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HIPERÊMESE GRAVÍDICA

HIPERÊMESE
GRAVÍDICA

OBSTETRÍCIA 1
HIPERÊMESE GRAVÍDICA

HIPERÊMESE
GRAVÍDICA

CONTEÚDO: JULIA CHEIK ANDRADE


CURADORIA: PAULO MAURÍCIO

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HIPERÊMESE GRAVÍDICA

SUMÁRIO

DEFINIÇÃO .................................................................................................................. 4

QUADRO CLÍNICO ..................................................................................................... 4

FATORES DE RISCO .................................................................................................. 5

FISIOPATOLOGIA ...................................................................................................... 5

Fatores endócrinos ..................................................................................................................... 5

Estradiol ......................................................................................................................................... 6

Progesterona ................................................................................................................................ 6

Fatores imunológicos ................................................................................................................. 6

Fatores psicossomáticos........................................................................................................... 6

Fatores infecciosos ..................................................................................................................... 7

COMPLICAÇÕES......................................................................................................... 7

Complicações neurológicas ..................................................................................................... 7

Complicações do trato gastrointestinal................................................................................ 7

Complicações fetais ................................................................................................................... 8

DIAGNÓSTICO ............................................................................................................ 8

CLASSIFICAÇÃO ..................................................................................................... 10

TRATAMENTO ......................................................................................................... 11

Controle de náuseas e vômitos ........................................................................................... 11

Tratamento da forma grave .................................................................................................. 12

Tratamento domiciliar ou hospitalar .................................................................................. 12

CASO CLÍNICO......................................................................................................... 13

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 15

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HIPERÊMESE GRAVÍDICA

DEFINIÇÃO gestantes. O início da apresentação destes


sintomas ocorre, usualmente, a partir da 5
A hiperêmese gravídica é uma forma ex- ou 6ª semana de gestação, com pico de in-
trema de náusea e vômito contínuo, in- tensidade na 9ª semana de gestação. Os
tenso e incoercível que pode ocorrer no pe- sintomas melhoram na maior parte das pa-
ríodo da gestação. cientes até a 16ª e na quase totalidade das
gestantes até 22 semanas. Em cerca de
Vômito, ou êmese, é definido como à ex-
5% das gestantes os sintomas de náuseas
pulsão do conteúdo gástrico pela boca,
e vômitos persistente até o parto.
causado por movimentação corporal este-
reotipada característica do reflexo de vô- Já a apresentação grave, característica de
mito. Já a náusea é definida como uma hiperêmese gravídica, apresenta uma in-
sensação desagradável de necessidade de cidência de até 3,6% nas gestantes. Esse
vomitar. As náuseas podem manifestar-se número tem diminuído, possivelmente as-
associadas a sintomas autonômicos como sociado ao aumento do acesso ao sistema
sudorese fria, sialorreia (aumento da pro- de saúde pela população brasileira.
dução de saliva) e refluxo do conteúdo in-
testinal para o estômago.

A hiperêmese gravídica pode estar associ-


ada à: É importante estar atento à
vômitos tardios da gravidez,
• Perda ponderal (mais de 5% do que não devem ser confundidos
peso habitual). com hiperêmese gravídica.
• Cetonúria.
• Desidratação.
• Desequilíbrio hidroeletrolítico.
QUADRO CLÍNICO
• Distúrbios nutricionais.
As pacientes apresentam vômitos incoer-
É importante excluir outras causas que po-
cíveis, ou seja, que não são passíveis de
dem explicar estes sintomas. Sendo a hi-
controle pela paciente, que não são ces-
perêmese gravídica, por tanto, um diag-
sam com medidas comportamentais para
nóstico de exclusão.
alívio e com a administração de fármacos
Náuseas e vômitos são comuns na gesta- sintomáticos. Além disso, a paciente apre-
ção e ocorrem em mais de 70% das senta alteração eletrolítica, em geral,

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correspondente à alcalose metabólica hi- • Gestação de feto que apresente tri-


poclorêmica, causada por perda de íons ploidia
Cl – nos episódios de vômito. Além de ma- • Pré-eclâmpsia
nifestação de perda ponderal (perda > 5% • Diabetes gestacional
do peso corporal). • Isoimunização Rh

