Você está na página 1de 7

Hepatocarcinoma E Tumores Metastáticos No Fígado | Maiva Bernardo

1. INTRODUÇÃO

O hepatocarcinoma e os tumores metastáticos no fígado são condições complexas e


clinicamente desafiadoras que afetam um dos órgãos mais vitais do corpo humano. O fígado
desempenha um papel fundamental em diversas funções metabólicas e de desintoxicação,
tornando esses cânceres uma preocupação significativa para a saúde global. Nesta análise,
exploraremos os aspectos fundamentais dessas duas patologias hepáticas, desde os fatores de
risco até as opções de tratamento disponíveis. É fundamental compreender esses tópicos para
melhorar a detecção precoce, o tratamento e, por fim, a qualidade de vida dos pacientes que
enfrentam essas condições graves.

Página 1|7
Hepatocarcinoma E Tumores Metastáticos No Fígado | Maiva Bernardo

O hepatocarcinoma surge do mesmo processo de destruição e multiplicação de células que


leva à cirrose, através de mecanismos ainda não bem esclarecidos.

É um tumor altamente maligno, que dobra o seu volume a cada 180 dias em média. Mesmo
em seu estágio inicial, ou seja, um tumor pequeno, localizado em um fígado com bom
funcionamento, dá ao seu portador apenas cerca de oito meses de vida após ser encontrado, se
não for realizado nenhum tratamento.

No estágio mais avançado, a previsão média é de menos de três semanas de vida após o
diagnóstico. Daí a necessidade do diagnóstico precoce do hepatocarcinoma, quando este
ainda tem boas opções de tratamento e chance de cura, através do rastreamento periódico das
pessoas com maior risco de desenvolvê-lo, os portadores de cirrose.

2. HEPATOCARCINOMA E TUMORES METASTÁTICOS NO FÍGADO


2.1. Hepatocarcinoma Generalidades

O Hepatocarcinoma, também chamado de cancro do fígado ou carcinoma hepatocelular


(CHC), é o tumor maligno mais frequente no mundo inteiro, e responde por 90 a 95% dos
cancros primários do fígado nos adultos. No nosso país, este tumor é muito frequente.

2.2. Etiopatogenia

O Hepatocarcinoma é o câncer de fígado que surgiu de hepatócitos, através de mecanismos


ainda não bem esclarecidos, que levam a multiplicação exagerada de células hepáticas.
Citam-se como factores de risco para o desenvolvimento deste tumor a cirrose de qualquer
etiologia, com maior enfoque para a hepatite B e C, e cirrose alcoólica. A ingestão repetitiva
de aflatoxina B (presente no amendoim conservado em locais húmidos), produzida pelo
fungo Aspergilus flavus, é considerada um dos factores mais importantes no nosso meio.
Moçambique é considerado um dos países com maior consumo de aflatoxinas, e o aumento
de consumo de aflatoxinas foi relacionado com o aumento de carcinoma hepatocelular.

Página 2|7
Hepatocarcinoma E Tumores Metastáticos No Fígado | Maiva Bernardo

2.3. Quadro clínico

Normalmente apresenta-se num paciente de 50 a 60 anos, que se queixa de uma dor crónica
no quadrante superior direito, perda de peso, e uma massa palpável. Infelizmente, os
pacientes procuram ajuda médica numa fase muito avançada, pois no início, o CHC é
completamente assintomático. Apresenta sintomas gerais inespecíficos comuns nas
malignidades, como:

anorexia, náuseas, letargia, e perda ponderal. Icterícia pode ser evidente. Também pode-se
apresentar uma descompensação súbita num paciente com doença hepática prévia. Uma
condição rara é a ruptura do carcinoma que pode evoluir com sangramento intra-abdominal
massivo e morte por choque hipovolémico.

Ao exame físico podemos encontrar:

Hepatomegália com nódulos irregulares, ascite, e sinais de hipertensão portal ou insuficiência


hepática.

Exames auxiliares e diagnóstico

Hemograma pode mostrar anemia; VS elevada Bioquímica pode mostrar, elevação das
transaminases, hipoalbuminémia, hipoproteinémia, bilirribuinas aumentadas.

O diagnóstico é feito com base nos achados clínicos, laboratoriais e imagiológicos. A


ultrassonografia permite visualizar a alterações do parênquima compatíveis com o tumor, mas
outros exames mais avançados (TAC) e a biopsia são mais específicos. Deve-se procurar por
metástases com ajuda de um raio-x simples nos pulmões, ossos, e uma ecografia no
peritoneu.

