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BASES FUNDAMENTAIS PARA

A ENFERMAGEM
AULA 1

Profª Anna Beatriz de L. P. Naumes


CONVERSA INICIAL

Nesta aula abordaremos os cuidados corporais em enfermagem,


abrangendo principalmente a higiene do paciente nas diferentes fases da vida.
Este material vai integrar tanto as principais atividades e cuidados relacionados
à higiene do paciente quanto a descrição dessas técnicas e princípios
norteadores que possibilitarão a você desenvolver uma excelente assistência.

TEMA 1 – CUIDADOS CORPORAIS EM ENFERMAGEM

Os cuidados corporais incluem as medidas de conforto, movimentação,


higienização e o correto posicionamento no leito. Durante uma internação, o
indivíduo tem sua rotina drasticamente alterada, ficando maiores intervalos de
tempo sem se locomover, aumentando, assim, o seu desconforto.
Mesmo quando estamos em momentos de lazer e descanso em casa,
podemos perceber que se passamos o dia deitados, ou na cama ou no sofá,
após algumas horas, sentimos dores musculares, e a sensação de desconforto
cresce à medida que tendemos a ficar nas mesmas posições. Dessa forma, para
proporcionar maior conforto aos pacientes sob nosso cuidado, é necessário que
tenhamos conhecimento de técnicas e estratégias que proporcionam conforto.
Nesta aula vamos nos concentrar nos cuidados de higiene, e, na aula
seguinte, nos aprofundaremos na movimentação, posicionamento no leito e
demais medidas de conforto. A higiene geral do paciente deve ser realizada
diariamente e, na maioria dos hospitais, é feita pela manhã, antes da troca de
roupa de cama. Porém, alguns pacientes preferem realizar sua higiene no
período da tarde, ou mesmo antes de dormir. Um enfermeiro que está focado no
cuidado ao seu paciente, e que tem por premissa realizar um cuidado
individualizado, deve ser capaz de flexibilizar seu planejamento do cuidado a fim
de proporcionar maior conforto e menor impacto na rotina habitual do paciente.
Outro destaque importante é sobre casos em que a frequência da
higiene geral deve ser alterada. Os cuidados com higiene devem estar prescritos
pelo menos uma vez ao dia e/ou sempre que necessário, porém raras exceções
devem ser conhecidas. Por exemplo, no caso de bebês prematuros com menos
de 1 kg de peso, eles devem ter seus cuidados de higiene individualizados, uma
vez que têm muita facilidade para desenvolver hipotermia, e diversos estudos
comprovaram a perda de peso quando o banho era prescrito diariamente. Em

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casos de bebês com menos de 800g, a indicação do banho de banheira e/ou
leito é de uma vez na semana. Pacientes que estão apresentando instabilidade
hemodinâmica e/ou respiratória também devem ter a prescrição de sua higiene
geral alterada conforme a necessidade.

TEMA 2 – A HIGIENE DO PACIENTE

O conceito de higiene é um termo bastante amplo que se refere às


diferentes atividades destinadas à prevenção da doença e à conservação da
saúde. Assim, existem conceitos de higiene pessoal, higiene coletiva, higiene
mental, higiene postural, entre outras.
A higiene coletiva são as normas e condutas adotadas pelas sociedades
com o intuito de manter o convívio social saudável a todos. Seu objetivo é evitar
a transmissão de doenças e facilitar o convívio social em lugares comuns, ou
seja, refere-se ao comportamento das pessoas em ambientes não individuais e
compartilhados (públicos).
A higiene postural refere-se a um conjunto de orientações de posturas
adequadas para evitar lesões ao realizar qualquer atividade da vida diária ou do
trabalho. Por exemplo, ao desempenhar uma caminhada, devemos cuidar da
coluna ereta, braços semiflexionados e passadas ritmadas, encostando
primeiramente o calcanhar ao chão, depois a parte central do pé, depois a parte
fronteira e, por último, os dedos.
A higiene do trabalho (também denominada higiene ocupacional) trata das
medidas relacionadas à manutenção da saúde no ambiente de trabalho, ou seja,
a antecipação, reconhecimento, avaliação e controle dos fatores ou agentes
ambientais e estressores, existentes ou que venham a existir no ambiente de
trabalho, que podem causar doença, prejuízo à saúde e ao bem-estar ou
desconforto significativo entre os trabalhadores.
Nesta unidade nos concentraremos na higiene como sinônimo de asseio,
isto é, as medidas de limpeza necessárias para manter a saúde e evitar doenças.