É comum a manifestação de sinais e sinto-


mas associados à:
FISIOPATOLOGIA

• Desidratação – devido a baixa absor- A hiperêmese gravídica possui etiopatoge-

ção de água, secundária aos vômitos. nia multifatorial, mas de etiologia desco-

• Cetonúria. nhecida. São conhecidos, apenas, os fato-

• Apatia e/ou rebaixamento do nível de res associados ao seu desenvolvimento:

consciência.
• Fatores endócrinos
• Fraqueza muscular.
• Fatores imunológicos
• Fatores psicossomáticos
• Outros fatores ex. genéticos
FATORES DE RISCO

São descritos os seguintes fatores de risco Fatores endócrinos


associados à hiperêmese gravídica:
hCG
• Gestação múltipla – como gestação
Dentre os fatores, o fator endócrino é o
gemelar, trigemelar
mais associado à condição e é o melhor
• Doença trofoblástica gestacional. Ex.
descrito na literatura atual. Acredita-se
Gestação molar (mola hidatiforme)
que a produção da gonadotrofina coriô-
• História de hiperêmese gravídica em
nica humana (hCG), produzida pelo trofo-
gestação prévia (maior risco em
blasto placentário, é o principal compo-
15%)
nente endócrino da fisiopatologia da hipe-
• Mulheres jovens, sobretudo adoles-
rêmese gravídica. Sabe-se que o pico de
centes
produção de hCG ocorre entre a 9ª e a
• Nulíparas
12ª semana de gestação, período que cor-
• Distúrbios psiquiátricos
responde ao pico de intensidade de náu-
• Gestação de feto que apresente tris-
seas e vômitos na gestação. A relação
somia do cromossomo 21
temporal desses fatos corrobora essa

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associação. Além disso, gestações múlti- Estradiol


plas e doença trofoblástica gestacional,
Os níveis séricos de estradiol estão ligeira-
condições evidenciadas como fator de
mente aumentados na paciente com hipe-
risco para o desenvolvimento de hiperê-
rêmese gravídica. No entanto, este fato
mese gravídica, cursam com o aumento
não parece ser preditivo de gravidade.
expressivo de hCG.

Progesterona
O hCG apresenta uma estrutura molecular
semelhante ao TSH (hormônio folículo-es- Os níveis séricos de progesterona encon-
tímulante). Esse fato parece estar associ- tram-se aumentados ao longo de todo o
ado com a apresentação de hipertireoi- primeiro trimestre de gestação. Entretanto,
dismo transitório, que ocorre em 60 % das apesar de níveis aumentados, sua relação
pacientes que apresentam hiperêmese causal com a manifestação de hiperêmese
gravídica. gravídica não está bem estabelecida.

A ligação de hCG no receptor tireoidiano Fatores imunológicos


de TSH cursa com ativação do mesmo, le-
vando ao aumento dos níveis séricos de Interação imunológica materno-fetal. Fal-
hormônios tireoidianos (T3 e T4 livre) e di- tam evidências entre a causa e o efeito
minuição dos níveis séricos de TSH, devido dessas interações.
ao feedback negativo central a partir da
Fatores psicossomáticos
produção aumentada de hormônios tireoi-
dianos. São fatores não causais, mas associados a
aumento da gravidade dos sintomas. São
Em resumo:
eles:
• O aumento de hCG parece estar as-
• Gestantes em estados depressivos.
sociado com a manifestação de hi-
• Gestantes em isolamento social,
perêmese gravídica.
emocional e / ou físico.
• A apresentação de hipertireoidismo
• Gestantes que não aceitam bem a
transitório está relacionada com o
maternidade.
aumento de hCG e foi associada a
• Gestantes com história de rejeição
maior gravidade do quadro clínico
da família.
de hiperêmese gravídica.

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• Gestantes com impressão subjetiva Complicações neurológicas


de perda da liberdade a partir da
• Neuropatia periférica, principal-
gravidez.
mente devido à deficiência de vita-
Novos estudos têm demonstrado que há mina B6 e / ou vitamina B12.
relação da hiperêmese gravídica grave e • Descolamento de retina, devido aos
persistência de distúrbios emocionais após vômitos incoercíveis que causam au-
a gestação. O acompanhamento psicoló- mento súbito e repetitivo da pressão
gico precoce dessas pacientes pode dimi- intra-abdominal causando um estí-
nuir a apresentação sintomatológica de hi- mulo para descolamento retiniano.
perêmese gravídica, além de diminuir a • Encefalopatia de Wernicke – apre-
chance de persistência das alterações psí- sentação de oftalmoplegia associada
quicas associadas à essa vivência da ges- a confusão mental e à ataxia. Esta é
tação. uma complicação grave associada a
deficiência de vitamina B1 (tiamina).
Fatores infecciosos
O tratamento é realizado pela admi-

A infecção pela bactéria Helicobacter nistração de soro glicosado e reposi-

pylori é mais prevalente nas pacientes com ção de tiamina na dose de 100 mg

hiperêmese gravídica. por dia, durante 3 dias.


