Você está na página 1de 7

Clínica Cirúrgica 1

Pré, Per e Pós operatório


Mariana Azevedo

Existem 4 níveis de cirurgia, sendo que o I e o II compreende as cirurgias ambulatoriais. Nessas cirurgias nós
prezamos pela anamnese e exame físico, que são mandatórios, obrigatórios e insubstituíveis. Se suspeitamos que
um lipoma é intramuscular, por exemplo, vamos recorrer a outras coisas, como exames complementares, mas isso
não é comum. O exame complementar não substitui o exame físico e a anamnese
Avaliação clínica pré operatória: é importante você pesquisar patologias que o paciente já tenha (ex:
neurofibromatose), história patológica pregressa (ex: CEC aparece em degeneração de cicatriz de queimadura,
úlcera varicosa... existe um processo inflamatório, faz metaplasia, o que origina CEC), história social (ex: paciente que
tem leucoplasia e fuma está o tempo inteiro ali queimando o lábio; há chance de ter CEC no lábio inferior) e história
familiar (ex: doenças hereditárias). No exame físico, a inspeção, palpação, percussão e ausculta muitas vezes faz o
diagnóstico diferencial.
Avaliação do estado clínico geral: o objetivo é diagnosticar as condições clínicas do paciente, que tem que ser boas,
reduzir o risco anestésico-cirúrgico e reduzir as morbidades perioperatórias (é o paciente ter outras complicações).
Devese avaliar também o estado nutricional, pesquisar o uso de drogas lícitas e ilícitas (muito cuidado com o
anticoncepcional, que é uma droga e as mulheres geralmente não falam), alergias, principalmente a medicamentos,
outras lesões. O planejamento da cirurgia é feito na avaliação do paciente, bem como o preparo emocional do
paciente. Tudo isso serve para orientar a solicitação de exames complementares

 Pré operatório

Os exames complementares são exames orientados pelo exame clínico, e nisso existem os exames pré-operatórios
de rotina. A gente tende a achar que rotina, aquela coisa se fazemos todo santo dia, é algo ruim, mas aqui não
porque você pode esquecer alguma coisa, e é pra isso que existe o protocolo de rotina. Mas esses exames não são
para serem feitos de rotina, até porque a maioria dos exames pré operatórios dão muito pouca alteração no
população geral. Um exemplo é a hemoglobina, que tem apenas 0,1% de incidência de anormalidade. Não justifica
você pedir hemoglobina para todo mundo. Se tem um estado geral bom, sem doença nenhuma, vai operar uma
coisa pequena... então não precisa pedir. Agora, se vai fazer uma cirurgia cardíaca, isso é extremamente importante

Exame Incidência de Anormalidades (%)


Hemoglobina 0,1
Leucometria 0
Plaquetometria 0
Tempo de protrombina 0
Tempo de tromboplastina 0,1
Eletrólitos 1,8
Creatinina 2,6
Glicose 0,5
Função hepática 0,1
Exame de urina 1,4
Eletrocardiograma 2,6
Radiografia de tórax 3,0

A avaliação do risco cirúrgico não precisa ser feita em todo mundo. No meu caso, se o paciente tem <40 anos e não
tem histórico familiar não é comum eu pedir o risco cardiológico. Mas claro, se os pais são hipertensos, tem ICC na
família, arritmias... é bom pedir. Existem várias classificações:
1. NYHA – New York Heart Association – é dividida em 4 graus, muito subjetiva. Nós paramos de usar ela e
passamos a usar os escores. Ela compreende:
Classe I – ausência de sintomas ou sintomas de mínima intensidade
Classe II – sintomas pouco intensos
Clínica Cirúrgica 2