2.4. Conduta

Tratar ou gerir um CHC não faz parte das competências do TMG. Ele deve transferir o
doente assim que tiver uma suspeita da patologia. Se for um doente crítico, deverá estabilizá-
lo antes da transferência.

Página 3|7
Hepatocarcinoma E Tumores Metastáticos No Fígado | Maiva Bernardo

2.5. Prognóstico

O prognóstico em geral é pouco favorável, e varia de acordo com o grau de evolução da


doença na altura do diagnóstico.

A situação em Moçambique é crítica porque os doentes chegam muito tarde ao hospital e


num estado geral já muito condicionado.

Daí a importância de referir todo e qualquer doente com suspeita de cirrose hepática e
hepatite B/ C, para fazer seguimento com um especialista.

3. Tumores metastáticos

Pela sua posição estratégica e para cumprir suas funções, o fígado recebe sangue
directamente de diversos órgãos e indirectamente de todo o organismo.

Por esse e outros motivos, é nele que a grande parte das células cancerosas de outras partes
do organismo, que penetram na circulação sanguínea, acabam se alojando e produzindo um
novo tumor. Esse novo tumor é chamado de metástase, ou tumor hepático secundário (tumor
originário de um outro local).

Estas metástases podem ser provenientes de diversos órgãos, sendo que em ordem
decrescente provêm mais frequentemente da próstata, cólon, mama, pâncreas, estômago, rins
e colo uterino.

Os tumores hepáticos malignos classificam-se em primários (os que têm origem no fígado)
ou metastáticos (os que têm origem em outra parte do organismo). A maioria dos cânceres do
fígado é metastático. O câncer frequentemente se espalha pelo fígado porque quando as
células cancerosas se desprendem do câncer em outro local do organismo, elas
frequentemente entram e se deslocam pela corrente sanguínea e o fígado filtra a maior parte
do sangue proveniente de outras partes do organismo.

Os tumores hepáticos benignos são relativamente frequentes e não costumam provocar


sintomas. Entretanto, raramente, esses tumores provocam desconforto na parte superior
Página 4|7
Hepatocarcinoma E Tumores Metastáticos No Fígado | Maiva Bernardo

direita do abdômen ou o aumento do fígado ou sangramento na cavidade abdominal. tumores


hepáticos não cancerosos

Hemangiomas

cistos hepáticos

granulomas hepáticos

A maioria dos adenomas hepatocelulares

A maioria dos tumores não cancerosos é detectada somente quando os exames de imagem –
como ultrassonografia, tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) –
são realizados por uma razão não relacionada. O fígado normalmente tem uma função
normal, mesmo quando um tumor não canceroso está presente. Portanto, os resultados dos
exames de sangue para avaliar o fígado são, geralmente, normais. Pode ou não ser necessário
um tratamento.

Página 5|7
Hepatocarcinoma E Tumores Metastáticos No Fígado | Maiva Bernardo

4. CONCLUSÃO

Em conclusão, o hepatocarcinoma e os tumores metastáticos no fígado representam desafios


clínicos complexos que demandam uma abordagem multidisciplinar. A prevenção através do
controle de fatores de risco, o diagnóstico precoce e o desenvolvimento contínuo de terapias
inovadoras são cruciais para melhorar as perspectivas de pacientes enfrentando essas doenças
graves. Avanços na pesquisa médica e no entendimento das bases moleculares desses
cânceres oferecem esperança para o futuro. No entanto, é imperativo que a comunidade
médica e a sociedade como um todo permaneçam empenhadas em combater essas condições
devastadoras, a fim de melhorar a saúde hepática e, consequentemente, a qualidade de vida
das pessoas afetadas.

Página 6|7
Hepatocarcinoma E Tumores Metastáticos No Fígado | Maiva Bernardo

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 Bruix J, Reig M, Sherman M: Evidence-based diagnosis, staging, and treatment of
patients with hepatocellular carcinoma. Gastroenterology 50(4):835-853, 2016.
 Mazzaferro V, Regalia E, Dorci R, et al: Liver transplantation for the treatment of
small hepatocellular carcinomas in patients with cirrhosis. N Engl J Med 334 (11):
693-700, 1996.
 Marrero JA, Kulik LM, Sirlin CB, et al: Diagnosis, staging, and management of
hepatocellular carcinoma: 2018 practice guidance by the AASLD. Hepatology 68
(2):723-750, 2018.
 Llovet JM, Ricci S, Mazzaferro V, et al: Sorafenib in advanced hepatocellular
carcinoma. N Engl J Med 359:378–390, 2018.

Página 7|7

Você também pode gostar