O tratamento oportuno da deficiência de
tiamina pode ser capaz de reverter os sin-
tomas neurológicos, ao passo que o trata-
mento tardio pode ser insuficiente para a
A infecção é um fator não causal, reversão do quadro clínico.
mas associado a exacerbação dos
sintomas e que dificultaria o Falência renal secundária à hipovolemia:
controle dos sintomas. insuficiência renal de causa pré renal, cau-
sada pela desidratação. Manifesta-se,
principalmente, por apresentação de oligú-
COMPLICAÇÕES ria importante de início súbito.

Usualmente, as complicações ocorrem nas Complicações do trato gastrointestinal


pacientes que apresentam hiperêmese
• Síndrome de Mallory Weiss – hemor-
gravídica grave e / ou prologada. São com-
ragia digestiva alta, devido à
plicações importantes:

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aumento de pressão intra-abdominal gravidade da apresentação clínica. É im-


durante o reflexo de vômito. portante questionar sobre sangramento
• Ruptura esofagiana – lesão associ- genital e aumento uterino além do espe-
ada pelo aumento abrupto e intenso rado para a idade gestacional, visando in-
da pressão intra-abdominal durante vestigação clínica de neoplasia trofoblás-
o reflexo do vômito. tica gestacional e gestação múltipla.
• Pneumomediastino – secundário à
Ao exame físico podem ser observadas al-
ruptura esofagiana.
terações do nível de consciência, sinais de
Complicações fetais desidratação, como turgor e elasticidade
diminuídos, olhos fundos, mucosas secas e
As complicações fetais são mais frequen-
pegajosas, além de redução de peso, ex-
tes e de maior gravidade a depender da
cesso da salivação e hipotermia. No exame
duração da hiperêmese gravídica e da de-
cardiovascular, a paciente pode apresentar
mora de intervenção terapêutica eficaz. Em
taquicardia e hipotensão, secundárias a
consequência dos distúrbios hidroeletrolí-
instabilidade hemodinâmica causada pela
ticos e nutricionais, o feto pode apresentar:
desidratação. Na palpação abdominal

• Baixo peso ao nascer. deve ser avaliada a presença de massas e

• Prematuridade. palpação do útero, com medição da altura

• Tamanho pequeno para a idade ges- do fundo uterino, se cabível. No exame ge-

tacional. nital deve ser avaliado presença de san-


gramento genital e verificar eventual eli-
minação de vesículas. Essas medidas au-
DIAGNÓSTICO xiliam na investigação clínica de doença
trofoblástica gestacional e gestações múl-
O diagnóstico da hiperêmese é clínico e la-
tiplas.
boratorial. Sendo essencial a exclusão de
diagnósticos diferenciais. Diagnóstico diferenciais com apresenta-
ção clínica de náuseas e vômitos devem
Na entrevista clínica, é importante caracte-
ser investigados na anamnese. Em desta-
rizar a época de início do vômito, a dura-
que, são diagnósticos diferenciais:
ção dos sintomas e a avaliação da

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Aparelho digestivo Doenças do sistema nervoso central Doenças sistêmicas


Gastroenterites Enxaqueca Infecções (pielonefrite)
Apendicite Hipertensão intracraniana Cetoacidose diabética
Obstruções intestinais Tumores Tireotoxicose
Gastroparesias Doenças convulsivas Insuficiência adrenal
Pancreatite Distúrbios alimentares Hiperparatireoidismo
Colecistite Doenças psiquiátricas, como distúrbios Uremia
Úlcera péptica alimentares de restrição (bulimia e ano- Porfiria intermitente aguda
Doenças disabsortivas rexia) Intoxicações medicamentosas
Hepatites Labirintopatias Abuso de álcool
HELLP*
Esteatose hepática da gravidez*
Acalasia
*Específicas da gestação

Os exames clínicos laboratoriais serão úteis para a exclusão de diagnósticos diferenciais.

Propedêutica laboratorial na exclusão de diagnósticos diferenciais de hiperêmese gravídica

Material: Sangue

Hemograma completo – desidratação, anemia, infecções.

