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Modelos de gestão I

Apresentação
Os modelos de gestão referem-se à forma como as organizações estruturam suas atividades
(tarefas) e seus recursos (pessoal, financeiro, físico) com a aplicação de procedimentos
(conhecimento e/ou tecnologia), normas e regras (estrutura). Os modelos tradicionais têm sua base
na administração científica, focada na teoria clássica (estrutura e papéis) e neoclássica (objetivos e
metas).

Já os modelos comportamentais da escola de relações humanas veem os indivíduos como aspectos


afetivos e sociais. Por fim, a burocracia tem como objetivo organizar as atividades humanas de
modo estável para a realização de fins organizacionais. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai
estudar os modelos de gestão tradicionais, assim como os seus respectivos teóricos.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar os precursores da administração científica.


• Diferenciar as perspectivas das teorias clássicas, neoclássicas e relações humanas.
• Reconhecer o modelo de gestão empregado nas organizações.
Infográfico
O infográfico a seguir apresenta uma linha do tempo que aponta as principais diferenças entre as
teorias clássicas e neoclássicas e a escola de relações humanas. Observe as peculiaridades que
diferenciam as teorias propostas e a visão sobre os processos e seus funcionários.
Conteúdo do livro
Para entender as teorias da administração, é fundamental conhecer e entender os antecedentes
históricos da administração. A administração científica, ocorrida no final do século XIX e início do
século XX, era baseada na ideia de racionalização do trabalho, e considerava que o mais importante
para o aumento da produção da empresa era aumentar o nível operacional.

O livro Técnico em administração: gestão e negócios, base teórica desta Unidade de Aprendizagem,
apresenta esse panorama histórico. O primeiro trecho selecionado para sua leitura inicia no item
Antecedentes históricos da administração e vai até o final do segundo parágrafo da página 24. Na
sequência, as páginas 34 e 35 trazem o conceito de burocracia. Leia até o box Para saber mais.

boa leitura.
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G ES CL Á U D
T255 Técnico em administração [recurso eletrônico] : gestão e
negócios / Cláudio V. S. Farias, organizador. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2013.

Editado também como livro impresso em 2013.


ISBN 978-85-65837-71-2

1. Administração. I. Farias, Cláudio.

CDU 658(075.3)

Catalogação na publicação: Natascha Helena Franz Hoppen - CRB 10/2150


• Thomas Bateman (1998);
DEFINIÇÃO
• Eunice Laçava Kwasnicka (1995);
Essas abordagens entendem
que a administração é o • Stephen Robbins (2004).
processo de tomar decisões
sobre objetivos e utilização E geral, esses autores apresentam uma trajetória linear da TGA, iniciando pelos
Em
de recursos, sejam materiais, a
antecedentes históricos da administração, desde a antiguidade, passando pela
humanos, financeiros, I
Idade Média, até os dias atuais, situando a administração como uma ciência mo-
informacionais, entre outros, d
derna e focando no processo administrativo. Em comum, destacam os papéis
para a obtenção dos resultados e as habilidades do administrador e as características básicas das organizações,
previstos, sobretudo, na forma a
além da apresentação dos aspectos centrais das teorias da administração científi-
de lucro. c da administração clássica e neoclássica, das relações humanas, estruturalistas,
ca,
c
comportamentais, de sistemas, sociotécnicas e de contingência.

A seguir, são apresentados os aspectos centrais das principais abordagens do pen-


samento administrativo gerencial consolidado ao longo do século XX.

Antecedentes históricos da administração


A hegemonia das organizações, expressa no caso inicial, constitui um conjunto de
IMPORTANTE
fatos históricos, sociais, políticos e econômicos da atualidade. Isso não significa
Henry Ford foi
que não existiam organizações ou que não havia administração antes do século
o precursor da
XX. Ainda na antiguidade, havia uma preocupação com a administração, o que
produção em massa
pode ser verificado no livro A república, de Platão, na estrutura de comunicação
com a adoção da
entre Moisés e o povo hebreu, nos registros egípcios sobre a burocracia ou no pla-
linha de montagem,
nejamento estratégico grecoromano.
que se tornou um
ícone da administração Deve-se destacar também a influência da Igreja Católica e dos exércitos militares
científica. A ideia central na hierarquia, disciplina, descentralização de atividades e centralização de coman-
do fordismo consistia em do, entre outros antecedentes presentes ainda hoje nessa perspectiva de adminis-
acelerar a produção por tração gerencial.
meio do trabalho ritmado,
coordenado e econômico,
diminuindo o tempo de
duração da produção com a Administração científica
rápida colocação do produto
no mercado. A produtividade O principal autor do movimento da administração científica foi o engenheiro indus-
poderia aumentar, aprimorando- trial americano Frederick Winslow Taylor, comumente chamado de pai da adminis-
se a capacidade de produção tração, devido à sua preocupação em tratar a administração de forma científica e não
do trabalhador por meio da empírica. Seus principais conceitos foram apresentados principalmente nos livros
especialização e da repetição. Shop management (1903) e Princípios de administração científica (1911).

