura fundamental para o


processo da reforma do Estado. O Estado, na verdade, fomenta esse novo ator. Ainda está
em curso essa troca de atores, da saída do Estado para a ocupação das Organizações
Sociais, que foi impulsionada pela regularização da sua atuação promovida na última
década.

3.2 REALIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL


Possuir um título de Organização Social no Brasil, atualmente, garante o
recebimento de benefícios do Estado, que abrangem dotações orçamentárias, isenções
fiscais, subsídios etc. Reiterando que as Organizações Sociais devem atender a uma
demanda específica da comunidade.

Elas se fazem presentes atualmente na gestão de hospitais, santas casas,


museus, institutos de fomento à pesquisa, de projetos voltados a algumas áreas
específicas (saúde e cultura, esporte, no caso de alguns estados), manutenção de
grupos (como a Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).

68
FIGURA 7 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO – ODM

FONTE: Disponível em: <http://www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-milenio>.


Acesso em: 7 dez. 2017.

Essas Organizações Sociais realizam a gestão do espaço público e querem


melhorar a vida das pessoas, e, por consequência, a sociedade como um todo.

O espaço continua sendo público, ou seja, do Estado, mas quem administra os


recursos, os negócios e as pessoas? Isso significa dizer que a associação de um museu
faz desde a gestão dos funcionários que ali trabalham até o controle da bilheteria,
programação cultural, peças e curadoria das peças.

O Estado de São Paulo foi pioneiro na implantação do sistema na área de saúde.


A seleção envolve uma convocatória pública exigindo a experiência mínima na área de
gerenciamento. Esse método visa garantir que entidades sólidas assumam a frente das
instituições e o sucesso do modelo.

O trabalho e o estudo são compreendidos como essenciais para humanizar o


indivíduo. Além disso, o trabalho principal é aquele que provê os meios de vida. Já o estudo
é responsável pelo desenvolvimento humano. São eles que transformam as pessoas e
a sua realidade (SCHERER-WARREN, 2000). Nesse sentido, há um intenso investimento
na educação dentro dos acampamentos, não financeiro, mas de conhecimento humano
através de parcerias com universidades e capacitação constante dos professores.
Assim, o Movimento Sem-Terra amplia sua dimensão de atuação:

O objetivo material imediato (a terra) ‘não basta’, como dizem, deve


vir acompanhado de lutas pelos direitos sociais (a cidadania plena) e
em direção à construção de uma sociedade mais justa (a socialista).
Para atingir este objetivo é que a educação, considerada como um
direito essencial, deve se desenvolver como um processo que inclui
educação formal (ensino fundamental) e informal (participação
no movimento, nas mobilizações, em ações de solidariedade etc.),
incluindo neste processo todas as gerações e gêneros (SCHERER-
WARREN, 2000, p. 48).

69
Segundo avaliação da experiência de São Paulo pelo Banco Mundial em 2006
(apud CAMARGO et al., 2013), a solução gerou uma experiência de modernização
positiva em relação ao modelo anterior, mais produtiva e barata. Entretanto, há muitas
críticas na proposta, a primeira seria o desvio de função, com alta probabilidade de as
organizações passarem a atuar para fins privados; segundo, que há pouca transparência
na sua atuação em relação à disponibilidade de informações (CAMARGO et al., 2013).
Isso não apenas por parte das organizações, como também a postura do próprio Estado.

4 AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS


No Brasil, as Organizações Não Governamentais (as ONGs) surgem no país no
contexto da entrada da sociedade civil de forma orgânica, quer dizer, da sua participação
efetiva nos rumos do país através da política. Isso acontece nas últimas décadas do
século XX, ou seja, pouco mais de 20 anos.

Entretanto, qual seria de fato o espaço ocupado pelas ONGs em relação à


sociedade civil na atualidade? Elas atuam politicamente? “[...] no Brasil, temas como
direitos humanos, meio ambiente e fome têm tido como porta-voz, em grande parte,
um conjunto de ONGs, que toma a iniciativa diante do Estado, propondo políticas
diretamente ao Poder Executivo ou pressionando o Congresso Nacional para aprovações
de leis” (PINTO, 2006, p. 654).

Exercendo o papel de pressionar governantes, as ONGs tratam de temas


relativos a grupos e questões não trabalhadas sistematicamente, entre outras formas
de atuação política. Como exemplo, podemos citar a questão do meio ambiente. Dentro
das plataformas dos partidos, recentemente a discussão surgiu, e mesmo assim algo
ainda raso, que não compreende o problema de forma profunda.

IMPORTANTE
É interessante pensar que quem começa com as discussões ambientais são as ONGs. Na
Amazônia, não se sabe ao certo o número de ONGs que atuam. As informações variam de
1.000 a 100.000. Abaixo, seguem os símbolos de algumas delas.

70
Outros temas relativos a grupos minoritários no país, como sobre as mulheres,
direitos homoafetivos, indígenas, moradores de rua, são sistematicamente trabalhados
e elaborados pelas ONGs. É bom esclarecer que as vozes desses grupos não são
substituídas pelas ONGs, mas elas servem como intermediadoras na realização de
projetos e sistematização das demandas, já que possuem uma preocupação maior em
termos de organização que os movimentos sociais (PINTO, 2006). Dentro das ONGs
também atuam indivíduos pertencentes a essas minorias, não existe uma fronteira, mas
uma integração.

No que concerne às formas como as ONGs se movem no espaço


público, vale chamar a atenção para o potencial de construção
de redes, abrangendo os espaços locais, regionais e globais,
como também as potencialidades de incluir, nessas redes, desde
organizações internacionais, como as do sistema ONU e fundações
financiadoras, até grupos semimarginalizados em bairros da periferia
das grandes cidades. A noção de rede em relação às ONGs pode
ser pensada de duas formas: uma é a rede entre ONGs incluindo
também os movimentos sociais, na qual cada organização é ponto
de transmissão para outras, maiores ou menores, locais ou globais.
Outra forma de pensar a rede é como um espaço tridimensional
onde as ONGs funcionam não apenas como pontos de transmissão,
mas como pontos nodais, que acumulam e distribuem informações,
acumulam poder, credenciam-se como representantes fazendo a
ligação entre o Estado e a sociedade em geral (PINTO, 2006, p. 658).

Dessa forma, as ONGs adquirem poder, conseguem estabelecer pontes entre


diferentes grupos. Por um lado, isso é positivo, pois elas conseguem fazer ressoar as
vozes daqueles que pouco seriam ouvidos e colocar suas demandas aos governos.
Por outro lado, esse poder pode ser perigoso, quando as populações apoiadas por
essas ONGs passam a depender de sua atuação, ou seja, as ONGs podem desenvolver
territórios de domínio, não estimulando a prática da cidadania e a busca dos direitos por
si mesmo, mas uma dependência de sua atuação.

O fato é que as ONGs possuem na realidade brasileira contemporânea uma


atuação política real e que conseguem pressionar o governo por uma atuação mais
social. O espaço significa uma atuação política potencial, mas não existem limites das
ações. Elas “não podem ser vistas de maneira simplista, como substitutas de partidos
políticos, do Estado ou mesmo dos movimentos sociais. Suas ações têm limites, entre
eles o fato de serem fragmentadas, atingirem o conjunto da sociedade de forma limitada
e dependerem de financiamentos pontuais” (PINTO, 2006, p. 667).

DICAS
O diretor Sergio Bianchi desenvolve uma crítica sobre a atuação das ONGs
no Brasil. Busque e assista!

71
O que se espera de uma sociedade que se vê desafiada pelos seus indivíduos é
que ela seja capaz de:

• orientar as pessoas e os recursos materiais e financeiros para a promoção humana;


• manter uma atitude crítica frente às propostas políticas vigentes;
• vivenciar o espírito de partilha e ajuda mútua na comunidade educativa;
• realizar campanhas comunitárias diante das situações emergentes.

A participação ativa e efetiva das pessoas na vida política e social é um grande


desafio, pois tem como objetivo externar a cidadania que todos almejam. O que ainda
vemos é que conceitos como cidadania, os direitos e deveres do cidadão, algo que
deveria estar entranhado em nossas vidas, não são tão conhecidos, muito menos
praticados em nossa sociedade. São só conceitos.

72
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Tradicionalmente, as organizações são pensadas e divididas a partir de uma lógica


política administrativa que dirige a organização, partindo de dois pontos: de ordem
pública, ou de ordem privada.

• O surgimento das Organizações Sociais acontece no contexto de crise do último


quarto do século XX.

• Exercendo um papel de pressão, as ONGs tratam de temas relativos a grupos e


questões não trabalhadas sistematicamente, entre outras formas de atuação política.

• A participação ativa e efetiva das pessoas na vida política e social é um grande


desafio, como forma de externar a cidadania que todos almejam.

73
AUTOATIVIDADE
1 Os direitos humanos são compartilhados por todos os indivíduos,
contudo, a charge mostra a violação deles em um período específico
da história brasileira: a ditadura militar. A personagem, através de
uma fala irônica, narra fatos que aconteceram na época. A partir
desse contexto, analise as sentenças a seguir:

I- A charge mostra a violação do direito à vida por conta das perseguições e mortes
ocorridas.
II- Segundo a charge, os direitos humanos são respeitados universalmente em todos
os períodos da história.
III- A charge mostra um contexto histórico de grandes liberdades para o indivíduo se
expressar, apesar das perseguições narradas.
IV- A charge mostra a violação do direito à liberdade, tanto pela perseguição aos
indivíduos como pela censura da imprensa e intelectuais.

FONTE: Disponível em: <http://historianovest.blogspot.com/2010/07/charges-declaracao-dos-direitos-hu-


manos.html>. Acesso em: 3 fev. 2014

74
Agora, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença IV está correta.
b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.

2 Com os protestos de junho de 2013, veio à tona a insatisfação


popular quanto aos rumos como a política no Brasil está sendo
gestada. Entretanto, deve-se ter conhecimento dos espaços e
atores políticos para além do governo que aproximam a sociedade
civil de uma ação mais contundente. Sobre o tema, associe os itens, utilizando
o código a seguir:

I- Conferências de Políticas Públicas.


II- Organização Social.
III- Organização Não Governamental (ONG).

( ) Cuidam de grande parte de temas referentes às minorias, ou seja, os indígenas, as


mulheres, os homoafetivos.
( ) Debatem políticas públicas, sendo imprescindível a participação popular.
( ) Realizam a gestão de espaços públicos, como hospitais, museus.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) III - I - II.
b) ( ) I - II - III.
c) ( ) II - III - I.
d) ( ) III - II - I.

75
76
UNIDADE 1 TÓPICO 5 -
CULTURA E ARTE

1 INTRODUÇÃO
A cultura e a arte são áreas que interagem entre si e com as demais áreas
de conhecimento. Estudar, pesquisar e refletir sobre as diferentes culturas e suas
manifestações artísticas possibilita a compreensão da vida e das relações entre os
sujeitos no meio social. A cultura, assim como a arte, é dinâmica, vai mudando conforme
o tempo e o espaço. A cultura e a arte devem ser estudadas a partir de três concepções:
erudita, popular e de massa.

A cultura erudita é aquela proveniente de estudos, pesquisas e que geralmente


está associada às instituições acadêmicas, por se tratar de um processo de legitimação.
A arte está associada a esta área, pois envolve a compreensão de conhecimentos
artísticos, históricos, filosóficos e sociais. Assim, a arte erudita, também conhecida como
a de vanguarda, é concebida conhecendo lugares como galerias de arte, exposições e
museus, bem como toda a estrutura e dinâmica de mediação que ocorrem entre os
locais e o espectador, propondo humanização dos sentidos.

Já a cultura de massa surge com as novas tecnologias e com os meios de


comunicação, como: jornais, televisão, rádio, cinema, música, internet, entre outros.
A cultura de massa tem relação com o consumismo, devido à influência que a mídia
exerce. A arte está relacionada à cultura de massa, devido à tecnologia utilizada e à
grande quantidade de signos criados.

E, por último, a cultura popular, que está relacionada ao que pertence à maioria
do povo e que não é ensinada necessariamente em espaços formais de educação.
É a definição de várias áreas de conhecimento, como: folclore, dança, música, festa,
literatura, arte, artesanato etc. O conhecimento da cultura popular é passado de geração
a geração.

Desta forma, caro acadêmico, convidamos você para primeiramente compreender


a cultura e a arte e como essas áreas de conhecimento interagem com o meio social.

2 CULTURA
A cultura é um aspecto social mutante em constante questionamento, pois é
considerada por muitos pesquisadores como representação da intervenção da sociedade
nos ambientes, sendo por isso difícil de conceituar. Para José Luiz dos Santos (2006, p. 45):

77
Cultura é uma construção histórica, seja como concepção, seja como
dimensão do processo social. Ou seja, a cultura não é algo natural,
não é decorrência de leis físicas e biológicas. Ao contrário, a cultura
é produto coletivo da vida humana. Isso se aplica não apenas à
percepção da cultura, mas também à sua relevância, à importância
que passa a ter. Aplica-se ao conteúdo de cada cultura particular,
produto da história de cada sociedade. Cultura é um território bem
atual das lutas sociais por um destino melhor. É uma realidade e uma
concepção que precisam ser apropriadas em favor do progresso
social e da liberdade, em favor da luta contra a exploração de uma
parte da sociedade por outra, em favor da superação da opressão e
da desigualdade.

Nesta perspectiva, a cultura é avaliada como um movimento humano que


acontece a partir da convivência em grupo e da interação social. Portanto, é necessário
percebermos as especificidades de cada grupo cultural, para assim observar e descobrir
os signos existentes em busca da identidade de cada povo.

São os valores culturais que identificam um povo, uma comunidade e cada


pessoa. É através da cultura que se pode observar e caracterizar a história de vida, os
costumes, as crenças e os hábitos de um determinado grupo social.

José Luiz dos Santos (2006, p. 7) descreve que a cultura é uma preocupação do
mundo atual, buscando “entender os caminhos que conduziram os grupos humanos às
suas relações presentes e suas perspectivas de futuro”. O autor, quando relata cultura e
diversidade, descreve que:

O desenvolvimento da humanidade está marcado por contatos


e conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de
se apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber
a realidade e expressá-la. A história registra com abundância as
transformações por que passam as culturas, mais frequentemente
por ambos os motivos. Por isso, ao discutirmos sobre cultura,
temos sempre em mente a humanidade em toda a sua riqueza e
multiplicidade de formas de existência. São complexas as realidades
dos agrupamentos humanos e as características que os unem e
diferenciam, e a cultura as expressa.

Nesse sentido, Eduardo David de Oliveira (2006, p. 155) se manifesta dizendo


que “o homem é um ser cultural. A cultura é construída, forjada de acordo com os
acontecimentos da história e criada a partir das contingências, sempre muito singulares,
das comunidades humanas”.

A compreensão de cultura é extremamente complexa, pois recebe novas


definições com o passar do tempo, mas a partir da segunda metade do século XX cria-
se uma concepção ampliada de cultura, como descreve Marilena Chauí (2008, p. 57):

78
A partir de então, o termo cultura passa a ter uma abrangência que
não possuía antes, sendo agora entendida como produção e criação
da linguagem, da religião, da sexualidade, dos instrumentos e das
formas do trabalho, das formas da habitação, do vestuário e da
culinária, das expressões de lazer, da música, da dança, dos sistemas
de relações sociais, particularmente os sistemas de parentesco ou
a estrutura da família, das relações de poder, da guerra e da paz, da
noção de vida e morte. A cultura passa a ser compreendida como
o campo no qual os sujeitos humanos elaboram símbolos e signos,
instituem as práticas e os valores, definem para si próprios o possível
e o impossível, o sentido da linha do tempo (passado, presente e
futuro), as diferenças no interior do espaço (o sentido do próximo
e do distante, do grande e do pequeno, do visível e do invisível), os
valores como o verdadeiro e o falso, o belo e o feio, o justo e o injusto,
instauram a ideia de lei, e, portanto, do permitido e do proibido,
determinam o sentido da vida e da morte e das relações entre o
sagrado e o profano.

Na perspectiva de cultura como aprendizagem de saberes cotidianos é


fundamental que se traga a posição de Waldenyr Caldas (1986, p. 13), ao dizer que o
pensamento humano cria o modo de vida, os costumes e as regras, dizendo que a
cultura:

Quando aplicada ao nosso estilo de vida, ao convívio social, nada tem


a ver com a leitura de um livro ou aprender a tocar um instrumento,
por exemplo. Na realidade, o trabalho do antropólogo, estudioso da
cultura humana, começa pela investigação de culturas, ou seja, pelo
modo de vida, padrões de comportamento, sistema de crenças, que
são características de cada sociedade. Noutras palavras, pode-se
dizer que nenhuma sociedade, nenhum povo, seja ele atrasado ou
desenvolvido, primitivo ou civilizado, jamais agirá de forma idêntica
aos demais. Poderá haver, isto sim, algumas semelhanças.

A cultura pode ser entendida como importante agente para debater o estar
e ser no mundo, que é entendido como um movimento que está intimamente ligado
a tudo e a todos os aspectos sociais, culturais, históricos e filosóficos. Segundo José
Luiz dos Santos (2006, p. 8), “cada realidade cultural tem sua lógica interna, que
devemos conhecer para que façam sentido suas práticas, costumes, concepções e as
transformações pelas quais passam”.

79
AUTOATIVIDADE
Analise e responda esta questão da prova ENADE 2007:

Jornal do Brasil, 3 ago. 2005.

Tendo em vista a construção da ideia de nação no Brasil, o argumento da


personagem expressa:

a) ( ) A afirmação da identidade regional.


b) ( ) A fragilização do multiculturalismo global.
b) ( ) O ressurgimento do fundamentalismo local.
d) ( ) O esfacelamento da unidade do território nacional.
e) ( ) O fortalecimento do separatismo estadual.

Cada povo, cada região tem suas especificidades culturais que compreendem
a sua forma de pensar e de agir, evidenciando a diversidade cultural existente. A partir
da diversidade cultural compreende-se a identidade cultural de cada povo. Para Oliveira
(2006, p. 84): “a identidade se constrói com relação à alteridade. Com aquilo que não sou
eu. É diante da diferença do outro que a minha diferença aparece”. Diferentes nações,
etnias, identidades regionais, comunidades ou outros tipos de grupos sociais organizam
e dão sentido à sua existência.

O Brasil, por exemplo, apresenta uma diversidade cultural ampla, pois é resultado
de uma miscigenação étnica e cultural, principalmente dos povos indígenas, africanos e
europeus. Esta miscigenação se dá devido ao processo histórico que ocorreu no Brasil.

Assim, a educação no Brasil estabeleceu, nas diretrizes e bases da educação


nacional, a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena no
currículo escolar da educação básica. A lei tem como propósito o conhecimento desses
dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos

80
negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira, o negro e
o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas
social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), em seu documento, também


descrevem sobre Pluralidade Cultural, explicando que o estudo das diferentes
culturas deve contribuir para a formação de uma nova mentalidade, onde toda forma
de discriminação e exclusão seja superada, proporcionando ao povo brasileiro “uma
vivência plena de sua cidadania” (BRASIL, 1997, p. 13).

Tal perspectiva vem ao encontro da necessidade de ampliar o conhecimento


cultural, com o propósito de banir aspectos de enxergar apenas a sua cultura específica.
A partir da concepção de que o ser humano apenas considera o seu modo de vida como
o “mais correto” e “melhor”, assim, ele age em uma lógica do etnocentrismo. De acordo
com Meneses (1999, p. 13):

Etnocentrismo é um preconceito que cada sociedade ou cada


cultura produz, ao mesmo tempo em que procura incutir, em seus
membros, normas e valores peculiares. Se sua maneira de ser e
proceder é a certa, então as outras estão erradas, e as sociedades
que as adotam constituem ‘aberrações’. Assim, o etnocentrismo
julga os outros povos e culturas pelos padrões da própria sociedade,
que servem para aferir até que ponto são corretos e humanos os
costumes alheios. Desse modo, a identificação de um indivíduo com
sua sociedade induz à rejeição das outras.

Por meio do conhecimento da diversidade cultural é possível distanciar


pensamentos etnocêntricos que promovem o preconceito. Entende-se que conhecendo
a cultura do outro em um contexto de diversidade pode-se identificar e valorizar cada
movimento cultural de forma a promover uma vivência plena com respeito e ética social.
Entende-se que conhecendo a cultura do outro em um contexto de diversidade se pode
identificar e valorizar cada movimento cultural, de forma a distanciar preconceitos e
desigualdades.

3 ARTE
“A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas,
como se sente que são”. (Fernando Pessoa, 1986)

Desde a pré-história o ser humano está cercado de fenômenos artísticos, como


desenho, gravura, pintura, dança, escultura, música, literatura, entre outros. Atualmente,
percebe-se uma grande variedade de práticas artísticas que permeiam o universo
cultural, que circundam entre as várias linguagens artísticas, como: artes visuais, artes
cênicas, dança e música. Ao refletir sobre a arte, alguns questionamentos surgem: O
que é arte? Que tipo de arte conhecemos? A arte tem alguma função?

81
O homem primitivo, por exemplo, precisou criar objetos que correspondessem
às suas necessidades de sobrevivência, representando por meio de desenhos nas
cavernas os seus anseios para suas caçadas. A partir da concepção de arte primitiva,
Marilena Chauí (2008, p. 403) questiona sobre o “que dizem os desenhos nas paredes
da caverna”. A autora afirma que “o mundo é visível, e para ser visto é que o artista dá
a ver o mundo”. Com isso, a arte inicialmente teve aspecto de utilidade, mas com o
passar do tempo, os utensílios e as representações começaram a ser criados pelo prazer
em si, desvinculando da ideia unicamente de utilidade. Assim, a arte surge com novas
compreensões, como cita Marilena Chauí (2003, p. 406-407):

A distinção entre artes da utilidade e artes da beleza acarretou uma


separação entre técnica (o útil) e arte (o belo), levando à imagem da
arte como ação individual espontânea, vinda da sensibilidade e da
fantasia do artista como gênio criador. Enquanto o técnico é visto
como aplicador de regras e receitas vindas da tradição ou da ciência,
o artista é visto como dotado de inspiração, entendida como uma
espécie de iluminação interior e espiritual misteriosa, que leva o
gênio a criar a obra.

O belo para a arte passa a ser concebido pela experiência artística. A partir da
abordagem do belo ou juízo do gosto, a arte também é estudada por uma disciplina
filosófica que é conhecida como estética. A palavra estética é a tradução da palavra
grega aesthesis, que significa conhecimento sensorial, experiência e sensibilidade. A
estética estuda as sensações que a arte provoca no ser humano, desde sensações boas
até sensações que causam desconforto, inquietude, aflição etc.

A partir das manifestações artísticas criadas desde a pré-história até


a contemporaneidade, percebe-se que diferentes povos culturais criam suas
particularidades artísticas, como é o caso, por exemplo, das culturas indígenas. Os
povos indígenas, devido aos saberes ancestrais, se apropriam de elementos da sua
etnia para conceber o belo por meio das manifestações culturais. A pintura corporal dos
povos indígenas tem representação ritualística, desta forma, cada sociedade assume
um significado artístico diferente, como é o caso da pintura corporal na atualidade, que
é representada pela tatuagem, e esta tem apenas o significado de decorar.

A arte tem inúmeras possibilidades de definição, pois se compreende como uma


manifestação dinâmica, onde são atribuídos conceitos no tempo e espaço.

A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma
transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um
mundo outro – mais bonito ou mais intenso ou mais significativo, ou
mais ordenado – por cima da realidade imediata [...]. Naturalmente,
esse mundo do outro que o artista cria ou inventa nasce de sua
cultura, de sua experiência de vida, das ideias que ele tem na cabeça,
enfim, de sua visão de mundo [...] (GULLAR, 1982 apud CHAUÍ, 2003,
p. 271).

82
A palavra arte deriva do latim ars, artis, que significa profissão ou habilidade
natural ou adquirida. Também corresponde ao termo grego tékhne, “técnica”, que
significa “toda atividade humana submetida a regras em vista da fabricação de alguma
coisa” (CHAUÍ, 2003, p. 275). Este conceito também se tem na cultura greco-romana,
que significava ofício. Assim, a primeira definição da arte estava ligada ao propósito de
fazer ou produzir. A segunda definição de arte é compreendida como conhecimento,
visão ou contemplação, isto significa que a obra pode retratar aspectos históricos,
sociais e educativos. Já a terceira definição está ligada à arte como expressão, que é
uma experiência com o sensível.

A partir dessas abordagens, percebe-se que é difícil um conceito definitivo para


responder o que é arte, pois a arte se transforma, se modifica de acordo com o contexto
cultural no qual está inserida.

A obra Mona Lisa, criada pelo artista do Renascimento Leonardo da Vinci, é


tida como um exemplo de obra de arte que é conhecida por grande parte da população
mundial. Seu misterioso sorriso é pesquisado e admirado por muitos.

FIGURA 8 – LEONARDO DA VINCI. MONA LISA. 1503–1507

Óleo sobre madeira de álamo, color. 77 cm x 53,5 cm. Museu do Louvre, Paris.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa#/media/File:Mona_Lisa,_by_Leonardo_da_
Vinci,_from_C2RMF_retouched.jpg>. Acesso em: 20 maio 2015.

83
Séculos depois de Leonardo da Vinci, o artista do movimento artístico Dadaísmo,
Marcel Duchamp, atuou como um dos maiores expoentes da vanguarda artística
do século XX. Duchamp reproduziu a obra original Mona Lisa em cartões postais,
desenhando na imagem um bigode e escrevendo embaixo da mesma: L.H.O.O.Q. A obra
do artista Duchamp não se trata de uma ofensa à obra original, mas uma brincadeira
irônica com reverência aos antigos mestres da pintura.

FIGURA 9 – MARCEL DUCHAMP. MONA LISA (L.H.O.O.Q). 1919. READY-MADE CERTIFICADO

Lápis sobre produção fotográfica. Color; 17,8 cm x 12 cm. Coleção privada.


FONTE: Disponível em: <http://museuhoje.com/app/v1/br/arte/55-marcelduchamp>. Acesso em: 20 maio 2015.

Foi com o princípio de repensar o sentido de arte do seu tempo que Duchamp
colocou em questão o que seria arte. Isso leva a pensar que conceituar arte não é
definitivo, uma vez que cada um pode conceber a obra de uma forma.

Chauí (2003, p. 403) descreve que “a obra de arte dá a ver, a ouvir, a sentir,
a pensar, a dizer. Nela e por ela, a realidade se revela como se jamais a tivéssemos
visto, ouvido, sentido, pensado ou dito”. Assim, para a autora (2003, p. 407), as artes na
atualidade tornam-se:

84
Trabalho da expressão e mostram que, desde que surgiram
pela primeira vez, foram inseparáveis da ciência e da técnica.
Assim, por exemplo, a pintura e a arquitetura da Renascença são
incompreensíveis sem a matemática e a teoria da harmonia e das
proporções; a pintura impressionista, incompreensível sem a física e
a óptica, isto é, sem a teoria das cores etc. A novidade está no fato
de que, agora, as artes não ocultam essas relações, os artistas se
referem explicitamente a elas e buscam nas ciências e nas técnicas
respostas e soluções para problemas artísticos.

Nesta abordagem, a arte parte para a construção de um sentido novo (a obra)


e o institui como parte da cultura. Segundo Chauí (2008, p. 329), “o artista é um ser
social que busca exprimir seu modo de estar no mundo na companhia dos outros seres
humanos, reflete sobre a sociedade, volta-se para ela, seja para criticá-la, seja para
afirmá-la, seja para superá-la”.

A obra Guernica, pintada pelo artista do Cubismo, Pablo Picasso, propaga o


sentido da arte enquanto expressão, pois revela na obra o sentido da dor, do belo, do
terrível, do sublime, ou seja, mostra por meio da arte o sentido da cultura e da história na
vida em sociedade. Essa obra retratou o bombardeio que a cidade espanhola Guernica
sofreu por aviões alemães.

FIGURA 10 – PABLO PICASSO. GUERNICA. 1937

Pintura a óleo. 349 cm x 776 cm. Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Guernica_%28quadro%29#/media/File:Mural_del_Ger-
nika.jpg>. Acesso em: 20 maio 2015.

Nota-se que a arte é uma ciência do conhecimento que representa um elo entre
o passado, o presente e o futuro, pois demonstra o pensar, o agir e todos os aspectos
culturais existentes desde o homem primitivo até o homem contemporâneo.

85
A arte pertence à cultura erudita, que são as artes desenvolvidas a partir de um
conhecimento acadêmico, são aquelas que estão dentro de lugares como galerias de
arte e museus, mas também, a arte faz parte da cultura popular, e este conhecimento
popular é reconhecido como patrimônio cultural. Para Suíse Monteiro Leon Bordest:

O patrimônio cultural de um povo é formado pelo conjunto dos


saberes, fazeres, expressões, práticas e seus produtos, que remetem
à história, à memória e à identidade de um povo. A preservação
do patrimônio cultural significa, principalmente, cuidar (reproduzir
sempre e os manter vivos) dos bens aos quais esses valores estão
associados, ou seja, cuidar de bens representativos da história
e da cultura de um lugar ou de um grupo social. A Constituição
brasileira de 1988, em seus artigos 215 e 216, ampliou a noção de
patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens culturais
de natureza material e imaterial e, também, ao estabelecer outras
formas de preservação – como o registro e o inventário – além do
tombamento, instituído pelo Decreto nº 25, de 30 de novembro
de 1937, que determina especialmente a proteção de edificações,
paisagens e conjuntos históricos urbanos. O patrimônio imaterial
cuida da preservação dos bens culturais de natureza imaterial, como
os ofícios e saberes artesanais, as maneiras de pescar, caçar, plantar,
cultivar e colher, de utilizar plantas como alimentos e remédios, de
construir moradias, mas também manifestos através das danças
e músicas, incluindo também os modos de vestir e falar, os rituais
e festas religiosas e populares, as relações religiosas, sociais e
familiares que revelam os múltiplos aspectos da cultura cotidiana de
uma comunidade (apud IPHAN/MinC, 2012).

Nos dias atuais a arte contemporânea está associada à indústria cultural,


apropriando-se da tecnologia e das interferências da mídia, fazendo parte da cultura
de massa. Os meios de comunicação, como a televisão, fotografia, cinema, internet,
rádio e redes sociais fazem com que o conhecimento artístico seja divulgado com maior
facilidade e rapidez, de forma acessível a grande parte da população.

A arte na atualidade ou arte contemporânea, que surgiu mais intensamente a


partir de 1960, busca romper com aspectos tradicionais da arte. A arte contemporânea
passa a ser pensada como integrante da vida e do mundo, em que é concebida em
lugares formais e informais, buscando a participação do público. Tem como característica
a apropriação de materiais e objetos encontrados no cotidiano. Neste sentido, a obra
tem um tempo de duração determinado.

A artista canadense Jana Sterbak fez uma exposição, em 1987, causando


polêmica por mostrar que o corpo humano, por mais bem vestido e arrumado que esteja,
não passa de carne e osso.

86
FIGURA 11 – JANA STERBAK, VANITAS. VESTIDO DE CARNE PARA ALBINO ANORÉXICO.1987

FONTE: Disponível em: <http://performatus.net/jana-sterbak/>. Acesso em: 20 maio 2015.

A arte contemporânea proporcionou aos artistas maior liberdade de criação,


sendo que ampliou o conceito das linguagens artísticas do que pode ou não ser
considerado como arte. Desta forma, podemos dizer que a arte contemporânea é uma
arte conceitual, pois a ideia proposta pelo artista é mais importante que o objeto em si,
valorizando a experiência que irá causar no público. Desta forma, pode-se pensar a arte
na atualidade como uma área do conhecimento em uma relação com a natureza, com
a realidade urbana e com o mundo tecnológico. Com isso surgem diferentes linguagens
contemporâneas que se articulam, como a pintura, gravura, escultura, desempenho,
happening, instalação, assemblage, ready-made, fotografia, literatura, video-art, body-
art, land-art etc.

87
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Estudar, pesquisar e refletir sobre as diferentes culturas e suas manifestações


artísticas possibilita a compreensão da vida e das relações entre os sujeitos no meio
social. A cultura e a arte devem ser estudadas a partir de três concepções: erudita,
popular e de massa.

• A cultura, assim como a arte, é dinâmica, vai mudando conforme o tempo e espaço,
e são duas áreas de conhecimento de difícil definição, porém elas interagem entre si
e com as demais áreas de conhecimento.

• A cultura é considerada como um movimento humano decorrente da convivência em


grupo e da interação social. Portanto, é necessária a percepção das especificidades
de cada grupo cultural, para com elas observar e descobrir os signos existentes em
busca da identidade de cada povo.

• É por meio do conhecimento e da valorização da cultura que se pode observar


e caracterizar a história de vida, os costumes, as crenças e os hábitos de um
determinado grupo social a fim de distanciar preconceitos e desigualdades.

• A arte tem sua definição a partir de três concepções: do fazer, do conhecimento e da


experiência com o sensível. A arte pode ser representada por meio das artes visuais,
artes cênicas, música e dança.

88
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE – 2008, questão 1) O filósofo alemão Friedrich Nietzsche
(1844-1900), talvez o pensador moderno mais incômodo e
provocativo, influenciou várias gerações e movimentos artísticos. O
Expressionismo, que teve forte influência desse filósofo, contribuiu
para o pensamento contrário ao racionalismo moderno e ao trabalho mecânico
através do embate entre a razão e a fantasia. As obras desse movimento deixam
de priorizar o padrão de beleza tradicional para enfocar a instabilidade da vida,
marcada por angústia, dor, inadequação do artista diante da realidade. Das
obras a seguir, a que reflete esse enfoque artístico é:

A B C

Homem idoso na poltrona. Rem- Figura e borboleta. Milton O grito. Edvard Munch, Oslo.
brandt van Rijn – Louvre, Paris. Dacosta. Disponível em: <http://members.
Disponível em: <http://www. Disponível em: <http://www. cox.net>.
allposters.com>. unesp.br>.

C D

Menino mordido por um lagarto. Abaporu. Tarsila do Amaral.


Michelangelo Merisi (Caravaggio), Disponível em: <http://tarsilado
National Gallery, Londres. amaral.com.br>.
Disponível em: <http://vr.theatre.ntu.
edu.tw>.
89
90
UNIDADE 2 —

POLÍTICA, TECNOLOGIA
E GLOBALIZAÇÃO: OS
IMPACTOS SOBRE A
SOCIEDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender os fundamentos e concepções sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade;

• ampliar a percepção acerca das relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade;

• conceber as tecnologias da informação e comunicação como fator determinante no


advento da sociedade da informação;

• contribuir para o debate sobre a sociedade da informação;

• compreender as práticas de inovação, as comunidades virtuais e seus impactos e


conhecer novidades tecnológicas existentes;

• compreender o processo político, social e histórico contemporâneo;

• refletir sobre relações de trabalho.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoa-
tividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE


TÓPICO 2 – TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
TÓPICO 3 – AVANÇOS TECNOLÓGICOS
TÓPICO 4 – GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL
TÓPICO 5 – RELAÇÕES DE TRABALHO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

91
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

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92
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E
AMBIENTE

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, para adentrarmos nos assuntos relacionados à Ciência,
Tecnologia e Sociedade é necessário entendermos os fundamentos de cada tema, e,
somente então, relacionarmos com o todo. Desta forma, convidamos você a discutir
ciência sob diferentes óticas, analisar definições e pensamentos acerca da tecnologia e
interpretar a sociedade.

Abordaremos algumas relações sobre ciência e tecnologia, tratando do contrato


de neutralidade dessa parceria; trataremos ainda do processo de análise da evolução
da sociedade sob algumas perspectivas; para, assim, analisar a entrada da participação
da sociedade nas discussões da já vencida parceria ciência e tecnologia. Somente
então abordaremos a nova formatação da CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) com
embasamento nas discussões levantadas pelo trabalho dos pesquisadores Milton
Santos e Wiebe Bijker. E para finalizar, algumas considerações acerca de modernidade,
pós-modernidade e globalização.

2 CIÊNCIA
Entender eventos, situações ou fatos novos é sempre uma tarefa fácil para você?
Se fosse designado para a incrível tarefa de defender um determinado episódio, como
você procederia? Essas indagações fazem-se necessárias para que ampliemos nossos
horizontes sobre o fato de que as pessoas constroem formas próprias para compreender
a realidade, seja observando pelo viés cultural, histórico, geográfico, ambiental.

A mitologia, a arte, a religião e até mesmo a ciência são observadas quando o


foco é explicar as situações que cercam os seres humanos. Você, com certeza, já deve
ter ouvido sobre Isaac Newton! Não se recorda? E sobre Isaac Newton e a história da
maçã que caiu sobre a cabeça dele, originando assim a teoria da gravidade? Ficou mais
fácil, não? Pois bem, é desta forma que a sociedade explica situações do cotidiano:
apoiando-se em diferentes pensamentos para defender o que acontece ao seu redor.

Quando contrapomos a ciência natural à ciência humana podemos perceber


o jogo de conflitos, pois, conforme Omnés (1996), a ciência é capaz de explicar a
realidade, bastando para isso princípios, regulamentos e normas. De qualquer maneira,

93
tais conflitos são indissociáveis da epistemologia e da política, uma vez que ocorre
a tentativa de autoridade de uma ciência sobre a outra. Desta forma, a realidade é
comumente explicada pela ciência.

A ciência apresenta características que a fazem singular; é cumulativa, ou seja,


não se costuma descartar informações ou dados obtidos; é computável, permite o devido
registro de tais informações ou dados, e, apesar dessas características a ciência não é
irrevogável, o que significa que ela é contestável. Segundo Abbagnano (2000), além de
utilizar sua própria linguagem, é baseada em métodos e fundamentos epistemológicos,
o que faz com que seja clara e objetiva.

Diversos são os métodos utilizados para explicar o cotidiano através da ciência.


Severino (2007, p. 102) nos diz que um método científico pode ser “um conjunto de
procedimentos lógicos e de técnicas operacionais que permitem o acesso às relações
causais constantes entre os fenômenos”. Já para Omnés (1996, p. 272), é “um conjunto
de regras práticas que permitem garantir a qualidade da correspondência entre a
representação científica e a realidade”.

Nessa mesma perspectiva, Omnés (1996) também propõe que o método deve
cumprir ainda algumas etapas que visam diminuir a distância entre a cientificidade do
conhecimento e a proposta de explicação do mesmo, que seriam:

FIGURA 12 – ETAPAS PARA EXPLICAÇÃO DO COTIDIANO ATRAVÉS DA CIÊNCIA

• EMPÍRICA OU EXPLORATÓRIA
• análise dos fatos e determinação de regras baseadas na experiência.
Etapa 1

• CONCEPÇÃO OU PERCEPÇÃO
• apropriação de conceitos e criação de princípios.
Etapa 2

• ELABORAÇÃO
• indicação das consequências dos princípios.
Etapa 3

• CONSTATAÇÃO OU COMPROVAÇÃO
• aprovação ou não das hipóteses propostas.
Etapa 4

FONTE: Adaptado de Omnés (1996)

94
Faz-se de suma importância a compreensão sobre ciência e o conhecimento
gerado por ela. Porém, não se pode deixar de lembrar que o conhecimento científico
avança pelo campo da prática e não só pelo patamar teórico.

3 TECNOLOGIA
O que surge no seu pensamento ao ouvir a palavra tecnologia? Porventura
seriam máquinas sofisticadas, ou, quem sabe, computadores de última geração?
Exatamente, esses são sinônimos de tecnologia, mas convidamos você a aprofundar
seus conhecimentos ainda mais. Veja, pelo menos, outras três vertentes possíveis para
a utilização dessa palavra, segundo Ferreira (2004):

1. Linguagem peculiar a um ramo determinado do conhecimento, teórico ou prático. 


2. Conjunto dos processos especiais relativos a uma determinada arte ou indústria.
3. Aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral.

Por mais simplificadas que sejam estas três conceituações, elas permitem a
análise inicial acerca da discussão sobre tecnologia.

Vamos iniciar falando sobre o conjunto de processos utilizados em uma


determinada área, neste estamos falando de teoria e prática aliadas a fim de atingir
um objetivo. Isso nos faz inferir que o conhecimento científico não ocorre somente
na academia, mas também no ambiente de trabalho, ou seja, não só há produção de
conhecimento científico no ambiente acadêmico, mas nas prestadoras de serviço, as
quais testam a teoria promovida pela ciência, agora no campo da prática.

IMPORTANTE
Há de se destacar uma situação relevante nas questões tecnológicas, no
âmbito de país, a capacidade de produção de tecnologia também diferencia
os países desenvolvidos dos em desenvolvimento.

Você consegue perceber, nessa explanação inicial, a ação do ser humano em


tudo o que se refere à tecnologia? Normalmente, quando se fala nesse assunto, logo
se pensa em tecnologia de ponta, sondas espaciais, nanotecnologia, enfim; porém, a
própria transformação das peles de animais em roupas, dos elementos da natureza em
utensílios domésticos, o uso do fogo, entre outros ao longo da história, são exemplos de
tecnologia. E, sim, a tecnologia está presente desde muito cedo na vida do ser humano.

95
Maior complexidade há quando analisamos a tecnologia do ponto de vista técnico,
pois incluímos o campo de atuação da atividade humana e aumentamos os dados acerca
do que vem a ser tecnologia. Como já exposto, a tecnologia está em todos os meios, seja
científico, cultural, social; com isso, ratificamos as colocações de que em todas as ações
humanas há técnica e, portanto, a tecnologia está amplamente disseminada, como
preconiza Abbagnano (2000). Outrossim, é relacionada às implicações sobre todo esse
conhecimento desenvolvido; segundo Dias e Silveira (2005), o uso, o aproveitamento e
os resultados são de acordo com o objetivo para o qual foi desenvolvida e o meio em
que está inserida.

FIGURA 13 - A PRIMEIRA RODA

FONTE: Disponível em: <http://waz.com.br/blog/2013/08/26/cinco-tecno logias-que-mudaram-o-mundo/>.


Acesso em: 15 maio 2015.

Pode-se perceber que a técnica está tão enraizada entre a natureza e o ser
humano que, para Santos (2006), é quase impossível separá-la, pois o homem já não
se vê mais sem o uso de tecnologia, que facilita, medeia e auxilia em muitos processos.
Talvez possa surgir aí um fator de preocupação: substituição (em demasia) dos elementos
naturais por processos artificiais. Fica a deixa para você pesquisar e analisar o que se
apresenta de prós e contras nessas questões.

Agora, partimos para a análise do último item sobre tecnologia, esse pode ser
traduzido como tecnocracia, ou seja, o uso do conhecimento científico nos demais
meios, porém, com a divulgação exclusiva a partir do que a ciência e a técnica propõem
como resultado. Nesse último, tal ação elimina as demais análises feitas a partir da
concepção política, ideológica e social, o que, por sua vez, pode causar o determinismo
tecnológico. Não se esqueça, tais ações terão reflexo direto nas questões relacionadas
à sobreposição das ciências humanas e às ciências da natureza.

96
Pelo que foi apresentado nesta breve explanação, pode-se perceber que as ações
são interligadas e que agem como reação em cadeia. Nesse processo, faz-se necessário
entender a sociedade como agente integrante e mediador de todos os processos descritos.

4 SOCIEDADE
Ao entender a importância de discutir a sociedade como parte integrante de todo
o processo relacionado à tecnologia, se abre precedentes para muitas indagações. As
discussões seriam inúmeras, pois haveria necessidade de abrir alinhamentos no mais amplo
sentido a fim de ajustar as arestas para que se forme o conhecimento acerca do assunto.
Seja no âmbito político, econômico, social, cultural, ambiental, faz-se necessário apurar o
contexto em que ocorrem, a fim de compreender seu impacto. Lembrando que a ciência
humana apresenta grande diversidade de pressupostos metodológicos e epistemológicos,
e estes serão abordados, através de alguns autores e suas perspectivas, a seguir.

FIGURA 14 – PERSPECTIVAS DE TEORIAS E SEUS AUTORES SOBRE SOCIEDADE

A Sociedade como Organismo.


• Auguste Comte (1898): teoria do positivismo. Cita três etapas para a evolução
da humanidade: teológica, metafísica e positiva.
• Lewis Henry Morgan (1978): mudança social através da integração com a
descoberta das forças motoras.

A teoria dos ciclos históricos.


• Osvald Spengler (1932): propõe que as evoluções ocorrem de maneira cíclica
e que têm período para iniciar e para encerrar.

O materialismo histórico e a mudança social.


• Karl Marx (1867): a mudança na sociedade só ocorre impulsionada pelo
conflito entre as diferentes classes sociais.

Fenomenologia
• Edmund Husserl (1859): apregoava que a sociedade necessitava apenas
de análise no âmbito da consciência e que o mundo exterior poderia ser
desconsiderado nesta análise.

Existencialismo
• Heidegger e Jean-Paul Sartre (1905): apresentaram correntes filosóficas que
analisavam a relação entre o homem e o mundo, considerando homem um
ser independente e, portanto, capaz de definir suas próprias ações.

FONTE: Adaptado de Tello e Mainardes (2012)

97
Pode-se perceber que cada autor defende uma linha de pensamento, ora
específica, ora compartilhada por outro autor, porém, divergentes; no entanto, nas
propostas de conceituação sobre sociedade, cada um nas suas perspectivas defende
seus pontos de vista. Vejamos, por exemplo, Comte, em cuja teoria fez uso de leis e
métodos das ciências naturais, entendendo a sociedade como um grande organismo
vivo, interligado e interdependente. O principal conceito defendido por Comte era
de que a sociedade evoluía apenas em uma direção, ou seja, sua postura frente às
mudanças era conservadora. Com base nesta teoria surgiram outras, nesta mesma
linha de pensamento, denominadas como Neopositivismo.

Por outro lado, Spengler entendia que a sociedade evoluía em ciclos que se
encerravam em grandes períodos, citando como exemplos as sociedades babilônica,
egípcia, romana.

Marx, por sua vez, defendia a ideia de que a sociedade, como capitalista,
começara a dividir as classes sociais e tal divisão proporcionava observar a evolução da
sociedade num viés de produtividade e capitalismo.

Husserl tinha grande preocupação com a essência dos objetos e não com o
materialismo. Desta forma, considerava mais importante a experiência da consciência
do que os demais fatores materiais ou ideias.

Michel Foucault defendia a ideia de que o saber estava fortemente ligado ao


poder, e propunha uma genealogia para analisar a sociedade com a ideia de que o saber
estaria presente nas relações humanas e nas instituições disciplinadoras.

Assim, diversas são as teorias acerca da evolução da sociedade, que não se


encerram e tampouco foram todas apresentadas, mas que permitem dar-nos base para
analisar, no contexto da sociedade atual, a implicação da sociedade nas práticas atuais.
Acertadamente, podemos inferir que nenhum fator até aqui estudado age sozinho ou
de maneira isolada, é no conjunto da obra que a sociedade evolui, a ciência melhora e a
tecnologia se adapta (BAZZO, 2010).

