Você está na página 1de 14

Índice

1. Introdução..................................................................................................................2
1.1. Objectivos...............................................................................................................3
1.2. Objectivos gerais....................................................................................................3
1.3. Objectivos específicos............................................................................................3
1.4. Metodologia............................................................................................................3
2. Ética e Deontologia e os desafios...............................................................................4
3. A ética profissional do professor................................................................................5
4. Natureza ética da profissão docente...........................................................................6
5. Deontologia da profissão docente..............................................................................8
6. Ofensas aos princípios que devem orientar os professores........................................8
7. Dimensão axiológica da prática docente....................................................................9
8. Deveres dos professores...........................................................................................10
9. Deveres relativos aos alunos....................................................................................10
Situações de conflito........................................................................................................11
10. Conflitos com alunos............................................................................................11
11. Conflitos com os colegas e com a instituição.......................................................11
12. Critérios de resolução de situações conflituosas..................................................12
Conclusão........................................................................................................................13
Referências bibliográficas...............................................................................................15
1. Introdução
A ética é indispensável para o exercício de toda profissão, principalmente para quem
tem a missão singular de formar futuros profissionais, sendo essencial na vida de todos
os cidadãos. A ética e a deontologia são um espaço de reflexão sobre a acção humana,
na relação consigo própria, na relação com os outros e no exercício e desempenho
profissionais. Segundo Vasconcelos (2005, p.280) “a reflexão sobre o valor ético que
compõe o ensino é essencial para a boa prática, para a formação e aperfeiçoamento dos
professores, resgatando o ensino do círculo das práticas improvisadas, da técnica de
valor universal transposta para qualquer situação, da tecnologia baseada em leis
científicas externas”. É neste contexto que o presente estudo tem como objectivo
analisar as percepções dos docentes sobre os desafios éticos e deontológicos no
exercício das suas funções no ensino superior, nomeadamente na ESGCT. Trata-se de
um estudo qualitativo com abordagem descritiva e exploratória, dado que existe ainda
pouca informação disponível sobre a matéria. Espera-se que os resultados deste estudo
possam ser um contributo para uma reflexão sobre o processo educativo e sobre os
desafios éticos vivenciados na actualidade. O exercício da docência no ensino superior
exige uma postura ética devida à inter-relação entre o docente e seus estudantes, o que
acarreta um duplo compromisso: do docente com a acção de ensinar e do estudante com
a acção de aprender. Esta inter-relação promove a dignidade da pessoa que age, bem
como dos demais, resultando numa correcta acção social. Como refere, ainda,
Vasconcelos (2005, p.282), “a dimensão ética é indissociável do trabalho docente, visto
que as direcções dadas ao processo de ensino estão num patamar ético porque envolvem
decisões de teor político-ideológico que podem afectar a concepção de vida e mundo do
aluno”. A educação no ensino superior deve dotar o estudante de conhecimentos,
competências e atitudes que permitam a sua intervenção no processo de socialização,
bem como a promoção da sã convivência (aprender a viver em comunidade), da
instrução (conhecimentos rigorosos e plausíveis), assim, como também, a sua
emancipação, realização e humanização (aprender a ser). Repensar os desafios éticos no
ensino superior implica múltiplas questões que envolvem a acção do docente, como
profissional, a distinção entre um bom profissional e um profissional bom, a análise dos
currículos e a qualidade dos estudantes que entram e dos que saem após a formação.

2
1.1. Objectivos
1.2. Objectivos gerais
 Desenvolver competências axiológicas no processo de tomada de decisão ética.
1.3. Objectivos específicos
 Identificar princípios legais, éticos e deontológicos.
 Demonstrar capacidade de argumentação e de decisão éticas.
 Analisar comportamentos pessoais e profissionais num quadro de referência
ético-deontológico.

