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Universidade Lúrio

Faculdade de Ciências de Saúde


FCS

Licenciatura em Psicologia Clínica

Transtorno Do Pânico

Docente: Arsénio Bambo


Nampula
2023
Melita António Jacinto

Transtorno Do Pânico

O presente trabalho
individual é de carácter
avaliativo e enquadra-se no
âmbito da Cadeira de
Psicopatologia do Adulto e
do Idoso leccionada pelo
docente Arsénio Bambo

Docente: Arsénio Bambo


Nampula
2023
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 4

Transtorno Do Pânico ....................................................................................................... 5

Etiologia ........................................................................................................................... 6

Diagnóstico ....................................................................................................................... 7

Diagnóstico Diferencial .................................................................................................... 7

Tratamento Do Transtorno Do Pânico.............................................................................. 9

Reacções Durante Um Ataque De Pânico ...................................................................... 12

Prognóstico e Prevenção ................................................................................................. 13

Meios de Vencer o Transtorno Do Pânico ..................................................................... 14

Conclusão ....................................................................................................................... 16

Referencias Bibliográficas .............................................................................................. 17


Introdução
O transtorno do pânico (TP) é caracterizado pela presença de ataques de pânico
recorrentes que consistem em uma sensação de medo ou mal-estar intenso acompanhada
de sintomas físicos e cognitivos e que se iniciam de forma brusca, alcançando
intensidade máxima em até 10 minutos. Estes ataques acarretam preocupações
persistentes ou modificações importantes de comportamento em relação à possibilidade
de ocorrência de novos ataques de ansiedade.

Os pacientes com TP seguem um padrão longo (que pode se estender a até uma década)
de visitas às emergências médicas antes do diagnóstico à procura de uma causa orgânica
para seus sintomas1 . Portanto, além de psiquiatras, também médicos em geral e, em
especial, aqueles que trabalham com atenção primária e serviços de emergência médica
devem estar familiarizados com os critérios do TP. O conhecimento desses profissionais
é de extrema importância ao considerarmos a alta prevalência dos ataques de pânico na
população em geral e a necessidade de saber diferenciar os ataques de pânico isolados
da síndrome completa (o TP) e de outros problemas médicos que podem se apresentar
como uma crise de ansiedade. (Salum GA, Blaya C, Manfro GG 2009)

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Transtorno Do Pânico

O transtorno do pânico, também conhecido como síndrome do pânico, é caracterizado


pela recorrência de ataques de pânico. A pessoa com essa condição passa a sentir medo
de sofrer novas crises, modificando o seu comportamento para evitar situações que
podem conter gatilhos emocionais.

Os ataques de pânico são consideravelmente comuns, atingindo cerca de 10% da


população, segundo o DSM V. Trata-se de crises de cerca de 15 a 30 minutos que
podem ocorrer em qualquer lugar sem aviso prévio. (Manfro GG, Heldt E, Cordioli
2008)

No momento do pânico, as pessoas sentem muito medo e podem ter sensação de morte,
além de diversos sintomas físicos como:

 Tremores pelo corpo;


 Formigamento de membros;
 Náusea;
 Tontura;
 Suor excessivo;
 Dor no peito;
 Falta de ar;
 Aceleração de batimentos cardíacos;
 Desconforto intestinal;
 Respiração acelerada.

Como a experiência do ataque por si só é assustadora, acaba desencadeando mais


sintomas.

Não é necessariamente preciso ter um transtorno mental para ter um ataque de pânico.
Situações muito estressantes e que normalmente despertam medo, como acidentes de
trânsito, assaltos e o diagnóstico de uma doença, podem provocar um ataque.

O medo de viver novas crises e não saber o que fazer acaba levando ao isolamento
voluntário. Além disso, por temerem a reacção de familiares e amigos, pessoas com esse
transtorno não costumam compartilhar que estão tendo ataques de pânico. Elas optam
por reduzir o contacto social para não serem “pegas” em estado de pânico.

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Etiologia

O TP é uma doença complexa, sua etiologia é baseada em diferentes teorias, as quais se


complementam e estão em constante evolução conceitual.

