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ENURESE E ENCOPRESE

Rita Guerreiro; Rita Martins

Serviço de Pediatria - Hospital Garcia de Orta

17/18 Abril 2017


4as JORNADAS GIMGAS | GRUPO DE INTERNOS DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR DE ALMADA SEIXAL
ENURESE E ENCOPRESE
Introdução

Problemas frequentes nas consultas de vigilância infantil e juvenil.


Factor de grande ansiedade para a criança e a família.
Impacto emocional, comportamental e social na criança.
Pouco mencionado pelos pais, em consequência do estigma associado.
Importância de conhecer, questionar e orientar.
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Enurese

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ENURESE
Caso clínico

João, 7 anos

Motivo da consulta
“Perda de urina durante a noite”

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ENURESE
Conceitos

Incontinência urinária
Contínua Intermitente

Diurna Nocturna

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ENURESE
Conceitos

Incontinência urinária
Contínua Intermitente

Diurna Nocturna

ENURESE

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Conceitos

ENURESE
Episódios de incontinência urinária durante o sono, em crianças
com idade ≥ 5 anos

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ENURESE
Conceitos

ENURESE
Episódios de incontinência urinária durante o sono, em crianças
com idade ≥ 5 anos

Monossintomática Polissintomática
Sem sinais ou sintomas do Presença de sinais e
tracto urinário inferior ou sintomas do tracto
história de disfunção urinário inferior
vesical

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Conceitos

ENURESE
Episódios de incontinência urinária durante o sono, em crianças
com idade ≥ 5 anos

Monossintomática Polissintomática
Sem sinais ou sintomas do Presença de sinais e
tracto urinário inferior ou sintomas do tracto
história de disfunção urinário inferior
Disfunção
vesical • Incontinência urinária diurna
• Urgência miccional vesical
• Polaquiúria
• Esforço para iniciar ou manter a micção
• Dor
• Sensação esvaziamento incompleto
• Perdas pós-miccionais
• Comportamento retentivo
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Conceitos

ENURESE
Episódios de incontinência urinária durante o sono, em crianças
com idade ≥ 5 anos

Monossintomática Polissintomática
Sem sinais ou sintomas do Presença de sinais e
tracto urinário inferior ou sintomas do tracto
história de disfunção urinário inferior
vesical

80% Primária Sem controlo vesical nocturno prévio ≥ 6 meses


20% Secundária Enurese após controlo vesical nocturno ≥ 6 meses

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ENURESE
Epidemiologia

• 2X mais frequente no sexo masculino


• Taxa de remissão espontânea anual de 15%
• Probabilidade de remissão inversa à duração da enurese

Gráfico 1:epidemiologia e prognóstico enurese monossintomática. UpToDate, 2017


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ENURESE
Fisiopatologia

Controlo vesical Controlo vesical


diurno nocturno

< 5 anos
4 anos
1 – 3 anos
Nascimento
Percepção de
enchimento vesical
completo
Aumento da Supressão voluntária
Esvaziamento capacidade do detrusor
vesical eficaz vesical Coordenação entre
mas sem função do esfíncter
controlo e do detrusor
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Fisiopatologia

MULTIFACTORIAL

Capacidade vesical
Produção nocturna de Despertar em resposta
urina sensação enchimento
vesical completo

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Causas

Perturbação do despertar
Capacidade vesical reduzida
Poliúria nocturna

Hiperactividade do detrusor
Atraso maturativo

Genética
Factores orgânicos

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Causas

Perturbação do despertar
Capacidade vesical reduzida
Poliúria nocturna

Hiperactividade do detrusor
Atraso maturativo

Genética
Factores orgânicos

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Causas

Capacidade vesical reduzida

• Crianças com enurese apresentam capacidade vesical inferior


à esperada para a idade
• Capacidade vesical (mL) = 30 x [ Idade (anos) + 1 ]

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Causas

Perturbação do despertar
Capacidade vesical reduzida
Poliúria nocturna

Hiperactividade do detrusor
Atraso maturativo

Genética
Factores orgânicos

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Causas

Genética

• Probabilidade de criança com enurese


Sem história familiar: 15%
Pai ou mãe: 50%
Ambos os pais: 75%

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Causas

Perturbação do despertar
Capacidade vesical reduzida
Poliúria nocturna

Hiperactividade do detrusor
Atraso maturativo

Genética
Factores orgânicos

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Causas

Factores orgânicos

• Raros na enurese primária monossintomática (1-5%)

