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Ciências Químicas e

das Biomoléculas

Enzimas e Cinética enzimática

Cassilda Pereira, PhD


Importância química

A temperaturas fisiológicas poucas ou quase nenhumas das reacções


do metabolismo poderiam ocorrer a uma velocidade suficiente como
para permitir a manutenção e crescimento celular.

Para que as moléculas reajam, é necessário fornecer-lhes uma certa


quantidade de energia adicional, chamada de energia de activação.
Uma forma de incrementar a velocidade de reacção é diminuindo a
energia de activação.

Os enzimas são catalisadores biológicos que selectivamente diminuem


a energia de activação das reacções químicas vitais.
Peso molecular que pode oscilar entre 10000 e 1000000 Da

Carbono, Oxigénio, Hidrogénio, Azoto e Enxofre como qualquer outra proteína.

A estrutura espacial dos enzimas, apresenta umas regiões denomindas locais activos,
que são regiões onde se unem as moléculas de substrato para a qual o enzima vai
realizar a sua acção de catalizador

Enzima β-lactamase

3
Perspectiva histórica
Catálise biológica → início séc. XIX
digestão da carne: estômago(Spallanzani);
digestão do amido: saliva (Payen e Parsoz).

Década de 50
Louis Pasteur - concluiu que a fermentação do açúcar em álcool pela levedura era
catalisada por “fermentos” = enzimas

Wilhelm Kühne (1878)


empregou pela primeira vez o termo "enzima" para descrever este fermento

Eduard Buchner (1897)


extractos de levedura podiam fermentar o açúcar até álcool;
enzimas funcionavam mesmo quando removidas da célula viva.
Perspectiva histórica
James Sumner (1926)
Isolou e cristalizou a urease;
Cristais eram de proteínas;
Postulou que “todas as enzimas são proteínas”.

John Northrop (década 30)


Cristalizou a pepsina e a tripsina bovinas;

Década de 50 – séc. XX
75 enzimas → isoladas e cristalizadas;
Ficou evidenciado caráter proteico.

Actualmente + 2000 enzimas são conhecidas.


Importância biomédica

Alterações de temperatura

Febre Hipotermia
Perturbam a homeostase

Alterar velocidade de muitas reacções


Importância biomédica

Hipotermia

Pode ser útil para reduzir o metabolismo

Durante uma cirurgia cardíaca


Transporte de órgãos para transplante
Importância biomédica

Toxicologia e Farmacologia

Venenos metabólicos Drogas terapeuticamente


importantes

Inibir ou abolir reacções Inibir a actividade de enzimas


metabólicas essenciais

Competem com o substracto pelo


local activo da enzima
São moléculas com capacidade catalítica
podem ser:
- Proteínas
- RNA (Ribozimas)
- DNA (Dnazimas)
- Anticorpos (Abzimas)

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Enzimas

Generalidades e conceitos
Apresentam alto grau de especificidade;

São produtos naturais biológicos;

Reações baratas e seguras;

São altamente eficientes, acelerando a velocidade das


reacções (108 a 1011 + rápida);

São económicas, reduzindo a energia de activação;

Não são tóxicas;

Condições favoráveis de pH, temperatura, polaridade do


solvente e força iónica.
As enzimas aceleram reacções químicas

Ex: Decomposição do H2O2


Catalase
H2O2 H2O + O2
Condições da Reacção Energia livre de Activação Velocidade
KJ/mol Kcal/mol Relativa
Sem catalisador 75,2 18,0 1

Platina 48,9 11,7 2,77 x 104

Enzima Catalase 23,0 5,5 6,51 x 108


As enzimas actuam em pequenas concentrações

decompõe
5 000 000 de moléculas de H2O2
1 molécula de Catalase
pH = 6,8 em 1 min

Número de renovação = n° de moléculas de substrato convertidas em produto por uma


única molécula de enzima por unidade de tempo.
Numa reacção química a
Reacção Química: variação de energia livre (G)
terá de ser menor que zero para
R P que a reacção seja favorável:
G < 0
Energia de activação (EA): é
como uma “barreira” que impede
que um determinado produto
EA1 esteja sempre a ser formado
R EA2 Numa reacção catalizada
quimicamente a EA é menor
G < 0
? P EA sem catalizador > EA com
Enzima

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Ligação enzima-substrato

Modelo chave-fechadura

Modelo encaixe induzido

15
Mudança de conformacional entre o complexo
enzima-substracto

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Apoenzima + Cofactor = Holoenzima

Substrato Produtos

Coenzima

Apoenzima Holoenzima Complexo Complexo


Holoenzima Holoenzima
Substrato Produtos

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-Catalizadores bioquímicos, aceleram as reacções químicas, sem sofrerem alterações. A
actividade destas moléculas depende do pH, temperatura e da concentração de
reagentes, produtos e inibidores.

