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Patologia em Aves

AV12 – 2019.2

Doenças infecciosas

Clamidiose
Chlamidophyla psitaci
• Zoonose → dificilmente diagnosticada em humanos, pois nunca pensam nela.
• Multiplicação intracelular. Não se faz cultura. Cultivo em ovo embrionado. Laboratório → segurança nível 3.
• Animais mais acometidos: Psitacídeos. Muitos podem ser portadores assintomáticos
• Apresentações:
o Metabolicamente inativa, onde antibiótico não faz efeito, não depende de nada do ambiente. É como se
fosse um isolamento.
Forma ambiental – ELEMENTAR. Essa é a forma que vai entrar no organismo, onde será fagocitada e
dentro dessa célula começa a se multiplicar, tornando-se uma forma metabolicamente ativa, sequestrando
ATP para multiplicação, sendo essa a forma RETICULAR.
Rompe a célula e libera formas elementares no ambiente, favorecendo a contaminação externa, pelas
fezes e interna, contaminando outras células. Esse ciclo todo pode demorar até 42 dias. Por isso o
tratamento é realizado durante 45 dias.
• Notificação no MAPA.

Transmissão:
• Ocorre principalmente por via aerógena
o Secreção liberada no ar
o Fezes em suspensão no ar
▪ Por serem muito pequenas, ao serem manipuladas, podem ficar em suspensão no ar, facilitando
contaminação
• Ingestão → Um gavião que ingere uma ave positiva, provavelmente vai se contaminar

Patogenia:
• Conjuntivite; sinusite; Pneumonia; Aerosacolite
• Hepatite; Pancreatite; Enterite
• Nefrite
• Pericardite
• Encefalite (raro)
Em humanos é muito parecido

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Sintomatologia:
• Conjuntivite:
o Lacrimejamento: inflamação → os mediadores → vasodilatação → permeabilidade dos capilares →
extravasamento de líquidos → edema.
o Obstrução do ducto nasolacrimal / edema muito volumoso → não consegue drenar → extravasamento,
molhando a área ao redor dos olhos
• Sinusite:
o Secreção, semelhante a uma coriza.
o Espirros
o Formação de pus. Secreção caseosa (na ave é duro, com aspecto de queijo minas, não drenável) → RARO
• Pneumonia
o Dispneia (vasodilatação, permeabilidade vascular, passa líquido para fora da superfície, dificultando a troca
de gasosa onde saem células e entra O2).
▪ Respirar de boca aberta (pois o ar que entra pela narina não é suficiente)
▪ Pescoço esticado
▪ Abrir as patas – amplia espaço para expansão de sacos aéreos.
▪ Oscilação pendular da cauda, para conseguir ampliar o saco aéreo o máximo possível para poder
compensar.
• Aerosacolite
o Tecido inflamado (dolorido, se ele se movimenta muito, sente dor) → Taquipneia (respira mais rápido para
que não infle muito).
o Mais um incômodo na região do que quadro respiratório. Alguns animais arrancam pena.
o Hipersaturar o saco aéreo com O2 → reduzir chance de óbito durante contenção.
• Enterite
o Diarreia (devido a hipermotilidade do intestino por estar inflamado. Quando o bolo fecal chega no intestino
inflamado, aumenta a motilidade para que não fique tendo atrito ali).
o Fezes volumosas, claras (porque não deu tempo de pigmentar), com gordura (pois não emulsificou, não
absorveu). Quando essas fezes secam, ficam brancas. Não é comum o formato cilíndrico normal.
• Hepatite
o Acúmulo de biliverdina no organismo, levando a biliverdinuria. O ácido úrico, ao invés de branco, vai ser
verde.
o Hipoglicemia (por mal funcionamento do fígado): animal no fundo da gaiola; penas arrepiadas.
• Nefrite
o Nefromegalia. Pode levar à paresia de posterior pela compressão do nervo isquiático.
• Pericardite
o Muita dor.
o Intolerância a exercício. O pericárdio que já é muito sensível, está inflamado. A partir do momento que ele
faz exercício, aumenta muito mais a dor, então ele evita se movimentar muito.
o Abafamento na ausculta cardíaca; arritmia; taquicardia; prostração
• Encefalite
o Quadro neurológico. Muito raro