Classe III – sintomas intensos


Classe IV – sintomas muito intensos ou pacientes descontrolados

2. ASA – American Society of Anesthesiology – o risco cirúrgico anestesiológico e muito usada por
cardiologistas mais antigos e ainda hoje muito usado. Se divide em:
ASA 1 – sem distúrbio fisiológico, bioquímico ou psiquiátrico
ASA 2 – leve ou moderado distúrbio fisiológico, controlado. Sem comprometimento da atividade normal. A
condição pode afetar a cirurgia ou anestesia
ASA 3 – distúrbio sistêmico importante, de difícil controle, com comprometimento da atividade normal e
com impacto sobre a anestesia e cirurgia. São aqueles hipertensos que pegamos no ambulatório
ASA 4 – desordem sistêmica severa, potencialmente letal, com grande impacto sobre a anestesia e cirurgia
ASA 5 – moribundo. A cirurgia é a única esperança para salvar sua vida (ex: paciente fazendo pneumotórax
hipertensivo em avião que enquanto não drenar não vai resolver, paciente com TCE...)

3. Goldman – foi o primeiro a avaliar o risco cirúrgico cardíaco em cirurgias não cardiológicas, que é o que nos
interessa. Essa classificação é feita por escores

Fator de Risco Detsky Goldman


1. História
Idade >70 anos 5 5
IAM a menos de 6 meses 10 10
IAM a mais de 6 meses 5 -
Angina - 11
Grau III 10 -
Grau IV 20 -
Instável 10 -
2. Exame físico
Presença de S3 ou estase jugular - 11
Estenose aórtica grave 20 3
Edema pulmonar < 1 semana 10 -
Edema pulmonar prévio 5 -
3. Eletrocardiograma
Ritmo não-sinusal ou extrassístoles supraventriculares no pré operatório 5 7
>5 extrassistoles em qualquer ECG 5 7
4. Estado geral
PaO2<60 ou PaCO2 >50 mmHg; K < 3 meg/l
HCO3 < 20 mEq/L; ureia >50 mg/dl; creatinina > 3 mg/dl; ALT/AST
5 3
anormais, sinais de doença hepática crônica ou paciente acamado
5. Operação
Operação intratorácica ou abdominal - 3
Operação de emergência 10 4

No final você faz uma tabelinha, e essa tabelinha indica pra gente o risco de complicação de acordo com a
classe que o paciente vai ter. É pra você falar para o paciente o que ele tem e diferenciar entre o risco baixo,
intermediário e o alto. No alto, a gente não vai fazer uma cirurgia eletiva a troco de nada, já o baixo e o
intermediário é menos complicado (o risco existe, mas é bem menor). É pra isso que serve, não é para te
abonar de nada, você vai pedir o especialista para avaliar

Índice de Detsky
Risco de Complicação
Classe Pontuação Risco cardíaco
(%)
I 0 a 15 5 Baixo
II 20 a 30 27 Intermediário
Clínica Cirúrgica 3

III >30 60 Alto


Índice de Goldman
Risco de Complicação
Classe
Pontuação (%) Risco cardíaco
Não fatal Fatal
I 0a5 1a8 0,2 Baixo
II 6 a 12 3 a 30 2,0 Intermediário
III 13 a 25 14 a 38 2,0 Alto
IV >25 30 a 100 56 Alto