-Cofactores moléculas adicionais, essenciais para a actividade de determinadas


enzimas). Podem ser inorgânicos (Mg2+) ou orgânicos (coenzimas).

-Uma enzima sem o seu cofactor, designa-se apoenzima e quando está ligada ao seu
cofactor, designa-se holoenzima.

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Estrutura
Holoenzima
Enzimática

Proteína Cofactor
Cofator

Apoenzima ou Pode ser:


Apoproteína • ião inorgânico
• molécula orgânica

Coenzima
Se covalente

Grupo Prostético
Cofactores metálicos
Coenzimas e Vitaminas
Algumas enzimas requerem a presença de pequenas moléculas chamadas coenzimas.

Por exemplo as desidrogenases para funcionarem precisam de uma molécula de


nicotinamida-adenina-dinucleótido (NAD+) ou de NADP+.

Em muitas coenzimas, como o NAD+ e NADP+, os


componentes essenciais são vitaminas,
particularmente as do grupo B.

Como exemplo:
- ácido pantoténico (vitamina B5) que é uma parte importante da Co-A,

- riboflavina (vitamina B2) incorporada em moléculas de flavina-adenina-dinucleótido


(FAD)
- piridoxal (vitamina B6) cofactor de transaminases e descarboxilases.

21
As vitaminas dividem-se em dois grandes grupos, solúveis em água e
solúveis em lípidos:

22
Uma grande parte das vitaminas, são precursores de coenzimas, de facto, a maior parte
das coenzimas são vitaminas modificadas.

Por exemplo as coenzimas NADH e NADPH, são formadas a partir da nicotinamida:

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No caso da coenzima A (CoA), vital para o metabolismo, nomeadamente quando ligada
ao grupo acetil (acetil-CoA), tem como base na sua constituição uma outra vitamina, o
ácido pantoténico:

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Classificação das enzimas
Sistema de nomenclatura: Enzyme Commission

Recommendations of the Nomenclature Committee of the International


Union of Biochemistry and Molecular Biology on the Nomenclature and
Classification of Enzymes by the Reactions they Catalyse

http://www.chem.qmul.ac.uk/iubmb/enzyme/

EC 1. 1. 1. 27
Enzyme comission
Classe oxi-redutase
Subclasse oxidase
Subsubclasse citocromo oxidase
Número de série específico dentro da subsubclasse

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Classe 1: Oxirredutase (oxidorredutases)

Catalizam reacções de oxidação-redução entre 2 substratos:

As subclasses definem-se conforme os grupos em que actuam.

1. CH-OH 9. Heme
2. Aldeídos ou cetonas 10. Difenóis
3. CH-CH 11. Peróxido de hidrogénio
4. CH-NH2 12. Hidrogénio
5. CH-NH 13. Dadores simples com intro-
6. NADH ou NADPH dução de oxigénio molecular

7. Compostos azotados (oxigenases)


8. Grupos sulfurados … 20

27
Classe 1: Oxirredutase (oxidorredutases)

A catalase é um exemplo de uma enzima oxirredutase

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Classe 2: Transferases

Catalizam a transferência de grupos funcionais entre dadores e aceitadores

Os grupos transferidos são:

1. Grupos de carbono 5. Alquilos e arilos


2. Resíduos de aldeídos ou cetonas 6. Grupos azotados
3. Acilo (resíduos de ácidos orgânicos): 11. Grupos fosfatos
aciltranferases 12. Grupos contendo
4. Glicósilos: glicosiltransferases enxofre

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Classe 2: Transferases

Por exemplo, as aminotransferases catalizam a transferência do grupo amino de um aminoácido para um


α-cetoácido gerando um outro aminoácido e o α-cetoácido correspondente:

A determinação dos níveis séricos das aspartato


aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT) é um
dado diagnóstico utilizado rotineiramente na confirmação de
problemas cardíacos ou hepáticos. A concentração dessas
enzimas no plasma é baixo. No entanto, quando ocorre ruptura
do tecido a concentração plasmática aumenta, denunciando a
lesão.

