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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Tema do Trabalho:

Efeitos Adaptativas no Esforço. (Princípios de Adaptação sob aguda e crónica)

Nome e Código do Estudante:

Carmónio Luis Matsinhe-708205593

Curso:

Licenciatura em Ensino de Educação Física e Desporto


Disciplina:

Fisiologia do Desporto

Ano de Frequência:

4º Ano

Beira, Abril, 2023

Universidade Católica de Moçambique


Instituto de Educação à Distância

Tema do Trabalho:

Efeitos Adaptativas no Esforço. (Princípios de Adaptação sob aguda e crónica)


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Contextualização 1.0
(Indicação clara do
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Descrição dos 1.0
Introdução objectivos
Metodologia 2.0
adequada ao objecto
do trabalho
Articulação e 2.0
domínio do discurso
Conteúdo académico (expressão
escrita cuidada,
coerência /coesão
Análise e textual)
discusão Revisão bibliográfica 2.0
nacional e
internacionais
relevantes na área de
estudo.
Exploração dos dados 2.0
Conclusão Contributos teóricos 2.0
práticos
Aspectos Formatação Paginação, tipo e 1.0
gerais tamanho de letra,
paragrafo,
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linhas
Referências Normas APA 6ª Rigor e coerência das 4.0
Bibliográficas edição em citações/referências
citações e bibliográficas
bibliografia
Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor
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Índice
1. Introdução........................................................................................................................1

2. Referencial Teórico.........................................................................................................2

2.1. Efeitos Adaptativas no Esforço. (Princípios de Adaptação sob aguda e crónica).......2

2.1.1. Adaptações agudas do treinamento resistido no sistema cardiovascular..............3

2.1.1.1. Respostas pressóricas pós-exercício..............................................................6

2.1.2. Adaptações crônicas do treinamento resistido no sistema cardiovascular...........8

2.1.2.1. Adaptações morfológicas..............................................................................8

2.1.2.2. Adaptações hemodinâmicas..........................................................................9

3. Conclusão......................................................................................................................12

4. Referências Bibliográficas.............................................................................................13
1.
2. Introdução

Durante muito tempo o treinamento resistido, também conhecido como musculação, foi
desaconselhado e contra-indicado para indivíduos portadores de diversas cardiopatias, pelo
fato de, durante a execução dessa modalidade de exercícios, a frequência cardíaca e a
pressão arterial poderia sofrer uma elevação exacerbada o que representaria um risco
potencial para o rompimento de aneurismas cerebrais preexistentes.

No entanto, o baixo índice de acidentes cardiovasculares durante os exercícios resistidos, e


um melhor conhecimento da fisiologia do exercício por parte dos profissionais da área de
saúde pode trazer uma maior tranquilidade quanto à utilização dos exercícios resistidos em
diversas populações. Assim, essa atividade passou a ser considerada adequada e
aconselhada a vários grupos de indivíduos, como idosos, portadores de doença
cardiovascular e adultos saudáveis.

Considerando os ganhos musculo esqueléticos provocados por esses exercícios, o interesse


por parte de muitos estudiosos em esclarecer melhor a importância dos exercícios resistidos
nas cardiopatias vem crescendo expressivamente. O facto de os exercícios resistidos
poderem induzir um grande aumento na pressão arterial e frequência cardíaca durante a
execução de exercícios com carga máxima talvez explique o conceito equivocado que
alguns profissionais de saúde ainda têm no sentido de que o treinamento resistido seria uma
atividade de alto risco cardiovascular.

Em vista do exposto, esta revisão bibliográfica discute questões pertinentes às adaptações


agudas e crônicas dos exercícios resistidos no sistema cardiovascular, procurando
desmistificar algumas concepções equivocadas de que os exercícios resistidos são
hemodinamicamente perigosos.

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3. Referencial Teórico
3.1. Efeitos Adaptativas no Esforço. (Princípios de Adaptação sob aguda e
crónica)

A adaptação é um fenômeno biológico fundamental que tem grande relevância prática nas
atividades físicas e no esporte. Nesse sentido, o treinamento físico regular provoca uma
série de estímulos que produzem modificações e adaptações estruturais e funcionais.

As adaptações fisiológicas do exercício físico são decorrentes do processo de treinamento


físico e podem ser de ordem aguda ou crônica. As adaptações agudas, também
denominadas “respostas agudas”, são aquelas que ocorrem em associação direta com a
sessão de exercício e podem ser subdivididas em imediatas ou tardias. As respostas agudas
imediatas são as que ocorrem nos períodos pré-imediato e pós-imediato rápido, até alguns
minutos após o término do exercício, como as elevações na freqüência cardíaca, na pressão
arterial e na temperatura corporal.