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Diagnóstico:
• Diagnóstico complementar
o Raio-x
o Hemograma
o USG – nefromegalia
• PCR → cuidado. A liberação da clamídia é intermitente. Se fizer coleta apenas de 1 amostra pode dar falso negativo
por não estar tendo liberação. A recomendação são 3 coletas com intervalos de 3 a 5 dias entre elas. Cuidado
porque um negativo não quer dizer necessariamente que ele não tem.
o 1 swab de traqueia > 1 swab de coana > 1 swab de cloaca → SEMPRE NESSA ORDEM.
o Cuidado com a coleta de fezes, principalmente em consultório – suspensão de fezes. Se for atender outro,
as fezes vão estar descendo, o que pode resultar em falso positivo para outro animal.

Tratamento:
• Doxiciclina 50mg BID 45 dias (piora pacientes muito debilitados)
• Doxiciclina → PcitaVet IM 1x a cada 7 dias
• Pacientes muito debilitados
o Enrofloxacina primeiramente. Depois do diagnóstico positivo, tratar com doxi.

Prevenção:
• Vai ser feita principalmente testando os animais que estão entrando
• Quarentena. Isolar o animal, testar para tudo o que pensar, esperar 40 dias isolado e testar de novo.
• Desinfetantes comuns. Cloro principalmente.
• Higiene
• Ambientes com boa circulação de ar

Micoplasmose
Mycoplasma sp
• Mycoplasma gallisepticum: Doença respiratória crônica das galinhas; Sinusite infecciosa dos perus
• Mycoplasma synoviae : Doenças crônicas endêmicas. Transmitidos verticalmente (ovos contaminados).
• Ausência de parede celular; crescimento difícil; difícil diagnóstico; não crescem em qualquer meio de cultura.
• Difícil eliminação; uma vez introduzido na granja, um Mycoplasma patogênico geralmente requer despopulação
do ambiente para que haja sucesso na erradicação do agente.

Transmissão:
• Horizontal: aerossóis, contato direto (aves) ou indireto (pessoas, animais, ração, fômites, acasalamento ou IA)
• Vertical: podem ser transmitidos para os ovos (que são infectados ao tocar os sacos aéreos abdominais), após a
liberação do oviduto e antes de atingir o infundíbulo.
o Subsequentemente, pode ocorrer contaminação do oviduto pelo ovo infectado, promovendo infecção de
futuros ovos.

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Patogenia:
• Respiratório: sinusite, traqueíte, pneumonia, aerosacolite
• Digestivo: enterite, hepatite, pancreatite (discreta; incomum).
• Esplenomegalia; nefrite; sinovite; orquite; salpingite

Sinais Clínicos:
• Sinusite:
o Secreção nasal de aspecto seroso → sem corrimento nasal.
▪ Forma um tampão na região de narina e coana, o acúmulo dessa secreção no seio nasal ocasiona
um inchaço em região periorbital (o animal pode apresentar olho fechado; macio à palpação).
▪ Confirmar: aspiração do conteúdo nasal com agulha (acima da barra jugal, entre olho e narina).
• Traqueíte: Afeta a siringe → o animal não consegue produzir seus sons normalmente, ou nenhum som.
• Pneumonia: Edema na região → acúmulo de CO2 → acidose respiratória →  FC (compensatório → taquipneia → O2)
• Aerosacolite: SA edemaciado →  área de volume respiratório →  eficiência respiratória devido à secreção.
• Enterite: diarreia pastosa/aquosa
• Hepatite: Hepatomegalia → acúmulo de biliverdina → biliverdinúria → fezes acólicas.
• Nefrite: Nefromegalia comprime nervo isquiático → claudicação
• Sinovite Paresia, inchaço articular e articulação quente (principalmente tibiotarso)
• Salpingite: Trato reprodutivo (+ fêmeas → infundíbulo); diminui motilidade e altera captação da gema → cai na
cavidade → celoma.