30
Classe 3: Hidrolases

Catalizam a cisão de uma molécula, com a fixação de uma molécula de água, fixando-se
o OH- num grupo e o H+ noutro

As várias subclasses actuam sobre as seguintes ligações:

1. Éster (esterases) 7. C-C


2. Lig. Glicósido (glicosidases) 8. Halidos
3. Éter 9. P-N
4. Péptido (peptidases) 10. S-N
5. C-N (dif. das lig. peptídicas) 11. C-P
6. Anidros de ácidos 12. S-S
13. C-S

31
Classe 3: Hidrolases

A lisozima é um exemplo de uma


enzima hidrolase do tipo glicosidase,
pois participa na ruptura do
peptidoglicano das bactérias através
da quebra da ligação glicosídica entre
os resíduos do “esqueleto”
polissacarídico.

32
Classe 4: Liases

Acrescentam ou removem grupos de um substrato com a formação de uma ligação


dupla. As ligações envolvidas são:
1. C-C 5. C-Halido
2. C-O 6. P-O
3. C-N 7. Outras não incluídas nos
4. C-S outros grupos

A 3-hidroxi-3-metillglutaril-CoA liase (ou HMG-CoA liase) desempenha um papel


essencial no catabolismo de proteínas e gorduras para obtenção de energia.

33
Classe 4: Liases

A defiência na HMG-CoA liase é


uma doença genética que afecta
o metabolismo de proteínas
(leucina) e gorduras interferindo
com o crescimento; crianças que
deixem de comer desenvolvem
rapidamente hipoglicémia (não
formam corpos cetónicos)

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Classe 5: Isomerases

Catalizam rearranjos moleculares formando isómeros.

1. Racemases e isomerases 4. Transferases intramoleculares


2. Cis-trans isomerases 5. Liases intramoleculares
3. Oxirredutases intramoleculares 6. Outras isomerases

A triosefosfato isomerase é uma enzima que transforma a dihidroxicetonafosfato em


gliceraldeído-3-fosfato durante a glicólise.

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Classe 6: ligases

Catalizam a condensação de 2 moléculas sendo a energia necessária, quase sempre, o


ATP.
1. C-O 4. C-C
2. C-S 5. Ésteres fosfóricos
3. C-N

A aminoacil-tRNA
sintase cataliza a
ligação de um amino-
ácido ao tRNA
respectivo.

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Cinética enzimática
A velocidade de uma reacção química, quer seja catalisada ou não, é
uma medida da conversão de reagente(s) em produto(s) por unidade
de tempo, em condições controladas. Em cinética enzimática os
reagentes designam-se substractos.
Como se pode ver no gráfico, a velocidade é mais elevada no início e vai
decrescendo com o tempo. Isto acontece essencialmente porque:

(i) com o aumento de [P],


começa a dar-se também a
reacção inversa, P → S

(ii) [S] vai decrescendo ao longo


do tempo de reacção, o que
também diminui a velocidade da
reacção directa S → P.

(iii) se a reacção for muito prolongada,


começa a haver desnaturação da
molécula enzimática.
Para evitar estes problemas, utiliza-se sempre a velocidade inicial (vo),
uma vez que se estará então a contabilizar apenas S → P, com [S]
conhecida e [P] = 0.

P
reacção
mais lenta
vo

reacção inicial
(mais elevada)

Tempo (t)

Velocidade inicial (Vo) - quantidade de produto produzido por unidade


de tempo no início da reação, para aquela concentração de substrato.
A formação do produto por unidade de
tempo varia com a quantidade de
substrato e enzima disponíveis:

41
Em reacções catalizadas enzimaticamente, a cinética é a seguinte:

k1 k2
E+S ES E+P
K -1

A equação de Michaelis-Menten:

V0 = Vmax S / S + KM

42
Parâmetros cinéticos: Vmax e Km

Km reflecte a afinidade ao substrato


< Km > afinidade
> Km < afinidade

Vmax reflecte a actividade enzimática


(taxa de conversão dos S a P)
A representação de Michaëlis-Menten

Não permite
a determinação de Vmax
a determinação de Km

A equação de Lineweaker-Burk (duplos


recíprocos ou dos inversos)

44
Eq. Lineweaker-Burk

45
Inibição enzimática

46
As taxas das reacções catalizadas enzimaticamente são afectadas pela adição de
algumas substâncias denominadas moderadores. Quando estes reduzem a taxa são
inibidores, quando aumentam são activadores.