2.1 A higiene como necessidade básica de saúde

Abraham Harold Maslow foi um psicólogo americano que ficou


mundialmente conhecido por propor e defender a pirâmide de necessidades
humanas. Para Maslow, as necessidades fisiológicas seriam as primeiras que

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precisam ser saciadas, ou seja, apenas após as necessidades fisiológicas
estarem satisfeitas, seria preciso saciar as necessidades de segurança. Estas,
se saciadas, abrem campo para as necessidades sociais, as quais, se saciadas,
abrem espaço para as necessidades de autoestima. Se uma dessas
necessidades não está saciada, há a incongruência. Quando todas estiverem de
acordo, abre-se espaço para a autorrealização, que é um aspecto de felicidade
do indivíduo.
Maslow estabelece as necessidades fisiológicas como prioritárias, dentro
das quais estão a necessidade de termorregulação e a necessidade de
eliminação. Ambas são importantes funções da pele, sendo que é imprescindível
que a pele se mantenha em bom estado. Se somarmos a isso a função de
barreira e proteção que a pele tem, observamos que a higiene é indispensável
para mantê-la em bom estado. É uma atividade básica e fundamental que deve
ser incluída no plano de cuidados quando o paciente for incapaz de realizar
essas atividades sozinho.

2.2 Benefícios físicos dos cuidados com a higiene

Os cuidados de higiene propiciam uma série de benefícios para os


pacientes, tanto no aspecto físico quanto no emocional. Eles mantêm a pele em
condições para cumprir sua função de barreira; mantêm seu manto ácido e,
assim, evitam a contaminação por micro-organismos; facilitam a remoção de
células mortas; facilitam a eliminação de resíduos e odores desagradáveis; e
promovem a elevação ou redução da temperatura corporal, de acordo com as
necessidades apresentadas.
O momento da higiene deve ser aproveitado para avaliar o estado da pele
do paciente. Na avaliação física da pele, devemos sempre observar a coloração,
a temperatura, a umidade e o turgor; identificar, precocemente, as lesões
cutâneas; avaliar a evolução de todo e qualquer tipo de lesão já existente, assim
como as condições da pele para potencial abertura de novas lesões.
Durante os procedimentos de higiene aproveitamos ainda para realizar
atividades que melhoram o estado de saúde, tais como estimular a circulação e
auxiliar na drenagem de líquidos acumulados nos tecidos, reduzindo o edema;
mobilizar as diversas articulações, visando prevenir o enrijecimento; e favorecer
o descanso do paciente, mantendo a cama e o paciente em perfeito estado.

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2.3 Benefícios psicológicos dos cuidados com a higiene

• Melhorar a autoestima do paciente.


• Aumentar a sensação de bem-estar.
• Favorecer a educação para o autocuidado, permitindo que o paciente
participe de sua higiene na medida do possível.

TEMA 3 – CONSIDERAÇÕES GERAIS PARA QUALQUER TÉCNICA DE HIGIENE

Antes de realizar qualquer técnica de higiene, é imprescindível que sejam


levados em consideração alguns detalhes importantes:

