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Recurso especial e recurso extraordinário não servem para revisão de conjunto fático-
-probatório para simples revisão de prova – é o segundo requisito.
RELEMBRANDO
Como havíamos dito no início da aula, quando falamos de recurso especial e recurso extra-
ordinário, temos de saber que eles têm, por objetivo, guardar a interpretação da norma
constitucional ou infraconstitucional.
Não são recursos propriamente para particularizarem o caso concreto. Não que o caso
concreto não seja importante, mas para se instaurar essa instância excepcional, há neces-
sidade de que se aponte um motivo de incidência para o Tribunal, ou seja, seria guardar a
interpretação do que ele considera correto.
Se interpreta dizendo que a questão da tributação deve ser assim; a questão dos honorá-
rios deve ser “assado”; a questão do regime matrimonial deve ser desse jeito; a questão das
relações socioafetivas deve ser daquele outro jeito etc., quando o tribunal vai interpretando
isso, o que ele espera dentro de um sistema de distribuição de justiça?
Que juízes de primeiro grau e tribunais locais e regionais apliquem um entendimento que
o tribunal superior, posto nessa posição de quem determina qual será a interpretação pela
Constituição, disse que era para ser.
Por isso que, quando um juiz de primeiro grau ou um tribunal não aplica o direito à espé-
cie como o tribunal superior havia determinado que aplicasse, vamos poder, contra essa
decisão, oferecer um eventual recurso especial ou um eventual recurso extraordinário,
para provocar o tribunal superior, não só na questão de controle, mas principalmente com a
questão de qual é a interpretação que deve ser dada.
“Excelência, eu estou me deparando com vários casos em 1º grau e vários casos do tri-
bunal que incidentes estão gerando honorários advocatícios. Contudo, no incidente de des-
consideração da personalidade jurídica não há”. E aí, Superior Tribunal de Justiça, é ou
não para ter?
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Obs.: estamos pedindo para que a lei seja interpretada e não a análise da questão fática.
Por exemplo, no que tange aos honorários advocatícios, está no art. 85, § 2º do CPC que
o juiz deve fixar entre 10 e 20%. Contudo, entre 10 e 20, o que vai estabelecer qual é o per-
centual é o grau de zelo do advogado, é a complexidade da causa, é o tempo de duração do
processo, são as diligências feitas por esse advogado etc.
O juiz de 1º grau quando analisou o trabalho exercido pelo advogado disse: “Olha, você
nem se deslocou tanto. O seu escritório ficava próximo ao Tribunal. Não teve tanto recurso.
O processo durou 8 meses – o tempo médio de duração são 3 anos. Então, eu não acho que
você fez diligências ou havia necessidade de diligências suficientes para que esse percentual
ficasse muito alto. Acho que 12% de honorários para você está de bom tamanho”.
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Após a decisão, ele apela. “Tribunal, olhe o quanto eu me desloquei; olhe o tempo de
duração desse processo; olhe quantos atos processuais foram praticados. Eu faço jus a
uma majoração”.
O Tribunal de justiça olha e diz: “Não. 12% está de bom tamanho”.
Cabe agora recurso especial para levar essa questão para o Superior Tribunal de Justiça?
Vejamos. O que ele está perguntando nesse recurso especial?
“Superior Tribunal de Justiça, esse trabalho que exerci não seria suficiente para majo-
rar?”. Recurso especial não serve para isso.
Imaginemos que tenha acontecido um acidente de trânsito e que João tenha juntado
laudos comprovando quem era o causador desse acidente. O réu contesta e diz: “Eu preciso
aqui que minhas testemunhas sejam ouvidas, porque a narrativa delas são essenciais para
formar o seu convencimento, juiz”.
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O magistrado olha e diz: “Indefiro a ouvida das testemunhas, porque acho que a ouvida
delas é irrelevante, de acordo com as provas já produzidas nos autos, haja vista que nós temos
vídeos do acidente e um laudo da companhia de trânsito dizendo quem foi o responsável”.