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Taylor entendia que havia um grande desperdício de recursos (materiais e tempo)
e que não existia um processo de gestão capaz de obter maior eficiência produti-
va. Assim, focou suas propostas na análise das atividades e tarefas desempenha-
das pelos trabalhadores industriais da virada dos séculos XIX e XX. No seu enten-
der, havia um método correto de trabalho que garantia resultados e também uma
forma errada que leva ao desperdício. Assim, suas principais propostas da organi-
zação racional do trabalho (ORT) foram:

• análise da tarefa;

• a seleção científica do trabalhador;

• o estudo de tempos e movimentos;

• padronização do trabalho e treinamento intensivo.

Os princípios e as técnicas da administração científica procuravam combater o


desperdício e aumentar a eficiência da produção por meio da racionalização do
trabalho. Este deveria ser realizado seguindo os movimentos necessários para a DEFINIÇÃO
execução da tarefa, dentro do tempo padronizado para sua execução, com gran- A ORT é um conjunto de
de centralização do poder, pequena amplitude de controle e impessoalidade nas medidas que envolvem
decisões. a seleção científica do
trabalhador para que
A ORT prevê uma separação entre os gerentes, que definem, planejam e contro-
desempenhe a tarefa mais
lam o trabalho e os operários que o executam. Para isso, é necessário que uma
compatível com suas aptidões.
tarefa seja dividida no maior número possível de subtarefas, tornando-a simples
Assim, é capaz de adquirir
de ser desempenhada, formando, assim, o desenho de cargos e tarefas.
maestria a partir do treino e
A ênfase na tarefa tem como objetivo o aumento da produtividade da empresa da repetição de atividades
por meio do aumento do nível operacional, partindo da ideia de que o homem é padronizadas, tanto o tempo de
um ser eminentemente racional, que pode sempre escolher a melhor alternativa e execução como os movimentos
maximizar os resultados de sua decisão. a serem realizados.

Dentro do conceito de homo economicus, o movimento da administração científi-


ca vê o ser humano como alguém preguiçoso, egoísta, que não gosta de trabalhar.
Entretanto, diante do medo de passar fome e da necessidade de obter dinheiro
para sobreviver, o homem procura o trabalho. Assim, é fundamental para a em-
presa adotar um plano de incentivos financeiros e ter supervisão direta para obter
maior produtividade de seus trabalhadores.

PARA SABER MAIS


Mais informações sobre a linha de montagem de Ford e suas relações com o consumo de carne e da
produção em massa você encontra em Peinado e Graeml (2007).

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Teoria clássica e neoclássica
A teoria clássica está focada em dois alicerces: na definição de uma estrutura
e na definição de papéis que precisam ser executados nessa estrutura, com es-
pecial atenção para os papéis desempenhados pelos administradores. As con-
NO SITE
tribuições da teoria neoclássica foram o foco nos objetivos e nas metas que
Assista ao filme Tempos
deveriam referenciar tanto a estrutura como a atuação dos administradores.
modernos, de Charles Chaplin,
disponível no ambiente virtual A preocupação inicial de Henri Fayol, engenheiro francês que primeiro defen-
de aprendizagem: deu as ideias da teoria clássica, estava vinculada ao crescimento industrial do
www.grupoa.com.br/tekne. início do século XX. Ele entendia que havia funções administrativas a serem de-
sempenhadas em todas as estruturas produtivas, principalmente na área indus-
trial, como governo, militares, entre outras. Fayol partia da análise de que todas
as operações de uma indústria poderiam ser divididas (Quadro 1.1).

Quadro 1.1 Divisão das operações em uma indústria

Técnicas Relacionadas com a transformação e com a produção


de bens.

Comerciais Oriundas das transações de compra e venda.

Financeiras Vinculadas à obtenção de captação.