• Avaliar o tipo de técnica a ser realizada em função do grau de


dependência e as necessidades higiênicas do paciente.
• Conhecer o estado de saúde do paciente e qualquer aspecto que implique
uma modificação das atividades habituais.
• Manter a intimidade do paciente, ou seja, utilizar elementos de separação,
como biombos e cortinas; fechar janelas e portas para evitar correntes de
ar; assegurar-se de que a porta está fechada e de que não é possível ver
o paciente de outro lugar do hospital pelas janelas; assegurar-se de ter
todo o material preparado antes de começar para não precisar sair
durante a realização da técnica; solicitar que as pessoas estranhas ao
paciente se retirem do ambiente.
• Os cuidados de higiene são realizados pelo menos uma vez ao dia e
sempre que necessário.
• Sempre que possível realizar o cuidado com a ajuda de outra pessoa, a
fim de facilitar a movimentação necessária e aumentar a segurança do
paciente. Se não for possível, manter as grades elevadas.
• Solicitar a colaboração do paciente, sempre que possível.
• Descobrir apenas a parte do paciente em que esteja atuando, mantendo
o restante do corpo coberto com uma toalha ou lençol para evitar que se
resfrie e para manter sua intimidade.
• Manter uma temperatura adequada no quarto (entre 22 e 24 graus),
sempre que possível.
• Utilizar sabonetes adequados para manter o pH da pele.

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• Manter a temperatura da água de acordo com a preferência do paciente.
Se o paciente não puder opinar, manter 1 a 2 graus acima da temperatura
corporal para que tenha uma sensação agradável, exceto se houver outra
indicação terapêutica.
• Seguir uma ordem estabelecida, a qual, salvo contraindicações, será da
região menos contaminada para a mais contaminada e de cima para baixo
(céfalo-caudal).
• Cuidar especialmente das sondas, drenos, cateteres, soros, transdutores
de pressão e quaisquer dispositivos conectados ao paciente, para evitar
que sejam retirados ou deslocados.

TEMA 4 – PROTOCOLOS DE HIGIENE DO PACIENTE

Podemos dividir as técnicas de higiene em:

• higiene geral: técnicas de banho do paciente que incluem banho de


aspersão (chuveiro ou banheira) e banho de leito;
• higiene parcial: técnicas de lavagem do cabelo, higiene genital, higiene
oral e cuidado das unhas.

4.1 Técnicas de higiene geral

A higiene geral é a que se realiza sobre toda a superfície corporal. Se o


paciente é independente ou minimamente dependente, ele fará sua própria
higiene com ou sem a ajuda da enfermagem, segundo necessitar. Quando o
paciente não puder se levantar, por impossibilidade ou por contraindicação
relacionada à sua doença, a higiene será realizada na cama, seguindo os
protocolos apresentados a seguir.

4.1.1 Protocolo de banho de aspersão (chuveiro)

• Descrição: técnica de higiene que se utiliza quando o paciente é


independente ou requer mínimo auxílio.
• Material: luvas de procedimento (caso o paciente precise de auxílio),
compressas, toalha de banho e de rosto, gazes, pijama ou camisola,
creme hidratante, roupa de cama, saco para roupa suja.
• Protocolo:

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1. Explicar ao paciente que é hora do banho e pedir sua colaboração.
2. Lavar as mãos.
3. Preparar o material de higiene, tendo o cuidado para que esteja ao
alcance do paciente.
4. Colocar um tapete antiderrapante no chão.
5. Solicitar ao paciente que realize sua higiene de forma habitual.
6. Reforçar a importância de secar corretamente a pele.
7. Oferecer creme hidratante.
8. Colocar a roupa suja no recipiente adequado, de acordo com a rotina
do hospital.
9. Recolher o material.
10. Deixar o paciente em uma posição confortável na cama ou na
poltrona.
11. Anotar o procedimento e as alterações observadas no prontuário
do paciente.

Observações:

• Se o paciente não puder realizar sua higiene de forma independente,


prestar a ajuda necessária para despir-se, tomar banho e aplicar o creme,
vestir-se e acomodar-se.
• Observar as medidas de segurança, sobretudo se o chão estiver molhado.
• A higiene pode ser realizada em pé ou sentado em uma cadeira de banho
de acordo com as necessidades do paciente.

