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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO;

, por seu advogado, ...................., vem, perante Vossa


Excelência impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA
COM MEDIDA LIMINAR INITIO LITIS

Sob a égide do art. 5º, LXIX da Magna Carta e disposições da Lei nº 12.016/2009,
contra ato do MM Juiz “a quo”, da ___ Vara do Trabalho da Comarca de CIDADE, que
indeferiu desbloqueio de penhora realizada na aposentadoria da impetrante, como
garantia de pagamento de reclamação trabalhista proposta por Nome Completo,
nacionalidade, estado civil, profissão, inscrito no Inserir CPF e Inserir RG, residente e
domiciliado na Inserir Endereço, o que faz pelas razões de fato e de direito que vão
adiante aduzidas.

DA ILEGALIDADE E NULIDADE DO ATO COMBATIDO


O juízo proferiu decisão ID 2bdbcf9, indeferimento o
pedido de desbloqueio, informando ainda “que a impenhorabilidade da aposentadoria,
nos termos do artigo 833, IV, do CPC, não é absoluta, deixando de ser aplicada em
casos que envolvam créditos de natureza alimentícia, independentemente de sua
origem, conforme previsão no parágrafo 2º do artigo acima referido”.

Desta forma, a impetrante não conseguiu ter de volta o


valor de sua aposentadoria bloqueado, valor este impenhorável por Lei.

A impetrante faz prova cabal de sua assertiva com a


juntada dos documentos que instruíram o pedido e seguem neste mandado.
A decisão proferida pelo juízo competente, ofende direito
líquido e certo decisão que determina a constrição de valores referentes a
aposentadoria, visto que o art. 833, IV , do CPC contém norma imperativa que não
admite interpretação ampliativa, sendo a exceção prevista no art. 833, § 2.º , do CPC
espécie e não gênero de crédito de natureza alimentícia, não englobando o crédito
trabalhista.

DECLARAÇÃO DA ILEGALIDADE PELO TST


Na judiciosa intelecção do Tribunal Superior do Trabalho
–TST:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. ATO COATOR NA VIGÊNCIA DO CPC/73. PENHORA SOBRE
PARTE DOS PROVENTOS DE APOSENTADORIA. ORIENTAÇÃO
JURISPRUDENCIAL Nº 153 DA SBDI-2. Nos termos da Orientação Jurisprudencial nº
153 da SBDI-2, "ofende direito líquido e certo decisão que determina o bloqueio e
numerário existente em conta salário, para satisfação de crédito trabalhista, ainda que
seja limitado a determinado percentual dos valores recebidos ou a valor revertido para
fundo de aplicação ou poupança, visto que o art. 649, IV, do CPC/73 contém norma
imperativa que não admite interpretação ampliativa, sendo a exceção prevista no art.
649, § 2º, do CPC espécie e não gênero de crédito de natureza alimentícia, não
englobando o crédito trabalhista". Na hipótese, o ato impugnado consiste na decisão
em que, na vigência do CPC/73, foi determinada a penhora em parte dos proventos de
aposentadoria recebidos pela Impetrante, sendo forçoso concluir pela incidência do
referido verbete. Assim, deve ser cassado o ato em que determinada a penhora sobre
parte dos proventos de aposentadoria recebidos pelo Impetrante. PROCESSO Nº
TST-RO-768-67.2017.5.05.0000. Recurso ordinário provido”.

“RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO.


IMPENHORABILIDADE ABSOLUTA DO SALÁRIO. DETERMINAÇÃO DE PENHORA
DE 30% DO SALÁRIO DO EXECUTADO. VIOLAÇÃO DO ART. 7º, X, DA CF.
CRÉDITOS TRABALHISTAS. IMPOSSIBILIDADE. A penhora de créditos salariais
ofende o disposto no art. 7º, X, da CF/88. Esta c. Corte já pacificou seu entendimento
no sentido de que - ofende direito líquido e certo decisão que determina o bloqueio de
numerário existente em conta salário, para satisfação de crédito trabalhista, ainda que
seja limitado a determinado percentual dos valores recebidos ou a valor revertido para
fundo de aplicação ou poupança, visto que o art. 649, IV, do CPC contém norma
imperativa que não admite interpretação ampliativa, sendo a exceção prevista no art.
649, § 2.º, do CPC espécie e não gênero de crédito de natureza alimentícia, não
englobando o crédito trabalhista". Inteligência da OJ 153 da SDI-2, do c. TST. Recurso
de revista conhecido e provido. (TST - RR: 408005719905090095, Relator: Aloysio
Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 12/02/2014, 6ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 14/02/2014)”.