Contábeis Realizadas de acordo com os registros necessários das


movimentações patrimoniais.

Segurança Voltadas para a preservação e a proteção de seus bens.


Técnico em administração: gestão e negócios

Administrativas Responsáveis por integrar, dirigir e sincronizar as


demais atividades.

Logo, todas as organizações necessitariam da administração e essas divisões


compreenderiam as atividades mais importantes a serem realizadas, de maneira
ordenada, seguindo princípios administrativos.

A teoria neoclássica foi uma resposta às necessidades de redefinição de estru-


turas empresariais, no período pós-guerra. O tema central trata da definição so-

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bre os níveis de responsabilidade, hierarquia e centralização/descentrali-
zação das decisões, provocando reformulações nos desenhos organizacionais/
departamentais, com reflexos no redimensionamento de tarefas e operações
necessárias à obtenção dos resultados empresariais. Ganham destaque tam-
bém os aspectos vinculados à comunicação interna e externa e à formação
de gestores dentro das organizações, alinhados com a cultura hegemônica da
empresa, marcadamente vinculada aos seus proprietários.

Os pressupostos neoclássicos têm sido fundamentais para a perspectiva


gerencial da administração na atualidade, que, devido à crescente compe-
titividade estabelecida pelo mercado, entendem a necessidade de redefinir
estruturas empresariais para a garantia de obtenção dos objetivos e resulta-
dos, buscando mais eficácia e lucros maiores. Exigem que o administrador
conheça os aspectos técnicos e específicos de sua atividade, como a direção
de pessoas, por exemplo. Assim, as principais características das teorias clássi-
ca e neoclássica são:

• divisão de trabalho;

• centralização das decisões;

• poucos subordinados por gerentes (pequena amplitude de controle);

• impessoalidade nas decisões;

• busca de estruturas e sistemas perfeitos.

Processo administrativo
Segundo Fayol (1990), é função do administrador tomar decisões, estabelecer

Fundamentos de administração
metas, definir diretrizes e atribuir responsabilidades aos demais empregados.
Assim, a atividade administrativa seria constituída de cinco funções: prever,
organizar, comandar, coordenar, controlar.

Já os autores neoclássicos entendem que haveria aqui a necessidade de uma


mudança para quatro funções, agrupando o comandar e o coordenar no item
direção. Assim, as funções que compõem o processo administrativo para os au-
tores neoclássicos são planejamento, organização, direção e controle.

A Figura 1.1 apresenta as funções que compõem o processo administrativo se-


gundo os autores neoclássicos.
capítulo 1

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Planejamento Organização
Definir metas/objetivos (estratégicos, Organizar, estruturar e integrar os
táticos e operacionais) e o meio mais recursos e os diversos setores
adequado para alcançá-los, como envolvidos, incluindo objetivos,
planos de ação, procedimentos, estrutura, departamentos, cargos e
orçamentos, programas, normas e tarefas especializadas.
regulamentos.

Controle Direção
Avaliar os resultados obtidos na Dar instruções sobre como devem ser
busca pela máxima aproximação ao executadas as atividades previstas
que foi planejado, exigindo critérios para a obtenção dos objetivos/metas
de avaliação, medidas corretivas, de estabelecidos, considerando a
manutenção, coercitivas ou de estrutura e a hierarquia da
regulação. organização (vertical/horizontal).

Figura 1.1 Funções do processo administrativo.

Organograma, departamentalização, linha e staff


O organograma está relacionado à especialização do trabalho e sua organiza-
ção em setores administrativos. Propõe o desdobramento horizontal e verti-
DEFINIÇÃO cal da organização, competindo à direção traçar estratégias, planos e objetivos
Organograma é o desenho para a organização e aos gestores/supervisores cabe realizar a organização
de responsabilidades da ttática. O objetivo é atingir as metas traçadas, incluindo a supervisão sobre os
organização. Tem por objetivo níveis operacionais, para aqueles que realizam o trabalho previsto, garantindo
formalizar e estabelecer as os resultados.
relações de poder e de comando
sobre o trabalho, incluindo os Seguindo os princípios de administração propostos, apresentamos os conceitos
fluxos de comunicação entre os de linha e de staff (assessoria). Assim, a linha apresenta a hierarquia a qual to-
níveis estratégicos, táticos e dos estão submetidos na organização, seguindo os princípios da cadeia escalar,
operacionais. autoridade e unidade de comando, na qual cada indivíduo possui apenas um
chefe. Já o staff são órgãos prestadores de serviços especializados, como asses-
sorias, consultorias (internas ou externas) e conselhos consultivos, em que não
está presente o princípio da cadeia escalar, já que os serviços que prestam são
orientações sobre como a organização deve proceder em casos específicos.