A inibição enzimática pode ser de três tipos, competitiva(a), não competitiva(b) e


anticompetitiva (c):

A inibição pode ser reversível ou irreversível (inactivação da enzima)

47
Inibição competitiva

Enzima Substrato

Produtos

Complexo E-S
Inibidor
competiti
vo Enzima inactiva

48
Inibição não competitiva

Enzima Substrato

Produtos

Complexo E-S

Inibidor não
competitivo

Enzimas inactivas

49
Inibição anticompetitiva

Enzima Substrato

Produtos

Complexo E-S
Inibidor
anticompetitivo

Enzima inactiva

50
Inibição competitiva

Na inibição competitiva, o grau de inibição varia com a concentração de substrato,


ou seja quanto maior for a concentração de substrato, menor o grau de inibição. Neste
tipo de inibição, o valor da Vmax não é afectado, enquanto que o KM é.

51
Inibição não competitiva
Na inibição não competitiva, o grau de inibição não é afectado pela concentração de
substrato. O inibidor liga-se o outro local activo, pelo que a afinidade para o substrato
não é afectada pela concentração do substrato (Km não se altera), mas a velocidade
máxima é alterada.

52
Inibição anticompetitiva

Na inibição acompetitiva ou anticompetitiva, o grau de inibição aumenta com o


aumento da concentração de substracto. Neste tipo de inibição são alterados os
valores de Km e de Vmáx.

53
Enzimas

Estratégias regulatórias
Síntese da enzima

É o dogma central da Biologia Molecular


no entanto refutamos a ideia de “um gene, uma enzima”

Faz-se ao nível dos ribossomas

Cada codão (tripleto de nucleótidos) codifica um


aminoácido
Regulação da actividade enzimática

PORQUÊ ?
Poupança de recursos / energia
“Só se produz quando
se necessita”
Regulação da actividade enzimática

PORQUÊ ?
Poupança de recursos / energia

As vias metabólicas não são únicas: há


interacção permamente com outras vias
“Forma de controlar o
tráfico metabólico”
Regulação da actividade enzimática

PORQUÊ ?
Poupança de recursos / energia

As vias metabólicas não são únicas: há


interacção permamente com outras vias

Respondem ao meio e a vários sinais


externos
“Aumentam e dimunuem a
sua actividade catalítica”
Tipos de regulação enzimática

Genética

Ligação covalente

Alosteria

Feed-back

Zimógenos
Tipos de regulação enzimática

Genética

O operão do aminoácido triptofano é um exemplo da regulação


genética da síntese de uma proteína
Tipos de regulação enzimática
Ligação covalente
Fosforilação / Desfosrilação Cinases

(Protein Kinases)
ATP ADP

–PO42-

PO43-

Fosfatases
Modificações covalentes
Modificações covalentes
Tipos de regulação enzimática
Alosteria
Tipos de regulação enzimática
Proteólise

(zimógenos)
Tipos de regulação enzimática
Feed-back inhibition

O produto final regula


o início da cadeia de
reacções

bacterial enzyme
system
Enzimologia aplicada:

ENZIMOLOGIA CLÍNICA

67
Significado das enzimas plasmáticas
Enzimas plasma-específicas

Também se detectam actividades fisiológicas de enzimas que participam na manutenção


de determinado processo celular / tecidular

Mas quando há
lesão celular ... Libertação
Celular
Célula sem Célula com
contacto directo contacto directo
com o sangue com o sangue

Distribuição e
difusão Tecido intersticial

Sangue
Linfa

Eliminação
Chegada dos enzimas
ao sangue.
Enzimas como marcadores de lesão

Hepatócitos numa situação metabólica normal (esquerda) e numa situação de lesão


celular (direita).
TGO = AST (aspartato aminotransferase)
TGP = ALT (alanina aminotransferase)
1. Fosfatases

Pertencem à classe das hidrolases e


subclasse esterases.