4.1.2 Protocolo de banho de leito – higiene do paciente acamado

• Descrição: técnica de higiene para os pacientes que não podem se


levantar da cama.
• Material: luvas de procedimento, jarro com água quente e fria, bacias,
compressas, toalha de banho e de rosto, gazes, pijama ou camisola,
creme hidratante, roupa de cama, saco para roupa suja.
• Protocolo:

1. Explicar ao paciente que é hora do banho e pedir a sua colaboração.


2. Lavar as mãos e calçar as luvas.
3. Oferecer a comadre ou o papagaio antes de iniciar a higiene.
4. Dispor o material necessário de maneira que esteja ao nosso alcance.
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5. Colocar o paciente em decúbito dorsal.
6. Despir o paciente, cobri-lo com o lençol ou com uma toalha para
preservar sua intimidade.
7. Iniciar a higiene pelo rosto com água sem usar sabonete:

a. os olhos são lavados com uma gaze úmida, da extremidade interna


à externa, para evitar contaminar o canal lacrimal e usando uma
gaze diferente para cada olho.
b. para higiene dos ouvidos, usa-se gaze ou pano limpo, não se
recomenda o uso de hastes flexíveis de algodão.

8. Continuar seguindo uma ordem descendente: pescoço, ombros, axilas,


mãos, tórax, abdômen, pernas e pés.
9. Posicionar o paciente em decúbito lateral para lavar e secar as costas.
Aplicar creme hidratante com movimentos circulares.
10. Posicioná-lo de novo em decúbito dorsal e lavar a região genital.
11. Ensaboar, enxaguar e secar totalmente, realizando toques suaves
com a toalha sem esfregar na pele.
12. Ao higienizar, prestar atenção aos espaços interdigitais, região
submamária (se for mulher), cicatriz umbilical e pregas inguinais.
13. Trocar a roupa de cama.
14. Vestir o paciente com pijama ou camisola.
15. Penteá-lo e deixar o paciente em uma posição confortável.
16. Recolher o material.
17. Lavar novamente as mãos.
18. Registrar o procedimento no prontuário e anotar as possíveis
intercorrências.

Observações:

• Descobrir apenas a região que está sendo lavada.


• Trocar a água e a compressa tantas vezes quantas forem necessárias.
• Oferecer ao paciente a possibilidade de ele mesmo lavar a região genital,
se ele puder fazê-lo.
• É possível fazer a higiene parcial de diversas regiões do corpo sempre
que necessário.
• Deixar escorrer bem a compressa para não molhar a cama
desnecessariamente.

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4.2 Técnicas de higiene parcial

Essas técnicas podem ser realizadas juntamente com a higiene geral ou


separadamente, sendo que sua frequência depende das necessidades do
paciente. Quando o paciente puder, deve-se incentivar que ele mesmo realize,
caso contrário pode-se suprir essas necessidades com os seguintes protocolos.

4.2.1 Protocolo de higiene do cabelo

• Descrição: pacientes acamados necessitam lavar o cabelo ao menos uma


vez por semana para evitar sujeira, prevenir infecção e promover conforto.
• Material: xampu, bacia grande, pinça (Kocher, Pean ou similar), pente,
duas toalhas, coxim, 1 ou 2 jarras de água quente, luvas e secador
(opcional).
• Protocolo:

1. Explicar ao paciente o que vai acontecer e pedir a sua colaboração.


2. Lavar as mãos e colocas as luvas.
3. Posicionar o paciente em decúbito dorsal, retirar o travesseiro e colocá-
lo em diagonal, de forma que a cabeça sobressaia da lateral da cama.
4. Enrolar uma toalha ao redor do pescoço.
5. Colocar um travesseiro pequeno ou um coxim abaixo da cabeça e
ombro do paciente.
6. Fazer um funil utilizando um plástico, fechando-o com o auxílio de uma
pinça Pean ou Kocher, posicionando a extremidade distal dentro de um
balde ou bacia para facilitar a drenagem da água.
7. Proteger os olhos com a mão.
8. Molhar o cabelo e aplicar xampu.
9. Esfregar e fazer uma massagem com movimentos circulares e suaves
com as pontas dos dedos em todo o couro cabeludo.
10. Enxaguar o cabelo totalmente, protegendo os olhos. Repetir duas
vezes a técnica.
11. Secar suavemente o cabelo com uma toalha.
12. Retirar o plástico e o coxim com cuidado para não derramar restos
de água sobre a cama.
13. Terminar de secar o cabelo com a toalha ou secador.
14. Pentear e acomodar o paciente.
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15. Recolher o material.
16. Lavar novamente as mãos.
17. Registrar o procedimento no prontuário e anotar as possíveis
intercorrências.