Já as adaptações agudas tardias são aquelas observadas ao longo das primeiras 24 ou 48


horas, às vezes até 72 horas, após uma sessão de exercícios e podem ser exemplificadas
pelas reduções nos níveis tencionais e pelo aumento da sensibilidade insulínica.

As adaptações crônicas são aquelas que resultam da exposição sistemática a sessões de


exercícios, representando as alterações morfofuncionais que diferenciam um indivíduo
fisicamente treinado de um não treinado. Por sua vez, as adaptações crônicas são bem
representadas pela bradicardia de repouso, hipertrofia muscular e elevação da potência
aeróbia.

As respostas adaptativas alcançadas com os estímulos oferecidos pelo processo de


treinamento físico recebem as características do tipo de exercício sistematicamente
utilizado nos treinos. Nesse contexto, podem-se caracterizar os exercícios físicos em dois
tipos distintos, ou seja, exercícios dinâmicos ou isotônicos (contração muscular, seguida de
movimento articular) e estáticos ou isométricos (contração muscular, sem movimento
articular), cada um implicando respostas cardiovasculares distintas. Desse modo, cada
exercício determina o grau de atividade dos vários órgãos, dos diferentes tipos de músculos
e unidades motoras utilizadas na execução do movimento.
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Apesar de as respostas fisiológicas aos exercícios dinâmicos e estáticos serem
caracterizadas de forma distinta quando se realiza uma série de exercícios resistidos de alta
intensidade, esses são executados de forma que os exercícios dinâmicos possam apresentar
um componente isométrico bastante elevado, de modo que as respostas cardiovasculares
durante sua execução se assemelhem àquelas observadas nos exercícios estáticos.

Dessa forma, as adaptações cardiovasculares ao treinamento aeróbio são diferentes das


adaptações ao treinamento resistido. Em geral, essas diferenças são causadas pela
necessidade de bombear uma grande quantidade de sangue a uma pressão relativamente
baixa no caso dos exercícios aeróbios, ao passo que durante os exercícios resistidos uma
quantidade relativamente pequena de sangue é bombeada a uma pressão alta. Assim, para
suprir a nova demanda metabólica e manter a homeostasia, várias adaptações fisiológicas
nos sistemas corporais e, em particular, no cardiovascular são necessárias.

3.1.1. Adaptações agudas do treinamento resistido no sistema cardiovascular

Durante a execução de uma série de exercícios resistidos, a pressão arterial aumenta


substancialmente, podendo alcançar cifras de 320/250 milímetros de mercúrio (mmHg)
para pressão arterial sistólica e diastólica, respectivamente, durante exercícios realizados
com ações musculares voluntárias máximas, ou seja, intensidade máxima.

Por outro lado, essas cifras exorbitantes não foram encontradas durante a execução de
exercícios resistidos com intensidades submáximas. Os níveis elevados de pressão arterial
encontrados em estudos com fisiculturistas nos quais os exercícios foram realizados até o
ponto de falência, ou seja, com ações musculares voluntárias máximas, não podem ser
equiparados aos resultados encontrados em outras populações que realizaram exercícios
submáximos.

A esse respeito, em estudo realizado por Meyer et al. em pacientes com insuficiência
cardíaca, que realizaram exercícios no leg press, com carga relativa a 60% e 80% de uma
repetição máxima, as respostas pressóricas foram de 144 mmHg (sistólica) e 71 mmHg
(diastólica), durante 60% de uma repetição máxima, e 145 mmHg (sistólica) e 69 mmHg
(diastólica), durante 80% de uma repetição máxima. De forma semelhante, porém com

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carga relativa a 70% de uma repetição máxima, Mckelvie el al. obtiveram os resultados de
189/98 mmHg para as pressões arteriais sistólica e diastólica, respectivamente.

A elevação da pressão arterial está provavelmente relacionada ao aumento do débito


cardíaco, aumento das pressões intra-abdominal e intratorácica e ao aumento acentuado da
pressão intramuscular que ocorre durante o esforço contrátil. Esse aumento da pressão
intramuscular promove uma diminuição acentuada ou, até mesmo, uma obstrução do fluxo
sanguíneo, em razão do bloqueio mecânico imposto pela massa muscular contraída. No
entanto, o aumento repentino da pressão arterial durante a contração muscular pode
também estar relacionado à realização da manobra de valsava que normalmente acompanha
as contrações musculares intensas.

Consequentemente, as maiores pressões arteriais são alcançadas com séries longas, levadas
até exaustão, o que permite que ocorram todos os fatores que contribuem para um aumento
da pressão arterial e da frequência cardíaca, ao passo que as séries realizadas em
intensidades submáximas são insuficientes em duração e intensidade para aumentar
exacerbadamente a pressão arterial e a frequência cardíaca.

