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SUMÁRIO

1. Introdução e Definição.............................................. 3
2. Epidemiologia............................................................... 5
3. Etiologia ......................................................................... 6
4. Fisiopatologia............................................................... 9
5. Quadro Clínico............................................................13
6. Diagnóstico.................................................................15
7. Tratamento..................................................................19
Referências Bibliográficas .........................................22
FIBROMIALGIA 3

1. INTRODUÇÃO E A fibromialgia se caracteriza por dor


DEFINIÇÃO muscular difusa e crônica – de dura-
ção maior que 3 meses, associadas
A fibromialgia é uma síndrome álgi-
frequentemente a queixas de fadiga,
ca musculoesquelética crônica, de
distúrbios do sono e baixa tolerância
duração superior a 3 meses, gene-
aos exercícios físicos. Adormecimen-
ralizada, na qual existe um distúrbio
tos, pontadas, queimação e cãibras
do processamento dos centros afe-
também podem compor o quadro.
rentes, causando dor. De natureza
Outros sintomas vagos e inespecífi-
não autoimune e não inflamatória,
cos, como edema de membros, ton-
sua etiologia permanece desconhe-
tura, palpitações, alterações cogni-
cida, mas sua frequência na prática
tivas, ansiedade e humor deprimido
clínica é elevada: perde apenas para
podem se apresentar. Por fim, por-
as osteoartrites nas queixas do apa-
tadores de fibromialgia podem ainda
relho locomotor. Além disso, a doença
ter algumas síndromes disfuncionais
possui grande impacto na qualidade
que acarretam dores localizadas ou
de vida, o que torna o conhecimen-
em órgãos específicos, a exemplo de
to sobre ela muito importante para a
dor de parede abdominal por cólon ir-
prática clínica. Embora seja muito fre-
ritável, sintomas da síndrome uretral
quente, seu diagnóstico permanece
feminina e da cistite intersticial.
um desafio, demorando em média
mais de 2 anos para o diagnóstico
ser feito.
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SAIBA MAIS!
Em 2017, a cantora Lady Gaga entristeceu muitos fãs ao cancelar sua apresentação no Rock
in Rio. Portadora de fibromialgia, ela teve uma crise durante a qual sofreu fortíssimas dores
que impossibilitaram sua apresentação.
À época, a cantora divulgou no Instagram que “estava devastada” de não poder participar do
Rock in Rio, mas que precisava cuidar da sua saúde.
Muitos fãs se revoltaram, mas poucos conseguem compreender a redução da capacidade
funcional e o quadro intenso de sor a fibromialgia pode ocasionar. Vamos entender agora o
que é e como se manifesta essa doença que, além de prejudicar a funcionalidade de uma das
maiores cantoras pop da atualidade, afeta a vida de 2% da população brasileira.

Fonte: https://www.instagram.com/p/BZCB3XIArnF/?utm_source=ig_embed
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MAPA MENTAL INTRODUÇÃO

> 3 meses

Acima e abaixo do tronco

Bilateral

Inclui esqueleto axial

Grande impacto na
Dor difusa crônica
qualidade de vida

Fibromialgia
Uma das doenças
Não-inflamatória reumatológicas mais
comuns

Não-autoimune

2. EPIDEMIOLOGIA 2% na população. Afeta com muito


maior proporção o sexo feminino
A fibromialgia é um dos distúrbios
(8 mulheres afetadas para cada ho-
musculoesqueléticos mais prevalen-
mem), e a idade mais frequente de
tes e constitui um dos principais diag-
dianóstico varia entre 35 e 60 anos
nósticos nos consultórios de reuma-
– embora possa ser encontrada em
tologia. Diferentes estudos apontam
outras faixas etárias. No Brasil, estu-
uma prevalência variando em torno
dos trazem uma prevalência de 2,5%,
de 0,7% a 5% da população, a de-
principalmente do sexo feminino e na
pender do critério utilizado – a EULAR
faixa dos 35 aos 44 anos.
(Liga Europeia contra o Reumatis-
mo) traz uma prevalência geral de
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coexistir com outras doenças reu-