1.1 Fosfatase alcalina (EC.3.1.3.1)


Trata-se de uma enzima intracelular
que se encontra praticamente em todos os
tecidos. É um marcador muito sensível mas
não muito específica de doença obstrutiva
hepática e de lesões ósseas de origem
osteoblásticas e de situações fisiológicas
como a gravidez e crescimento. Existem 5
isoenzimas no soro.
1. Fosfatases
1.2 Fosfatase ácida (EC.3.1.3.2)
Possui várias isoenzimas e está presente em
numerosos tecidos. De todos eles, a glândula prostática é o
tecido mais rico neste enzima. Também se pode encontrar-
se fosfatase ácida no fígado, rim, baço, eritrócitos,
plaquetas, osteoblastos e em leucemias.
De todas as isoenzimas, as mais úteis para estudo
laboratorial são a isoenzima 2 (prostática) como marcador
de tumores da próstata e as isoenzimas 1 e 5 do baço na
doença de Gaucher.
2. Creatina quinase (EC.2.7.3.2.)

Trata-se de uma transferase que cataliza a formação de ATP requerido


pelos sistemas contrácteis ou de transporte.

Também cataliza a fosforilação irreversível da creatinina, sendo o ATP o


dador do grupo fosfato.

É um enzima mitocondrial e citoplasmático amplamente distribuído pelos


tecidos, em diferentes concentrações e de forma decrescente nos seguintes tecidos:
músculo esquelético, miocárdio, placenta e cérebro.

.
2. Creatina quinase (EC.2.7.3.2.)
É um enzima formado por duas subunidades
(dímero) M e B.
B BB
Estas duas subunidades combinam-se para formar
três isoenzimas: CK-MM, CK-BB e CK-MB.

A distribuição tecidular é a seguinte: CK-MM M MM


encontra-se predominantemente no músculo
esquelético, no miocárdio a quantidade de CK-MM é
bastante superior à CK-MB e no cérebro só existe
CK-BB. PM

Gel SDS-PAGE (em condições


desnaturantes) para a enzima CK.
3. Aminotransferases ou Transaminases
Catalizam a reacção reversível de um grupo α-amina de um aminoácido a um α-
cetoácido. Dentro da classificação das enzimas pertencem à segunda classe
(transferases).

3.1. Aspartato-aminotransferase, AST ou transaminase glutâmico-


oxalacética, TGO (EC.2.6.1.1)

Trata-se de um dímero de duas cadeias iguais. Transfere um grupo α-amina dos


aminoácidos L-glutamato ou L-aspartato para os α-cetoglutamato ou oxaloacetato.
Existem duas formas de AST: uma mitocondrial e mais abundante e outra citoplasmática
menos frequente. O O O

HO
HO OH OH

NH2 O NH2

Existe no coração, fígado, músculo esquelético e rim. O aumento de AST indica uma
lesão tecidular mas não o suficiente para indiciar um órgão em concreto.
3. Aminotransferases ou Transaminases

3.2. Alanina-aminotransferase, ALT ou Trasminase glutâmico-pirúvica,


TGP (EC.2.6.1.2)

Cataliza a transferência um grupo α-amina dos aminoácidos L-alanina ao α-cetoglutarato.


Ao contrário de AST, a ALT encontra-se em maior quantidade na sua forma solúvel
citoplasmática. A sua distribuição é a seguinte: em maior quantidade encontra-se no
fígado e em menor concentração no miocárdio. Apesar disso também não é específica da
doença hepática.
O

H3C
OH α-cetoglutarato
NH2
4. -Glutamil-transferase (EC.2.3.2.2)
Cataliza a transferência de um grupo -glutamilo ou um aminoácido ou mesmo um
péptido a outra molécula ou mesmo água.