5 SOCIEDADE ENTRE CIÊNCIA E TECNOLOGIA


Já vimos a definição de tecnocracia, pela qual a ciência passa a ter razão sobre
tudo e todos. Pois bem, esta visão apresenta um modelo de progresso linear, pelo qual
o desenvolvimento social é apenas consequência do desenvolvimento proposto pela
ciência, que, por sua vez, geraria o desenvolvimento tecnológico e, somente então,
chegaria no desenvolvimento social.

98
FIGURA 15 – O PROGRESSO DO PONTO DE VISTA DA TECNOCRACIA

FONTE: Adaptado de Auler e Delizoicov (2006)

Quando se trata do modelo linear apresentado, a perspectiva é de que tanto a


ciência quanto a tecnologia determinam as ações e melhorias, e a sociedade, por sua
vez, somente as recebe sem possibilidade de interação. Nesse modelo, a relação entre o
desenvolvimento científico e o social é casual, o que é fortemente criticado; outro fator
de desagrado nesse modelo, conforme Bourdieu (1983a), é da neutralidade da ciência.
Segundo ele, esse fator é tido como “utopia de interesses”, ou seja, coloca a ciência
como melhor explicação da real condição da sociedade.

Conforme pudemos observar, a tecnocracia, ou seja, a decisão de manter


apenas uma vertente entre ciência, tecnologia e sociedade não é neutra, pois age sobre
interesses políticos. O movimento ciência e tecnologia, ainda nos anos 1960 e 1970, foi
duramente criticado por promover, além do já exposto, problemas ambientais, além da
aplicação da tecnologia bélica, por exemplo, nas guerras mundiais.

Foi a partir das décadas de 1960 e 1970 que o movimento de neutralidade


da dupla ciência e tecnologia perdeu força e a sociedade passou a exercer seu papel
de analisar criticamente a parceria entre as duas frentes e participar das discussões
técnico-científicas propostas pelo, agora, grupo (ANGOTTI; AUTH, 2001, AULER; BAZZO,
2001). A partir desse movimento, outras frentes foram incorporadas às discussões sobre
o que seria conhecimento científico e tecnológico, bem como suas evoluções.

Como fora visto, mais precisamente após a II Guerra Mundial, a parceria entre
ciência e tecnologia passou por profundas mudanças, principalmente por começar a
levar em conta o bem-estar social. O primeiro avanço foi no sentindo de considerar o
desenvolvimento tecnológico um dos impulsionadores do progresso. A ciência, de certa
maneira, também passou por mudanças, ganhando a cada período maior importância.
Passemos, agora, a analisar algumas reações entre a parceria da ciência, da tecnologia
e da sociedade, que se deu após essas grandes adequações e modificações.

99
6 CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE (CTSA) –
INTERPRETAÇÕES SOBRE A NOVA FORMAÇÃO
Sob a nova ótica de formação, agora com o criticismo social, ciência e tecnologia
passam a ter uma conotação diferente e menos isolada. O ensino de Ciências com enfoque
ciência, tecnologia, sociedade e ambiente (CTSA) a partir de questões sociocientíficas
(QSC), “tem por objetivo a emancipação dos sujeitos ao fazer com que eles problematizem
a ciência e participem de seu questionamento público, engajando-se na construção de
novas formas de vida e de relacionamento coletivo” (MARTINEZ, 2012, p. 55).

Para o referido autor, as questões sociocientíficas e a perspectiva CTSA “têm


em comum o objetivo de focar o ensino de Ciências na formação para a cidadania dos
estudantes no ensino básico e superior, bem como nos processos de formação cidadã
mais amplos abrangidos na sociedade”.

Para contextualizar esta temática, convido-o para analisarmos, juntos, duas


interpretações, baseadas nos filósofos Wiebe Bijker e Milton Santos.

6.1 CTS SOB NOVAS ÓTICAS


Ao debater o tema CTS, procuramos trazer para a conversa a contribuição dos
seguintes pesquisadores: Wiebe Bijker e Milton Santos.

Wiebe Bijker (1951- ) é um construtivista social que trabalhou visando estabelecer


novas bases teóricas e metodológicas entre a CTS. O elo para esta nova parceria seria
a sociedade e, no momento em que assume este ponto de vista, começa a trabalhar
com o também construtivista social Trevor Pinch. Ambos envolvidos na divulgação de
documentos que debatem o relacionamento entre ciência e tecnologia, e destacando a
importância da essência social (BENAKOUCHE, 2005).

Outro pesquisador que traremos para a discussão é Milton Santos (1926-2001),


um geógrafo brasileiro que, por sua vez, tratou das questões relacionadas à CTS sob a
ótica da informação.

6.2 CTS SOB A ÓTICA DE MILTON SANTOS


Milton Santos traz à luz a discussão do meio ambiente e sua relação com CTS,
portanto, na visão desse pesquisador já poderíamos usar o conceito CTSA. Ele aborda
questões como o espaço e a sucessão de relacionamento entre o homem e a natureza,
bem como a da organização humana. Dessa forma, faz uma interessante análise sobre
a divisão do espaço geográfico. Para entender melhor, trazemos um trecho do texto
“A natureza do espaço”, que trata sobre as considerações do autor sobre meio natural,
meio técnico e meio técnico-científico-informacional.

100
O meio natural

Quando tudo era meio natural, o homem escolhia da natureza aquelas suas
partes ou aspectos considerados fundamentais ao exercício da vida, valorizando,
diferentemente, segundo os lugares e as culturas, essas condições naturais que
constituíam a base material da existência do grupo.

Esse meio natural generalizado era utilizado pelo homem sem grandes
transformações. As técnicas e o trabalho se casavam com as dádivas da natureza,
com a qual se relacionavam sem outra mediação.

O que alguns consideram como período pré-técnico exclui uma definição


restritiva. As transformações impostas às coisas naturais já eram técnicas, entre as
quais a domesticação de plantas e animais aparece como um momento marcante:
o homem mudando a Natureza, impondo-lhe leis. A isso também se chama técnica.

Nesse período, os sistemas técnicos não tinham existência autônoma. [...]. A


harmonia socioespacial assim estabelecida era, desse modo, respeitosa da natureza
herdada, no processo de criação de uma nova natureza. Produzindo-a, a sociedade
territorial produzia, também, uma série de comportamentos, cuja razão é a preservação
e a continuidade do meio de vida. Exemplo disso são, entre outros, o pousio, a rotação
de terras, a agricultura itinerante, que constituem, ao mesmo tempo, regras sociais e
regras territoriais, tendentes a conciliar o uso e a “conservação” da natureza: para que
ela possa ser outra vez utilizada. Esses sistemas técnicos sem objetos técnicos não
eram, pois, agressivos, pelo fato de serem indissolúveis em relação à Natureza que, em
sua operação, ajudavam a reconstituir.

O meio técnico

O período técnico vê a emergência do espaço mecanizado. Os objetos que


formam o meio não são, apenas, objetos culturais; eles são culturais e técnicos ao
mesmo tempo. Quanto ao espaço, o componente material é crescentemente formado
do “natural” e do “artificial”. Mas, o número e a qualidade de artefatos variam. As áreas,
os espaços, as regiões, os países passam a se distinguir em função da extensão e
da densidade da substituição, neles, dos objetos naturais e dos objetos culturais, por
objetos técnicos.

Os objetos técnicos, maquínicos, juntam à razão natural sua própria razão,


uma lógica instrumental que desafia as lógicas naturais, criando, nos lugares atingidos,
mistos ou híbridos conflitivos. Os objetos técnicos e o espaço maquinizado são lócus de
ações “superiores”, graças à sua superposição triunfante às forças naturais. Tais ações
são, também, consideradas superiores pela crença de que ao homem atribuem novos
poderes, o maior é a prerrogativa de enfrentar a Natureza, natural ou já socializada,
vinda do período anterior, com instrumentos que já não são prolongamento do seu

101
corpo, mas que representam prolongamentos do território, verdadeiras próteses.
Utilizando novos materiais e transgredindo a distância, o homem começa a fabricar
um tempo novo, no trabalho, no intercâmbio, no lar. Os tempos sociais tendem a se
superpor e contrapor aos tempos naturais. [...].

O meio técnico-científico-informacional

O terceiro período começa praticamente após a Segunda Guerra Mundial,


e sua firmação, incluindo os países de terceiro mundo, vai realmente dar-se nos
anos 70. É a fase a que R. Richta (1968) chamou de período técnico-científico,
e que se distingue dos anteriores pelo fato da profunda interação da ciência e da
técnica, a tal ponto que certos autores preferem falar de tecnociência para realçar a
inseparabilidade atual dos dois conceitos e das duas práticas.

Essa união entre técnica e ciência vai dar-se sob a égide do mercado. E o
mercado, graças exatamente à ciência e à técnica, torna-se um mercado global. A ideia
de ciência, a ideia de tecnologia e a ideia de mercado global devem ser encaradas
conjuntamente, e desse modo podem oferecer uma nova interpretação à questão
ecológica, já que as mudanças que ocorrem na natureza também se subordinam a
essa lógica.

Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos


e informacionais, já que, graças à extrema intencionalidade de sua produção e de
sua localização, eles já surgem como informação; e, na verdade, a energia principal
de seu funcionamento é também a informação. Já hoje, quando nos referimos às
manifestações geográficas decorrentes dos novos progressos, não é mais de meio
técnico que se trata. Estamos diante da produção de algo novo, a que estamos
chamando de meio técnico-científico-informacional.

Da mesma forma como participam da criação de novos processos vitais e da


produção de novas espécies (animais e vegetais), a ciência e a tecnologia, junto com
a informação, estão na própria base da produção, da utilização e do funcionamento
do espaço e tendem a constituir o seu substrato. [...].

Podemos então falar de uma cientificização e de uma tecnicização da


paisagem. Por outro lado, a informação não apenas está presente nas coisas, nos
objetos técnicos, que formam o espaço, como ela é necessária à ação realizada sobre
essas coisas. A informação é o vetor fundamental do processo social e os territórios
são, desse modo, equipados para facilitar a sua circulação. [...].

Os espaços assim requalificados atendem, sobretudo, aos interesses dos atores


hegemônicos da economia, da cultura e da política e são incorporados plenamente às
novas correntes mundiais. O meio técnico-científico-informacional é a cara geográfica
da globalização.

FONTE: Santos (2006, p. 157-161)


102
Após esta leitura, você conseguiu identificar os aspectos importantes da relação
entre CTS(A) que Milton Santos aborda? Como você pôde ver, essa questão é analisada
na perspectiva de que as relações foram sendo estabelecidas ao longo do tempo e
de maneira dialética. O autor destaca questões que merecem ser reanalisadas, como:
a necessidade de determinar as características do mundo atual (como modernidade,
pós-modernidade e globalização), assim como a história das relações entre CTSA. Outro
ponto que merece ser revisitado são as relações entre CTSA em uma lógica de mercado,
ou seja, buscar reflexões sobre o sistema produtivo como um todo.

6.3 CTSA SOB A ÓTICA DE WIEBE BIJKER


Um dos principais incentivadores do movimento construtivista social foi Wiebe
Bijker. Para entendermos melhor suas ideias e ideais, compartilharemos um pequeno
trecho do artigo “Tecnologia é Sociedade: contra a noção de impacto tecnológico”, de
Benakouche (1999, p. 11-13), que aborda os principais vieses deste pesquisador.

Sustentando que os vários elementos envolvidos no processo de inovação


tecnológica constituem uma teia contínua (“seamless web”), Bijker pretende dar
conta dessa realidade através da elaboração de uma teoria que:

a) explique tanto a mudança quanto a estabilidade das técnicas;


b) seja simétrica, ou seja, possa ser aplicada tanto às técnicas que dão certo como
às que falham;
c) considere tanto as estratégias inovadoras dos atores como o caráter limitador das
estruturas; e, finalmente
d) evite distinções a priori entre o social, o técnico, o político ou o econômico.

Diante de tal agenda, propõe o uso de alguns conceitos básicos e operacionais,


postos inclusive à prova nos vários estudos de caso que realizou, dentre os quais
se destacam os de grupos sociais relevantes, estrutura tecnológica (“technological
frame”), flexibilidade interpretativa (“interpretative flexibility”) e estabilização ou
fechamento (“closure”).

Os “grupos sociais relevantes” são aqueles mais diretamente relacionados


ao planejamento, desenvolvimento e difusão de um artefato dado; na verdade,
seria na interação entre os diferentes membros desses grupos que os artefatos são
constituídos. Nesse processo, os atores não agem aleatoriamente, mas segundo
padrões específicos, isto é, agem a partir das “estruturas tecnológicas” às quais
estão ligados; esta noção – central, neste quadro analítico-descritivo – é ampla o
suficiente para incluir teorias, conceitos, estratégias, objetivos ou práticas utilizadas
na resolução de problemas ou mesmo nas decisões sobre usos, pois não se aplica

103
apenas a grupos profissionais especializados, mas a diferentes tipos de grupos
sociais. Segundo Bijker, existiriam diferentes graus de inclusão nessas estruturas,
isto é, de envolvimento.

Na medida em que os grupos atribuem diferentes significados a um mesmo


artefato, sua construção supõe um exercício de negociações entre esses mesmos
grupos, onde o uso da retórica é um recurso poderoso, ou seja, é objeto de uma
“flexibilidade interpretativa”. Quando esta atividade de ajustes se estabiliza e um
significado é fixado ou aceito, diz-se que o artefato atingiu o estágio de “fechamento”.
É justamente a prática da flexibilidade interpretativa que retira dos artefatos sua
obturacidade; é ela que explica porque os mesmos não têm uma identidade ou
propriedades intrínsecas, as quais seriam responsáveis por seu sucesso ou o
seu fracasso, seus “impactos” positivos ou negativos. Em outras palavras, o não
reconhecimento da importância desse processo é que leva à crença equivocada
do determinismo da técnica. Assim é que tudo, numa tecnologia dada, do seu
planejamento a seu uso, estaria sujeito a variáveis sociais e, portanto, estaria aberto
à análise sociológica. No entanto, pode-se perguntar: ao se adotar essa perspectiva
não se corre o risco de se cair num reducionismo social? Não, respondem os
pesquisadores identificados com a mesma. O reconhecimento da existência de
estruturas tecnológicas evitaria esse risco: na medida em que as mesmas influenciam
a ação dos diferentes grupos sociais relevantes, essas estruturas seriam justamente
as pontes que ligam tecnologia e sociedade, levando à constituição de conjuntos
sociotécnicos (BIJKER, 1995).

Após esta leitura, você pode traçar os principais pontos elencados pelo autor?

Se você citou a questão da importância de debater as ações dos conceitos


CTSA em conjunto, com o enfoque nas ações sociais, fez uma excelente leitura. Wiebe
Bijker foi um dos grandes defensores da participação da sociedade nas discussões
relacionadas à ciência, e como consequência, demonstra em todos os seus discursos o
repúdio à parceria entre sociedade e tecnologia.

A partir das colocações proporcionadas pelos dois autores é possível elencar


pontos que merecem ser revistos, como a forma com que as comunicações de massa
são disponibilizadas e utilizadas pela sociedade, assim como a importância da tecnologia
no cotidiano e a dependência tecnológica.

104
7 CARACTERIZANDO O MUNDO ATUAL
Ao caracterizar o mundo atual, faz-se necessário observar três vertentes
singulares: modernidade, pós-modernidade e globalização. É importante analisar esses
três pontos para que se possa avançar nos estudos sobre CTSA. Vamos lá?

O que vem a ser a modernidade? Para muitos, o conceito de modernidade


refere-se a ideias bastante controversas, compreendendo desde pequenas práticas a
formas de perceber, conceber e viver o mundo. Para melhor situá-lo, relembramos três
grandes eventos: Revolução Industrial, Revolução Francesa e Revolução Científica.

A pós-modernidade ainda é complexa e a ideia não é amplamente aceita por


todos os cientistas e pensadores. As dúvidas e diferenças surgiram por volta de 1970
e 1990, mas ainda assim pode-se verificar duas linhas de discursos, quando o termo é
pós-modernidade: a da continuidade e a do rompimento.

FIGURA 16 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS CONCEITOS DE MODERNIDADE, PÓS-MODERNIDADE E


GLOBALIZAÇÃO

FONTE: Adaptado de David Harvey (2003)

Agora, quando o assunto é globalização, o termo é mais conhecido, tendo


em vista que é assunto atual e amplamente divulgado e trabalhado na mídia. Como
todo conceito, esse também apresenta seus prós e contras, pois está fortemente
ligado à maneira como foi apreendido pela sociedade. O marco inicial da globalização
é fracamente indicado, como no período da Revolução Tecnocientífica, porém, viu-
se nesse uma importante ferramenta de longo alcance, com ligações para diferentes
partes do mundo.

105
A globalização está amparada, principalmente, nos avanços tecnológicos,
assim como nas relações sociais e econômicas, no mercado da conectividade e da
virtualidade. A compressão da globalização, conhecida como compressão tempo-
espaço, é abordada como sendo a responsável por alterar a forma de comunicação
entre as pessoas, como a telefonia móvel (HARVEY, 2003). Porém, como tudo tem seu
outro lado, assim também é na globalização, podendo proporcionar tanto a inclusão
como a desigualdade social.

Uma importante observação precisa ser feita sobre esse ponto: deve-se cuidar
para que os avanços tecnológicos não venham a causar o determinismo tecnológico,
o que ocasionaria o mesmo pensamento de que a ciência e a tecnologia são neutras.
Nesse momento, o que se deve buscar é usar a tecnologia como ferramenta e não
como base.

106
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A ciência, como forma de explicar a realidade, apresenta as seguintes características:


linguagem própria; conhecimento acumulável, registrável e refutável; e articulação
entre procedimentos metodológicos e fundamentos epistemológicos.

• A tecnologia, como sinônimo de técnica, nos permite pensar das tecnologias mais
simples até as mais avançadas, como roupa, ferramentas e celulares; e, quando
falamos em tecnocracia, podemos entender como ideologização da técnica.

• A sociedade pode ser analisada e interpretada de diversas formas e são vários os


autores que apresentam algum parecer sobre o tema sociedade.

• A ciência e a tecnologia apresentam um modelo de crescimento e evolução linear.

• O movimento que engloba ciência, tecnologia e sociedade está baseado em uma


visão mais crítica sobre a parceria entre ciência e tecnologia, o que permitiu inserir
outros pontos para debate das questões sociais, políticas, culturais e econômicas
acerca da ciência e das tecnologias.

• Há várias interpretações acerca das relações CTS(A), e as de Milton Santos e Wiebe


Bijker são duas delas.

• Os conceitos de modernidade, pós-modernidade e globalização são importantes para


a discussão acerca de ciência, tecnologia e sociedade, mas apresentam concepções
e interpretações bastante controversas.

107
AUTOATIVIDADE
1 Leia a charge a seguir:

FONTE: Disponível em: <http://www2.uol.com.br/laerte/tiras/>. Acesso em: maio 2015.

A análise da charge nos remete ao fenômeno da insegurança no emprego, vivido,


nos dias atuais, por muitas pessoas. Esta insegurança também está atrelada ao
desenvolvimento de novas tecnologias, o que, por sua vez, tornou-se mais evidente nos
últimos anos. Com base nos efeitos nocivos, é correto afirmar que:

a) ( ) Produz sensação de apreensão quanto à continuidade futura de um cargo e/ou


de um papel dentro do ambiente de trabalho.
b) ( ) O maior aumento da insegurança no trabalho ocorreu em meados dos anos de
1990, entre os trabalhadores que exercem atividades manuais.
c) ( ) Trata-se de um fenômeno recente causado por profundas alterações no
contexto do mercado de trabalho.
d) ( ) Os estudos apontam que a insegurança no emprego é restrita ao ambiente de
trabalho, não afetando a saúde e a vida pessoal dos empregados.

2 Com referência à comunicação de massa, identifique a opção


correta.

a) ( ) A comunicação de massa engendra um tipo de comunicabilidade do “entre nós”,


que se reporta aos telespectadores, ouvintes e aos brasileiros, em geral, gerando
a ilusão de pertencerem a uma comunidade.
b) ( ) A comunicação de massa caracteriza-se pela divisão entre a figura do emissor
e a do receptor autorizado e pela negligência do monopólio comunicativo e do
cerceamento de práticas populares.

108
c) ( ) A comunicação de massa fundamenta-se na premissa de que tudo pode ser
mostrado e dito, não estabelecendo critérios sobre quem pode dizer e quem
pode ouvir.
d) ( ) O receptor autorizado tem um espaço da fala para opinar e contradizer, não
sendo necessário que suas funções sejam definidas na estrutura do campo
comunicativo.
e) ( ) Na comunicação de massa, o espaço social sui generis é transformado em
um espaço social heterogêneo, em que emissor e receptor têm papéis bem
definidos.

109
110
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO (TIC)

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, ao falarmos das tecnologias da informação e comunicação
como fator determinante no advento da sociedade da informação, estamos a falar
das transformações resultantes do processo da globalização de mercados e dos
avanços do uso dos processos tecnológicos na vida cotidiana dos indivíduos. Desse
mosaico de transformações exercidas pelos meios tecnológicos na vida cotidiana dos
indivíduos emerge o conceito de sociedade da informação. Sob este prisma, o que
iremos apresentar nas próximas páginas busca assinalar as tecnologias da informação
e comunicação como fator determinante no advento da sociedade da informação.
Portanto, esperamos que este tópico possa contribuir, de certa forma, para inseri-lo no
debate sobre a sociedade da informação e que sirva de ferramenta para expandir o seu
horizonte pensante.

2 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO


(TIC) COMO FATOR DETERMINANTE NO ADVENTO DA
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Nos últimos anos do século XX o mundo vem adquirindo uma nova configuração,
fundamentada nas tecnologias da informação e da comunicação. A sociedade pós-
industrial vem sofrendo modificações de forma acelerada, reestruturando o capitalismo,
na medida em que todas as economias do planeta passam a interdepender umas das
outras, em escala global.

Diante disso, observa-se que as grandes organizações mundiais passam por um


processo de descentralização e interconexão das empresas, exemplos desse processo
são: o aumento do capital frente ao trabalho, com o declínio do sindicalismo e crescente
desemprego e a incorporação massiva da mulher no mundo do trabalho.

111
FIGURA 17 – SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://webquests.edufor.pt/webquest/soporte_horizontal_w.php?id_activida-


d=2826&id_pagina=1>. Acesso em: maio 2015.

Com o crescente aumento do uso das Tecnologias da Informação e de


Comunicação nos diversos setores da atividade humana, bem como a sua integração às
facilidades das telecomunicações, tornou-se evidente a possibilidade de ampliar cada
vez mais, tanto o acesso à informação, quanto o desenvolvimento de novos meios que
proporcionem de forma rápida sua distribuição no campo das pesquisas científicas. As
atividades tradicionais, como a leitura, a escrita, o correio, o comércio, a publicidade ou o
ensino, em atividades realizadas em ambientes virtuais, passam agora a ser capturadas
por esses novos dispositivos tecnológicos de informática, cada vez mais avançados.

Esse processo, que teve a sua origem no fim dos anos 1960 e início dos anos
1970, não foi, por si só, responsável pela nova forma de organização social. Centrado
na ideia de informação e comunicação, o uso das TIC resultou da interação de três
processos independentes: revolução da tecnologia da informação; da economia (crise
econômica do capitalismo e do estatismo e a consequente reestruturação de ambos);
e apogeu de movimentos sociais e culturais, tais como a afirmação das liberdades
individuais, dos direitos humanos, do feminismo e do ambientalismo (CASTELLS, 2001).

Na escala societária, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)


constituíam um limiar sobre o qual se sucediam os acontecimentos políticos, militares ou
científicos, tornando-se desta forma uma expressão de competição global, cuja lógica
encontrava-se inserida dentro de uma economia informacional/global; e uma nova
cultura, a cultura da virtualidade real, em que a sociedade e a cultura estão subjacentes
à ação e às instituições sociais em um mundo interdependente. A interação entre esses
processos e as reações por eles desencadeadas fez surgir uma nova estrutura social
dominante, a sociedade em rede.

Na época atual, as chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)


constituem ferramentas indispensáveis no processo de fortalecimento e integração das
nações na nova cadeia global. Segundo Castells (2001), esse processo foi de extrema

112
importância, pois seu papel conferiu uma dinâmica e formação de redes das diversas
esferas da atividade humana. Esta nova lógica preponderante de redes, sobre a qual a
nova sociedade se assenta, transformou todos os domínios de vida social e econômica.

Por intermédio da tecnologia, redes de capital, de trabalho, de


informação e de mercados conectaram funções, pessoas e locais
valiosos ao redor do mundo, ao mesmo tempo em que desconectaram
as populações e territórios desprovidos de valor e interesse para
a dinâmica do capitalismo global. Seguiram-se exclusão social e
não pertinência econômica de segmentos de sociedades, de áreas
urbanas, de regiões e de países inteiros, constituindo o que chamo
de ‘o Quarto Mundo’. A tentativa desesperada de alguns desses
grupos sociais e territórios para conectar-se à economia global e
escapar da marginalidade levou a uma situação que chamo de ‘a
conexão perversa’, quando o crime organizado em todo o mundo
tirou vantagem de sua condição para promover o desenvolvimento
da economia do crime global. O objetivo é satisfazer o desejo proibido
e fornecer mercadorias ilegais à contínua demanda de sociedades e
indivíduos abastados (CASTELLS, 1999, p. 411).

A fim de compreender o surgimento das novas formas de organização social por


conta das tecnologias informacionais, devemos observar os resultados dessa “revolução
tecnológica na estrutura social”, a saber:

• informação e conhecimento estão profundamente inseridos na cultura das


sociedades;
• as novas tecnologias da informação agregam processos de produção, distribuição e
direção, permitindo diferentes tipos de atividades interligadas de acordo com o modo
organizativo que se ajusta melhor à estratégia da empresa ou à história da instituição.
Três conceitos surgem dessa transformação fundamental do modo em que o sistema
de produção opera e, juntos, formam as bases atuais da nova economia e forçarão a
redefinição da estrutura ocupacional, além do sistema de classes da nova sociedade:
articulações entre as atividades; redes que configuram as organizações; e fluxos de
fatores de produção e de mercadorias; flexibilidade e adaptabilidade são necessidades
fundamentais para a direção de organizações, pois complexidade e incerteza são
características essenciais do novo meio ambiente organizacional;
• as novas tecnologias de comunicação têm um impacto direto sobre os meios de
comunicação e sobre a formação de imagens, representações e opinião pública
em suas sociedades, resultando em uma tensão crescente entre globalização e
individualização no universo dos audiovisuais;
• as fontes de poder na sociedade e entre as sociedades são alteradas pelo caráter
estratégico das tecnologias e da informação na produtividade da economia e na
eficácia das instituições sociais. A habilidade de promover a mudança tecnológica
está relacionada diretamente com a habilidade de uma sociedade para difundir e
intercambiar informações e relacioná-las com o restante do mundo.

113
3 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO – TIC
Desde os primórdios da humanidade, o homem sempre sentiu a necessidade de
se comunicar com os outros homens. As novas tecnologias vêm efetuando mudanças
sociais drásticas nos diversos segmentos da sociedade. As chamadas Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC) têm se apresentado como um fator decisivo na nova
organização social, sem precedentes na história.

O próprio capitalismo passa por um processo de profunda


restauração, caracterizado por maior flexibilidade de gerenciamento;
descentralização das empresas e sua organização em redes tanto
internamente quanto em suas relações com outras empresas;
considerável fortalecimento do papel do capital vis-à-vis o trabalho,
com o declínio concomitante da influência dos movimentos de
trabalho; incorporação maciça das mulheres na força de trabalho
remunerada, geralmente em condições discriminatórias; intervenção
estatal para desregular os mercados de forma seletiva e desfazer
o estado do bem-estar social com diferentes intensidades e
orientações, dependendo da natureza das forças e instituições
políticas de cada sociedade; aumento da concorrência econômica
global em um contexto de progressiva diferenciação dos cenários
geográficos e culturais para acumulação e a gestão de capital
(CASTELLS, 1999, p. 21).

Primeiramente, para melhor compreender o conceito de Tecnologias da


Informação e Comunicação - TIC e o seu papel nas sociedades atuais, de forma a dar
uma “robustez” mais ampla às nossas reflexões, faremos um pequeno aporte histórico
sobre o conceito de tecnologia em Manuel Castells. Neste sentido, segundo afirma o
autor (1999, p. 24):

Para dar os primeiros passos nessa direção, devemos levar a


tecnologia a sério, utilizando-a como ponto de partida desta
investigação; devemos localizar esse processo de transformação
tecnológica revolucionária no contexto social em que ele ocorre e
pelo qual está sendo moldado; e devemos lembrar que a busca pela
identidade é tão poderosa quanto a transformação econômica e
tecnológica no registro da nova história.

O termo tecnologia provém do verbo grego tictein, que significa "técnica, arte,
ofício", juntamente com o sufixo "logia", que significa "estudo", portanto, o conhecimento
prático que almeja alcançar um determinado fim concreto.

O Dicionário de Sociologia, de Alan Johnson (1997), indica a palavra “tecnologia”


como o repositório acumulado de conhecimento cultural sobre ambientes físicos e seus
recursos materiais, com vistas a satisfazer desejos e vontades. Contudo, segundo afirma
Johnson (1997), tecnologia não pode ser confundida com a ciência, na medida em que
ela consiste de conhecimentos práticos sobre como usar recursos materiais, ao passo
que a ciência consiste de conhecimento abstrato e teorias sobre como o processo do
conhecimento se constrói.

114
Na sociedade industrial, o conceito de tecnologia esteve associado à forma
de produto, passando, portanto, a não mais designar a forma de produção, ou seja,
concentra-se nos produtos, nos processos, nos equipamentos e nas operações.

Assim, na visão de Masi (1999), esta lógica, em que a tecnologia se torna uma
ferramenta indispensável nas relações de produção, obrigou o mundo da produção
industrial a sofrer grandes mudanças, tanto no processo de regulamentação da
empresa, como na organização do trabalho, de forma a responder aos imperativos que
a própria tecnologia trouxe para o aperfeiçoamento das condições de vida do homem.
Nesse sentido, para Masi (1999, p. 158), as principais transformações provocadas por
esses imperativos são as seguintes:

• Um intervalo de tempo mais curto exigido pelo processo produtivo


para levar até o fim a realização de um produto.
• Um aumento da necessidade de capital para a produção.
• Maior especialização e definição de funções, operações, processos
e materiais, com uma consequente rigidez que impede conversões
de uma operação para outra.
• Maior necessidade de mão de obra especializada.
•Maior exigência de organização de todas as atividades
especializadas envolvidas, o que resulta na posterior exigência de
outros especialistas: os especialistas em organizações.
• A necessidade de planejamento, em face do tempo e dos capitais
empregados, da rigidez dos processos, das exigências organizacionais
e da instabilidade do mercado em relação aos sistemas industriais
que utilizam tecnologias avançadas.

Já no século XX, a tecnologia passa a ser descrita como um campo


do conhecimento que, além de usar o método científico, cria e/ou transforma
processos materiais. Assim, segundo Masi (1999), a tecnologia passa a ser o motor
do desenvolvimento da sociedade, elevando o padrão de vida de uma determinada
sociedade, reduzindo desta forma as desigualdades. Nesse sentido, na visão de Masi
(1999, p. 159), a tecnologia passa a ser:

uma nova forma de racionalidade funcional que modifica os


modelos educacionais, ‘os sistemas de especulação, tradição e
razão’; revolucionando os transportes e as comunicações, cria
novos tipos de relações sociais (onde, por exemplo, as relações de
parentesco são substituídas por ligações de trabalho e profissionais)
e de interdependência econômica. A tecnologia, enfim, modifica
a percepção (também estética, como testemunham as novas
tendências das artes figurativas) do espaço e do tempo.

115
Na visão de Castells (2001, p. 49), a tecnologia corresponde:

(ao) uso de conhecimento científico para especificar as vias de se


fazer as coisas de uma maneira reproduzível. Entre as tecnologias
da informação incluo, como todo o conjunto convergente de
tecnologias em microeletrônica, computação (software e hardware),
telecomunicações/radiodifusão, e optoeletrônica. Além disso,
diferentemente de alguns analistas, também incluo nos domínios
da tecnologia da informação a engenharia genética e seu crescente
conjunto de desenvolvimento e aplicações.

Com base nessa citação, torna-se claro que a tecnologia não determina a
sociedade, nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica. Portanto,
para Castells (2001), a tecnologia e a sociedade são categorias interdependentes,
na medida em que a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas
“ferramentas tecnológicas”. Nesse sentido, para Castells (2001), a tecnologia é uma
condicionante, e não determinante, da sociedade.

Por conseguinte, a relação entre tecnologia e sociedade está marcada pela


presença do papel do Estado, podendo estimular ou constranger ambientes de inovação
tecnológica, organizando as forças sociais dominantes em determinado tempo e espaço.
Em grande medida, o grau de tecnologia existente numa sociedade é a representação
de sua capacidade coletiva de controle sobre o meio político, isto é, de determinação
sobre o formato das instituições, ou seja, do próprio Estado, no sentido de que este
permita o melhor desenvolvimento das iniciativas e o uso das tecnologias a favor dos
indivíduos. Desta feita, “o processo histórico em que esse desenvolvimento de forças
produtivas ocorre assinala as características da tecnologia e seus entrelaçamentos com
as relações sociais” (CASTELLS, 2001, p. 31).

Sob esta ótica, a tecnologia não pode ser vista como uma “ferramenta” que
busca resolver problemas imediatos que se apresentam numa determinada sociedade,
mas sim como um meio integrante e compatível com a sociedade em que está inserida.
Para o sociólogo espanhol Manuel Castells Oliván, o suposto dilema do determinismo
tecnológico é falso. Portanto, não se trata de perguntar se a tecnologia determina
comportamentos na sociedade ou se a sociedade é quem controla a tecnologia.
Como diz Castells (2001, p. 25), “a tecnologia é a sociedade e a sociedade não pode
ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas”. Isso não impede
de admitir que no começo é uma parte da sociedade que dá o start, para depois os
outros se apropriarem das inovações. Foi o que aconteceu nos EUA, quando um setor
específico da sociedade introduziu essas novas formas de produção, comunicação,
gerenciamento e vida (CASTELLS, 2001).

Nessa medida, tanto a informação como o conhecimento criam um novo sistema


baseado num complexo integrado de rede global de interação, em que a produtividade
e a competitividade das suas unidades dependem basicamente de sua capacidade de
gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada no conhecimento.

116
Sem dúvida, informação e conhecimento sempre foram elementos
cruciais no crescimento da economia, e a evolução da tecnologia
determinou em grande parte a capacidade produtiva da sociedade
e os padrões de vida, bem como formas sociais de organização
econômica [...]. A emergência de um novo paradigma tecnológico
organizado em torno de novas tecnologias da informação, mais
flexíveis e poderosas, possibilita que a própria informação se torne
o produto do processo produtivo. Sendo mais preciso: os produtos
das novas indústrias de tecnologia da informação são dispositivos de
processamento da informação. Ao transformarem os processos de
processamento da informação, as novas tecnologias da informação
agem sobre todos os domínios da atividade humana e possibilitam
o estabelecimento de conexões infinitas entre diferentes domínios,
assim como entre os elementos e agentes de tais atividades
(CASTELLS, 2001, p. 88).

Assim, para Castells (2001), o que caracteriza a atual revolução tecnológica não
é a centralização do conhecimento e da aplicação, senão o uso da informação para
a gestão de todo o processamento da informação e gerenciamento, num processo
de retroalimentação eterno, promovendo a passagem de três estágios das novas
tecnologias de telecomunicações nas últimas décadas, quais sejam: a automação das
tarefas, as experiências de usos e a reconfiguração das aplicações. “Nos dois primeiros
estágios, os avanços tecnológicos se caracterizam pelo learn by using, isto é, pelo
aprender usando. No último, são os usuários que aprenderam a tecnologia fazendo, o
que acabou resultando na configuração das redes e na descoberta de novas aplicações”
(CASTELLS, 2001, p. 51).

Desta feita, seria incorreto falar de uma Sociedade Informacional, implicando


uma inadequada “homogeneidade das formas sociais” em qualquer lugar do globo sob o
novo sistema. Não se trata de reduzir os povos da Terra ao novo paradigma informacional,
mas, segundo o pensador espanhol, poderíamos falar de uma sociedade informacional
assim como falamos da “sociedade urbano-industrial, cujas características são bem
definidas e algumas de suas principais estão difundidas mundialmente” (CASTELLS,
1999, p. 38).

117
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• As novas tecnologias da informação e comunicação têm um impacto direto na vida


social dos indivíduos.

• Os novos dispositivos de informação constituem verdadeiras fontes de poder nas


sociedades, e são alterados de acordo com o caráter estratégico da produtividade da
economia e na eficácia das instituições sociais.

• O termo tecnologia provém do verbo grego tictein, que significa criar, produzir,
significando, portanto, o conhecimento prático que almeja alcançar um determinado
fim concreto.

• O que caracteriza a renovação tecnológica não é a centralidade do conhecimento e


nem da informação.

• Tecnologia não pode ser confundida com ciência, na medida em que ela consiste
de conhecimentos práticos sobre como usar recursos materiais, ao passo que
a ciência consiste de conhecimento abstrato e teorias sobre como o processo do
conhecimento se constrói.

• A expressão Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC refere-se ao conjunto


de recursos tecnológicos capazes de produzir e disseminar informações, ou seja,
ferramentas que permitem arquivar e manipular informações em forma de textos,
imagens e sons, permitindo, desta forma, que nos comuniquemos uns com os outros.

• São cinco os elementos que caracterizam o novo paradigma das tecnologias da


informação e comunicação.

118
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE - 2011) Exclusão digital é um conceito que diz respeito às
extensas camadas sociais que ficaram à margem do fenômeno
da sociedade da informação e da extensão das redes digitais. O
problema da exclusão digital se apresenta como um dos maiores
desafios dos dias de hoje, com implicações diretas e indiretas sobre os mais
variados aspectos da sociedade contemporânea.

Nessa nova sociedade, o conhecimento é essencial para aumentar a produtividade e a


competição global. É fundamental para a invenção, para a inovação e para a geração
de riqueza. As tecnologias de informação e comunicação (TICs) proveem uma fundação
para a construção e aplicação do conhecimento nos setores públicos e privados. É
nesse contexto que se aplica o termo exclusão digital, referente à falta de acesso às
vantagens e aos benefícios trazidos por essas novas tecnologias, por motivos sociais,
econômicos, políticos ou culturais.

Considerando as ideias do texto acima, avalie as afirmações a seguir.

I- Um mapeamento da exclusão digital no Brasil permite aos gestores de políticas


públicas escolherem o público-alvo de possíveis ações de inclusão digital.
II- O uso das TICs pode cumprir um papel social, ao prover informações àqueles que
tiveram esse direito negado ou negligenciado e, portanto, permitir maiores graus de
mobilidade social e econômica.
III- O direito à informação diferencia-se dos direitos sociais, uma vez que esses estão
focados nas relações entre os indivíduos e, aqueles, na relação entre o indivíduo e
o conhecimento.
IV- O maior problema de acesso digital no Brasil está na deficitária tecnologia existente
em território nacional, muito aquém da disponível na maior parte dos países de
primeiro mundo.

É correto apenas o que se afirma em:


a) ( ) II e IV.
b) ( ) I e II.
c) ( ) III e IV.
d) ( ) I, II e III.
e) ( ) I, III e IV.

119
2 (ENADE – 2011) A cibercultura pode ser vista como herdeira
legítima (embora distante) do projeto progressista dos filósofos
do século XVII. De fato, ela valoriza a participação das pessoas
em comunidades de debate e argumentação. Na linha reta das
morais da igualdade ela incentiva uma forma de reciprocidade essencial nas
relações humanas. Desenvolveu-se a partir de uma prática assídua de trocas de
informações e conhecimentos, coisa que os filósofos do Iluminismo viam como
principal motor do progresso.

[...] A cibercultura não seria pós-moderna, mas estaria inserida perfeitamente na


continuidade dos ideais revolucionários e republicanos de liberdade, igualdade e
fraternidade. A diferença é apenas que, na cibercultura, esses “valores” se encarnam em
dispositivos técnicos concretos. Na era das mídias eletrônicas, a igualdade se concretiza
na possibilidade de cada um transmitir a todos; a liberdade toma forma nos softwares
de codificação e no acesso a múltiplas comunidades virtuais, atravessando fronteiras,
enquanto a fraternidade, finalmente, se traduz em interconexão mundial.
O desenvolvimento de redes de relacionamento por meio de computadores e a expansão
da internet abriram novas perspectivas para a cultura, a comunicação e a educação. De
acordo com as ideias do texto acima, a cibercultura:

a) ( ) Representa uma modalidade de cultura pós-moderna de liberdade de comunicação


e ação.
b) ( ) Constituiu negação dos valores progressistas defendidos pelos filósofos do
Iluminismo.
c) ( ) Banalizou a ciência ao disseminar o conhecimento nas redes sociais.
d) ( ) Valorizou o isolamento dos indivíduos pela produção de softwares de codificação.
e) ( ) Incorpora valores do Iluminismo ao favorecer o compartilhamento de informações
e conhecimentos.

120
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
AVANÇOS TECNOLÓGICOS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, ao falarmos de avanços tecnológicos, se torna importante
compreendermos sobre as práticas de inovação, compreender comunidades virtuais e
seus impactos e conhecer um pouco das novidades tecnológicas existentes.

A tecnologia faz parte do nosso dia a dia e vem se expandindo cada vez mais.
Neste tópico, queremos apenas trazer algo sobre as novas tecnologias, mas fique
antenado nos noticiários, todos os dias temos o lançamento de uma nova tecnologia.

2 TENDÊNCIAS ORGANIZACIONAIS DO SÉCULO XXI


Muitas pessoas não conseguem trabalhar sem seu laptop ou smartphone. Além
disso, para muitos é impossível imaginar o dia sem o Google ou, para outros, mensagens
de texto, WhatsApp ou Facebook para ficar em contato com uma grande rede de colegas.
Em apenas uma década a tecnologia mudou muito a forma como trabalhamos e nos
comunicamos. E na próxima década, com o aumento da velocidade das conexões da
internet, haverá mudanças mais profundas para o trabalho do que qualquer coisa vista
até o momento. Todas as informações serão mais fáceis de visualizar e analisar.

As empresas enfrentam mudanças mais abrangentes e com maior alcance em


suas implicações do que qualquer coisa desde a Revolução Industrial moderna, que
ocorreu no início de 1900 (BALTZAN; PHILLIPS, 2012). Para auxiliar na compreensão e
influência das tecnologias em nosso modo de vida, observe as informações das figuras
a seguir, nelas consta uma nova tecnologia que já vem sendo utilizada por empresas e
pela educação, chama-se: comunidades virtuais.

121
FIGURA 18 – COISAS QUE VAMOS DIZER PARA NOSSOS NETOS

FONTE: Baltzan e Phillips (2012)

FIGURA 19 – COMO SEREMOS LEMBRADOS POR NOSSOS NETOS

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/JJh21n> Acesso em: 13 dez. 2017.

3 COMUNIDADES VIRTUAIS
Você já ouviu falar em comunidade virtual? Também encontramos com o nome
de grupo virtual, mas perante a bibliografia vamos trabalhar com comunidade virtual.

122
As comunidades virtuais são redes virtuais de comunicação interativa,
organizadas em interesses compartilhados. Ao analisarmos o passado, na origem das
primeiras civilizações, o ser humano era nômade, vivia da caça, pesca e coleta de produtos
na natureza. Com o passar dos anos o ser humano aprendeu a se organizar em grupos,
assim nascendo as primeiras comunidades, as quais deram origem às civilizações. Esses
grupos humanos definiram formas de expressar valor moral e cultural, de acordo com
cada época. Com as novas tecnologias constituíram-se grupos de sujeitos ligados por
vínculos não formalizados, com características comuns, formando-se as comunidades
virtuais (MUSSOI; FLORES; BEHAR, 2007).

NOTA
As comunidades virtuais se constituem de grupos de pessoas interconectadas
em busca da inteligência coletiva.

FIGURA 20 – PRINCÍPIOS DA CIBERCULTURA

FONTE: Os autores

123
Uma comunidade virtual é uma inteligência coletiva em potencial. Um grupo
humano se interessa em constituir-se como comunidade virtual para aproximar-se do
ideal do coletivo inteligente, mais imaginativo, mais capaz de aprender e inventar. A
virtualização ou desterritorialização das comunidades no ciberespaço são condições
para haver inteligência coletiva em grande escala. A inteligência coletiva é o terceiro
princípio da cibercultura. O ciberespaço é a ferramenta de organização de comunidades
de todos os tipos, o melhor uso do ciberespaço pode ser alcançado ao se colocar
em sinergia os saberes, as imaginações e as energias espirituais daqueles que estão
conectados a ele. A cibercultura é a expressão da aspiração de construção de um
laço social, fundado sobre a reunião em torno de centros de interesses comuns, no
compartilhamento de informações, na cooperação e nos processos de colaboração
(MUSSOI; FLORES; BEHAR, 2007).

DICAS
Quer conhecer mais sobre a Cibercultura? Então leia o livro de Pierre Lévy.
Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.

Para estimular sua leitura e aprofundar o conceito de cibercultura, trazemos


alguns trechos do livro de Pierre Lévy (1999, p. 11).

Pensar a cibercultura: esta é a proposta deste livro. Em geral me


consideram um otimista. Estão certos. Meu otimismo, contudo, não
promete que a Internet resolverá, em um passe de mágica, todos
os problemas culturais e sociais do planeta. Consiste apenas em
reconhecer dois fatos. Em primeiro lugar, que o crescimento do
ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens
ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação
diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. Em
segundo lugar, que estamos vivendo a abertura de um novo espaço
de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades
mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural
e humano.

O referido autor apresenta a contextualização dos princípios da cibercultura no


mundo atual, e conclui que o programa da cibercultura é o universal sem totalidade,
ou seja, possui uma relação profunda com a ideia de humanidade e se abastece da
diversidade cultural.

A interconexão para a interatividade é supostamente boa, quaisquer


que sejam os terminais, os indivíduos, os lugares e momentos que ela
coloca em contato. As comunidades virtuais parecem ser um excelente
meio (entre centenas de outros) para socializar, quer suas finalidades
sejam lúdicas, econômicas ou intelectuais, quer seus centros de

124
interesse sejam sérios, frívolos ou escandalosos. A inteligência coletiva,
enfim, seria o modo de realização da humanidade que a rede digital
universal felizmente favorece, sem que saibamos a priori em direção
a quais resultados tendem as organizações que colocam em sinergia
seus recursos intelectuais. Em resumo, o programa da cibercultura é o
universal sem totalidade (LÉVY, 1999, p. 132).