SE LIGA! Sintomas que se iniciam com matológicas – artrite reumatóide, lú-
mais de 55 a 60 anos devem gerar in- pus eritematoso sistêmico, espondi-
vestigação de outras hipóteses que
não a fibromialgia – como infecções e lite anquilosante, osteoartrite, etc – e
neoplasias. que, portanto, não deve ser conside-
rada como apenas um diagnóstico de
exclusão.
Outro aspecto importante de ser lem-
brado é que a fibromialgia pode

MAPA MENTAL EPIDEMIOLOGIA

2% da população
brasileira

Coexistência comum
Afeta mais mulheres Epidemiologia de outras enfermidades
reumatológicas

Osteoartrite

Artrite reumatóide
Faixa etária: 35-50 anos
LES

Espondilite anquilosante

3. ETIOLOGIA Dentre os aspectos psicológicos que


contribuem para o desenvolvimento
A etiologia da fibromialgia ainda não
da doença, temos traços de perso-
é bem conhecida. Acredita-se que
nalidade (indivíduos perfeccionistas
sua causa seja, essencialmente, mul-
ou abnegados), indivíduos que catas-
tifatorial, com aspectos genéticos e
trofizam e têm crenças negativas (a
psicológicos exercendo papel sobre o
crença de que a dor não pode ser con-
desenvolvimento da doença.
trolada), hipervigilantes, preocupação
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exagerada, transtorno obsessivo- Um estudo de perfil genômico suge-


-compulsivo (TOC), depressão e riu a existência de diferenças na ex-
ansiedade. pressão de 421 genes possivelmente
Indivíduos do sexo feminino também envolvidos na fibromialgia, dos quais
possuem maior predisposição para muitos são genes associados ao pro-
a doença, como já foi citado. Altera- cessamento da dor no sistema nervo-
ções do padrão do sono e da res- so central.
posta neuro-endócrina ao estresse,
bem como desregulação autonômi- SE LIGA! Alguns fatores ainda podem
ca também são parte dos possíveis funcionar como “gatilho” para a doença,
especialmente em indivíduos predispos-
contribuidores.
tos. São eles: traumas na infância, aci-
Por fim, algumas heranças genéticas dentes (especialmente os que envolve-
– como polimorfismos na enzima ca- ram o tronco), infecções virais (ex. HCV
e EBV), apneia do sono, inflamação arti-
tecol-O-metiltransferase, em trans- cular crônica, eventos psicologicamente
portadores e receptores de serotoni- estressantes e Transtorno do Estresse
na e de genes dos receptores D4 da Pós-Traumático.
dopamina, de receptores opioides µ,
transportadores de sódio
voltagem-dependentes,
GTP ciclohidrolase e em
vias gabaérgicas – tem
sido implicados na etio-
logia da doença. Ainda,
estudos demonstram
que parentes de pri-
meiro grau de indivídu-
os afetados têm chan-
ces 8,5 vezes maiores
de desenvolver a do-
ença do que parentes
de primeiro grau de
portadores de artrite
reumatoide.
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MAPA MENTAL ETIOLOGIA

Preocupação exagerada
TOC Depressão Ansiedade Catastrofização

Aspectos psicológicos

Polimorfismos na catecol-O-
metiltransferase

Resposta neuro- Outros polimorfismos


Heranças genéticas
endócrina alterada Etiologia genéticos

Genes associados ao
processamento da dor no SNC
Padrão do sono
Gatilhos
alterado

Infecções

Traumas

Estresse
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4. FISIOPATOLOGIA rápida e prolongadamente – em