Preparo pré operatório: alguns pacientes gostam e outros não, o dever do médico é o dever de informação. Orienta-
se o jejum, muitas vezes fica atrás daquela consulta pré anestésica. Do mesmo jeito que hoje se pede uma consulta
cardiológica, a gente pede uma consulta pré anestésica. Recomenda-se que ela seja feita antes e separada, igual ao
risco cardiológico. A sociedade de anestesia tem uma tabelinha em que eles preenchem e dão um laudo para o
paciente. É padronizado e é bom. Avalia cirurgias prévias, índice de intubação... tudo isso é descrito. O bom para nos
resguardar judicialmente e para que o paciente tire as dúvidas sobre a anestesia. Geralmente o jejum para sólido é
de 6 a 8 horas, e para líquidos claros (ex: água, chá...) de 3 a 4 horas. O risco é o paciente fazer uma sedação
profunda durante a intubação e broncoaspirar. Tomem cuidado com pacientes muito ansiosos, que podem passar
mal. O pré anestésico geralmente é estipulado pelo anestesista, sendo usados benzodiazepínicos em uma dose só se
o paciente estiver muito ansioso. Se ele já é ansioso e não dormiu direito, é melhor que você passe alguma coisinha,
sem exagero.
No preparo da região a ser operada, a gente precisa falar um pouquinho de tricotomia e tonsura. Tricotomia é
raspar o cabelo, enquanto tonsura é cortar um pouco, igual vocês fazem quando vão no cabelereiro. Hoje, nós não
usamos mais tricotomia a não ser que isso vá atrapalhar o procedimento cirúrgico (ex: neurocirurgia). Se você vai
tirar um cisto do couro cabeludo não tem porque você raspar. Antes você mandava o paciente raspar o pelo e vir
para cirurgia, o paciente chegava cheio de foliculite, porque ele pegou o mesmo barbeador que ele usou todas as
vezes e fez. Não se pode operar, com risco de infecção bacteriana. Além disso, tem algumas regiões que a gente não
faz de jeito nenhum, um exemplo é a sobrancelha. Mulheres sabem que após pinçar, pinçar, pinçar elas começam a
não nascer mais. Outro motivo de não tirarmos a sobrancelha é que usamos ela para alinhar. Banho com
degermação é outra coisa. Pedia-se para o paciente tomar banho em casa e vir para o hospital, hoje a gente pede
para o paciente fazer isso. Se não tiver como você mesmo vai fazer a degermação, e daqui a pouquinho a gente vai
falar. Não precisa ser com nenhum sabão especial, a degermação é tirar a quantidade de microrganismos e sujeira.
Eu sempre dou o exemplo de você lavar a mão lá no ambulatório, degermação seria você chegar com a mão suja
depois de trocar um pneu e tirar aquela quantidade toda. Não é assepsia ou esterilização, é você tirar a quantidade
de bactérias.
Os preparos especiais eu já falei com vocês: cirurgias orificiais, como por exemplo o ânus, você precisa que o
paciente não esteja evacuando nem esteja com diarreia, então você faz um preparo intestinal, faz uma lavagem
intestinal. Endoscopia costuma-se fazer dieta com líquidos para você facilitar a passagem do endoscópio. Então
dependendo da região você vai fazer um preparo mais específico. E sempre que você vai usar prótese a gente tem
que pensar na antibioticoprofilaxia. Isso eu vou falar em outra aula para vocês, mas já saibam que prótese serve para
manter o germe, então sempre que você tem uma prótese, o ideal é que você não tenha germe nenhum, porque
senão vai causar uma infecção, e a infecção é igual em quase 100% das vezes a retirada da prótese. Você controla, o
germe volta, você controla, o germe volta... você não consegue controlar a infecção.

 Per operatório

Ou seja, concede-se durante o ato cirúrgico, a sala de cirurgia, a técnica.


a) Recursos humanos: saibam que 20 pessoas dentro de uma sala de centro cirúrgico, a condição de infecção
hospitalar começa a se coçar, porque é impossível você manter a esterilidade em um ambiente com 20
pessoas, porque possivelmente uma está gripada, uma é fumante, uma está suja porque não tomou banho e
por ai vai. Então tem que ter um limite
Clínica Cirúrgica 4

b) Instalações: cito que a cirurgia cardíaca tem que ser feita em temperatura baixa, leva-se o paciente para uma
hipotermia. Não sei se vocês já viram a circulação extracorpórea, desvia o sangue dele para a máquina e a
máquina mantém a circulação do corpo dele. Nessa passagem pela máquina ele é resfriado, que mantém o
músculo cardíaco melhor.
c) Equipamento: é responsabilidade do cirurgião checar. Se o paciente tiver um choque na placa do bisturi,
fizer uma queimadura ele vai te responsabilizar
d) Materiais: a maioria dos cirurgiões plásticos, cirurgiões pediátricos, cirurgia de mão, microcirurgia, o
cirurgião tem seu próprio material, porque muitas vezes precisa de um material especial, e isso tudo é visto
no pré operatório ou mesmo no per ainda. Tem cirurgia que não dá pra começar se não tiver o que você
precisa
e) Outros: eletrocautério, aparelho portátil de RX (muito usado na ortopedia), microscópios (cirurgia
oftalmológica)...