Glicemia – avaliar risco de cetoacidose diabética.

TSH – avaliação de tireotoxicose ou hipertireoidismo transitório.

T4 livre – avaliação de tireotoxicose ou hipertireoidismo transitório.

Gasometria – avaliação de distúrbios ácido-base.

Bilirrubinas – marcador de função hepática

TGO / TGP – marcadores de lesão hepática.

Fosfatase alcalina e Gama GT – marcador de lesão canalicular

Amilase e lipase – avaliação da função pancreática

Ureia e creatinina – avaliação da função renal

Sódio, Potássio, Cálcio, Fósforo, Magnésio – avaliação de distúrbios hidroeletrolíticos

Material: Urina

EAS e urocultura – avaliação de infecções do sistema urinário


Sorologias
Sífilis, HIV, toxoplasmose, rubéola e hepatites A, B e C

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A ultrassonografia obstétrica é utilizada CLASSIFICAÇÃO


para exclusão de gestações múltiplas e
Algumas escalas podem ser utilizadas na
gestação molar (fatores de risco de hiperê-
estratificação de gravidade, acompanha-
mese gravídica).
mento clínico e avaliação da eficácia tera-
A ultrassonografia abdominal é útil na ex- pêutica em pacientes com hiperêmese gra-
clusão de doenças do aparelho digestivo. vídica. A escala mais utilizada é o escore
Pregnancy Unique Quantification of Eme-
A investigação de infecção por H. pylori sis (PUQE), que estratifica o quadro clínico
não deve ser realizada de rotina, podendo a partir de 3 perguntas sobre apresentação
ser indicada em casos refratários ao sintomática em um período de tempo (que
tratamento, sobretudo quando o quadro é pode ser 24 horas, 12 horas ou 6 horas).
estendido para o segundo trimestre da
gestação.

Escore PUQE
1. Por quanto tempo sentiu náuseas nas últimas 24 horas?

Nunca (1) – Até 4 horas (2) – Até 8 horas (3) – Até 12 horas (4) – >12 horas (5)

2. Quantos episódios de vômito nas últimas 24 horas?

Nenhum (1) – Um episódio (2) – Até 3 episódios (3) Até 4 episódios (4) – mais de cinco (5)

3. Quantos momentos observou intensa salivação e esforço de vômito nas últimas 24 horas?

Nenhum (1) – Até 3 vezes (2) – Até 5 vezes (3) – Até 8 vezes (4) – Todo tempo (5)

Classificação – Pontuação
≤6: Forma leve de hiperêmese gravídica
Entre 7 e 11: Forma moderada de hiperêmese gravídica
≥12: Forma grave de hiperêmese gravídica

Tabela adaptada com dados


de Koren G, et al. 2005.

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TRATAMENTO • Adaptações no estilo de vida, como


organização das alimentações e
O tratamento da hiperêmese gravídica é mudanças dos hábitos alimentares.
baseado em 3 vertentes terapêuticas:
Essas medidas podem ser eficazes no con-
• Controle da sintomatologia: náu-
trole dos sintomas e podem ser orientadas
seas e vômitos.
previamente a prescrição de medicações,
• Controle das complicações associa-
ou associadas aos sintomáticos- que de-
das à sintomatologia.
vem ser utilizados quando houver persis-
• Correção da desidratação e dos dis-
tência dos sintomas, mesmo com as mu-
túrbios hidroeletrolíticos.
danças comportamentais.

Controle de náuseas e vômitos Para pacientes que apresentem quadro


grave de hiperêmese deve ser considerada
Orientações alimentares devem ser desti-
a possibilidade de internação hospitalar. É
nadas a todas as pacientes que apresen-
adequada a monitorização dos parâmetros
tem queixa de náuseas e vômitos durante
fisiológicos, como pressão arterial, e da
o pré-natal. São elas:
diurese, para detecção precoce de desidra-
• Evitar estômago cheio ou vazio. tação grave e choque hipovolêmico.
• Fracionar as refeições, diminuindo
Na internação hospitalar, a paciente deve
a quantidade de alimentos ingeri-
ser mantida em dieta zero de 24 a 48 ho-
dos.
ras, com realização de hidratação venosa,
• Não beber grande quantidade de lí-
de 2 a 4l para reposição com solução iso-
quidos durante as refeições.
tônica: Ringer lactato ou solução salina. A
• Evitar odores ou gostos emetizan-
reposição não deve exceder 6.000 ml/ 24
tes identificados pela paciente.
horas.
• Não deitar após as refeições.
• Preferir alimentos secos e leves, As soluções glicosadas podem desenca-
como frutas cristalizadas. dear a Síndrome de Wernicke, por tanto,
• Preferir ingesta de carboidratos, devem ser indicadas com cautela, sendo a
em detrimento da ingesta de gor- reposição tiamina, 100mg em 100ml de
duras. solução salina, administrada em 30 minu-
• Evitar ingestão de líquidos nas pri- tos por via endovenosa, preventivamente
meiras duas horas após acordar.