um somatório temporal dos impul-
Alguns mecanismos fisiopatológicos
sos neurais. Isso amplifica os po-
da fibromialgia são postulados.
tenciais de ação nos neurônios do
Dentre os mais importantes, está a corno posterior da medula. E essa
sensibilização central. Portadores hiperestimulação causa despolariza-
de fibromialgia estão em um estado ção dos receptores N-metil-D-aspar-
de centralização da dor, o que sig- tado (NMDA), gerando alterações da
nifica que eles sentem mais dor do transcrição que afetam o processa-
que o esperado para certo estímulo mento da dor.
nociceptivo. Algumas alterações do
Além disso, há uma inibição das
sistema nervoso central interpretam
vias descendentes inibitórias da
esse estímulo como sensações de-
dor. Essas vias modulam a resposta
sagradáveis e os traduzem em dor,
medular aos estímulos dolorosos e
além de amplificá-los.
estão prejudicadas em portadores de
As fibras da dor (fibras C desmieli- fibromialgia, o que potencializa a sen-
nizadas) são estimuladas repetida, sibilização central.

Figura 1. Fonte: Schmidt-Wilcke, T., Clauw, D. Fibromyalgia: from pathophysiology to therapy. Nat Rev Rheuma-
tol 7, 518–527 (2011). https://doi.org/10.1038/nrrheum.2011.98
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Os níveis de neurotransimissores Na fibromialgia, há também impor-


estão implicados na percepção da tantes alterações neuro-hormonais
dor pelo indivíduo, facilitando ou di- e autonômicas. A cronicidade da dor
ficultando a transmissão do estímulo. e alterações nos mecanismos noci-
Esses transmissores também con- ceptivos no SNC geram uma hiper-
trolam o sono, humor, memória e secreção do hormônio ACTH (adre-
atenção, e por isso pacientes com nocorticotropico). Essa hipersecreção
fibromialgia muito frequentemente ocasiona uma resposta sustentada ao
também apresentam alterações do estresse pelo eixo hipotálamo-hipófi-
padrão do sono, humor, da memória se-suprarrenal (HHS). Estudos mos-
e da atenção, como veremos adiante tram aumento dos níveis de ACTH
nas manifestações clínicas. em nível basal e em estresse, além de
Além da sensibilização central, na níveis elevados de cortisol – parti-
fibromialgia, há alterações muscu- cularmente no fim do dia – e de ciclo
lares. Foram observadas, por téc- cicardiano interrompido.
nicas de imunohistoquímica, atrofia Altos níveis de ACTH aumentam os
muscular de fibras tipo II, bem como níveis do hormônio somatostatina,
fibras reticulares, maior quantidade que, por sua vez, inibe o GH. Este
de lipídeos e de mitocôndrias. Essas hormônio também é produzido na
alterações são secundárias à redu- fase IV do sono, fase esta que é inter-
ção da microcirculação local, causan- rompida nos pacientes fibromiálgicos.
do hipóxia e reduzindo a energia Logo, os níveis de GH nesses indiví-
disponível. Como, na contração, duos é reduzido, particularmente du-
há maior necessidade de oxigê- rante o sono.
nio, isso acaba causando hipóxias Alterações na frequência cardíaca de
focais cronicamente. Esse proces- repouso, diminuição da variabilidade
so ativa os receptores adenosina desta ao longo do dia e hipotensão
A2, sensibilizando fibras nervosas ortostática sugerem uma hiperrea-
não-mielinizadas. tividade persistente ndo sistema
Além disso, há desregulação vascu- nervoso autônomo (SNA) em pa-
lar, aumento de substância P nos cientes com fibromialgia.
músculos, de interleucina-1 (IL-1) Um aumento do tônus simpático du-
no tecido cutâneo e fragmentação rante o sono foi sugerido como pos-
do DNA de fibras musculares. To- sível explicação para a fragmenta-
dos esses processos parecem estar ção do sono, além de pode explicar
implicados também na fisiopatologia fadiga, rigidez matinal, distúrbios do
da fibromialgia.
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sono, ansiedade e irritabilidade nes- por ondas delta (<4Hz). É a fase IV,
ses pacientes. formada pelas ondas delta, a respon-
Com relação às alterações do sono, sável pelo sono reparador e recupe-
um aspecto importante do sono des- rador da energia física.
ses indivíduos é a presença de sono Em pacientes com fibromialgia, há
alfa-delta. Mas o que seria isso? redução da eficiência do sono, com
O sono não-REM possui quatro fases. pequenos despertares noturnos fre-
À medida que essas fases progridem quentes, diminuição da duração de
e o sono mais profundo é alcançado, sono de ondas lentas e intrusão de
a frequência das ondas cerebrais di- ondas alfa nas fases do sono profun-
minui. Na vigília com olhos fechados, do. Esse padrão é chamado de sono
as ondas possuem uma frequência alfa-delta e está presente em cerca
entre 8Hz e 13Hz – chamadas de on- de 90% dos pacientes. No entanto, o
das alfa. A fase I é uma transição da sono alfa-delta não é específico da fi-
vigília e, no eletroencefalograma, se bromialgia, podendo estar presentes
associa a ondas teta (4 a 7Hz); já a em outras condições e até em indiví-
fase IV é constituído majoritariamente duos normais.
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MAPA MENTAL FISIOPATOLOGIA