Em relação às respostas pressóricas imediatas, MacDougall et al. constataram que, durante


uma série de exercícios resistidos, em contração voluntária máxima até a exaustão, ocorrem
picos pressóricos durante a contração concêntrica que provocam uma elevação extrema das
pressões arteriais sistólica e diastólica. Porém, imediatamente após a última repetição, a
pressão arterial sistólica e a diastólica declinam rapidamente, abaixo dos valores pré-
exercício, retornando ao normal após ± 10 segundos do término do exercício. A rápida
queda da pressão arterial imediatamente após o exercício é causada, provavelmente, pela
súbita perfusão do fluxo sanguíneo, que permanecera previamente concluído.

Nessa mesma linha de raciocínio, Fleck e Dean, procurando ilustrar a influência do grau de
treinamento nas respostas cardiovasculares imediatas de um grupo de fisiculturistas,
comparando-o com um grupo de iniciantes e um grupo de sedentários, descobriram que a
experiência de treinamento pode diminuir as respostas pressóricas e a frequência cardíaca
durante o treinamento. Portanto, as respostas máximas da frequência cardíaca e pressões
arteriais sistólica e diastólica foram menores nos fisiculturistas que nos outros grupos para a
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mesma carga relativa. Pode-se especular então, que o treinamento prévio tem um caráter
preventivo, reduzindo os valores opressórios extremos observados nos exercícios com
cargas máximas .

Notavelmente, níveis elevados de pressão arterial são acompanhados por um progressivo


aumento na freqüência cardíaca, que pode alcançar os níveis de 166 bpm (batimentos por
minuto), 160 bpm em exercícios resistidos realizados com intensidades máximas. Em
contrapartida, em exercícios resistidos realizados com intensidades submáximas, as
respostas da freqüência cardíaca não alcançam níveis tão altos, ou seja, 86 bpm, como
verificado por Mckelvie et al., e 90 bpm, relatado nos estudos de Meyer et al.

Na realização de exercícios com componentes estáticos, a obstrução do fluxo sangüíneo


leva a que os metabólicos produzidos durante a contração se acumulem, ativando
quimiorreceptores musculares, os quais promovem aumento expressivo da atividade
nervosa simpática, ocasionando um aumento da freqüência cardíaca. Dessa forma, o débito
cardíaco sofre pequenos aumentos, que se devem à elevação da freqüência cardíaca, não do
volume sistólico. A respeito, é interessante ressaltar que, nos exercícios com componentes
estáticos, a magnitude das respostas cardiovasculares é influenciada pela intensidade do
exercício, pela duração e massa muscular envolvida.

Em contrapartida, nos exercícios com componente dinâmico (isotônico), como as


contrações são seguidas de movimentos articulares, não existe obstrução mecânica do fluxo
sanguíneo, de modo que, nesse tipo de exercício, também se observa aumento da atividade
nervosa simpática, que é desencadeada pela ativação do comando central,
mecanorreceptores musculares e, dependendo da intensidade do exercício,
metaborreceptores musculares.

Nesse sentido, pode-se dizer que os exercícios resistidos realizados com intensidade
máxima apresentam uma freqüência cardíaca e uma pressão arterial mais elevada do que os
exercícios resistidos com intensidades submáximas, por possuírem um componente estático
maior.

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Diferentemente do que ocorre com a pressão arterial, durante toda a série de exercícios
resistidos realizados em contração voluntária máxima a freqüência cardíaca permanece
elevada tanto nas contrações concêntricas como nas contrações excêntricas (Figura 1) (26).

3.1.1.1. Respostas pressóricas pós-exercício

As reduções na pressão arterial para valores abaixo dos níveis de controle (pré-exercício)
após o término do exercício físico são denominadas efeito hipotensivo pós-exercício. Por
sua vez, as respostas pressóricas pós-exercício resistido apresentam resultados conflitantes,
bem como os seus mecanismos de regulação permanecem ainda pouco estudados. Nesse
contexto, os estudos que investigam as adaptações agudas pós-exercícios resistidos sobre a
pressão arterial têm constatado aumento (16, 8, 32, 38), manutenção (42, 32, 16) e até
redução da pressão arterial (37, 40, 41 43, 11, 5) após a realização de uma única sessão de
exercícios resistidos.

