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Direito de necessidade
Caso: imaginem que fomos passar férias a uma pequena aldeia no interior e vemos
alguém na rua em muitas dificuldades que precisa urgentemente de ir para o
hospital e com o propósito de a socorrer, partimos o vidro de um carro que por
acaso era o único ali perto para levarmos a pessoa até ao hospital mais perto. O
dono do carro faz queixa.
Cometemos 2 crimes: crime de dano art. 212º CP quando partimos o vidro e o crime do
art. 208º CP quando utilizamos o veiculo. Não é legítima defesa porque não temos uma
agressão, há sim um perigo para o bem jurídico vida – aquela pessoa precisava mesmo
de ajuda.
Assim, vamos ao direito de necessidade previsto no art. 34.
Crime de coação – 154º CP, quando vamos ver a ilicitude não há legítima defesa porque
não há uma agressão, nem sequer podíamos falar em omissão porque não há um dever
de garante de ele dar sangue
Para MFP a alínea c) vem corrigir os resultados da alínea b) – não é somente necessário
que o interesse em causa seja sensivelmente inferior, terá que haver uma natureza tal
que torne razoável solicitar-se este sacrifício. Para a professora, tirar sangue à força a
uma pessoa para salvar outra pessoa – é um caso onde temos que perceber que a
disponibilidade do corpo inclui os bens essenciais do núcleo da dignidade da pessoa
humana que não podem ser sacrificados sem o seu consentimento, não sendo exigível
fazer submeter o lesado a esse tipo de sacrifícios contra a sua vontade. Do ponto de
vista ético o consentimento é exigível, mas do ponto de vista do direito não é aceitável.
Para a professora, o sentido que harmoniza esta alínea com a alínea b) é o do
estabelecimento de uma ponderação autónoma e complementar desta. Esta ponderação é
feita somente a favor do sujeito do estado de necessidade, na medida em que a sua
posição poderia tornar-se a de um sujeito utilizado (que ofenderia, por isso, o princípio
da dignidade da pessoa humana) em nome de uma máxima meramente utilitarista de
conseguir o mais à custa do menos. Assim, para MFP, a doação compulsiva de sangue
para salvar uma vida exclui o estado de necessidade por força da alínea c) do mesmo
artigo.
Conflito de vidas contra vidas – 34º alínea b) conjugada com a alínea c) ou causa
de exclusão supralegal (estado/direito de necessidade defensivo)?
Caso do homem gordo - homem gordo que fica colocado numa posição em que fica
preso numa caverna e estão mais 5 pessoas e a alternativa é explodem com o homem e
conseguem sair todos OU nada fazem e morrem todos, aqui discute-se se podemos
aplicar o estado de necessidade defensivo – situações em que alguém está exposto a um
determinado perigo e até pode ser criado pela própria pessoa que é vítima
Causa de justificação contra causa de justificação ex.: homem gordo pode se continuar a
defender – pode exercer legítima defesa
Discussão:
Princípio do interesse preponderante – para haver justificação por direito de necessidade
tem de haver, segundo a lei “sensível superioridade do interesse a salvaguardar
relativamente ao interesse sacrificado”. Nos casos simples vida vs. integridade física
isto resolve-se facilmente.
Num caso em que há um conflito de vida contra vida, torna-se mais difícil arranjar um
consenso.
Quer dizer que há sensível superioridade? Na ponderação de interesses, o bem vida é
imponderável. Todas as vidas valem o mesmo como a vida de alguém mais novo, ou a
de um senhor mais velho. É qualitativamente e quantitativamente.
O problema que tem sido ponderado – um fundamentalismo pode levar a soluções
difíceis de compreender – em que ninguém salva ninguém. Para alguns casos, a doutrina
considera que pode haver justificação (FD entende isto) – nos casos em que a pessoa se
está em causa sacrificar já está sacrificada de qualquer maneira.
Crime de homicídio por omissão – dever de garante como pai, tem dolo intencional em
relação ao filho (foi mesmo o objetivo, aproveitou a oportunidade)
Causa de exclusão da ilicitude em questão: conflito de deveres art. 36º - porquê? Porque
tem 2 deveres de garante o primeiro de salvar o filho e o segundo dever de garante de
salvar o paciente
Mesmo deveres que recaem pelo mesmo agente é impossível cumprir todos, ele tem que
escolher
Art. 36º/1 CP:
1. Mais do que 1 dever e ser impossível cumprir todos
2. Escolhe o mais vinculativo ou tão vinculativo
Como é que ele escolhe quem salva?
Regra geral utilizamos o critério do direito de necessidade: alínea b) do art. 34º -
valor dos bens jurídicos: salvar a vida VS salvar o património da outra pessoa claro
que escolho salvar a vida + intensidade da lesão + grau de perigo de concretização
Neste caso: se é vida contra vida, as posições estão iguais, pode escolher qualquer um.
Não importa o motivo.
Mas haveria algum que prevalecia? Posição de garante mais vinculativa em relação
ao filho, mas a prof. MFP não concorda e diz que é igual – tem a mesma posição de
garante tanto em relação ao filho como em relação ao paciente por ser médico