Somatório temporal Diminuição do Alteração do Prejuízo da via


dos impulsos neurais limiar da dor processamento da dor inibitória da dor

Sensibilização central

Fisiopatologia

Neuro-hormonais e Alterações musculares


autonômicas

Sensibilização de fibras
Altos níveis de ACTH Hipóxia crônica
não-mielinizadas

Aumento do cortisol Fragmentação do DNA

Aumento da substância P
Inibição do GH

Hiperreatividade do SNA
Desregulação vascular

Sono alfa-delta
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5. QUADRO CLÍNICO A dor na fibromialgia é generaliza-


da, de intensidade variável ao lon-
Os principais sintomas da fibromial-
go dos dias e de caráter migratório.
gia podem ser vistos como uma tría-
Pode começar de forma localizada,
de que inclui:
tornando-se difusa posteriormente.
• Dor difusa crônica (bilateral, acima Além disso, de 76% a 100% dos
e abaixo do tronco e no esquele- pacientes afetados têm fadiga, que
to axial, com duração maior que 3 geralmente piora após esforço físico,
meses); podendo inclusive tornar-se o sinto-
• Fadiga; ma mais incapacitante.

• Distúrbios do sono. Já os distúrbios do sono ocorrem em


55% a 80% dos portadores.

SAIBA MAIS!
Pode haver dor abdominal, pélvica, cefaleia e dor torácica além da dor musculoesquelética.
Comorbidades comuns incluem os transtornos psiquiátricos: transtorno de ansiedade gene-
ralizada são reportados em 35% a 62% dos indivíduos com fibromialgia; transtorno depressi-
vo maior, em 58% a 86%, e o transtorno bipolar do humor em 11%. Podem ainda apresentar
os seguintes sintomas: déficits de atenção e memória, rigidez matinal, edema de extremida-
des – articular ou periarticular, síndrome miofascial, síndrome do intestino irritável, fenômeno
de raynauld, hipersensibilidade ao frio ou calor, parestesias de extremidade, vertigem, olhos e
boca seca, cistite intersticial ou síndrome da bexiga dolorosa, prostatite crônica ou prostatodi-
nia, dor pélvica crônica, dismenorreia, síndrome da taquicardia postural ortostática, disfunção
temporomandibular.

O paciente geralmente apresenta particularmente o exame articular de


exame físico normal, à exceção da grande importância nesse contexto.
presença de dor difusa. Esta pode
ser identificada tanto pela contagem CONCEITO! Alodinia se refere a dor a
de pontos dolorosos, como pela pal- um estímulo não doloroso em situações
pação digital de várias regiões do normais; já a hiperalgesia se refere a dor
corpo. A hipersensibilidade deve ser extrema e desproporcional a um estímu-
lo doloroso.
avaliada para a presença de alodinia
ou hiperalgesia. O exame físico tam-
bém pod auxiliar no diagnóstico di-
ferencial de outras condições, sendo
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MAPA MENTAL QUADRO CLÍNICO