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para o desenvolvimento desta encefalo- • Ondasterona (Zofran, Vonau, On-


patia. dasetron) 4 a 8mg de 12 em 12
horas, via oral. Se via intravenosa,
Quando hidratação venosa prolongada, é
infusão lenta por 15 minutos a cada
importante realizar a reposição das vitami-
12 horas ou infusão contínua de 1
nas do complexo B (sobretudo B1 e B6) C,
mg por hora por, no máximo, 24
K. A reposição de potássio está indicada
horas. Seu uso deve ser evitado no
nos casos de hipopotassemia, com potás-
primeiro trimestre da gestação.
sio sérico menor que 3,5 mEq/l.

Tratamento da forma grave Efeitos colaterais da ondasterona: flush


facial, constipação intestinal com uso pro-
1. Correção de distúrbios hidroeletro- longado e em doses elevadas (>30mg/dia).
líticos. É prudente afastar-se a possibilidade de
2. Avaliar reposição de vitaminas: tia- prolongamento do intervalo Q-T antes de
mina (B1), piridoxina (B6), C, K. iniciar o tratamento. A segurança de uso
3. Evitar suplementação de deriva- de ondasterona, no que diz respeito ao de-
dos de Ferro – piora dos sintomas. senvolvimento fetal, é controversa. Vale
4. Avaliar a necessidade nutrição pa- ressaltar que, atualmente, a FEBRASGO *
renteral ou enteral, com reavaliação respalda o uso dessa medicação desde o
da via a cada 24 a 48 horas. primeiro trimestre da gestação.
5. Administração de antieméticos,
* FEBRASGO – Federação Brasileira das associa-
anti-histamínicos, sedativos.
ções de Ginecologia e Obstetrícia.

Tratamento domiciliar ou hospitalar Prescrição de anti-histamínicos: pode ser


usado em substituição ou em associação
Prescrição de antieméticos
aos antieméticos.
• Metoclopramida (Plasil) 10 a 30
• Dimenidrinato (Dramin): dose má-
mg/dia (via oral ou via intravenosa).
xima: 200 mg / dia. Usualmente, 50
Em geral, 10mg de 8 em 8 horas.
mg via oral ou via intravenosa a cada
Para administração de via endove-
4 ou 6 horas.
nosa: 1 ampola equivale a 10mg.
• Prometazina (Fernegan): 150 mg /
• Bromoprida (Digesan), 30 mg/dia
dia. Usualmente, 12,5 a 25 mg a cada
(via oral ou via intravenosa). Em ge-
4- 6 horas, via oral, via intramuscular
ral, 10mg de 8 em 8 horas.
ou via intravenosa.

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Os anti-histamínicos apresentam sonolên- deve-se administrar terapia antirrefluxo


cia como principal efeito colateral. esofágico com antiácidos, antagonistas
dos receptores de H2 ou inibidores da
Prescrição de sedativos – uso indicado em
bomba de prótons.
casos de vômitos intensos que não cessam
com antieméticos e com anti-histamínicos, ORIENTAÇÕES COMPLEMENTARES
visando, principalmente, a diminuição da
O uso de gengibre reduz náuseas e vômi-
ansiedade da gestante.
tos, diminuindo frequência, severidade e
• Diazepan 15mg/dia. 5mg de 8 em duração dos sintomas. Efeito comparável à
8 horas, se via oral. ação da vitamina B6 e ao dimenidrinato.
• Levomepromazina (Neozine) – Pode ser manipulado, para uso de 250 mg
3mg; 3 gotas a cada 8 horas, via de 6 em 6 horas, diariamente. Doses até
oral. 1000mg por dia são eficazes e não são as-
sociadas a efeitos colaterais.
Prescrição de corticoides – indicado no tra-
A psicoterapia e a acupuntura são práticas
tamento de casos graves, após a 10ª se-
associadas à melhora dos sintomas de hi-
mana de gestação, em internação hospita-
perêmese gravídica, sobretudo quando
lar, capaz de cessar vômitos em até 2 ho-
suspeita de fatores psicossomáticos rele-
ras após a administração. No entanto, deve
vantes associados ao quadro da paciente.
ser evitado nas primeiras 10 semanas de
gestação, pois aumenta o risco de fendas Na acupuntura, a acupressão do ponto P6
palatinas no feto. (Neiguan) é associada ao alívio dos sinto-
mas. Esse ponto fica localizado três dedos
Pulsoterapia com metilpredinisolona 15 a
proximal da face anterior do punho.
20 mg a cada 8 horas, por via endovenosa.