O TST tem entendido que os proventos de aposentadoria


são “indispensáveis à subsistência de quem os recebe e de sua família”.

A matéria não comporta mais discussão no âmbito da


SDI-2 e está pacificada com a edição da Orientação Jurisprudencial 153, revisada e
atualizada em decorrência do Código de Processo Civil de 2015.

Precedentes:

ROMS 4435/2006-000-01-00.1 - Min. Ives Gandra


Martins Filho, DJ 27.06.2008 - Decisão unânime; ROAG 356/2007-000-10-00.3 - Min.
Pedro Paulo Manus, DJ 09.05.2008 - Decisão unânime; ROAG 230/2007-000-10-00.9
- Min. Barros Levenhagen, DJ 25.04.2008 - Decisão unânime; ROMS 305/2005-000-
10-00.0 - Min. Renato de Lacerda Paiva, DJ 19.10.2007 - Decisão unânime ; ROAG
12646/2006-000-02-00.2 - Min. José Simpliciano Fontes de F. Fernandes, DJ
01.10.2007 - Decisão unânime; ROMS 241/2006-000-23-00.7 - Min. Renato de
Lacerda Paiva, DJ 08.06.2007 - Decisão unânime; ROMS 73/2006-000-23-00.0 - Min.
Ives Gandra Martins Filho, DJ 08.06.2007 - Decisão unânime; ROMS 190/2006-000-
04-00.7 - Min. Ives Gandra Martins Filho, DJ 30.03.2007 - Decisão unânime; ROMS
347/2005-000-10-00.0 - Min. Gelson de Azevedo, DJ 19.12.2006 - Decisão unânime;
ROMS 1752/2004-000-15-00.8 - Min. Renato de Lacerda Paiva, DJ 26.05.2006 -
Decisão unânime; ROMS 215/2004-000-18-00.4 - Min. Gelson de Azevedo, DJ
17.02.2006 - Decisão unânime, ROMS 16/2004-000-15-00.2 - Min. Renato de Lacerda
Paiva, DJ 10.02.2006 - Decisão unânime, ROMS 1882/2004-000-04-00.0 - Min. Barros
Levenhagen, DJ 02.09.2005 - Decisão unânime.

A matéria não surpreende a Egrégia SBDI-2, que, em


diversas oportunidades, vem se manifestando no sentido da impossibilidade de
efetivação de penhora sobre salários e proventos de aposentadoria (ROMS-37400-
23.2003.5.18.0000, DJ de 13.5.2005; ROMS-188200-19.2004.5.04.0000, DJ de
2.9.2005; ROMS-21500-63.2004.5.18.0000, DJ de 17.2.2006; ROMS-175200-
43.2004.5.15.0000, DJ de 26.5.2006; ROMS-65200-18.2005.5.05.0000, DJ de
7.12.2006; ROMS-28900-82.2006.5.10.0000, DJ de 30.11.2007; RO-472-
84.2013.5.05.0000, DEJT de 13.12.2013, e RO-2294-45.2012.5.05.0000, DEJT de
14.2.2014).

Vê-se que o juiz a quo tomou decisão contrária à Corte


Trabalhista-Mor.

DA AFRONTA A CONSTITUÇÃO FEDERAL


A decisão proferida em fase de execução, demonstração
inequívoca de violação direta da Constituição da República, consoante dispõem o § 2º
do artigo 896 da Consolidação das Leis do Trabalho e o entendimento consagrado na
Súmula n.º 266 deste Tribunal Superior.