Anti-sepsia (feito com paciente): Destruição ou redução do número de microrganismos (bactérias nas formas
esporuladas ou vegetativas, vírus e fungos) localizados na pele ou mucosas de um ser vivo, através da aplicação de
solução química, conhecida como antisséptico. Quando você vai começar a descrição cirúrgica e colocar lá o que
você fez, a primeira coisa que você põe é a assepsia (você) e a antissepsia (o que você vai fazer com o paciente). O
antisséptico ideal tem amplo espectro de ação, alto poder germicida, atuar sobre os microrganismos de forma rápida
e prolongada, manter sua ação mesmo na presença de material orgânico (ex: abscesso), baixo índice de efeitos
colaterais, ser solúvel, estável, não corrosivo e odor agradável, além do baixo custo. Antigamente se usava muito
álcool iodado, igual eu falei pra vocês que algumas santas casas antigas tem bacias, lugares onde você lavava a mão
e enfiava em duas bacias. Hoje não se usa mais porque tem as desvantagens de não ter efeito residual e ser
hipersensível. Ainda existe, pode usar, mas ele não serve. E sabe-se hoje que o álcool pode ser colonizado por BAAR
(bacilos álcool ácido resistentes)
Povidona-iodo (PVPI; polivinilpirrolidona) é o mais usado hoje. Ela não queima, não mancha tecido, raras reações de
hipersensibilidade, não interfere no metabolismo, ação germicida residual e demora 2 minutos para agir (o iodo tem
que ser liberado na pele, e é ele que vai causar ação bactericida; se você passar e logo em seguida jogar o soro, você
inativou ele). O que a gente faz no ambulatório é tirar o excesso.
Clorexidina foi lançada depois, vem barateando o custo e está cada ver mais usada. Solução aquosa, sendo que
existe também uma alcoólica, a aquosa é boa pra gente usar em mucosa. Custo superior ao iodo, mancha de
marrom (com hipoclorito) a roupa, baixo potencial de toxicidade e mantém ação mesmo com secreção. Eu falei com
vocês: se vai drenar um abcesso por exemplo é melhor você usar uma clorexidina.

Esterilização (feito com material): destruição de todos os organismos, tanto na forma vegetativa quanto na
esporulada, em superfícies inertes. Logo, no paciente você não faz esterilização. A esterilização cirúrgica é cortar,
fazer a lobectomia... o que é outra coisa. Os métodos físicos incluem calor seco, vapor saturado sob pressão e raios
gama, e os métodos químicos incluem fenóis sintéticos e hipocloritos. Esses produtos químicos são usados para
substâncias que a gente não pode colocar no autoclave (muito calor sore pressão). Tesoura muito delicada ou
material de fibra óptica a gente não manda para fazer autoclave, a gente manda pra vapor.

Degermação: vamos supor que você está usando aquela tesoura do coração, que você comprou com cabo dourado,
a ponta é de diamante para cortar bem e ela cai da sua mão, só manda para a esterilização. A esterilização muitas
vezes demora 2 horas e não tem tempo, o paciente não pode ficar aberto por esse tempo. Então, você recorre a
desinfecção que compreende os processos ou métodos de destruição dos micro-organismos patogênicos, exceto
daqueles esporulados, existentes em objetos inanimados, como mesas, bancadas e certos equipamentos da sala
cirúrgica. Esse procedimento não mata esporos, não consegue uma limpeza profunda. Isso algumas vezes acontece,
brinca algumas vezes que o enxerto que melhor pega é aquele que cai no chão, não era para acontecer, mas às vezes
não dá para evitar. E o centro cirúrgico, a sala de cirurgia, o equipamento, o que vai ficar ali não tem como você
esterilizar, então faz a desinfecção. Pegou uma ambulância e transferiu um paciente com meningite de um lugar
para outro não tem como você esterilizar a ambulância e faz uma desinfecção, mas saiba que pode ter alguns
germes lá ainda.
Clínica Cirúrgica 5