1.4. Metodologia
Quanto ao tema da pesquisa, recorreu-se a manuais, documentação já publicada em
dissertações e em artigos científicos, disponíveis em revistas electrónicas, que serviram
de base para a fundamentação teórica. O levantamento bibliográfico foi indispensável
para realização da pesquisa. O estudo baseou-se numa investigação qualitativa, em um
estudo de caso; por essa razão, os resultados não podem ser generalizados. Contudo, os
dados recolhidos, sendo qualificáveis, permitiram o alcance do objectivo que foi o de
analisar as percepções dos docentes sobre uma sociedade que vivencia uma perda de
valores éticos e morais. Este problema afecta também o ensino superior. “A abordagem
qualitativa de um problema, além de ser uma opção do investigador, justifica-se,
sobretudo, por ser uma forma adequada para entender a natureza de um fenómeno
social” (Richardson, 1999, p. 79). Para a realização da pesquisa qualitativa, optou-se por
uma análise descritiva. Esta teve como principal suporte o conhecimento gerado a partir
da pesquisa bibliográfica.

3
2. Ética e Deontologia e os desafios
Segundo Monteiro e Ferreira (2014, p. 7), “ética é uma palavra que vem do grego
“ethos” que significa carácter, modo de ser, mas também morada ou habitação. Este
significado aplica-se tanto para os indivíduos como para os grupos sociais”. O ensino
superior integra cidadãos que pertencem a uma sociedade que devia ser caracterizada
pela vivência de valores éticos que visassem a promoção da boa convivência, pois, a
ética segundo Ricoeur (2007, citado por Monteiro & Ferreira, 2014, p.7) “reflecte a
intenção de uma vida boa, com e para os outros, em instituições justas. O pensamento
ético diz respeito a uma realidade humana, que é constituída histórica e socialmente, a
partir das relações colectivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem”.
No processo educativo do ensino superior, o docente, ao executar uma acção
responsável, tomar ou defender uma atitude, ou deixar de fazê-lo, põe em evidência o
seu modo de pensar, os seus valores, os seus princípios, os seus hábitos e as suas
escolhas, que são baseados nos valores ou princípios éticos que norteiam a sua conduta.
Perante os actuais desafios tecnológicos, desequilíbrios demográficos e económicos, a
ética não pode permanecer alheia, especialmente diante do seu território de eleição que
é a educação. A ética deve encontrar no campo educativo um espaço para a promoção
do debate. O ensino superior, no processo de aquisição de conhecimentos, competências
e atitudes, deve propiciar aos estudantes e docentes experiências que promovam o
amadurecimento dos cidadãos. Nesse sentido, a ética tem uma importância primordial
dado o seu carácter prático, pois é uma disciplina normativa, cuja função é indicar o
melhor comportamento do ponto de vista moral. Assim, (Vázquez, 1990, citado por
Pizarro, 2017, p.203) falando do conceito da ética e da moral afirma que “a relação
entre esses termos se dá já que a ética se apoia no facto moral; e a moral é caracterizada
por um conjunto de normas, regras, condutas e/ou comportamentos que visam regular as
relaçõ Crisália Tuto REID | Vol.1 | Nº. 9 | Ano 2018 | p. 3 A deontologia, como ramo da
ética, é uma disciplina normativa, ou seja, veicula princípios da conduta humana,
directrizes no exercício de uma profissão e estipula deveres que devem ser seguidos no
desempenho de uma actividade. Para Monteiro e Ferreira (2014, p.13), “o termo
deontologia surge das palavras gregas déon, déontos, com significado de dever, e lógos
que significa discurso, ou tratado”. O termo deontologia tem um âmbito mais específico
e é frequentemente utilizado no terreno das profissões. Os códigos de deontologia não
estabelecem regras de forma universal, mas somente para aqueles que integram
determinada profissão.