As comunidades virtuais podem ter diversidade de pessoas, como de assuntos.


Para educação, uma comunidade virtual cria uma relação de professor-aluno que
dialogam e estabelecem regras juntos. O professor, nesta situação, é o mediador,
orientador, instigador do processo.

Palloff e Pratt (2004) apresentam técnicas instrucionais centradas no aluno


para que o professor tenha sucesso nas interações das comunidades:

• Acesso e habilidade: o professor deve utilizar apenas tecnologias que sirvam aos
objetivos da aprendizagem; a tecnologia deve ser mantida em um nível simples, para
que seja transparente ao aluno; o professor deve se certificar de que o aluno tenha
habilidade necessária para usar a tecnologia.
• Abertura: sempre comece a atividade com apresentação; use atividades de
aprendizagem que levem em consideração a experiência e a resolução de problemas.
• Comunicação: deixe claro ao aluno as diretrizes para a comunicação, incluindo a net
etiqueta; exemplifique como realizar uma boa comunicação; estimule a participação;
acompanhe os alunos que não participam.
• Comprometimento: explique suas expectativas em relação à utilização do tempo;
explique a realização de trabalhos, prazos de entrega e meios pelos quais a
avaliação será elaborada; crie uma agenda de publicação junto aos alunos; apoie o
desenvolvimento de boas habilidades de gerenciamento de tempo.
• Colaboração: trabalhe com estudos de caso, trabalhos em pequenos grupos,
simulações e utilização do pensamento crítico; faça com que os alunos enviem seus
trabalhos para a comunidade, para maior interação com os demais colegas; faça
perguntas abertas para estimular a discussão.
• Reflexão: coloque regras quanto ao tempo de postagem da mensagem; estimule
os alunos a refletir, escrever off-line e depois transcrever para a comunidade; faça
perguntas abertas e estimule a reflexão sobre o material utilizado.
• Flexibilidade: varie as atividades para atender todos os estilos de aprendizagem e
oferecer um interesse adicional; negocie as diretrizes da atividade com os alunos,
assim promovendo maior engajamento; use a internet como uma ferramenta e um
recurso de ensino e estimule os alunos a buscar referências que possam compartilhar.

Analisando ao nosso redor, temos diversas formas de comunidades virtuais,


e você deve conhecer muitas delas. Veremos no próximo subtópico essas formas,
conhecidas por redes sociais.

125
3.1 REDES SOCIAIS
As redes sociais podem ser vistas como uma tecnologia com menos seguidores
para a sua utilização como uma ferramenta de trabalho, mas não deve ser, devido ao
número de assinantes dessa tecnologia. Esses sites permitem que o usuário faça várias
atividades, tais como: postar um perfil, fotos, vídeos, chat, blog, e se conectar com seus
pares através de boletins individuais, grupos privados e fóruns.

Quais são os aspectos críticos que definem uma tecnologia de rede social?
Tradicionalmente, os traços dessas ferramentas incluem a criação de um login no site,
que fornece uma página de perfil, em que muitas vezes você pode adicionar fotos e
outros conteúdos. Você pode se conectar com outras pessoas que conhece ou pode
encontrar novas pessoas através do site, tornando-se o seu "amigo". Este título serve
para designar, no site, que duas pessoas estão ligadas de alguma forma. Isso proporciona
a capacidade de receber atualizações em suas páginas "de amigos", comunicar-se com
eles através de e-mail no local/comentários/chat, e criar grupos específicos no site em
torno de temas ou conteúdo. A seguir, veremos algumas novidades tecnológicas.

DICAS
Alguns sites que você deve acessar para ficar dentro das atualidades
tecnológicas:

<http://www.cienciahoje.pt/3445>
<http://olhardigital.uol.com.br/home>
<http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia>
<http://revistapesquisa.fapesp.br/>
<http://www2.uol.com.br/sciam/>
<http://www.abc.org.br/centenario/>
<http://www.scielo.org/php/index.php?lang=pt>

126
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Algumas tendências para as empresas perante as tecnologias.

• O que são comunidades virtuais e para que servem.

• O que é cibercultura e seus princípios.

• O que são redes sociais.

127
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE – 2014) O trecho da música “Nos bailes da vida”, de Milton
Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”, é antigo, e
a música, de tão tocada, acabou por se tornar um estereótipo de
tocadores de violões e de roda de amigos em Visconde de Mauá, nos
anos de 1970. Em tempos digitais, porém, ela ficou mais atual do que nunca. É
fácil entender o porquê: antigamente, quando a informação se concentrava em
centro de exposição, veículos de comunicação, editoras, museus e gravadoras,
era preciso passar por uma série de curadores, para garantir a publicação de
um artigo ou livro, a gravação de um disco ou a produção de uma exposição.
O mesmo funil, que poderia ser injusto e deixar grandes talentos de fora,
simplesmente porque não tinham acesso às ferramentas, às pessoas ou às
fontes de informação, também servia como filtro de qualidade. Tocar violão ou
encenar uma peça de teatro em um grande auditório costumava ter um peso
muito maior do que fazê-lo em um bar, um centro cultural ou uma calçada. Nas
raras ocasiões em que esse valor se invertia, era justamente porque, para uso
do espaço “alternativo”, havia mecanismos de seleção tão ou mais rígidos que
o espaço oficial.

A partir do texto acima, avalie as asserções a seguir e a relação entre elas.

I- O processo de evolução tecnológica da atualidade democratiza a produção e a


divulgação de obras artísticas, reduzindo a importância que os centros de exposição
tinham nos anos de 1970.

PORQUE

II- As novas tecnologias possibilitam que artistas sejam independentes, montem seus
próprios ambientes de produção e disponibilizem seus trabalhos, de forma simples,
para um grande número de pessoas.

A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.

a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.


b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa
correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.

128
2 (ENADE – 2013) Uma revista lançou a seguinte pergunta em um
editorial: “Você pagaria um ladrão para invadir sua casa?”. As pessoas
mais espertas diriam provavelmente que não, mas companhias
inteligentes de tecnologia estão, cada vez mais, dizendo que
sim. Empresas como a Google oferecem recompensas para hackers que
consigam encontrar maneiras de entrar em seus softwares. Essas companhias
frequentemente pagam milhares de dólares pela descoberta de apenas um
bug, o suficiente para que a caça a bugs possa fornecer uma renda significativa.
As empresas envolvidas dizem que os programas de recompensa tornam seus
produtos mais seguros. “Nós recebemos mais relatos de bugs, o que significa
que temos mais correções, o que significa uma melhor experiência para nossos
usuários”, afirmou o gerente de programa de segurança de uma empresa. Mas
os programas não estão livres de controvérsias. Algumas empresas acreditam
que as recompensas devem apenas ser usadas para pegar cibercriminosos,
não para encorajar as pessoas a encontrar as falhas. E também há a questão
de double-dipping, a possibilidade de um hacker receber um prêmio por ter
achado a vulnerabilidade e, então, vender a informação sobre o mesmo bug
para compradores maliciosos.

Considerando o texto acima, infere-se que:

a) ( ) Os caçadores de falhas testam os softwares, checam os sistemas e previnem


os erros antes que eles aconteçam e, depois, revelam as falhas a compradores
criminosos.
b) ( ) Os caçadores de falhas agem de acordo com princípios éticos consagrados no
mundo empresarial, decorrentes do estímulo à livre concorrência comercial.
c) ( ) A maneira como as empresas de tecnologia lidam com a prevenção contra
ataques dos cibercriminosos é uma estratégia muito bem-sucedida.
d) ( ) O uso das tecnologias digitais de informação e das respectivas ferramentas
dinamiza os processos de comunicação entre os usuários de serviços das
empresas de tecnologia.
e) ( ) Os usuários de serviços de empresas de tecnologia são beneficiários diretos dos
trabalhos desenvolvidos pelos caçadores de falhas contratados e premiados
pelas empresas.

129
130
UNIDADE 2 TÓPICO 4 -
GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA
INTERNACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Os elementos que compõem o repertório da civilização ocidental em termos
de instituições, códigos jurídicos, leis, estatutos reguladores e pacificadores, por
muito tempo encontraram-se centrados em favorecer o poder político e os sistemas
econômicos, os quais, no momento presente, encontram-se em situação de crise e
mal-estar dos indivíduos, e a alternativa diante deste cenário tem sido a retomada das
formas de viver e fazer, dos costumes, valores, relações e vínculos de interdependência
e reciprocidade no interior das comunidades.

Vivemos em um momento de crises e impasses, isso encontra-se diretamente


relacionado com as matrizes e modelos teóricos que legitimavam o crescimento
econômico equilibrado (crença no mercado autorregulado), o modelo de organização
política (Estado neoliberal), o sistema monetário internacional (baseado no padrão-
ouro) e o equilíbrio de poder na geopolítica internacional (hegemonia norte-americana
e europeia).

Sem sombra de dúvidas, representamos uma civilização centrada no otimismo


do progresso e do trabalho capitalista, e cada vez mais é reconhecida a afirmação
do individualismo. À medida que avança o processo de conquista da propriedade e
da individualização dos sujeitos, faz-se necessário cada vez mais constituir normas
e um conjunto de outros valores éticos, sociais e de regulamentação que garantam
equidade e paz nas relações dos indivíduos. Bem, você deve estar se perguntando:
como chegamos a este estado?! Ao longo dos próximos dois subtópicos procuramos
apresentar elementos para que se compreenda o processo político, social e histórico
desse quadro.

2 GLOBALIZAÇÃO: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA


Trata-se de um fenômeno de organização e circulação política, econômica,
comercial e cultural, que foi praticado pelas mais diversas sociedades e desde os mais
antigos mercadores (fenícios) da antiguidade, que se organizavam em caravanas por
terra e expedições de navegadores por mares e oceanos.

131
FIGURA 21 – GLOBALIZAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://queconceito.com.br/wp-content/uploads/Globaliza ção.jpg>. Acesso em: 7


dez. 2017.

Alguns autores situam o fenômeno no final do século XV e ao longo do século


XVI, quando se dá início às grandes navegações que partiam do continente europeu em
direção a regiões como a América, África, Oceania e Ásia.

A globalização também é apresentada como sendo resultante das concepções e


direitos/deveres que existiam no interior da Revolução Francesa e da Revolução Industrial
inglesa do século XVIII, ao desenvolvimento do capitalismo em escala mundial, bem
como uma continuidade da lógica civilizacional que tem sido designada por modernidade
(concentração da população nas cidades, industrialização da produção, racionalização do
pensamento, laicidade do Estado), que se acentuará ao longo do século XIX.

As possibilidades de atuação da economia, em favor dos interesses de mercado,


foram potencializadas pelo espírito capitalista, que estava amparado na livre circulação
de mercadorias das doutrinas do “deixe ir, deixe vir e tudo se autorregulará”. Esta fórmula
e lei foram responsáveis por conferir ao sistema financeiro a dinâmica da “oferta e da
procura” de produtos, a transitoriedade e a flutuação de preços, de lucros e de taxas
de impostos, que por sua vez atribuíram ampla independência, liberdade nas relações
comerciais e na prestação de serviços.

O mercado preocupou-se, também, em perceber o potencial de consumo/


mercado, passando a intercambiar produtos entre as regiões que não eram capazes de
produzi-los. A esta prática pode-se exemplificar com os produtos ingleses e franceses,
que eram negociados com produtos e as populações dos países indianos, americanos,
africanos.

132
Resumidamente, o mercado atendia às demandas de economia (comércio,
circulação e consumo de produtos); o Estado, por sua vez, atendia a necessidades de
serviços junto à população (serviços educacionais, infraestrutura, habitação, saúde e lazer).

A globalização, que se apresenta ao nosso momento histórico, ganhou ênfase


no final dos anos de 1980, quando foi reconhecido o fim do cenário da Guerra Fria, com
as experiências da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e foi desfeito o
muro de Berlim, que separava a Alemanha Oriental (comunista/socialista) da Alemanha
Ocidental (capitalista).

Ocorreu também a formação da OMC: Organização Mundial do Comércio (que


conta com a adesão de mais de 150 países) e os blocos econômicos da UNIÃO EUROPEIA,
NAFTA, MERCOSUL, APEC, ASEAN, entre outros. Na América Latina estruturou-se a
CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), órgão para pensar o
desenvolvimento econômico, social e sustentável. Esta articulação de países indica um
forte movimento de regionalização das relações econômicas e políticas, assim como das
relações sociais e culturais entre os mesmos, e por sua vez, dos conceitos de fronteira,
espaço, nação, Estado, entre outros.

Ianni (1994) foi categórico quando refletiu que a fábrica global é tanto metáfora
quanto realidade, altamente determinada pelas exigências da reprodução ampliada do
capital.

No âmbito da globalização, os interesses de mercado revelam-se ávidos por


processos que sejam capazes de promover cada vez mais a concentração e centralização
do capital, para tanto articulam em torno de si empresas, mercados, forças produtivas,
centros decisórios, alianças, estratégias e planejamentos de corporações, que se
estendem e ultrapassam províncias, nações e continentes, ilhas e arquipélagos, mares
e oceanos (IANNI, 1994).

Os Estados, em vez de desaparecer, adquirem uma nova lógica de operação,


em que seu poder é limitado frente à expansão das forças transnacionais que reduzem
a capacidade dos governos de controlar os contatos entre as sociedades e os
indivíduos, por sua vez são forçados a impulsionar as relações transfronteiriças. Nessa
perspectiva, os problemas políticos nem sempre são resolvidos de forma adequada e
satisfatoriamente, então, eis que se faz necessário buscar a cooperação com outras
nações e agentes não estatais a fim de atender tais demandas (KEOHANE; NYE, 1989).

133
2.1 O TERCEIRO SETOR
O terceiro setor ganhou espaço de constituição e atuação a partir dos anos
de 1990. E instalou-se como alternativa em meio ao setor público/estatal (primeiro
setor) e o setor privado/industrial/mercado (segundo setor), no sentido de intermediar,
gerenciar e prestar serviços de interesse público em situações e contextos que os dois
outros setores não atingem/alcançam.

Por meio dessa formulação e composição de setores, cria-se um vácuo de


poder e ação que favorece a constituição de organizações, coletividades internacionais
e transnacionais, governamentais e não governamentais, que se propõem a apresentar
decisões políticas e ações sociais.

O terceiro setor constitui uma espécie de sociedade civil de caráter jurídico. Os


órgãos que compõem o terceiro setor podem ser sociedades, associações, fundações,
institutos, ONGs (Organismos Não Governamentais), OSCIPs (Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público). As ONGs que compõem uma associação civil de direito privado,
sem fins lucrativos ou econômicos, encontram-se pautadas nas normas e legislações da
Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Federal. Essas associações
recebem doações de empresas e pessoas físicas que procuram deduzir impostos que
devem ser pagos ao governo federal, para tanto precisam atuar em atividades que se
caracterizam como: entidades de interesse público, como fundos de direitos da criança e
do adolescente; instituições de ensino e pesquisa; e atividades culturais e audiovisuais.

Entre as críticas que são feitas à modalidade, encontram-se as situações em


que se caracterizam espaços que favorecem a atuação de grupos que se utilizam de
verbas públicas em nome de grupos privilegiados.

3 GLOBALIZAÇÃO: UM BALANÇO
A globalização pode apresentar sua face mais bem-sucedida, que reside no
fato de que foi capaz de favorecer a intercomunicação entre povos e as pessoas das
mais diferentes e inusitadas regiões do planeta, diminuir as fronteiras no campo dos
transportes e promover intercâmbios nas atividades de comunicação e informações.

A formação dos grupos regionais é capaz de conferir aos seus membros uma
melhor possibilidade de negociação e barganhas no jogo das relações que se dão no
cenário mundial. Por outro lado, quando interpretadas nas relações internas, em especial
com os membros que compõem o grupo do qual fazem parte, evidenciam-se realidades
sociais, culturais, condições de produção e capacidade de consumo desigual, de forte
dependência tecnológica e vulnerabilidades política e econômica (a exemplo disso
pode-se considerar o grupo NAFTA, que é composto pelos países: Canadá, Estados
Unidos da América e México).

134
Todavia, acabou por prevalecer o caráter de fazer com que as relações políticas,
os governos, os grupos sociais e movimentos culturais fossem colocados a favor
dos interesses da economia. Acabou-se por padronizar cada vez mais os processos
de produção, os desejos de consumo, os estilos de vida e as culturas, anulando cada
vez mais as diferenças, identidades, as especificidades, as tradições locais e regionais,
qualquer tipo de fronteiras e valores morais tradicionais.

Os modelos ideais de globalização que foram postulados garantiam que os


indivíduos se abrissem a uma imensa variedade e riqueza de itens, tanto materiais
como imateriais. Munidos desses itens, a vida ganharia uma dinâmica e a criatividade
dos ares de liberdade, que por sua vez contagiariam com imensa alegria e colocariam
em movimento o ambiente cultural e intelectual dos hábitos, dos costumes, das
mentalidades de todos e a todos em toda face da Terra (BERMAN, 1986).

A partir das formulações de produção, trabalho e economia postuladas pelos


teóricos do século XIX, gerou-se uma espécie de novo modelo antropológico de homem,
o Homo economicus, que tem como centro e modo de vida os princípios da economia,
que se revela pelos aspectos de um comportamento de individualismo exacerbado,
competição desenfreada e o consumismo sem sentido, numa espécie de busca pelo ter
e ter cada vez mais, e obtido a qualquer custo.

AUTOATIVIDADE
1 (ENADE – 2014) Com a globalização da economia social por meio das
organizações não governamentais, surgiu uma discussão do conceito
de empresa, de sua forma de concepção junto às organizações
brasileiras e de suas práticas. Cada vez mais é necessário combinar
as políticas que priorizam modernidade e competitividade com incorporação dos
setores atrasados mais intensivos de mão de obra. A respeito desta temática, avalie
as afirmações a seguir:

I- O terceiro setor é uma mistura dos dois setores clássicos da sociedade, o público
representado pelo Estado, e o privado representado pelo empresariado em geral.
II- É o terceiro setor que viabiliza o acesso da sociedade à educação e ao desenvolvimento
de técnicas industriais, econômicas, financeiras, políticas e ambientais.
III- A responsabilidade tem resultado na alteração do perfil corporativo e estratégico
das empresas, que têm reformulado a cultura e a filosofia que orientam as ações
institucionais.

135
Está correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.

4 A POLÍTICA INTERNACIONAL
A política ganhou um caráter internacional a partir do século XVIII, quando do
surgimento do Estado Moderno, em que o sistema capitalista irá se instalar a fim de
obter condições e favorecimentos para expandir seus alcances em termos de matérias-
primas, frentes de investimento e mercado consumidor. Ela pode ser identificada
ainda quando da vigência do regime de Colonialismo, que vigorou na era das grandes
navegações, quando Espanha e Portugal estabeleciam e organizavam politicamente
suas colônias de exploração nos continentes americano e africano.

5 O ESTADO MODERNO E O LIBERALISMO


Surge no contexto em que ocorre o enfraquecimento do Antigo Regime
(marcado pelas monarquias), das aristocracias, do clero, da Igreja Católica como um
todo, diante do fortalecimento crescente do Estado moderno, da burguesia comercial,
do liberalismo e do capitalismo.

O Estado moderno possuía como principal intento reestruturar os governos de


forma laica/secular, de forma a estabelecer regulação política, jurídica e institucional
das relações entre religião e política, Igreja e Estado, ou seja, conferir emancipação do
Estado e do ensino público dos poderes eclesiásticos e de toda referência e legitimação
religiosa. Nesse contexto, caberia ao Estado garantir a neutralidade em matéria religiosa
(ou a concessão de tratamento estatal isonômico às diferentes agremiações religiosas),
a tolerância religiosa e as liberdades de consciência, de religião (incluindo a de escolher
não ter religião) e de culto (CASANOVA, 1994).

A busca por um novo/outro conjunto de valores morais, o exercício de métodos


sofisticados de pensar e sentir, a racionalidade desprendida de uma matriz religiosa
dogmática, o reconhecimento da subjetividade inerente às relações humanas, a defesa
da liberdade de pensar e agir conforme uma ética particular/interiorizada, tudo isto
vai reforçar a crítica aos resquícios que ainda persistiam do mundo feudal, do Antigo
Regime e dos sistemas monárquicos que perduraram ao longo dos séculos XVII e XVIII.

136
O Estado Moderno e o Liberalismo concatenam todo um processo histórico, com
múltiplas determinações: a ideia moderna de indivíduo (que não se restringe ao ideário
liberal) e que surgiu em meio a mudanças profundas e que abrangiam as mais diversas
relações humanas, tais como religião, política, economia, trabalho, família, ideias, artes:
tudo convergindo e reforçando mutuamente para produzi-la.

O Imperialismo que surgiu foi uma formação de governo e política, que se


praticou muito no século XIX, e foi exercido pelos países europeus para com os países
de regiões como a África, América e Ásia, de onde obtinham matérias-primas para
empreender sua produção industrial, consolidavam relações comerciais e mercados
consumidores e exerciam influência/dominação cultural.

6 O NEOLIBERALISMO E A TERCEIRA VIA


O neoliberalismo forjou-se a partir dos elementos já existentes no interior do
liberalismo clássico do século XVIII, porém, agora privilegiou os ideais econômicos, em
especial os princípios de liberdade de empreendimento, de propriedade e de lucro, em
detrimento das demandas/necessidades políticas e sociais (legitimidade, direitos e
serviços) dos indivíduos.

Dentre as críticas que são feitas ao neoliberalismo tem-se as políticas que


promovem a redução da interferência/regulação do Estado nas atividades econômicas/
financeiras, permitindo o livre funcionamento do mercado, inclusive na distribuição da
riqueza; assim como na promoção de bem-estar, em prol da privatização por grupos
privados na oferta de serviços de saúde, educação, cultura, pensões, entre outros.

No contexto de política econômica, os governos deveriam atuar no sentido de


favorecer mudanças tecnológicas e a rentabilidade das empresas, favorecendo cada
vez mais o mercado livre e a redução da taxa de acumulação.

As principais experiências de governos neoliberais podem ser identificadas


com o caso da Inglaterra, sob o governo da primeira ministra Margareth Thatcher, e
dos Estados Unidos, com o presidente Ronald Reagan; do ditador Augusto Pinochet, no
Chile; e em termos de bases teóricas, a Escola de Chicago, liderada pelos economistas
Milton Friedman e George Stigler.

A ‘terceira via’ foi apresentada como alternativa frente às crises que emergiam
das políticas neoliberais, que propõe uma espécie de humanização do capitalismo,
nos aspectos do malefício do Estado neoliberal e da sociedade de livre mercado. Na
qual estariam engajados tanto dirigentes políticos de países ricos e representantes de
empresas transnacionais, que em meio às crises econômicas se dedicariam a amenizar
os impactos sociais, as injustiças, revoluções e caos, no sentido de manter a paz e
coesão social.

137
Anthony Giddens (2001), um dos principais estudiosos e defensores da ‘terceira
via’, a explica como sendo uma estratégia de âmbito mais global, a fim de favorecer e
melhorar as sociedades burguesas e democráticas, uma perspectiva de que os Estados/
governos devem se reformar e a sociedade civil se qualificar/educar no sentido de os
indivíduos exercerem a cidadania para participar e decidir diante das demandas de
caráter coletivo.

Os defensores da ‘terceira via’ interpretam que grande parte dos problemas que
acometem os países pobres e subdesenvolvidos não são fruto da economia global ou
das práticas de exploração das nações ricas, e sim das condições internas das próprias
sociedades.

A terceira via pode ser observada quando partidos políticos de esquerda, ou


de cunho social, trabalhista e democrático, procuram ajustar suas políticas aos moldes
neoliberais e, por outro lado, criar modos particulares de amenizar os problemas sociais
e os riscos de degradação sociopolítica de seus países, em meio ao capitalismo que se
torna cada vez mais global e ao mercado que se faz cada vez mais onipresente, ambos
processos de pouca probabilidade de reversão.

7 TENDÊNCIAS AOS GOVERNOS E À POLÍTICA


INTERNACIONAL
Existem impasses que se abatem sobre as mais diversas nações e países do
globo, tais como governos e os sistemas políticos altamente burocratizados e quase
falidos, e incapazes de conseguirem proporcionar justiça e bem-estar social, envolvidos
em redes profundas de corrupção.

O estudioso Ladislau Dowbor procura fazer uma síntese da trajetória e do perfil


do conceito de governo, levando em consideração o caráter que este apresentou em
termos de princípios na responsabilidade pela administração, na relação com os cidadãos
e no atributo que norteia os espaços, os processos e as instâncias que compõem um
governo.

Observe com atenção o quadro a seguir, que faz as devidas distinções e


estabelece comparações e reflexões.

138
QUADRO 6 – EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE GOVERNO - LADISLAU DOWBOR

ADMINISTRAÇÃO NOVA GESTÃO GOVERNANÇA


PÚBLICA PÚBLICA PARTICIPATIVA
PRINCÍPIOS Cumprimento de Eficiência e Responsabilidade,
ORIENTADORES leis e regras resultados transparência e
participação
RESPONSABILIDADE
DA ADMINISTRAÇÃO Políticos Clientes Cidadãos, atores
SUPERIOR

RELAÇÃO CIDADÃO- Obediência Credenciamento Empoderamento


ESTADO
ATRIBUTO-CHAVE Imparcialidade Profissionalismo Participação
FONTE: World Public Sector Report (2005, p. 7)

Estabelecendo relação com o quadro geral dos modelos econômicos que


influenciaram e configuraram os sistemas políticos, pode-se situar os modelos de liberalismo
à estrutura de governo denominada de ‘administração pública’, modelo de governo que
vigorou ao longo do neoliberalismo na categoria de ‘nova gestão pública’ como que sendo
pertencente à terceira via, identificado também como ‘governança participativa’.

Nesse contexto de mudanças de modelos de Estado/governo, cada vez mais o


Estado é chamado a ampliar os investimentos em recursos humanos e infraestrutura
local, sendo de responsabilidade do Estado proteger os grupos vulneráveis e o meio
ambiente, aproximar o Estado da população, criar meios e políticas que favoreçam a
inclusão e participação efetiva dos cidadãos, reduzir as oportunidades de corrupção,
garantir estabilidade macroeconômica, favorecer parcerias entre o setor público e o
privado, gerir os processos de privatização, fortalecer redes industriais em nível nacional,
regional e internacional; apoiar as exportações, entre outros.

DICAS
Acesse a página do professor da Universidade de São Paulo/USP Ladislau
Dawbor. Aprofunde seus conhecimentos sobre política, governo, economia,
tecnologia e sociedade com as dicas e sugestões de livros, artigos e filmes lá
indicados. Disponível em: <http://dowbor.org/>. Acesso em: 4 jun. 2015.

139
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A globalização consiste em um fenômeno antigo em meio às sociedades que


procuravam intercambiar produtos, tecnologias e informações, porém, ganhou forte
impulso ao final da década de 1980, quando ocorreu a queda do Muro de Berlim e do
fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

• O fenômeno da mundialização das relações financeiras e da globalização favoreceu


alguns grupos regionais que buscam tanto favorecer como proteger os processos
industriais que existem no interior dos países membros, e neste contexto os governos
desempenham papel fundamental.

• Dentre os desafios que ocorrem no interior dos grupos econômicos está a


heterogeneidade das bases produtivas, a vulnerabilidade econômica, instabilidades
políticas e a diversidade sociocultural de cada país membro.

• A terceira via consiste em uma união de representantes de órgãos políticos e


financeiros que pretendem apresentar soluções no sentido de amenizar e humanizar
os impactos do sistema neoliberal em meio à sociedade e às populações.

• O perfil de Estado/governo que se faz necessário no cenário político atual é o de um


governo capaz de proteger os grupos vulneráveis e o meio ambiente, criar meios
e políticas que favoreçam a inclusão e participação efetiva dos cidadãos, reduzir a
corrupção, garantir estabilidade macroeconômica, gerir os processos de privatização,
fortalecer redes industriais em nível nacional, regional e internacional.

140
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE – 2014) Ideais liberais e métodos democráticos vieram,
gradualmente, se combinando num modo tal que, se é verdade que
os direitos de liberdade deram início à condição necessária para
a direta aplicação das regras do jogo democrático, é igualmente
verdadeiro que, em seguida, o desenvolvimento da democracia se tornou o
principal instrumento para a defesa dos direitos de liberdade.

De acordo com a orientação teórica expressa no texto acima, avalie as afirmações a


seguir.

I- Liberalismo e democracia, doutrinas políticas distintas, exercem grande influência


no ordenamento político das sociedades atuais.
II- Liberalismo e democracia são doutrinas políticas que surgiram em momentos
diferentes e convergiram para dar origem à democracia liberal.
III- Liberalismo é uma doutrina política incongruente com o ideal igualitário, que
caracteriza a tradição democrática.

É correto o que se afirma em:


a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.

141
142
UNIDADE 2 TÓPICO 5 -
RELAÇÕES DE TRABALHO

1 INTRODUÇÃO
Um indivíduo/trabalhador, consciente de si e de seu fazer profissional,
geralmente pergunta-se sobre aspectos inerentes ao ofício, tais como: saber fazer,
técnica, matéria-prima e energia, os meios de produção, o produto, custo, margem de
lucro, jornada de trabalho, remuneração, condições de trabalho, comércio, consumo,
categoria de trabalho, reconhecimento e valor/sentido social e a realização, a satisfação/
sentido pessoal, os âmbitos e as instituições que intermedeiam seu fazer profissional.

2 ORIGEM/SIGNIFICADO DA PALAVRA TRABALHO


Ao pensar e refletir sobre relações de trabalho, parece que se toca em uma
questão que é responsável por causar entusiasmo e resistência aos indivíduos, ao mesmo
tempo as pessoas se sentem dispostas e se dedicam a certa atividade e, por outro lado,
recuam diante das condições, regramentos e normatizações em que precisarão estar
alinhadas e adequadas. Percebe-se, também, uma espécie de um relutar diante do fato
da exploração do homem pelo próprio homem, no sentido de obter e gerar riqueza.

Conta-se com todo um processo e imaginário histórico para que isso ocorra,
no sentido de que as relações de trabalho se encontram forjadas em meio a elementos
religiosos, sociais, econômicos e políticos, e procura-se apresentar as principais
concepções e dinâmicas que o homem atribuiu ao trabalho ao longo de sua jornada
histórica, bem como as possibilidades do momento presente e vislumbrar tendências
que as relações de trabalho podem trilhar.

Albornoz (2008) apresenta que a expressão trabalho contém muitos significados,


tais como esforço, fadiga, sofrimento, labuta, castigo, realização, sacrifício; que existem
muitas expressões, nas mais diferentes línguas, como labor e operare no italiano,
travailler no francês, work no inglês; bem como comporta correlações entre as mesmas,
como no caso da palavra latina arvum, que significa terreno arável, que surgiu da noção
do alemão arbeit, que significa trabalho.

Na Grécia antiga, pode ser associada à noção de poiesis, que significava o fazer,
a fabricação, o que o ser humano produz tanto material: uma obra de arte executada
por um artista, escultor, ceramista; como não material: instituições sociais, referências
culturais etc.

143
A expressão trabalho, tal como é escrita e utilizada na língua portuguesa, deriva
da expressão latina tripalium, que ao longo da Idade Média era o nome dado a um
instrumento de tortura que apresentava três paus reunidos, utilizado pelos camponeses
e servos para bater o trigo, as espigas de milho, e para desfiar e esfiapar o linho; certa vez
foi adaptado e utilizado como instrumento de tortura (ALBORNOZ, 2008).

O missionário católico Raimundo Lélio (1232-1315), que atuou entre os povos


catalães no século XIII, foi o responsável por reabilitar a expressão e concepção
‘trabalho’, que foi amplamente difundida na sociedade moderna industrial e capitalista
(GANDILLAC, 1995). A concepção de trabalho também é identificada na denominação
de tripalium, que foi extraída do latim e designava um instrumento de tortura reservado
aos escravos. Lélio a substituiu pela expressão treballan, que é oriunda do idioma
catalão, que designa a habilidade em elaborar a matéria bruta, transformando-a em
obra, realização e propriedade humana, e dignificadora do próprio homem.

Labor e trabalho são expressões muito utilizadas e até sinônimos, porém Arendt
(2007) nos propõe que se faça distinção entre elas. Por labor a autora relaciona o ato de
trabalhar, que está na labuta, numa lógica de estar em curso, na disposição de verbo no
gerúndio, está ocorrendo, não comporta a noção de produto final. Por trabalho designa
as atividades feitas com as mãos, a noção de produto, trata-se de um trabalho que é
apresentado como acabado.

Os estudiosos são unânimes ao apresentar que a palavra trabalho deve ser


identificada e compreendida ainda nas sociedades ágrafas (sociedade sem escrita),
quando ocorreu a passagem das atividades de caça, coleta e pesca à prática da
agricultura e na domesticação dos animais.

Durante muitos séculos, a moral e a ética do “trabalho” e da “conquista”


permaneceram, em grande parte, como um fato circunscrito ao universo rural, ao lavrar e
semear a terra, colher e armazenar alimentos, domesticar e tratar animais, construir pontes,
moinhos, celeiros, castelos, palácios, igrejas, minerais, metais preciosos, entre outros.

As concepções foram alteradas, inclusive as mais antigas, quando reunidas nos


livros da Bíblia Sagrada, em que o trabalho não é mais visto como um indício da maldição
de Deus a Adão e Eva, com a expulsão do paraíso, sendo que teriam que ganhar o pão
com o suor do próprio rosto. Os gregos distinguiam entre esforço do trabalho na terra, a
fabricação do artesão que servia ao usuário, e a atividade livre do cidadão que discutia
os problemas da cidade. De modo muito semelhante na Idade Média, trabalhar com as
mãos era sinônimo de ser escravo ou servo, um indício de que o indivíduo pertencia aos
grupos inferiores da sociedade.

A partir da reforma protestante, empreendida pelo teólogo Martinho Lutero


(1483-1546), a concepção de trabalho foi profundamente reformulada no sentido de
que o trabalho, como vocação, conduziria os indivíduos à salvação da alma. João
Calvino (1509-1564), teólogo francês, apresentava a noção de que o trabalho, o êxito

144
e a prosperidade material em vida deveriam ser compreendidos como uma forma de
conquistar a benevolência de Deus. Ambas as teorias favoreceram o contexto no qual
implantavam-se políticas de mercantilismo e capitalismo.

O sociólogo Max Weber (1864-1920) defendeu, em seus estudos, que os valores


religiosos do protestantismo favoreceram e coincidiam com o espírito do capitalismo, no
sentido de que superavam a moral católica de renúncia ao mundo material, do acúmulo
de bens financeiros e ao lucro, na vida religiosa de devoção contemplativa e de renúncia
ao mundo material.

A noção de vocação para o trabalho foi associada também à ideia de amor


ao próximo, e quanto mais intensa a atividade profissional, maior a aproximação da
salvação. Por outro lado, a falta de vontade de trabalhar passou a ser compreendida
como ausência do estado de graça e do não merecimento da salvação de Deus. Assim,
estava autorizado que todo indivíduo empreendesse a busca pela riqueza material,
podendo realizar grandes ações e assim galgar sua própria salvação.

Uma das principais alterações que a modernidade realizou foi a de apropriar-se


da concepção positiva de trabalho e mudar o ambiente de realização do mesmo, que
do interior das casas ou no interior das corporações de ofício passou a ser realizado em
cidades, no interior dos espaços das fábricas.

Foi nesta época que surgiram as noções de divisão de trabalho, na qual cada
indivíduo, com a fração/parte que desempenha, na sua especialidade, contribui à soma
de trabalho coletivo, que por sua vez gera a riqueza de cada nação, o que se tornaria
uma espécie de consciência e interesse coletivo e comum a todo indivíduo. É nesse
momento que a mudança de percepção da noção de trabalho passa a ocorrer, no
sentido de que as pessoas passam a trabalhar para poder consumir, e não mais para
produzir algo.

A partir do século XVIII, os economistas Adam Smith (1723-1790) e David


Ricardo (1772-1823) reforçam os valores de atividades produtivas e de riqueza material,
e defendem que o trabalho é o grande responsável pela riqueza social, o que por sua
vez supervalorizou a ideia de homem operário, Homo economicus, que produz riqueza,
que contribui para que o sistema econômico continue a alcançar seus objetivos e
lançar novas possibilidades de investimentos e lucratividade. Foi nesse contexto que o
estudioso alemão Karl Marx (1818-1883) defendeu que a essência do homem é o trabalho
e não a sua vida espiritual. Passou a observar mais de perto a relação do homem e do
trabalho, ao ponto de analisar dimensões peculiares e subjetivas da relação do homem
com o trabalho e a mercadoria, e se engajar ativamente em fazer o processo de crítica
e denúncia das contradições que envolviam trabalhadores, proprietários dos meios de
produção e burgueses comerciantes, abrangendo o sistema capitalista como um todo.

145
No entanto, a perspectiva de Marx era a de que o exercício crítico, através
da intelectualidade, não era suficiente, para ele o mundo não se transforma com o
pensamento e leis, o mundo deveria ser transformado pela práxis, na organização
dos trabalhadores e na realização de atos revolucionários. A divisão do trabalho era
responsável pela alienação do homem na sociedade capitalista, que por sua vez se
revelava em face à perda da totalidade e da dignidade humana. Caberia ao proletariado a
responsabilidade pelo ato de fazer a revolução e transformar a sociedade, tomar o poder
e abolir a relação capitalista de produção. Em meio ao campo de luta e revoluções, os
trabalhadores deveriam estar conscientes de si e de sua classe/categoria e empreender
as revoluções que fossem necessárias a fim de desfazer o quadro de desigualdade,
injustiças e exploração que o trabalho favorecia. Marx defendia a superação do sistema
capitalista pelo comunismo, numa espécie de sociedade associativa em que o livre
desenvolvimento individual seria a condição do livre desenvolvimento de todos (MARX;
ENGELS, 2010).

Segundo Abbagnano (2000), a relação do trabalho com a existência humana


passa a ser lugar-comum na cultura contemporânea. Mesmo fora do âmbito marxista, o
caráter penoso atribuído ao trabalho não é atribuído ao trabalho em si, mas às condições
sociais em que ele é realizado nas sociedades industriais.

O trabalho passa a ser visto como parte fundamental da natureza humana. O


trabalho é ainda hoje visto como um valor social, sendo o trabalhador um personagem
social merecedor de respeito, admiração e dignidade pelas obras que faz a si, a seus
familiares e semelhantes.

A nova concepção que foi atribuída ao trabalho combina com os valores das
mudanças no interior da fabricação de produtos. O homem, reconhecendo que o trabalho
não era mais motivo de sofrimento e castigo, mas sim uma atividade que o tornaria
socialmente reconhecido, sentiu-se motivado e disposto a se dedicar e doar a fim de
preencher as oportunidades e a demanda da manufatura e indústria nascente, bem
como o campo das invenções de máquinas e técnicas e o próprio sistema capitalista,
que estavam exigindo.

Trabalho, geralmente, pode ser definido como atividade coordenada de caráter


físico ou intelectual, necessária a qualquer tarefa, serviço ou empreendimento, ocupação,
ofício, exercício de profissão. Um aspecto que distingue o trabalho humano do trabalho
dos outros animais está no fato de que o trabalho e esforço humanos são atribuídos
à intencionalidade, além da operação instintiva e programada que é reconhecida nas
atividades dos animais. No homem é percebido o grau de especialização, complexidade,
tanto das atividades, como dos meios dos quais ele se utiliza para realizar o trabalho.

A produção artesanal, produção familiar em espaços domésticos ou pequenas


oficinas, como alfaiates, ceramistas, sapatarias, na qual importa fazer um bom trabalho,
um produto único, com maestria e arte de fazê-lo. O trabalhador encontrava-se livre para

146
organizar seu trabalho, a seleção de sua matéria-prima, o começo, a forma, a técnica, o
ritmo, os detalhes, o acabamento, a entrega. Não ocorre a distinção de trabalho e lazer,
divertimento e cultura, ambos se fundem.

A Europa viveu seu momento de desenvolvimento industrial ainda no século


XIX, na América Latina ocorreu somente na segunda metade do século XX, realidades
nas quais o processo de aprimoramento da produção acabou por se modificar, não
seguindo a lógica de fases e processos que ocorreram na Europa. O quadro industrial
dessa região apresenta-se ora como que ainda na segunda revolução industrial, e ora
na produção que se utiliza de tecnologia de ponta e robotização, em especial a migração
e empregabilidade no setor de serviços. Ao mesmo tempo, encontram-se inúmeros
desafios em termos de dependência em relação a tecnologias e desigualdades no que
diz respeito ao acesso ao emprego.

No século XIX, pode-se falar que a produção capitalista, que introduziu a máquina
a vapor e a modernização dos métodos de produção, desintegrou costumes e introduziu
novas formas de organização da vida social. A transição da produção artesanal para a
manufatureira e desta para a produção fabril, a migração do campo para a cidade; o fim
da servidão; o desmantelamento da família patriarcal; a introdução do trabalho feminino
e infantil.

A individualização da produção, a programação das atividades, linhas de


montagem, produção em série e o consumo em massa (fordismo e taylorismo) almejavam
articular o acesso a matérias-primas, à mão de obra, ao fácil escoamento da produção e
obter maiores margens de lucros entre os custos e a comercialização da produção, que
por sua vez acarretam deslocamentos que desperdiçavam tempo significativo na vida
dos trabalhadores, além da produção de poluição e impactos ao meio ambiente.

A maquinização e a mecanização da produção conferiram ao trabalhador


a percepção da perda do saber fazer, a perda da noção de produtor. Diante disso, o
trabalhador se sentiu pressionado a se adaptar para poder operar as máquinas
que estavam sendo introduzidas nos espaços de trabalho. A separação, divisão
e especialização da produção fizeram com que o produtor não conseguisse mais
reconhecer a totalidade do produto depois de pronto. Mudanças da concentração da
população em relação às atividades econômicas e oportunidades de trabalho, assim
como o trabalho na indústria, acabaram por concentrar a população em determinadas
regiões e cidades, tornando-as superpovoadas.

O que Marx procurou definir como ‘alienação’ encontrava-se nascente nesses


processos, e depois poderia ainda ser verificada em situações como a do consumo dos
produtos que estavam sendo produzidos/consumidos, no contexto industrial em que a
produção se dava em grande escala e para consumo em massa. Trabalhadores como
alfaiates, costureiras, sapateiros, eram os testemunhos mais expressivos desse processo.

147
Diante da reflexão de Arendt (2007), podemos afirmar que, desde o século XIX,
o Homo faber foi perdendo sua aura e passou a ser valorizado o “princípio da felicidade”.
De fato, o progresso da civilização não produziu uma sociedade de indivíduos políticos
ou de trabalhadores que amam seu ofício, e sim uma sociedade de consumidores, de
indivíduos isolados e desenraizados, uma cultura de massa imersa em futilidade. E a
construção da identidade deixou de ser pautada em atividades criativas e produtivas, à
medida que o trabalho se tornou apenas um meio de satisfazer necessidades ou desejos
de consumo.

3 AS MULHERES NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO


INDUSTRIAL
As mulheres participaram da produção de utensílios, alimentos e mercadorias
desde os tempos mais remotos, que envolviam desde as atividades no interior da casa,
família e comunidade. A alimentação, o artesanato e a educação das crianças foram
inseridos no interior dos espaços de trabalho com fortes projetos a partir da Revolução
Industrial. Os maiores problemas surgem quando as mulheres passam a ser empregadas
no interior das indústrias modernas, em meio a longas jornadas de trabalho, com a
presença de maquinários, em que os salários pagos às mulheres eram inferiores.

A gradual introdução das mulheres no campo de trabalho favoreceu a mudança


de hábitos e costumes por parte das mesmas. O fato de trabalhar no interior das fábricas
exigia novos comportamentos, posturas e até uma indumentária que favorecesse a
realização das atividades e evitasse possíveis acidentes de trabalho. Os vestidos longos
e rodados, os chapéus e demais acessórios ofereciam risco de acidentes se usados nos
espaços de trabalho em meio às máquinas.

As roupas que deveriam ser usadas no interior das indústrias precisavam ser
justas, retas e que cobrissem o corpo o máximo possível. A condição e imposição
do meio de trabalho foram responsáveis por depreciar a feminilidade, fragilidade e
sensibilidade da mulher e favorecer uma postura rígida, tenaz e ereta. Foi neste contexto
que a estilista francesa Coco Chanel (1883-1971) começa a projetar roupas com design
mais favorável às atividades no interior das fábricas e empresas, nas quais se destacam
cortes e precisão geométrica das roupas e modelos ajustados ao corpo, ausentes de
babados, volumes, acessórios, entre outros.

148
ATENÇÃO
1º de Maio: Dia do Trabalhador,  Dia do Trabalho  ou  Dia Internacional
dos Trabalhadores
Esta data, que é comemorada em diversos países, como Brasil,
Portugal, Austrália, Angola, França, Suécia, Moçambique, é resultante
de uma greve geral de trabalhadores que ocorreu no ano de 1886,
no interior de Chicago, nos Estados Unidos da América. A paralisação
foi responsável por envolver diversos parques industriais da cidade.
Dentre as causas da paralisação encontrava-se a redução da jornada de
trabalho. A presença dos manifestantes na rua se estendeu por diversos
dias e acabou por ser reprimida com violência pelas tropas do governo,
causando inúmeras mortes.

A partir dos anos de 1990 o toyotismo, idealizado pelo engenheiro-mecânico


Taiichi Ohno (1912-1990), tornou-se tendência no interior dos sistemas produtivos.
Esse rearranjo produtivo apresenta, como princípios, a otimização da produção em
todas as fases e a integração de todos os setores no interior dos espaços produtivos;
no campo deliberativo requer a descentralização da tomada de decisões; produção de
itens diferenciados; formação de alianças e redes de atividades empresariais; por parte
dos indivíduos requer trabalho em equipe, proporciona a participação nos resultados,
subcontratação e exige qualificação constante.

4 O TRABALHO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS


O homem contemporâneo possui uma relação com o trabalho, que foi instaurada
ainda no século XIX e que ganhou desenvolvimento e aprofundamento ao longo do século
XX. Trata-se da produção industrial, tecnológica e a prestação de serviços no interior de
grandes cidades. O espaço primordial de realização dos indivíduos torna-se o espaço no
interior das cidades, os espaços das indústrias e o âmbito público das relações.

A era industrial deixou de cumprir sua ‘grande promessa’: fabulosas realizações


materiais e intelectuais. O sonho de sermos senhores independentes de nossas vidas
terminou quando despertamos para o fato de que todos nos tornamos peças ínfimas da
máquina burocrática, com nossos pensamentos, sentimentos e gostos manipulados pelo
governo, pela indústria e pelas comunicações de massa que controlam tudo (FROMM, 1987).