 Factores Biológicos

Estudos indicam que os sintomas estão relacionados a uma gama de anormalidades


biológicas da estrutura e da função do cérebro a partir da desregulação do sistema
nervoso central e periférico na sua fisiopatologia. Afirmam que o sistema nervoso
autónomo de alguns pacientes exibe aumento do tónus simpático, adaptando-se
lentamente a estímulos repetidos e respondendo de maneira excessiva a estímulos
moderados. Os principais sistemas de neurotransmissores implicados são os da
norepinefrina, da serotonina e do ácido у-aminobutírico (GABA). A disfunção
serotonérgica é bem evidente no transtorno do pânico e vários estudos com
medicamentos mistos agonistas e antagonistas da serotonina demonstraram aumento dos
níveis de ansiedade. Essas respostas podem decorrer da hipersensibilidade pós-sináptica
à serotonina no transtorno. Existem , ainda, de forma pouco conclusiva, estudos de
imagens cerebrais, os quais demonstram anormalidades, mais claramente atrofia cortical
nos lobos temporais, em especial do hipocampo. Apontam que os ataques de pânico se
associam de forma mais directa à vasoconstrição cerebral, como tonturas, e sintomas de
sistema nervoso periférico, que podem ser induzidos por hiperventilação e por
hipocapnia. (Manfro GG, Heldt E, Cordioli 2008)

 Factores Genéticos

Vários estudos verificaram que os parentes de primeiro grau de pacientes afectados tem
um risco de 4 a 8 vezes maior para TP. Estudos com gémeos relataram que os
monozigóticos têm maior probabilidade de concordância para TP do que os dizigóticos.

 Factores Psicossociais

Explicados por teorias cognitivo-comportamentais e teorias psicanalíticas.

 Teorias Cognitivo-Comportamentais

Postulam a ligação de sintomas somáticos menores externos ( ruído, luminosidade) ou


internos( taquicardia, vertigem) à geração de um ataque de pânico, há interpretação de

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perigo iminente, o que intensifica as sensações corporais, desencadeando interpretações
catastróficas e ansiedade crescente. Isto é, o ataque de pânico é activado por um alarme
falso, oriundo muitas vezes de um período de vulnerabilidade psicológica ou biológica
do indivíduo.( 1,2,5)

 Teorias Psicanalíticas

Concebe que acontecimentos estressantes psicológicos produzam modificações


neurofisiológicas. Por exemplo: separações traumáticas durante a infância tornando a
criança susceptível a ansiedades na vida adulta, relacionamentos envolvendo abuso
físico ou sexual ou, ainda, a presença de conflitos internos inconscientes com a
percepção dos pais como controladores e exigentes. Além disso, muitos pacientes
apresentam maiores acontecimentos geradores de ansiedade, como perdas ou aumento
de responsabilidades nos meses anteriores ao início do transtorno.

Diagnóstico

O TP está classificado no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fourth


Edition, Text Revision (DSM-IV TR)34, dentro do grupo dos transtornos de
ansiedade, e os critérios definidos pelo DSM-IV-TR são muito semelhantes aos
encontra dos na Classificação Internacional de Doenças 10 (CID-10). O diagnóstico do
TP é essencialmente clínico.. Diversos autores propuseram subtipos de TP baseados na
apresentação sintomática do ataque (tipo cardiorrespiratório, autonómico/somático,
cognitivo), período do dia em que o ataque ocorre (diurno, nocturno), idade de início
(precoce e tardio), curso (limitado, crónico). No entanto, ainda não há consistência na
definição desses subtipos, especialmente pelo manejo semelhante do ponto de vista
terapêutico. (Manfro GG, Heldt E, Cordioli 2008)

Diagnóstico Diferencial

Um dos pontos chaves na avaliação dos pacientes com ataques de pânico é o


diagnóstico diferencial, especialmente pela interface que essa apresentação tem com
outros problemas clínicos de saúde. Assim, embora o diagnóstico do TP seja
essencialmente clínico, uma série de situações clínicas e psiquiátricas têm apresentações
que incluem ataques de pânico ou que se assemelham a ele. Assim, o algoritmo de
avaliação dos ataques de pânico inclui: ataques secundários a uma condição clínica (por
exemplo, hipertireoidismo, feocromocitoma), ao uso ou abstinência de substâncias (por

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exemplo, abuso de cocaína, abstinência de álcool), o transtornos de ansiedade (como o
TP) e a outros transtornos psiquiátricos. Em virtude do carácter agudo do ataque de
pânico, seu diagnóstico diferencial é essencial nas emergências médicas e deve ser
guiado segundo a apresentação clínica. A avaliação de doenças clínicas de acordo com a
sintomatologia apresentada é essencial para um bom manejo dos ataques. O abuso de
estimulantes, bem como a abstinência de depressores do sistema nervoso central, deve
ser avaliado na anamnese como possível responsável dos ataques. Uma história
de talhada das medicações e drogas em uso pelo paciente deve ser colhida,
especialmente a história de consumo de álcool, cafeína, cocaína, nicotina,
broncodilatadores e hipnóticos sedativos. Caso o ataque não possa ser mais bem
explicado por nenhuma condição clínica ou pelo uso ou abstinência de substâncias,
deve-se proceder à investigação diagnóstica para transtornos psiquiátricos, com atenção
especial para os transtornos de ansiedade e, principalmente, para o TP.