Encontra-se principalmente no rim, pâncreas, fígado e próstata. A sua distribuição nos


tecidos é muito variável. O álcool e alguns fármacos são capazes de induzir a sua
actividade e aumentar os seus níveis séricos.
5. Lactato desidrogenase, LDH (EC.1.1.1.27)
Cataliza a reacção reversível do piruvato a lactato.
A sua distribuição nos tecidos é ampla, sendo mais abundante no miocárdio, rim, fígado e
músculo.
É um tetramero e existem 2 subunidades: H e M. H para as cadeias de péptidos do
coração e M para as do músculo. As subunidades podem combinar-se em 5 formas
distintas: LDH1, LDH2, LDH3, LDH4 e LDH5, de maior a menor mobilidade electroforética
respectivamente. A LDH1 tem 4 cadeias H.
No miocárdio, rim e eritrócitos LDH1 e LDH2 são as formas predominantes enquanto que
as formas de menor mobilidade LDH4 e LDH5 encontram-se preferencialmente no coração
e fígado
No geral a quantidade total de LDH no soro pouco pode informar, mas o estudo das
diferentes isoenzimas é bastante mais informativo.
5. Lactato desidrogenase, LDH (EC.1.1.1.27)
LDH1 LDH2 LDH3 LDH4 LDH5

LDH5

LDH-M LDH-M
LDH4

LDH3

LDH2

LDH1

LDH-H LDH-H

Electroforese em Gel de poliacrilamida PAGE com 10% de SDS (condições des-


(PAGE) da proteína LDH (não desn) naturantes da proteína LDH.
6. α-Amilase
Trata-se de uma molécula que degrada as moléculas de carbohidratos complexos em
componentes mais pequenos.

A amilase humana é uma α-amilase devido à sua capacidade para romper as ligações
α(1→4) de polissacarídeos, sem alterar as ligações α(1→6) das cadeias laterais, dando
lugar a dextrano e maltose e algumas moléculas de glucose.

α-amilase

a) Coloração do Glicogénio do fígado com


PAS. “Human salivary -amylase (EC.3.2.1.1) activity and periodic acid
and schiff reactive (PAS) staining” (2006)
b) Acção da α-amilase e posterior Fernandes R, Correia R, Fonte, R & Prudêncio C,
coloração do fígado pelo PAS.
Biochemistry and Molecular Biology Ed. 34(4):294-299
6. α-Amilase
Em condições fisiológicas normais a α-amilase é
produzida pelo pâncreas exócrino e pelas glândulas
salivares para facilitar a digestão do amido. Devido ao
seu baixo peso molecular pode ser filtrada nos
glomérulos, portanto quando aumenta no soro, como
sinal de pancreatite, pode ser facilmente detectada na
urina.

A α-amilase sérica pode ser


fraccionada em duas isoenzimas
principais: a forma P (produzida pelo
pâncreas) e a forma S (produzida
pelas glândulas salivares). São
produzidas por genes independentes,
têm a mesma composição em
aminoácidos e encontram-se em
diferentes órgãos.
Enfarte do Miocárdio (E.g.)

Marcadores enzimáticos do
enfarte do miocárdio ...

CK-MB – Creatina quinase


(sensu strictum)
CK – creatina quinase (sensu
lacto)
AST – aspartato-amino-
transferase
LDH – lactato desidrogenase
Enfarte do Miocárdio (E.g.)
Durante o enfarte do miocárdio, CK e a sua isoenzima CK-MB elevam-se precocemente
(6 horas) e forma pouco duradoura (pico as 36 horas), normalizando-se ao terceiro dia.

A AST eleva-se um pouco mais tardiamente e mantém-se elevada durante mais tempo,
apresentando um pico máximo às 48 horas e normaliza-se por volta do quinto dia.

A LDH eleva-se depois das anteriores, sendo a sua elevação mais branda. Apresenta um
pico máximo mais ou menos no terceiro dia e mantém-se para lá do sexto dia.

Nas primeiras horas do enfarte é interessante ver o aumento de CK total e sobretudo o


aumento da isoenzima CK-MB que é específica do músculo cardíaco. Recomenda-se
realizar-se um controlo cada 6 em 6 horas. Uma vez estabelecido o diagnóstico
interessa ver a evolução do paciente, pelo que se deve realizar uma análise cada 12-
24 horas a fim de observar-se os picos de AST e LDH e a sua posterior normalização,
que deverá ser interpretado com um bom prognóstico da lesão do miocárdio.
Métodos mais frequentes de detecção das enzimas séricas
Enzima Reacção Tipo de análise

Fosfatase ácida F.ác.