Diagnóstico:
• Cultura: Pleomórfica (impossibilita citologia); Coletar amostra → não vai crescer; descartar outras bactérias (ATB,
com efeito sobre parece celular de outras bactérias, no meio de cultura)

• PCR: Swab de traqueia, coana e cloaca (NESSA ORDEM)

Tratamento:
• ATB terapia:
o Doxiciclina
o Enrofloxacina
o Azitromicina (em caso de resistência à Doxi)

Prevenção:
• Quarentena: isolar o animal dos outros para controle direto. Testado antes de entrar e antes de sair.
• Vacinação

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Salmonela
Salmonella sp
• Bacilos gram negativos, móveis, com flagelos petríquios, sendo alguns imóveis.
• Família Enterobacteriaceae
• Humanos e animais.

Transmissão
• Fezes; secreções; materiais contaminados; alimento, água, canibalismo, animais visitantes e invertebrados.
• Animais portadores (sem sinais clínicos) excretam pelas fezes, intermitentemente, por meses ou anos.
o O estado desses animais vai depender do sorotipo envolvido, quantidade de bactérias ingeridas, espécie e idade.

Patogenia
 Fímbrias → adesão aos receptores específicos das células epiteliais → bactéria invade enterócitos → processo inflamatório
no tecido afetado → fagocitose da Salmonella por macrófagos e células polimorfonucleares.

 Salmonella sobrevive à fagocitose → multiplicação dentro dos fagócitos → infecções crônicas → Animal Portador.

 Bactérias dentro dos fagócitos → corrente linfática → corrente sanguínea → baço, fígado e outros órgãos.

• Evolução aguda. Alguns animais não apresentam alterações anatomopatológicas, indo à óbito por morte súbita.

Congestão hepática (hepatomegalia); esplenomegalia; presença de pontos brancos em órgãos parenquimatosos;


espessamento do pericárdio; presença de líquido e celoma; espessamento do intestino e folículos hemorrágicos.

Salmonella gallinarum – Tifo


• Febre tifoide
• Transmissão vertical e/ou horizontal
• Mortalidade variada 10 – 80 %

Congestão hepática e esplênica (vasodilatação hepática e extravasamento de líquido); parte necrótica esbranquiçada;
congestão intestinal; VB bem distendida. → Reprodução da Salmonella dentro da VB.

Sinais clínicos:
o Dispneia (compressão de saco aéreo por hepatoesplenomegalia); diarreia amarelo-esverdeada;
diminuição da produção de ovos; perda de peso; anemia; cristas e barbela despigmentadas.

Salmonella spp – Paratifo


• Transmissão vertical e/ou horizontal através da penetração por conjuntiva e seio nasal ou inalação (fezes).
• Sinais clínicos significativos: dificilmente aparecem antes de 14 dias de contaminação.

Sinais clínicos:
o Diarreia, lesões necróticas focais no intestino ou difusas; congestão de baço e fígado; pequenas
hemorragias focais; não absorção do vitelo pelo filhote.

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Salmonella pullorum – Pulorose
• Impacto na produção; mortalidade de 100% (evolução superaguda).
• Comum a qualquer idade, principalmente nas 3 primeiras semanas de vida.
• Transmissão vertical principalmente.

Sinais clínicos:
o Diarreia esbranquiçada → bactéria ataca enterócitos → organismo manda grande quantidade de
leucócitos para o local → vasodilatação e aumento da permeabilidade local → aumento de motilidade →
diminuição da absorção.
o Congestão hepática e hepatomegalia
o Cegueira
o Claudicação
o Retardo no crescimento
o Espessamento de pericárdio / pericardite.

Diagnóstico
• Fezes recém colhidas de animais com suspeita clínica (3 culturas fecais, com intervalo de 1 semana entre elas)
• Infecções extraintestinais:
o Hemoculturas
o Triturado de tecidos recolhidos à necrópsia
• PCR (padrão ouro)
• Soroaglutinação

Tratamento
• Suporte: reposição de fluidos e eletrólitos
• Casos agudos:
o Ampicilina
o Cloranfenicol
o Sulfametoxazol + trimetoprima
• Enrofloxacina
• Cefalosporinas (amplo espectro)

Prevenção:
• Vacinas modificadas VO → apenas algumas espécies
• Avaliação microbiológica periódica da população mantida em cativeiro
• Quarentena de animais novos
• Medidas rigorosas de higiene e desinfecção
• Retirada completa da matéria orgânica do ambiente.

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