Critérios diagnósticos para transtorno do pânico segundo o Diagnostic and


Statistical Manual of Mental Disorders, Fourth Edition, Text Revision

A. São necessários os critérios 1 e 2:

1. Ataques de pânico recorrentes e espontâneos (inesperados).

2. Pelo menos um ataque foi seguido, durante um mês ou mais, das seguintes
características:

a) preocupação persistente em relação a ataques adicionais;

b) preocupação em relação às implicações do ataque ou às suas consequências (perder o


controle, ter um ataque cardíaco, enlouquecer,);

c) alteração significativa do comportamento relacionada às crises de pânico.

B. Deve-se especificar se há ou não agorafobia associada.

C. Os ataques de pânico não se devem aos efeitos fisiológicos directos de uma


substância (por exemplo, abuso de droga ou medicamento) ou a uma condição médica
geral (por exemplo, hipertireoidismo).

D. Os ataques de pânico não são mais bem explicados por outro transtorno mental como
fobia social (que ocorre, por exemplo, em situações de exposição a eventos sociais,
como falar em público), fobia específica (por exemplo, na presença de um animal

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específico), transtorno obsessivo compulsivo (por exemplo, quando exposto à sujeira),
transtorno de estresse pós-traumático ou transtorno de ansiedade de separação (por
exemplo, em crianças, em resposta a estar afastado do lar)

Tratamento Do Transtorno Do Pânico

É comum que o tratamento desse transtorno seja feito através da ingestão de


medicamentos contínuos que controlam os sintomas e da psicoterapia. A abordagem
recomendada é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), considerada uma das mais
eficazes para tratar esse tipo de condição. (Salum GA, Blaya C, Manfro GG 2009)

As técnicas de TCC utilizadas para o tratamento do transtorno do pânico são:

 Psicoeducação: o esclarecimento das características do transtorno ajuda o


paciente a compreender a sua própria condição de saúde. Nessa fase, ele também
aprende como o tratamento é feito e qual a sua necessidade para o seu bem-estar
prolongado, fortalecendo a confiança no método e no psicólogo;

 Relaxamento: o paciente aprende técnicas variadas de relaxamento e de


respiração para combater os sintomas dos ataques de pânico e tentar prevenir a
sua ocorrência. Ele pode realizá-las diariamente em casa para preservar um
estado emocional de tranquilidade, reduzindo a probabilidade de ataques no dia
a dia; e

 Exposição: as técnicas de exposição são usadas para que o paciente supere


distorções cognitivas (pensamentos exagerados e irracionais), sendo capaz de
tomar decisões produtivas no momento de um ataque de pânico. A exposição
pode ser tanto a indução de sensações físicas associados às crises quanto in vivo,
que é usada para ajudar o paciente a superar o medo de ir em determinados
lugares públicos.

Com essas técnicas, o paciente aprende a controlar as suas reacções, comportamentos,


pensamentos e emoções para administrar melhor a influência do transtorno em sua vida.
Dessa forma, o medo de perder o controle durante uma crise é gradualmente reduzido.

Manejo dos ataques de pânico

O manejo emergencial das crises de pânico baseia-se principalmente na tranquilização


do paciente mediante a informação de que os seus sintomas são provenientes de um

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ataque de ansiedade, não configurando uma condição clínica grave com risco de morte
iminente (no caso de ataques relacionados a transtornos psiquiátricos), no reforço de
que a crise é realmente intensa, muito desagradável e causa mal-estar muito forte.

Deve-se reforçar o carácter passageiro (cerca de 10-30 minutos) do ataque e,


especialmente, instruir ao paciente para que ele respire pelo nariz e não pela boca,
enfatizando a importância de ele tentar controlar a frequência de inspirações no intuito
de não hiperventilar. Em grande parte das vezes, a tranquilização rápida e o carácter
autolimitado dos sintomas são suficientes para terminar com a crise.