- Infecção urinária
- Obstipação/encoprese
- Diabetes mellitus
- Diabetes insipida
- Insuficiência renal crónica
- Disfunção neurológica (ex. disrrafismo)
- Malformações urológicas
- Síndrome de apneia obstrutiva do sono
- Perturbação de hiperactividade e défice de atenção

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Causas

Perturbação do despertar
Capacidade vesical reduzida
Poliúria nocturna

Hiperactividade do detrusor
Atraso maturativo

Genética
Factores orgânicos

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ENURESE
Causas

Perturbação do despertar
Capacidade vesical reduzida
Poliúria nocturna

Hiperactividade do detrusor
Atraso maturativo

Genética
Factores orgânicos
Factores psicossociais
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Diagnóstico

História clínica

Exame objectivo

Exames complementares diagnósticos

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Diagnóstico

História clínica
• Perfil da enurese
- Presença de sintomas tracto urinário inferior
- Controlo vesical nocturno prévio ≥ 6 meses
- Número de episódios/semana
- Número de episódios/noite
- Período da noite
- Volume das perdas urinárias
- Relação com dificuldade em acordar
• Ingestão diária de líquidos (quantidade, tipo de
bebidas, período do dia com maior ingesta)
• Hábitos de sono

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ENURESE
Diagnóstico

História clínica
• Factores orgânicos
- Anomalias do tracto urinário
- Infecções urinárias de repetição
- Poliúria, polidipsia, polifagia
- Obstipação/ encoprese
- Síndrome apneia obstrutiva do sono
• Factores psicossociais
- Como afecta a criança e a família?
- Motivação da criança e dos pais
• Tentativas de terapêuticas prévias e resultados
• Antecedentes familiares de enurese

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Diagnóstico

Exame objectivo
• Sem alterações na enurese monossintomática

• Etiologia médica subjacente

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ENURESE
Diagnóstico

Exames complementares diagnósticos

• Raramente utilizados

• Exame sumário de urina / Tira-reagente (se):


- Suspeita de ITU ou diabetes mellitus

• Ecografia renal e vesical (se):


- Sintomas diurnos significativos
- História de ITU

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Diagnóstico

Exames complementares diagnósticos

Consulta Pediatria Geral – HGO

Enurese monossintomática
Radiologia com experiência na medição da capacidade vesical e
da espessura da parede vesical

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Caso clínico

Antecedentes familiares
Pai, 38 anos, antecedentes de enurese até aos 8 anos
Mãe, 34 anos, saudável
Pais divorciados há 1 ano
Reside com a mãe e o padrasto

Antecedentes pessoais
Gravidez vigiada, sem intercorrências
Parto de termo, eutócico
Crescimento adequado
Desenvolvimento psicomotor (primeiras palavras 16-18M)
Frequenta o 1º ano de escolaridade (reprovou 1 ano)
Seguido em consulta de Psicologia

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Caso clínico

História doença actual


• Controlo vesical diurno desde 4 anos, sem controlo vesical nocturno
> 5 micções diurnas, sem incontinência
Micções involuntárias apenas durante a noite
4-5 episódios / semana
1 episódio / noite, + primeiras 2 horas do sono
Utiliza fralda para dormir e molha a roupa da cama
Sem outros sintomas urinários

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Caso clínico

• Ingestão de líquidos
Aprox. 1L/dia (bebe Ice-Tea às refeições e leite antes de dormir)
• Sono
Adormece no sofá a ver TV e é levado ao colo para a cama
• Padrão intestinal
Dejecções diárias, fezes moldadas
• Preocupações
Quer entrar para os escuteiros, mas tem receio dos acampamentos

Exame objectivo
• Sem alterações

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Caso clínico

Enurese
Primária

Monossintomática

Perturbação do despertar? Atraso maturativo?

Capacidade vesical reduzida? Genética?

Poliúria nocturna? Factores psicossociais?