4.2.2 Protocolo de higiene genital

• Descrição: o objetivo desta técnica é evitar infecções geniturinárias e


ulcerações, assim como proporcionar ao paciente uma sensação de bem-
estar e conforto. É realizada sempre ao final da higiene geral, depois das
evacuações e sempre que for necessário.
• Material: luvas descartáveis, toalhas e comadre, bacia com água quente
(aproximadamente 37 graus), lençol limpo, gazes ou bolas de algodão
esponjas descartáveis, sabonete líquido.
• Protocolo:

1. Explicar ao paciente a técnica que vamos realizar e pedir a sua


colaboração.
2. Lavar as mãos e colocar as luvas.
3. Colocar o paciente acamado em posição ginecológica se for mulher, e
em decúbito dorsal com pernas separadas, se for homem.
4. Descobrir a região genital, mantendo o restante do corpo coberto.
5. Colocar um lençol ou toalha embaixo dos glúteos e colocar a comadre.
6. Derramar a água morna sobre os genitais.

Higiene genital masculina:

1. Ensaboar o pênis e os testículos.


2. Se o paciente não for circuncisado, afastar o prepúcio e limpar a glande
realizando movimentos circulares do meato para fora. Utilizar uma
esponja, gaze ou bolas de algodão exclusivamente para este fim.
3. Enxaguar com água abundante e secar suavemente. Colocar o prepúcio
em sua posição original.
4. Se não foi realizada a higiene geral, posicionar o paciente em decúbito
lateral, lavar e secar a região perianal: prega interglútea e ânus.

Higiene genital feminina:

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1. Ensaboar e lavar a zona genital na seguinte ordem: púbis, região interna
das coxas, meato urinário, pequenos lábios, grandes lábios, fenda vulvar,
ânus e prega Inter glútea.
2. Separar os grandes lábios com uma mão (mão não dominante) e com a
outra lavar de cima para baixo e de dentro para fora (mão dominante),
utilizando esponja, uma gaze ou uma bola de algodão para cada manobra.
Prestar atenção especial às pregas entre os grandes e pequenos lábios.
3. Enxaguar com água abundante e secar suavemente.
4. Se não foi realizada a higiene geral, posicionar a paciente em decúbito
lateral, lavar e secar a região perianal: desde a fenda vulvar, prega
interglútea e ânus.

Observações:

• Observar a presença de corrimentos e odores que possam indicar a


presença de infecções.
• Na presença de cateter vesical, inspecionar o local de inserção e de
fixação já que pode produzir escoriações e outras lesões no local e
próximo a ele.

4.2.3 Protocolo colocação da comadre

• Descrição: a comadre é um recipiente plano cuja parte anterior é mais


baixa e aumentada na posterior, onde se situa a alça de ajuste. Utiliza-se
para a micção e defecação da mulher, assim como para a higiene genital,
tanto do homem como da mulher.
• Material: comadre ou papagaio, luvas, papel higiênico, biombo e roupa de
cama, se necessário.
• Protocolo para colocar a comadre se o paciente colaborar:

1. Lavar as mãos e calçar as luvas.


2. Explicar ao paciente a técnica a ser realizada e solicitar a sua
colaboração.
3. Proteger a cama com um pano.
4. Pedir ao paciente que flexione as pernas e, apoiando os calcanhares
na cama, levante o quadril. Neste momento, introduzir a comadre com
o cabo em direção aos pés até que o ânus fique dentro do oco da
comadre.
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• Se o paciente não colaborar:

1. A tarefa poderá ser realizada em duas pessoas.


2. Flexionar as pernas do paciente com movimentos coordenados entre
os dois, levantar a pélvis do paciente para poder introduzir a comadre.
3. Na impossibilidade de elevar o quadril, pode-se girar o paciente para
um lado, colocar a comadre na posição adequada e voltar o paciente
sobre ela.
4. Após colocar a comadre, recomenda-se:

o cobrir o paciente e esperar que termine a evacuação;


o retirar a comadre de forma inversa de como foi posta e cobri-la com
um pano;
o limpar a região genital com papel higiênico ou higienizar segundo a
técnica anterior;
o retirar o pano debaixo do paciente e, se necessário, trocar a cama;
o observar as eliminações;
o esvaziar a comadre no vaso sanitário e limpá-la;
o lavar novamente as mãos;
o anotar a quantidade, aspecto e qualquer anormalidade no prontuário
do paciente.