Então, diante de uma prova documental (vídeo) e diante do laudo da companhia de trân-
sito, dispensa ouvir a testemunha. Por quê? Pois as questões fáticas já estão provadas com
aquelas duas provas.
O réu apela para o Tribunal de Justiça dizendo: “TJ, eu preciso ouvir essas testemu-
nhas, porque elas vão lhe dar uma visão que o vídeo não permite. Elas estavam num
outro ângulo. Eu preciso que elas sejam ouvidas”.
O Tribunal de Justiça analisa o pedido e diz: “Não. Com o vídeo e com o laudo, já dá
para ‘matar’ o problema. Julgo improcedente a apelação. Nego provimento à apelação,
mantendo a sentença nos seus termos”.
Tem de fazer a seguinte pergunta: o que está perguntando ao STJ? Se é ou não para
ouvir testemunha no caso. Ouvir ou não testemunha é análise de questão fática.
As questões fáticas foram soberanamente decididas nas instâncias ordinárias. Logo, não
cabe recurso especial para simples revisão de prova.
Por sua vez, vejamos como é diferente. Norberto propõe uma ação – acidente de trân-
sito – e diz: “Excelência, estou juntando o vídeo agora, porque só o obtive recentemente”.
O juiz de 1º grau analisa e diz: “Intempestiva a juntada disso, porque esse vídeo já exis-
tia à época da propositura da ação. Então, ele deveria ter sido acompanhado da petição ini-
cial. Se você não juntou na petição inicial, não cabe a permissão de juntá-lo agora”.
Norberto responde: “Não, excelência, cabe, sim, art. 435, parágrafo único do CPC”. O juiz
olha e diz: “Não, mas não se aplica, neste caso, o art. 435, parágrafo único, porque aqui a
questão documental é só para uma prova nova”.
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“Não, excelência”, respondeu o Norberto, “não é só para prova nova, é para prova que já
existia, mas que eu não pude fazer uso à época por não ter conhecimento dela”.
O magistrado, por sua vez, diz: “Não, isso é só para prova nova”.
Norberto apela e pergunta ao Tribunal: “Tribunal, é só para prova nova ou também para
provas que eu não tinha conhecimento e junto, posteriormente, a partir do conhecimento
sobre ela?”.
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Súmula n. 279 do STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”.
Súmula n. 7 do STJ: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”.
Esses dois enunciados são a regra. “Tem exceção, professor?”. Elencamos aqui algu-
mas situações excepcionais em que o STJ retira a incidência da súmula n. 7.
Exceções à sumula n. 7:
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• Contudo, se o valor dos honorários estiver muito alto – envolvendo questões fáticas –
ou muito baixo, há precedentes que não aplicam a súmula.
• “Qual é a justificativa dogmática para não incidência da súmula?”. Não tem. É casu-
ísmo. O STJ entende que, nesses casos, é melhor afastar a súmula e analisar a ques-
tão, porque diz que quer fazer justiça.
• Esse mesmo sentimento que gera exceção aparece, também, quando for valor exces-
sivo ou irrisório de multa.
• Por exemplo, qual é o valor que deve ser pago por uma desapropriação de um terreno
de uma fazenda? Pegaram o valor do ITR, uma avaliação do município dizendo que o
m² da terra é equivalente ao valor de R$ 3 mil.
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• Mas aquela área específica que foi desapropriada tem a famosa cobertura florística.
Imagine uma vegetação de Mata Atlântica preservada. Uma questão dessa não são os
mesmos R$ 3 mil. O valor era para ser R$ 10 mil o m² (mais ou menos, 3x mais o valor
do m² de quando é “terra nua”).
• O INCRA pagou R$ 3 mil. O indivíduo apela dizendo: “Espera aí. R$ 3 mil, não. O m²
tem de ser, no mínimo, R$ 10 mil”.
• Quando se faz o somatório, o INCRA pagou R$ 1,5 milhão. Era para ter pago R$ 40
milhões. Apelação para o TRF.