4
3. A ética profissional do professor
“Ao discutir sobre questão da ética é necessário ter a consciência de que por mais que
se reflicta sobre a ética nas profissões, essas reflexões nunca esgotam o sentido e a
profundidade das acções éticas” (Vasconcelos, 2005, p. 278). Na análise feita por
Delors et al (2000), no relatório para a UNESCO, citado por Rocha e Correia (2006,
p.3), destaca-se a importância da relação cordial com o estudante quando afirma: O
professor deve estabelecer uma nova relação com quem está aprendendo; passar do
papel de solista ao de acompanhante, tornando-se não mais alguém que transmite
conhecimentos, mas aquele que ajuda os seus alunos a encontrar, organizar e gerir o
saber, guiando, mas não modelando os espíritos, demonstrando grande firmeza quanto
aos valores fundamentais que devem orientar toda a vida. Então, juntamente com o
saber científico, o docente acena para os alunos o saber ético que lhes possibilitará
tornarem-se profissionais respeitados e de conduta impecável. É possível manter um
grau de relacionamento promissor com o aluno sem, contudo, ignorar o limite que deve
haver nessa relação. Nesta óptica, a missão do docente, como educador, não é procurar
agradar sempre os estudantes, mas, sim, ajudar a construir um sólido substrato
educativo que lhes permita alcançar a maturidade humana, intelectual e moral, para a
sua melhor inserção num mundo cada vez mais exigente. Disto se depreende que
somente pela auto-avaliação crítica da prática docente é que os educadores poderão
reflectir sobre a firmeza de próprios conceitos éticos, e assim articulá-los na sua acção
diária. Desta forma, o docente poderá permanentemente transformar o processo social e
o sistema educativo, procurando sempre um significado maior para o seu trabalho e para
a vida. Rios (1997, p.38) observa que “frequentemente se percebe que os próprios
educadores não têm clareza da dimensão política de seu trabalho”. Quanto ao ensino, a
intenção está em transcender a formação técnica, privilegiando as abordagens activas,
críticoreflexivas, de forma a proporcionar aos estudantes a construção de conhecimentos
técnicos, éticos, políticos e sociais. A docência está ancorada num conjunto de saberes
que compõem um universo de significados e sentidos. O trabalho do docente ampara-se
em conhecimentos diferenciados, que se revelam no seu exercício quotidiano, nos quais
se incluem a experiência, aspectos pessoais, e sentimentos que se descobrem e se
constroem no próprio trabalho.

5
4. Natureza ética da profissão docente
Várias ciências, nas últimas décadas, têm procurado identificar e caracterizar as
especificidades da profissão docente e daqueles que a exercem, nas suas múltiplas
facetas. No entanto, muitos aspectos permanecem obscuros. É o caso do pensamento e
do comportamento moral do professor, cuja importância é inegável se se tiver em conta
a função eminentemente ética que a profissão desempenha, por força da sua própria
natureza.
Na obra intitulada “Os Usos da Filosofia”, Mary Warnock afirma a sua convicção de
que a educação deve ser orientada para a incrementação da liberdade das pessoas,
entendendo isto como uma espécie de elevação a partir de uma dada situação sobre a
qual, geralmente, se não reflecte. Tratar-se-ia, então, de possibilitar o conhecimento da
história e do desenvolvimento das instituições e da sociedade em que se vive, bem como
dos instrumentos conceptuais utilizados, como meios de proporcionar essa elevação. E
como a liberdade é um valor, continua a autora, então a educação é intrinsecamente
valorativa.
Salvas as devidas distâncias, não será difícil encontrar aqui ecos da metáfora platónica
da educação como libertação da ignorância - da ilusão - por meio de uma dialéctica
ascensional que é também um processo de crescimento intelectual, moral, humano, em
suma, que conduz da “caverna” para a luz; e do pedagogo como aquele que,
propriamente falando, nada ensina, a não ser o esforço da ascensão e a sua simbólica
libertadora (Platão, República, 514a- 517c).
No seu sentido mais amplo, Ética designa um conjunto de preocupações teóricas
concernentes à intencionalidade da vida humana e às razões pelas quais se age. Daí que
no seu contexto se fale de princípios e de valores com um alcance geral e que estes
princípios encontrem o seu fundamento no plano da racionalidade.
Embora seja corrente tomar os termos ética e moral como sinónimos e usá-los
indiferenciadamente, no campo filosófico a distinção faz-se e justifica-se pelas
diferentes áreas semânticas que os dois termos cobrem: ética significa a teoria do certo e
do errado na conduta e reporta-se aos valores que a ela presidem; moral tem que ver
com a prática, isto é, com os comportamentos efectivos das pessoas em articulação com
os valores (Billingdon, 1988). Assim, a ética refere-se aos princípios, ao que deve ser
em geral - que Kant, por exemplo, designou por imperativo categórico,
aprioristicamente concebido - enquanto a moral remete para as máximas da acção, isto