Generalizada Abdominal Pélvica Cefaleia

Variável

Migratória Dor localizada

Dor difusa crônica

Normal
Quadro
Fadiga Tríade principal Exame físico
clínico
Pontos dolorosos

Distúrbios do sono

Transtornos
psiquiátricos

Transtorno de
Depressão Transtorno bipolar
ansiedade
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6. DIAGNÓSTICO de fibromialgia. Tais critérios estão


descritos abaixo:
Em 1990, a American College of
Rheumatology criou critérios para • dor difusa (bilateral, acima e abaixo
classificação da fibromialgia. No en- do tronco, acometendo esqueleto
tanto, esses critérios foram criados axial, por no mínimo 3 meses);
com o objetivo de facilitar a condu- • detecção de onze pontos doloro-
ção de ensaios clínicos, não para uso sos à palpação (dentre 18), os cha-
na prática clínica. De qualquer forma, mados tender points.
acabaram por ser adotados por mui-
tos profissionais para o diagnóstico

2
1
3
5
4
6

8
9

Figura 2. Os nove pares de tender points. 1. na inserção dos músculos (mm.) subocciptais; 2. na borda anterior dos
espaços intertransversais das vértebras C5-C6; 3. no corpo da borda superior do músculo trapézio; 4. na origem do
músculo supraespinhal, acima da espinha da escápula; 5. na segunda costela, junto à articulação costocondral; 6. 2cm
distais ao epicôndilo lateral; 7. no quadrante súperolateral da região glútea; 8. imediatamente posterior ao trocânter
maior do fêmur; 9. na interlinha medial do joelho. Fonte: Sav vas, Jmarchn
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No entanto, essa classificação limita- • Sono não reparador (acordar can-