Ainda no per-operatório: o preparo da equipe de cirurgia é de responsabilidade do cirurgião e a gente está


delegando isso para a enfermagem. O cirurgião que é responsável se tem equipe, se não tem, onde cada um vai
ficar. Degermação, assepsia, antissepsia, paramentação, preparo do paciente começa na posição, tem paciente que
vai operar parte ginecológica, tem paciente que vai operar o rim colocar na posição lateral. Preparação do campo
operatório: antissepsia do campo, colocação do campo cirúrgico, tonsura ou não, tricotomia ou não. Anestesia,
ambulatório usa local, e o resto vai depender da cirurgia. Técnica cirúrgica: os fios, a escolha do fio é
responsabilidade do cirurgião e vai de acordo com a área, hoje tem a tendência a usar todos os fios agulhados, e a
agulha já é da espessura do fio reduzindo o traumatismo. No caso de uso de dreno, se ficou na dúvida, se vai drenar
ou não é melhor drenar porque depois não tem volta. A gente só vai deixar dreno em situações que você julga que
ali vai ter drenagem, drenou um abscesso e sabe que daqui 24 horas vai estar tudo coletado, deixa um dreno. Dreno
fica até uma drenagem de 50 ml/dia, para baixo disso o organismo consegue absorver. Curativo é muito especifico,
tem congresso inteiro para curativos principalmente para feridas crônicas e ulceras de pressão. Aqui a gente fala
daquele curativo básico que é feito em qualquer cirurgia, depois de 24 a 48 horas, a ferida vai ter fibrina e não
precisa ficar coberta, então curativo até 48 h a técnica tem que ser o mais asséptico possível, material esterilizado.
Registros de operação: entra a parte jurídica, você é obrigado pelo CFM e pelo código civil a fazer uma descrição do
procedimento cirúrgico. O que acontece é que o cirurgião é aquele cara apressado que não usa nem estetoscópio.
Tem que começar desde o início: degermação, paramentação, assepsia, antissepsia, colocação dos campos
cirúrgicos, infiltração da incisão... isso tudo tem uma ordem e tem que ser feita da forma mais clara e objetiva
possível. O único lugar que pode se proteger é no prontuário que é do paciente, tem livre acesso a hora que ele
quiser, a gente que tem que preencher e a clínica que tem que guardar durante 25/30 anos. Solicitação de pedido de
anatomopatológico, cultura, prescrição, isso tudo é responsável do per-operatório, final da cirurgia.

Profilaxia do TVP: No per-operatório tem que pensar na profilaxia da TVP. A TVP é centrada na tríade de Virchow
(estase sanguínea, hipercoagulabilidade, lesão dos vasos) se você não tem isso, não tem tendência a trombose.
Como é catastrófico o paciente ter uma trombose e fazer uma embolia pulmonar ou uma embolia cerebral que é
pior, virou uma “panaceia” fazer profilaxia de TVP para todo mundo, igual exame complementar. A sociedade de
cirurgia vascular recomenda que você siga um protocolo para as cirurgias, são escores em que você vai graduar o
paciente em baixo, médio ou alto risco de ter uma trombose e tem lá cirurgia muito prolongada, imobilização
prolongada, paciente que usa ACO, que é fumante, que já teve trombose, paciente com história familiar, então vai
dando escore. Se o paciente é médio ou baixo grau ele não tem indicação de profilaxia com heparina e hoje usa-se
heparina de baixo peso molecular para pacientes com risco alto. Se não tem risco alto, a gente usa medidas
profiláticas que não são medicamentosas como meia de compressão, deambulação precoce, ginastica passiva e por
vai. Então, tem que ser bom senso nisso também.

