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As modalidades de defesa

(art. 571.º do CPC)


• Doutrinalmente [Manuel de Andrade, Castro Mendes, outros autores…]:

Exceções
Exceções
= exceções processuais
dilatórias

“[…] sem deixarem de conduzir à absolvição do pedido, têm como


efeito, não a improcedência definitiva da ação, mas a sua paralisação
enquanto determinado requisito não se verificar” (negrito nosso, cfr.
Exceções materiais
Anotação ao art. 571.º do CPC, in “Código de Processo Civil
dilatórias
Anotado”, de Lebre de Freitas e Isabel Alexandre, vol. II, 4.ª edição,
Exceções = exceções Almedina, pág. 558).
perentórias materiais Exemplos: arts. 428.º do CC e 610.º do CPC

A sua verificação conduz à improcedência definitiva da ação, sem


Exceções materiais mais.
perentórias Exemplos: pagamento da obrigação, caducidade, prescrição do direito
Caso prático n.º 3
Considerando as modalidades de defesa previstas no artigo 571.º do CPC, identifique, para cada uma das seguintes hipóteses,
quais delas foram invocadas pelo(s) Réu(s).
HIPÓTESE A
Adelaide (A) instaurou ação declarativa contra Bernardo (B), pedindo que B, empreiteiro, seja condenado a pagar a A, dono da
obra, uma indemnização no montante de 100.000 euros, devido a título de danos patrimoniais, resultantes da resolução, por
incumprimento defeituoso de B, do contrato de empreitada celebrado entre A e B. A ação deu entrada no tribunal do lugar do
domicílio do credor (A).
Na petição inicial, A alegou, entre outros factos, que
a. No 13.º dia posterior ao recebimento da obra, a saber, em 09.09.2021, A detetou múltiplos defeitos estruturais nos pilares da
obra contratada a B, os quais A denunciou, de imediato, por email, a B.
b. B nunca respondera ao email enviado por A.
c. Face à gravidade dos defeitos estruturais da obra contratada, esta tornou-se inadequada ao fim a que se destinava, tendo A
resolvido o contrato de empreitada, o que fez por carta registada com aviso de receção, em 10.10.2021.
• B contestou, invocando
a. A incompetência relativa do tribunal, por violação das regras da competência em razão do território, pedindo que seja absolvido
da instância;
b. A caducidade do direito de A a resolver o contrato de empreitada celebrado com B, na medida em que a denúncia dos alegados
defeitos ocorreu 45 dias depois do recebimento da obra por parte de A.
c. Não corresponder à verdade o alegado no ponto ii. da petição inicial: respondeu ao email enviado por A conforme doc. n.º 1 que
junta à Contestação e que dá, integralmente, reproduzido.
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE A

Resolução:
Processualmente, foi instaurada uma ação declarativa condenatória (art. 10.º, n.º 3 b) do CPC).
Substantivamente, temos em presença um contrato de empreitada: arts. 1207.º e ss. do CC (sendo, particularmente,
relevantes ao caso os arts. 1218.º a 1224.º do CC).
- Factos alegados na petição inicial:
- a.: relaciona-se com o previsto nos arts. 1218.º, n.º s 1 e 4 e, em especial, o 1220.º, n.º 1 do CC, nos termos
do qual “O dono da obra deve, sob pena de caducidade dos direitos conferidos nos artigos seguintes,
denunciar ao empreiteiro os defeitos da obra dentro dos trinta dias seguintes ao seu descobrimento.” (negrito
nosso)
- b. e c.: relacionam-se com o previsto no art. 1222.º, n.º 1 do CC, nos termos do qual “Não sendo eliminados
os defeitos ou construída de novo a obra, o dono pode exigir a redução do preço ou a resolução do contrato,
se os defeitos tornarem a obra inadequada ao fim a que se destina.” (sublinhado e negrito nossos)
Veja-se, ainda, o artigo 1223.º do CC, sobre qual a A. funda o seu pedido, na presente ação: “O exercício dos direitos
conferidos nos artigos antecedentes não exclui o direito a ser indemnizado nos termos gerais.” (negrito nosso)
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE A
(Cont.) Resolução:
Quais os meios de defesa invocados pelo R.?
a. “A incompetência relativa do tribunal, por violação das regras da competência em razão do território,
pedindo que seja absolvido da instância;”:
• defesa por exceção dilatória (ou designada, doutrinalmente, por exceção processual);
• quanto à incompetência relativa (por violação das regras da competência em razão do território), vejam-
se os artigos 102.º e ss. do CPC;
• quanto à sua qualificação como exceção dilatória, vejam-se os artigos 577.º, a) e 578.º do CPC.
Observação: a consequência da procedência da exceção dilatória por incompetência relativa NÃO É a absolvição
do R. da instância; veja-se o disposto no artigo 105.º, n.º 3 do CPC (remessa dos autos para o tribunal competente).

b. “A caducidade do direito de A a resolver o contrato de empreitada celebrado com B, na medida em que a


denúncia dos alegados defeitos ocorreu 45 dias depois do recebimento da obra por parte de A.”:
• defesa por exceção perentória (ou designada, doutrinalmente, por exceção material [aqui, perentória]);
• quanto à caducidade (que é um facto preclusivo), recorde-se o disposto no artigo 1220.º, n.º 1 do CC;
• quanto à sua qualificação como exceção perentória, vejam-se os artigos 576.º, n.º 3 e 579.º do CPC.
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE A