Esse modelo pode ser analisado verticalmente, no qual estão presentes os níveis
de hierarquia e responsabilidade, e horizontalmente, a partir dos diferentes tipos
de atividades desenvolvidas na organização.

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Escola das relações humanas
A teoria das relações humanas teve início a partir dos trabalhos de Mary
Parker Follet, como uma alternativa à tendência de desumanização do traba-
lho, decorrente da aplicação de métodos e técnicas da administração cien-
tífica (GRAHAM, 1997). Mas o fato de origem reconhecido é a experiência de
Hawthorne, coordenada por Elton Mayo, psicólogo industrial australiano e
professor da Universidade de Harvard (MAYO, 1933). Essa experiência, realizada
entre 1927 e 1932, compreendeu quatro fases, com o objetivo inicial de analisar
a influência do ambiente na produtividade, o que não se confirmou ao longo do
experimento, já que as principais conclusões foram, entre outras, as seguintes:

• O nível de produção é resultante da integração social.

• O comportamento social dos empregados, que agem/reagem como mem-


bros de grupos.

• A existência de recompensas e sanções sociais.

• A existência de normas e padrões estabelecidos pelo grupo – condicionado-


res do comportamento dos trabalhadores.

• A existência de uma organização informal e espontânea que emerge das


necessidades de segurança, aprovação social e afeto.

O conceito de homo socialis, em oposição ao conceito de homo economicus,


de acordo com a escola das relações humanas, entende que o ser humano
não pode ter seu comportamento reduzido ao mecanicismo ou às relações
econômicas, já que é condicionado pelo sistema social, devido à existência
de necessidades vinculadas ao contexto social. Assim, há a necessidade de ser
aceito pelo grupo social e de participar das decisões, das definições de objeti-
vos, entre outros.

A escola das relações humanas revelou que, além dos aspectos econômicos
necessários à sobrevivência, os fatores afetivos e sociais são importantes
para o trabalhador, já que são pessoas dotadas de sentimentos, desejos e te-
mores.

PARA SABER MAIS


Mais detalhes sobre a experiência de Hawthorne você encontra no livro Teoria geral da administração, de
Fernando C. Prestes Motta e Isabella F. Gouveia de Vasconcelos (2006).

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Teorias comportamentais e de liderança
Estudos posteriores aos experimentos de Hawthorne identificaram que não havia
uma relação tão direta entre a satisfação das necessidades psicossociais dos em-
pregados e o aumento de produtividade, conforme apontara a escola das relações
humanas. Esses estudos indicaram que a adoção de um modelo de gerência par-
ticipativa e a melhoria do clima como medidas para a busca de maior produtivi-
dade eram limitadas. Logo, não se trata de entender a relação entre fatores sociais
e econômicos nas relações de trabalho assalariado.

Assim, os novos estudos sobre o comportamento humano no trabalho, sobre a moti-


vação e a liderança apontaram a existência de uma complexidade de fatores, como a
busca por autonomia, autodesenvolvimento e o sentido do trabalho. Entre as princi-
pais teorias sobre motivação e liderança, estão: hierarquia das necessidades huma-
nas; teoria X; teoria Y; teoria dos dois fatores.

A hierarquia das necessidades humanas foi desenvolvida por Abraham Mas-


low (2001) e entende que existem cinco grupos de necessidades, que podem
ser representados na forma de uma pirâmide: fisiológicas, de segurança, so-
ciais, de estima e de autorrealização (Quadro 1.2). Assim, o homem, seguindo
prioridades individuais, nesta ordem, busca satisfazer primeiro as necessidades
básicas para depois deslocar energia para a satisfação das necessidades mais
complexas.

Quadro 1.2 Grupos de necessidades

Fisiológicas Relacionadas à manutenção do corpo humano, como a alimentação, o


frio e o calor, além dos equipamentos de trabalho e do salário recebido.

Segurança Envolve tanto a segurança física (contra a violência) como os recursos


financeiros, da família e da saúde, ou ainda vinculados à estabilidade da
relação de trabalho.

Sociais Vinculam-se à atividade social, como amizades, família e outros espaços


de socialização que, no trabalho, são relacionados com a interação com os
colegas e o relacionamento com a chefia.