Prescrição de piridoxina (vitamina B6) –


30 a 70 mg / dia. É associada, usualmente, CASO CLÍNICO
com a administração de dimenidrinato. A
administração dessa vitamina também Anamnese: JMP, 16 anos, comparece a
apresenta efeito anti-emético. UPA com queixa de náusea e vômito (8
episódios por dia) há 72 horas. Nega con-
Outras medicações: Quando a hiperêmese sumo de alimentos não habituais. Con-
gravídica manifesta-se em associação com sumo frequente de álcool (cerveja). Sem
a doença do refluxo gastroesofágico, comorbidades ou alergias. DUM: “uns 3

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HIPERÊMESE GRAVÍDICA

meses atrás” – SIC). História social: mora- 3. Descreva sua conduta para o caso:
dia sem água encanada. • Internação hospitalar, conside-
rando o quadro de instabilidade he-
Ao exame: PA 80x50 mmHg, FC 110,
modinâmica associada a vômitos
Sat02 99%. Hipocorada +; Desidratada
incoercíveis. Monitorizar paciente,
+++; Acianótica, anictérica.
dieta zero nas primeiras 48 horas,

Aparelho cardiovascular, aparelho respira- hidratação venosa (2 a 4 l), prope-

tório e abdome sem alterações. dêutica complementar.


• Com resultados, corrigir distúrbios
1. Mencione os principais diagnósticos eletrolíticos. Avaliar reposição de
diferenciais: vitaminas.
Gastroenterites, apendicite, pancrea- • Realizar administração de antiemé-
tite, colecistite, hepatites, abuso de ál- ticos. Se necessário, realizar admi-
cool, hiperêmese gravídica. nistração de anti-histamínicos, se-
dativos.
2. Quais exames você solicitaria para in- • Após alta, manter uso de sintomá-
vestigação diagnóstica: ticos, se necessário. Orientar a pa-
• Dosagem sérica de BhCG; hemo- ciente sobre as medidas comporta-
grama completo; glicemia; TSH e mentais que podem aliviar os sinto-
T4 livre; EAS e URC, gasometria; mas: realize várias refeições de pe-
• TGO / TGP, gama GT, fosfatase al- quenas quantidades ao longo dia,
calina, amilase, lipase, bilirrubinas, evitando manter o estômago vazio
sorologias hepáticas; ou muito cheio. Evite bebidas du-
• Avaliação de eletrólitos: sódio, po- rante as refeições e evitar decúbito
tássio, cálcio, fosfato, magnésio. logo após as refeições. Evite comi-
Ureia e creatinina. das ou odores reconhecidos como
emetizantes.

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HIPERÊMESE GRAVÍDICA

REFERÊNCIAS

Especialidades Clínico-cirúrgicas – Obstetrícia – Doenças na gestação – Hi-


perêmese gravídica (Professor Paulo Mauricio). Jaleko Acadêmicos. Dispo-
nível em: < https://www.jaleko.com.br>.

Gomez, M. N. A. el al. Ministério da Saúde, 2019. Saúde da Mulher na Ges-


tação, Parto e Puerpério – Nota Técnica para Organização da Rede de
Atenção à Saúde com Foco na Atenção Primária à Saúde e na Atenção Am-
bulatorial Especializada – Guia de Orientação para as Secretarias Estaduais
e Municipais de Saúde.

CABRAL, A.C., DUARTE G., VAZ, J.O., MORAES FILHO, O.B. Êmese da
gravidez. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia
e Obstetrícia; 2018. Capítulo 1, O que é hiperêmese gravídica e qual a sua
importância; p.1-3. [Orientações e Recomendações FEBRASGO, no.2/Co-
missão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal].

Ministério da Saúde, 2006. Manual Técnico: Pré-natal e Puerpério – Aten-


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