6
é, para o modo como cada indivíduo interpreta o dever geral em função da situação
particular (Kant, 1960).
Mantendo embora a distinção entre ética e moral, Ricoeur (1990, p. 5) recorre a um
outro critério e considera os seguintes princípios: o do que é “considerado bom” e o do
que “se impõe como obrigatório”; a ética reporta-se ao primeiro e a moral ao segundo. E
acrescenta que não será difícil reconhecer “na distinção entre o objectivo de uma vida
boa e a obediência às normas a oposição entre duas heranças, a herança aristotélica,
onde a ética se realiza pela sua perspectiva teleológica, e a herança kantiana, onde a
moral é definida pelo carácter de obrigação da norma, logo numa perspectiva
deontológica.”
Compreende-se, então, que a educação se encontra na encruzilhada destas duas
“heranças”: ao formar os jovens com vista à autonomia e à cidadania, são os fins que
determinam os processos educativos e há, consequentemente, um ideal orientador; ao
mesmo tempo, a boa consecução dos objectivos educacionais exige normas e o respeito
por elas da parte de todos os intervenientes, com especial ênfase para os professores.
Sejam quais forem as origens dos princípios éticos, problema que não cabe no âmbito
deste trabalho discutir, é pertinente, no entanto, questionar até que ponto devem eles ter
expressão no processo educativo, já que é mediante este processo que o ser humano se
torna apto a agir de forma simultaneamente autónoma e integrada. Semelhante
perspectiva pode encontrar-se já no pensamento de Platão, quando considera que só a
educação permite formar o cidadão virtuoso, isto é, o cidadão moral, estabelecendo
uma estreita vinculação entre ética e pedagogia. Não se trata, por certo de uma
pedagogia qualquer nem, muito menos, da pedagogia relativista e pragmática do sofista
Protágoras, para quem cada indivíduo é medida e critério das suas próprias verdades,
que o mesmo é dizer das suas próprias acções. Platão exemplifica este ponto de vista
com as palavras que põe na boca do personagem Cálicles: “(...) aquele que quiser viver
bem deverá deixar crescer à vontade as suas paixões, sem as reprimir e por maiores que
elas sejam, deverá ser capaz de as satisfazer graças à sua coragem e inteligência, dando-
lhes tudo aquilo que elas desejarem

7
5. Deontologia da profissão docente
Dada, então, a natureza ética da profissão docente, atestada por vários pensadores desde
a antiguidade até à contemporaneidade, é legítimo que se pergunte de que modo - ou
modos - será possível passar do nível da normatividade ideal para o da conduta prática;
isto é: como passar dos princípios éticos, válidos para a acção em geral, para uma
deontologia específica da profissão que encontre neles o seu fundamento.
No momento presente, parece justificar-se plenamente o crescente interesse da
investigação educacional pelos assuntos de natureza deontológica. Estrela (1993)
justifica este interesse não só pelas perspectivas teóricas que tal reflexão abre, mas
também pelas aplicações práticas que pode vir a ter. E dada a multiplicação e
complexificação dos problemas que afectam as sociedades contemporâneas, cuja
repercussão a escola não pode deixar de sentir, a reflexão deontológica não só se
justifica como se mostra realmente necessária. Ao mesmo tempo, determinados
conflitos gerados na escola, relacionados com práticas menos correctas por parte de
alguns professores, parecem exigir que algo seja feito para minorar, se não prevenir, os
seus efeitos.
Lembra ainda a autora que entre os vários aspectos que permitem caracterizar o
profissionalismo se conta o “ (...) exercício correcto e autónomo de uma função
socialmente reconhecida como altruísta, de que o código ético constitui uma expressão”,
como se fosse uma espécie de “imagem de marca da profissão.” (p. 188) As principais
vantagens de um código adviriam da incrementação de uma identidade profissional, que
se reflectiria na imagem interna e externa da profissão e na afirmação de autonomia
relativamente à heteronomia dos regulamentos provenientes das instâncias
governamentais.