Afasta-se, assim, a tentativa de caracterização de


divergência jurisprudencial.
Conforme de depreende do excerto transcrito, o Egrégio
Tribunal Regional indeferiu o pedido de desbloqueio de numerário de aposentadoria,
aduzindo que a impenhorabilidade da aposentadoria, nos termos do artigo 833, IV, do
CPC, não é absoluta, deixando de ser aplicada em casos que envolvam créditos de
natureza alimentícia.

Observe-se, inicialmente, que o princípio da proteção dos


salários encontra-se consagrado na Constituição da República de 1988, que, em seu
artigo 7º, inciso X, assegura "proteção do salário na forma da lei, constituindo crime
sua retenção dolosa".

Conclui-se, dessarte, que, a partir da promulgação da


Carta Política de 1988, a impenhorabilidade absoluta dos salários e proventos da
aposentadoria prevista no artigo 649, IV, do Código de Processo Civil, foi alçada a
nível constitucional, encontrando-se inserta no princípio da proteção dos salários.
Revela-se, portanto, contrária à Constituição da República a determinação judicial de
bloqueio dos valores percebidos a título de salários ou proventos de aposentadoria.

Neste contexto, a jurisprudência desta Corte


uniformizadora, consubstanciada na edição da Orientação Jurisprudencial n.º 153 da
SBDI-II, sedimentou-se no sentido de ser impenhorável o numerário existente em
conta salário, ainda que limitado a determinado percentual dos valores recebidos. Eis
o teor do referido verbete jurisprudencial:

“MANDADO DE SEGURANÇA. EXECUÇÃO. ORDEM


DE PENHORA SOBRE VALORES EXISTENTES EM CONTA SALÁRIO. ART. 649, IV,
DO CPC. ILEGALIDADE. Ofende direito líquido e certo decisão que determina o
bloqueio de numerário existente em conta salário, para satisfação de crédito
trabalhista, ainda que seja limitado a determinado percentual dos valores recebidos ou
a valor revertido para fundo de aplicação ou poupança, visto que o art. 649, IV, do
CPC contém norma imperativa que não admite interpretação ampliativa, sendo a
exceção prevista no art. 649, § 2º, do CPC espécie e não gênero de crédito de
natureza alimentícia, não englobando o crédito trabalhista.

Tem-se, dessarte, que a decisão proferida pela egrégia


Corte de origem, no sentido de determinar a penhora de 33% do valor bruto dos
proventos de aposentadoria percebidos pelo terceiro embargante, encontra-se em
dissonância com o disposto no inciso X do artigo 7º da Constituição da República.

Observem-se, neste sentido, os seguintes precedentes


desta Corte superior:

RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. ORDEM DE


PENHORA SOBRE VALORES EXISTENTES EM CONTA SALÁRIO DE SÓCIO.
OFENSA AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PROTEÇÃO DO SALÁRIO. ART. 7º,
X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A decisão judicial que determina a penhora de
valores existentes na conta de salários viola o princípio constitucional da proteção dos
salários insculpido no art. 7º, X, da Carta Magna. Não se trata de violação indireta ou
reflexa da Constituição da República, dependente da aplicação do art. 649, IV, do
CPC, que, tornando concreta aquela proteção, estabelece a impenhorabilidade
absoluta dos salários. A SBDI-2 do TST, na Orientação Jurisprudencial nº 153, já
sedimentou entendimento acerca da nulidade da ordem de penhora de valores
existentes na conta de salário do devedor trabalhista.

Precedente da Turma. Recurso de revista conhecido e


provido. (RR-272-11.2010.5.22.0000, Relator Ministro Walmir Oliveira da Costa, 1ª
Turma, DEJT de 19/12/2011).