va a investigação da doença na me- sado): (0) (1) (2) (3)
dida em que não levava em consi-
• Sintomas cognitivos (dificuldade de
deração alterações do sono, fadiga e
memória, concentração): (0) (1) (2) (3)
distúrbios cognitivos.
Sendo que:
Assim, em 2010, a American Colle-
ge of Rheumatology mais uma vez 0 = ausente
se reuniu e elaborou os critérios de 1 = leve ou intermitente
2010, utilizando o índice de dor ge- 2 = moderado: intensidade modera-
neralizada (IDG) e a escala de gravi- da, sintoma geralmente presente
dade dos sintomas (EGS). Os critérios
de 2010 são apresentados a seguir: 3 = grave: sintoma persistente, con-
tínuo, com prejuízo da qualidade de
vida e funcionalidade.
IDG Subtotal:___________ (máximo de 9)
Marcar as áreas em que o paciente Sintomas somáticos: responder às
sentiu dor nos últimos 7 dias: seguintes questões
Você apresentou um desses sinto-
Ombro esquerdo (  ) Antebraço esquerdo (  )
mas nos últimos 6 meses?
Ombro direito (  ) Antebraço direito (  ) Dor abdominal: Não (0) Sim (1)
Cervical (  ) Perna esquerda (  ) Cefaleia: Não (0) Sim (1)
Braço esquerdo (  ) Perna direita (  )
Depressão: Não (0) Sim (1)
Braço direito (  ) Mandíbula esquerda (  )
Total do EGS: _____________ (máxi-
Coxa esquerda (  ) Mandíbula direita (  )
mo de 12)
Coxa direita (  ) Lombar (  )
Quadril esquerdo (  ) Tórax (  ) Total do IDG e EGS: _____________
Quadril direito (  ) Abdome (  )
(máximo de 18 pontos)
Dorso (  )
IDG: ____________________ (máximo de 19 pontos) Classifica-se como fibromialgia se
as 3 condições estiverem presentes:
EGS • IDG ≥ 7 e EGS ≥ 5, ou IDG 3-6 e
EGS ≥ 9;
Marcar a gravidade dos seguintes
sintomas nos últimos 7 dias: • Sintomas estáveis e presentes por
pelo menos 3 meses;
• Fadiga (cansaço ao executar ativi-
dades): (0) (1) (2) (3)
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• Não haver outra causa que expli- Exames de autoanticorpos, como fator
que os sintomas. anti-nuclear (FAN) e fator reumatoide
A fibromialgia possui também uma (FR), podem ajudar a excluir lúpus eri-
ampla gama de diagnósticos dife- tematoso sistêmico e artrite reuma-
renciais, principalmente aqueles que toide – pois o FAN e o FR estão pre-
cursam com dor crônica. Dentre os sentes na maioria dos casos dessas
principais, temos: osteoartrite, ar- doenças, respectivamente, ao passo
trite reumatoide, espondiloartrites, que sua positividade não é caracte-
hipotireoidismo, deficiência de vi- rística ou fala a favor da fibromialgia.
tamina D/osteomalácia, polimialgia No entanto, esses exames devem ser
reumática, miopatias inflamatórias, feitos com cautela, pois a fibromialgia
distrofias musculares, parkinsonis- pode ocorrer concomitantemente
mo, hipopotassemia, uso de certos a outras doenças reumáticas. Nesse
medicamentos (estatinas, bloquea- caso, a dor difusa crônica, fadiga e
dores de H2) ou drogas ilícitas (co- distúrbios do sono falam a favor da
caína, cannabis). fibromialgia; lesões cutâneas, nó-
dulos subcutâneos, acometimento
Alguns exames complementares po- pulmonar e renal – comuns no lú-
dem auxiliar no diagnósitco diferen- pus ou na artrite reumatoide – não
cial: reagentes de fase aguda (VHS compõem o quadro da fibromialgia.
e PCR), função tireoideana, avaliação
do metabolismo ósseo (cálcio, para- Exames hormonais tireoideanos
tormônio e vit. D), potássio sérico (uso ajudam a excluir tireoideopatia
de diuréticos), dosagem sérica de en- como possível causa, e exames de
zimas musculares (CPK e aldolase), enzimas musculares são normais
eletroforese de proteínas séricas e na fibromialgia – ao passo que po-
sorologias (HCV, HBV, HIV, citome- dem estar aumentados em doenças
galovírus, toxoplasmose parvovirose). musculares inflamatórias. Outro dado
que pode auxiliar na diferenciação
Os reagentes de fase aguda estão entre fibromialgia e polimialgia
geralmente ausentes na fibromial- reumática é a epidemiologia: nes-
gia e aumentados em condições infla- ta, frequentemente a doença surge
matórias, como polimialgia reumática, a partir dos 50 anos, enquanto na-
miopatias inflamatórias e doenças ar- quela o diagnóstico é mais prová-
ticulares inflamatórias (artrite reuma- vel em idade mais jovem.
toide e espondiloartrites). Lembre-se
que a fibromialgia não é uma condição A anamnese também pode ajudar no
inflamatória, logo, provas inflamatória diagnóstico diferencial ao questionar
não estão tipicamente alteradas. o uso de medicamentos e de drogas
– como cocaína e cannabis.
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MAPA MENTAL DIAGNÓSTICO

Eletroforese de
Metabolismo ósseo PCR, VSH Função tireoideana Enzimas musculares Cálcio sérico
proteínas, sorologias

Diagnóstico diferencial

Exame complementar

Diagnóstico

ACR 1990 ACR 2010

Dor difusa crônica Dor difusa crônica

Presença de 11 pontos dolorosos


Pontos dolorosos (IDG)

Sintomas do sono, humor ou cognição (EGS)

Dor localizada (EGS)


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7. TRATAMENTO (MAO), antagonista de serotonina,