6. Ofensas aos princípios que devem orientar os professores


É inegável a contradição entre os princípios postulados e os comportamentos práticos de
alguns (muitos? poucos?) professores. As ofensas mais frequentemente referidas pela
maioria dos inquiridos são o excesso de individualismo e a consequente recusa do
diálogo, por um lado; por outro, a displicência na realização das tarefas escolares.
Outros, embora em menor número, mencionam casos de discriminação racial,
nomeadamente anti-semitismo, e de boicote ao trabalho do grupo pela rejeição das
regras mais elementares do seu funcionamento.

8
7. Dimensão axiológica da prática docente
A questão que, neste âmbito, foi proposta aos entrevistados incidiu sobre a relação entre
pedagogia e valores, tal como eles a perspectivavam. Os discursos foram unânimes: o
acto pedagógico é intrinsecamente valorativo. Trata-se de uma afirmação carregada de
sentido. O que parece poder inferir-se a partir dos contextos que a sustentam é que, por
um lado, não há ensino neutro do ponto de vista axiológico, isto é, toda a palavra e todo
o acto, pelo simples facto de serem esses e não outros, já traduzem uma escolha e, por
isso mesmo, uma valoração - com as quais a pessoa do professor se compromete
inteiramente; por outro lado, “se - como diz Gusdorf (1978: 86) - a educação, no sentido
mais amplo do termo, tem por fim promover a instauração da humanidade no homem”,
então o acto pedagógico deve ser necessariamente sustentado por valores, cuja
dimensão ética é visível, uma vez que é a formação do ser humano que está em jogo e
que não é indiferente o sentido dessa formação. Nas palavras de um dos inquiridos,
“Pedagogia e valores ... eu acho que se dizem um ao outro, que as duas coisas são uma.”
(e 6); outro afirma: “(...) não há ninguém que possa ser pedagogo sem ter valores, os
seus valores em jogo.” (e 2) Curiosamente, embora todos os inquiridos se lhe refiram
sem excepção, são os professores na fase inicial da carreira quem alude com maior
frequência ao carácter valorativo do acto pedagógico. Mas são os da fase avançada que
apresentam discursos mais consistentes e reveladores de um nível profundo de reflexão
sobre o tema.
Relativamente ao modo, ou modos, da formação axiológica, todos os professores
consideraram que o exemplo quotidiano é o instrumento privilegiado mas, da frequência
das ocorrências, infere-se que são os da fase avançada da carreira que lhe atribuem
maior importância.
Os professores admitiram também a possibilidade de abordar os valores a propósito dos
conteúdos programáticos e pela discussão dos fundamentos de atitudes e acções
concretas. Diz um dos inquiridos: “É normal e quotidiano trazer casos para a aula.
Depois, também surgem entre nós situações concretas e eu gosto de os expor e de os
confrontar com elas. E, no meio disto, debatê-las e tentar averiguar como é que nos
devemos um pouco nortear; obrigá-los a meditar sobre isso.” (e 4)
Os valores e atitudes que principalmente os professores na fase inicial da carreira
afirmaram pretender transmitir são liberdade e responsabilidade, persistência e esforço
de aperfeiçoamento e, genericamente, os implicados na Constituição e na Declaração
dos Direitos do Homem. Esta intencionalidade vem ao encontro do ponto de vista de

9
Cordero (1986), quando define o propósito do professor como “O de conseguir a
formação de sujeitos responsáveis por si mesmos, sujeitos dotados de estrutura ética,
senhores de si e dos seus actos e capazes de assumir as suas responsabilidades” (p. 473).

8. Deveres dos professores


A abordagem do tema dos deveres procura dar conta do modo como os professores se
posicionam relativamente às tarefas e aos comportamentos que julgam próprios do bom
desempenho profissional e às respectivas regras orientadoras. Pretende-se, igualmente,
compreender a articulação entre estas regras - práticas, empíricas - e os princípios
fundamentadores que os mesmos professores enunciam.
Todos os inquiridos enfatizaram a existência de deveres: uns como uma necessidade
inquestionável - “Claro que têm deveres, então não têm que ter deveres?” (e 4); outros,
como exigências um tanto escamoteadas - “Às vezes esquecemo-nos disso, mas temos
muitos deveres.” (e 7); outros ainda, como uma presença constante e premente - “ (...)
têm montes de deveres! Acima de tudo, têm deveres! Têm deveres, pois têm.” (e 5).
Esta categoria foi dividida em subcategorias, correspondentes a áreas temáticas: (1)
Deveres relativos aos alunos e (2) Deveres relativos aos colegas e à instituição