 Pós operatório

Já no pós-operatório, primeira coisa que a gente tem que avaliar é a condição do paciente ter alta, tem que estar em
condição de ir embora para casa. Hoje tem sistemas de cirurgia hospitalar que da alta no mesmo dia. Recuperação
pós anestésica geralmente do nível II para cima. Revisão da ferida: a maioria das vezes a gente retira pontos com 1
semana, alguns pacientes vão pedir para voltar com 5 dias outros com 10 ou 15 dias, geralmente, costuma marcar
semanal, apesar de saber que não vai dar para tirar, mas gosta de dar uma olhada. Troca de curativo: depois de 48h
a troca não precisa ser tão asséptica, claro que tem que tomar cuidado porque se tiver um dreno é um orifício para
dentro da cavidade, alguns não demandam troca, desde que o paciente tenha cuidado. Retirada de ponto vai
depender do local anatômico, então face tira com 6 a 7 dias, regiões de flexão em média 10 dias, sempre desconfiar
que o paciente é inquieto e vai fazer arte deixar mais 2 ou 3 dias, é melhor do que abrir a ferida. Cicatriz nas linhas
de força: se fez a cicatriz na linha de força, ótimo, se não fez vai dar problema, só que às vezes, não tem como você
fazer, paciente sofreu um trauma e a linha não é respeitada e você suturou fora da linha de força. De regra geral não
é só o local que você vai observar isso também porque você sabe que a tensão vai ser maior, então o ponto vai ter
que ficar mais tempo. Aspecto da cicatriz: começou a ficar inflamado demais, já tirou o ponto e não melhorou aquele
processo inflamatório pode pensar em queloide, pode pensar em fibrose, cicatriz alargada. É um pouco diferente o
queloide da cicatriz alargada tanto microscópicas quanto clínicas. A fibrose tende a desaparecer e o queloide só
aumenta. O alargamento de cicatriz, a cicatriz hipertrófica tende a ter o colágeno organizado, já o queloide é um
Clínica Cirúrgica 6