antiparkinsoniano e analgésicos
O tratamento deve se iniciar com
simples e opiáceos leves demons-
a educação do paciente sobre sua
traram benefícios no tratamento da
doença. É extremamente necessário
fibromialgia.
que ele tenha informações sobre o
que é a fibromialgia, seus sintomas e Dentre os compostos tricíclicos, a
as possibilidades terapêuticas. amitriptilina e, dentre os relaxantes
musculares, a ciclobenzaprina podem
A EULAR recomenda que o tratamen-
ser utilizadas, por reduzirem a dor e
to não medicamentoso seja a primeira
melhorarem a funcionalidade. Nor-
tentativa do manejo da fibromialgia e,
triptlina também é uma opção dentre
caso não haja melhora, sejam inicia-
os tricíclicos.
das terapias farmacológicas.
Dentre os ISRS’s, a fluoxetina em altas
Dentre o tratamento não medicamen-
doses (acima de 40mg/dia) também
toso, temos exercícios musculoes-
reduz a dor e melhora capacidade
queléticos, que devem ser realizados
funcional. A fluoxetina, em combina-
duas vezes por semana. Aeróbicos
ção com os tricíclicos, também está
podem ser benéficos para alguns
recomendada. O uso isolado dos de-
pacientes de forma individualizada
mais ISRS’s não é recomendado.
e moderadamente intensa. Alonga-
mento e programas de fortalecimento Dentre os inibidores da recaptação
muscular também podem beneficiar de serotonina e noradrenalina, temos
alguns portadores, bem como reabi- a duloxetina e milnaciprano como as
litação e fisioterapia ou relaxamento. principais recomendações, também
reduzindo a dor e proporcionando
A terapia cognitivo-comportamen-
melhora da funcionalidade.
tal pode beneficiar muitos pacientes,
bem como outros tipos de suporte Já a moclobemida, antidepressivo
psicoterápicos. Já pilates, RPG, ho- inibidor MAO, também é recomen-
meopatia e outras terapias alternati- dada na melhora dos sintomas e da
vas não se mostraram eficazes. funcionalidade. O antiparkinsoniano
pramipexol é outra recomendação,
Em relação à terapia medicamentosa,
especialmente na presença de dis-
pode-se lançar mão de antidepres-
túrbios do sono. A tropisetrona, um
sivos tricíclicos, relaxantes mus-
antagonista da serotonina, também
culares, inibidores seletivos da re-
é recomendada para o tratamento da
captação de serotonina (ISRS’s),
fibromialgia.
inibidores da recaptação de sero-
tonina e noradrenalina (ISRSN’s), Analgésicos simples e opióides le-
inibidor da monoamina oxidade ves também podem ser utilizados,
FIBROMIALGIA 20

ao contrário dos opióides potentes. O Corticoesteróides e anti-inflama-


tramadol é o representante recomen- tórios não esteroidais (AINE’s) não
dado dessa classe. Já os neuromodu- são recomendados para o trata-
ladores gabapentina e pregabalina mento da fibromialgia.
também são recomendados, ao con- A dose de cada medicamento deve
trário do topiramato. Por fim, a zopi- ser individualizada e alterada quan-
clona e o zolpidem podem ser utiliza- do for necessário ou não houver res-
dos para o tratamento dos distúrbios posta terapêutica.
do sono.

MAPA MENTAL TRATAMENTO

Exercícios físicos

Terapia cognitivo-
comportamental

Psicoterapia Não-medicamentoso

Antidepressivos
Reabilitação
tricíclicos

Relaxantes musculares
Fisioterapia
Tratamento

ISRS’s

ISRSN’s

Medicamentoso

Inibidor da MAO

Antagonista da
serotonina

Antiparkinsoniano

Analgésicos simples e
opiáceos leves
FIBROMIALGIA 21

MAPA MENTAL RESUMO

Afeta mais mulheres

2% da população brasileira ACR 1990 IDG

Faixa etária: 35-50 anos ACR 2010 EGS

Epidemiologia Diagnóstico Exercícios


Aspectos psicológicos
Terapia
Heranças genéticas
Não-medicamentoso
Padrão do sono alterado Etiologia Fibromialgia Tratamento
Medicamentoso
Resposta neuro-endócrina alterada

Dose individualizada
Gatilhos
Fisiopatologia Quadro clínico

Sensibilização central Dor difusa crônica

Neuro-hormonais e autonômicas Fadiga

Alterações musculares Distúrbios do sono

Transtornos psiquiátricos

Dor localizada
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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FIBROMIALGIA 23

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