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A função social do contrato é um princípio moderno que deve ser observado pelo
intérprete na aplicação dos contratos, tornando-se um dos pilares da teoria
contratual. Essa função social serve como limitação dos princípios tradicionais,
especialmente da autonomia da vontade. Em situações de conflito entre autonomia
privada e interesse social, deve prevalecer esse último, mesmo que essa restrição
atinja a própria liberdade de não contratar, como ocorre nas hipóteses de contrato
obrigatório.
É importante ressaltar que a função social do contrato é uma cláusula geral, bem
como a que exige um comportamento condizente com a probidade e boa-fé objetiva.
Caberá ao juiz utilizar como recurso valores jurídicos, sociais, econômicos e
morais para solucionar no caso concreto. Conforme Nery Junior, sendo “normas de
ordem pública, o juiz pode aplicar as cláusulas gerais em qualquer ação judicial,
independente de pedido da parte ou do interessado, pois deve agir ex officio”.
(2003, p. 416-417).
Para Araken de Assis, o contrato cumprirá a sua função social “respeitando sua
função econômica, que é a de promover a circulação de riquezas, ou a manutenção das
trocas econômicas, na qual o elemento ganho ou lucro jamais poderá ser desprezado,
tolhido ou ignorado, tratando-se de uma economia de mercado”. (2007, p. 85-86).
Com isso, percebe-se que todo contrato que inibe o “movimento natural do comércio
jurídico” e que prejudica os demais integrantes a sociedade na obtenção dos seus
bens descumpre sua função social.
Venosa ainda ressalta que “a função social do contrato que norteia a liberdade de
contratar, segundo o art. 421, está a indicar uma norma aberta ou genérica, a ser
preenchida pelo julgador no caso concreto”. (2013, p. 397). Esse ainda explica que
na Modernidade, a chamada liberdade de contratar tinha um viés burguês, pois
buscava fazer com o contrato permitisse a aquisição da propriedade. Já na
contemporaneidade, essa autonomia da vontade é substituída pela autonomia privada,
oriunda da própria modificação de conceitos sobre a propriedade.
CONCLUSÃO
A ordem jurídica brasileira que vem se transformando ao longo dos anos proporciona
vários avanços na construção de um direito menos individual e mais coletivo,
perceptível a partir de análises doutrinária e jurisprudencial. Por mais que o
princípio da função social seja novo no ordenamento pátrio, nota-se a sua
essencialidade para a concretização de uma justiça mais efetiva, bem como para a
implementação da equidade e do desenvolvimento da sociedade.
A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina
o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio
quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à
dignidade da pessoa humana. (Enunciado n. 23 da I Jornada de Direito Civil)
Com o advento da Constituição Federal de 1988 a eterna dicotomia que existia entre
Direito público e privado tornou-se quase inexistente, visto a crescente atenção
dada ao particular pelo Estado.
Fazendo uma análise sob a luz da teoria tridimensional de Reale, fica mais fácil
compreender as mudanças, ou evolução, do ponto de vista axiológico e sociológico
ocorridas pelo ordenamento. Estranho seria um diploma normativo de cunho
individualista ainda em vigência, quando a Carta Magna do país tem uma eficácia
predominantemente focada no social.
De tal forma, todo contrato deve respeitar o princípio da função social, estando
este acima de outros que disciplinam o instituto, assim como a dignidade da pessoa
humana, eventualmente, está acima de outros direitos e garantias fundamentais.
Continuando, o