Uma das questões cruciais de tal processo diz respeito à passagem do regime
fordista (século XIX) ao regime chamado de produção toyotista. A técnica tornou cada
vez mais fragmentado o processo de trabalho e, consequentemente, independente dos
indivíduos, bem como aleatório com quem o faz, em que já não importa como cada
um o faz; importa sim que cada indivíduo mantenha-se submetido ao todo, mantenha
os laços, as passagens, o fluxo do processo, com o mínimo de interferência criativa,
inovação que possa tornar os fluxos ainda mais eficientes.
149
Trabalhar em uma mesma empresa por muitos anos, ser homenageado e receber
condecorações de três, cinco, dez, 15, 20 anos de empresa, faz parte da geração anterior
à qual nos encontramos e que tende a se tornar cada vez mais raro. Especialmente no
ramo do terceiro setor.

No interior das grandes organizações descortinam-se tendências à rotatividade,


à terceirização, cooperativas de trabalho, atividades autônomas, grupos de voluntariado,
economia solidária, entre outras. No panorama atual de sistemas de governos, grupos
empresariais e relações de trabalho, cadencia-se a internacionalização dos processos
de produção e comercialização e a mercantilização/financeirização das relações
econômicas e sociais, no sentido de que reforçam o sistema capitalista e o poder do
mercado, dimensões em que a noção de competição e propriedade prevalecem como
moral e finalidade última, o que por sua vez acaba por fragilizar as estruturas de Estado,
as relações sociais e culturais entre os indivíduos.

A tecnologia da informação, a descoberta e desenvolvimento de novos


materiais, as mudanças e oscilações nas estruturas de mercado e a capacidade de
competitividade e as relações intra e interpessoais parecem ser os elementos que mais
permeiam as relações de trabalho. No interior dessas novas tendências identifica-se a
busca dos indivíduos em vivenciar experiências que aliem trabalho, moradia, realização
de projetos pessoais, formação continuada, vivências familiares, sociais e de lazer.

4.1 AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO INFORMAL


O trabalho informal é o que ocorre nas experiências de trabalho artesanal e
prestação de serviços, em que envolve intensa dedicação de mão de obra, de caráter
temporário, geralmente apresenta pouco montante de capital envolvido e acaba
apresentando acordos à parte das legislações trabalhistas; o que por sua vez acaba
não concorrendo como linhas de financiamentos, seja de bancos ou governos; como
exemplo, pode-se relacionar as práticas de trabalho no ramo do vestuário e alimentação.

Como economia solidária, pode-se entender as atividades que ocorrem de forma


coletiva e em estruturas suprafamiliares, articuladas em associações, cooperativas,
empresas autogestadas, grupos de produção, clubes de trocas etc., cujos participantes
tanto podem ser trabalhadores dos meios urbano e rural.

Os envolvidos nas atividades de economia solidária exercem forte controle e


gerenciamento das atividades e dos resultados. Realizam atividades econômicas de
produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de crédito (cooperativas de
crédito e os fundos rotativos populares), de comercialização (compra, venda e troca de
insumos, produtos e serviços) e de consumo solidário. As atividades econômicas devem
ser permanentes ou principais, ou seja, a razão de ser da organização.

150
4.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E OS PROCESSOS LEGAIS NO
BRASIL
O trabalho livre e assalariado ganhou espaço após a abolição da escravidão
aplicada aos trabalhadores negros no Brasil em 1888 e com a gradual vinda dos
imigrantes europeus. As condições impostas eram ruins, acabaram por gerar no interior
do país as primeiras discussões sobre leis trabalhistas. Os imigrantes traziam consigo a
experiência do movimento operário e sindical no interior dos países europeus, o que por
sua vez favoreceu a estruturação de organizações de trabalhadores, círculos operários,
sindicatos e demais frentes de representação.

No final do século XIX surgem as primeiras normas trabalhistas, por meio do


Decreto nº 1.313, de 1891, que regulamentou o trabalho dos menores de 12 a 18 anos. Em
1912, foi fundada a Confederação Brasileira do Trabalho (CBT), durante o 4º Congresso
Operário Brasileiro. Dentre as causas defendidas pela Confederação estavam: a jornada
de trabalho de oito horas, fixação do salário-mínimo, indenização para acidentes,
contratos coletivos ao invés de individuais.

No cenário internacional do pós-1ª Guerra Mundial, em 1919, surge a Organização


Internacional do Trabalho (OIT), órgão internacional que por sua vez impulsionou a formação
de um Direito do Trabalho. O surgimento deste órgão, naquele momento histórico, visava
intermediar o conflito entre o capital e o trabalho, e que era visto como uma das principais
causas dos desajustes sociais e econômicos, inclusive motivadores de guerras.

DICAS
Caro estudante, procure saber mais sobre a atuação da Organização
Internacional do Trabalho-OIT. Trata-se do órgão responsável pelas
convenções e recomendações que norteiam as questões relacionadas
ao trabalho em nível internacional.

Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/content/apresenta%C3%A7%-


C3%A3o>. Acesso em: 3 jun. 2015.

A política trabalhista brasileira se consolida, de fato, após a Revolução de 30,


quando Getúlio Vargas cria o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. A Constituição
de 1934 foi a primeira a tratar de Justiça do Trabalho e Direito do Trabalho, assegurando a
liberdade sindical, salário-mínimo, jornada de oito horas, repouso semanal, férias anuais
remuneradas, proteção do trabalho feminino e infantil e igualdade salarial.

151
No Brasil de 1964, com o golpe militar e a instalação da ditadura, ocorreram fortes
medidas de repressão à classe trabalhadora, com o Decreto nº 4.330, as intervenções
atingiram sindicatos em todo o Brasil. Este decreto é conhecido como a lei antigreve,
que impôs tantas regras para realizar uma greve que, na prática, elas ficaram proibidas.

Depois de anos sofrendo cassações, prisões, torturas e assassinatos, em 1970


um novo movimento sindicalista se reestrutura no interior do Estado de São Paulo, no
chamado ABCD paulista. No ano de 1978 ocorre uma grande greve em São Bernardo do
Campo (SP) e que ganhou aderência de trabalhadores de todo o país.

Após o fim da ditadura militar, em 1985, e em meio às mudanças no cenário


econômico, com a promulgação da Constituição de 1988, as conquistas dos trabalhadores
foram restabelecidas; por exemplo, a Lei nº 7.783/89, que restabelecia o direito de greve
e a livre associação sindical e profissional, a aposentadoria rural; Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT); Benefício de Prestação Continuada (BPC); Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil (PETI); bolsa escola e, ulteriormente, bolsa família, entre outros.

DICAS
Conheça o site do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. Lá você encontrará
resoluções sobre o funcionamento das centrais sindicais, leis e convenções ao
exercício das profissões, orientações sobre os trâmites contratuais e demissionais,
seguro-desemprego, trabalho temporário, políticas de microcrédito, trabalho de-
cente, entre outros.

MTE. Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/


portal-mte/>. Acesso em: 3 jun. 2015.

152
LEITURA
COMPLEMENTAR
A TERCEIRIZAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO

Grupos de empresários e empregadores apresentam argumentos no sentido


de que a geração de emprego formal, e até a abertura de empresas, no Brasil, são
dificultadas diante dos custos que as leis trabalhistas acabam acarretando. Alegam que
em torno de 67% do salário consiste em tributos, que são pagos ao governo, que procura
atender a leis de descanso remunerado, 13º salário, FGTS, adicionais em casos de horas
extras, insalubridade e trabalho noturno. E diante deste cenário é que ganham espaço
as ideias de terceirização no interior dos postos de trabalho.

Terceirização é o processo pelo qual uma empresa deixa de executar uma ou


mais atividades realizadas por trabalhadores diretamente contratados e as transferem
para outra empresa. A terceirização se realiza de duas formas, não excludentes. Na
primeira, a empresa deixa de produzir bens ou serviços utilizados em sua produção
e passa a comprá-los de outra – ou outras empresas –, o que provoca a desativação,
parcial ou total, de setores que anteriormente funcionavam no interior da empresa.

A outra forma é a contratação de uma ou mais empresas para executar, dentro


da “empresa-mãe”, tarefas anteriormente realizadas por trabalhadores contratados
diretamente. Essa segunda forma de terceirização pode referir-se tanto a atividades-
fim como a atividades-meio. Entre as últimas podem estar, por exemplo, limpeza,
vigilância, alimentação. Tem-se observado também que vem ocorrendo o processo de
quarteirização, a contratação de uma empresa pela empresa-mãe, que deverá gerir as
relações com o conjunto das empresas terceiras contratadas no interior da mesma.

O processo de terceirização da produção e da prestação de serviços no Brasil, e


em quase todos os países capitalistas, desenvolveu-se como parte do rearranjo produtivo,
iniciado na década de 70 do século XX, a partir da terceira Revolução Industrial, e que se
prolonga até os dias de hoje. São mudanças importantes na organização da produção e
do trabalho e, no caso específico da terceirização, na relação entre empresas.

A adoção deste processo foi intensificada e disseminada no âmbito da


reestruturação produtiva que marcou os anos 90. A partir do ano 2000, a economia
brasileira iniciou um lento processo de recuperação, com taxas de crescimento positivas,
porém o cenário do mercado de trabalho já é o da difusão generalizada da terceirização da
mão de obra. Se, inicialmente, as empresas precisaram enxugar os custos para garantir
sua sobrevivência, o processo de terceirização não apresentou retrocesso diante da
melhora do cenário econômico, tendo permanecido como um elemento fundamental da
mudança do processo produtivo e do mercado de trabalho brasileiros.
153
Em nível internacional destaca-se que as atividades mais atingidas pela
terceirização, em suas diferentes formas, são aquelas próprias da Tecnologia da
Informação (TI), o que inclui o trabalho de programadores, de processamento de dados
e de desenvolvimento de softwares. O avanço rápido e constante nesses processos
tecnológicos facilita a troca de dados, a execução de projetos e a entrega de produtos,
independentemente do local onde o trabalho é executado.

A maior preocupação constatada a partir das fontes de informação sobre os


Estados Unidos é a possibilidade de demissão em massa de trabalhadores americanos
qualificados em decorrência de processos de terceirização nos quais as contratantes são
empresas americanas. Nesse caso, o mais comum tem sido a adoção do international
outsourcing (compra do componente ou serviço em outro país), do offshoring (realocação
da empresa em outro país) ou ainda do on-site offshoring (contratação de trabalhadores
estrangeiros imigrantes ou de trabalhadores em seus países de origem). Os países
europeus, quando comparados com os Estados Unidos, demandam menos serviços
terceirizados e adotam algumas barreiras culturais que dificultam a transferência de
atividades de um país para outro.

Dentre os setores mais vulneráveis à terceirização no continente, tem-se que


a maioria está relacionada à área de TI, que atuam nos ramos de desenvolvimento
de softwares, processamento de dados, vendas, serviços de atendimento ao cliente,
pesquisa, desenvolvimento e designs, finanças, recursos humanos e gerenciamento.
Estima-se que os trabalhadores indianos da área de computação, por exemplo, recebam
entre 1/5 e 1/10 do que é pago a um americano pela mesma função.

No Brasil os ramos de atividades que mais registram processos de terceirização


são o setor público, no interior das unidades de governo, o setor financeiro, como bancos,
os setores elétrico, químico, de petróleo e petroquímico e da construção civil.

Diante das formas mais explícitas de precarização das condições de trabalho e de


vulnerabilidade da condição do trabalhador que resultam dos processos de privatização,
tem-se um novo relacionamento sindical entre empregador e empregado, que aponta
a desmobilização dos trabalhadores para reivindicações e greves, eliminação das ações
sindicais e trabalhistas que reclamam pelos direitos sociais.

Texto adaptado de DIEESE. Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos


Socioeconômicos. O processo de terceirização e seus efeitos sobre os trabalhadores no
Brasil. Convênio SE/MTE nº 04/2003, Processo nº 46010.001819/2003-27.

FONTE: Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BA5F4B7012BAAF91A9E060F/


Prod03_2007.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.

154
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A palavra trabalho tem origem nas práticas e atividades das mais antigas sociedades,
comporta muitas diferenças de escrita, em especial na forma como as sociedades
concebiam e ao valor moral que atribuíram à mesma.

• No interior da forma de produção artesanal o trabalhador detém o conhecimento de


todas as fases de produção, pode atender à vontade pessoal de quem procura pelo
produto, o produto consiste em um exemplar único e o artesão acompanha também
o processo de comercialização do produto.

• No interior do processo de produção de forma manufaturada se dá a especialização


e divisão de funções, a produção passa a ocorrer fora do local de moradia dos
responsáveis pela produção, o que por sua vez favorece os primórdios das grandes
indústrias.

• No interior dos modos organização industrial do século XVIII e XIX prevaleceram os


modelos fordista e taylorista, que se caracterizam pelo perfil de produção organizada
em linhas de produções, em série e consumo em grande escala, e obedecem à
organização e administração científica.

• O toyotismo consiste numa forma de organização no interior de empresas e processos


produtivos que contempla a descentralização do poder e formação de redes de
trabalho, a diferenciação da produção, forte controle da produção e qualificação
constante dos trabalhadores.

• A terceirização pode ocorrer de diferentes formas: pela contratação de uma empresa


que subcontrata trabalhadores para exercer funções no interior de uma empresa-
mãe, como também quando uma empresa passa a comprar parte dos processos e
dos produtos de outra empresa para compor o seu produto final.

155
AUTOATIVIDADE
1 Karl Marx (1818-1883), pensador alemão que se dedicava a denunciar
as contradições no interior do sistema capitalista, ao longo de sua
vida precisou mudar-se por diversas vezes de país, pois o teor de
suas ideias acabava por lhe render inimigos de forte influência
e poder político. Além disso, também passou por problemas com renda, sendo
socorrido pelo amigo e colega/escritor F. Engels. Pergunta-se: no que consistiam
as principais ideias e teorias de Marx?

I- A ideia principal estava em explicar, denunciar e combater as contradições que


estavam disfarçadas e camufladas no interior do regime comunista.
II- Argumentava que a divisão do trabalho era responsável por alienar o trabalhador,
assim como, por lhe extorquir a sua dignidade.
III- Defendia que estaria única e exclusivamente nas mãos do proletariado conduzir a
revolução que substituiria o capitalismo pelo comunismo.
IV- As teorias de Marx apresentavam que o proletariado deveria fazer a revolução e
transformar a sociedade, tomar o poder e abolir a relação capitalista de produção.

Agora, assinale a alternativa correta:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente as sentenças III e IV estão corretas.
c) ( ) Somente as sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As alternativas II, III e IV estão corretas.

2 (ENADE – 2014) O debate sociológico acerca das novas relações de


trabalho e consumo no capitalismo se intensificou desde a segunda
metade do século XX, especialmente a partir de um novo modelo de
acumulação, marcado pela “flexibilização dos processos produtivos”.
Como aponta David Harvey a este respeito, a acumulação flexível “é marcada por
um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos
processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e dos padrões de
consumo”. E, ainda, mais importante do que isso é a redução aparente do emprego
regular, em favor do crescente uso do trabalho em tempo parcial, temporário ou
subcontratado.

FONTE: HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.

156
De acordo com a afirmação acima, a acumulação flexível:

I- Gerou cada vez mais trabalho especializado, responsável pelo aumento da


racionalidade do processo produtivo.
II- Pode ser considerada uma expansão do princípio fordista de produção.
III- Aumentou a precarização das relações de trabalho no capitalismo contemporâneo.
IV- Implica crescente heterogeneidade dos mercados de trabalho e dos padrões de
consumo.

É correto apenas o que se afirma em:


a) ( ) I e II.
b) ( ) I e III.
c) ( ) II e III.
d) ( ) II e IV.
e) ( ) III e IV.

157
158
UNIDADE 3 —

POLÍTICAS PÚBLICAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer e analisar as principais características das políticas públicas do Brasil;

• refletir sobre a organização do sistema educacional brasileiro;

• caracterizar os pilares de alicerce do desenvolvimento sustentável;

• refletir sobre o contexto de desenvolvimento sustentável;

• retratar as ferramentas de gestão socioambiental para a sustentabilidade;

• conhecer as ações nacionais de segurança e defesa pública;

• refletir sobre como o aumento populacional e o avanço tecnológico impactam sobre os ecos-
sistemas;

• perceber a importância do sistema de transportes no desenvolvimento econômico do país;

• conhecer as políticas nacionais para a habitação e o saneamento;

• identificar os modos de vida urbano e rural, sua organização social, semelhanças e diferenças
e sua interdependência;

• destacar as características que identificam o meio urbano e o meio rural.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em sete tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoati-
vidades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO


TÓPICO 2 – POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE
TÓPICO 3 – HABITAÇÃO E SANEAMENTO
TÓPICO 4 – TRANSPORTES E SEGURANÇA
TÓPICO 5 – POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM ÂMBITO NACIONAL
TÓPICO 6 – VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA
TÓPICO 7 – MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

159
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

Acesse o
QR Code abaixo:

160
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Quando falamos em políticas públicas, estamos nos referindo aos direitos e
deveres do Estado para com as pessoas que compõem a sociedade e, assim como o
Estado, gozam de seus direitos civis e políticos. Estamos também sujeitos ao conjunto
de normas jurídicas e sociais, formando assim um marco regulatório previamente fixado
no que diz respeito à distribuição harmônica dos elementos que formam os direitos,
deveres e responsabilidades em prol do desenvolvimento educacional, econômico e
social. A vida em sociedade está ligada à política e não há ação social sem ação política,
quer seja promovida pelo Estado ou pela sociedade (RAMOS, 2014).

2 POLÍTICA PÚBLICA ATUAL


O termo política possui várias definições, as quais denotam a organização e o
estudo das ações a serem realizadas para o bem-estar da população. Percebemos que
a política é algo complexo, mas que se bem administrado ou exercido, poderá ter efeitos
positivos junto à população.

As primeiras reflexões sobre o que é política surgiram na Grécia antiga,


com os filósofos, a quem eram atribuídos os dons do pensamento,
das ideias e, consequentemente, do conhecimento.
Pode-se citar Sócrates e dois de seus principais sucessores, Platão
e Aristóteles, como sendo os primeiros a tratarem das questões da
ética e da política. A Grécia era considerada o berço da democracia,
ainda que nem todos os seus iluminados viam no modelo democrático
a melhor maneira de conduzir o povo. Ao aproximar-se das leituras
sobre a vida e obra desses pensadores, percebe-se, por conclusão,
que para eles a solução para os problemas da sociedade deve
passar, necessariamente, pela educação. Passados mais de dois
mil anos, continua-se lutando pelos mesmos direitos à igualdade
e combatendo-se os mesmos problemas relacionados à ética e à
moral, sem as quais não se exercita a verdadeira política (RAMOS,
2014, p. 9).

Portanto, “o cotidiano (político) é construído por aqueles que interagem nesse


contexto. Fazer política é interagir nos acontecimentos e participar criticamente da sua
história” (RAMOS, 2014, p. 9).

“A política sempre está ligada ao exercício do poder em sociedade, seja em nível


individual, quando se trata das ações de comando, seja em nível coletivo, quando um grupo
(ou toda sociedade) exerce o controle das relações de poder em uma sociedade” (SANTOS,

161
2012, p. 2). Assim, as políticas públicas são de responsabilidade do Estado, com base em
organismos políticos e entidades da sociedade civil, que derivam de normatizações, ou
seja, se estabelece um processo de tomada de decisões – nossa legislação. Ao iniciarmos
nossos estudos sobre a organização da educação no Brasil, precisamos ter em mente
que a educação é intencional, principalmente no que diz respeito ao sistema escolar. Os
atores que permitem discussões sobre um determinado problema da sociedade são: a
sociedade civil organizada; os servidores públicos e os políticos.

As etapas ou fases do processo da política distinguem-se de acordo


com o entendimento de cada autor, mas comumente podem se
classificar como:
• Identificação do problema: é a primeira etapa e consiste na
identificação, ou levantamento do problema a ser considerado
como foco da política pública.
• Agenda: é a etapa em que se definem os focos de atuação do
governo. É o conjunto de problemas e demandas que comporão o
plano de ação. A formação da Agenda de Governo consiste numa
fase tumultuada e competitiva, com os envolvidos dedicados na
conquista de espaço para os interesses que defendem.
• Tomada de decisão: adoção da política, em consenso (de comum
acordo), as partes decidem sobre os diversos aspectos, ou focos,
que a política abrangerá.
• Implementação: é a etapa em que as decisões deixam de ser
intenções e passam a ser intervenções na realidade.
• Monitoramento, Avaliação, Ajustes: são etapas de acompanhamento
do processo de formulação/elaboração da política, oferecendo
informações para possíveis ajustes na direção dos resultados
esperados (RAMOS, 2014, p. 14-15).

Com base nesses argumentos, a educação no contexto brasileiro está prevista,


é regida (legislada) por normas jurídicas que compelem os cidadãos e o poder público a
cumpri-las. De acordo com Motta (1997, p. 75), a educação é a:

[...] manifestação cultural que, de maneira sistemática e intencional,


forma e desenvolve o ser humano. [...] A educação é a ação exercida
pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram
ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e
desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais
e morais reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo
meio especial que a criança, particularmente, se destina.

Estes princípios e fins aparecem no texto da Constituição Federal de 1988 e


posteriormente são reafirmados na Lei de Diretrizes e Bases - LDB, Lei 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, direcionando a educação brasileira, e que em seu Art. 2˚ trata “Dos
Princípios e Fins da Educação Nacional” (BRASIL, 1996).

Desta forma, a LDB 9.394/96 regulamentou o que foi tratado sobre educação
na Constituição Federal abordando a educação escolar. O Título V trata dos Níveis e
das Modalidades de Educação e Ensino; em seu Capítulo I, demonstra a composição
dos níveis escolares, formada pela Educação Básica; Educação de Jovens e Adultos;
Educação Profissional; Educação Superior e Educação Especial.

162
Educação Básica é formada de três etapas: Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio. Conforme a LDB, são finalidades
da Educação Básica ‘[...] desenvolver o educando, assegurar-lhe
a formação comum indispensável para o exercício da cidadania
e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores’ (art. 22).
As modalidades importam em atendimentos afeitos a peculiaridades
que podem dizer respeito a uma população específica ou a objetivos
de formação mais especializada ou complementar. No primeiro caso,
encontramos a educação de jovens e adultos e a educação especial.
No segundo caso, a educação profissional.
A educação de jovens e adultos (EJA) enseja a escolarização
daqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no
Ensino Fundamental ou Médio. Contempla cursos de EJA e exames
supletivos. Os cursos e os exames são acessíveis para estudantes
maiores de 15 anos (Ensino Fundamental) e de 18 anos (Ensino
Médio).
A educação especial destina-se aos educandos portadores de
necessidades especiais e deve estar contemplada em todas as
etapas da educação. A legislação estabelece a sua oferta preferencial
na rede regular de ensino e em classes comuns, embora possibilite a
oferta desta modalidade em classes e escolas especiais.
Pode-se identificar a inserção da educação profissional na Educação
Básica de três modos: ensino técnico - concomitante, integrado
ou sequencial ao Ensino Médio, inclusive EJA; formação inicial e
continuada de trabalhadores articulada ao Ensino Fundamental ou
Médio, inclusive EJA; preparação básica para o trabalho no Ensino
Fundamental e Médio, inclusive EJA (FARENZENA, 2010).

Como podemos ver, a preocupação em fortalecer a educação como um direito,


um currículo integrado, é o ponto de partida para assegurar os direitos fundamentais da
sociedade. Para que essa proposta ocorresse na educação brasileira tivemos mudanças
significativas, principalmente a partir da LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei
no 9.394, de 1996, que marcou a educação e fez com que gerasse muito investimento,
tanto no sentido intelectual, como financeiro. Um dos princípios da LDB é a valorização
do profissional da educação escolar, a qual defende que:

A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às


especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos
objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica,
terá como fundamentos:
I– a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento
dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de
trabalho;
II– a associação entre teorias e práticas, mediante estágios
supervisionados e capacitação em serviço;
III– o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em
instituições de ensino e em outras atividades (BRASIL, 1996, art. 61).

A partir daí, muitos acordos e reformas foram realizados na educação, priorizando


a qualidade da mesma. O Plano Nacional de Educação para o decênio 2011-2020 indica
algumas diretrizes que demonstram esse interesse, enfatizando a melhoria da qualidade
de ensino, a formação para o trabalho, a valorização dos profissionais da educação, entre

163
outras que indiretamente também enfocam a formação docente. Dentre as 20 metas
traçadas do PNE para até 2020, seis (da 13 até a 18) pretendem aumentar a qualidade do
ensino com base na formação inicial e principalmente continuada, em diferentes níveis.

AUTOATIVIDADE
(IFRN – Concurso Público – Grupo Magistério – Políticas e Gestão Escolar
2012) A concepção curricular que articula o Ensino Médio à formação
técnica, além de estabelecer o diálogo entre os conhecimentos
científicos, tecnológicos, sociais, humanísticos, habilidades relacionadas
ao trabalho e de superar o conceito da escola dual e fragmentada, pode representar,
em essência, a quebra da hierarquização de saberes e colaborar, de forma efetiva,
para a educação brasileira como um todo, no desafio de construir uma nova
identidade para essa última etapa da educação básica. A proposta curricular a que
esse enunciado se refere é:

a) ( ) Currículo integrado.
b) ( ) Currículo tecnicista.
c) ( ) Currículo tradicional.
d) ( ) Currículo profissionalizante.

Para atualizar a temática da Educação em nosso país, a leitura a seguir trata dos
trâmites da implantação do Sistema Nacional de Educação (SNE). Assim, com o objetivo
de efetivar a implantação do SNE, o Decreto de 26 de abril de 2017, da Presidência da
República, convoca a 3ª Conferência Nacional de Educação, prevista para ocorrer em
Brasília no ano de 2018, conforme detalhes do texto a seguir.

[...] O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe


conferem o art. 84, caput, incisos IV e VI, alínea "a", da Constituição,
DECRETA:
Art. 1º Fica convocada a 3ª Conferência Nacional de Educação -
CONAE, a ser realizada na cidade de Brasília, Distrito Federal, com
o tema "A Consolidação do Sistema Nacional de Educação - SNE
e o Plano Nacional de Educação - PNE: monitoramento, avaliação
e proposição de políticas para a garantia do direito à educação de
qualidade social, pública, gratuita e laica".
§ 1º A União, sob a orientação do Ministério da Educação - MEC e
observado o disposto no art. 8º da Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014,
promoverá a realização da CONAE, a ser precedida de conferências
municipais, distrital e estaduais, articuladas e coordenadas pelo
Fórum Nacional de Educação - FNE, nos termos do art. 6º da Lei nº
13.005, de 2014.

164
§ 2º A etapa nacional da 3ª CONAE, a ser realizada em 2018, será
precedida pelos seguintes eventos:

I- conferências livres, a serem realizadas no ano de 2017;


II- conferências municipais ou intermunicipais, a serem realizadas
até o final do segundo semestre de 2017; e
III- conferências estaduais e distrital, a serem realizadas até o final do
segundo semestre de 2018.
Art. 2º As conferências nacionais de educação serão realizadas com
intervalo de até quatro anos entre elas, com o objetivo de avaliar a
execução do PNE vigente e subsidiar a elaboração do PNE para o
decênio subsequente.
Art. 3º São objetivos específicos da CONAE:

I- acompanhar e avaliar as deliberações da CONAE de 2014, verificar


seus impactos e proceder às atualizações necessárias;
II- avaliar a implementação do PNE, com destaque específico ao
cumprimento das metas e das estratégias intermediárias, sem
prescindir de uma análise global do plano e;
III- avaliar a implementação dos planos estaduais, distrital e
municipais de educação, os avanços e os desafios para as políticas
públicas educacionais.

Art. 4º O tema central da 3ª CONAE será dividido nos seguintes eixos


temáticos:

I- O PNE na articulação do SNE: instituição, democratização,


cooperação federativa, regime de colaboração, avaliação e regulação
da educação.
II- Planos decenais e SNE: qualidade, avaliação e regulação das
políticas educacionais.
III- Planos decenais, SNE e gestão democrática: participação popular
e controle social.
IV- Planos decenais, SNE e democratização da Educação: acesso,
permanência e gestão.
V- Planos decenais, SNE, Educação e diversidade: democratização,
direitos humanos, justiça social e inclusão.
VI- Planos decenais, SNE e políticas intersetoriais de desenvolvimento
e Educação: cultura, ciência, trabalho, meio ambiente, saúde,
tecnologia e inovação;
VII- Planos decenais, SNE e valorização dos profissionais da Educação:
formação, carreira, remuneração e condições de trabalho e saúde.
VIII- Planos decenais, SNE e financiamento da educação: gestão,
transparência e controle social.

Art. 5º As diretrizes gerais e organizativas para a realização da CONAE


serão elaboradas pelo MEC e coordenadas pelo FNE, observado o
disposto no art. 8º da Lei nº 13.005, de 2014 [...]
(Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial da União
- Seção 1 - 27/04/2017, Página 19).

Conforme a leitura anterior, observa-se que em 2017 deveria ter ocorrido


Conferências Municipais e Intermunicipais com o tema: “A consolidação do Sistema
Nacional de Educação – SNE e o Plano Nacional de Educação – PNE, voltado para o
monitoramento, avaliação e proposição de políticas para a garantia do direito à educação
de qualidade social, pública, gratuita e laica”. Assim, as conferências municipais

165
deveriam discutir e fornecer subsídios sobre a efetivação da implantação SNE e do PNE,
em preparação às conferências estaduais e a Nacional, prevista para o ano de 2018.
No entanto, devido ao turbulento momento político enfrentado no Brasil, apenas duas
capitais (Belo Horizonte/MG e São Paulo/SP) realizaram o evento naquele ano, e dois
terços das capitais brasileiras não tem sequer a previsão de data para organizá-las.

NOTA
Até a conclusão deste livro, em janeiro de 2018, a última atualização sobre a implantação do Plano
Nacional de Educação, prevista pelo Projeto de Lei Complementar PLP 413/2014, foi o Parecer do
Relator, Dep. Glauber Braga (PSOL-RJ), pela aprovação deste, e do PLP 448/2017, apensado, como
substitutivo. O parecer foi apresentado em 22/dez./2017 à Comissão de Educação. Portanto, o
projeto encontra-se ainda em tramitação no Congresso Nacional.

Para acompanhar a tramitação na íntegra, acesse: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/


fichadetramitacao?idProposicao=620859>. Maiores informações também estão disponíveis no site
do MEC: <http://pne.mec.gov.br/sistema-nacional-de-educacao>.

CNTE defende a instituição do SNE de forma articulada entre os entes federados

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em


Educação (CNTE) divulgou em setembro (2017),
a nota pública:  Análise do documento da SASE/
MEC sobre Sistema Nacional de Educação. O
documento analisa o texto — Instituir um Sistema
Nacional de Educação: agenda obrigatória para o
país — disponibilizado pelo Ministério da Educação
(MEC), em junho para amplo debate nacional.

Na nota, a entidade posiciona-se em acordo com vários pontos do texto apresentado pelo MEC, pelo
fato do seu conteúdo exprimir conceitos referendados nas duas Conferências Nacionais de Educação
(CONAEs), e por absorver propostas das entidades educacionais, como a CNTE, apresentadas ao
longo do processo histórico do debate sobre o Sistema Nacional de Educação (SNE).

Para a Confederação, as graves fragilidades resultantes da ausência de um SNE estão em destaque


no documento, como: I) ausência de referenciais nacionais de qualidade, capazes de orientar a
ação supletiva para a busca da equidade; II) a descontinuidade de ações; III)
a fragmentação de programas; e IV) a falta de articulação entre as esferas
de governo são fatores que, de fato, não contribuem para a superação das
históricas desigualdades econômicas e sociais do país.

A CNTE entende que o texto do MEC reafirma a educação como


um direito inalienável e que realiza um diagnóstico dos avanços
e desafios para garantia desse direito, num contexto histórico e
político, apresentando uma proposta de instituição do SNE realizado
por um conjunto articulado de quatro dimensões, levando a uma
nova forma de organização da Educação Nacional: alterações na Lei
de Diretrizes e Bases; regulamentação do artigo 23 da Constituição
Federal (CF) ou a Lei de Responsabilidade Educacional; adequação
das regras de financiamento e dos sistemas de ensino às novas regras
nacionais instituição do SNE.

166
Para o presidente da entidade, Roberto
Franklin de Leão, o Brasil possui leis que
estruturam o sistema, como a lei que estipula
o piso nacional salarial dos professores e a
própria LDB. Destaca que precisamos de mais
uma legislação nacional para organização da
educação nacional, a fim de que as políticas
sejam mais orgânicas, como é o SNE, que
"respeita a diversidade e as diferenças
do federalismo brasileiro, considerando a
qualidade e distanciando-se da centralização
da gestão da educação".

Entretanto, mesmo em consenso sobre vários pontos apresentados no documento do MEC, a CNTE
reafirma a necessidade de um olhar especial na regulamentação do Custo Aluno-Qualidade e do
piso salarial dos profissionais da educação, conjugada com as diretrizes nacionais de carreira; na
autonomia das escolas e de seus profissionais; no aperfeiçoamento e fortalecimento dos espaços de
participação; no estabelecimento de critérios para as ações distributivas e supletivas da União e dos
estados, via regulamentação do art. 23, V, da CF; na regulamentação das receitas para a educação e
na definição das normas vinculantes para a organização dos sistemas de ensino.

Redação SASE/MEC com informações da CNTE.

FONTE: Disponível em: <http://pne.mec.gov.br/mais-destaques/410-cnte-defende-a-instituicao-do-


sne>. Acesso em: 7 dez. 2017.

Outro documento importante são os Parâmetros Curriculares Nacionais. Sua


história começa a partir da década de 1980, com as mudanças econômicas e sociais de
nível mundial e a abertura da política nacional. A partir desse momento, as discussões
políticas passaram a privilegiar o tema da democracia. Com base nesse tema, as reflexões
propiciaram a instauração e consolidação de um governo e de um regime democrático.

Em decorrência dos debates e dada a importância da democracia, a Assembleia


Nacional Constituinte, em 1988, institui o Estado Democrático de Direito, regulamentado
pela Constituição da República Federativa do Brasil, denominada Constituição Cidadã. Ela
estabelece como princípios fundamentais: “I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade
da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo
político” (BRASIL, 1988, Título 1).

167
FIGURA 22 – CONSTITUIÇÃO CIDADÃ DE 1988

FONTE: Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/upload/conteudo _legenda/8e426990caf-


5533da936acd858c65f32.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017.

O artigo 5º dispõe sobre os direitos e deveres individuais e coletivos, segundo


o qual “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (BRASIL,
1988, Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais). Desse modo, no artigo 6º, são
indicados os direitos dos cidadãos; constam como “direitos sociais a educação, a saúde,
o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 1988,
Capítulo II - Dos Direitos Sociais).

A defesa do exercício da cidadania na escolarização está deliberada no artigo


205: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”
(BRASIL, 1988).

Para a disseminação da educação cidadã, outros documentos são produzidos a


partir de reuniões e pactos mundiais, como a Declaração Mundial sobre Educação para
Todos, ocorrida em Jomtien – Tailândia.

Em 1990, reuniram-se representantes dos seguintes países: Indonésia, China,


Bangladesh, Brasil, Egito, México, Nigéria, Paquistão e Índia, para discutir sobre a satisfação
das necessidades básicas de aprendizagem, considerando que todo cidadão tem direito
à educação, e ainda, que a educação favoreça “o progresso social, econômico e cultural,
a tolerância e cooperação internacional” (UNESCO, 1998, s.p.). Para suprimir os problemas
da educação, melhorar a qualidade e disponibilidade, a Declaração traça objetivos como
medidas necessárias à educação para todos. Assim, os países citados comprometeram-
se em cooperar e responsabilizar-se com as metas construídas. A partir desse documento,
cada país construiu planos e metas para alcançar os objetivos educacionais.

168
ATENÇÃO
Você imagina quais foram as metas traçadas no encontro mundial que
resultou na Declaração Mundial sobre Educação para Todos?

As finalidades traçadas são: 1 Satisfazer as necessidades básicas de


aprendizagem; 2 Expandir o enfoque; 3 Universalizar o acesso à educação
e promover a equidade; 4 Concentrar a atenção na aprendizagem; 5
Ampliar os meios de e o raio de ação da educação básica; 6 Propiciar
um ambiente adequado à aprendizagem; 7 Fortalecer as alianças; 8
Desenvolver uma política contextualizada de apoio; 9 Mobilizar os
recursos; e 10 Fortalecer a solidariedade internacional (UNESCO, 1998).

Ao encontro desse documento, o governo brasileiro inicia discussões a respeito


da educação nacional e a construção de políticas de educação, que discorrem sobre a
atualização de processos formativos, processos de avaliação, a formação docente, a
relação aluno-professor, a gestão escolar, o currículo escolar e a criação de projetos,
de reformas e de planos. O PCN é um documento norteador formulado a partir dessas
políticas de educação.

Assim, em 1995, a elaboração dos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais


é iniciada, sendo concluída somente em 1997, no governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso. Fique atento, acadêmico, ao estudo desse documento, pois as
políticas de educação têm objetivos traçados, como toda a prática docente possui.

O objetivo dos PCN (BRASIL, 1997a) é estabelecer à equipe pedagógica uma


referência curricular e apoio na elaboração do currículo e do projeto pedagógico. Conforme
os PCN, esse documento é o resultado de um trabalho que contou com a participação de
um grupo de especialistas ligado ao Ministério da Educação (MEC), produzido a partir de
estudos e do contexto das discussões pedagógicas atuais, no decurso de seminários e
debates com professores que atuam em diferentes graus de ensino.

FIGURA 23 – CONSTRUÇÃO DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PCN

FONTE: Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/bibliot eca/portugues/img/0056.jpg>.


Acesso em: 7 dez. 2017.
169
O documento dos PCN consiste em uma referência nacional para o Ensino
Fundamental e Médio. Sua elaboração é de primeiro nível de concretização curricular,
seguido de propostas curriculares dos Estados e municípios, que poderão ser utilizadas
como recurso para adaptações ou elaborações curriculares realizadas pelas Secretarias
de Educação (BRASIL, 1997a).

O texto dos PCN tem função definidora do currículo mínimo, orienta práticas
pedagógicas e organiza a estrutura escolar. Estabelece o plano curricular indicando
conteúdos, objetivos, práticas educativas e sugestões de avaliação. Como é um
documento de nível nacional, tenta abranger e ter aplicabilidade em todo o território
nacional, de maneira homogênea (BARBOSA; FAVERE, 2013).

Os PCN do Ensino Fundamental, do primeiro ao nono ano, são compostos de


módulos divididos em: Volume 1: Introdução; Volume 2: Língua Portuguesa; Volume 3:
Matemática; Volume 4: Ciências Naturais; Volume 5: História e Geografia; Volume 6: Arte;
Volume 7: Educação Física; Volume 8: Apresentação dos Temas Transversais e Ética;
Volume 9: Meio Ambiente e Saúde; e Volume 10: Pluralidade Cultural e Orientação Sexual.

Já os PCN do Ensino Médio são assim distribuídos: Bases legais; Linguagens,


Códigos e suas tecnologias; Ciências da natureza, Matemática e suas tecnologias;
Ciências humanas e suas tecnologias.

NOTA
Caro acadêmico, a Educação Infantil também tem documentos norteadores do currículo,
que são: Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – RECNEI e Parâmetros
Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. O primeiro documento pretende orientar
o professor, além de discutir conceitos importantes como educar e cuidar, entre outros. O
RECNEI está dividido em unidades, que são: Introdução, Formação Pessoal
e Social e Conhecimento de Mundo, Identidade e Autonomia das crianças
e Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza
e Sociedade e Matemática. Já o segundo documento está disponível em
dois volumes e apresenta recomendações para promover a igualdade de
oportunidades educacionais.

Para conhecer melhor os documentos, respectivamente, acesse:

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf>;

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol1.
pdf>.

170
Uma das preocupações centrais dos PCN é o tema da cidadania, da formação
cidadã. Mais do que o ensino de conteúdos básicos, hoje, na escola, a aprendizagem
da cidadania é legitimada e indispensável. A disseminação dessa aprendizagem
transita em documentos oficiais, em autores que escrevem sobre educação e em
projetos pedagógicos das escolas. Os PCN defendem que o fundamento da sociedade
democrática é reconhecer o sujeito de direito (BRASIL, 1997b).

Com base na Constituição de 1988 e na LDB, os Parâmetros Curriculares


Nacionais propõem uma educação comprometida com a cidadania, sendo pautados
em princípios que devem orientar a educação escolar: dignidade da pessoa humana,
igualdade de direitos, participação e corresponsabilidade pela vida social. Conforme
os PCN, “a educação para a cidadania requer, portanto, que questões sociais sejam
apresentadas para a aprendizagem e a reflexão dos alunos” (BRASIL, 1997b, p. 25). Os
conteúdos dos PCN, de acordo com Barbosa (2000, p. 71), partem:

do princípio de que os conteúdos de ordem cognitiva veiculados


pela escola – de forma fragmentada, em razão da especialização do
conhecimento de cada área – não seriam suficientes para atender às
demandas da atualidade em relação ao perfil ideal do novo homem,
para que este homem pudesse inserir-se no mundo do trabalho,
exercer a sua cidadania e participar na construção do bem comum.
A educação deveria voltar-se, a partir de então, para a formação
integral dos alunos. Foi, assim, proposta a ampliação da concepção
de conteúdo escolar, que deveria agora incorporar o ensino de
hábitos, atitudes, valores, normas e procedimentos que pudessem
contribuir para o desenvolvimento e socialização dos alunos.

A inclusão dos temas transversais é um assunto novo, possível na sociedade


atual, visando uma nova formação comparada a formações anteriores, trazendo assuntos
de fora, da sociedade, para dentro da escola. Assim, além de objetivos cognitivos, os
PCN traçam objetivos morais e atitudinais.

Os PCN foram elaborados com a contribuição de um professor espanhol, César


Coll. A proposta brasileira pretendeu implantar uma reforma curricular, dar direcionamento
ao trabalho do professor, bem como o que se deve esperar do aprendizado do aluno, ou
seja, o que deve conter no currículo escolar (BARBOSA; FAVERE, 2013).

Os PCN pretendem atender às deliberações da Constituição Federal de 1988


e assim fixar conteúdos mínimos para o ensino, construindo uma formação básica e
respeitando as especificidades regionais.

Citando Barreto (2000, p. 35), “o governo federal passa pela primeira vez, em
meados dos anos noventa, a fazer ele próprio prescrições sobre currículo, que vão muito
além das normas e orientações gerais que caracterizaram a atuação dos órgãos centrais
em períodos anteriores”.

171
Com o intuito de transformar a realidade educacional, o documento defende
que “faz-se necessária uma proposta educacional que tenha em vista a qualidade da
formação a ser oferecida a todos os estudantes” (BRASIL, 1997a, p. 27).

A intenção dos PCN é que o professor tenha um auxílio em sua ação de reflexão
sobre o cotidiano da prática pedagógica, que continuamente esse cotidiano transforma-
se e exige novas competências docentes. Nesse sentido, com esse documento se prevê
que seja possível:

- rever objetivos, conteúdos, formas de encaminhamento das


atividades, expectativas de aprendizagem e maneiras de avaliar;
- refletir sobre a prática pedagógica, tendo em vista uma coerência
com os objetivos propostos;
- preparar um planejamento que possa de fato orientar o trabalho em
sala de aula;
- discutir com a equipe de trabalho as razões que levam os alunos a
terem maior ou menor participação nas atividades escolares;
- identificar, produzir ou solicitar novos materiais que possibilitem
contextos mais significativos de aprendizagem;
- subsidiar as discussões de temas educacionais com os pais e
responsáveis (BRASIL, 1997a, p. 12).

A proposta apresentada pelos PCN não tem uma concepção rígida de currículo; é
flexível, com o objetivo de considerar a diversidade brasileira e respeitando a autonomia
do professor e equipe pedagógica.

Acadêmico, apresentamos aqui uma imagem disponibilizada em outro


documento importante do MEC, “Ensino Fundamental de Nove anos”, que contribui para
percebermos a organização desse nível de ensino:

FIGURA 24 – ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS

Ensino Fundamental

Anos Iniciais Anos Finais

1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano

FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/noveanorienger.pdf>.


Acesso em: 5 dez. 2017.

A figura acima nos indica uma organização que atualmente deve ser planejada
em seu conjunto, ou seja, projetando essa prática para o trabalho do professor, em
que “esta é uma oportunidade preciosa para uma nova práxis dos educadores, sendo
primordial que ela aborde os saberes e seus tempos, bem como os métodos de trabalho,
na perspectiva das reflexões antes tecidas” (BRASIL, 2004, p. 18).

172
Assim, temos que dar continuidade na definição e redefinição das práticas e das
ações, que devem ser realizadas com a mesma rapidez e complexidade com que ocorre
o processo de transformação, não só no Brasil, mas em escala mundial.

A importância que adquirem, nessa nova realidade mundial, a ciência


e inovação tecnológica tem levado os estudiosos a denominar
a sociedade atual de sociedade do conhecimento, sociedade
técnico-informacional ou sociedade tecnológica, o que significa
que o conhecimento, o saber e a ciência assumem papel muito
mais destacado do que anteriormente. Na atualidade, as pessoas
aprendem na fábrica, na televisão, na rua, nos centros de informação,
nos vídeos, no computador, e cada vez se ampliam os espaços de
aprendizagem (LIBÂNEO, 2012, p. 62-64, grifos do autor).

A instituição escolar já não é considerada o único meio ou o meio mais eficiente


e ágil de socialização dos conhecimentos técnico-científicos e de desenvolvimento de
habilidades cognitivas e competências sociais requeridas para a vida prática.

A tensão em que a escola se encontra não significa, no entanto, seu fim como
instituição socioeducativa ou o início de um processo de desescolarização da sociedade.
Indica, antes, o início de um processo de reestruturação dos sistemas educativos e da
instituição tal como a conhecemos. A escola, hoje, precisa não apenas conviver com
outras modalidades de educação não formal, informal e profissional, mas também,
articular-se e integrar-se a elas, a fim de formar cidadãos mais preparados e qualificados
para um novo tempo. Para isso, o ensino escolar deve contribuir para:

a) Formar indivíduos capazes de pensar e aprender permanentemente (capacitação


permanente) em um contexto de avanço das tecnologias de produção e de
modificação da organização do trabalho, das relações contratuais capital/trabalho e
dos tipos de empregos.
b) Prover formação global que constitua um patamar para atender à necessidade
de maior e melhor qualificação profissional, de preparação tecnológica e de
desenvolvimento de atitudes e disposições para a vida numa sociedade técnico-
informacional.
c) Formar cidadãos éticos e solidários.