• Ao chegar no TRF, este decide manter, alegando: “R$ 1,5 milhão está de bom tamanho”.
• Oferecer recurso especial é pedir para que o STJ analise a cobertura florística (ou seja,
a prova). “Olha aqui a prova de que tinha cobertura florística e que ela faz com que o
valor se eleve”. Isso é matéria fática. Não deveria ser objeto de recurso especial.
Mas há julgados do STJ afastando a incidência da súmula n. 7 nesses casos.
Obs.: recurso especial e recurso extraordinário não servem para simples reexa-
me de prova.
6. Nessa linha, não cabe ao STJ exercer juízo acerca da suficiência das provas produzidas no
processo ou quanto à necessidade de produção de perícia contábil, porquanto, para tanto, seria
necessário se debruçar sobre o arcabouço fático-probatório do processo, o que é vedado em sede
de recurso especial pela Súmula n. 7 do STJ”.
(STJ - 3a Turma, REsp n. 1.538.162/AM, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/09/2020, não conheceram,
por maioria, DJe 15/10/2020).
Ementa: “1. O recurso especial não comporta exame de questões que impliquem revolvimento
do contexto fático-probatório dos autos (Súmulas n. 7 do STJ). 2. O Tribunal de origem asseverou
que: (i) a recorrente, devidamente intimada, ‘afirmou expressamente o seu desinteresse na dilação
probatória’, (ii) a recorrente não demonstrou posse sobre o terreno, e (iii) a posse dos recorridos
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está comprovada nos autos. Alterar esse entendimento demandaria o reexame de provas, o que
é vedado em recurso especial”.
20m (STJ-4a Turma, AgInt no AREsp n. 1.689.404/SP, rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 21/09/2020,
negaram provimento, v.u., DJe 24/09/2020).
Súmula n. 5 do STJ: “A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso especial”.
Súmula n. 454 do STF: “Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá lugar a recurso
extraordinário”.
Esses recursos não servem para discussão de direito e de fato. “Por que o repetitivo não
serve para questão de direito e de fato?”. Porque o repetitivo é para questão binária (certo
ou errado, sim ou não etc.).
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Se o próprio recurso especial individual não admite revisão de matéria fática, imagine o
repetitivo. Este é aquela tese que será fixada em questões binárias e que será replicada auto-
maticamente em diversas outras ações iguais.
Em síntese, recurso especial e recurso extraordinário exigem prévio exaurimento de ins-
tância. Não se interpõe recurso, se contra aquela decisão ainda cabia algum recurso na ins-
tância de origem.
Ademais, recurso especial e recurso extraordinário não servem para simples reexame de
prova. O conjunto fático-probatório é soberanamente decidido e decidido na instância
ordinária.
Quem estiver estudando para prova de juiz, por exemplo, vai fazer a sua questão e a
sentença, na ação de conhecimento de ação possessória, o indivíduo comprova a posse por
meio de testemunha. O magistrado diz: “Com base nas testemunhas, já reconheço a posse.
Julgo procedente o pedido para reintegrar”. Porém, o indivíduo apela e argumenta: “Veja, tri-
bunal, eu acho que é preciso de outras provas, além da testemunha”. O TJ diz: “Não. Só as
testemunhas bastavam”.
Caberá um recurso especial para que ele diga que era importante fazer depoimento, perí-
cia ou outra coisa? O STJ vai dizer: “Olha, eu posso até achar que era, mas se o tribunal local
disse que não era, então não era”.
Estamos entendendo/absorvendo isso? O que for definido sobre questões de fato na ins-
tância de origem “prego batido, ponta virada”. A situação se tornou imutável. .
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A questão fática que foi definida não pode ser modificada pelo tribunal superior. Isso é
uma regra cristalizada na súmula n. 7 do STJ e súmula n. 279 do STF.
Há julgados, contudo, em que o STJ e STF dão uma “aliviada” na incidência dessa regra.
�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Online, de acordo com a aula prepa-
rada e ministrada pelo professor Mozart Borba Neves Filho.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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