1. AGRAVO DE INSTRUMENTO. Agravo de Instrumento


a que se dá provimento, ante a provável violação ao art. 7º, inc. X, da Constituição da
República. 2. RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. PENHORA INCIDENTE SOBRE
PERCENTUAL DOS SALÁRIOS. IMPOSSIBILIDADE. Esta Corte pacificou o
entendimento de que a penhora efetuada em conta salário é inválida, nos termos do
art. 7º, inc. X, da Constituição da República. MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. O
Recurso de Revista está desfundamentado, à luz do art. 896, § 2º, da CLT e da
Súmula 266 do TST. Recurso de Revista de que se conhece em parte e a que se dá
provimento. (RR-31900- 61.2009.5.15.0060, Relator Ministro João Batista Brito
Pereira, 5ª Turma, DEJT de 19/04/2013).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA. EXECUÇÃO. PENHORA SOBRE VALORES EXISTENTES EM CONTA
POUPANÇA E NA QUAL O EXECUTADO RECEBE SUA APOSENTADORIA.
ILEGALIDADE. Demonstrada a possível afronta ao art. 7º, X, da CF, dá-se provimento
ao agravo de instrumento para determinar o processamento do recurso de revista.
Agravo de instrumento conhecido e provido”

“RECURSO DE REVISTA. PENHORA SOBRE


VALORES EXISTENTES EM CONTA POUPANÇA E NA QUAL O EXECUTADO
RECEBE SUA APOSENTADORIA. ILEGALIDADE.

A determinação de penhora em conta salário, no caso,


em conta poupança na qual o executado recebe sua aposentadoria, viola o artigo 7º,
X, da Constituição e a proteção ao salário nele inserta. Aplicação analógica da
Orientação Jurisprudencial nº 153 da SDI-2 desta Corte. Precedente. Recurso de
revista conhecido e provido. (RR- 83100-24.1999.5.04.0203, Relatora Ministra Dora
Maria da Costa, 8ª Turma, DEJT de 07/12/2012)”.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO. PENHORA.


PROVENTOS DE APOSENTADORIA. IMPOSSIBILIDADE. PROVIMENTO.
Demonstrada a afronta direta e literal ao artigo 7º, X, da Constituição da República nos
moldes do § 2º do artigo 896 da Consolidação das Leis do Trabalho, dá-se provimento
ao agravo de instrumento a fim de determinar o processamento do recurso de revista.
EXECUÇÃO. PENHORA. PROVENTOS DE APOSENTADORIA. IMPOSSIBILIDADE.
O princípio da proteção dos salários, consagrado no inciso X do artigo 7º da
Constituição da República de 1988, assegura - proteção do salário na forma da lei,
constituindo crime sua retenção dolosa -. Conclui-se, dessarte, que, a partir da
promulgação da Carta Política de 1988, a impenhorabilidade absoluta dos salários,
prevista no artigo 649, IV, do Código de Processo Civil, foi alçada a nível
constitucional, encontrando-se inserta no princípio da proteção dos salários. Revela-
se, portanto, contrária à Constituição da República a determinação judicial de bloqueio
dos valores percebidos a título de salários ou proventos de aposentadoria. Recurso de
revista conhecido e provido. (TST - RR: 18317820105020252 1831-
78.2010.5.02.0252, Relator: Lelio Bentes Corrêa, Data de Julgamento: 04/09/2013, 1ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 13/09/2013)”.

DA AFRONTA A LEI FEDERAL


O inciso IV do art. 833 do CPC passou a ter a seguinte
redação:

“Art. 833. São impenhoráveis:

...

IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários,


as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os
montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas
ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os
honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º;”

Pelo referido dispositivo legal, os salários e os proventos


de aposentadoria estão protegidos pelo manto da impenhorabilidade, não sendo
possível cogitar de constrição judicial em tal situação. Instituída a norma processual
comum, compete investigar se a CLT é omissa quanto à salvaguarda patrimonial do
devedor, para, posteriormente, pesquisar a compatibilidade do preceito com os
princípios que orientam o Processo do Trabalho.

Dispõe o art. 769 do Texto Consolidado:


“Art. 769. Nos casos omissos, o direito processual
comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que
for incompatível com as normas deste Título.”

Já os arts. 883 e 889 da CLT estão assim redigidos:

“Art. 883. Não pagando o executado, nem garantindo a


execução, seguir-se-á penhora dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da
importância da condenação, acrescida de custas e juros de mora, sendo estes, em
qualquer caso, devidos a partir da data em que for ajuizada a reclamação inicial.

Art. 889. Aos trâmites e incidentes do processo de


execução são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presente Título, os
preceitos que regem os processos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida
ativa da Fazenda Pública Federal.”