Assim, pensar o papel da escola nos dias atuais sugere levar em conta questões
relevantes. A primeira, e talvez a mais importante, é que as transformações mencionadas
representam uma reavaliação que o sistema capitalista faz de seus objetivos.

No entanto, quando o autor Libâneo (2012) faz o alerta de que o ensino escolar
deve contribuir para formar indivíduos capazes de pensar e aprender permanentemente
dentro do contexto tecnológico e das relações capital/trabalho, poderia, aí, ser
acrescentado o termo “harmonização das relações trabalhistas”. O que quer dizer que a
educação pode e deve ter uma relação próxima e significativa com o capitalismo, uma
vez que o desenvolvimento educacional deixou de ser estável, isto é, com hora e local
predeterminados. Hoje, a informação e o conhecimento não têm fronteira, eles estão

173
em toda parte, principalmente nas organizações produtoras de bens e serviços. Ainda
segundo o autor, “a escola deixou de ser o único meio de socialização do conhecimento”.
Seguindo a mesma linha de raciocínio com relação ao capital/trabalho, Liedke (2002, p.
345-346) afirma que:

No limiar do século 21, os avanços da tecnologia microeletrônica e da


racionalização das técnicas organizacionais do processo de trabalho,
orientados por conceitos como produção flexível, produção enxuta
e especialização flexível, em um contexto de competição capitalista
global, colocam em xeque a centralidade do trabalho. Decorridos três
séculos de predomínio da sociedade industrial, o trabalho passa a
assumir um conteúdo crescentemente intelectual, em contraposição
ao conceito de trabalho físico, manual. Aumenta a importância da
informação, do trabalho imaterial, em contraposição ao conceito
convencional de trabalho, centrado na ideia de transformação da
natureza. Para alguns estudiosos, teria chegado o momento, na
história da humanidade, de separarem-se, novamente, os conceitos
de trabalho, emprego e identidade social e individual. Outras formas
de socialização, de construção das identidades sociais e individuais
deverão voltar-se para atividades de cunho comunitário, como
escolas, clínicas, clubes de bairro, manutenção de infraestrutura
nas cidades, envolvendo várias formas de trabalho voluntário
(KUMAR, 1985: CACCIAMALI, 1996). Estudos recentes apontam
para a importância de políticas voltadas ao estímulo das atividades
intensivas em mão de obra, ao mesmo tempo em que defendem
a necessidade de diminuição da jornada de trabalho semanal
(MATTOSO, 1996; ANTUNES, 1996). Mais do que simples especulação,
os desafios são amplos e incertas as alternativas. Porém, parece
certo que as formas precárias de ocupação da força de trabalho
(trabalho temporário, desregulamentação do trabalho, rebaixamento
dos salários) estão longe do conceito aristotélico de trabalho humano
como obra criativa, livre da esfera da necessidade.

No entanto, a Revolução Tecnológica vai além do fenômeno relacionado com a


dinâmica da informação e comunicação, pois ela é também o objeto de dinamização dos
saberes, conceitos e dos valores individuais e sociais. Sendo assim, essas tecnologias
têm se mostrado eficientes e flexíveis em todos os aspectos da vida cotidiana, seja
no âmbito das relações sociais, econômicas e educacionais, principalmente por
oferecerem uma gama de alternativas que podem e devem ser utilizadas na busca de
soluções e na melhoria dos métodos e das formas de ensinar e aprender. Isto porque,
como sabemos, não existe uma homogeneidade regional, isto é, as políticas públicas
não conseguem equacionar ou resolver os problemas relacionados à distribuição dos
meios e recursos necessários ao desenvolvimento do indivíduo, do processo educativo
e do desenvolvimento econômico, onde todos esses conceitos fazem parte da cadeia
produtiva como um todo, pois um país só se desenvolve com educação, emprego e
distribuição equitativa de renda, o que vai ao encontro dos princípios da igualdade.

174
LEITURA
COMPLEMENTAR
Universidade pra quê? A força e o futuro da UERJ

Ana Karina Brenner, Bruno Deusdará,


Guilherme Leite Gonçalves e Lia Rocha

Como professor aposentado da UERJ somo-me a estes e estas colegas no


protesto, na reação e na esperança acerca do que o atual governo sem legitimidade
democrática está fazendo com esta universidade que se conta entre as melhores do
país. Na agenda do atual governo liderado pelo PMDB, ciência, pesquisa, formação e
inclusão social não fazem parte de sua agenda. Colocam a universidade no item de
gastos e encargos, quando deveria significar um alto investimento em favor das novas
gerações e do futuro do país, portanto, merecer um tratamento prioritário. Uma nação
feita de ignorantes está condenada a se transformar num país pária, perder o passo da
história e sequestrar o futuro dos jovens. Mas tudo isso se inscreve dentro do programa
da dominação imperial que nos quer recolonizar e fazendo-os apenas exportadores de
commodities. Para isso não se precisa de ciência, de tecnologia, nem de um projeto
nacional, apenas de espírito subserviente e venal. Recusamos este destino funesto,
pois em termos de futuro, quando o que vai contar mesmo será uma economia e uma
tecno-ciência montada sobre o fator ecológico. Aí surgiremos como uma das potências
reitoras, não para dominar, mas para podermos, com os bens e serviços que a Mãe
Terra nos galardoou, ser a mesa posta para as fomes e as sedes do mundo inteiro. É o
sentido secreto e providencial de sermos geograficamente grandes e ecologicamente
ricos. Precisamos resgatar a UERJ, o hospital Pedro Ernesto e outras frentes de ensino
e pesquisa distribuídos pelo Estado do Rio de Janeiro, com seu protagonismo histórico
e com seu alto sentido social, especialmente, para os mais penalizados pela nossa
sociedade injusta e excludente. E vamos triunfar, porque nada resiste ao que é bom,
justo, digno e ecologicamente responsável. Parabéns aos autores e autoras deste
corajoso texto, urdido de sã indignação e de justa esperança. Leonardo Boff

[...]

A universidade moderna nasceu de um projeto destinado a desenvolver as


qualidades humanas e a cultura por meio de um programa de formação, que combinava
ensino e pesquisa com base no conhecimento científico. Esse projeto, no entanto, tinha
um vício de origem: era inacessível às classes populares; servia apenas à reprodução das
elites. Sofria, assim, de um mal-estar que, dentre outras, produziu as revoltas estudantis
de 1968. A partir desse momento, as políticas universitárias se voltaram para articular
formação e inclusão social, conhecimento científico e igualdade.

175
A UERJ é resultado de um amadurecimento histórico dessa nova universidade.
Criada em 1950, destaca-se pelo pioneirismo: primeira universidade pública do Brasil
a oferecer ensino superior noturno, permitindo a qualificação dos trabalhadores;
segunda instituição universitária a possuir um hospital das clínicas voltado para o
ensino; primeira a implantar o sistema de cotas para negros, indígenas e estudantes
oriundos de escolas públicas.

Nos últimos 10 anos, o número de cursos de doutorado quase dobrou, passando


de 23 para 43. Em 2016, a UERJ possuía 26.767 estudantes presenciais, dos quais 9.900
cotistas e ainda 7.266 alunos de Educação a Distância. Além do Hospital Universitário
Pedro Ernesto e da Policlínica Piquet Carneiro, ela conta com 714 projetos, 253 cursos
e 34 programas de extensão, que levam à sociedade conhecimento e tecnologias de
ponta, envolvendo cerca de 3 milhões de pessoas, entre profissionais, estudantes e
comunidade atendida.

Nos últimos anos, a UERJ conquistou o regime de trabalho de Dedicação


Exclusiva, assegurando um plano de carreira com capacidade de atrair os melhores
quadros acadêmicos. Tal regime é estruturante da carreira docente, garantidor da
qualidade da pesquisa, do compromisso com a formação de estudantes e pesquisadores,
e do desenvolvimento tecnológico a partir da fixação de docentes em uma única
instituição.

Hoje, no entanto, todo esse patrimônio corre risco.

Ciência, formação e igualdade social não fazem parte da agenda do PMDB. A


Universidade lhe é estranha. Em seu programa para o Brasil, “Uma ponte para o futuro”,
ela é tratada tão somente como encargo ou despesa, desconsiderando sua importância
como investimento na construção e preservação do patrimônio científico e tecnológico
de uma nação. Ao assim concebê-la, atribui à educação superior a responsabilidade de
produzir desajuste fiscal quando é, na verdade, potencial de desenvolvimento econômico
e de geração de emprego. Mas, então, qual é o projeto do PMDB para a Universidade?

Desde o golpe parlamentar, em 2016, o Governo Temer tem realizado significativos


cortes em políticas sociais, entre elas o ensino superior. Só o MEC sofreu corte de R$ 4,3
bilhões. Assim, 15% dos gastos de custeio e 40% das despesas de capital, aprovados pelo
Congresso para as universidades federais, ficaram congelados. No Rio de Janeiro ocorre
fato semelhante. Para dar apenas um exemplo, no final de 2016, o Governo Pezão reduziu
o orçamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro em mais de 30%.

Em agosto de 2017, professores e servidores técnico-administrativos da


UERJ encontram-se com quatro meses de salários atrasados (mesma situação das
outras universidades estaduais UEZO e UENF). Também atrasadas estão as bolsas de
estudantes e residentes. O confisco de salários e bolsas é um confisco do orçamento
da universidade, e mina as condições de reprodução das forças necessárias ao trabalho
e à continuidade do patrimônio intelectual, científico e democrático adquirido ao longo

176
das décadas. Um exemplo dos efeitos nefastos dessa crise é a saída forçada de alguns
docentes do regime de dedicação exclusiva. Obrigados a acumular atividades paralelas,
muitos desses profissionais não retornarão ao regime após esse período.

O resultado da política universitária de Pezão e Temer, cujo não pagamento


dos salários da UERJ é a expressão mais vil, são vários: evasão de estudantes, fuga de
cérebros, destruição da pesquisa de ponta, eliminação do legado intelectual, extermínio
da formação e da cultura. Em outras palavras, a depredação do resultado de décadas de
investimento material e humano.

Nós, da Universidade, entendemos que docência, pesquisa, cultura e formação


se relacionam com o futuro. Nossa resistência é a garantia de que o projeto de
universidade pública, de qualidade, gratuita, cada vez mais plural e inclusiva, permaneça.
UERJ Resiste!

FONTE: Disponível em: <https://leonardoboff.wordpress.com/2017/08/11/universidade-pra-que-a-forca-e-


-o-futuro-da-uerj/>. Acesso em: 9 set. 2017.

177
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A vida em sociedade está ligada à política e não há ação social sem ação política, quer
seja promovida pelo Estado ou pela sociedade.

• As políticas públicas são de responsabilidade do Estado, com base em organismos


políticos e entidades da sociedade civil, que derivam de normatizações, ou seja, se
estabelece um processo de tomada de decisões, nossa legislação.

• A criação de documentos nacionais norteadores foi possível a partir da década de


1980, com a abertura política e com a instituição de um Estado democrático, com a
Constituição Federal de 1988, como é o caso dos Parâmetros Curriculares Nacionais.

• A LDB 9.394/96 regulamentou o que foi tratado sobre educação na Constituição


Federal, abordando a educação escolar. O objetivo dos PCN é estabelecer à equipe
pedagógica uma referência curricular e apoio na elaboração do currículo e do projeto
pedagógico.

• Os PCN têm função definidora do currículo mínimo, orientam práticas pedagógicas e


organizam a estrutura escolar.

• Uma das preocupações centrais dos PCN é o tema da cidadania, que deve resultar
em uma formação cidadã.

178
AUTOATIVIDADE
1 Para retomar o que aprendemos até o momento, aponte as
características principais e o contexto histórico no qual foram
construídos os PCN:

2 (IFRN – Concurso Público – Grupo Magistério – Políticas e Gestão


Escolar 2012)

A partir do que estabelece a Lei nº 9.394/1996, analise as afirmativas a seguir.

I- A educação profissional técnica de nível médio articulada, segundo essa lei, será
desenvolvida nas formas integrada e concomitante.
II- A educação de jovens e adultos deverá ser oferecida, preferencialmente, articulada
à educação profissional.
III- As instituições de educação profissional e tecnológica oferecerão cursos regulares
e cursos especiais, abertos à comunidade.
IV- Na educação profissional técnica de nível médio, a preparação geral para o trabalho
e, facultativamente, a habilitação profissional, poderão ser desenvolvidas nos
próprios estabelecimentos de Ensino Médio ou em cooperação com instituições
especializadas em educação profissional.
V- A educação profissional técnica de nível médio, por ter total autonomia pedagógica,
prescinde de organizar cursos seguindo as orientações contidas nas diretrizes
curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação.

Das afirmativas acima, estão corretas, apenas:


a) ( ) I, II, III e IV.
b) ( ) II, III, IV e V.
c) ( ) I e V.
d) ( ) II e IV.

179
180
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao estudo que faremos sobre o Sistema de
Saúde brasileiro. Este tema levará você a refletir sobre a realidade da saúde pública
em nosso país e os seus desafios para assegurar o atendimento a todo cidadão com
dignidade e em igualdade de condições.

O acesso universal, integral e equânime à assistência em saúde é um


direito de todos e um dever do Estado, garantido pela Constituição.
Contudo, para além das obrigações do governo, a saúde também
é uma responsabilidade coletiva, que implica na participação da
população nos processos de melhoria e no progresso da qualidade
de serviços (SCHMIDT, 2015, p. 12).

A gestão do sistema nacional de saúde é bastante complexa, se pensarmos


em atingir de forma equânime todas as pessoas que dependem do serviço público
num contexto com desigualdades e desafios sociais aos governos. Concorda Zetzsche
(2014, p. 3) ao dizer que “Cuidar da saúde significa manter a nação em condições de
progresso e trabalho, com uma população saudável e menores índices de adoecimento
e transmissão de doenças”.

O sistema de saúde brasileiro engloba uma rede de serviços prestados por


instituições públicas e privadas aos cidadãos que se utilizam de uma multiplicidade
de atendimentos. Considerado exemplo de política pública pelo acesso universal à
população, demanda ainda maior participação da sociedade nos conselhos e conferências
municipais de saúde para o efetivo controle social na administração pública.

O fortalecimento da política pública de saúde depende, sobretudo, de


investimentos que assegurem as ações e programas que impulsionem os indicadores
de saúde a um nível favorável; é fundamental a melhora da infraestrutura, com a
ampliação e modernização dos locais de atendimento, qualidade dos serviços oferecidos
e capacidade técnica dos profissionais contratados para a gestão.

Competência administrativa, visão política e gerencial, profundo


conhecimento da história do país e de sua dinâmica social, visão
epidemiológica e crítica, e visão ontológica – visão de respeito e
reconhecimento do ser humano – (alvo dos programas e políticas de
saúde) são requisitos mais que necessários àquele ou àquela que vai
trabalhar em gestão de saúde, quer seja de caráter público ou privado
(ZETZSCHE, 2014, p. 4).

181
A saúde para os brasileiros, segundo a pesquisa do Instituto de Pesquisas
Datafolha (2014), é considerada o serviço público mais importante; mas diariamente
o usuário se depara com problemas, como a falta de médicos, filas de espera nas
emergências e nos hospitais, demora para realização de cirurgias e hospitais sem
Área de
recursos maior importância – nível federal
financeiros.
(Estimulada e única)

Na segunda etapa, entre as áreas que consideraram importantes, Saúde se destaca, 15


FIGURA 25 – IMPORTÂNCIA DA SAÚDE PÚBLICA
como prioridade. Educação fica em segundo lugar, porém bem mais à distância.
 O usuário do SUS dá maior importância para a Saúde. Usuário  Não 
do SUS usuário
59% 46%
17% 25%
8% 9%
7% 11%
5% 3%
3% 3%
1% 1%
0,4% 1%
0,3% ‐
Base: Total Brasil  2.418 entrevistas
FONTE: Disponível em: <http://portal.cfm.org.br/images/PDF/apresentao-integra-datafolha203.pdf>.
P3. Dentre esses serviços que você considerou muito importantes, qual deve ser a primeira prioridade do governo federal, na sua opinião?

Acesso em: 6 jun. 2015.

A partir dessa reflexão, podemos enfatizar a importância da política pública de


saúde no contexto social brasileiro e a necessidade de gestão técnica com profissionais
habilitados. A relevância do tema foi abordada no Exame Nacional do Estudante –
ENADE (2013) e propomos que você leia e responda.

AUTOATIVIDADE
A questão da saúde no Brasil é complexa e dependente da atuação
dos vários agentes que a compõem. Cada um desses agentes, governo,
organizações e sociedade, tem suas responsabilidades sobre a
qualidade da saúde no Brasil. Ao governo cabe desenvolver políticas e
realizar investimentos adequados, dentro de um planejamento ao longo do tempo;
às organizações compete executar essas políticas, como também prestar serviços
à população com qualidade; e a sociedade, por seu lado, deve aderir às ações
preventivas promovidas pelo governo e pelas organizações, assim como deve ter
uma postura ativa, autônoma e corresponsável, em relação à sua qualidade de vida.

FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/Win8/Desktop/16_TEC_GESTAO_HOSPITALAR.pdf>. Acesso em: 3


maio 2015.
182
FONTE: Disponível em: <http://www.ivancabral.com>. Acesso em: 23 ago. 2013.

Considerando a figura e o trecho acima, redija um texto dissertativo sobre o


papel e (ou) funções do gestor hospitalar no contexto da qualidade da saúde no Brasil.

2 CONCEITO DE SAÚDE
Temos como conceito de saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde
(USP, 2015, s.p.): “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e
não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”.

Essa concepção de saúde induz a novas condutas quanto à promoção de saúde


e prevenção de doenças. O indivíduo é inserido numa rede de cuidados permanentes,
visando maior qualidade de vida, mesmo que aconteça a doença. A vida mais saudável
demanda novos hábitos, que incluem a alimentação adequada, lazer, convívio social,
esportes e atividade física como práticas diárias.

Mesmo o doente crônico aprende a conviver melhor com a doença, tornando-se


menos dependente da assistência médica, adquirindo hábitos que ajudam na melhora
do estado de saúde. É o que Zetzsche (2014, p. 13) define como “comportamentos mais
saudáveis e que desenvolva o seu autocuidado, possibilitando que, desta forma, acabe
vivendo mais e melhor depois de seu adoecimento, por mais incrível que isto pareça, à
primeira vista”. Neste contexto, percebe-se que a população está adotando um estilo
de vida mais saudável, com atitudes de prevenção para a saúde física e mental; este
movimento se estende a outros ambientes, como exemplo, no trabalho e na educação,
visto que a qualidade de vida está diretamente relacionada ao modo como as pessoas
vivem.

183
As cidades devem oferecer espaços coletivos, parques, praças, centros de
convivência, para que a comunidade usufrua de qualidade de vida, o que comprovadamente
vem reduzindo os custos em serviços médicos e assistenciais nos municípios.

FIGURA 26 – SAÚDE PÚBLICA

FONTE: Disponível em: <http://brubrinq.com.br/ckfinder/userfiles/images/pra%C3%A 7a_playground2.jpg>.


Acesso em: 12 jan. 2018.

Essa é uma realidade possível, de acordo com Zetzsche (2014, p. 9):

[...] a amplitude do escopo de ações em saúde vai abranger


intervenções e estratégias nos mais variáveis setores, como meio
ambiente, sustentabilidade, manejo agrícola, controle de endemias
e pandemias, definição dos níveis aceitáveis de desenvolvimento e
qualidade de vida, saneamento básico, manejo de recursos hídricos e
naturais, ambientes de trabalho, acesso ao lazer, educação, moradia,
entre tantos outros, pois é nestas boas condições de vida que a
saúde é mais fácil de se obter e de se conservar.

A transformação social, a partir da saúde, busca incutir nas pessoas atitudes


frente a fatores de influência negativa, por exemplo, a mídia com a demasiada
publicidade de produtos alimentícios industrializados, que não trazem benefícios à
saúde e contribuem para a obesidade e sobrepeso; ou ainda, o álcool e cigarro, que
levam a problemas comportamentais e afetam a família.

[...] a obesidade na população brasileira está se tornando bem mais


frequente do que a própria desnutrição infantil, sinalizando um
processo de transição epidemiológica que deve ser devidamente
valorizado no plano da saúde coletiva. As doenças [...] estão
relacionadas, em grande parte, com a obesidade e com práticas
alimentares e estilos de vida inadequados (IBGE, 2008, s.p.).

184
Além dos problemas decorrentes da vida moderna que afetam a saúde da
população, temos ainda doenças epidemiológicas como dengue, malária e tuberculose,
por exemplo, e que causam a morte de milhões de pessoas no mundo todo e são
decorrentes da miséria, da precariedade no abastecimento de água potável, do
saneamento básico e pela falta de acesso aos serviços públicos de saúde e educação. A
globalização fortaleceu esse processo de disseminação de doenças ao redor do mundo,
principalmente pelo contingente de populações imigratórias.

Visando contribuir com seu conhecimento, reflita e responda à atividade


a seguir, que trata sobre o tema de forma a fazer refletir a partir das considerações
apresentadas, compreender as relações entre saúde pública e as desigualdades sociais
e suas terríveis consequências para a humanidade.

AUTOATIVIDADE
(ENADE–2013 – Formação Geral) A Organização Mundial de Saúde
(OMS) menciona o saneamento básico precário como uma grave
ameaça à saúde humana. Apesar de disseminada no mundo, a falta
de saneamento básico ainda é muito associada à pobreza, afetando,
principalmente, a população de baixa renda, que é mais vulnerável devido à
subnutrição e, muitas vezes, à higiene precária. Doenças relacionadas a sistemas de
água e esgoto inadequados e a deficiências na higiene causam a morte de milhões
de pessoas todos os anos, com prevalência nos países de baixa renda (PIB per capita
inferior a US$ 825,00). Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam
que 88% das mortes por diarreia no mundo são causadas pela falta de saneamento
básico. Dessas mortes, aproximadamente 84% são de crianças. Estima-se que 1,5
milhão de crianças morram a cada ano, sobretudo em países em desenvolvimento,
em decorrência de doenças diarreicas. No Brasil, as doenças de transmissão feco-
oral, especialmente as diarreias, representam, em média, mais de 80% das doenças
relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (IBGE, 2012).

Com base nas informações e nos dados apresentados, redija um texto dissertativo
acerca da abrangência, no Brasil, dos serviços de saneamento básico e seus impactos
na saúde da população. Em seu texto, mencione as políticas públicas já implementadas
e apresente uma proposta para a solução do problema apresentado no texto acima.

FONTE: Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2013 /16_TEC_


GESTAO_HOSPITALAR.pdf>. Acesso em: 6 maio 2015.

185
3 SAÚDE: DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO
A Constituição da República Federativa de 1988 dispõe em seu art. 196: “A saúde
é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

No Brasil, temos um sistema de saúde garantido pela Constituição Federal, que


se constitui no Sistema Único de Saúde – SUS. Para Campos et al. (2006, p. 531 apud
ZETSZCHE, 2014, p. 87), o SUS é:

[...] o arranjo organizacional do Estado Brasileiro que dá suporte


à efetivação da política de saúde no Brasil, e traduz em ação os
princípios e diretrizes desta política. Compreende um conjunto
organizado e articulado de serviços e ações de saúde, e aglutina o
conjunto das organizações públicas de saúde existentes nos âmbitos
estadual, municipal e nacional, e ainda os serviços privados de saúde
que o integram funcionalmente para prestação de serviços aos
usuários do sistema, de forma complementar, quando contratados
ou conveniados para tal fim. O SUS foi instituído com o objetivo de
coordenar e integrar as ações das três esferas de governo e pressupõe
a articulação de subsistemas verticais (de vigilância e assistência
à saúde) e subsistemas de base territorial – estaduais, regionais e
municipais – para atender de maneira funcional às demandas por
atenção à saúde.

Historicamente, a população brasileira era desassistida de assistência médica


e, quando acometida de doença, recorria às crenças e à medicina natural; o auxílio ao
povo era feito pelas Santas Casas de Misericórdia. Somente a partir da industrialização
no país e dos movimentos sindicalistas é que o Estado passa a atuar na área da saúde,
com a criação das caixas de aposentadoria e pensão, mas que permitiam somente aos
contribuintes o acesso à assistência médica, enquanto a maior parcela da população
ficou à margem deste direito. Durante o período militar, a iniciativa privada passa a ter
participação no sistema com os convênios e planos de saúde.

Essas medidas contribuíram para a Reforma Sanitária que levou à criação do


SUS, que, segundo Arouca (1998 apud ZETZSCHE, 2014, p. 79):

[...] nasceu na luta contra a ditadura, com o tema Saúde e Democracia,


e estruturou-se nas universidades, no movimento sindical, em
experiências regionais de organização de serviços. Esse movimento
social consolidou-se na 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986,
na qual, pela primeira vez, mais de cinco mil representantes de todos
os segmentos da sociedade civil discutiram um novo modelo de
saúde para o Brasil. O resultado foi garantir na Constituição, por meio
de emenda popular, que a saúde é um direito do cidadão e um dever
do Estado.

186
Posteriormente, em 1990, foi promulgada a Lei Orgânica do SUS, com as Leis
nº 8.080 e nº 8.142, que têm como base de sustentação os princípios norteadores do
Sistema Único de Saúde brasileiro:

• Princípio da Universalidade: estabelece a todos o direito de atendimento pelo Sistema


Único de Saúde.
• Princípio da Integralidade: relaciona dois aspectos do SUS, o primeiro refere-se à
compreensão do ser humano biopsicossocial que requer um atendimento em sua
integralidade; e o segundo aspecto integra as ações do Sistema Único de Saúde
para o atendimento integral entre os diferentes níveis de complexidade de atenção à
saúde.
• Princípio da Igualdade: possibilita as mesmas condições de acesso ao Sistema Único
de Saúde neste país, onde ninguém pode solicitar um atendimento diferenciado, seja
um pedido por apadrinhamento político, ou pelo nível social, raça, gênero.

Na visão de Cony (2014, s.p.), o SUS pode ser considerado como direito humano:
“[...] é a maior conquista do povo brasileiro em política pública e é um sistema que é
referência em saúde para o mundo, sob a ótica gravada na Constituição de que o SUS
é um direito de todos e um dever do Estado e evoluindo para a compreensão de que é
um direito humano”.

4 AS REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE


O funcionamento do Sistema Único de Saúde conjuga uma rede de serviços
denominada Rede de Atenção à Saúde, que classifica os atendimentos em níveis de
atenção primária, secundária e terciária, conforme a exigência do serviço que será
prestado ao usuário. A rede compreende-se em âmbito estadual e regional, numa
articulação interfederativa, em que serviços de saúde são executados em uma região
de Saúde determinada por um espaço geográfico de municípios limítrofes, que segundo
o Decreto nº 7.508/2011, será “delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e
sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados [...]”.
Trata-se de uma organização complexa, que identifica os diversos atendimentos por
meio de um Mapa da Saúde, que segundo decreto, faz a distribuição “[...] de recursos
humanos e de ações e serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada,
considerando-se a capacidade instalada existente, os investimentos e o desempenho
aferido a partir dos indicadores de saúde do sistema”.

A Rede de Atenção à Saúde (RAS) atua a partir da Unidade Básica de Saúde


ou USF – Unidade de Saúde da Família, onde inicia o trabalho junto à comunidade. As
consultas são realizadas pelo médico generalista e, se for necessário, encaminha aos
médicos especialistas que integram o setor de atenção secundária.

187
A Unidade Básica de Saúde realiza os atendimentos em nível de atenção primária
“[...] enfatizando a função resolutiva dos cuidados primários sobre os problemas mais
comuns de saúde e a partir do qual se realiza e coordena o cuidado em todos os pontos
de atenção” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p. 4 apud ZETZSCHE, 2014, p. 32).

A pesquisa do Instituto Datafolha (2014) mostra com que objetivo o usuário


busca o atendimento na Unidade de Saúde.
Porta de entrada para o SUS
(Estimulada e única)
FIGURA 27 – NECESSIDADES NA SAÚDE PÚBLICA
Quando precisam de atendimento de saúde do SUS, o primeiro local procurado é o 44

Posto de Saúde para a maior parcela dos usuários (48%). No entanto, 49% usam
algum serviço de emergência como porta de entrada.

49% utilizam
atendimento de
emergência como
porta de entrada

FONTE: Disponível em: <http://portal.cfm.org.br/images/PDF/apresentao-integradatafolha203.pdf>.


Base: Total Brasil, entrevistados que utilizaram serviço
P13. Quando você ou alguém de sua casa precisa de atendimento de saúde do SUS, qual o primeiro local que vocês procuram, de acordo com este cartão? 
Acesso em: 6 jun. 2015.

No setor de atenção secundária, adentramos em Policlínicas de especialidades,


Ambulatórios e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Do setor terciário fazem
parte os  hospitais especializados, Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), Centros
de Hemodiálise, entre outros.  Os encaminhamentos feitos aos usuários são formais,
por meio de referências e contrarreferências, que são os registros das consultas e
procedimentos utilizados pelos médicos e agentes de saúde.

GIO
Pontos de atenção à saúde são entendidos como espaços em que se ofertam
determinados serviços de saúde, por meio de uma produção singular. Os domicílios,
as unidades básicas de saúde, as unidades ambulatoriais especializadas, os
serviços de hemoterapia e hematologia, os centros de apoio psicossocial, as
residências terapêuticas, entre outros. Os hospitais podem abrigar distintos
pontos de atenção à saúde: o ambulatório de pronto atendimento, a unidade
de cirurgia ambulatorial, o centro cirúrgico, a maternidade, a unidade de
terapia intensiva, a unidade de hospital/dia, entre outros. Todos os pontos
de atenção à saúde são igualmente importantes para que se cumpram os
objetivos da rede de atenção à saúde e se diferenciam, apenas, pelas distintas
densidades tecnológicas que os caracterizam (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010,
p. 4 apud ZETSCHE, 2014, p. 32).

188
Vejamos um exemplo de atendimento em rede:

O sr. José é portador de doença mental leve diagnosticada durante a infância,


mas os pais não procuraram um tratamento na época; a partir da visita do agente
comunitário a domicílio, o sr. José foi encaminhado para a Unidade Básica de Saúde
(que fez seu acompanhamento clínico e o encaminhou também para o CAPS - Centro
de Atenção Psicossocial). Foi feito o cadastro na ESF (Estratégia de Saúde Familiar) e
no CAPS e as crises puderam ser cuidadas sem internação. O sr. José também tem
hipertensão e por isso faz acompanhamento com a médica da Unidade de Saúde
Básica, que prescreve os seus medicamentos. Como o sr. José é viúvo e mora sozinho,
o agente comunitário tem feito visitas com frequência, para saber se está tomando a
medicação corretamente.

Neste exemplo, podemos verificar como um usuário pode ter o seu cuidado
compartilhado entre uma equipe de atenção primária, a unidade de saúde da família, e
uma equipe de atenção secundária, a equipe do CAPS.

Para conhecer melhor os princípios que norteiam a legislação orgânica de


saúde, acompanhe a questão a seguir, ela trata sobre o tema, que também foi abordado
no Exame Nacional do Estudante – ENADE (2013) e ajuda a entender o funcionamento
da saúde pública e pensar sobre a qualidade de atendimento em saúde na sua cidade.

AUTOATIVIDADE
Mais de 20 anos após a criação do SUS, surge a necessidade de
regulamentação de dispositivos da Lei Orgânica da Saúde, em face
de lacunas legais quanto à organização do sistema, ao planejamento
da saúde, à assistência à saúde e à articulação interfederativa. A
regulamentação, pelo Poder Executivo Federal, da Lei nº 8.080/1990, por meio do
Decreto nº 7.508/2011, surge no momento em que os gestores, profissionais de saúde
e trabalhadores detêm maior compreensão sobre a organização constitucional e
legal do SUS e o usuário sobre o seu direito à saúde.

De acordo com o decreto citado acima, avalie as afirmações a seguir.

I- A integralidade da assistência à saúde se inicia e se completa na rede de atenção


à saúde, mediante referenciamento do usuário na rede regional e interestadual,
conforme pactuado nas comissões intergestoras.
II- Mapa da Saúde é a descrição geográfica da distribuição de recursos humanos e
de ações e serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada que será

189
utilizada na identificação das necessidades de saúde e orientará o planejamento
integrado dos entes federativos, contribuindo para o estabelecimento de metas de
saúde.
III- Região de Saúde é o espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos
de municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e
sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados,
com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e
serviços de saúde.

É correto o que se afirma em:


a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.

FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/Win8/Desktop/16_TEC_GESTAO_HOSPITALAR.pdf>. Acesso


em: 6 maio 2015.

5 DIVERSOS ATENDIMENTOS EM SAÚDE


Para desenvolver a política pública de saúde é preciso, inicialmente, diagnosticar
a condição de saúde da população brasileira. Segundo as informações divulgadas pelo
Ministério da Saúde, a estimativa de vida do brasileiro aumentou para 72,7 anos em
média, passando a viver mais tempo; em contrapartida, a taxa de natalidade decresceu
de 6,2 filhos por mulher nos anos 60 para 1,8 filhos por mulher até 2009.

Nesta perspectiva, constatamos que a população no Brasil está envelhecendo,


as pessoas vivem mais tempo e nascem menos crianças; e o índice de mortalidade
aumentou devido a doenças crônicas que afetam 79,1% dos idosos de 65 anos ou
mais. Segundo Mendes (2012, p. 34-35 apud ZETSCHE, 2014, p. 21), “Ademais, 31,3%
da população geral, em torno de 60 milhões de pessoas, têm doenças crônicas, e 5,9%
dessa população total têm três ou mais dessas doenças crônicas”.

Diariamente, o SUS presta atendimento a milhares de usuários que furtivamente


adoecem, necessitando de intervenção médica, realização de exames, cirurgias e
internações em hospitais; são considerados atendimentos de problema agudo, pois
quando solucionado, o paciente é liberado. Para o atendimento de gestantes ou
usuários de drogas, álcool e/ou portadores de doenças sexualmente transmissíveis, que
necessitam de acompanhamento, é requerido o agendamento da consulta.

190
O atendimento a domicílio feito pelo médico da Unidade Básica de Saúde visa
atender a pessoas impossibilitadas de deslocamento em virtude de graves acidentes,
por exemplo. São realizados os procedimentos mais comuns de recuperação, por meio
de curativos e fisioterapia; além destes, também se inclui aqui o atendimento a pacientes
acometidos das doenças ocupacionais como LER e DORT, o que leva um grande número
de trabalhadores à incapacidade funcional.

No entanto, muitos atendimentos seguem uma inversão do modelo de atenção


à saúde, “[...] demandado pela maioria das pessoas e denominado de queixa conduta”,
como afirma Zetzsche (2014, p. 23). Após a consulta e a prescrição de exames, o paciente
sente-se melhor e desiste dos exames. Os sintomas ressurgem e a doença se instala
com gravidade, e o retorno ao médico é inevitável, o que representa um alto custo para
o SUS, e maior ganho para a iniciativa privada pela quantidade de exames de alto custo,
e para a indústria farmacêutica, pela quantidade de medicamentos.

5.1 POLÍTICAS DE SAÚDE E PROGRAMAS ESPECÍFICOS


Pela complexidade de atuação do SUS em todo o território nacional, criaram-se
políticas nacionais para o combate de doenças e prevenção em saúde, coordenadas
pelo Ministério da Saúde e operacionalizadas em programas específicos no combate a
doenças.

IMPORTANTE
O Brasil detém a tecnologia para a fabricação de muitas das vacinas
utilizadas nas campanhas de saúde pública do país. A Fiocruz – Fundação
Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e o Instituto Butantã, em São Paulo, são
considerados centros de excelência para a fabricação de imunobiológicos.
Ambas as instituições são órgãos públicos (ZETZSCHE, 2014, p. 244).

No Brasil, temos várias políticas de saúde operacionalizadas por programas


presentes em todo o país, vejamos algumas:

191
QUADRO 7 – DEMONSTRATIVO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS ESPECÍFICOS DE SAÚDE

POLÍTICA
PÚBLICA/ OBJETIVO
PROGRAMA
Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica
(PROVAB) - Estimular a formação do médico para a real
PROVAB
necessidade da população brasileira e levar esse profissional
para localidades com maior carência para este serviço.
Desde 2011, o Ministério da Saúde vem promovendo a
implantação e implementação de polos da Academia da
PROGRAMA Saúde nos municípios brasileiros. Os polos são espaços
ACADEMIA DA físicos dotados de equipamentos, estrutura e profissionais
SAÚDE qualificados, com o objetivo de contribuir para a promoção da
saúde e produção do cuidado e de modos de vida saudáveis
da população.
O Programa Mais Médicos faz parte de um amplo pacto de
melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de
MAIS MÉDICOS Saúde, que prevê mais investimentos em infraestrutura dos
hospitais e unidades de saúde, além de levar mais médicos
para regiões onde há escassez e ausência de profissionais.
Melhorar e ampliar a assistência no SUS a pacientes com
MELHOR EM CASA agravos de saúde, que possam receber atendimento
humanizado, em casa, e perto da família.
O Governo Federal criou o Programa Farmácia Popular do
Brasil para  ampliar o acesso  aos medicamentos para as
doenças mais comuns entre os cidadãos. O Programa possui
FARMÁCIA POPULAR
uma rede própria de Farmácias Populares e a parceria com
farmácias e drogarias da rede privada, chamada de "Aqui tem
Farmácia Popular".
Cartão Nacional de Saúde é um instrumento que possibilita
a vinculação dos procedimentos executados no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS) ao usuário, ao profissional
CARTÃO NACIONAL que os realizou e também à unidade de saúde em que foram
DE SAÚDE realizados. Para tanto, é necessária a construção de cadastros
de usuários, de profissionais de saúde e de unidades de saúde.
A partir desses cadastros, os usuários do SUS e os profissionais
de saúde recebem um número nacional de identificação.
As Unidades de Pronto Atendimento - UPA 24h são estruturas
PRONTO de complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de
ATENDIMENTO Saúde e as portas de urgência hospitalares, onde, em conjunto
UPA 24h com estas, compõem uma rede organizada de Atenção às
Urgências.
A Política Nacional de Humanização existe desde 2003 para
efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de
HUMANIZASUS atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil  e
incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores
e usuários.

192
O Sistema Nacional de Transplantes (SNT), instituído pelo
Decreto n° 2.268, de 30 de junho de 1997, é a instância
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS responsável pelo controle e pelo monitoramento dos
transplantes de órgãos, de tecidos e de partes do corpo
humano, realizados no Brasil.
A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN),
aprovada no ano de 1999, integra os esforços do Estado
brasileiro, que por meio de um conjunto de políticas
PNAN – POLÍTICA públicas propõe respeitar, proteger, promover e prover os
NACIONAL DE direitos humanos à saúde e à alimentação. A completar-
ALIMENTAÇÃO E se dez anos de publicação da PNAN, deu-se início ao
NUTRIÇÃO processo de atualização e aprimoramento das suas bases
e diretrizes, de forma a consolidar-se como uma referência
para os novos desafios a serem enfrentados no campo da
alimentação e nutrição no Sistema Único de Saúde (SUS).
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU 192
tem como objetivo chegar precocemente à vítima após ter
ocorrido alguma situação de urgência ou emergência de
natureza clínica, cirúrgica, traumática, obstétrica, pediátrica,
SAMU
psiquiátrica, entre outras, que possa levar ao sofrimento, a
sequelas ou mesmo à morte. Trata-se de um serviço pré-
hospitalar, que visa conectar as vítimas aos recursos que elas
necessitam e com a maior brevidade possível.
O câncer de mama é o mais incidente na população feminina
mundial e brasileira, excetuando-se os casos de câncer
PROGRAMAS DE
de pele não melanoma. Políticas públicas nessa área vêm
CONTROLE DE
sendo desenvolvidas no Brasil desde meados dos anos 80
CÂNCER-
e foram impulsionadas pelo Programa Viva Mulher em 1998.
POLÍTICA NACIONAL
O controle do câncer de mama foi reafirmado como plano
DE ATENÇÃO
de fortalecimento da rede de prevenção, diagnóstico e
ONCOLÓGICA
tratamento do câncer, lançado pela presidente da República
em 2011.
QualiSUS - Rede é um projeto formalizado a partir de Acordo
QualiSUS - REDE
de Empréstimo com o Banco Mundial, com a finalidade de
contribuir para a organização de redes regionalizadas de
atenção à saúde no Brasil.
O Programa tem como objetivo reduzir a prevalência de
fumantes e a consequente morbimortalidade relacionada
ao consumo de derivados do tabaco, seguindo um modelo
CONTROLE DO no qual ações educativas, de comunicação, de atenção à
TABAGISMO saúde, associadas às medidas legislativas e econômicas,
potencializam-se para prevenir a iniciação do tabagismo,
promover a cessação de fumar e proteger a população da
exposição à fumaça ambiental do tabaco.
A Rede BLH tem por missão a promoção da saúde da mulher e
BANCOS DE LEITE
da criança mediante a integração e a construção de parcerias
HUMANO
com órgãos federais, a iniciativa privada e a sociedade.

193
POLÍTICA DE
Estratégia criada pelo INCA visando à ampliação da assistência
PREVENÇÃO
oncológica no Brasil pela implantação de serviços que
AO CÂNCER
integram os diversos tipos de recursos necessários à atenção
GINECOLÓGICO E DA
oncológica de alta complexidade em hospitais gerais.
PREVENÇÃO DA DST

FONTE: Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/profissional-e-gestor/gestao-da-saude-


-publica>. Acesso em: 5 jun. 2015.

Neste cenário, o trabalho da Vigilância Epidemiológica é fundamental para


prever as ações que o Estado deve realizar a partir da coleta de informações do perfil
epidemiológico da população. A Vigilância Epidemiológica acompanha a evolução de
determinadas doenças e adota medidas que impedem que as pessoas sejam expostas
ao contágio de doenças transmissíveis.

Trouxemos para você, acadêmico, um pouco do contexto que foi construído


durante longos anos por nosso sistema de saúde brasileiro. Ele ainda está em construção,
adaptação, com novas propostas surgindo diariamente, afinal, é um grande desafio a
concepção de saúde de qualidade para todos.

194
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O que é saúde e como promovê-la.

• A concepção de saúde pública a partir da promoção de saúde e prevenção a partir de


condicionantes sociais.

• A interferência de ações de promoção de saúde nos diferentes meios sociais.

• No Brasil a saúde é um direito constitucional e dever do Estado.

• O SUS é o sistema de saúde nacional que funciona em rede, norteado pelos princípios
de universalidade, integralidade e igualdade determinados na Lei Orgânica da Saúde.

• Como funciona o sistema de saúde e os diversos aspectos no atendimento ao usuário.

• A atenção básica nos níveis primário, secundário e terciário, conforme a exigência do


atendimento.

• A importância da Vigilância Epidemiológica como provedora de informações para


políticas públicas e programas específicos de combate e prevenção de doenças.

• Conhecemos algumas políticas públicas e programas desenvolvidos para o combate


e prevenção de doenças.

195
AUTOATIVIDADE
1 Conforme determinado pela Constituição Federal de 1988, a questão
da saúde pública é dever do Estado, sendo operacionalizado pelo
SUS (Sistema Único de Saúde). Sem dúvida, atender a esta demanda
é um enorme desafio, pelas dimensões e complexidades existentes
em nosso país para garantir a todos qualidade nas políticas públicas de saúde.
Neste contexto, analise as sentenças a seguir:

I- O SUS (Sistema Único de Saúde) precisa estar em constante evolução, sendo um


processo contínuo de construção.
II- O SUS é um dos maiores programas de saúde do mundo.
III- A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que o sistema de saúde não fosse
estatizado, ou seja, deverá ser assegurado pela iniciativa privada.
IV- A ESF (Estratégia de Saúde da Família) é considerada a porta de entrada no sistema
SUS.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença III está correta.
c) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

2 No contexto do atendimento ao usuário do sistema de saúde, a


estrutura para promover estes procedimentos está dividida em níveis
de atenção. Considerando o assunto, analise as sentenças a seguir:

I- A atenção básica é caracterizada por ser a porta de entrada dos tratamentos do SUS.
II- O usuário que for atendido no nível de atenção básica não poderá receber tratamento
nos demais níveis de atenção.
III- São considerados como atenção secundária os serviços realizados pelo SAMU (Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência) e UPAS (Unidades de Pronto-Atendimento).
IV- Os serviços de atenção terciária são realizados nos consultórios médicos.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.

196
3 No contexto do modelo de saúde existe a classificação de níveis de
atenção, que estão divididos em primário, secundário e terciário.
Sabemos que o maior número de atendimentos aos usuários do
sistema de saúde concentra-se no nível de atenção primário. Desta
forma, disserte sobre o que trata a Política Nacional de Atenção Básica.

4 O sistema de saúde pode ser definido como um conjunto de relações


econômicas, políticas e institucionais, que refletem na condução das
atividades que promovem a saúde, com serviços que visam alcançar
esses resultados. Como o Sistema de Saúde Brasileiro é considerado?

a) ( ) Privado.
b) ( ) Parcial.
c) ( ) Universal.
d) ( ) Público.

197
198
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
HABITAÇÃO E SANEAMENTO

1 INTRODUÇÃO
A grande concentração populacional nos centros urbanos exige o atendimento
de necessidades básicas à dignidade humana. A moradia é um elemento essencial
ao homem. Entretanto, a construção de aglomerados habitacionais é responsável
por grandes impactos ambientais. Inicialmente, as áreas são desmatadas, os solos
desprotegidos, dá-se lugar às construções e, caso não haja condições adequadas de
saneamento, ocorre o acúmulo de lixo e a contaminação das fontes de água. Este é
um panorama simplificado e didático, apenas, pois outras tantas alterações ocorrem
simultaneamente.

A fim de garantir condições dignas para as moradias, a Organização Mundial da


Saúde definiu parâmetros mínimos de qualidade das áreas destinadas às habitações:

• As habitações devem apresentar estrutura mínima para acomodar todos os


moradores.
• Capacidade para fornecer proteção térmica e proporcionar a redução de ruídos e
poeira.
• Possibilitar o acesso ao abastecimento de água e qualidade adequada ao consumo
humano.
• Apresentar estrutura para a disposição e manejo adequado de resíduos sólidos e
líquidos.
• Estar localizada em área adequada à moradia.
• Evitar a poluição no ambiente doméstico.
• Ser livre da presença de vetores e/ou hospedeiros intermediários de agentes
etiológicos.

Conhecendo os parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde,


observamos que nossas cidades ainda estão longe de atender a todos os requisitos
necessários ao bem-estar social.