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Abordagem

1. Antes de iniciar
• Motivação e expectativas da criança e cuidadores
• Importância do problema

2. Quando iniciar?
• Medidas gerais: sempre
• Tratamento activo: ≥ 7 anos

Idade não deve ser critério exclusivo


(grande pressão social, afecção auto-estima,…)

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Abordagem

3. Tratamento

Medidas gerais Medidas comportamentais

Tratamento farmacológico
Tratamento
activo Alarmes para enurese

6 meses
RESPOSTA?
• Redução nº episódios/noite?
• Redução nº noites molhadas?
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ENURESE
Abordagem

Medidas comportamentais
o Princípios gerais:
. A enurese é uma situação frequente
. Maioria resolve espontaneamente (antecedentes familiares)
. Não é culpa da criança, pelo que não deve ser punida
. Envolver e motivar os cuidadores e família
. Reavaliações aos 3-6 meses e validar cumprimento das medidas

o Estratégias:
. Concentrar a ingesta de líquidos durante a manhã e início da tarde
(redução da ingesta a partir final do dia)
. Reduzir ingestão de bebidas gaseificadas, com cafeína e elevado
conteúdo açúcar
. Micções antes de deitar e sempre que acordar durante a noite
. Treino vesical
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Abordagem

Medidas comportamentais
o Estratégias:
. Não utilizar fraldas para dormir
. Encorajar a criança a participar na muda da cama
. Calendário (noites molhadas e secas)
. Recompensar os progressos: enurese e mudanças de comportamento
(micções antes de deitar, menos episódios, maiores períodos sem enurese)
. Não penalizar pelas noites molhadas

Acordar a criança para ir urinar > Apenas eficaz naquela noite


Não cria resposta condicionada > Sem efeitos a longo-prazo

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Abordagem

Medidas comportamentais

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ENURESE
Abordagem

Tratamento farmacológico
DESMOPRESSINA
• Análogo da hormona antidiurética
• Pode ser mais eficaz a curto-prazo (30% controlo total e 40% parcial)
• Maior taxa de recorrência após descontinuação (60 – 70%)

Alarmes para enurese


• Condicionamento: criança aprende a acordar ou inibir contracção bexiga
• Os mais eficazes a longo-prazo
• Poucos efeitos adversos
• Custos
• Exige uma utilização continuada e prolongada (3-4 meses)

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Caso clínico

Tratamento

• Medidas gerais

- Educação
- Limitar ingesta de líquidos a partir da tarde, não beber leite antes deitar
- Não consumir ice-tea (bebida com cafeína e elevado conteúdo de açúcar)
- Urinar sempre antes de ir para a cama
- Retirar a fralda
- Ajudar a mudar lençóis quando molha a cama
- Mapa das noites secas/molhadas
- Reforço positivo; Não castigar

• Reavaliação aos 3 meses

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ENURESE
Caso clínico
Reavaliação após 3 meses

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ENURESE
Caso clínico

Reavaliação após 3 meses

- 2-3 episódios / semana


- Sem fralda durante a noite
- Reduziu consumo de bebidas com cafeína
- Ainda bebe leite antes de deitar

• Reforço das medidas gerais

• Reavaliação

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ENURESE
Referenciação

1. Enurese polissintomática

2. Enurese secundária

3. Suspeita de causas orgânicas

4. Enurese sem resposta às medidas gerais

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Encoprese

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Caso clínico

Vasco, 5 anos

Motivo da consulta
“Perda de conteúdo fecal involuntário há 2 meses”

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ENCOPRESE
Conceitos

Incontinência fecal
Perdas fecais repetidas, voluntárias ou involuntárias, em
locais inapropriados, por crianças com idade > 4 anos,
que já deveriam ter controlo de esfíncteres

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Conceitos

Incontinência fecal

Encoprese Soiling
Perda de grande Perda de pequena
quantidade de quantidade de
conteúdo fecal conteúdo fecal

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Conceitos

Incontinência fecal

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Conceitos

Incontinência fecal
80% Retentiva Não
retentiva
Com obstipação Sem obstipação

Critérios de Rome IV
≥ 2 critérios pelo menos 1 mês* / 1x por semana, pelo menos 1 mês**
• ≤ 2 dejecções por semana
• Pelo menos 1 episódio de incontinência fecal por semana
• Comportamento retentivo
• Dejecções difíceis ou dolorosas
• Massa fecal de grandes dimensões no recto * <4 anos
• Dejecções de fezes de grande dimensão ** > 4 anos
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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Conceitos

Incontinência fecal
Não
Retentiva retentiva

Funcional Orgânica

5% Retentiva
1% Não retentiva

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Conceitos

Incontinência fecal
Não
Retentiva retentiva

Funcional Orgânica

Primária Secundária

Sem controlo prévio Com controlo prévio

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Fisiopatologia

Incontinência fecal Incontinência fecal


retentiva não retentiva
Obstipação Complexo e multifactorial
• Início diversificação alimentar • Problemas psicológicos, sociais
• Treino do bacio e comportamentais
• Entrada escola

Causa / Consequência?