Indene de dúvidas que o texto da CLT é omisso quanto


às regras processuais que cuidam da impenhorabilidade absoluta de bens.

Contudo, não se tolera, com todas as vênias, os


argumentos daqueles que rejeitam a aplicação subsidiária do art. 833 do CPC, em
razão da natureza alimentar do crédito trabalhista e do incentivo à inadimplência das
obrigações, uma vez que o caráter protetivo da norma processual comum firma suas
raízes no princípio da dignidade da pessoa humana (Constituição Federal, art. 1º, III).
Vê-se, a toda evidência, que o legislador, ao fixar a
impenhorabilidade absoluta, enaltece a proteção ao ser humano, seja em atenção à
sobrevivência digna e com saúde do devedor e de sua família, seja sob o foco da
segurança e da liberdade no conviver social dos homens (Carta Magna, arts. 5º, caput,
e 6º). Transcrevo as observações de Cândido Rangel Dinamarco sobre o tema:

“O mais importante dos objetivos que levam o legislador a


ditar a impenhorabilidade de certos bens é a preservação do mínimo patrimonial
indispensável à existência condigna do obrigado, sem privá-lo de bens sem os quais
sua vida se degradaria a níveis insuportáveis[...] são declarados impenhoráveis certos
bens sem os quais o obrigado não teria como satisfazer as necessidades vitais de
habitação, alimentação, saúde, educação, transporte e mesmo lazer, nos limites do
razoável e proporcional - esses, sim, direitos da personalidade. A execução visa à
satisfação de um credor mas não pode ser levada ao extremo de arrasar a vida de um
devedor” (Instituições de direito processual civil, 3ª ed., Malheiros Editores Ltda., 2009,
p. 380).

Não é outra a lição do eminente Juiz do Trabalho na 13ª


Região Wolney de Macedo Cordeiro:

“A Lei nº 11.382/2006 trouxe algumas alterações pontuais


acerca das regras de impenhorabilidade preconizadas pelo direito processual civil.
Essa normatização aplica-se integralmente ao direito processual do trabalho. Com
efeito, a norma trabalhista sempre foi omissa em relação ao tema da blindagem
patrimonial assegurada ao devedor. Por mais protecionista que seja o processo
laboral, não é possível afastar a incidência das regras de proteção patrimonial do
devedor, que são construídas também sob o fundamento da proteção sócio-
econômica. Garante a impenhorabilidade absoluta, preconizada pelo CPC, art. 649, o
mínimo para a sobrevivência e manutenção da dignidade do devedor. A hipótese em
questão deve ser aplicada ao direito processual do trabalho. Mesmo se concebendo o
caráter privilegiadíssimo do crédito trabalhista, não há fundamentos dogmáticos para
afastar a incidência dessa norma de impenhorabilidade do processo laboral” (Manual
de execução trabalhista: aplicação ao processo do trabalho das Leis nºs 11.232/2005 -
Cumprimento da sentença - e 11.382/2006 - Execução de títulos extrajudiciais -, Rio
de Janeiro: Forense, 2008, p.192 e 194).

A decisão ofende a Orientação Jurisprudencial do TST n.º


153:

“153. MANDADO DE SEGURANÇA. EXECUÇÃO.


ORDEM DE PENHORA SOBRE VALORES EXISTENTES EM CONTA SALÁRIO.
ART. 649, IV, DO CPC DE 1973. ILEGALIDADE. (atualizada em decorrência do CPC
de 2015) - Res. 220/2017, DEJT divulgado em 21, 22 e 25.09.2017 Ofende direito
líquido e certo decisão que determina o bloqueio de numerário existente em conta
salário, para satisfação de crédito trabalhista, ainda que seja limitado a determinado
percentual dos valores recebidos ou a valor revertido para fundo de aplicação ou
poupança, visto que o art. 649, IV, do CPC de 1973 contém norma imperativa que não
admite interpretação ampliativa, sendo a exceção prevista no art. 649, § 2º, do CPC de
1973 espécie e não gênero de crédito de natureza alimentícia, não englobando o
crédito trabalhista.