2 DIREITO À MORADIA
Ainda dentro do contexto da habitação, são comuns os problemas ambientais
advindos da concentração desordenada de construções, muitas vezes irregulares
(clandestinas):

199
• A ocupação das encostas e a consequente destruição da vegetação que protege o
solo são responsáveis pelas tragédias registradas nos períodos chuvosos.
• As construções à beira de córregos e rios causam, pelo menos, dois grandes problemas:
as enchentes e a contaminação das águas por falta de saneamento básico.

Por tudo isso, é legítimo que o movimento pela reforma urbana foi incluído no
texto constitucional, através da emenda popular da reforma urbana, encaminhada ao
Congresso Nacional em 1988 e que inseriu o capítulo de Política Urbana da Constituição,
prevista nos artigos 182 e 183 (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007).

Apesar de não atender aos anseios de todos, a inclusão desses dispositivos


significou um avanço, pois, pela primeira vez, uma política pública voltada à questão
urbana foi garantida através de sua inserção no texto constitucional.

Com essa abertura e com a necessidade de regulamentar o capítulo da política


pública urbana inserida na Constituição, foi editado o Projeto de Lei n° 5.788/90, que
tramitou por cerca de uma década e somente foi aprovado pelo Congresso Nacional com
a edição da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade.

O direito à moradia passou a ser tratado constitucionalmente como um dos


direitos do trabalhador. A Constituição de 1988, no seu artigo 7º, ao apresentar os direitos
dos trabalhadores urbanos e rurais, estabelece em seu inciso IV que o salário-mínimo
deve atender às necessidades vitais básicas do trabalhador e de sua família, entre as
quais se inclui o direito à moradia.

A Emenda Constitucional nº 26/2000, contudo, veio expandir esse direito,


alterando a redação do artigo 6º da Constituição Federal, o qual originalmente tutelava
o direito social, um tipo de direito fundamental. Nesta expansão, com a educação, a
saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e
à infância, a assistência aos desamparados, acresce-se o direito à moradia, incluindo-o
dentre os direitos sociais a serem fomentados pelo Estado para a coletividade.

A figura a seguir retrata o déficit habitacional do ano de 2007 a 2012, anos de


pesquisa realizada pelo IBGE, que mostra pouco avanço percentual na diminuição desse
grande problema que é a falta de moradia.

200
FIGURA 28 - DÉFICIT HABITACIONAL

DÉFICIT HABITACIONAL TOTAL, RELATIVO E POR COMPONENTES


Brasil
2007 - 2012
Ano
Especificação
2007 2008 2009 2011 2012
Déficit Total Absoluto 6.102.414 5.686.703 6.143.226 5.889.357 5.792.508
Déficit Total Relativo 10,8 9,8 10,4 9,5 9,1
Total de Domicílios 56.338.622 58.180.644 59.252.675 62.116.819 63.766.688
COMPONENTES
Habitação Precária 1.264.414 1.158.801 1.088.634 1.187.903 883.777
Improvisados 109.421 101.100 69.432 130.905 85.550
Rústicos 1.154.993 1.057.701 1.019.202 1.056.998 798.227
Coabitação Familiar 2.481.128 2.211.276 2.511.541 1.916.716 1.865.457
Cômodos 200.094 175.366 216.924 221.546 170.926
Famílias
2.281.034 2.035.910 2.294.617 1.695.170 1.694.531
Conviventes
Ônus Excessivo
1.965.981 1.928.236 2.143.415 2.388.316 2.660.348
com Aluguel
Adensamento
390.891 388.390 399.636 396.422 382.926
Excessivo
Fonte: Dados básicos: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) 2007 - 2012.
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI).
Nota Técnica: Déficit Habitacional no Brasil Anos 2011 e 2012/Fundação João Pinheiro.

FONTE: Disponível em: <http://www.cbicdados.com.br/menu/deficit-habitacional/deficit-habitaci onal-no-


-brasil>. Acesso em: 21 maio 2015.

Sabemos que o acesso ao direito da moradia depende também da terra, do


espaço físico, ou seja, do direito de propriedade (COSTA, 2007), e não só de políticas
públicas. A propriedade resulta do trabalho e deve ser exclusiva do trabalhador.

Com a inclusão da Política Urbana, e com a aprovação da Lei nº 10.257, de


10 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade, que instituiu as diretrizes
e os instrumentos de cumprimento da função social da cidade, como também da
propriedade urbana, descentralizaram-se as políticas públicas de planejamento urbano,
ficando estas a cargo dos municípios.

Entretanto, para a instituição desta política é preciso reunir todas as informações


necessárias a subsidiar a elaboração do projeto de regularização, seja nas esferas municipal,
estadual e federal, o que torna lento o andamento do processo. Nesse processo, outras
dimensões devem ser consideradas. Direitos como a saúde, a educação, o saneamento
básico e a segurança compõem, com a moradia, todo um contexto a ser considerado.

201
Quanto ao conceito de moradia, Costa (2007) a define como uma das principais
necessidades básicas do ser humano e está ligada à disponibilidade de trabalho, lazer
e livre circulação. A moradia representa o abrigo, o lar em família. Mesmo sendo um
direito de todos, o direito à moradia se configura como um dos principais problemas da
sociedade atual, visto que nem todos contam com uma moradia digna.

Costa (2007) complementa apontando que o aumento de concentração de


pessoas no meio urbano pede por políticas voltadas à disponibilização de habitações
dignas, de maneira ampla e regular, para assim suprir as demandas encontradas em
várias cidades do mundo, em especial, nas cidades brasileiras.

FIGURA 29 – MORADIA DIGNA?

FONTE: Disponível em: <://jopbj.blogspot.com.br/2012/05/moradia-direito-de-todos-dever -do.html>. Aces-


so em: 29 maio 2015.

O cenário atual se apresenta através do surgimento de núcleos habitacionais


em reservas ambientais, agredindo o planeta e colocando em perigo a integridade física
dos cidadãos. Em sua maioria, o problema habitacional acontece com a população de
baixa renda, carente de moradia e de acesso a outros serviços essenciais.

O direito à moradia está intimamente ligado à dignidade do cidadão. Ireno Júnior


(2008) enfatiza que o direito à moradia procede do direito à vida, e deve ter prioridade ao
se planejar, elaborar e executar as políticas públicas.

Portanto, é responsabilidade do Estado promover e proteger o direito à moradia,


regulamentar e interferir nas ações do setor privado direcionadas à política habitacional.
Porém, em alguns casos, o próprio Estado dificulta, com tanto entrave burocrático que
impede que o cidadão tenha acesso a esse direito.

202
FIGURA 30 – DIREITO À MORADIA

FONTE: Disponível em: <http://www.agoraamazonas.com/i-seminario-nacional-de-direito-a-moradia-da-


-dpe-am/>. Acesso em: 29 maio 2015.

Considerada uma das necessidades fundamentais do ser humano, a habitação


mostra variações decorrentes das condições culturais, espaciais e temporais. Dessa forma,
interfere na população, meio ambiente e instituições sociais.

Para atender a essas necessidades, as políticas públicas exercem papel


fundamental, pois elas devem ser responsáveis e comprometidas com o desenvolvimento
da nação e dos cidadãos. Assim, buscam melhorar a qualidade de vida e respeitar o
direito à cidadania (ZANLUCA, 2011).

Zanluca (2011) explica que o processo de urbanização e implementação das


políticas públicas no país faz referência ao período colonial. É no período pré-capitalista
que a ocupação do espaço urbano sofre forte influência da Igreja. Esta instituição
mantinha influência na vida da população e também valorizava o solo urbano. Assim,
começava a divisão territorial por classes de renda.

A mudança do regime imperial para o republicano apresentou-se como um


período de modernização das áreas urbanas do país. Por outro lado, contribuiu para
aumentar a crise habitacional, já que com a República vieram muitos imigrantes.
Alguns trabalhavam no meio rural e outros na área urbana, acelerando o processo de
industrialização. Além disso, esses trabalhadores saíram do espaço rural e foram para o
urbano, criando um aumento populacional nas áreas urbanas (ZANLUCA, 2011).

203
FIGURA 31 – MORADIA, DIREITO DE TODOS

FONTE: Disponível em: <http://terradedireitos.org.br/wp-content/uploads/2012/06/Manifesta%C3%A7%-


C3%A3o-da-Assembleia-Popular-pelo-direito-%C3%A0-moradia_2011.JPG>. Acesso em: 29 maio 2015.

O cenário brasileiro começou a mudar através da integração da Secretaria


de Planejamento Habitacional (SERPHAN), em 1964, por meio do Plano Nacional de
Habitação, que proporcionou ao Estado tomar consciência do desequilíbrio ocupacional
do território brasileiro – como mencionam Azevedo e Prates (2001), entre outros –, do
crescimento desenfreado das cidades e, por consequência, do caos nas áreas urbanas.

Conforme Zanluca (2011), nos espaços urbanos o governo realizou diversas


obras estruturais, valorizando o solo urbano, o incremento do mercado imobiliário e a
construção de prédios. Assim, o processo de construção do território urbano no Brasil
ocorreu sem planejamento. A partir do início do século XX, outros acontecimentos
propiciaram a criação de políticas públicas direcionadas ao espaço urbano. Deu-se início
ao processo de acumulação de capital mediante a exploração da mão de obra. Com
condições de vida precárias e salário baixo, muitos trabalhadores procuraram espaços
mais baratos para morar, iniciando o processo de favelização.

Foi durante a década de 1970, no governo da ditadura militar, que foram criados
o Banco Nacional da Habitação (BNH) e o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo
(SERFHAU), tendo por objetivo estimular a indústria e atender às necessidades
habitacionais. No entanto, esse processo atendeu, em especial, às classes média e
alta, deixando de lado as mais carentes. Depois, na década de 1980, o Brasil enfrentou
um crescimento muito abaixo do esperado, acompanhado do crescimento das dívidas
externa e interna. Grande parte dos trabalhadores, sem ter qualificação especializada
e carente de atendimento aos serviços básicos do Estado, como o direito à moradia,
sofreu com a revolução microeletrônica, o que gerou o fechamento de vários postos de
trabalho (ZANLUCA, 2011).

204
FIGURA 32 – NOVAS MORADIAS

FONTE: Disponível em: <http://ipco.org.br/ipco/noticias/igual-sem-personalidade-estag nante#.VWhTD-


89Viko>. Acesso em: 25 jun. 2015.

Para tentar estruturar a questão habitacional no país, foi instituído, em 16 de


junho de 2005, através da Lei nº 11.124, o Sistema Nacional de Habitação de Interesse
Social (SNHIS), sendo criados o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS)
e o Conselho Gestor do FNHIS.

Conforme o Capítulo I, seção I, artigo 2º da referida lei, fica instituído o Sistema


Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), com o objetivo de:

I – viabilizar para a população de menor renda o acesso à terra


urbanizada e à habitação digna e sustentável;
II – implementar políticas e programas de investimentos e subsídios,
promovendo e viabilizando o acesso à habitação voltada à população
de menor renda; e
III – articular, compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das
instituições e órgãos que desempenham funções no setor da
habitação.

A partir de uma legislação mais específica sobre o tema em apreço, o governo


federal passou a se envolver de forma mais incisiva na implementação de programas
voltados à área de habitação, mesmo porque, organismos mundiais, como a Organização
Mundial da Saúde, já preconizam parâmetros mínimos que venham a dar garantias de
moradia digna para as pessoas:

• As habitações devem apresentar estrutura mínima para acomodar todos os


moradores.
• Capacidade para fornecer proteção térmica e proporcionar a redução de ruídos e
poeira.

205
• Possibilitar o acesso ao abastecimento de água e qualidade adequada ao consumo
humano.
• Apresentar estrutura para a disposição e manejo adequado de resíduos sólidos e
líquidos.
• Estar localizada em área adequada à moradia.
• Evitar a poluição no ambiente doméstico.
• Ser livre da presença de vetores e/ou hospedeiros intermediários de agentes
etiológicos.

Há muito que se fazer. Há muito que se cobrar das políticas públicas para que
se coloque em prática o que preconiza a legislação.

O resultado dessa mobilização, dessa cobrança da sociedade, pode ser


exemplificado pelo Estatuto da Cidade. Este Estatuto da Cidade é resultado de um
movimento multissetorial e de abrangência nacional, que lutou para incluir no contexto
constitucional instrumentos que levem à instauração da função social da cidade e da
propriedade no processo de construção das mesmas.

O Estatuto, como é definido em sua própria apresentação, é considerado um


dispositivo legal e de suprema importância:

O Estatuto abarca um conjunto de princípios – no qual está expressa


uma concepção de cidade e de planejamento e gestão urbanos – e
uma série de instrumentos que, como a própria denominação define,
são meios para atingir as finalidades desejadas. Entretanto, delega
– como não podia deixar de ser – para cada um dos municípios,
a partir de um processo público e democrático, a explicitação
clara destas finalidades. Neste sentido, o Estatuto funciona como
uma espécie de ‘caixa de ferramentas’ para uma política urbana
local. É a definição da ‘cidade que queremos’, nos planos diretores
de cada um dos municípios, que determinará a mobilização (ou
não) dos instrumentos e sua forma de aplicação. É, portanto, no
processo político e no engajamento amplo ou não da sociedade
civil, que repousará a natureza e a direção de intervenção e uso dos
instrumentos propostos no Estatuto (BRASIL, 2001).

O Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) não foi criado apenas para ser mais um
instrumento regulamentador de urbanização e regularização da situação habitacional
nas cidades brasileiras, ele é resultado de lutas, negociações e articulações entre o
poder público, os movimentos sociais e a sociedade civil.

206
3 SANEAMENTO
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no seu relatório de 2011,
apresenta a universalização da rede de abastecimento de água, coleta de esgoto e de
manejo de resíduos sólidos. Sabemos que essa condição constitui parâmetro mundial
de qualidade de vida já alcançado em grande parte dos países mais ricos. Infelizmente,
no Brasil, a desigualdade verificada no acesso da população a esses serviços ainda
constitui o grande desafio posto ao Estado e à sociedade em geral nos dias atuais.

A natureza relacional do saneamento reporta, necessariamente, tanto a


compreensão mais ampla da saúde humana quanto do meio ambiente no qual o ser
humano vive e se reproduz em sociedade, projetando, por esta via, o próprio estilo de
desenvolvimento dominante em um dado território. Nesse sentido, dentro da temática
ambiental, é apresentada a distribuição espacial de algumas doenças, procurando
exemplificar os diferentes tipos de relacionamentos estabelecidos entre meio ambiente,
doenças e saneamento.

Ao lado de temas diretamente ligados à saúde humana, como a incidência


de doenças de veiculação hídrica, compõem esse capítulo aqueles outros referentes
ao destino do lixo, à poluição na captação de água, ao destino das embalagens de
agrotóxicos e às inundações. Nesse contexto, a espacialização de alguns temas da
pesquisa, segundo a bacia hidrográfica, adquire também uma importância central na
atualidade, dada a dimensão estratégica que adquiriu o tema da gestão dos recursos
hídricos para o planejamento do uso dos recursos naturais no país.

Diretamente ligadas ao aprofundamento da cidadania no Brasil, a


institucionalização e a gestão dos serviços de saneamento evidenciam não só a difusão
no território nacional das várias esferas de competência política que administram esses
serviços, como, principalmente, a espacialização das diversas formas de manifestação dos
movimentos locais reivindicando o acesso ao saneamento e/ou à melhoria dos serviços.

Cabe observar que na contemporaneidade o direito ao saneamento se confunde,


cada vez mais, com o próprio direito ao meio ambiente e à qualidade de vida, tornando-
se um dos indicadores mais sensíveis do grau de organização da sociedade civil em
busca do acesso à cidadania e da própria diminuição das desigualdades existentes na
sociedade brasileira.

4 SANEAMENTO BÁSICO
A política pública de saneamento básico foi promulgada através da Lei n°
11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabeleceu diretrizes nacionais para esta área
em específico. Sob os efeitos desta lei, considera-se saneamento como o conjunto de
serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável,

207
esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e
manejo das águas pluviais urbanas. Alochio (2007) define cada um desses conjuntos de
serviços da seguinte maneira:

a) quanto ao abastecimento de água potável, temos todas as atividades, infraestruturas


e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, abrangendo
desde a captação até as ligações prediais e os respectivos instrumentos de medição;
b) quanto ao esgotamento sanitário, temos todas as atividades, infraestruturas
e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final
adequados dos esgotos sanitários, compreendendo desde as ligações prediais até o
seu lançamento final no meio ambiente;
c) quanto à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, temos todas as atividades,
infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo orgânico, da varrição e limpeza
de logradouros e vias públicas;
d) quanto à drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, temos todas as atividades,
infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais,
de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias,
tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas.

Assim, o saneamento básico busca fornecer qualidade de vida para o crescimento


sustentável e a promoção da saúde humana. “Dessa forma, a universalização do acesso
aos serviços de água e de esgoto é um objetivo legítimo das políticas públicas porque
tem impactos importantes sobre a saúde, o ambiente e a cidadania” (GALVÃO-JÚNIOR,
2009 apud PELLIZZETTI, 2010, p. 144).

208
FIGURA 33 – TRATAMENTO DE ESGOTO

FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfkR4AI/projeto-final-energia>. Acesso


em: 29 maio 2015.

Vamos iniciar a nossa revisão histórica pela década de 1970. Naquela época
não se dava a devida atenção aos serviços de saneamento básico e não havia um
órgão específico para execução do serviço, que era realizado por diver­sos órgãos. As
entidades que realizavam esse trabalho eram contratadas pelo município, porque a
responsabilidade da atividade cabia a ele. As políticas de saneamento eram elaboradas
pelos órgãos federais, estaduais, municipais, junto à Fundação SESP – Fundação
Serviços de Saúde Pública –, uma entidade supervisionada pelo Ministério da Saúde.
A supervisão maior sempre acontecia sobre os estados e municípios com maiores
receitas e os serviços prestados eram: abastecimento de água e coleta e tratamento de
esgoto. A contratação dessas entidades para a execução do trabalho se dava por meio
de autarquias e pelos órgãos públicos.

No ano de 1971, criou-se o Planasa (Plano Nacional de Saneamento), que tinha


por finalidade determinar fontes de financiamento e criar formas de melhorias para a
situação do saneamento no país.

209
A ação do plano se dava basicamente no abastecimento de água e esgotamento
sanitário, usando os recursos do FGTS gerados pelo BNH (Banco Nacional da
Habitação). A criação de companhias estaduais de saneamento (água e esgoto) era de
responsabilidade do BNH, controladas por empresas públicas.

O Planasa tinha como atributo defender a ideia de que o sistema de saneamento


deveria gerar recursos, por meio de tarifas, uma forma de autofinanciar e também
ressarcir os investimentos realizados. No primeiro momento o atrativo do Planasa estava
no retorno financeiro trazido por ele e não na qualidade da saúde da população.

A economia no Brasil entrou em crise nas décadas de 1980 e 1990, quando os


estados trabalham de forma seletiva a solicitação pelo serviço, que, apesar da crise,
encontrava-se em um bom momento e crescia continuamente. Naquela época, houve
um grande deslocamento de pessoas que viviam no campo e buscavam nas cidades
condições melhores de moradia. Foi então que o Planasa definiu metas de atendimento,
e 90% da meta de abastecimento de água foi alcançada. Para os serviços de esgoto
sanitário foi estipulada a meta de 60%, mas não foi atendida.

FIGURA 34 – INVESTIMENTOS DO PLANASA

FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/goassociados/poltica-nacional-de-saneam ento-fiesp7no-


vembro2011-c-rosito>. Acesso em: 29 maio 2015.

Na década de 1990, constatou-se o fracasso e foi extinto o Planasa; então,


na época do governo de Fernando Henrique Cardoso, fomentou-se campanha para a
privatização do setor. O argumento dado pela privatização era a melhoria dos serviços
e custo baixo, vantagens competitivas nas quais quem ganhava eram os cidadãos
brasileiros, uma máscara usada pelos parlamentares para justificar o investimento não
realizado para melhoria dos serviços; o governo também alegava ausência de recursos.

210
O governo importou-se com saneamento de tal modo que criou a Secretaria de
Saneamento Ambiental, responsável por formular e articular políticas de saneamento
para estados e municípios em conjunto com o governo federal.

Salientamos a importância na nova lei da Política Nacional de Saneamento,


que tem como conceito de saneamento básico os chamados saneamentos ambientais,
incluindo em sua política águas pluviais, resíduos sólidos e controle de vetores.

FIGURA 35 – SANEAMENTO AMBIENTAL

Atividades, infraestruturas e instalações necessárias


ao abastecimento público de água potável, desde
a captação até as ligações prediais e respectivos
instrumentos de medição.

Abastecimento de água

Atividades, infraestruturas e instalações


operacionais de coleta, transporte, tratamento e
disposição final adequados dos esgotos sanitários,
desde as ligações prediais até o seu lançamento
final no meio ambiente.

Esgotamento sanitário

Atividades, infraestruturas e instalações


operacionais de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destino final do lixo doméstico
e do lixo originário da varrição e limpeza de
logradouros e vias públicas.

Limpeza pública e manejo


dos resíduos sólidos

Atividades, infraestruturas e instalações


operacionais de drenagem urbana de águas
pluviais, de transporte, detenção ou retenção para
o amortecimento de vazões de cheias, tratamento
e disposição final das águas pluviais drenadas
nas áreas urbanas.

Drenagem e manejo
das águas pluviais

FONTE: Disponível em: <http://www.portalresiduossolidos.com/politica-federal-para-o-saneamen to-basi-


co/>. Acesso em: 29 maio 2015.

211
5 PRECARIZAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO
Parece estranho falarmos em doenças causadas por falta de saneamento básico
em pleno século XXI, mas infelizmente elas ainda existem e, para considerarmos esse
contexto, abordaremos neste tópico algumas doenças causadas pela não prestação
do serviço de saneamento básico. As doenças causadas na população procedentes de
ausência de saneamento decorrem de:

• Qualidade e quantidade das águas de abastecimento.


• Destinação inadequada dos esgotos sanitários.
• Destinação dos resíduos sólidos.
• Ausência de drenagem adequada para as águas pluviais.
• Falta de educação sanitária.

FIGURA 36 – SANEAMENTO BÁSICO

FONTE: Disponível em: <http://mgmeinteragindocomcienciasnaturais.blogspot.com.br/>. Acesso em: 29


maio 2015.

Toda água a ser consumida precisa ser tratada, pois a saúde do ser humano é
o seu bem maior, e o consumo e uso inadequados de água causam sérios problemas à
saúde do homem. Pode parecer estranho, porém há situações nas quais encontramos
doenças infecciosas trazidas pela água até quando a usamos para higienizar os
ambientes, bem como no preparo dos alimentos.

212
São doenças causadas por agentes microbianos e agentes químicos. Pode-se
contrair essas doenças na ingestão da água ou por algum alimento já contaminado. As
doenças relacionadas com a água são:

• Cólera.
• Febre tifoide.
• Disenteria bacilar.
• Hepatite infecciosa.

As doenças trazidas pela água não ocorrem somente por ingestão ou contato
com alimentos, elas aparecem também quando não há higienização correta. Várias
pesquisas realizadas em comunidades carentes concluíram que a quantidade de
água tem tanta importância quanto a qualidade, em destaque a importância maior à
quantidade. Foi provado que o aumento de volume de água usado pela comunidade
reduz a incidência de algumas doenças do trato intestinal; constatou-se também que
a falta de água influencia diretamente na higiene pessoal e doméstica, provocando
doenças como:

• Diarreias.
• Infecções de pele e olhos.
• Infecções causadas por piolhos.

O lixo é um assunto bastante comentado. O lixo tem como conceito ambiental


ser resíduos sólidos, e a não disposição desses resíduos atrai moscas, que são as
responsáveis pela transmissão de inúmeras doenças. O lixo acumulado traz insetos
de todo tipo, bem como ratos, sendo estes agentes transmissores de doenças, como:
peste bubônica, leptospirose e febres.

FIGURA 37 - LIXO

FONTE: Disponível em: <https://jogadacerta.files.wordpress.com/2012/10/emidio-batista.jpg>. Acesso em:


26 maio 2015.

213
O lixo também favorece o acúmulo de água, o qual pode facilitar a reprodução do
mosquito transmissor da dengue. Para evitar o aparecimento de seres tão indesejados
é preciso:

• Haver uma coleta de lixo eficiente.


• Manter as latas e acondicionamentos de lixo sempre tampados.

6 AVANÇOS NO SANEAMENTO
A Política Nacional de Saneamento Básico dá as diretrizes necessárias para
o cumprimento das atividades nos quatro eixos do saneamento. Para alguns desses
serviços também já foram criadas políticas nacionais específicas, que visam delimitar
ainda mais as práticas que deverão nortear as ações nesses âmbitos.

FIGURA 38 – GESTÃO DE SANEAMENTO BÁSICO

FONTE: Disponível em: <http://www.portalresiduossolidos.com/politica-federal-para-o-saneamento-basi-


co/>. Acesso em: 29 maio 2015.

214
Uma delas é a Política Nacional de Resíduos Sólidos, sendo esta instituída pela
Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, e que representa um marco histórico na evolução
das diretrizes do saneamento básico brasileiro. Com a nova legislação, conforme o
Capítulo II, em seu artigo 3º, inciso XVI, os resíduos sólidos são denominados como:

[...] material, substância, objeto ou bem descartado resultante de


atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede,
se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados
sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e
líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na
rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso
soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor
tecnologia disponível.

Complementando, trazemos ainda a definição que abrange o gerenciamento de


resíduos sólidos, assim disposto no inciso X do mesmo artigo:

Conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas


de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final
ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano
municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de
gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta lei.

Quanto ao plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, é


importante ressaltar que, conforme a legislação da política de resíduos, é condição para
que o Distrito Federal e os municípios possam ter acesso aos recursos da União, ou
por ela controlados, voltados “a empreendimentos e serviços relacionados à limpeza
urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos
ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade”
(MINISTÉRIO DAS CIDADES, s.d., s.p.).

Desta forma, além de ser imprescindível a formulação do plano para que se


possam delimitar as ações a serem implementadas nos municípios, a sua criação
permitirá que estes possam buscar incentivos para a realização de tais ações.

215
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Direito à moradia se configura como um dos principais problemas da sociedade atual,


visto que nem todos contam com uma moradia digna.

• A mudança do regime imperial para o republicano apresentou-se como um período


de modernização das áreas urbanas do país.

• Foi durante a década de 1970, no governo da ditadura militar, que foram criados o
Banco Nacional da Habitação (BNH) e o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo
(SERFHAU), tendo por objetivo estimular a indústria e atender às necessidades
habitacionais.

• Em 16 de junho de 2005, através da Lei nº 11.124, foi instituído o Sistema Nacional de


Habitação de Interesse Social (SNHIS), sendo criados o Fundo Nacional de Habitação
de Interesse Social (FNHIS) e o Conselho Gestor do FNHIS.

• As habitações devem apresentar estrutura mínima para acomodar todos os


moradores.

• A Política Nacional de Saneamento tem como conceito de saneamento básico os


chamados saneamentos ambientais, incluindo em sua política águas pluviais,
resíduos sólidos e controle de vetores.

• Infelizmente, ainda é comum termos doenças causadas pelo mau uso da água e
também pela pouca abrangência do saneamento básico.

• A Política Nacional de Saneamento Básico é que estabelece as diretrizes necessárias


para o cumprimento das atividades nos quatro eixos do saneamento.

• Foram criadas políticas nacionais específicas, pela Política Nacional de Saneamento


Básico, que visam delimitar ainda mais as práticas que deverão nortear as ações
nesses âmbitos.

• O controle de resíduos sólidos tem sua importância em todas as esferas do poder


público.

216
AUTOATIVIDADE
1 No ano de 2005, entrou em vigor a Lei 11.124, que veio para estruturar
as ações voltadas à habitação no Brasil. A partir disso, criou-se o
Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), com o
Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS).

Com relação aos objetivos do SNHIS, classifique V para as sentenças verdadeiras e F


para as falsas:

( ) Implementação de políticas e programas públicos de investimentos habitacionais,


visando atingir a população de baixa renda.
( ) Procura a constante viabilização do acesso à terra urbanizada e à moradia
sustentável à população carente.
( ) Intermedeia e apoia as ações de instituições e órgãos que desempenham atividades
voltadas à habitação.
( ) Incentiva políticas públicas habitacionais à população por melhores condições de vida,
deixando em segundo plano a população de baixa renda.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - V - V - F.
b) ( ) F - F - V - V.
c) ( ) V - F - F - V.
d) ( ) F - V - F - F.

2 Sobre o Conselho de Habitação, analise as sentenças a seguir:

I- Decorrente do modo de produção capitalista, as famílias de baixa renda necessitam


do auxílio dos movimentos sociais que lutam pelo direito à moradia, para reivindicar
a efetivação do direito e instalação de unidades habitacionais.
II- Os conselhos e os órgãos públicos não necessitam estar integrados para o
desenvolvimento das ações e atribuições, pois as instituições públicas devem
prestar suporte administrativo, operacional e financeiro, possibilitando um corpo
técnico-administrativo para o Conselho.
III- O Conselho de Habitação deve ser considerado como órgão colegiado administrativo,
sendo um órgão integrante da administração pública. Apesar de estar integrado ao
ministério, secretaria, departamento, não significa que o Conselho deva ter uma
subordinação hierárquica no exercício de suas atribuições.

217
IV- O Conselho de Habitação é um instrumento para efetivar o controle social no que
tange aos serviços habitacionais e ao planejamento urbano das cidades.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.

3 O Estatuto da Cidade criou uma série de instrumentos para que a


cidade pudesse buscar seu pleno desenvolvimento urbano, sendo
que seus princípios básicos estão alicerçados pelo planejamento
participativo e a função social da propriedade. Refletindo sobre o
Estatuto da Cidade, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O Estatuto, na realidade, é um código que foi criado por cada município, a fim de ser
mais um instrumento de regularização da situação habitacional nas cidades e nos
campos.
( ) O Estatuto da Cidade não surgiu ao acaso, ele foi criado em função de muita
mobilização e reivindicação social, incluindo a pressão dos movimentos sociais.
Ele compreende o resultado de diversas negociações e articulações entre o poder
público e a sociedade civil.
( ) Além de estabelecer a função social da cidade e da propriedade, o Estatuto procura
definir uma nova regulamentação para o uso do solo urbano para a melhoria da
qualidade da vida urbana.
( ) O Estatuto da Cidade, também chamado de Código Habitacional, institui princípios,
regras e normas no âmbito público e no privado, regulando o uso da propriedade
urbana e rural, ou seja, no campo e na cidade.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F - V - V - F.
b) ( ) V - V - F - V.
c) ( ) F - F - V - V.
d) ( ) F - V - F - F.

4 Entre os diversos impactos ocasionados pela ação do homem, pode-


se citar aqueles provenientes dos resíduos sólidos resultantes das
atividades industriais, domésticas, hospitalares, agrícolas, entre
outras. Com relação aos resíduos sólidos e a sua destinação, analise
as sentenças a seguir:

218
I- Atualmente, grande parte dos resíduos sólidos produzidos pelas atividades humanas
no Brasil é destinada aos aterros sanitários, não sendo mais uma preocupação
governamental.
II- O aterro controlado é considerado a melhor opção com relação ao aterro sanitário e
lixão, uma vez que a camada de resíduo é sempre coberta, evitando o contato com
vetores de doenças.
III- Um dos grandes problemas atuais relacionados ao estabelecimento e manutenção
de aterros sanitários diz respeito aos elevados custos envolvidos.
IV- Atualmente, já existem alternativas mais modernas de destinação de resíduos,
sendo, inclusive, possível gerar energia a partir desse produto.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

5 O saneamento básico em centros urbanos é um tema que vem sendo


discutido com mais detalhes. Apesar do aumento, nos últimos anos,
dos investimentos e programas, o problema ainda não foi resolvido
em níveis aceitáveis. Uma das formas nas quais podemos identificar
problemas de saneamento urbano é quando se multiplicam as doenças causadas
pelo ambiente. Sobre o exposto, analise as sentenças a seguir:

I- Doenças podem ser veiculadas pela água e pelo esgoto quando não há tratamento. 
II- A poluição atmosférica das grandes cidades afeta, principalmente, a população de
baixa renda. 
III- O mau cheiro e impactos visuais na água não apontam riscos de disseminação de
doenças. 
IV- As faixas sociais de menor renda normalmente estão mais expostas à água
contaminada e aos resíduos sólidos urbanos.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.

219
220
UNIDADE 3 TÓPICO 4 -
TRANSPORTES E SEGURANÇA

1 INTRODUÇÃO

A palavra “transporte” é originária do latim, onde trans significa “de um lado a


outro” e portare significa “carregar”. Assim, podemos dizer que transporte é o nome dado
à movimentação de pessoas ou objetos de um local a outro.

Segundo Torre (2002), os transportes foram desenvolvidos graças à evolução


do homem nas atividades de semeadura e à descoberta do fogo. Estes dois fatores
possibilitaram o fim da vida nômade e o início da vida em sociedade, onde houve uma
melhora na alimentação e a possibilidade de domesticação de animais. Assim, o homem
percebeu que os animais poderiam ter mais utilidade além de aproveitar a carne, o leite e
a pele. Desta forma, os animais começaram a ser utilizados para puxar e carregar coisas.

FIGURA 39 – ANIMAIS PARA CARREGAR COISAS

FONTE: Disponível em: <http://br.monografias.com/trabalhos3/processo-aprendizagem-aluno-paralisia-ce-


rebral/image016.jpg>. Acesso em: 29 maio 2015.

Com a vida em sociedade vieram também as atividades comerciais e a


necessidade de aprimorar a forma de se transportar. Era preciso transportar mais peso e
em uma velocidade maior, surgindo veículos providos de roda, bem como a necessidade
de vias adequadas para que estes veículos pudessem rodar.

221
FIGURA 40 – VEÍCULOS PROVIDOS DE RODA

FONTE: Disponível em: <http://br.monografias.com/trabalhos3/processo-apren dizagem-aluno-paralisia-ce-


rebral/image016.jpg>. Acesso em: 29 maio 2015.

As necessidades primárias do ser humano deram origem aos meios de


transportes que conhecemos hoje e, consequentemente, aos três elementos:
infraestrutura, veículos e operações.

FIGURA 41 – TRANSPORTES ATUAIS

FONTE: Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/upload/conteudo_legenda/3ebd751eeeb19d5f-


4d4a7201627f6d2d.jpg>. Acesso em: 27 maio 2015.

222
2 CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSPORTES
Podemos movimentar pessoas ou cargas de um local a outro por meios
terrestres (carros, ônibus, trens, dutos – no caso de cargas – etc.), aquaviários (navios,
canoas, barcos etc.) ou aéreos (aviões, helicópteros, balões etc.).

2.1 TERRESTRES
Os transportes terrestres são os mais essenciais para o ser humano, pois através
deles o homem pode se locomover tanto para locais com pouca distância, como para
grandes distâncias, bem como transportar cargas. Podemos classificar os transportes
terrestres em: rodoviários, ferroviários e dutoviários.

O transporte rodoviário é responsável pelo deslocamento de pessoas e


mercadorias, acontece em motos, carros, caminhões ou ônibus e são utilizadas ruas,
rodovias ou estradas para os deslocamentos.

FIGURA 42 - TRANSPORTE RODOVIÁRIO

FONTE: Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/files/2012/06/sao-paulo-congestiona-


mento-radial-leste-transito-ibge-20120427-size-620.jpg>. Acesso em: 9 maio 2015.

Apesar de ser o meio de transporte mais utilizado no Brasil no deslocamento


de cargas, ele apresenta o preço de frete superior ao hidroviário e ao ferroviário. Desta
forma, é mais adequado para mercadorias de alto valor ou perecíveis.

223
IMPORTANTE
Segundo o Boletim Estatístico de 2014 da Confederação Nacional do
Transporte (CNT), o meio de transporte rodoviário tem uma participação
superior a 60% no transporte de cargas no Brasil.

Matriz do Transporte de Cargas


Modal Milhões (TKU) Participação (%)
Rodoviário 485.625 61,1
Ferroviário 164.809 20,7
Aquaviário 108.000 13,6
Dutoviário 33.300 4,2
Aério 3.169 0,4
Total 794.903 100,0

FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/User/Downloads/201403%20%20Boletim


%20Estatistico%20CNT%20-%20Fevereiro.pdf>. Acesso em: 20 maio 2015.

O transporte ferroviário é uma modalidade de transporte terrestre, em que o


deslocamento é feito em trens que se movem sobre trilhos. Ele é muito vantajoso para
o transporte de cargas pesadas, sobretudo de matérias-primas. 

FIGURA 43 - TRANSPORTE FERROVIÁRIO

FONTE: Disponível em: <http://www.revistadigital.com.br/wp-content/uploads/2013 /04/train1.jpg>.


Acesso em: 9 maio 2015.

224
As mercadorias transportadas pelo modal ferroviário são de baixo valor agregado
e em grandes quantidades, como: minério, produtos agrícolas, fertilizantes, carvão,
derivados de petróleo etc.

O transporte dutoviário é o transporte realizado por meio de tubos, para


mercadorias específicas, podendo ser gasodutos (substâncias gasosas), oleodutos
(líquidas) ou minerodutos (substâncias sólidas).

FIGURA 44 - TRANSPORTE DUTOVIÁRIO

FONTE: Disponível em: <http://www.cnt.org.br/Imagens%20CNT/dutos_transpetro17072012_edited-1.


jpg>. Acesso em: 9 maio 2015.

2.2 AQUAVIÁRIOS
De acordo com Novaes (2004, p.151), “o transporte aquaviário, como sua
denominação indica, envolve todos os tipos de transportes efetuados sobre a água.
Inclui o transporte fluvial, lacustre e o transporte marítimo”.

O fluvial é um transporte aquaviário, realizado em barcos ou balsas, que se


movimentam sobre os rios.

225
FIGURA 45 - TRANSPORTE FLUVIAL

FONTE: Disponível em: <http://www.revistadigital.com.br/wp-content/uploads/2013 /04/train1.jpg>.


Acesso em: 9 maio 2015.

O transporte marítimo consiste em uma modalidade de transporte aquaviário,


em que ocorre o deslocamento intercontinental de cargas e passageiros por mares ou
oceanos.

FIGURA 46 - TRANSPORTE MARÍTIMO

FONTE: Disponível em: <http://www.elmensajerodiario.com.ar/fotografias/56302_flu.jpg>. Acesso em: 9


maio 2015.

226
O transporte lacustre é restrito a lagos navegáveis para transportar qualquer
carga, mas sua característica é ligar cidades e países vizinhos. É um meio de transporte
bastante restrito, em razão de existirem poucos lagos navegáveis, especialmente em
termos de profundidade.

2.3 AÉREO
É o meio de transporte mais rápido do planeta, sendo mais comum em aviões
e helicópteros, mas também pode ser feito em balões. É eficaz para o transporte de
passageiros, porém, em razão dos elevados custos, não é o mais adequado para o
transporte de cargas pesadas.

FIGURA 47 - TRANSPORTE AÉREO

FONTE: Disponível em: <http://sesi.webensino.com.br/sistema/webensino/aulas/308 4_168/09_677_


ENS_FUN_03_09/imagens/FIG_005.jpg>. Acesso em: 9 maio 2015.

Para cumprir sua função, os  meios de transporte se utilizam das vias aéreas,
aquáticas ou terrestres, ou seja, necessitam de infraestrutura. Assunto este que
abordaremos a seguir.

227
3 INFRAESTRUTURA
A infraestrutura de uma localidade é composta por um conjunto de programas
e ações que possam proporcionar condições de bem-estar social e de desenvolvimento
econômico. Uma dessas ações é o serviço de transporte, que, conforme estudamos, é
essencial para o deslocamento de pessoas e cargas.

Estudamos também que existem diversos meios de transportes, e a infraestrutura


necessária para a realização de um transporte varia, dependendo do público ou carga a
serem transportados.

Para o desenvolvimento da infraestrutura dos transportes, no Brasil, existe o


Ministério dos Transportes, que é o órgão da administração pública federal que gerencia
a política nacional de transportes (ferroviário, rodoviário e aquaviário), bem como
participa da coordenação dos transportes aeroviários e serviços portuários.

O Ministério dos Transportes formula, coordena e supervisiona as políticas


nacionais para o setor de transportes, realizando o planejamento estratégico e a
elaboração de diretrizes para a sua implementação e a definição das prioridades dos
programas de investimento. Conheça, a seguir, a relação de ações e programas do
Ministério dos Transportes:

Programa de Investimento em Logística – PIL

• PIL – Rodovias
• PIL – Ferrovias

Este programa tem como objetivo propiciar ao Brasil um sistema de transporte


adequado às suas dimensões e, para isso, busca um modelo de investimento que
privilegia a parceria entre o setor público e o privado.

Programa de Aceleração do Crescimento – PAC

• PAC - Rodovia
• PAC - Ferrovia
• PAC - Hidrovia

Iniciou em 2007 e teve a sua segunda fase em 2011. O Programa de Aceleração do


Crescimento (PAC) visa ao planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura
social, urbana, logística e energética do país, no intuito de promover um desenvolvimento
acelerado e sustentável.

228
Planos Estratégicos

• PNLT - Plano Nacional de Logística e Transportes


• PHE - Plano Hidroviário Estratégico
• BR Legal - Programa Nacional de Segurança e Sinalização Rodoviária
• PNCV - Programa Nacional de Controle Eletrônico de Velocidade 
• ProPass -  Projeto da Rede Nacional de Transporte Rodoviário Interestadual e
Internacional de Passageiros

Os planos estratégicos buscam conciliar os aspectos logísticos, de custos


e de sustentabilidade, visando o desenvolvimento econômico do país, através da
racionalização dos gastos públicos e da eficiência nos serviços executados.

Serviços ao Cidadão

• Passe Livre: O Passe Livre é um programa em que pessoas carentes portadoras de


deficiência podem viajar, entre os estados brasileiros, sem pagar passagem.

• Consultas Públicas: Consultas Públicas são discussões de temas relevantes sobre os


investimentos no setor de transportes abertas à sociedade.

Incentivos Fiscais

• Debêntures
• REIDI - Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura
• CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico
• FMM - Fundo da Marinha Mercante

São programas que auxiliam as empresas interessadas em investir no


desenvolvimento da infraestrutura do setor de transportes.

Política Ambiental para o Setor de Transportes

A Política Ambiental do Ministério dos Transportes tem como referência as


diretrizes ambientais nacionais e suas ações são pautadas na viabilidade ambiental dos
empreendimentos de transportes, o respeito às necessidades de preservação ambiental
e a sustentabilidade ambiental dos transportes.

ATENÇÃO
Acadêmico, conheça mais sobre cada um dos programas para o
desenvolvimento do setor de transportes em: <http://www.transportes.gov.
br/acoes-e-programas.html>.

229
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Transporte é o nome dado à movimentação de pessoas ou objetos de um local a


outro.

• Os meios de transportes são classificados em: terrestres (carros, ônibus, trens, dutos,
no caso de cargas etc.), aquaviários (navios, canoas, barcos etc.) ou aéreos (aviões,
helicópteros, balões etc.).

• O Ministério dos Transportes é o órgão da administração pública federal que gerencia


a política nacional de transportes (ferroviário, rodoviário e aquaviário), bem como
participa da coordenação dos transportes aeroviários e serviços portuários.

• Existem diversos programas federais que visam o desenvolvimento dos


transportes no país e todas as suas ações são pautadas na viabilidade ambiental
dos empreendimentos de transportes, o respeito às necessidades de preservação
ambiental e a sustentabilidade ambiental dos transportes.

230
AUTOATIVIDADE
1 (ENADE – 2014) Os desafios da mobilidade urbana associam-se à
necessidade de desenvolvimento urbano sustentável. A ONU define
esse desenvolvimento como aquele que assegura qualidade de
vida, incluídos os componentes ecológicos, culturais, políticos,
institucionais, sociais e econômicos que não comprometam a qualidade de vida
das futuras gerações.

O espaço urbano brasileiro é marcado por inúmeros problemas cotidianos e por várias
contradições. Uma das grandes questões em debate diz respeito à mobilidade urbana,
uma vez que o momento é de motorização dos deslocamentos da população, por meio
de transporte coletivo e individual.

Considere os dados do seguinte quadro.

Mobilidade urbana em cidade com mais de 500 mil habitantes


Modalidade Tipologia Porcentagem (%)
A pé 15,9
Não motorizado
Bicicleta 2,7
Ônibus municipal 22,2
Motorizado coletivo Ônibus metropolitano 4,5
Metroferroviário 25,1
Automóvel 27,5
Motorizado individual
Motocicleta 2,1

Tendo em vista o texto e o quadro de modalidade urbana apresentados, redija


um texto dissertativo, contemplando os seguintes aspectos:

a) consequências, para o desenvolvimento sustentável, do uso mais frequente do


transporte motorizado;
b) duas ações de intervenção que contribuam para a consolidação de políticas públicas
de incremento ao uso de bicicleta na cidade, assegurando-se o desenvolvimento
sustentável.

2 (ENADE – 2014) O quadro a seguir apresenta a proporção (%) de


trabalhadores por faixa de tempo gasto no deslocamento casa-
trabalho, no Brasil e em três cidades brasileiras.

231
Tempo de deslocamento Brasil Rio de Janeiro São Paulo Curitiba
Até cinco minutos 12,70 5,80 5,10 7,80
De seis minutos até meia hora 52,20 32,10 31,60 45,80
Mais de meia hora até uma hora 23,60 33,50 34,60 32,40
Mais de uma hora até duas
9,80 23,20 23,30 12,90
horas
Mais de duas horas 1,80 5,50 5,30 1,20

CENSO 2010/IBGE (adaptado).

Com base nos dados apresentados e considerando a distribuição da população


trabalhadora nas cidades e as políticas públicas direcionadas à mobilidade urbana,
avalie as afirmações a seguir.

I- A distribuição das pessoas por faixa de tempo de deslocamento casa-trabalho na


região metropolitana do Rio de Janeiro é próxima à que se verifica em São Paulo,
mas não em Curitiba e na média brasileira.
II- Nas metrópoles, em geral, a maioria dos postos de trabalho está localizada nas
áreas irregulares ou na periferia, o que aumenta o tempo gasto por esta população
no deslocamento casa-trabalho e o custo do transporte.
III- As políticas públicas referentes a transportes urbanos, por exemplo, Bilhete Único
e Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), ao serem implementadas, contribuem para a
redução do tempo gasto no deslocamento casa-trabalho e do custo do transporte.

É correto o que se afirma em:


a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.

232
UNIDADE 3 TÓPICO 5 -
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM
ÂMBITO NACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao estudo sobre políticas públicas de segurança
em âmbito nacional. Este tema levará você a refletir sobre a realidade das políticas
públicas em relação à segurança, seja em nível municipal, estadual e federal.