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Diagnóstico

História clínica

Exame objectivo

Exames complementares diagnósticos

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Diagnóstico

História clínica
• Antecedentes familiares de obstipação
• Antecedentes pessoais
- 1ª eliminação de mecónio
- Evolução estaturo-ponderal
- Idade de continência de esfíncteres
- Hábitos alimentares
- História de obstipação
- Enurese
• História psicossocial
• História da doença actual
- Encoprese (início, volume, frequência)
Escala de Bristol - Padrão intestinal (consistência, frequência)
- Outros sintomas associados (dor abdominal, anorexia,
sintomas urinários
- Terapêutica actual e prévia

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Diagnóstico

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Diagnóstico

Exame objectivo
• Geralmente sem alterações, na encoprese não retentiva

• Peso e estatura
• Inspecção da roupa interior (vestígios de fezes)
• Exame abdominal
- Distensão abdominal
- Massas (corda cólica, fecaloma)
• Exame rectal
- Fissuras ou fístulas anais, posição do ânus

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Caso clínico

Antecedentes familiares
Pai, 35 anos, saudável
Mãe, 33 anos, obstipação
Avô paterno, 62 anos, “tumor intestinal operado” sic

Antecedentes pessoais
Gravidez vigiada, sem intercorrências
Parto de termo, eutócico
1ª dejecção nas primeiras 48 horas de vida
Crescimento e desenvolvimento adequados
Continência anal desde os 3 anos e controlo vesical desde os 4 anos
Obstipação desde o treino do bacio com comportamento retentivo
(dejecções apenas com fralda, escondido atrás do sofá, “contorcido até não aguentar”)

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Caso clínico

História doença actual


• Há 2 meses com perda de conteúdo fecal involuntária
Dejecções tipo 6-7 (Escala de Bristol), em escassa quantidade, sobretudo
nas cuecas, com periodicidade variável
Dor abdominal. Sem vómitos.

• Padrão intestinal: dejecções tipo 1-2 (Escala de Bristol), 2-3 dejecções por
semana, dolorosas, sem sangue

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Caso clínico

• Alimentação
Pequeno-almoço: cereais “estrelitas”
Almoço e jantar : Nunca gostou de legumes
Come sopa todos os dias, passada
Come fruta (adora banana)
Lanche: “manhãzitos” e néctar de fruta

Exame objectivo
• Bom estado geral
• Abdómen timpanizado, massa de consistência dura palpável nos quadrantes
esquerdos
• Roupa interior com vestígios de fezes
• Restante observação sem alterações

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Caso clínico

Incontinência fecal

Secundária

Retentiva

Funcional

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Abordagem

Incontinência fecal retentiva


Obstipação

1. Educação

2. Medidas dietéticas

3. Treino intestinal

4. Tratamento médico

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Abordagem

Incontinência fecal retentiva


Obstipação

• Explicar fisiopatologia e causas


1. Educação
• Explicar objectivos do tratamento

2. Medidas dietéticas • Validar compreensão dos esquemas de


tratamento e adesão
3. Treino intestinal • Stool diaries

4. Tratamento médico • Fornecer informação escrita (ex. folhetos)


• Eventual informação para a escola

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Abordagem

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Abordagem

63
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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Abordagem

Incontinência fecal retentiva


Obstipação

1. Educação • Evicção de alimentos obstipantes


(banana, cenoura, arroz)
2. Medidas dietéticas • Consumo de alimentos ricos em fibra
(legumes, grão, feijão, pêra e maçã com
3. Treino intestinal
casca, ameixa, papaia, pão escuro, cereais)

4. Tratamento médico • Limitar consumo de leite (até 500 mL/dia)


• Hidratação adequada
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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Abordagem

Incontinência fecal retentiva


Obstipação

1. Educação • Estabelecer rotinas


5 -10 minutos no bacio ou sanita,
Após as refeições (reflexo gastrocólico)
2. Medidas dietéticas
• Manobra de Valsalva eficaz
Garantir apoio adequado dos pés
3. Treino intestinal
• Reforço positivo
4. Tratamento médico