IV – FATOS RELEVANTES NO CONTEXTO


PROCESSUAL
Conforme já narrado, a impetrante é aposentada,
recebendo o valor de sua aposentadoria em sua conta corrente.

Constata-se que a constrição recaiu em quantia


depositada em conta corrente, destinada para recebimento de sua aposentadoria. Tal
condução processual violou direito líquido e certo da executada.
Com efeito, o artigo 833, IV, do Código de Processo Civil
qualifica como absolutamente impenhoráveis os proventos de aposentadoria.

A ordem jurídico-positiva, neste azo, privilegiou a


sobrevivência pessoal em prejuízo de outros débitos.

Na própria legislação processual, contudo, há exceções à


regra da impenhorabilidade salarial.

Assim é que o §2º do citado preceptivo dispõe que a


impenhorabilidade do salário ''não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de
prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias
excedentes a 50 (cinquenta) salários mínimos mensais''.

Por outras palavras, o Código de Processo Civil admite


expressamente a penhora do salário em duas situações:

a) para pagamento de pensão alimentícia;

b) quando o salário do devedor exceder a 50 (cinquenta


vezes) o valor do salário-mínimo.
Criou-se o instituto da impenhorabilidade para dar
segurança ao devedor e sua família. Com o proveito econômico do salário, o
executado, sobrevive, arca com suas despesas básicas, tais como alimentação,
moradia, medicamento, etc.

No caso em tela, a Impetrante recebe aposentadoria com


valor inferior a 50 vezes o salário mínimo.

A norma do inciso IV do artigo 833 do Código de


Processo Civil é clara ao instituir a absoluta impenhorabilidade dos salários,
vencimento e outros tipos de remuneração, sendo, portanto, inadmissível a penhora
total ou parcial dos vencimentos do devedor.

Impende ressaltar que o salário goza de


impenhorabilidade, pois tal garantia visa a assegurar o princípio constitucional da
Dignidade Humana, fundamento do Estado Democrático Brasileiro, haja vista o caráter
alimentar de tal verba, de modo a privilegiar a sobrevivência pessoal do devedor em
prejuízo de outros débitos, mesmo que se trate de crédito trabalhista.

Como corolário deste fato, depreende-se do teor do artigo


833, VI do novo CPC que tais valores são impenhoráveis, por força de norma de
ordem pública, só sendo excepcionado em caso de pensão alimentícia ou quando o
vencimento supera cinquenta salários mínimos mensais (artigo 833, §2º, CPC),
conforme já informado acima.
Nesse mesmo sentido, o C. Tribunal Superior do
Trabalho já se manifestou favoravelmente ao caráter absoluto da impenhorabilidade
dos vencimentos, conforme se depreende dos julgados abaixo colacionados, in verbis:

“RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. LEI Nº 13.105/15. PENHORA DE SALÁRIO . ILEGALIDADE. ART.
833, IV, DO NCPC. INCIDÊNCIA DA COMPREENSÃO DEPOSITADA NA
ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL 153 DA SBDI-2 DO TST. 1. Nos termos do art.
833, IV, do NCPC (art. 649, IV, do CPC/73), são absolutamente impenhoráveis "os
vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de
aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias
recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua
família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
ressalvado o § 2º". 2. Constatada a compatibilidade da regra processual comum com
os princípios que orientam o Processo do Trabalho (tanto que editada a Orientação
Jurisprudencial nº 153 da SBDI-2 do TST), impõe-se a aplicação subsidiária da norma
sob foco. 3. O legislador, ao fixar a impenhorabilidade absoluta, enaltece a proteção
ao ser humano, seja em atenção à sobrevivência digna e com saúde do devedor e de
sua família, seja sob o foco da segurança e da liberdade no conviver social dos
homens (CF, arts. 5º, "caput", e 6º). 4. Diante do comando do inciso IV do art. 833 do
NCPC (inciso IV do art. 649 do CPC/73) e da inteligência da Orientação
Jurisprudencial 153/SBDI-2/TST, não se autoriza a penhora de salários ou de
proventos de aposentadoria, sob pena de ofensa a direito líquido e certo do devedor.
Recurso ordinário conhecido e desprovido. (Processo: RO - 10390-47.2016.5.18.0000
Data de Julgamento: 07/02/2017, Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan
Pereira, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação:
DEJT 10/02/2017”.

“RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. PENHORA INCIDENTE SOBRE SALÁRIO RECEBIDO PELO
IMPETRANTE. ILEGALIDADE. O inciso IV do artigo 649 do CPC/73, que corresponde
ao artigo 833, IV, do CPC/2016, é expresso ao considerar absolutamente
impenhoráveis os vencimentos, soldos, remunerações, pensões, ou quantias
percebidas e destinadas ao sustento do devedor e de sua família. Por sua vez, a
jurisprudência desta Corte é no sentido de que é ilegal e arbitrária a ordem de penhora
sobre salários, vencimentos e proventos de aposentadoria, situação na qual tem sido
concedida a segurança para sustar o ato impugnado, tendo em vista a natureza
alimentar de tais parcelas, indispensáveis à subsistência de quem as recebe e de sua
família. Portanto, o impetrante tem, efetivamente, o direito líquido e certo de não
serem penhorados os valores recebidos a título de salário creditados na sua conta
bancária, mesmo em se tratando de execução trabalhista, razão pela qual deve ser
reformado o acórdão recorrido que restringiu o bloqueio para 10% sobre o valor
percebido pelo executado a título de salário bruto. Incidência do entendimento
consubstanciado na Orientação Jurisprudencial nº 153 da SBDI-2.(Processo: RO - 38-
03.2016.5.19.0000 Data de Julgamento: 06/12/2016, Relatora Ministra: Maria Helena
Mallmann, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação:
DEJT 19/12/2016)”

Dessa forma, resta patente a ilegalidade do ato cometido


pelo juízo de origem ao determinar a penhora de proventos e valores de natureza
salarial, tendo em vista o caráter alimentar de tais verbas, tendo primazia em relação
ao crédito trabalhista.

Nesse sentido, a Súmula nº 21, do E. Tribunal Regional


do Trabalho da 02º Região, que trata sobre o tema:

“21 - Mandado de Segurança. Penhora on line. (Res. nº


02/2014- DO Eletrônico 17/09/2014 - Republicada DOEletrônico 02/10/2014)
Considerando o disposto no art. 649, incisos IV e X do CPC, ofende direito líquido e
certo a penhora sobre salários, proventos de aposentadoria, pensão e depósitos em
caderneta de poupança até 40 salários mínimos”.
Abaixo, seguem mais alguns fundamentos
jurisprudenciais:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA. EXECUÇÃO. PENHORA SOBRE VALORES EXISTENTES EM CONTA
POUPANÇA E NA QUAL O EXECUTADO RECEBE SUA APOSENTADORIA.
ILEGALIDADE. Demonstrada a possível afronta ao art. 7º, X, da CF, dá-se provimento
ao agravo de instrumento para determinar o processamento do recurso de revista.
Agravo de instrumento conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA. PENHORA
SOBRE VALORES EXISTENTES EM CONTA POUPANÇA E NA QUAL O
EXECUTADO RECEBE SUA APOSENTADORIA. ILEGALIDADE. A determinação de
penhora em conta salário, no caso, em conta poupança na qual o executado recebe
sua aposentadoria, viola o artigo 7º, X, da Constituição e a proteção ao salário nele
inserta. Aplicação analógica da Orientação Jurisprudencial nº 153 da SDI-2 desta
Corte. Precedente. Recurso de revista conhecido e provido. (RR 83100-
24.1999.5.04.0203, Relatora Ministra Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DEJT de
07/12/2012).

“Numeração Única: 0196897-18.2010.8.13.0000

Relator: Des.(a) TARCISIO MARTINS COSTA

Data do Julgamento: 25/01/2011

Data da Publicação: 14/02/2011

Ementa:

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO -


EXECUÇÃO - BLOQUEIO DE VALORES EM CONTA CORRENTE NA QUAL O
DEVEDOR PERCEBE SEUS VENCIMENTOS - IMPOSSIBILIDADE ANTE O
CARÁTER ALIMENTAR. É inadmissível a penhora parcial de valores depositados em
conta-corrente destinada ao recebimento de salário ou aposentadoria por parte do
devedor - Precedentes. (AgRg no REsp 1023015/DF, Rel. Min. Massami Uyeda, j.
19/06/2008).