4.2.4 Protocolo colocação do papagaio

• Descrição: o papagaio é um recipiente oval, com a forma plana graduada


para medir seu conteúdo e um pescoço largo, alongado e mais elevado.
Utiliza-se para a micção do homem.
• Protocolo de colocação do papagaio:

1. Lavar as mãos e colocar as luvas.


2. Se o paciente puder, ele mesmo colocará o papagaio, caso contrário,
isso ficará sob a responsabilidade do profissional de enfermagem.
3. Cobrir o paciente com um lençol.
4. Quando o paciente terminar a micção, oferecer papel higiênico para
que se limpe ou limpá-lo.
5. Observar a urina: coloração, aspecto, presença de sangue, muco e
grumos.

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6. Se houver necessidade de controle de diurese, anotar a quantidade de
urina no prontuário.
7. Esvaziar o papagaio no vaso sanitário e limpá-lo.
8. Lavar novamente as mãos.
9. Anotar a quantidade e as características da urina no prontuário do
paciente.

Observações:

• é importante que cada paciente tenha sua própria comadre e/ou papagaio
e que esteja marcado(a) com o número do leito para evitar trocas ou
extravios.
• após o uso, as comadres e papagaios devem ser lavados e desinfetados.
• quando o paciente receber alta, a comadre e o papagaio devem ser
esterilizados com os meios adequados antes que sejam utilizados por
outro paciente.

TEMA 5 – A HIGIENE ORAL

A higiene oral é uma medida importante na prevenção de cáries, doenças


periodontais e na manutenção de um hálito agradável. Os pacientes necessitam
de um controle rigoroso da higiene oral para prevenir doenças, aumentar o bem-
estar, manter a mucosa em boas condições, evitar o mau hálito e a contaminação
das vias respiratórias, principalmente nos pacientes entubados.
Como norma geral, deve ser realizada pela manhã, após as refeições e à
noite. Em pacientes inconscientes ou que não podem comer, geralmente é
realizada de três a quatro vezes ao dia, dependendo do protocolo da unidade.
Sempre que o paciente puder colaborar, deve-se procurar que ele realize
seus cuidados na medida em que suas possibilidades o permitam. Podemos
diferenciar os procedimentos de acordo com o grau de dependência: pacientes
independentes, pacientes inconscientes e/ou com alto grau de dependência e
pacientes com prótese.

5.1.1 Protocolo de higiene oral para pacientes independentes

• Descrição: realização ou auxílio na higiene oral do paciente, assim como


de suas próteses, de acordo com o grau de dependência.

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• Material: creme dental, escova de dente, colutório ou antisséptico oral,
limpador lingual, fio dental, escova inter proximal, cuba ou bacia, gazes e
toalha.
• Protocolo:

1. Explicar ao paciente a técnica e solicitar a sua colaboração.


2. Lavar as mãos e calçar as luvas.
3. Preparar o material para a higiene bucal e colocá-lo ao alcance do
paciente.
4. Colocar o paciente em posição de Fowler.
5. Proteger o tórax do paciente com uma toalha.
6. Explicar a técnica de escovação se for necessário. Colocar a escova
no ângulo de 45 na borda da gengiva, escovar os dentes com
movimentos rotatórios, em sentido gengiva-dente seguindo a linha
longitudinal do dente. As faces oclusais (ou de mastigação) se escovam
com movimentos horizontais.
7. Fornecer um copo com água ou colutório para que enxágue a boca e
uma cuba ou bacia para eliminar os líquidos do enxágue.
8. Oferecer uma toalha ou lenço descartável para secar a boca.
9. Recolher o material, acomodar o paciente, retirar as luvas, lavar as
mãos e anotar as possíveis alterações observadas.