A segurança pública é um dos temas mais debatidos e pesquisados nos


últimos anos no Brasil. Entretanto, as discussões e a visibilidade pública do problema
ainda não tiveram impacto definitivo na produção de conhecimento acadêmico na
área. Evidentemente, muitos pesquisadores vêm se debruçando sobre o assunto e
a bibliografia nacional sobre segurança não para de ampliar-se e de se aprofundar.
Mas as políticas públicas voltadas para a segurança ainda carecem de uma reflexão
mais sistemática e a produção acadêmica necessita conversar com a produção
que emerge dentro das instituições voltadas para segurança.

A dificuldade reside, em grande medida, à tradição jurídica e policial


brasileira, que coloca a segurança como um problema afeto mais a juristas e a
profissionais.

A segurança pública continua sendo uma área de pouca penetração


para outras áreas do conhecimento, como as Ciências Sociais, a Psicologia, a
Administração, a Economia, a História e a Geografia.

O predomínio do Direito (bem como a formação policial em academias


insuladas do contexto universitário mais amplo) tornam a segurança pública
basicamente um problema de lei e ordem, cujos efeitos se traduzem numa
discussão estéril sobre mecanismos mais apropriados para aumentar o grau
de punitividade de nossas instituições, particularmente, aquelas ligadas
tradicionalmente ao direito penal e à administração da justiça criminal. A própria
composição profissional das instituições de segurança pública reflete essa
tradição. Em grande parte, delegacias de polícia, instituições correcionais, fóruns e
unidades de cumprimento de medidas socioeducativas são concebidas, geridas e
controladas por profissionais da área do direito e com formação técnica específica,
proporcionada pelas instituições. Em vários lugares do mundo, particularmente no
contexto anglo-saxão, os profissionais da área da justiça criminal têm procurado
formação complementar em universidades e encontrado espaço e abertura para
construir seu conhecimento de forma transdisciplinar.

233
Nas universidades, centros de pesquisa (que recebem recursos públicos e
privados) têm se tornado espaço importante para formação complementar e para
a realização de pesquisas acadêmicas ou aplicadas em decorrência dos problemas
e questões que interferem na qualidade do serviço das instituições.

FONTE: Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politicas>. Acesso


em: 14 maio 2015.

2 A SEGURANÇA PÚBLICA E AS CONTRIBUIÇÕES


COMUNITÁRIAS

A segurança pública, nesse contexto, tem passado por uma mudança


importante de referencial. Tem deixado de ser vista como um problema restrito
do Estado, das instituições criminais e do direito. O novo referencial tem apontado
para uma nova visão da segurança como espaço de participação comunitária
(pública, mas não apenas estatal), que afeta a outras áreas de governo (social e não
apenas criminal), sendo ligada a uma abordagem que concilia diversas disciplinas
(particularmente das Ciências Humanas) e como problema de ordem regional ou
global.

Além disso, a segurança pública tem sido vista como espaço de


experimentações sobre a questão fundamental da garantia da ordem social num
contexto de globalização que aporta problemas novos que demandam soluções
novas.

FONTE: Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politicas>. Acesso


em: 14 maio 2015.

FIGURA 48 – ORDEM SOCIAL E LIBERDADE

FONTE: Disponível em: <http://kdfrases.com/frase/108215>. Acesso em: 8 jun. 2015.

234
Por exemplo, a internacionalização do crime, a nova configuração do crime
eletrônico, a desestruturação do mercado de trabalho interno, a nova fluidez das
fronteiras e novos marcos do crime como empreendimento lucrativo são problemas
que exigem uma nova configuração da segurança pública que desafia nossa tradição
criminal, essencialmente inquisitorial. Em grande parte, a morosidade do processo,
um policial ainda fortemente cartorial, a falta de comunicação entre as instituições
da segurança, a formação pouco flexível dos profissionais, a baixa capacitação,
a incitação ao crime e à violência policial como forma de controle social, o baixo
arejamento das estruturas estatais, a dificuldade com que a informação é produzida
e circula no contexto institucional, e mesmo uma concepção militar da segurança
dificultam a assimilação das experiências internacionais e impedem a presença de
pesquisadores no cotidiano das instituições.

Espera-se, no cenário da segurança pública, nesse começo de milênio,


que os desafios sejam enfrentados e que novos espaços de participação e de
transparência na administração pública sejam solucionados. Não se trata apenas
de aprimorar os mecanismos de detecção do crime e de apreensão de criminosos,
no novo cenário das políticas de segurança, trata-se de aprimorar as estratégias
preventivas e ampliar o controle social sobre as instituições públicas. Estamos
apenas no começo dessa nova realidade. Para mudarmos o quadro limitado da
segurança, legado por uma visão estatizante e populista em que o crime é alvo de
políticas repressivas padronizadas e de baixo impacto, é preciso conceber que os
chamados crimes sem vítimas devem ser o desafio para superar o abismo entre
segurança e cidadania, entre segurança e defesa dos direitos humanos.

FONTE: Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politicas>. Acesso


em: 14 maio 2015.

3 SEGURANÇA PÚBLICA E JUSTIÇA CRIMINAL

Nas duas últimas décadas, o Brasil presenciou uma crescente preocupação


com as questões relativas à segurança pública e à justiça criminal. Uma verdadeira
obsessão securitária refletiu-se num nível jamais visto de debates públicos, de
propostas legislativas e de produção acadêmica. Esta última se debruçou sobre as
práticas de segurança e de justiça, ao menos no contexto da redemocratização do
país. Não obstante, pouco tem sido feito, no âmbito político, para que se tornasse
tangível uma efetiva reforma dessas instituições, tendo como preâmbulo pesquisas
e conhecimentos provenientes, tanto da maior participação coletiva na formulação,
implantação e acompanhamento de políticas públicas, quanto da disponibilidade
sem precedentes de pesquisadores aptos a discutir com o universo da política e
das instituições criminais as alternativas de reforma dentro de um contexto de

235
aumento do quantum de cidadania e participação democrática. Em outros termos,
como bem lembrou Paulo Sérgio Pinheiro, a redemocratização política do Brasil
não foi ainda capaz de lançar suas luzes sobre as práticas de nossas instituições
criminais – estas, ao contrário, parecem resistir à democratização, formando um
enclave autoritário no cerne do Estado democrático. Toda essa violência, inclusive
contra o Estado de Direito, não é privilégio do Brasil.

FONTE: Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politicas>. Acesso


em: 14 maio 2015.

FIGURA 49 – A VIOLÊNCIA PELO MUNDO

FONTE: Disponível em: <http://agencianota.blogspot.com.br/2013_10_01_archive.html>. Acesso em: 3 jun.


2015.

A violência letal, a superlotação dos presídios, rebeliões e mortes, os


horrores vividos pelos jovens em instituições como a Febem, o virtual abandono
das instituições manicomiais sem a contrapartida de um atendimento ambulatorial,
o desalento e a descrença nas medidas de recuperação dos presos e de cura dos
esquecidos dos manicômios judiciários, a tortura em delegacias de polícia e a
eterna lentidão e alheamento das autoridades judiciárias são faces terríveis que
apontam para uma crise de longa data em nosso sistema criminal. Neste momento,
estamos nos perguntando sobre as razões para todas estas dificuldades e vendo,

236
por toda parte, a expansão da segurança privada, a disseminação de dispositivos
eletrônicos de segurança, o aumento do sentimento de insegurança e a constituição
de verdadeiros enclaves fortificados em que a tolerância em relação às violações
das liberdades civis corre de par com a aceitação das hierarquias e das múltiplas
faces da exclusão social. As políticas de segurança pública são parte integrante do
contexto político, social, econômico, cultural em que são formuladas, apresentadas
e implantadas por meio da elaboração de planos nacionais, estaduais e municipais.

Na implementação de políticas públicas são realizados projetos e ações


através da articulação entre a sociedade civil, polícias, instituições públicas e
privadas na esfera da segurança pública.

FONTE: Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politicas>. Acesso


em: 14 maio 2015.

A proposição de políticas públicas de segurança, no Brasil, consiste


num movimento pendular, oscilando entre a reforma social e a dissuasão
individual. A ideia da reforma decorre da crença de que o crime resulta de fatores
socioeconômicos que bloqueiam o acesso a meios legítimos de se ganhar a vida.
Esta deterioração das condições de vida traduz-se no acesso restrito de alguns
setores da população a oportunidades no mercado de trabalho e de bens e serviços,
assim como na má socialização a que são submetidos nos âmbitos familiar, escolar
e na convivência com subgrupos desviantes. Consequentemente, propostas de
controle da criminalidade passam, inevitavelmente, tanto por reformas sociais de
profundidade, como por reformas individuais voltadas a reeducar e ressocializar
criminosos para o convívio em sociedade.

A par das políticas convencionais de geração de empregos e combate à


fome e à miséria, ações de cunho assistencialista visariam minimizar os efeitos
mais imediatos da carência, além de incutir, em jovens candidatos potenciais
ao crime, novos valores através da educação, da prática de esportes, do ensino
profissionalizante e do aprendizado de artes e na convivência pacífica e harmoniosa
com seus semelhantes. Quando isto já não é mais possível, que se reformem
então aqueles indivíduos que caíram no mundo do crime através do trabalho e da
reeducação nas prisões.

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-


88391999000400003>. Acesso em: 14 maio 2015.

237
FIGURA 50 - DESPERDÍCIO

FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/-wreCnfeuiig/UD85Z56293I/AAAAAAAAIqY/4hJTgqI-


6-n4/s1600/dinheiro_no_ralo.jpg>. Acesso em: 14 maio 2015.

De outro lado, é igualmente forte a crença de que a criminalidade encontra


condições ideais de florescimento quando é baixa a disciplina individual e baixo
o respeito a normas sociais. Consequentemente, políticas de segurança pública
enfatizam a necessidade de uma atuação mais decisiva do Poder Judiciário e
das instâncias de controle social. Isto significa legislações mais duras e maior
policiamento ostensivo, de forma tal que as punições dos delitos sejam rápidas,
certas e severas.

Se necessário, até mesmo a atuação das Forças Armadas é requisitada,


merecendo o aplauso da população. Não se descarta, ainda, o efeito dissuasório
que soluções finais, como a pena de morte, teriam sobre o comportamento
criminoso. O argumento é que não se trata de vingança, mas exemplo para que
homens de bem não caiam em tentação. Discursos inflamados dão suporte a
ambas as versões, cujo grau de combustão é tanto maior quanto mais aferrados a
questões de princípio ideológico.

Do ponto de vista da modificação de valores das pessoas, reconhece-se


hoje como isso é extremamente difícil mediante políticas públicas. Os educadores
de rua e profissionais que lidam com menores infratores sabem muito bem como
é árdua essa tarefa com meninos de rua. E isto porque se acena com soluções de
médios e longos prazos para garotos (às vezes nem tão garotos assim) que obtêm
satisfações imediatas de sua atividade nas ruas.

238
Além disso, sabe-se que nem todos os meninos de rua ou jovens
desempregados são candidatos naturais a uma carreira criminosa. Estudos que
acompanharam jovens de uma cidade americana ao longo de suas vidas mostram
que, se um número significativo deles teve problemas com a polícia alguma vez em
suas vidas, o número dos que reincidiram outras vezes é muito menor — menos
de 6%. O mais curioso, entretanto, é que esse pequeno número de criminosos era
responsável por mais de 50% das queixas criminais. Isto significa que apenas uma
parcela muito pequena desses jovens seguiu uma carreira criminosa (WOLFANG et
al., 1972).

No outro extremo do movimento pendular estão aqueles que acreditam que


o problema do crime é fundamentalmente uma questão de polícia e de legislação
mais repressivas. A dissuasão do comportamento criminoso, então, passaria
necessariamente por uma atuação mais intensiva do sistema de justiça criminal.

Mais recentemente, a orientação oficial do governo federal tem se calcado


na sociologia crítica (TAYLOR; YOUNG, 1980), cuja concepção de crime baseia-se
nos direitos humanos (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 1996). Isto abriu a possibilidade
de incluir, dentre as modalidades de crime, aqueles cometidos pelo Estado.
Daí a importância de se controlarem as organizações componentes do aparato
repressivo, que parece ter sido a tônica da atual política de segurança em âmbito
federal.

Um exame mais atento, entretanto, mostra que tais modelos e teorias não
são necessariamente excludentes, mas complementares. Um modelo de segurança
que se preocupe com a contenção e controle do Estado em relação ao direito dos
cidadãos não pode furtar-se à constatação de que segurança é igualmente um
direito humano, aliás, consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Por outro lado, o sistema de Justiça Criminal, em geral, e a atuação


policial, em particular, serão tanto mais eficientes no exercício de suas funções de
dissuasão quanto mais amparados pelas pessoas e comunidades nas quais atuam.
O que tem sido eficaz são programas e estratégias de segurança baseados numa
articulação multi-institucional entre Estado e sociedade (SHERMAN, 1997; SHORT,
1997; GREENWOOD et al., 1996; FELSON e CLARKE, 1997).

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-8839


1999000400003>. Acesso em: 14 maio 2015.

239
4 SEGURANÇA PÚBLICA E O PAPEL DO ESTADO

O crime é uma coisa muito séria para ser deixada apenas nas mãos de
policiais, advogados ou juízes, pois envolve dimensões que exigem a combinação
de várias instâncias sob o encargo do Estado e, sobretudo, a mobilização de forças
importantes na sociedade.

O Estado deve mobilizar organizações que atuam nas áreas da saúde,


educação, assistência social, planejamento urbano e, naturalmente, da segurança.
Muitos poderiam argumentar que o que se propõe é, na verdade, quase um modelo
do "bom governo". Um Estado que conseguisse simultaneamente responder às
demandas sociais nesses diversos setores estaria respondendo às atribuições que
lhe cabem minimamente. Isto é verdade.

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-65551998000300007&s cript=s-


ci_arttext>. Acesso em: 3 jun. 2015.

FIGURA 51 – FUNÇÕES DO ESTADO

ESTADO
1

SISTEMA BUROCRACIA
POLÍTICO ESTATAL

INTERESSES E
DEMANDAS POLÍTICAS
DA 3 E BENS
SOCIEDADE PÚBLICOS
CIVIL
5
BUROCRACIA
SEGMENTO
PÚBLICA
SOCIAL
NÃO-ESTATAL

3º SETOR

FEEDBACK

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-655519980003 00007&script=s-


ci_arttext>. Acesso em: 3 jun. 2015.

240
A diferença está em que a alocação desses recursos se daria não em
torno de prioridades governamentais (educação, saúde ou segurança), mas da
identificação de locais e grupos no interior da sociedade que mereceriam um
tratamento prioritário. Por outro lado, isto não significa que o Estado devesse
paralisar suas atividades nessas áreas em favor do atendimento de populações e
áreas assoladas pela criminalidade violenta, mas simplesmente reconhecer que o
atendimento nessas áreas é realmente prioritário.

O fenômeno da criminalidade urbana violenta não é distribuído


aleatoriamente pela área urbana, mas está localizado em alguns poucos grupos
e locais (SHERMAN, 1997). Daí não haver combate efetivo ao crime que não leve
em conta a recuperação das áreas degradadas pela violência nos grandes centros
urbanos.

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-6555199800030000 7&script=s-


ci_arttext>. Acesso em: 3 jun. 2015.

ATENÇÃO
Surgem aqui alguns questionamentos pertinentes: qual nível de governo é responsável
no trato e na prioridade pela segurança pública? O que é de responsabilidade do governo
federal quando concentra a maior fatia da arrecadação de impostos?

Além das atribuições definidas constitucionalmente, são centrais na formulação e


implementação dessas políticas, tais como as de construção e manutenção de um sistema
de indicadores sociais de criminalidade, ou o estímulo a pesquisas sobre determinados
"problemas" que preocupam o governo federal. Isto seria feito através da indução à pesquisa
sobre os problemas identificados pelo governo federal. Atenção especial deveria ser dada não
apenas ao estímulo às pesquisas, cuidando para que elas também tenham recomendações
práticas, com especial atenção aos mecanismos de avaliação de implementação das políticas
sugeridas.

Em bases estritamente cognitivas, a formulação de políticas públicas de segurança pode


perfeitamente prescindir de quaisquer abordagens culturalistas para a formulação de
programas e projetos. Não é necessário, para se controlar a criminalidade, reformar a
personalidade das pessoas.

É fato que temos hoje uma onda de violência sem controle efetivo do Estado. E todos nós
exigimos que o Estado se utilize da repressão como se fosse a melhor
solução dos conflitos. Isso ocasiona um emaranhado de normas penais
visivelmente ineficazes, fruto de uma clara predileção vingativa adotada
por nosso ordenamento proveniente desde épocas remotas. Dessa
forma, a criminalidade continuará aumentando, porque está ligada a
uma estrutura social profundamente injusta e desigual. Caso não se atue
nesse ponto, será inútil punir e continuará sendo um engano a ideia de
que se pode corrigir castigando.

241
Torna-se urgente, portanto, um aprimoramento da política de segurança pública, pois
enquanto a sociedade não se conscientizar da importância da prevenção, será muito difícil
implantar uma atuação correta em resposta à criminalidade.

Não acreditamos que a mudança de valores das pessoas deva ser objeto de políticas
governamentais. O que deve ser oferecido às pessoas são orientações acerca das
consequências de suas ações, tanto em direção ao crime como em relação ao não crime
(WILSON, 1983; CLARKE, 1997; CLARKE; CORNISH, 1985).

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-65551998000300 007&scrip-


t=sci_arttext>. Acesso em: 3 jun. 2015.

242
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Nas duas últimas décadas, o Brasil presenciou uma crescente preocupação com as
questões relativas à segurança pública e à justiça criminal.

• A violência letal, a superlotação dos presídios, rebeliões e mortes, os horrores vividos


pelos jovens em instituições como a Febem, o virtual abandono das instituições
manicomiais sem a contrapartida de um atendimento ambulatorial, o desalento
e a descrença nas medidas de recuperação dos presos e de cura dos esquecidos
dos manicômios judiciários, a tortura em delegacias de polícia e a eterna lentidão e
alheamento das autoridades judiciárias são faces terríveis que apontam para uma
crise de longa data em nosso sistema criminal.

• As políticas de segurança pública são parte integrante do contexto político, social,


econômico, cultural em que são formuladas, apresentadas e implantadas por meio
da elaboração de planos nacionais, estaduais e municipais.

243
AUTOATIVIDADE
1 A violência urbana persiste como um dos mais graves problemas
sociais no Brasil, totalizando mais de 1 milhão de vítimas fatais nos
últimos 24 anos. A taxa de mortes por agressão saltou de 22,2 no ano
de 1990 para 28,3 por 100 mil habitantes em 2013, com variações
importantes entre diferentes estados. Outro dado alarmante é que o Brasil possui
2,8% da população mundial, mas acumula 11% dos homicídios de todo o mundo.

FONTE: LIMA, R, S.; BUENO, S.; MINGARDI, G. Estado, polícias e segurança pública no Brasil. Revista DIREI-
TO GV, São Paulo, vol. 12, n. 1: 49-85, 2016.

O texto trata da questão da violência no Brasil, o qual:

a) ( ) Apresenta um panorama da melhoria da segurança pública no país, visto os


dados apresentados.
b) ( ) Indica a urgência na atenção à questão da segurança pública no país, visto os
dados apresentados.
c) ( ) Aponta o Brasil como um dos países com maiores índices de violência urbana,
sendo optativo o investimento no setor.
d) ( ) Demonstra que o país está no caminho certo, reduzindo os índices de violência,
especialmente no ambiente urbano.
e) ( ) Evidencia como o Brasil está melhorando em termos de segurança pública, pois
os índices de violência estão diminuindo.

2 Leia atentamente os textos a seguir.

O sistema prisional brasileiro convive ainda com um sistema de justiça que não é capaz
de julgar os 222.190 encarcerados em situação provisória nas prisões do país, mesmo
frente a um déficit de 203.531 vagas, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança
Pública para o ano de 2014. A realidade de oito estados é ainda mais grave à medida
em que verificamos que mais de 50% da população prisional não foi julgada: Sergipe
com 70,9%; Piauí com 63,6%; Pernambuco com 59,1%; Amazonas com 56,6%; Bahia com
54,9%; Maranhão com 54,8%, Mato Grosso com 52,8%; Roraima com 50,3%.

FONTE: LIMA, R, S.; BUENO, S.; MINGARDI, G. Estado, polícias e segurança pública no Brasil. Revista DIREI-
TO GV, São Paulo, vol. 12, n. 1: 49-85, 2016.

244
O Ministério da Justiça informa que, em junho de 2016, a população carcerária no Brasil
atingiu a marca de 726.712 pessoas presas, mais que o dobro de 2005, quando o estudo
começou a ser realizado. Esses 726 mil presos ocupam 368 mil vagas, média de dois
presos por vaga – uma evidência da superlotação.

FONTE: G1-Política. Brasil dobra número de presos em 11 anos, diz levantamento; de 726 mil detentos,
40% não foram julgados. 2017. Disponível em: <https://goo.gl/WWb6a3> Acesso em: 18 jan. 2018.

Os dados apresentados nos textos indicam que:

a) ( ) Há um aumento expressivo de presos nos últimos anos no Brasil, reflexo do


aumento da criminalidade e da agilidade da justiça julgar os acusados, reduzindo
as cadeias.
b) ( ) Há uma agilidade no sistema de justiça criminal brasileiro, o qual é capaz de julgar
e prender criminosos condenados, possibilitando aperfeiçoar o uso das cadeias.
c) ( ) Há um surto de criminalização no Brasil, onde a justiça apresenta agilidade ao
processar e julgar a população acusada de cometer crimes, esvaziando as cadeias.
d) ( ) Há uma evidente incapacidade do sistema de justiça criminal brasileiro de
processar e julgar a população carcerária, a qual aumenta desproporcionalmente
ao número de vagas.
e) ( ) Há evidências de como a justiça brasileira é séria e célere, pois consegue julgar
os acusados de crimes em tempo hábil, proporcional às vagas carcerárias.

245
246
UNIDADE 3 TÓPICO 6 -
VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
O ser humano, desde os seus primórdios na Terra, enfrentou desafios das mais
diferentes formas, diferentes momentos, diferentes situações. E tanto o ser humano
quanto os desafios foram modificando o meio, o espaço ocupado por este ser e
tantos outros seres. Assim, podemos nos perguntar: Quais os novos paradigmas que
se apresentam para o ser humano? Como acontecerá o desenvolvimento humano
respeitando a natureza em meio a tantos desafios e o que pode facilitar esse processo
de desenvolvimento, tanto para o ser humano como para tudo o que o circunda, de
modo especial a natureza, seja ela presente no meio urbano ou no meio rural? Como
avançar no desenvolvimento sem prejudicar ainda mais o próprio ser humano e o seu
meio? O primeiro passo é conhecendo onde ele vive. É o que queremos fazer nesse
pequeno estudo. Vamos lá!

2 VIDA URBANA
Urbano tem origem no latim urbanus, que significa “pertencente à cidade”.
Segundo o Dicionário Web (2009-2017, s.p.), “urbano é tudo aquilo que está relacionado
com a vida na cidade e com os indivíduos que nela habitam, por oposição a rural, que é
relativo ao campo e ao interior”.

Repare que o rural e o urbano mexem com a vida, com o modo de vida das
pessoas, da qualidade de vida. Vemos então que o urbano se formou a partir do rural, e
criou tal separação, dicotomia e função. O antagonismo de um mesmo espaço só pode
ser percebido no entendimento do que é, e qual a relação deste com o homem e com
outros espaços.

Segundo o IBGE (2013), a cidade é a parte de um lugar localizada na malha urbana,


dentro do perímetro urbano. O senso comum aponta a vida urbana como uma vida por
vezes estressante, conturbada, rápida, desordenada, barulhenta, em detrimento da vida
rural, pacata, silenciosa, aprazível. Para melhor caracterizar a vida urbana, recorremos
ao IBGE, que classifica as cidades pelo número de edificações/habitantes:

• Cidade pequena, de até 50.000 habitantes.


• Cidade média-pequena, de 50.000 a 100.000 habitantes.
• Cidade média, de 100.000 a 300.000 habitantes.
• Cidade média-grande, de 300.000 a 500.000 habitantes.
• Cidade grande, com mais de 500.000 habitantes.
247
FIGURA 52 – IMOBILIDADE URBANA?

FONTE: Disponível em: <http://www.ongcidade.org/site.php?/noticia/id/1657>. Acesso em: 14 maio 2015.

Há termos empregados não necessariamente à parte urbana de um município,


mas sim à malha urbana ou economia:

• Cidade global: grandes centros econômicos. São divididos em alfa, beta e gama.
• Metrópole: principal cidade dentre várias que ocupam o mesmo perímetro.
• Megacidade: cidade ou região com mais de 10.000.000 de habitantes.
• Megalópole: conjunto de várias metrópoles e cidades grandes.

Como vimos, a cidade é uma realidade bastante difícil de definir. Por estranho
que possa parecer, não há nenhuma definição universal de cidade. Cada país adapta os
seus critérios de definição.

A definição de zona urbana varia de um país para outro. De uma forma


geral, é considerada urbana qualquer zona que apresentar uma população igual ou
superior a 2000 habitantes. A atualização dos modelos de crescimento urbano tem
feito com que a densidade da população, a extensão geográfica e o desenvolvimento
de infraestruturas se combinem para serem pilares na delimitação deste tipo de
zonas.

Embora seja difícil generalizar, as zonas urbanas costumam apresentar um


maior preço em termos de superfície (o custo de vida é mais caro, nomeadamente os
próprios terrenos e aluguéis) e uma menor presença de emprego no setor primário
comparando com as zonas rurais. Por outro lado, as zonas urbanas oferecem uma
maior gama de recursos para a sobrevivência das pessoas.

248
As zonas urbanas, como as cidades, caracterizam-se pelo desenvolvimento
do seu setor secundário (industrial) e terciário (serviços). Se, por um lado, os
produtos e os serviços da cidade têm influência no comportamento do campo,
já este, por sua vez, abastece as regiões urbanas com mercadorias agrícolas e
pecuárias.

Em geral, o espaço urbano excede os próprios limites da cidade, já que se


formam grandes áreas metropolitanas periféricas agrupadas em seu redor. Convém
destacar que a taxa de urbanização é o índice demográfico que expressa a relação
percentual entre a população urbana (os habitantes das cidades) e a população
total de um país. Quanto maior o valor, maior é o nível de desenvolvimento.

Desde a Revolução Industrial, a população urbana tem vivido a experiência


de um crescimento constante. De acordo com o Fundo de População das Nações
Unidas (FPNUA), em 2008, a população mundial foi de 50% na zona rural e de 50%
na urbana, ano a partir do qual se registrou uma ocupação cada vez maior das
cidades.

FONTE: Disponível em: <http://conceito.de/zona-urbana>. Acesso em: 2 jun. 2015.

O olhar sobre o urbano em nosso país chega à ONU (Organização das Nações
Unidas), que aponta que até 2050 o Brasil terá aproximadamente 93% de sua população
vivendo nos centros urbanos. Já a população no meio rural terá um decréscimo, com
moradores neste meio de aproximadamente 16 milhões de habitantes.

3 VIDA RURAL
Caro acadêmico! Todos nós sabemos que há pessoas que moram na cidade,
outras no campo, ou no meio rural. É preciso desmistificar aquela imagem que temos
do meio rural bucólico, como descrito em filmes ou em poesia. O agronegócio não nos
deixa mentir, o meio rural alcançou grau de desenvolvimento ímpar nos últimos anos.

249
FIGURA 53 – VIDA TRANQUILA NO CAMPO

FONTE: Disponível em: <http://www.vende4.com/wp-content/uploads/2011/04/vida-no-campo.jpg>.


Acesso em: 14 maio 2015.

Visto isso, de forma conceitual podemos assim descrever:

• A população que vive no campo ou na zona rural recebe o nome de população rural
(do latim rural, is).
• Já aquela que vive em meio aos grandes centros urbanos é denominada população
urbana (do latim urbe, que significa cidade).

Para definir o termo “rural”, devemos recorrer à sua origem, vinda do latim “rural,
is”. Segundo o Dicionário Web (2009-2017, s.p.), “é um adjetivo que corresponde ao que
pertence ou relativo ao campo” (um terreno extenso que se encontra fora das regiões
mais povoadas e são terras de cultivo). É exatamente o oposto do que conhecemos
como zona urbana, de cidades.

Graziano da Silva (1999) nos dá o conceito de meio rural como um conjunto


de regiões ou zonas (território) cuja população desenvolve diversas atividades ou se
desempenha em distintos setores, como a agricultura, o artesanato, as indústrias
pequenas, o comércio, os serviços, o gado, a pesca, a mineração, a extração de recursos
naturais e o turismo, entre outros. Segundo esse mesmo autor, em tais regiões ou zonas
há assentamentos que se relacionam entre si e com o exterior, e nas quais interagem
uma série de instituições públicas e privadas.

250
O rural transcende o agropecuário, e mantém elos fortes de
intercâmbio com o urbano. Na provisão não só de alimentos, mas
também de grandes bens e serviços, entre os quais vale a pena
destacar a oferta e cuidado de recursos naturais, os espaços para
o descanso, e as contribuições à manutenção e desenvolvimento
da cultura. Disponível em: <http://artigos.netsaber.com.br/resumo_
artigo_7430/artigo_sobre_novos_conceitos_de_urbano_e_rural
>. Acesso em: 27 ago. 2013.

Para Balsadi (2001), o meio rural é então uma entidade socioeconômica em um


espaço geográfico com quatro componentes básicos:

• Um território que funciona como fonte de recursos naturais e matérias-primas,


receptor de resíduos e suporte de atividades econômicas.
• Uma população que, com base em certo modelo cultural, pratica atividades
muito diversas de produção, consumo e relação social, formando um ripado
socioeconômico complexo.
• Um conjunto de assentamentos que se relacionam entre si e com o exterior
mediante o intercâmbio de pessoas, mercadorias e informação, através de canais
de relação.
• Um conjunto de instituições públicas e privadas que articulam o funcionamento
do sistema, operando dentro de um marco jurídico determinado.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008) define zona rural


como o contrário da zona urbana. São regiões não urbanizadas ou destinadas à limitação
do crescimento urbano, utilizadas em atividades agropecuárias, agroindustriais,
extrativismo, silvicultura e conservação ambiental. Atualmente, muitas das áreas rurais
estão protegidas como área de conservação, terras indígenas, turismo rural. Zona rural
(campo) é o oposto de zona urbana (região destinada a habitação, trabalho e outras
funções básicas da população), ou seja, quando comparada à zona urbana, a zona rural
é, muitas vezes, caracterizada como carente e precária. No entanto, no meio rural está
presente o conceito de ruralidade, contato com a natureza e animais, ar puro, sossego,
vida tranquila e mais saudável.

Muitas pessoas buscam sair da rotina estressante da zona urbana e encontram


na zona rural uma forma de descanso. Entre as atividades realizadas no campo estão:
trilhas ecológicas, cavalgadas, banhos em cachoeiras etc.

A zona rural também tem as importantes funções de preservar a biodiversidade


de um determinado local, garantir a qualidade da água e manter as terras indígenas.
Nesse sentido, as unidades de conservação foram criadas com o intuito de preservar o
patrimônio ambiental e cultural do país.

251
4 SEMELHANÇAS OU DIFERENÇAS
Quando for decidir onde morar e qual estilo de vida é apropriado para você,
existem diversos fatores que devem ser considerados, como empregabilidade, interação
social e saúde. Os estilos de vida rural e urbano variam de muitas formas e os indivíduos
podem fazer uma escolha entre os dois baseados naquilo que conhecem de si mesmos
e na qualidade de vida que apreciam.

A cidade e o campo proporcionam às pessoas diferentes oportunidades que nos


permitem distinguir o modo de vida rural do modo urbano. Enquanto no campo, de uma
forma geral:

• persistem muitas ocupações, com horários diferentes de trabalho mais ou menos


flexíveis;
• há pouca oferta de ocupação de tempos livres;
• valorizam-se as tradições: trajes, pratos típicos, festas populares;
• todas as pessoas se conhecem e se ajudam, em caso de necessidade;
• o ambiente é sossegado e há pouca poluição sonora e visual;
• as deslocações das pessoas são curtas, o ritmo de vida é calmo.

Já na cidade, geralmente temos algumas das realidades descritas a seguir, que


você, acadêmico, poderá confirmar ou não:

• a esmagadora maioria das pessoas cumpre horários muito rígidos, a oferta de


atividades de ocupação de tempo livre é muito diversificada;
• não há um conjunto de valores comuns, mas uma grande diversidade de hábitos.
Aceita-se a diversidade e valoriza-se o que é moderno;
• cada um sente os seus problemas. As relações entre as pessoas são pouco familiares;
• as ruas estão repletas de painéis publicitários e a intensa circulação de automóveis
deteriora a qualidade do ar;
• o ritmo de vida é agitado.

O gráfico a seguir nos dá uma visão da evolução da população rural e urbana no


Brasil.

252
GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO ENTRE 1940 E 2006

Brasil - Evolução da população rural-urbana entre


1940 e 2006
[sic] comunicação

100 Brasil - Evolução da população rural-urbana entre 1940 e 2006


81% 83,3%
76% Urbana
80
69%
64% 67% Rural
60 55% 56%
45% 44%
40 31%
36% 33%
24% 19% 16,7%
20

0
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2006
FONTE: IBGE. Anuário estatístico do Brasil, 1986, 1990, 1993 e 1997; Censo demográfico, 2000;
Síntese de indicadores sociais, 2007.

FONTE: IBGE. Anuário estatístico do Brasil, 1986, 1990, 1993 e 1997; Censo demográfico, 2000; Síntese
de indicadores sociais, 2007.

Ao falar de rural e de urbano é necessário que se tenha claro o que podemos


deferir por rural ou campo e por urbano ou cidade. A vigente definição de cidade é fruto
do Estado Novo e “foi o Decreto-Lei nº 311, de 1938, que transformou em cidade todas
as sedes municipais existentes, independentemente de suas características estruturais
e funcionais” (VEIGA, 2003, p. 1).

Segundo Veiga (2003, p. 2), a partir disso, da noite para o dia, “ínfimos povoados”
ou “simples vilarejos” se tornaram cidades.

Para as futuras cidades seria exigida a existência de pelo menos 200


casas e para as futuras vilas (sede de distritos) um mínimo de 30
moradias. Mas todas as localidades que àquela data eram cabeça de
município passaram a ser consideradas urbanas, mesmo que suas
dimensões fossem muito inferiores ao requisito mínimo fixado para
as novas.

No Brasil, mesmo com diversas modificações posteriores, essa discrepância de


divisão territorial brasileira permanece. Só no ano de 1991 houve mudanças significativas,
em que o IBGE passou a distinguir três tipos de categorias definidas como urbanas e
quatro tipos de aglomerados rurais.

Urbanas: áreas urbanizadas e não urbanizadas de acordo com a


intensidade de ocupação humana e áreas urbanas isoladas, definidas
pelas leis municipais, estando separadas por sede municipal, distrital,
área rural ou outros limites legais.

253
Rurais: aglomerados rurais do tipo extensão urbana, situados fora
do perímetro urbano, nem que seja uma extensão de uma cidade
com vila; povoado, aglomerado rural isolado sem caráter privado ou
empresarial que disponha do mínimo de serviços e equipamentos
e que os moradores exerçam atividades econômicas; núcleo
aglomerado rural isolado que pertença a um único proprietário e
outros aglomerados, os quais não representam as características de
nenhum dos outros três (VEIGA, 2003, p. 3, grifos do original).

FIGURA 54 – CIDADE E CAMPO SE TRANSFORMARÃO

FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-bdKDXxZfKbg/UIwsa3_9m9I/A AAAAAAAEYc/86bF-


n35HAno/s1600/rural_urbano.jpg>. Acesso em: 14 maio 2015.

Desse modo, em suas análises, Graziano da Silva (1999, p. 1, grifo do original)


tem enfatizado que:

A diferença entre o rural e o urbano é cada vez menos importante.


Pode-se dizer que o rural hoje só pode ser entendido como um
‘continuum’ do urbano do ponto de vista espacial; do ponto de vista
da organização da atividade econômica, as cidades não podem
mais ser identificadas apenas com a atividade industrial, nem os
campos com a agricultura e a pecuária; e, do ponto de vista social, a
organização do trabalho na cidade se parece cada vez mais com a do
campo e vice-versa.

Nas últimas décadas, tem-se destacado uma nova percepção do campo,


relativa a um modo de vida “alternativo” e ambientalmente sustentável, correspondente
a um resgate da natureza pelos hábitos da cidade que se dirige ao campo.

Com a inserção das novas atividades no campo, sobretudo as não agrícolas,


que vêm crescendo também no Brasil, diminui a supremacia das atividades agrícolas no
meio rural. Essas mudanças advêm do contínuo declínio da capacidade da agricultura
de manter e gerar postos de trabalho, além do crescimento de atividades geradoras de
ocupações rurais não agrícolas.

254
Essas atividades não agrícolas fazem com que o rural assuma novas funções.
Entre as “novas funções” do campo que ganham cada vez mais destaque estão as
atividades de lazer, como o turismo em área rural, segundas residências e aposentadorias
rurais.

Dessa forma, crescem cada vez mais atividades de lazer, que buscam um
resgate às tradições culturais de determinadas áreas e valorizam os costumes da vida
rural.

5 ECOLOGIA
Ecologia ou eco-logia, do grego oikos = “casa” e logos = “estudo”; literalmente
significa o estudo da casa. Que casa? Nossa única casa, o planeta Terra (ODUM; BARRET,
2008).

Nossa casa, a Terra, é formada por vários ecossistemas complexos que apenas
existem porque estão interligados e inter-relacionados, ou seja, não podem viver
isoladamente. Quais são esses ecossistemas?

Fazem parte dos ecossistemas os fatores bióticos e abióticos. Os fatores


bióticos são os que possuem vida, tais como: vegetais, animais, fungos, protozoários,
algas e bactérias que interagem e se sustentam mutuamente. Os fatores abióticos são:
água, solo, ar, rochas. A interdependência entre estes fatores forma os ecossistemas
terrestres e aquáticos que sustentam a vida em nosso planeta, do qual a vida humana
faz parte, pois a urbanização e o avanço tecnológico de nossa sociedade afastaram o
ser humano da natureza, criando a falsa ideia de que a humanidade pode viver sem a
natureza.

Os estudos geológicos indicam que o planeta Terra tem idade aproximada de


4,5 bilhões de anos. O surgimento da vida ocorreu 1 bilhão de anos depois, ou seja, há
3,5 bilhões de anos. A espécie humana iniciou sua evolução entre 2 e 3 milhões de anos
(ODUM; BARRET, 2008).

Entretanto, a humanidade viveu todo este tempo em harmonia com todos os


animais e ecossistemas, domesticando alguns, matando outros para sobrevivência;
mas jamais exterminando espécies inteiras como tem ocorrido nas últimas décadas.

A humanidade multiplicou-se de forma desordenada, sem medir os impactos


sobre os ecossistemas naturais. Somos hoje mais de 7 bilhões de pessoas que
necessitam se alimentar, morar, vestir; e, para manter essas necessidades básicas,
além do luxo e desperdício de alguns, precisamos trabalhar para produzir, utilizando as
matérias-primas extraídas dos ecossistemas, levando à extinção de espécies inteiras
de animais e vegetais.

255
Quais as consequências de tamanha devastação e impactos sobre os
ecossistemas? Já estamos presenciando inúmeras consequências, como o aumento
de enxurradas, tufões, tornados ou secas prolongadas em regiões de clima úmido.

6 ECOSSISTEMA
Segundo Odum e Barret (2008, p. 19), “um sistema ecológico ou ecossistema
é qualquer unidade que inclui todos os organismos (a comunidade biótica) em uma
dada área, interagindo com o ambiente físico de modo que um fluxo de energia leve a
estruturas bióticas claramente definidas e à ciclagem de materiais entre componentes
vivos e não vivos”. O termo sistema é entendido como componentes regularmente
interativos e interdependentes formando um todo unificado.

Sistemas formados pela interação entre os organismos vivos ou bióticos e seu


ambiente abiótico, tais como: solo, água, sol, neve, vento e gelo formam um biossistema,
que abrange desde sistemas genéticos até sistemas ecológicos.

Os sistemas ecológicos se organizam em hierarquias, denominados de


níveis ecológicos: Célula; Tecido; Órgão; Sistemas de órgãos; Organismo; População;
Comunidade; Ecossistema; Paisagem; Bioma; Ecosfera (ODUM; BARRET, 2008).

FIGURA 55 - HIERARQUIA DOS NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO ECOLÓGICA

FONTE: Odum e Barret (2008, p. 5)

256
6.1 ORGANIZAÇÃO DOS SERES VIVOS
Espécie: é o conjunto de indivíduos semelhantes estruturalmente,
funcionalmente e bioquimicamente que se reproduzem naturalmente, originando
descendentes férteis. Apresenta uma propagação genética própria em resposta
às pressões do ambiente ao longo da evolução. Exemplo: todos os seres humanos
pertencem a uma mesma espécie.

Organismo: é a unidade (indivíduo) fundamental da ecologia. É qualquer corpo


vivo (unicelular ou pluricelular), ou seja, é um ser vivo, por exemplo, um peixe, um cavalo,
um boi, um cogumelo, ou mesmo uma célula.

População: é o conjunto de indivíduos da mesma espécie que vivem em uma


mesma área em um determinado período, e abrange a taxa de natalidade, a taxa de
mortalidade, a proporção de sexos, a distribuição de idades, a emigração e imigração.
Podemos citar, como exemplo, a população de tainhas dos mares do sul, ou boto-cor-
de-rosa dos rios da Amazônia ou, ainda, as várias espécies de mamíferos e aves que
vivem nas florestas. Além da própria população humana de um determinado país ou
região.

Comunidade: é o conjunto de populações de várias espécies que sofrem


interferência umas das outras, e que habitam um determinado espaço (região) em um
determinado tempo (período).

Ecossistema ou sistema ecológico: “Um sistema ecológico ou ecossistema


é qualquer unidade que inclui todos os organismos (comunidade biótica), em uma dada
área, interagindo com o meio físico de modo que um fluxo de energia leve a estruturas
bióticas claramente definidas e à ciclagem de materiais entre componentes vivos e não
vivos” (ODUM; BARRET, 2008, p. 19).

Hábitat: é o lugar preciso onde uma espécie vive, isto é, sua morada dentro
do ecossistema que determina o comportamento de sobrevivência e reprodutivo da
comunidade (local de abrigo, alimentação e reprodução).

Biótopo: é a área física na qual determinada comunidade vive. Exemplo: o


hábitat do tucunaré, peixe da Amazônia, ou da traíra.

Nicho ecológico: o nicho ecológico pode ser definido como o total de


necessidades e condições necessárias à sobrevivência de um organismo. É um espaço
n-dimensional, no sentido de que há uma infinidade de propriedades envolvidas (ODUM;
BARRET, 2008).

257
Ecótono: é a região de transição entre duas ou mais comunidades/
ecossistemas. Nesta área de transição (ecótono) encontramos grande número de
espécies e, consequentemente, grande número de nichos ecológicos. Como exemplo
disso podemos citar a mata dos cocais, vegetação de transição entre a floresta
amazônica e a caatinga.

Biosfera: é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra, ou seja, de todas


as formas de vida, que inclui a litosfera, a hidrosfera e a atmosfera. Nesta faixa se
encontram os gases oxigênio e nitrogênio, importantes para a vida (ODUM; BARRET,
2008).

Atualmente, além de biólogos e ecólogos, cientistas físicos e sociais estão


considerando a ideia de que sociedades naturais e humanas funcionam da mesma
maneira que sistemas. Por que é importante estudar e compreender as sociedades
naturais e humanas na forma de sistemas? Qual a importância deste estudo/tema para
compreender a ecologia? O que nossas vidas têm a ver com a ideia de sistemas ou
ecossistemas? O que este tema tem a ver com os exames do ENADE?

O que fez a humanidade, e sobretudo a ciência, ignorar a interdependência da


teia da vida? Como não perceber que o rompimento da teia, com a morte em massa de
algumas espécies, comprometeria a sobrevivência de toda a teia?

A resposta está na forma como aprendemos a fazer ciência. O conhecimento


humano fragmentou-se, tornando-se especializado, formando profissionais que sabem
muito sobre sua formação e trabalho, perdendo a noção do todo.

Para compreender a Ecologia e os ecossistemas é fundamentalmente


necessário ter uma noção mínima da interdependência entre as florestas com o clima e
sua influência no ciclo das chuvas, a diversidade da vida, a manutenção das nascentes.
Vamos recordar o conceito de sistemas: “componentes regularmente interativos e
interdependentes formando um todo unificado” (ODUM; BARRET, 2008).

O que define uma região como floresta equatorial, mata atlântica, deserto,
pântano, geleira, mar, rio etc., é uma conjuntura de fatores que envolve a latitude, altitude,
climas, solo, regime hídrico. Nenhum destes sistemas é fechado, todos interagem e são
interdependentes. Não é possível destruir um sem afetar toda a ecosfera, ou o planeta
como um todo.

A ecologia tem a função de ensinar, por exemplo, que a retirada de recursos


naturais do planeta para suprir as necessidades de sobrevivência de mais de 7 bilhões
de habitantes está ultrapassando a capacidade da natureza de repor o que é tirado.
Florestas estão desaparecendo, rios secando, chuvas cada vez mais escassas, secas
prolongadas.

258
Um ecossistema se alimenta de entradas e saídas, ou seja, uma floresta recebe
a luz solar das chuvas e os nutrientes da Terra; em contrapartida, esta sustenta a vida
de milhares ou milhões de espécies vivas, plantas, animais, incluindo a humana, fornece
oxigênio, ajuda a regular o regime de chuvas etc.

As secas do Sudeste, afirmam especialistas, são uma consequência do


desmatamento da Amazônia e do próprio desaparecimento da Mata Atlântica que cobria
a região Sudeste originalmente. Sem florestas não há água e sem água não há vida. Isto
é um ecossistema, um todo interdependente que necessita ser compreendido em sua
totalidade.

Para exercitar sua compreensão sobre a capacidade do nosso planeta de


sustentar a vida, leia com atenção uma questão sobre ecologia que caiu numa das
provas do ENADE. O assunto é pegada ecológica. Você sabe do que se trata? Pegada
ecológica é um conceito criado para definir a necessidade que cada indivíduo ou a
população de uma região, país ou a humanidade inteira tem de terra, água e outros
recursos naturais para sustentar a geração atual.

AUTOATIVIDADE
Analise a questão e responda: (SINAES/ENADE – 2014) Pegada ecológica
é um indicador que estima a demanda ou a exigência humana sobre o
meio ambiente, considerando-se o nível de atividade para atender ao
padrão de consumo atual (com a tecnologia atual). É, de certa forma,
uma maneira de medir o fluxo de ativos ambientais de que necessitamos para
sustentar nosso padrão de consumo. Esse indicador é medido em hectare global,
medida de área equivalente a 10.000 m². Na medida hectare global são consideradas
apenas as áreas produtivas do planeta. A biocapacidade do planeta, indicador que
reflete a regeneração (natural) no ambiente, é medida também em hectare global.