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Abordagem

Incontinência fecal retentiva


Obstipação
Desimpactação

1. Educação • 1ª Linha: ORAL


Polietilenoglicol = Macrogol
Casenlax pediátrico® = 6.563g/saqueta
2. Medidas dietéticas Movicol pediátrico® = 4g/ saqueta

3. Treino intestinal 1-1.5 g/kg/dia, várias tomas


3 a 6 dias
4. Tratamento médico
• 2ª Linha: RECTAL (<<<)

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Abordagem

Incontinência fecal retentiva


Obstipação
Manutenção
• ORAL
1. Educação Polietilenoglicol > Macrogol

2. Medidas dietéticas 0.4 a 0.8 g/kg/dia , 1 - 2 tomas/dia


Máximo 1.8 g/kg/dia
a cada 2 dias se sem resposta
3. Treino intestinal
se diarreia

4. Tratamento médico Mínimo 3-6 meses


Descontinuação gradual após 6 mês consecutivo
sem sintomas e controlo de esfíncteres
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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Abordagem

Obstipação
Pediátrico Adulto
Movicol ®= 6,563g Casenlax ®= 4g Movicol ®= 13,8g Casenlax ®= 10g
Min. 2 anos Min. 6 meses Min. 11 anos Min. 8 anos
Máx. 12 saquetas Máx. 8 saquetas
Desimpactação

Várias tomas/dia
Aumento a cada 2 dias se sem resposta / Redução se diarreia
3 a 6 dias

~ 1 a 2 saquetas
Manutenção

1 a 2 tomas /dia
Aumento a cada 2 dias se sem resposta / Redução se diarreia
Mínimo 3 a 6 meses
Descontinuação gradual após 6 mês consecutivo
sem sintomas e controlo de esfíncteres
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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Abordagem

Incontinência fecal não retentiva

1. Educação

2. Treino intestinal

3. Eventual avaliação Psicologia/Pedopsiquiatria

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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Caso clínico

Tratamento
• Educação
• Correcção erros alimentares
Sopa com legumes não passados
Pão escuro
Retirar a banana (não madura)
• Treino intestinal
• Macrogol
Desimpactação (4 saquetas/dia 6 dias) e manutenção (1 saqueta/dia)

• Referenciação consulta Pediatria Geral

Reavaliação após 3 semanas


Dejecções diárias, não dolorosas, tipo 3-4
Resolução da incontinência fecal
Manteve t. manutenção
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INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Referenciação

1. Obstipação com incontinência fecal

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ENURESE E INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Comentários finais

• São problemas frequentes na consulta de Saúde Infantil e Juvenil


• É essencial questionar de forma directa a sua presença
• Têm um impacto importante na qualidade de vida das crianças e cuidadores
• Quase todos os casos tem uma causa funcional
• As medidas gerais e comportamentais são o tratamento de 1ª linha
• A eficácia do tratamento da enurese depende fundamentalmente da motivação
da criança e da família
• O diagnóstico e tratamento antecipados da obstipação é a melhor forma de
prevenção da incontinência fecal

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ENURESE E INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)

Obrigada
pela
atenção

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ENURESE E INCONTINÊNCIA FECAL (ENCOPRESE)
Bibliografia
1. Franco I, et al. Evaluation of and Treatment for Monosymptomatic Enuresis: A Standardization
Document From the International Children’s Continence Society. Journal of Pediatric Urology.
2013. 9: 234-243
2. Morais M C, Fernandes J L. Abordagem da encoprese na criança. Saúde Infantil. 2011. 33(2):58-64
3. National Institute for Health and Clinical Excellence. Nocturnal enuresis. The management of
bedwetting in children and young people. 2010. Disponível em www.nice.org.uk
4. Naiwen D, et al. Nocturnal enuresis in children: Etiology and evaluation. UpToDate. 2017.
5. Naiwen D, et al. Nocturnal enuresis in children: Management. UpToDate. 2017.
6. Sood M G et al. Funcional fecal incontinence ininfants and children: Definition, clinical
manifestations and evaluation. UpToDate. 2017.
7. Tabbers M M et al. Evaluation and Treatment of Functional Constipation in Infants and Children:
Evidence-Based Recommendations From ESPGHAN and NASPGHAN. Journal of Pediatric
Gastroenterology and Nutrition. 2014. 58(2):265-81
8. Wright A J. Childhood enuresis. Pediatrics and Child Health. 2016. 26:8
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