Nos pacientes com sintomas predominantemente respiratórios, relacionados


provavelmente a hiperventilação, o paciente é instruído a respirar com o diafragma e
limitar o uso da musculatura intercostal. Deve-se estimulá-lo a respirar lentamente até
que os sintomas de hiperventilação desapareçam. Algumas técnicas de relaxamento
também podem ser utilizadas. Por exemplo, pode-se instruir o paciente a permanecer
deitado, com os olhos fecha dos, respirando lenta e profundamente, tentando relaxar os
diferentes grupos musculares e concentrando-se em um cenário tranquilo. No entanto,
se a crise for muito intensa ou de tempo prolongado, o uso de psicofármacos pode ser
aconselhado. Os benzodiazepínicos de acção curta são a primeira escolha nesses casos
e, apesar de carecerem de evidências que suportem afirmações mais encorajadoras,
esses psicofármacos são bastante utilizados na prática clínica. Há algumas evidências da
utilidade do uso de benzodiazepínicos especialmente na dor torácica cardíaca e não
cardíaca, mostrando que essa medicação diminui a ansiedade, a dor e a activação
cardiovascular. Nestes estudos, os benzodiazepínicos mostraram-se seguros ao serem
administrados isoladamente ou em conjunto com outras medicações. (Manfro GG,
Heldt E, Cordioli 2008)

Tratamento Do Transtorno Do Pânico Com Ou Sem Agorafobia

O tratamento precoce do TP é essencial no sentido de reduzir o sofrimento e prejuízo


associado ao transtorno e no intuito de prevenir o surgimento de complicações e
comorbidades, além dos custos sociais do transtorno. Além disso, tratar o TP reduz
significativamente os gastos sociais, tendo em vista que, embora aumente os gastos
directos com consultas e medicações psiquiátricas, há uma redução importante nas
visitas aos serviços de emergência e nas consultas médicas não psiquiátricas

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A prevenção de novas crises e a diminuição das complicações associadas a elas, como a
ansiedade antecipatória e a evitação fóbica, são os pontos chaves no tratamento do TP.
Deve-se dar especial atenção para as comorbidades como os transtornos de humor e o
uso de substâncias. De forma geral, existem três formas de tratamento do TP: o
tratamento psico farmacológico, o psicoterapêutico e o combinado.

 Psicofármacos

Os graus de evidência de cada recomendação serão marcados pelos símbolos: A Grau


de recomendação A (recomendação bem estabelecida - proveniente de mais de um
ensaio clínico randomizado de boa qualidade); B Grau de recomendação B
(recomendação estabelecida, mas sujeita a novas investigações - proveniente de um
ensaio clínico randomizado ainda não replicado); C Grau de recomendação C
(recomendação fraca - proveniente de estudos não controlados C1 , de relatos de caso e
de opinião de especialista C2); e D Grau de recomendação D (recomendação
inconsistente - com evidência em número semelhante mostrando ineficácia e benefício
da medicação). Dentre os psicofármacos, os inibidores selectivos da recaptação da
serotonina (ISRS) (fluoxetina A, sertralina A, paroxetina A, fluvoxamina A, citalopram
A e escitaloram A) e a venlafaxina A, um inibidor de recaptação da serotonina e da
noradrenalina (IRSN), constituem-se a primeira escolha farmacológica para o TP.

Os tricíclicos (clomipramina A e imipramina A) são igualmente eficazes, mas são


menos tolerados que os ISRS e podem ser letais em superdose; por esses motivos, eles
podem ser utilizados como segunda escolha no tratamento do TP. Não há diferença de
eficácia entre os agentes de primeira linha previamente apresentados. O uso de
benzodiazepínicos (alprazolam A, clonazepam A, diazepam A e lorazepam A) é
controverso, sendo que algumas directrizes internacionais recomendam seu uso para
casos refractários em pacientes sem história de dependência e permitem o uso
concomitante nas primeiras semanas de uso dos ISRS tendo em vista sua eficácia em
curto prazo – 1 dia a 1 semana37-39 –, enquanto outras não recomendam seu uso pelo
risco da dependência. Na prática clínica, seu uso é corrente e pode ajudar no manejo dos
pacientes com TP. No entanto, deve-se atentar para o risco de dependência durante todo
o tratamento em qualquer paciente. Alguns estudos apontam para a eficácia de uso dos
inibidores da monoaminoxidase B (IMAO), mas deve-se atentar para a possibilidade de
sérios efeitos adversos devido a interacções com outras drogas e componentes
alimentares. A fenelzina, um IMAO, só deve ser prescrita após falha de agentes de
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primeira linha, ou intolerância às medicações previamente citadas. Dentre outras
medicações que evidenciaram eficácia no TP estão: ondansetrona B, bupropiona B,
tiagabina B, vigabatrina B, milnaciprano B, combinações de ISRS com tricíclicos B,
olanzapina em monoterapia B, adição de olanzapina a um ISRSB, adição de pindolol a
um ISRSB e a combinação de valproato e clonazepam B . Além disso, há evidências
preliminares que também suportam o uso da duloxetina C, um outro IRSN, para o TP.