9. Deveres relativos aos alunos


Esta foi a área que mais referências suscitaram aos entrevistados, tanto os da fase inicial
como os da fase avançada da carreira, mas a frequência das ocorrências é ligeiramente
superior nos primeiros.
Os deveres mais vezes referidos são, por ordem decrescente: promover o
desenvolvimento pessoal e a autonomia dos alunos, educando-os ou formando-os no
respeito pelos valores fundamentais; respeitar-lhes a individualidade enquanto pessoas e
estabelecer com eles uma boa relação, assente sobre critérios de transparência,
imparcialidade e objectividade; ser cientificamente competente, actualizar-se e adaptar o
ensino às características dos alunos; ser bom profissional independentemente das
condições de trabalho.

10
Situações de conflito
Num meio dominado por complexas teias de relações interpessoais, como é o das
escolas, é natural que ocorram por vezes situações conflituosas entre os vários
interlocutores em presença. Procurou-se compreender que tipos de situações são
consideradas portadoras de conflitualidade e se existe alguma espécie de nexo entre
estas e o modo como os professores encaram as regras da sua profissão. Os
entrevistados distinguiram dois grupos de conflitos: com os alunos e com os colegas e a
instituição; e relataram casos em que eles próprios estiveram envolvidos ou casos de
que tiveram conhecimento, mas sem envolvimento pessoal.

10. Conflitos com alunos


As situações narradas permitem ordenar, por ordem decrescente, os seguintes conflitos
com alunos: Agressão verbal mútua e indisciplina em geral (da parte do aluno);
Autoritarismo, rispidez e inflexibilidade; Assédio sexual Discriminação (sexual, racial)
e favorecimento.
Os dois primeiros tipos de casos podem ser compreendidos à luz das teses sobre o ciclo
de vida dos professores (Huberman, 1989, por exemplo); os dois últimos remetem para
o plano dos fundamentos das condutas, isto é, para o plano ético. Ora se é de esperar
que, mais tarde ou mais cedo, à medida que as atitudes e perspectivas dos professores
sobre a relação de ensino - aprendizagem se vão modificando, os dois primeiros tipos de
conflitos tendam a diminuir, talvez já não se possa esperar o mesmo dos dois últimos,
que não parecem dependentes de idênticos factores, mas antes da formação ética do
professor enquanto pessoa.

11. Conflitos com os colegas e com a instituição


Os maiores conflitos nesta área são provocados por intrigas, falta de transparência nas
relações interpessoais e acusações infundadas de que, por vezes, alguns professores são
vítimas. Há ainda referências a casos de discriminação e prepotência, tanto por parte de
colegas como dos órgãos directivos das escolas.
Torna-se claro, em situações desta natureza ou da natureza das apresentadas no ponto
anterior, que os regulamentos internos das escolas não são suficientes para lhes fazer
face; é na sequência desta convicção que se começa a pensar nas possíveis vantagens de
um conjunto de normas sistematizadas que viessem a funcionar como princípios de

11
acção e julgamento para todos os implicados no processo educativo, em especial os
professores (Blázquez, 1986).

12. Critérios de resolução de situações conflituosas


Quando descrevem situações de conflito, os inquiridos formulam simultaneamente
juízos de valor sobre as soluções encontradas. Assim, consideram que situações com
mais probabilidades de serem bem resolvidas são aquelas cujos mediadores se pautam
por critérios de objectividade, imparcialidade e flexibilidade ou, de acordo com os
casos, proporcionam ajuda ou intervenção terapêutica aos sujeitos envolvidos.
Pelo contrário, marginalizar colegas ou alunos na sequência de qualquer conflito ou não
intervir ao nível das suas causas significa não só que se enfrentou a situação do modo
menos correcto mas também que o conflito não foi resolvido, apenas foi camuflado ou
adiado. Ora, como sugerem dois dos professores entrevistados, “(...) talvez um código
deontológico fosse mais normativo nessas situações.” (e 4) e “Um código seria como
que uma autoridade a que se recorre nesses casos...” (e 8).
Esta perspectiva está em sintonia com o que ficou escrito acima a propósito dos efeitos
e da utilidade de um possível código deontológico. No entanto, no contexto agora em
análise e com excepção das entrevistas citadas, as potencialidades do mesmo não se
tornam evidentes para a maioria dos professores.