Estima Vincula-se ao reconhecimento, ao respeito e ao prestígio nos mais diversos


meios sociais.

(continua)

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Quadro 1.2 Grupos de necessidades (continuação)

Autorrealização É instintiva do ser humano e está vinculada ao sentido das atividades


que se realiza, à melhor utilização de suas habilidades, à superação dos
desafios, à resolução de problemas, ao senso de moralidade e até mesmo
ao prazer no trabalho.

A teoria X e a teoria Y, de Douglas McGregor (1970), afirmam que o comporta-


mento humano está vinculado aos diferentes estilos de liderança. Assim, a teoria
gerencial convencional é chamada de teoria X e a gerência participativa é denomi-
nada teoria Y, como contraponto à primeira.

Para o modelo teórico da teoria X, as pessoas são preguiçosas, indolentes e ten-


dem a evitar o trabalho, ou seja, evitam a responsabilidade para se sentir seguras
e são ingênuas e sem iniciativa. Assim, é fundamental uma gestão que assuma o
controle do processo de trabalho, estabelecendo regras claras, punições e recom-
pensas para a consecução dos objetivos gerenciais.

Já, para a teoria Y, as pessoas gostam do trabalho que exercem e são esforçadas e
dedicadas. Assim, a gerência tem o papel de intermediar as relações de trabalho e
proporcionar as melhores condições, pois, se o trabalho é algo natural a ser reali-
zado, o trabalhador poderia assumir responsabilidades e o controle do seu próprio
trabalho, com criatividade e competência.

Herzberg (1959, 1976) entende que o ser humano possui duas atitudes diferen-
tes em relação ao trabalho, buscando não só a satisfação de suas necessidades
elementares (higiênicas), mas também o aperfeiçoamento de suas habilidades,
de seu espírito e o desenvolvimento de seu potencial humano. A esses conceitos,
denominou teoria dos dois fatores (Quadro 1.3).

Quadro 1.3 Aspectos do trabalho relacionados com a teoria dos dois fatores

Higiênicos Motivacionais

• a natureza do cargo; • o conteúdo do cargo;

• o contexto da empresa; • a natureza das atividades/tarefas;

• o ambiente de trabalho; • o controle do indivíduo;

(continua)

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Quadro 1.3 Aspectos do trabalho relacionados com a teoria dos dois
fatores (continuação)

• as exigências de controle mantidas pela • as possibilidades de realização;


empresa;

• o salário; • o reconhecimento e o crescimento profissional;

• o relacionamento com a chefia; • a responsabilidade pelo próprio trabalho.

• os benefícios e serviços sociais.

Assim, os fatores higiênicos estão relacionados às condições sob as quais o tra-


balho é realizado, portanto, são extrínsecos e ambientais. Logo, previnem insatis-
fação, mas são incapazes de produzir algum tipo de motivação e nunca são com-
pletamente satisfeitos. Porém, à medida que aumenta o grau de insatisfação das
necessidades higiênicas, aumenta a insatisfação com o trabalho.

Os fatores motivacionais estão relacionados ao aprendizado e à realização do


potencial humano no trabalho, por isso, são intrínsecos. Estão associados à satisfa-
ção no trabalho e incitam os indivíduos a um desempenho superior. Porém, a não
satisfação desses fatores não gera desmotivação.

Outras teorias sobre a motivação humana no trabalho


David McClelland propôs uma teoria contingencial para a motivação (Quadro
1.4), entendendo que o comportamento humano é resultado da combinação de
três fatores/desejos inconscientes (MCCLELLAND; STELLE, 1973).
Técnico em administração: gestão e negócios

Quadro 1.4 Fatores da teoria contingencial para a motivação

Realização Vinculada ao reconhecimento dos pares sobre sua excelência


técnica ou profissional.

Afiliação Relacionada à aceitação pelo grupo e à qualidade das


relações interpessoais.

Poder Sentimento de ter de tomar decisões sobre indivíduos,


recursos ou organização.

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A administração como campo do conhecimento está situada sob a perspectiva da
manutenção da ordem e da razão, não apenas contribuindo, mas ratificando a teoria
weberiana. Assim, a chamada Teoria Geral da Administração e as teorias organizacio-
nais, desde Taylor e Fayol até os autores contemporâneos, têm proposto um conjunto
de ideias para as organizações. São exemplos os estudos sobre produtividade, efi-
ciência, eficácia e liderança, orientados pela crença no que é racional e, como tanto,
legítimo. Enfim, generalizando, a sociedade moderna e a administração encontram-
-se sob o paradigma da racionalidade instrumental legal, teorizado por Max Weber.