Terapias combinadas

Uma meta-análise envolvendo cerca de 21 ensaios clínicos randomizados que incluíram


mais de 1.700 pacientes com TP com ou sem agorafobia claramente mostrou que o
tratamento combinado de antidepressivos e psicoterapia foi mais efectivo que as duas
alternativas terapêuticas em mono terapia na fase aguda do transtorno. Após a
descontinuação, os pacientes que receberam tratamento combinado continuaram a se
beneficiar em relação àqueles que receberam apenas medicação, mas não houve
diferenças com respeito àqueles que receberam apenas psicoterapia, com uma aparente
vantagem para as técnicas baseadas nos preceitos cognitivo comportamentais.
Portanto, embora haja pouca evidência comparando modalidades terapêuticas para o TP,
a inclusão de terapia cognitiva em algum momento do tratamento provavelmente
melhore desfechos em longo prazo. Da perspectiva da saúde pública, algumas
directrizes, preconizam que ao menos duas tentativas com tratamento de primeira linha
devem ser tentadas com um médico genera lista antes de encaminhamento para um
psiquiatra especializado. Obviamente, essa indicação deve ser individualizada, tendo em
vista as nuances da prática clínica e as peculiaridades da prática médica em cada região.

Reacções Durante Um Ataque De Pânico

As reacções iniciais no momento do ataque de pânico costumam ser


preocupação, ansiedade e mais medo, sentimentos que intensificam os sintomas
emocionais e físicos. É possível minimizar as sensações desagradáveis ao recorrer a
algumas técnicas de relaxamento e de respiração assim que os primeiros sintomas forem
desencadeados.

As primeiras tentativas podem não ser efectivas. Pode levar tempo para que você
identifique quando um ataque está prestes a acontecer e consiga combater os sintomas,
por isso, não desanime se os seus esforços não trouxerem bons resultados de prontidão.

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Durante um ataque de pânico, é essencial trabalhar a sua respiração. Respire
profundamente, segure o ar por alguns segundos e exale.

A respiração profunda promove o relaxamento dos músculos e da mente, facilitando a


tomada de decisão no momento do pânico.

Com a mente mais calma, busque distracções das sensações desagradáveis. Converse
com uma pessoa que esteja próxima, jogue um jogo no celular, ligue para um amigo
para conversar até que a crise passe, conte até determinado número em sua cabeça e
contemple com atenção os seus arredores.

Se você estiver no meio de uma actividade ou de um trabalho, procure manter o foco


no que você está fazendo. Tente ignorar as sensações ruins à medida que elas tentam
tomar conta de você, trazendo a sua mente de volta para o momento presente. Listar e
descrever as suas acções é uma boa forma de controlar a ansiedade crescente.

Prognóstico e Prevenção

Para uma grande parcela dos pacientes, o TP tem o prognóstico de um transtorno


crónico com recaídas e agudizações frequentes, em geral associadas aos eventos
estressores de vida, e possui fases de remissão parcial ou completa dos sintomas. Vários
estudos mostraram claramente que a descontinuação de medicações resulta em recaída
em um substancial número de pacientes, com taxas de cerca de 25-50%, dentro de 6
meses. Embora se pense que as taxas sejam menores para a TCC, um grande número de
pacientes apresenta recaída também com essas alternativas terapêuticas, e isso faz com
que o TP seja considerado um transtorno de curso crônico para um grande número de
pacientes. De forma adicional, os ISRS, tricíclicos, IRSN e benzodiazepínicos são
associa dos com síndrome de retirada (muito pior para benzodiazepínicos), que pode
ser um estímulo interoceptivo promotor da recaída do TP e favorecedor da cronicidade.
Em virtude da cronicidade dos transtornos mentais, a psiquiatria tem se voltado para
estudar estratégias de prevenção. (Salum GA, Blaya C, Manfro GG 2009)

Algumas estratégias recentes encontraram resultados promissores com protocolos de


terapia em sujeitos com sintomas subclínicos do transtorno. Além disso, é sabido que
um dos principais factores de risco para transtornos de ansiedade na vida adulta é a
presença de transtornos ou traços de ansiedade durante a infância e a adolescência.
Nesse sentido, de forma cada vez mais precoce, pesquisas atuais vêm se focando no

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tratamento precoce dos transtornos de ansiedade ou mesmo na prevenção em crianças
de risco, como os fi lhos de pais com transtornos de ansiedade, por exemplo.