5.1.2 Procedimento para pacientes inconscientes e/ou com alto grau de


dependência

• Material: luvas, gazes, pano, pinça Pean ou espátula montada com gaze,
abaixador de língua, cateter de aspiração conectado ao aspirador, copo
com água com antisséptico, toalhas ou lenços descartáveis, cuba ou
bacia, seringas de 20ml, lubrificante labial, saco plástico para eliminar os
resíduos.
• Protocolo:

1. Lavar as mãos, calçar as luvas e preparar o material.


2. Colocar o paciente em decúbito lateral ou com a cabeça ligeiramente
virada para um lado, desde que não haja contraindicação.
3. Colocar o pano ou toalha.
4. Estender uma toalha sobre o tórax do paciente.
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5. Acomodar a cuba ou bacia embaixo do rosto do paciente.
6. Impregnar a pinça montada com uma torunda de gaze com antisséptico
bucal e limpar a parte interna das bochechas, língua, gengivas, dentes
e lábios. Serão utilizadas tantas torundas quantas forem necessárias
para uma higiene total.
7. Ao finalizar a técnica, passe um lubrificante labial ou creme hidratante
nos lábios.
8. Recolher o material, acomodar o paciente, retirar as luvas, lavar as
mãos e anotar as alterações observadas.

Observações:

• Se o paciente estiver entubado, a higiene se realiza irrigando a boca com


pequenas quantidades de solução antisséptica utilizando uma seringa de
20ml e lavando-a com gaze e algodão. Aspirar imediatamente toda a
cavidade. Repetir a operação quantas vezes forem necessárias.
• Se o paciente precisar de oxigenioterapia, não se deve aplicar
substâncias oleosas para a proteção dos lábios, devido ao risco de
queimaduras que o oxigênio produz com essas substâncias.

Deve-se ter o máximo de cuidado na realização da higiene oral do


paciente inconsciente devido ao alto risco de broncoaspiração.

5.1.3 Protocolo para pacientes com prótese dental

• Material: luvas, toalha, bacia, gaze, escova dental ou escova para limpeza
de próteses e pasta dental ou solução antisséptica.
• Protocolo:

1. Lavar as mãos e colocar as luvas.


2. Proteger o tórax do paciente com uma toalha.
3. Pedir ao paciente para que remova a prótese. Se ele não conseguir,
auxiliá-lo a retirá-la utilizando uma gaze esterilizada. Colocar a prótese
em uma cuba ou bacia.
4. Escovar a prótese utilizando uma escova e o creme dental ou a solução
antisséptica.
5. Enxaguar com água fria em abundância, pois a água quente pode
alterar alguns materiais da prótese.

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6. Fornecer um copo com água ou antisséptico ao paciente para que
enxágue a boca e lenços descartáveis para secar a boca.
7. Recolher o material.
8. Acomodar o paciente, retirar as luvas, lavar as mãos e registrar as
possíveis alterações.

Observações:

• Se depois da higiene bucal o paciente não desejar colocar sua prótese,


deve-se depositá-la em um recipiente especial ou em um copo tampado
com uma gaze, e devidamente identificado.

5.2 Cuidado com as unhas

A higiene das unhas é também um cuidado importante da higiene habitual,


visto que embaixo delas se acumulam sujeira e micro-organismos. Os pacientes
podem ter dificuldades para seu cuidado, sobretudo as unhas dos pés. Dessa
forma, deve-se suprir essa carência sempre que necessário.

5.2.1 Lavagem e corte das unhas das mãos e dos pés

• Descrição: a higiene e o corte das unhas podem ser realizados junto do


asseio geral ou independentemente dele.
• Material: luvas, pano, bacia, sabonete, escova para as unhas, tesoura
sem ponta ou cortador de unhas de mãos e pés e lixa de unha.
• Protocolo:

1. Explicar o procedimento ao paciente e pedir a sua colaboração.


2. Lavar as mãos e calçar as luvas (caso haja contato com secreções).
3. Proteger a cama com um pano embaixo da mão ou do pé, segundo a
área de que se tratar.
4. Lavar a mão ou o pé.
5. Passar a escova de unhas sem lesionar a pele.
6. Secar, principalmente os espaços interdigitais.
7. Cortar as unhas das mãos seguindo a forma do dedo. Para as unhas
dos pés, recomenda-se o corte reto assegurando-se de que a tesoura
ou o cortador de unhas sobressaia pelo leito ungueal.