colágeno desorganizado. O tratamento costuma ser o mesmo na primeira fase, pode melhorar a cicatriz hipertrófica,
mas não melhora o queloide, são mais resistentes. Medicamentos: é muito importante que as receitas sejam
orientadas ao paciente, paciente precisa estar hidratado, retorno de medicação que ele toma (por exemplo o AAS
que a gente suspende 10 dias antes e volta 48 horas depois, se precisa muito usar, volta até mais rápido), analgésico,
antitérmico, anti-inflamatório, antibiótico tudo vai depender do caso e isso é visto no pré-operatório imediato ou no
pós. E algumas vezes você tem que trocar, tem que intervir, por exemplo, fez uma apendicite com um abscesso de
parede, tem que drenar, tem que fazer antibiótico e tudo isso é no pós-operatório que você vê.
As complicações estão incluídas aqui no pós-operatório. Infecções incisionais: acabei de falar da apendicite, que é
uma das mais comuns, você tem um apêndice infectado, por acaso você manipula o apêndice e ele ou a pinça ou sua
própria mão esbarra na parede e faz um abscesso de parede, tem que drenar e tem que fazer antibiótico.
Geralmente essas infecções são pela flora do próprio paciente. Tratamento conservador nesse caso de infecção é
muito complicado, mas é só o uso de antibiótico, por exemplo. Na maioria das vezes é remoção, você solta uma
pontinha daquela ferida para drenar. Drenagem e desbridamento de acordo com a necessidade, às vezes, vai ter
muita secreção e tem que desbridar, limpar a ferida. Deiscência de sutura é abrir aquela sutura que você fez, pode
acontecer isso se você tirar o ponto precocemente ou o paciente por algum motivo, como eu falei lá, usou muita
xilocaína, fez uma necrose, uma epidermólise ou a ferida foi traumática e você suturou, mas a borda não estava
muito boa e faz um processo inflamatório e faz uma deiscência, uma abertura da ferida antes do tempo. A gente
pode suturar de novo ou deixar cicatrizar por 2ª intenção. De regra geral, o paciente não nota essas deiscências, ele
vem com o curativo fechado, e está 1 ou 2 dias abertos e você não faz outra sutura porque a chance de infeccionar é
grande e você pode acabar transformando uma ferida aberta fácil de tratar em um abscesso fechado, que é mais
difícil e mais complicado. Pode suturar de novo se a ferida estiver limpa.
Vocês lembram disso? Ferida de 1ª, 2ª e 3ª intenção? A primeira intenção é quando você sutura, a de 2ª intenção
deixa aberta e cicatriza sozinha, a ferida contrai. E 3ª intenção é uma junção das duas, você pega a 2ª e espera um
pouquinho, limpa e depois sutura. Faz um retardamento da sutura.
Hematoma: existe o tratamento conservador que é você comprimir e a drenagem com hemostasia. Quando fazer
um e quando fazer o outro? Existem algumas estruturas que não suportam hematoma, por exemplo, cartilagem, se
você tem um sangramento no nariz, tem um sangramento na orelha você tem que drenar, já falei para vocês que o
hematoma fica entra a cartilagem e o pericôndrio que nutre a cartilagem e leva a condrite, faz uma infecção do
hematoma, então tem que drenar. Você tem uma coleção pequena, parou de expandir o hematoma você pode
comprimir de 5 a 7 dias, liquefaz e você pode esperar. A maioria dos hematomas são expansivos. Lembra da
diferença entre equimose e hematoma? Hematoma é coleção sanguínea, exemplo, uma bolha de sangue no pé; já
equimose é quando você bate em algum lugar e fica roxo. Seroma: é o plasma sanguíneo sem a célula vermelha e ele
preenche as cavidades que você produz com as cirurgias, é muito comum em cirurgias que você vai mexer com o
tecido subcutâneo que é gordura, porque você acaba cortando algumas células e elas podem induzir lipólise e você
vai ter a formação de liquido, geralmente é espaço morto que você deixou, muito comum nos grandes
descolamentos. Na maioria das vezes, aspira e depois comprime desde que você não aspire demais e não comprima
de menos, por exemplo, uma cirurgia abdominal que você descola da sínfise púbica até o apêndice xifoide, então
você tem uma grande área descolada, aquilo é gordura pura em cima da fáscia muscular, então de regra geral, de 5 a
7 dias faz um abaulamento e você tem o seroma, pode ir com uma agulha percutânea e aspirar, se for menos de
50ml não aspira, se for mais aspira uma vez por semana. Porque não aspira 2 ou 3 vezes por semana? Porque você
está estimulando o organismo a produzir mais, então você aspira 1 vez e comprime porque evita que o paciente faça
de novo ou vá diminuindo a quantidade. Outro recurso que tem é prender esse retalho com vários pontos no
abdome para não ficar estimulando, em algumas outras regiões passa a cola de fibrina. Cicatriz hipertrófica e
queloide já falei um pouco com vocês. Elas são evitáveis? De regra geral não, a hipertrófica pode ser porque
geralmente ela acontece quando você tem tensão na ferida e quando você está fora da linha de força, agora o
queloide não. Passou do limite que você fez ou do trauma, é queloide, não passou é cicatriz hipertrófica. Começou
um tratamento com silicone, com aplicação de corticoide e não resolveu é queloide, resolveu é cicatriz hipertrófica.
Tem lugares mais comuns de ter queloide como lobo de orelha (campeão), depois vem tórax, deltoide, face é mais
incomum. A cicatriz hipertrófica não tem isso, ela acontece em lugares de mais tensão como a perna, zonas de
dobras. Existem vários tratamentos, mas de regra geral o que a gente faz é observar as cicatrizes que o paciente tem
lá na anamnese e exame físico, porque o queloide é uma tendência individual e ai você vai falar “olha você tem uma
cicatriz ruim, então a chance dessa ficar ruim também é grande”. A maioria dos tratamentos tem que ser associados,
Clínica Cirúrgica 7

negro, asiático, espanhol tem uma tendência maior. Existem vários tratamentos como corticoide, faixa de silicone,
anti-inflamatório oral e direto, infiltração na lesão, radioterapia..., na maioria das vezes, as associações é que
funcionam. E as reações de corpo estranho, a maioria das vezes, são aqueles pontos internos que a gente dá.

Você também pode gostar