1-naftilfosfato + H2O 1-naftol + fosfato Espectrofotométrico. Leitura
1-naftol une-se a outro composto para dar um corante azóico a 505 nm.

Alanina ALT Espectrofotométrico.


aminotransferase Alanina + -cetoglutarato L-glutamato + Piruvato Medição do desaparecimen-
LDH to NADH lido a 340 nm.
Piruvato + NADH + H +
L-Lactato + NAD+
Os métodos mais
Aldoase
Frutose 1,6-Di-P
ALD
Dihidroxiacetona-P (DAP)+
Espectrofotométrico.
Medição do desaparecimen-
frequentes de detecção
gliceraldeído-3-P (GAP) to NADH lido a 340 nm. das enzimas séricas são
TPI
GAP DAP GDH levados a cabo por
2 DAP + 2 NADH + 2H+ 2-glicerol-1-P + 2NAD+
técnicas
Fosfatase
p-nitrofenilfosfato + H2O
F.alc.
p-nitrofenol + fosfato
Espectrofotométrico. Leitura
a 405 nm.
espectrofotométricas.
alcalina

-Amilase -amilase Espectrofotométrico. Leitura


p-nitrofenilmaltohepatosido+ 3H2 … a 405 nm.
-glucosidase
p-nitrofenol + glucose

Aspartato AST Espectrofotométrico.


aminotransferase Aspartato + -cetoglutarato L-glutamato + Oxaloacetato Medição do desaparecimen-
MDH to NADH lido a 340 nm.
+
Oxaloacetato + NADH + H L-Malato + NAD+

Colinoesterase CHO Espectrofotométrico. Leitura


Butirilcolina Butirato + Tiocolina a 405 nm.
Tiocolina + Di-tio-bisnitrobenzoato 2-nitro-5-mercaptoben-
zoato.

Creatina quinase CK Espectrofotométrico. Leitura


Creatina-P + ADP Creatina + ATP a 405 nm.
HK
Glucose + ATP Glucose-6-P + ADP
G6P-DH
+
Glucose-6-P + NADP Gluconato-6-P + NADPH + H+

-glutamiltrans- −GT Espectrofotométrico. Leitura


alcalina p-nitrofenilfosfato + H2O p-nitrofenol + fosfato a 405 nm.

-Amilase -amilase Espectrofotométrico. Leitura


p-nitrofenilmaltohepatosido+ 3H2 … a 405 nm.
-glucosidase

Métodos mais frequentes de detecção das enzimas séricas


p-nitrofenol + glucose

AST Espectrofotométrico.
Aspartato
aminotransferase Aspartato + -cetoglutarato L-glutamato + Oxaloacetato Medição do desaparecimen-
MDH to NADH lido a 340 nm.
Oxaloacetato + NADH + H+ L-Malato + NAD+

Colinoesterase CHO Espectrofotométrico. Leitura


Butirilcolina Butirato + Tiocolina a 405 nm.
Tiocolina + Di-tio-bisnitrobenzoato 2-nitro-5-mercaptoben-
zoato.

Creatina quinase CK Espectrofotométrico. Leitura


Creatina-P + ADP Creatina + ATP a 405 nm.
HK
Glucose + ATP Glucose-6-P + ADP
G6P-DH
Glucose-6-P + NADP+ Gluconato-6-P + NADPH + H+

-glutamiltrans- −GT Espectrofotométrico. Leitura


L-g-glutamil-3-carboxi-4-nitranilida + glicilglicina a 405 nm.
ferase
L-glutamilglicilglicina + 5-amino-2-nitrobenzoato

Lactato LDH Espectrofotométrico.


desidrogenase Piruvato + NADH + H+ L-Lactato + NAD+ Medição do desaparecimen-
to NADH lido a 340 nm.

Legenda: ALT – Alanina aminotransferase; LDH – Lactato desidrogenase; TPI – Tris-fosfato desidrogenase; GDH –
Glutamato desidrogenase; ASP – Aspartato aminotransferase; MDH – Malato desidrogenase; CK – Creatina quinase;
HK – hexoquinase; G6PDH – Glucose-6-fosfato desidrogenase; -GT: -Glutamil transferase; CHO – Colinoesterase.

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