O que é burocracia
Conforme Motta e Vasconcelos (2006), na organização burocrática, as interações
entre os indivíduos devem seguir padrões de impessoalidade, que reprimam a
espontaneidade e a possibilidade de conflitos de interesse. Assim, a burocracia
passa a ser uma solução organizacional com o objetivo de evitar a arbitrariedade,
o confronto entre indivíduos e grupos e os abusos de poder. Seu objetivo é organi-
zar a atividade humana de modo estável para a realização de fins organizacionais
explícitos (MOTTA; VASCONCELOS, 2006).

Para o sucesso da burocracia, é necessária a adoção (imposição) de regras claras


que orientem (determinem) como o trabalho humano deve ser realizado, seguin-
do rotinas e procedimentos que garantam estabilidade ao processo, que redu-
zam suas incertezas e ofereçam os resultados previamente planejados por quem
comanda a organização burocrática (Figura 1.4). Percebe-se que a burocracia está
relacionada com a adoção de uma estrutura organizacional que possibilite maior
competitividade, alinhada à lógica de mercado da modernidade.

DIRETORIA
Planejamento
Técnico em administração: gestão e negócios

estratégico

GERÊNCIA MÉDIA
Implementação
das decisões

NÍVEL OPERACIONAL
Rotinização
das funções

Figura 1.4 A estrutura burocrática, segundo Max Weber.


Fonte: Adaptada de Motta e Vasconcelos (2006).

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Assim, o pensamento administrativo surge como consequência do processo de
modernização da sociedade, é a expressão da lógica burocrática, baseada no con-
trole da atividade humana por meio da regra, com o objetivo de aumentar a pro-
dutividade e a geração de lucro na sociedade industrial (MOTTA; VASCONCELOS,
2006).

PARA SABER MAIS


Pesquise na internet sobre o conceito de racionalização do direito.

Evolução das relações econômicas e


produtivas
A economia também passou por uma transformação radical. A circulação de
moeda resultou no enriquecimento de uma classe (burguesia), que, por meio do
comércio e do desenvolvimento industrial, impôs um modelo de produção e consu-
mo de bens e serviços em massa, portanto, padronizados, alcançando ganhos até
então não imaginados. Percebe-se, dessa forma, uma transformação nas formas de
planejamento e controle sobre a produção, o que resultou em mudanças no traba-
lho, passando de um modelo artesanal para o sistema industrial e no consumo de
bens e serviços.

No modelo artesanal, o trabalhador possuía o conhecimento necessário à pro-


dução, era responsável pela provisão de materiais e pela construção dos próprios
Fundamentos de administração
instrumentos e ferramentas, detendo o controle de todo o processo produtivo.
Havia autonomia para determinar a produção, tanto em termos de qualidade
como em quantidade, ainda que os tempos de produção estivessem totalmente
subordinados aos tempos da natureza.

Logo, é preciso compreender que o trabalho artesanal não é apenas sinônimo de


trabalho manual, mas sim de um modo de produção centrado no trabalhador.
Nele, os bens estão personalizados na figura de quem o produz e não nas neces-
sidades de quem o consume. Do ponto de vista da economia de mercado, havia
uma demanda reprimida, que se tornou oportunidade para o aumento da pro-
dução por meio de: aceleração industrial; divisão social do trabalho; especializa-
ção do trabalhador; substituição das ferramentas por máquinas; e substituição da
capítulo 1

força humana pela força motriz.

35
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Dica do professor
O vídeo a seguir traduz os desejos dos funcionários em cada uma das duas escolas: Escola clássica e
Escola das relações humanas.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Na prática
Para entender como as teorias de gestão se aplicam na prática, pense nos produtos que você
encontra em um supermercado. Cada produto tem um sistema de produção particular, e as
indústrias responsáveis se utilizam de modelos produtivos construídos com base nas teorias
clássica, neoclássica e humanista.

Perceba que as teorias da administração são empregadas em negócios simples e complexos, ainda
que seus gestores não pensem sobre elas. No entanto, conhecendo seus aspectos, é possível
identificar os melhores processos e saber como adaptá-los às características do seu negócio.
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Tempos modernos

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

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