Há poucas pesquisas investigando a eficácia dessas estratégias de prevenção; no


entanto, este é um campo promissor de pesquisas futuras.

Meios de Vencer o Transtorno Do Pânico

Além do tratamento adequado, muitas coisas podem ser feitas para vencer esse
transtorno. As pessoas com essa condição podem adoptar certos hábitos e modificar a
sua mentalidade aos poucos para prevenir futuros ataques de pânico e promover o seu
bem-estar.

1. Mude a sua mentalidade

Você já parou para pensar em como a forma como você pensa é importante? Os seus
pensamentos influenciam a sua auto-estima, perspectiva de vida, impressões sobre o
mundo, crenças, decisões, comportamentos e emoções.

Uma mentalidade positiva, além de ser mais agradável, promove o bem-estar


emocional, reduz o estresse e a ansiedade, ajuda a combater a depressão e auxilia a
administrar as experiências negativas da melhor forma possível.

Para quem tem transtorno do pânico, é fundamental desenvolver uma mentalidade


positiva uma vez que os ataques podem ser desencadeados por emoções e pensamentos
negativos. Então, trabalhe a sua relação com a positividade!

Você pode fazer isso ao praticar a gratidão, adoptar hobbies interessantes para ocupar o
tempo livre, estabelecer objectivos de vida para estimular a sua ambição, se relacionar
com pessoas bacanas e focar no autocuidado.

2. Faça exercícios regularmente

Os exercícios físicos são grandes aliados do cuidado com a saúde mental! A prática
regular de exercícios produz os chamados “hormônios da felicidade”, que ajudam a
manter o bom humor e regular as emoções. Você sente os efeitos positivos de
movimentar o corpo logo após a prática.

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Os exercícios físicos também acalmam a mente e liberam a tensão do corpo, ajudando
as pessoas a preservarem um estado emocional sereno no quotidiano. Quem sofre com
ataques de pânico pode se beneficiar muito com a sua prática regular.

Escolha um esporte ou uma actividade física, como corrida ou caminhada, para fazer
todos os dias ou algumas vezes por semana. Se você não gosta muito de exercícios
físicos, lembre a si mesmo que eles são necessários para cuidar tanto da sua saúde
mental quanto física.

3. Organize a sua rotina

Além de ser uma fonte de conforto para quem tem ansiedade e transtorno do pânico,
uma rotina estruturada reduz o estresse.

Quando você sabe exactamente o que você vai fazer durante o dia ou a semana, diminui
o encontro com imprevistos e pensamentos ansiosos. Assim, consegue aproveitar os
momentos agradáveis do seu dia sem se preocupar com outras pendências.

Entretanto, à medida que você constrói o seu planeamento, é preciso lembrar que nem
todos os factores da vida são totalmente controláveis. A organização diária ou semanal
concede sensação de segurança, mas você também precisa estar aberto para a
possibilidade de encontrar contratempos e precisar mudar os seus planos.

Use a rotina diária como um guia, não como uma regra que nunca pode ser quebrada!

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Conclusão

A característica essencial deste transtorno são os ataques recorrentes de uma ansiedade


grave (ataques de pânico), que não ocorrem exclusivamente numa situação ou em
circunstâncias determinadas mas de fato são imprevisíveis. Como em outros transtornos
ansiosos, os sintomas essenciais comportam a ocorrência brutal de palpitação e dores
torácicas, sensações de asfixia, tonturas e sentimentos de irrealidade (despersonalização
ou desrealização). Existe, além disso, frequentemente um medo secundário de morrer,
de perder o autocontrole ou de ficar louco.

O TP é uma condição clínica recorrente e que acarreta problemas psicossociais


importantes aos seus portadores. Em razão dos sintomas serem predominantemente
físicos, muitos procuram atendimentos em emergências até que o diagnóstico correto
seja realizado. Em vista disso, esses pacientes necessitam de uma abordagem
terapêutica apropriada, com associação de psicoterapia e medicações, uma vez que o TP
é uma doença crónica e, portanto, sujeita a agudizações. (Salum GA, Blaya C, Manfro
GG 2009)

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Referencias Bibliográficas

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