Uma razão entre pegada ecológica e biocapacidade do planeta, igual a 1 (um), indica
que a exigência humana sobre os recursos do meio ambiente é reposta em sua
totalidade pelo planeta, devido à capacidade natural de regeneração. Se for menor
que 1 (um), indica que o planeta se recupera mais rapidamente.
O aumento da razão entre pegada ecológica e biocapacidade representado no
gráfico evidencia:

259
Disponível em: <http://financasfaceis.wordpress.com>. Acesso em: 10 ago. 2014.

a) ( ) Redução das áreas de plantio do planeta para valores inferiores a 10.000 m²


devido ao padrão atual de consumo de produtos agrícolas.
b) ( ) Aumento gradual da capacidade natural de regeneração do planeta em relação
às exigências humanas.
c) ( ) Reposição dos recursos naturais pelo planeta em sua totalidade frente às
exigências humanas.
d) ( ) Incapacidade de regeneração natural do planeta ao longo do período de 1961 a
2008.
e) ( ) Tendência a desequilíbrio gradual e contínuo da sustentabilidade do planeta.

Analisando o gráfico da questão, constata-se que desde 1975 a pegada


ecológica do planeta entrou no vermelho, ou seja, a Terra está perdendo gradativamente
sua capacidade de repor o que está sendo tirado. Quais serão as consequências desse
desequilíbrio para as gerações futuras? Podemos criar várias teorias, mas a realidade só
o futuro dirá.

6.2 EXEMPLOS DE ECOSSISTEMAS


Um lago, rio, pântano, floresta, bacia hidrográfica, ou mesmo um cultivo
abandonado constituem um ecossistema.

A questão é como estudar tais ecossistemas e compreender a ecologia. Para


Odum e Barret (2008, p. 26), “um modo de estudar ecologia é observar uma pequena
lagoa e um cultivo abandonado onde as características básicas dos ecossistemas podem
ser examinadas de maneira adequada – e a natureza dos ecossistemas aquáticos e
terrestres pode ser contrastada”.

260
Para Odum e Barret (2008), bastaria uma amostra de água de um lago,
um punhado de lodo do fundo ou solo de um prado para constituir uma mistura de
organismos vivos, tanto de micro-organismos como de macro-organismos, além de
inúmeros elementos inorgânicos.

6.3 DIVERSIDADE DO ECOSSISTEMA


A diversidade do ecossistema pode ocorrer por vários fatores. Entre os mais
importantes estão: diversidade genética; diversidade das espécies; diversidade de
hábitat e diversidade dos processos funcionais que mantêm os sistemas complexos
(ODUM; BARRET, 2008).

7 OS GRANDES BIOMAS
Uma floresta, como a amazônica, por exemplo, possui grandes comunidades de
plantas e animais influenciados pela latitude, o regime hídrico, solo e altitude, formando
assim um bioma (ODUM; BARRET, 2008).

7.1 FATORES QUE DETERMINAM OS BIOMAS


O clima, influenciado pela latitude e altitude, é o fator mais importante para
determinar um bioma. Além disso, fatores como regime hídrico e solo são outros
elementos que influenciam ou determinam a formação do bioma em determinada
região geográfica.

Os biomas se desenvolvem em ambientes como: planícies, planaltos, campos,


praias, montanhas e desertos. Estes podem ser florestas, campos, campina, pântanos,
mangues etc.

As florestas podem ser equatoriais, tropicais e temperadas.

Entre as florestas equatoriais úmidas podemos citar, como exemplo, a floresta


amazônica, floresta do Congo e floresta equatorial da Indonésia. Estas são matas
exuberantes, ricas em biodiversidade e normalmente muito fechadas, em algumas
regiões quase impenetráveis.

As temperadas têm como exemplo a Mata de Araucária no sul do Brasil, já as


florestas de Coníferas são comuns nas zonas temperadas do hemisfério norte. Este
tipo de vegetação possui menor biodiversidade, pois, em geral, poucos tipos de árvores
conseguem crescer em ambientes frios, o que influencia diretamente a fauna.

261
O Cerrado brasileiro, a Savana africana e a Mata Atlântica são exemplos de
biomas de clima tropical. O Cerrado e a Savana são formados por vegetação arbustiva,
intercalada com campos e gramíneas. Já a Mata Atlântica é vegetação de clima tropical
úmido, comum no litoral brasileiro.

No clima árido e semiárido aparece vegetação como a caatinga, no Nordeste


brasileiro, e vegetação de desertos, como o de Gobi, Saara e do Arizona etc. Os biomas
lacustres aparecem em ambientes de transição entre o mar e o continente, tais como
mangues, restingas etc.

Nas regiões glaciares, nas proximidades do círculo polar, aparece a vegetação


de tundra.

FIGURA 56 – MAPA DOS PRINCIPAIS BIOMAS TERRESTRES

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=mapa+dos+principais+biomas&>. Acesso


em: 1º jun. 2015.

Como afirmamos, o clima é o fator determinante na formação de um bioma,


determinando o aparecimento de florestas fechadas, gramíneas, vegetação arbustiva
etc. O clima determina a flora, que por sua vez atrai animais adaptados àquele ambiente.

Sobre esses biomas a civilização se estabeleceu e criou raízes, extraindo os


recursos naturais necessários à sobrevivência. Cidades, rodovias, portos e aeroportos
foram construídos, muitos dos biomas foram totalmente destruídos ou existem apenas
fragmentos, como a Mata Atlântica brasileira, da qual hoje restam apenas 7% das áreas
originalmente ocupadas por este bioma.

262
DICAS
Para mais detalhes sobre os biomas e a biodiversidade no Brasil, acesse:

http://www.sibbr.gov.br/areas/?area=biodiversidade

Neste site você encontra Mapas com dados sobre o número de espécies
estimadas e a descrição de cada um dos seis biomas continentais brasileiros:
Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal.

A devastação sobre os biomas e recursos naturais é tão intensa que a ONU


criou o conceito de desenvolvimento sustentável, ou seja, atender às necessidades da
geração presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras.

263
RESUMO DO TÓPICO 6
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Em geral, o espaço urbano excede os próprios limites da cidade, já que se formam


grandes áreas metropolitanas periféricas agrupadas em seu redor.

• A cidade e o campo proporcionam às pessoas diferentes oportunidades que nos


permitem distinguir o modo de vida rural do modo de vida urbano.

• A cidade é uma realidade bastante difícil de definir. Por estranho que possa parecer,
não há nenhuma definição universal de cidade. Cada país adapta os seus critérios de
definição.

• As semelhanças e diferenças entre a vida rural e a urbana aproximam um fator do


outro quando há uma complementaridade das características que os definem.

• Segundo Odum e Barret (2008, p. 19), “um sistema ecológico ou ecossistema é


qualquer unidade que inclui todos os organismos (a comunidade biótica) em uma
dada área interagindo com o ambiente físico, de modo que um fluxo de energia leve a
estruturas bióticas claramente definidas e à ciclagem de materiais entre componentes
vivos e não vivos”.

• Os sistemas ecológicos se organizam em hierarquias. Dentro dos sistemas os seres


vivos se organizam em diferentes níveis ecológicos: Célula; Tecido; Órgão; Sistemas
de órgãos; Organismo; População; Comunidade; Ecossistema; Paisagem; Bioma;
Ecosfera (ODUM; BARRET, 2008).

• Pegada ecológica é um conceito criado para definir a necessidade que cada indivíduo
ou a população de uma região, país ou a humanidade inteira tem de terra, água e
outros recursos naturais para sustentar a geração atual.

264
AUTOATIVIDADE
1 O enorme crescimento urbano dos últimos anos teve graves
consequências na qualidade das cidades brasileiras. Inúmeros
problemas daí decorreram, aumentando o problema da segregação
espacial. Diante deste quadro, é imprescindível uma reforma do
espaço urbano. Quanto às medidas propostas neste sentido, analise as seguintes
afirmativas:

I- Para diminuir a violência, propõem-se programas de geração de renda e emprego.


II- Para melhorar a qualidade de vida, é preciso a remoção de pessoas sem qualificação.
III- Para diminuir o déficit habitacional, existe o confisco compulsório de imóveis
excedentes.
IV- Para estancar o êxodo rural, são adotadas medidas de fixação das pessoas no meio
rural.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
b) ( ) As afirmativas I e IV estão corretas.
c) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.

2 A zona rural é habitada pela população que vive no campo e, por


isso, é chamada de população rural, significando aquilo que é relativo
ou pertencente ao campo. Do ponto de vista conceitual, o termo
"meio rural" apresenta características específicas. Com base nestas
características, analise as afirmativas a seguir:

I- A população do meio rural envolve-se com atividades como comércio, pequenas


indústrias, artesanato, extrativismo.
II- O meio rural resume-se a atividades econômicas relacionadas à produção de
alimentos, sobretudo com o ramo agropecuário.
III- O meio rural é caracterizado pelo povoamento de uma região que apresenta solos
férteis, cuja população subsiste apenas a partir do plantio.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.
b) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
c) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
d) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.

265
3 A zona urbana é caracterizada pela sua relação com a cidade e o modo
de vida urbano. De modo geral, apresenta população igual ou superior
a 2000 habitantes, embora esta delimitação considere também
extensão geográfica e infraestrutura. Acerca das características das
zonas urbanas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O custo de vida nas zonas urbanas é maior do que nas zonas rurais, mas a área
urbana apresenta mais possibilidades profissionais.
( ) Nas zonas urbanas predominam atividades econômicas dos setores secundários e
terciários, ou seja, indústrias e serviços.
( ) A produção econômica primária é superior nas áreas urbanas, se comparada com
as áreas rurais.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F - F - V.
b) ( ) V - V - V.
c) ( ) F - F - F.
d) ( ) V - V - F.

4 (SINAES/ENADE – 2011) A definição de desenvolvimento sustentável


mais usualmente utilizada é a que procura atender às necessidades
atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras. O
mundo assiste a um questionamento crescente de paradigmas
estabelecidos na economia e também na cultura política. A crise ambiental no
planeta, quando traduzida na mudança climática, é uma ameaça real ao pleno
desenvolvimento das potencialidades dos países.

O Brasil está em uma posição privilegiada para enfrentar os enormes desafios que se
acumulam. Abriga elementos fundamentais para o desenvolvimento: parte significativa
da biodiversidade e da água doce existentes no planeta; grande extensão de terras
cultiváveis; diversidade étnica e cultural e rica variedade de reservas naturais.

O campo do desenvolvimento sustentável pode ser conceitualmente dividido em


três componentes: sustentabilidade ambiental, sustentabilidade econômica e
sustentabilidade sociopolítica.

Nesse contexto, o desenvolvimento sustentável pressupõe:


a) ( ) A preservação do equilíbrio global e do valor das reservas de capital natural, o
que não justifica a desaceleração do desenvolvimento econômico e político de
uma sociedade.
b) ( ) A redefinição de critérios e instrumentos de avaliação de custo-benefício
que reflitam os efeitos socioeconômicos e os valores reais do consumo e da
preservação.

266
c) ( ) O reconhecimento de que, apesar de os recursos naturais serem ilimitados, deve
ser traçado um novo modelo de desenvolvimento econômico para a humanidade.
d) ( ) A redução do consumo das reservas naturais com a consequente estagnação
do desenvolvimento econômico e tecnológico.
e) ( ) A distribuição homogênea das reservas naturais entre as nações e as regiões
em nível global e regional.

267
268
UNIDADE 3 TÓPICO 7 -
MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

1 INTRODUÇÃO
As demandas ambientais vêm se configurando em demandas socioambientais
com o passar do tempo, o que exige mudança de atitude e do seu contexto político,
tanto no espaço quanto no tempo, tornando-se necessário e urgente adotar novas
medidas e novos olhares. No Brasil, país em desenvolvimento e caracterizado, em sua
maioria, por democracias não consolidadas, as particularidades sociais, econômicas,
ambientais e políticas exigem uma adaptação do conjunto de instrumentos que
englobam principalmente a dinâmica político-decisória, de modo a consolidar práticas
participativas, acessíveis e realizáveis em todos os níveis sociais.

É partindo desse contexto socioambiental e político que iremos nos aprofundar,


abordando as questões sobre o desenvolvimento sustentável e a proteção do meio
ambiente. Vamos lá!

2 QUESTÕES AMBIENTAIS – UMA REFLEXÃO


SOCIOAMBIENTAL
À medida que a população mundial aumenta, cresce também sua capacidade
de intervir na natureza na busca de satisfazer suas necessidades e desejos crescentes.
Paralelo ao fato, surgem conflitos e tensões quanto ao uso do espaço e dos recursos.

IMPORTANTE
Recurso é qualquer coisa que podemos obter do meio ambiente para
satisfazer nossas necessidades e demandas. Em geral, são classificados
como:
- Renováveis (ar, água, solo, floresta), desde que não os utilizemos mais
rapidamente do que a natureza possa renová-los.
- Não renováveis (cobre, petróleo, carvão), que somente se tornam úteis
após passarem por processos de engenharia tecnológica, por exemplo,
o petróleo, que se converte em gasolina, óleo para aquecimento e outros
produtos (MILLER; SPOOLMAN, 2012).

269
ATENÇÃO
Meio ambiente é um conjunto de unidades ecológicas, ou seja, um
sistema natural formado por plantas, animais, micro-organismos, solo,
rochas, ar, água, clima e os fenômenos naturais que podem interferir no
seu equilíbrio dinâmico.

Nesse contexto, chamamos de produção sustentável a maior taxa em que


podemos utilizar um recurso renovável indefinidamente sem reduzir sua oferta. Dentre os
recursos não renováveis está o petróleo, que ameaça se tornar escasso. E não somente
esse recurso vem se destacando na economia mundial, mas também as florestas: se
em tempos atrás se retirava uma árvore, hoje retiram-se centenas por dia. Havia poucas
famílias consumindo pouca quantidade de água e produzindo poucos detritos. Hoje,
nesse mesmo espaço moram milhões de famílias, logo, toda essa relação se ampliou
significativamente, com o consumo de imensos mananciais e geração de milhares de
toneladas de lixo por dia.

Como resultado de tudo isso, temos a degradação ambiental, com perdas


da biodiversidade, da vida animal e vegetal, tanto terrícolas quanto aquáticas. E a
essa degradação ainda se somam as consequências, como: a poluição das águas, o
empobrecimento e até desertificação do solo, as alterações no clima, a poluição do ar,
a crescente violência nos centros urbanos, entre tantas outras. Entretanto, o modelo
econômico que gera riqueza e renda muitas vezes é contraditório, pois não impede o
aumento da miséria e da fome (MILLER; SPOOLMAN, 2012).

IMPORTANTE
Degradação ambiental: esgotamento ou destruição de um recurso
potencialmente renovável, como solo, pastagem, floresta ou vida selvagem,
que é usado mais rapidamente do que pode ser naturalmente regenerado.
Se tal uso continuar, o recurso torna-se não renovável (em uma escala de
tempo humano) ou inexistente (extinto) (MILLER; SPOOLMAN, 2012).

ATENÇÃO
As maiores causas dos problemas ambientais estão no crescimento
populacional, no uso insustentável e pouco eficiente de recursos, na
pobreza e a falta de inclusão dos custos ambientais do uso dos recursos,
nos preços de mercado e bens e serviços.

270
A exploração dos recursos naturais se intensificou nas últimas décadas e
adquiriu características diferenciadas com a Revolução Industrial, sendo somadas ao
desenvolvimento de novas tecnologias. A demanda mundial pelos recursos provém de
uma formação econômica cuja base é a produção e o consumo desenfreado. E o que
se tem atrelado a isso é a exploração da natureza, de fato responsável por boa parte da
destruição dos recursos naturais, base da economia mundial.

O modelo de desenvolvimento econômico, por muitos anos, decorreu como


aquele que valoriza o aumento de riqueza sem preocupação com a conservação dos
recursos naturais. Hoje, a necessidade vital de conservação do meio ambiente aparece
em discussão com parâmetros sobre as formas de viabilizar o crescimento econômico,
explorando os recursos naturais de forma racional, ou seja, sustentável (SACHS, 2004).

Há muitos questionamentos quanto a esse modelo, tais como: É possível


atrelar desenvolvimento e sustentabilidade? E sem o aumento da destruição? De que
tipo de desenvolvimento se fala? Existe desenvolvimento sustentável ou é um mito?
(MONTIBELLER-FILHO, 2004).

De forma geral, em todos os espaços os recursos naturais e o próprio meio


ambiente são prioridades e componentes importantes para o planejamento político e
econômico dos governos, passando então a ser analisados em seu potencial econômico
e vistos como fatores estratégicos (SACHS, 2004; ASSADOURIAN, 2010). É nesse
contexto que se iniciaram as grandes reuniões mundiais sobre o tema, nas quais se
instituiu o fórum internacional em que os países, apesar de suas divergências, passam a
estar politicamente obrigados a se posicionar quanto a decisões ambientais de alcance
mundial e a legislar de forma que os direitos e os interesses de cada nação possam ser
detalhadamente equacionados em função do interesse maior da sociedade e para com
o meio ambiente como um todo.

É fundamental que a sociedade atribua regras ao crescimento, à exploração e


à distribuição dos recursos de modo a garantir a qualidade de vida das atuais e futuras
gerações e demais formas de vida. Uma das alternativas para tal se deu ao estabelecer
um limite a esse consumo sustentável. Para isso, realizou-se a primeira Conferência
Internacional promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Estocolmo,
em 1972. A segunda foi no Rio de Janeiro, em 1992, a Rio/92, após aconteceu a Rio+10,
em Johanesburgo, África do Sul em 2002, e recentemente a Rio+20 no Rio de Janeiro,
em 2012.

3 SUSTENTABILIDADE: SURGIMENTO
O tema da sustentabilidade começou a ganhar corpo em 1968, quando um
pequeno grupo de líderes da academia, indústria, diplomacia e sociedade civil se reuniu
num pequeno vilarejo em Roma, Itália. Esse grupo passou a ser chamado de Clube

271
de Roma. A partir deste, o tema sustentabilidade foi pauta em conferências mundiais
específicas em que se delinearam conceitos, ações, diretrizes e ementas na busca
de promover o chamado desenvolvimento sustentável. Veja a sequência cronológica
dessas importantes trajetórias em âmbito mundial.

FIGURA 57 – HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS CONFERÊNCIAS SOBRE SUSTENTABILIDADE

• Formação do Clube de Roma


• Local: Roma/Itália
1968

• A primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente


• Lançamento da obra: “Limites do Crescimento”
1972 • Local: Estocolmo/Suécia

• Conferência que criou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente


e Desenvolvimento
1984

• Comissão de Brundtland
• Lançamento do Relatório de Brundtland ou "Nosso Futuro Comum".
1987

• Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o


Desenvolvimento
• Rio-92 ou Cúpula da Terra
1992 • Lançamento da Agenda 21
• Local: Rio de Janeiro/Brasil

• Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável


• Local: Joanesburgo/África do Sul
2002

• Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável


• Rio+20
2012 • Local: Rio de Janeiro/Brasil

FONTE: Os autores

272
3.1 RELATÓRIO BRUNDTLAND OU “NOSSO FUTURO COMUM”
A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento recomendou
que se criasse uma nova declaração universal sobre a proteção ambiental e
o desenvolvimento sustentável. De tal forma, esse documento foi elaborado e intitulado
Relatório Brundtland, também conhecido como “Nosso Futuro Comum”. O relatório
trouxe à comunidade global o conceito de desenvolvimento sustentável e delineou
medidas propostas para integrar a questão ambiental e o desenvolvimento econômico
(CMMAD, 1991). Dentre as medidas propostas no Relatório podemos citar:

FIGURA 58 – MEDIDAS PROPOSTAS PELO RELATÓRIO DE BRUNDTLAND

Preservação da biodiversidade Diminuir o consumo de


e ecossistemas energia

Limitar do crescimento Aumentar a produção industrial


populacional nos países não industrializados à
base de tecnologias limpas

Criar estratégias de adaptação


Garantir de alimentação em
para o desenvolvimento
longo prazo
sustentável

Promover o desenvolvimento de Implantar um programa de


tecnologias que admitem o uso desenvolvimento sustentável
de fontes enérgicas renováveis

FONTE: Adaptado de CMMAD (1991)

3.2 AGENDA 21
A “Agenda 21” criada pela Cúpula da Terra, organizada pela ONU em 1992, é
utilizada no mundo todo para nortear discussões de políticas públicas e também para
ser um “guia para o planejamento de ações locais que fomentem um processo de
transição para a sustentabilidade”, conforme relatado pela ONU.

Além das questões ambientais e suas problemáticas, a Agenda 21 inclui


outros importantes assuntos, tais como: a pobreza e a dívida externa dos países
em desenvolvimento; padrões insustentáveis de produção e consumo; pressões
demográficas e a estrutura da economia internacional.

A Cúpula da Terra ainda adotou a Convenção sobre a Diversidade Biológica


(1992) e a Convenção da ONU de Combate à Desertificação em países que sofrem com
a seca, particularmente a África (1994).

273
3.3 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – RIO+20
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, também
conhecida como Rio+20, foi realizada em junho de 2012, no Rio de Janeiro, e teve como
temas principais:

• A economia verde no contexto do desenvolvimento econômico sustentável e da


erradicação da pobreza.
• A estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

Como objetivo central, a Rio+20 definiu em seu relatório a seguinte questão: “A


renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da
avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas
principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes”
(CGEE, 2012, s.p.).

IMPORTANTE
A conferência foi intitulada como “Rio + 20” porque marca o vigésimo
aniversário da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92).

DICAS
Veja relatório completo da Conferência Rio+20 no site: <http://www.rio20.
gov.br>.

4 SUSTENTABILIDADE: CONCEITUAÇÃO
Há uma gama de autores que descrevem e conceituam sustentabilidade. Para
Ruscheinski (2003), sustentabilidade possui uma perspectiva dinâmica, o que não a
caracteriza como estática. Para Miller e Spoolmann (2012), é a capacidade dos sistemas
naturais da Terra e dos sistemas culturais humanos de sobreviver e se adaptar às
mudanças nas condições ambientais a longo prazo, conceito que também se refere
a pessoas preocupadas em transmitir um mundo melhor para as gerações vindouras.

274
Se formos analisar todas as conceituações, certamente ficaríamos um bom
tempo discutindo a respeito, pois são distintas as conotações para esse termo, quase
sempre em comunhão com os desejos e interesses. No entanto, possui um significado
intrínseco, histórico, que revela muito mais do que uma palavra “politicamente correta”.
Vejamos como a ONU (s.d., s.p.) aborda a sustentabilidade no seu relatório, associando
ao Desenvolvimento Sustentável: “é o desenvolvimento que encontra as necessidades
atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias
necessidades”.

Conforme você pode perceber, o ONU não trata de sustentabilidade como termo
isolado, e sim agregado ao desenvolvimento e com esse os demais índices, por isso a tem
como desenvolvimento sustentável, mas o contexto conceitual da sustentabilidade não
para por aqui. A sustentabilidade está alicerçada em pilares centrais, os quais veremos
a partir desse momento, ampliando assim seu entendimento sobre esse tema.

4.1 OS PILARES DA SUSTENTABILIDADE


Vamos começar o estudo e entendimento dos importantes pilares da
sustentabilidade de uma forma diferente. Analise a figura a seguir e reflita que dimensões
você encontra para formar os pilares da sustentabilidade. Vamos lá!

FIGURA 59 – REPRESENTAÇÃO DAS DIMENSÕES E SUA RELAÇÃO COM A SUSTENTABILIDADE

FONTE: Disponível em: <http://www.santacruz.br/v4/download/revista-academica/13/cap5.pdf>. Acesso


em: 20 mar. 2013.

275
Vamos nos aprofundar mais a respeito das dimensões identificadas nessa
figura que alicerçam o desenvolvimento sustentável (SACHS, 2002). Vamos abordar
os seguintes pontos: econômico, social, ambiental, cultural, espacial, político e
psicológico.

• Sustentabilidade econômica (conhecida pelo dito popular economicamente


viável): significa uma alocação eficiente dos recursos, respeitando o meio ambiente e
o bem-estar das pessoas. A principal medida dessa dimensão é dada justamente por
critérios sociais, que pressupõem o investimento equilibrado de recursos privados e
públicos na economia.
• Sustentabilidade social (conhecida pelo dito popular socialmente justo): consiste
em um desenvolvimento que reduza as desigualdades sociais e promova a igualdade.
As ações devem abranger não só as necessidades materiais das pessoas, mas
também as não materiais.
• Sustentabilidade ecológica e ambiental (conhecida pelo dito popular
ambientalmente correto): A ecológica implica em ações que respeitem a biodiversidade,
permitindo o equilíbrio dos ecossistemas. Pressupõe a manutenção da vida na Terra,
permitindo sua continuidade. Atitudes que, além de atender às necessidades dos
indivíduos, preservam os recursos naturais. A sustentabilidade ambiental trata-se de
respeitar e realçar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais.
• Sustentabilidade espacial ou geográfica ou territorial: as ações buscam
desenvolver equitativamente todas as regiões, inclusive com ações que evitem a
concentração excessiva de população em determinadas regiões, em detrimento de
outras. Procura, ainda, equilibrar a população urbana com a do campo e desenvolver
ações locais.
• Sustentabilidade cultural: pressupõe um desenvolvimento que respeite a
pluralidade cultural existente. As ações devem respeitar a especificidade de cada
sistema, de cada local, inclusive na resolução dos problemas.
• Sustentabilidade política (nacional e internacional): tem por base a democracia e a
apropriação universal dos direitos humanos; além do desenvolvimento da competência
do Estado para implementar os projetos em parceria com empreendedores. No
aspecto internacional, tem sua eficácia na prevenção de guerras, garantia da paz,
aplicação do princípio da precaução na gestão do meio ambiente, recursos naturais e
preservação da biodiversidade e da diversidade cultural; gestão do patrimônio global
como herança da humanidade.

Ressalta-se, por fim, que a dimensão psicológica é incorporada ao estudo


devido ao relacionamento com o ser humano e com as dimensões culturais, sociais,
políticas e econômicas (MENDES, 2009). Esse é o momento de refletir, discutir com os
colegas e ampliar a visão a respeito do tema em questão. Para ampliar sua discussão,
analise a figura a seguir e discuta sobre sustentabilidade.

276
FIGURA 60 – DESEMPENHO DAS NAÇÕES COM RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – QUAN-
TOS PLANETAS?

USA, Europa
Necessid. Australia, do Norte Europa Países "emergentes" da Ásia
gerações Canadá e Oeste do Sul e América do Sul (+ Turquia)
atuais + "NPI"
Desenvolvimento
Sustentável
Índice de Desenvolvimento Humano - IDH

Países "emergentes"
da África do Norte,
Oriente Médio e Ásia

Países em via de
desenvolvimento
da Ásia e África

Necessid. gerações futuras


Pegada ecológique (ha/ hab)

Obs.: Ecológique = ecológica.


FONTE: Louette (2007)

5 AS FERRAMENTAS PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL


Dentre algumas ferramentas e organismos internacionais e as normas brasileiras
que auxiliam as organizações a desenharem seu caminho para o desenvolvimento
sustentável, temos as seguintes.

277
FIGURA 61 – ORGANISMOS E FERRAMENTAS INTERNACIONAIS E NORMAS DE CERTIFICAÇÃO BRASILEIRA
PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FONTE: Adaptado de Louette (2007).

5.1 PACTO GLOBAL


O Pacto Global adotou dez princípios universais, derivados dos direitos
humanos, dos direitos do trabalho e do conceito de sustentabilidade, que fazem parte da
Declaração Universal de Direitos Humanos, da Declaração da Organização Internacional
do Trabalho, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) e de
Copenhague (2004). Os dez princípios do Pacto Global constam na figura a seguir.

278
FIGURA 62 – PRINCÍPIOS DO PACTO GLOBAL
PRINCÍPIOS DO PACTO GLOBAL
RESPEITAR ASSEGURAR APOIAR ELIMINAR ERRADICAR
e apoiar os a não a liberdade todas efetivamente
direitos humanos participação da de associação as formas de todas as formas
reconhecidos empresa em e reconhecer trabalho forçado de trabalho
internacionalmente violações dos o direito à ou compulsório infantil da sua
na sua área direitos humanos negociação cadeia produtiva
de influência coletiva

ESTIMULAR ASSUMIR DESENVOLVER INCENTIVAR COMBATER


práticas uma abordagem iniciativas o desenvolvimento a corrupção
que eliminem preventiva, e práticas para e a difusão em todas
qualquer tipo de responsável e promover e de tecnologias as suas formas,
discriminação no proativa para disseminar a ambientalmente incluindo
emprego os desafios responsabilidade responsáveis extorsão e
ambientais sócio-ambientais suborno

FONTE: Disponível em: <http://relatorioanual2010.oi.com.br/wp-content/uploads/2011/05/D2_01_tabela-


-pacto-global.gif>. Acesso em: 14 maio 2015.

5.2 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO - ODM

É uma ferramenta estabelecida na forma de um documento que estabelece um


conjunto de oito objetivos (Figura 50), 18 metas e 48 indicadores para o desenvolvimento
e a erradicação da pobreza em todos os países do mundo. Esses devem ser cumpridos
até 2015, conforme definido pelos países membros da ONU no ano de 2000 (LOUETTE,
2007).

FIGURA 63 – OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

FONTE: Disponível em: <http://www.portalodm.com.br/images/noticias/2011-01-20_especialista-propoe-


-novos-objetivos-do-milenio-pos-2015_gg.jpg>. Acesso em: 14 maio 2015.

279
Entre os dias 25 e 27 de setembro de 2015, mais de 150 líderes mundiais
se reuniram na sede da ONU, em Nova York, para estabelecerem 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Estes objetivos são ilustrados na figura a seguir.

FIGURA 64 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)

FONTE: Disponível em: <https://www.akatu.org.br/wp-content/uploads/2016/07/ODS-ONU.jpg>. Acesso


em: 7 dez. 2017.

5.3 PROTOCOLO DE KYOTO


O Protocolo de Kyoto é um tratado internacional com compromissos compulsórios
para a redução das emissões dos gases que provocam o efeito estufa, legitimados por
crescentes pesquisas científicas, como causa do aquecimento global e consequente
variabilidade climática.

NOTA
Os seis gases de efeito estufa monitorados pelo Protocolo de Kyoto são: o dióxido
de carbono (CO2); metano (CH4); óxido nitroso (N2O); hidrofluorocarbonos (HFCs);
perfluorocarbonos (PFCs); e hexafluoreto de enxofre (SF6). O ozônio (O3) presente
na baixa atmosfera (troposfera) é um gás poluente, responsável pelo aumento
da temperatura da superfície, e portanto, também é um gás de efeito estufa,
diferentemente do ozônio presente na alta atmosfera (estratosfera), onde forma a
camada de ozônio, a qual absorve a radiação ultravioleta do tipo B, protegendo a
vida na Terra.

280
O tratado originou-se em Toronto em 1988, seguido pelo IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e culminou com a Convenção Quadro
das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (UNFCCC) na Rio-92. O objetivo do
Protocolo de Kyoto é obrigar os países desenvolvidos a reduzirem a quantidade de gases
poluentes com metas de curto, médio e longo prazo (LOUETTE, 2007).

NOTA
O IPCC é o principal organismo internacional responsável pelas pesquisas
e informações sobre a evolução das mudanças climáticas no mundo, seus
potenciais impactos ambientais e socioeconômicos. Foi estabelecido pela
Organização das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) e a Organização
Meteorológica Mundial (OMM).

5.4 ABNT NBR 14064 – INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES


DE EFEITO ESTUFA
A ABNT NBR ISO 14064 é uma série de normas que estabelecem diretrizes e
procedimentos para ações, a saber:

• Projetos MDL: Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.


• Inventários de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE): documento que relata as
fontes e sumidouros de gases de efeito estufa e quantifica-os em uma organização.

Projetos de redução de emissões de gases e a verificação e gestão dos GEE.

NOTA
MDL: projetos previstos no Protocolo de Kyoto, criados para ajudar os países
Anexo I (países desenvolvidos com grandes emissões de GEE históricas e
que aderiram ao Protocolo de Kyoto) a atingirem suas metas de reduções
de emissões de gases de efeito estufa a menores custos e com maior
efetividade. Os projetos de reduções de emissões de GEE são realizados
em Países Não Anexo I (países em desenvolvimento com reduzida emissão
histórica de GEE) sendo financiados pelos Países Anexo I, por meio da
compra dos créditos de carbono (valor monetário correspondente a um
volume determinado de emissões de GEE que são reduzidos por meio da
implementação de Projetos MDL).

281
LEITURA
COMPLEMENTAR
Segurança Pública brasileira é improdutiva, violenta
e reproduz desigualdades

Relatório final da Comissão da Verdade paulista sistematiza historicamente o


viés repressivo da polícia e pede a desmilitarização e a unificação das polícias.

Apenas a polícia brasileira foi responsável por seis mortes por dia, em 2013,
reflexo da ideologia militar da corporação, segundo o relatório da Comissão. Hoje, o
Brasil é responsável por um em cada dez homicídios no mundo.

"A Polícia Militar tem uma organização e formação preparada para a guerra contra
um inimigo interno e não para a proteção. Desse modo, não reconhece na população pobre
uma cidadania titular de direitos fundamentais, apenas suspeitos que, no mínimo, devem
ser vigiados e disciplinados, porque assim querem os sucessivos governantes, ontem e
hoje". Essa é a conclusão do capítulo sobre a militarização da polícia brasileira, presente
no relatório final da Comissão da Verdade "Rubens Paiva", divulgado nesta quinta-feira 12.

Através de um estudo histórico, que recupera a formação das polícias brasileiras


desde o período colonial, o relatório sistematiza o modelo escolhido pelo Brasil para formar
seus policiais e sugere uma profunda reforma da Segurança Pública a fim de acabar com
o crescimento recorde de mortes de civis e policiais e  com a "improdutividade" das
corporações, que hoje estão divididas em duas polícias, cada uma com duas carreiras.

282
O debate sobre a necessidade de reformar a Segurança Pública brasileira não
é exclusividade da Comissão da Verdade. Segundo pesquisa  Datafolha  de 2014, a
segurança já é a segunda maior preocupação dos brasileiros. E não é à toa. Hoje, o Brasil
é responsável por um em cada dez assassinatos cometidos no mundo. Diariamente, 154
pessoas são mortas no país. Por outro lado, fontes extraoficiais estimam que o número
de pessoas presas  no Brasil já beira 600 mil, o que faz do país o terceiro maior em
população carcerária do mundo, apenas atrás de Estados Unidos e China. Em 12 anos,
o crescimento carcerário brasileiro foi de mais de 620%, enquanto o populacional foi em
torno de 30%.

Uma das causas deste cenário de caos reside, segundo o relatório, na incapacidade
da Polícia Militar se adaptar ao regime democrático. "A Polícia Militar foi e continua sendo
um aparelho bélico do Estado, empregada pelos sucessivos governantes no controle de
seu inimigo interno, ou seja, seu próprio povo, ora conduzindo-o a prisões medievais, ora
produzindo uma matança trágica entre os residentes nas periferias das cidades ou nas
favelas", afirma o texto. Segundo o documento, a concepção militar da polícia é voltada
para o controle político e não para a prevenção da violência e criminalidade. A avaliação
do relatório é reforçada por levantamentos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
e da Anistia Internacional. Segundo estas organizações, a polícia brasileira matou, em
média, seis pessoas por dia, em 2013. No ano anterior, 30 mil jovens brasileiros foram
mortos, sendo 77% deles negros.

A alta letalidade policial e suas práticas repressivas não foram, no entanto, as


únicas marcas deixadas pela ditadura na gestão da segurança pública brasileira. Em
depoimento prestado à Comissão, o ex-funcionário da Secretaria Nacional de Segurança
Pública, Luiz Eduardo Soares, revelou que até meados dos anos 2000, policiais militares
ainda recebiam aulas de tortura nas corporações. "Nós nos esquecemos de que a transição
(democrática) passou de forma insuficiente pelas áreas da Segurança Pública", disse. “Até
1996, na formação da Polícia Civil do Rio de Janeiro havia aulas sobre como bater. Não é
defesa pessoal, porque é indispensável, é como bater. O Bope oferecia, até 2006, aulas
de tortura. E não estou me referindo, portanto, apenas às veleidades ideológicas de um
e de outro, nós estamos falando de procedimentos institucionais”, completou Soares,
que também é ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro.

Assim como no período ditatorial, os assassinatos e a tortura exercidos pelos


agentes públicos seguem, na maioria dos casos, impunes. A ONG Conectas Direitos
Humanos analisou, em 2014, 455 decisões de todos os Tribunais de Justiça do
Brasil sobre denúncias de torturas. Ao final, o levantamento constatou que policiais
e funcionários do sistema prisional condenados em um primeiro julgamento foram
absolvidos, na segunda instância, em 19% dos casos. Entre agentes privados, o índice
de absolvição cai praticamente pela metade (10%).

A dependência da polícia por parte de órgãos investigativos e de perícia, como


o Instituto Médico Legal (IML), é uma das razões para a impunidade em casos de

283
violência policial. "É como se um colega produzisse provas contra outro, o que implica
em conflitos de interesse",  afirma Vivian Calderoni, advogada da Conectas. O mesmo
raciocínio é utilizado pelo documento da comissão em relação às mortes decorrentes
de conflito com a polícia, os chamados autos de resistência. "Não há investigação sobre
os autos de resistência, o que garante, através da impunidade, a  permissividade dos
crimes, com aval e promoção institucional", afirma o documento. Atualmente, existem
diversos projetos pelo fim dos autos de resistência no Congresso, porém, todos estão
emperrados na burocracia do parlamento.

Levantamentos, como o da ONG Conectas, revelam que a cultura de uma polícia


repressiva e, muitas vezes, impune, é uma realidade nacional. De acordo com o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, a tropa mais letal do país é a do Rio de Janeiro, seguida
pela de São Paulo, depois Bahia e Pará, "estados governados por partidos políticos
diferentes, o que sugere que essa cultura carcerária é compartilhada por diversas forças
políticas", diz a comissão.

Por outro lado, o Brasil também possui o recorde de policiais  assassinados


no mundo: 490 em 2013, 43 a mais do que em 2012. Por conta disso, a proposta de
desmilitarização policial encontra grande aceitação entre os policiais de baixa patente.
Uma pesquisa da FGV, de 2014, mostra que 73,7% dos policiais apoiam a desmilitarização.
Segundo a mesma pesquisa, entre os policiais militares, o índice sobe para 76,1%.

Ao todo, estima-se que os custos ligados à violência, em 2013, giraram em torno


de 258 bilhões de reais, sendo que a maior decorreu da perda do capital humano, com
mortes e invalidez, representando 114 bilhões de reais.

Uma história de repressão

Do ponto de vista da organização e instrução, a polícia brasileira, do  Brasil


Colônia até a República,  se constituiu como uma força militar, com a finalidade de
garantir a ordem interna e, por vezes, ser o exército da elite do Estado ou província. No
Brasil colônia, por exemplo, uma das funções da polícia era garantir a submissão dos
escravos. Já na República, a polícia paulista era caracterizada como uma força militar
estadual, ou seja, um pequeno exército a serviço da elite cafeeira.

No entanto, foi em 1967, com o decreto da Doutrina de Segurança Nacional, que


se fortaleceu a ideia das polícias como forças repressivas com o intuito de combater um
inimigo interno, no caso, o comunismo ou a subversão. "Com a criação da Doutrina de
Segurança Nacional se criou a figura do inimigo interno. O Exército tem o seu inimigo
externo, mas na Doutrina de Segurança Nacional se cria a figura do inimigo interno, que
é para fazer o combate à luta armada", afirma o coronel reformado da Polícia Militar Fábio
Gonçalves, em depoimento.

284
Em 1969, o presidente ditador Costa e Silva, outra vez por meio de
decreto, reorganiza as polícias militares. No mesmo ano, tem início a  Operação
Bandeirante, um órgão de repressão política criado por acordo entre as Forças Armadas
e a Polícia Militar paulista, sob ordem do governo estadual e com apoio político e material
de empresários.  No ano seguinte, a relação entre militares e policiais militares se
intensifica e cria-se o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro
de Operações de Defesa Interna), que posteriormente terá sua atuação nacionalizada
com órgãos semelhantes fora do Estado de São Paulo.

Segundo o relatório, é neste bojo que acontece a unificação da Força Pública


e Guardas Civis Estaduais, consolidando a Polícia Militar como a conhecemos hoje.
"[Graças ao] golpe dentro do golpe [AI-5] que se militarizam ao extremo as forças de
segurança, centraliza-se o comando, o controle, a  coordenação do sistema", diz o
relatório.

Nesse sentido, o relatório sugere a desmilitarização e unificação das polícias,


com o fim da duplicidade das carreiras policiais, como medida fundamental para reverter
o caráter repressivo das forças de segurança civil. Além disso, pede-se a revogação
dos decretos que integram a P/2 das Polícias Militares ao Serviço Secreto do Exército,
produtos legais também da ditadura civil-militar.

FONTE: Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/seguranca-publica-brasileira-e-improdu-


tiva-violenta-e-reproduz-desigualdades-3055.html>. Acesso em: 30 maio 2015.

285
RESUMO DO TÓPICO 7
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Recurso é qualquer coisa que podemos obter do meio ambiente para satisfazer
nossas necessidades e demandas. Em geral são classificados como renováveis (ar,
água, solo, floresta) e não renováveis (cobre, petróleo, carvão).

• A exploração dos recursos naturais se intensificou nas últimas décadas e


adquiriu características diferenciadas com a Revolução Industrial, somadas ao
desenvolvimento de novas tecnologias.

• As maiores causas dos problemas ambientais estão no crescimento populacional, no


uso insustentável e pouco eficiente de recursos, na pobreza e a falta de inclusão dos
custos ambientais do uso dos recursos nos preços de mercado e bens e serviços.

• Para se discutir os problemas ambientais se instituiu o fórum internacional, em que


os países, apesar de suas divergências, passam a estar politicamente obrigados a se
posicionar quanto a decisões ambientais.

• Os importantes movimentos que abordaram a sustentabilidade:


• Relatório Brundtland ou “Nosso Futuro Comum”
• Agenda 21
• Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20

286
AUTOATIVIDADE
1 A sustentabilidade não está atrelada unicamente à área ambiental e
sim essa somada ao equilíbrio dinâmico do conjunto das relações
sociais, econômicas, culturais, espaciais e psicológicas, ou seja, é esse
conjunto que alicerça o desenvolvimento sustentável de fato. Com
relação às diretrizes e ferramentas que auxiliam as organizações a desenharem
seu caminho para o desenvolvimento sustentável, relacione as colunas:

A – PACTO GLOBAL ( ) Ferramenta para desenvolvimento de inventários de


emissões de gases de efeito estufa e projetos para sua
mitigação.

B – PROTOCOLO DE ( ) Estabelece um conjunto de objetivos para o desenvolvimento


KYOTO e a erradicação da pobreza no mundo.

C – AGENDA 21 ( ) Resposta às ameaças que assolam o planeta, principalmente
com a terra, como forma de se pensar articuladamente os
muitos problemas socioambientais.

D – RELATÓRIO ( ) Compromissos com a redução das emissões dos gases que


BRUNDTLAND provocam o efeito estufa.

E – RIO+20 ( ) Diretriz utilizada no mundo todo para nortear discussões de


políticas públicas, sendo um “guia para o planejamento de
ações locais que fomentem um processo de transição para
a sustentabilidade”.

F – NBR ISO 14064 ( ) Conferência em que ocorreu a renovação do compromisso


político com o desenvolvimento sustentável.

G – CARTA DA TERRA ( ) Ferramenta ou acordo para empresas que pretende conciliar
a força do mercado aos ideais dos direitos humanos,
levando-se em conta os impactos sociais e ambientais.

H – METAS DO ( ) Relatório que trata da declaração universal sobre a proteção


MILÊNIO ambiental e o desenvolvimento sustentável (Nosso Futuro
Comum).

287
2 O termo sustentabilidade é flexível, dinâmico e não consensual na
academia. Em meio às inúmeras definições e controvérsias do
termo, esse ainda possui um sentido próprio, o qual nós (empresas,
organizações, sociedade) buscamos alcançar. Fale a respeito de seu
real significado.

3 A palavra sustentabilidade traz consigo a relação do desenvolvimento


sustentável. Dessa forma, pergunta-se: o que é uma sociedade
sustentável? É possível atrelar desenvolvimento sustentável e
sociedade sustentável?

4 (ENADE – 2017) Segundo o relatório da Organização das Nações


Unidas para a Alimentação e a Agricultura de 2014, a agricultura
familiar produz cerca de 80% dos alimentos no mundo e é guardiã
de aproximadamente 75% de todos os recursos agrícolas do
planeta. Nesse sentido, a agricultura familiar é fundamental para a melhoria da
sustentabilidade ecológica.

FONTE: Disponível em: <http://www.fao.org>. Acesso em: 29 ago. 2017 (adaptado).

Considerando as informações apresentadas no texto, avalie as afirmações a seguir.

I- Os principais desafios da agricultura familiar estão relacionados à segurança


alimentar, à sustentabilidade ambiental e à capacidade produtiva.
II- As políticas públicas para o desenvolvimento da agricultura familiar devem fomentar
a inovação, respeitando o tamanho das propriedades, as tecnologias utilizadas, a
integração de mercados e as configurações ecológicas.
III- A maioria das propriedades agrícolas no mundo tem caráter familiar, entretanto,
o trabalho realizado nessas propriedades é majoritariamente resultante da
contratação de mão de obra assalariada.

É correto o que se afirma em:


a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.

288
5 (ENADE – 2017) Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
compõem uma agenda mundial adotada durante a Cúpula das
Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em setembro
de 2015. Nessa agenda, representada na figura a seguir, são previstas
ações em diversas áreas para o estabelecimento de parcerias, grupos e redes que
favoreçam o cumprimento desses objetivos.

Disponível em: <http://www.stockholmresilience.org> Acesso em 26 set. 2017 (adaptado).

Considerando que os ODS devem ser implementados por meio de ações que integrem a
economia, a sociedade e a biosfera, avalie as afirmações a seguir.

I- O capital humano deve ser capacitado para atender às demandas por pesquisa e
inovação em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável.
II- A padronização cultural dinamiza a difusão do conhecimento científico e tecnológico
entre as nações para a promoção do desenvolvimento sustentável.
III- Os países devem incentivar políticas de desenvolvimento do empreendedorismo e
de atividades produtivas com geração de empregos que garantam a dignidade da
pessoa humana.

É correto o que se afirma em:


a) ( ) II, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) I e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
289
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