Súmula: CONCEDERAM GRATUIDADE JUDICIÁRIA


NESTA INSTÂNCIA RECURSAL E DERAM PROVIMENTO AO RECURSO”.

“Numeração Única: 0332272-88.2010.8.13.0000

Relator: Des.(a) RONEY OLIVEIRA

Data do Julgamento: 14/12/2010

Data da Publicação: 26/01/2011

Ementa:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO FISCAL -


IMPENHORABILIDADE DE CONTA SALÁRIO - VEDAÇÃO PREVISTA NO ART. 649,
IV, DO CPC - CARÁTER ALIMENTAR - DESBLOQUEIO - RECURSO A QUE SE DÁ
PROVIMENTO.

Súmula: DERAM PROVIMENTO AO RECURSO’.

“(TRF1-154498) PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO


FISCAL. PENHORA ON-LINE. CONTA SALÁRIO. DESCABIMENTO.
IMPENHORABILIDADE. ART. 649, IV, DO CPC.

I. A penhora incidente sobre vencimentos, soldos e


salários, excetuada hipótese de pagamento de prestação alimentícia, encontra
vedação expressa no inciso IV do art. 649 do CPC.

II. Agravo Regimental desprovido.


(Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº
0037947-45.2008.4.01.0000/DF, 8ª Turma do TRF da 1ª Região, Rel. Souza Prudente.
j. 27.04.2010, e-DJF1 07.05.2010)”.

DA MEDIDA LIMINAR
Pelo exposto, há de se requerer a concessão de medida
liminar, initio litis, haja vista que, incidindo sobre verba alimentícia (aposentadoria), o
bloqueio deixa a impetrante e sua família em situação de vexame e desespero,
agravada com o constrangimento e com os transtornos sociais decorrentes, tal como a
impossibilidade no pagamento do IPTU e demais contas.

Presentes estão os requisitos do fumus boni iuris e do


periculum in mora autorizadores da concessão de medida liminar em sede de
mandado de segurança.

Não se trata apenas de fumaça do bom Direito.

Há um verdadeiro lume de evidências do direito líquido e


certo que encontra combustão na lei maior do país, permitindo-nos perfilhar a
preservação do patrimônio particular, com todas as forças, na ausência de um devido
processo legal capaz de atingi-lo, como reza o art. 5º, LIV da CF.

O perigo da demora coloca em xeque o estreito


patrimônio da impetrante, conseguido a duras penas ao longo de décadas de trabalho
assalariado, sendo suficiente apenas para manter sua família com certa dignidade, no
tocante aos itens de alimentação, vestuário, transporte e assistência médica.

DOS PEDIDOS
Meritíssima Autoridade Judicante,
Verificando-se que o Tribunal Superior do Trabalho
considera ser ilegal a penhora dos proventos da aposentadoria, requer seja
reconhecida sua nulidade, CONCEDENDO A SEGURANÇA, determinado a devolução
dos valores já depositados em juízo.

É justo requerer-se a Vossa Excelência que se digne de:

QUANTO A MEDIDA LIMINAR


Conceder imediato provimento, determinando a nulidade
do ato e consequente desconstituição da penhora da aposentadoria da impetrante,
determinando imediatamente, a ordem de desconstituição da penhora, bem como
determinando o levantamento dos valores já bloqueados nos autos, por meio de alvará
judicial, em favor do impetrante, com máxima urgência.

Pede-se, finalmente, seja notificada a Autoridade Coatora


a fim de que se manifeste no prazo de dez dias, consoante dispõe o art. 7º, inciso I, da
Lei nº 12.016/2009.

Dá-se à presente causa o valor de Valor da Causa.

Termos em que,

Pede deferimento.
Cidade, Data.

Nome do Advogado
OAB/UF N.º

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