(Cont.) Resolução:
Quais os meios de defesa invocados pelo R.?
b. pode ainda notar-se uma defesa por impugnação de facto direta (art. 571.º, n.ºs 1 e 2 1.ª parte do
CPC), na medida em que o Réu contradisse, frontalmente, a realidade factual alegada pela A., arguindo que a A.
apenas denunciou os defeitos após 45 dias do recebimento da obra, e não após 13 dias, conforme havia alegado a A.

c. “Não corresponder à verdade o alegado no ponto ii. da petição inicial: respondeu ao email enviado por A
conforme doc. n.º 1 que junta à Contestação e que dá, integralmente, reproduzido.”: defesa por impugnação de facto
direta, na medida em que o Réu contradisse, frontalmente, a realidade factual alegada pela A.
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE B

Catarina (C), comproprietária de um bem imóvel (prédio rústico), avaliado em 250.000 euros, sito em Amarante,
instaurou ação declarativa de divisão de coisa comum contra Bernardete (B) e Dário (D), também comproprietários
daquele mesmo bem. A ação deu entrada no juízo local cível de Gondomar.

• Na contestação conjunta apresentada por B e D, estes defenderam-se invocando:


a. A incompetência absoluta do tribunal, por violação das regras da competência em razão da matéria,
pedindo que fossem absolvidos da instância;
b. A sua ilegitimidade passiva por não terem sido chamados à ação E, F e G, também comproprietários do
bem imóvel a dividir.
c. Não ser C comproprietária do bem imóvel objeto da presente ação, posição jurídica de que era titular a
falecida mãe de C, Rita, cuja herança se encontra, ainda, por partilhar.
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE B
Catarina (C), comproprietária de um bem imóvel (prédio rústico), avaliado em 250.000 euros, sito em Amarante, instaurou
ação declarativa de divisão de coisa comum contra Bernardete (B) e Dário (D), também comproprietários daquele mesmo
bem. A ação deu entrada no juízo local cível de Gondomar.

Enquadramento substantivo:
• Direito potestativo do comproprietário de pedir a divisão da coisa comum: artigos 1412.º (/1: “Nenhum dos
comproprietários é obrigado a permanecer na indivisão, salvo quando se houver convencionado que a coisa se conserve
indivisa.”) e 1413.º do C.C.

Processualmente,
• Ação declarativa de divisão de coisa comum: ação declarativa constitutiva modificativa (objetiva e subjetiva da
relação de compropriedade).
• Ação de divisão de coisa comum é uma das ações inseridas no Livro V do CPC, “Processos Especiais”: é, portanto, uma
ação de processo especial previsto, em concreto, nos artigos 925.º a 930.º do CPC.

A respeito do tribunal onde deu entrada a ação (e a título de mera curiosidade, porque vamos estudar esta matéria mais
adiante): o tribunal era incompetente, em razão do território [cfr. artigo 70.º, n.º 1 do CPC]; o valor da causa seria
definido cfr. artigo 302.º, n.º 2 do CPC. Veremos, no momento oportuno, que tipo(s) de incompetência estariam em causa +
as consequências.
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE B

Resolução:
a. “A incompetência absoluta do tribunal, por violação das regras da competência em razão da matéria,
pedindo que fossem absolvidos da instância”:

• defesa por exceção dilatória (ou designada, doutrinalmente, por exceção processual);
• quanto à incompetência absoluta, vejam-se os arts. 96.º e ss. do CPC, em particular (por violação das
regras da competência em razão da matéria) o art. 96.º, a) do CPC;
• quanto à sua qualificação como exceção dilatória, vejam-se os artigos 577.º, a) e 578.º, 1.ª parte do
CPC;
• a respeito da absolvição do réu da instância, o artigo 278.º, n.º 1 a) do CPC.
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE B

(Cont.) Resolução:
b. “A sua ilegitimidade passiva por não terem sido chamados à ação E, F e G, também comproprietários do
bem imóvel a dividir.”:

• defesa por exceção dilatória (ou designada, doutrinalmente, por exceção processual);
• quanto à legitimidade, vejam-se os arts. 30.º a 39.º do CPC;
• relacionado com a legitimidade, refiram-se, entre outros, os incidentes de intervenção de terceiros –
arts. 311.º e ss. do CPC;
• quanto à qualificação como exceção dilatória, vejam-se os artigos 577.º, e) e 578.º, 1.ª parte do CPC,
• e a respeito da absolvição do réu da instância (não sendo a falta sanada), o artigo 278.º, n.º 1 d) do
CPC.
Referências bibliográficas
referentes a esta aula e à da
próxima semana, no que às
modalidades de defesa
respeita.

FREITAS, José Lebre de, “A ação


declarativa comum, à luz do
Código de processo civil de 2013”,
4.ª edição, Gestlegal, págs. 101 a
103 e 113 a 142 (excluindo o ponto
7.6., “Contestação da Ação de
Simples Apreciação Negativa”).

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