12
Conclusão
Desde o presente trabalho agora conclui-se que a ética do docente, sua relação pessoal
com a sociedade de forma geral, passando por questões institucionais e pedagógicas,
questões de relacionamento pessoal com colegas alunos e sociedade de maneira geral.
Temos consciência que actualmente estão passando por questões seriíssimas com
relação à Revista Psicologia & Saberes ISSN 2316-1124 v. 8, n. 11, 2019 268 profissão
docente tem estrita relação com a história da educação, seus impasses e desafios por ela
enfrentado. Diante da realidade vivenciada actualmente em sala de aula. Considerando a
realidade actualmente da sala de aula, podemos afirmar que a função do docente
ultrapassa os muros institucionais. Questionamo-nos então qual realmente é a função
social da instituição na actualidade, porque é tão difícil fazer com que o professor possa
realizar na prática e caminhar com seus alunos em busca de conhecimento de forma
crítica, para que possamos ter cidadãos actuantes e combativos na sociedade. Pois hoje a
instituição é também vítima da violência, seja ela de forma implícita ou explicita, frente
a tantos questionamentos muitas vezes sem resposta concreta, nos resta analisar,
possíveis causas de tanto desconforto, actualmente enfrentado pelo docente no cotidiano
escolar, na pratica efectiva das relações pessoais e interpessoais no contexto escolar. As
notícias que nos chegam constantemente nos mais variados meios de comunicação no
mundo denunciam a violência e o descaso a partir da indisciplina, são os
comportamentos dos alunos. São casos mais vistos nas escolas de todo o país, são
crianças e adolescentes que perdem o encantamento pela escola, pelo aprendizado,
percebemos várias causas podemos citar uma das principais, a situação familiar,
crianças e adolescentes em famílias totalmente desestruturadas, onde pai e mãe saem
para trabalhar em busca de melhores condições de suprir as necessidades básicas de
seus filhos, deixando abandonados em suas próprias casas, a mercê de uma sociedade
consumista, entregues a televisão, a internet as jogos eletrônicos, e até mesmo sob alvo
de pessoas virtuais ou não, trabalhando para influenciar estas criança e adolescentes, os
desvirtuando moral e eticamente.

13
Referências bibliográficas
CUNHA, Pedro D’Orey (1996), Ética e Educação, Lisboa, Universidade Católica
Portuguesa
CAETANO, Ana, SILVA, Maria (2009), Ética profissional e Formação de professores,
Revista Ciências da Educação nº 8

REIS, Carlos, NEVES, Fernando (2011), Livro de Atas do XI Congresso da Sociedade


Portuguesa de Ciências da Educação, Guarda, Instituto Politécnico da Guarda

MANSO, A., MARTINS, C., AFONSO, J., CASULO, J. (2011), Contributo para o


Estudo da Axiologia Educacional de Manuel Ferreira Patrício, Porto, Marânus

MONTEIRO, A. Reis (2006), Para uma Deontologia Pedagógica, Lisboa, Faculdade de


Ciências da Universidade de Lisboa

SILVA, Lurdes (1995), A Profissão Docente e a Deontologia dos Professores, Coimbra,


Ed. Sindicato dos Professores da Região Centro

ROSA, J. Coelho (1999), Deontologia, Lisboa, Escola Superior de Educação João de


Deus

MONTEIRO, A. Reis (2004), Educação e Deontologia, Lisboa, Escolar Editora

MONTEIRO, A. Reis (2008), Qualidade, Profissionalidade e Deontologia na Educação,


Porto, Porto Editora

PENA-VEGA, A., ALMEIDA, C., PETRAGLIA, I. (org.) (2001), Edgar Morin: Ética,


Cultura e Educação, São Paulo, Cortez Editora

14

Você também pode gostar