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8. Após o corte, pode-se lixar as unhas para remover os cantos que
poderiam machucar a pele mais próxima ou provocar o encravamento
das unhas. Ao lixar as unhas, deve-se ter o cuidado para não entrar no
leito ungueal.
9. Se a unha for muito grossa, pode-se lixar por cima para diminuir a
espessura antes do corte.
10. Acomodar o paciente, lavar as mãos e registrar o procedimento,
anotando as possíveis alterações.

Observações:

• Os pacientes diabéticos ou com problemas circulatórios não devem cortar


as unhas. Suas unhas devem ser lixadas para controle de seu
crescimento, pois qualquer ferida, por menor que seja, pode produzir
graves problemas devido ao risco de infecção e à dificuldade de
cicatrização decorrente dessas patologias.

NA PRÁTICA

Um paciente sob seus cuidados está acamado após uma cirurgia de


fratura de quadril e fêmur devido a um acidente de moto. Está utilizando fixador
externo na perna esquerda, porém encontra-se consciente, ativo, alerta e
bastante colaborativo. Apesar da condição restrita ao leito e de limitação de
movimentos, o paciente solicita a você que, durante o banho de leito, ele mesmo
possa realizar grande parte da higiene.
Como você avalia a situação? Quais considerações você deve fazer?
Primeiramente, deve-se observar todas as restrições médicas para esse
paciente em pós-operatório ortopédico, como as restrições de movimento. Em
segundo lugar, um paciente jovem e colaborativo sempre deve realizar a sua
higiene, principalmente da face, oral e genital.
Com isso em mente, você deve explicar ao paciente como será o
momento da higienização, orientá-lo para suas restrições de movimento, porém
sempre estimulando o autocuidado e aproveitando esses momentos de
assistência para promover a educação em saúde.

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FINALIZANDO

Nesta aula iniciamos a descrição das medidas de conforto do paciente,


com a apresentação das técnicas e protocolos de higiene do paciente. A higiene
é tida como uma necessidade básica de saúde, pois a sua integridade é
influenciada pela condição de higiene do paciente. A hidratação, turgor e mesmo
retirada de secreções e/ou substâncias interferem nas condições gerais da pele
do paciente, a qual, lembremos, é uma barreira de proteção do organismo.
Alguns cuidados devem ser tomados antes de iniciarmos qualquer
cuidado de higiene, por exemplo o cuidado com a temperatura ambiente, a
preservação da intimidade e privacidade do paciente (que pode ser otimizada
com o uso de biombos e outros recursos), a minimização de quaisquer correntes
de ar, e a separação e organização de todos os itens necessários antes do início
da higiene do paciente.
Foi destacado ainda que sempre que possível devemos realizar esses
cuidados em dupla, para minimizar o tempo dispendido à higiene do paciente.
Foram descritas também as técnicas de higiene geral (banhos de aspersão e de
leito) e as técnicas de higiene parcial: higiene do cabelo, genital, colocação de
comadre e papagaio, higiene oral – tanto de pacientes independentes,
inconscientes e com próteses –, assim como a lavagem e corte das unhas.
Assim, de modo geral, foram apresentadas as principais técnicas de higiene do
paciente.

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REFERÊNCIAS

CARMAGNANI, M. I. S. et al. Procedimentos de enfermagem: guia prático. 2.


ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.

CLOHERTY, J. P. Manual de neonatologia. 4 ed. Ribeirão Preto: Medsi, 2000.

FISCHBACH, F.; FISCHBACH, M. Exames laboratoriais e diagnósticos em


enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.

GALLEGUILLOS, P. E. A. Semiotécnica. Porto Alegre: Sagah, 2019.

KAWAMOTO, E. E.; FORTES, J. I. Fundamentos de enfermagem. 3. ed. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

NASCIMENTO, A. B. Conhecimento e métodos do cuidar em enfermagem.


Porto Alegre: Sagah, 2019.

SOARES, M. A. M.; GERELLI, A. M.; AMORIM, A. S. Enfermagem: cuidados


básicos ao indivíduo hospitalizado. Porto Alegre: Artmed, 2010.

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