O aumento da pressão arterial sistólica é observado imediatamente após a realização de


uma seção de exercícios resistidos com intensidades elevadas. Tentando ilustrar essa
situação, O`Connor et al. compararam três sessões, realizadas a 40, 60 e 80% de dez
repetições máximas (10RM), demonstrando que a pressão arterial sistólica elevou-se logo
após as sessões realizadas a 60 e 80% de 10RM, o que perdurou por até 1 minuto (min)
após o término da sessão com carga referente a 60% de 10RM e até 15 min após o término
da sessão com carga referente a 80% de 10RM. Considerando as observações de O`Connor
et al. pode-se inferir que a elevação da pressão arterial sistólica imediatamente após o
término do exercício pode estar relacionada à intensidade do exercício. Em contraposição,
Brown et al. observaram que a pressão arterial sistólica permaneceu elevada após uma
sessão de exercícios resistidos realizada com carga referente a 40 e 70% de uma repetição
máxima (1RM), o que perdurou até 5 min após o término de ambas as sessões.

Percebe-se, então, que a magnitude da elevação da pressão arterial sistólica pode estar
relacionada com a intensidade do exercício. Os maiores períodos em que a pressão arterial
sistólica permaneceu elevada foram relatados com intensidades correspondentes a 80% de

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10RM (15 minutos de elevação da pressão arterial sistólica) e 80% de 1RM (20 minutos de
elevação da pressão arterial sistólica).

Com relação ao efeito hipotensivo, evidenciam-se reduções significativas da pressão


arterial nos momentos subsequentes ao término de uma sessão de exercício resistido.

No trabalho de Fisher, estudando mulheres normotensas e pré-hipertensas que haviam


trabalhado numa intensidade correspondente a 50% de 1RM, verificou-se redução
significativa da pressão arterial sistólica após 60 min do término do exercício. Nesse
enfoque, Polito et al. também verificaram reduções na pressão arterial sistólica após 10
minutos do término da sessão, redução que perdurou por até 60 minutos após o final do
trabalho, realizado numa intensidade alta, com carga correspondente a seis repetições
máximas (6RM); o mesmo efeito ocorreu com uma intensidade relativamente baixa, ou
seja, doze repetições, com a carga correspondente a 50% daquela associada a 6RM, porém
a redução na pressão arterial sistólica perdurou por somente 40 minutos.

Reforçando essa hipótese, Rezk também verificou um efeito hipotensivo pós-exercícios


resistidos utilizando diferentes sobrecargas. A queda da pressão arterial sistólica foi de
6mmHg na sessão realizada numa intensidade correspondente a 40% de 1RM e volume de
trabalho de vinte repetições, e de 8mmHg na sessão realizada numa intensidade
correspondente a 80% de 1RM e volume de trabalho de dez repetições. Essas reduções
perduraram durante 90 minutos após o término do exercício.

Nessa linha de pensamento, é válido salientar os relatos de Macdonald, que verificou


reduções médias de 8mmHg na pressão arterial sistólica pós-exercício aeróbio. Desse
modo, tanto os exercícios aeróbios como os resistidos apresentam reduções na pressão
arterial sistólica pós-exercício de forma semelhante.

Quanto à pressão arterial diastólica, alguns estudos não puderam demonstrar qualquer
efeito hipotensivo após o término de uma sessão de exercícios resistidos. Contudo, Polito et
al. observaram redução na pressão arterial diastólica durante 10 minutos após uma sessão
de exercícios resistidos realizados numa intensidade relativamente baixa, de doze
repetições, com carga correspondente a 50% daquela associada a 6RM.

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Outros autores, como Focht e Koltyn (16) e Rezk, também constataram que a pressão
arterial diastólica diminuiu significativamente em relação ao repouso, entretanto com uma
carga relativamente baixa, entre 40% e 50% de 1RM. Nesse particular, é importante
salientar que o efeito hipotensivo na pressão arterial diastólica pode estar relacionado com a
intensidade do exercício.

Por outro lado, Brown et al. verificaram um efeito hipotensivo na pressão arterial diastólica
para intensidades entre 40% e 70% de 1RM. Esses achados diferem dos estudos de Polito et
al. Focht e Koltyn Rezk, que somente encontraram hipotensão pós-exercício na pressão
arterial diastólica com cargas relativamente baixas.

De forma semelhante, todos os estudos mencionados não demonstraram quaisquer


elevações na pressão arterial diastólica após uma única sessão de exercícios resistidos.

3.1.2. Adaptações crônicas do treinamento resistido no sistema cardiovascular


3.1.2.1. Adaptações morfológicas

A exposição prolongada e repetida ao exercício pode causar alterações estruturais e


funcionais no sistema cardiovascular. Nesse sentido, a literatura tem demonstrado que o
coração se adapta a uma carga hemodinâmica aumentada, seja está resultante de estímulos
providos pelo treinamento físico, seja por alguma patologia. Dessa forma, tem se verificado
que o treinamento resistido pode provocar adaptações cardiovasculares que se assemelham
às adaptações provocadas pela hipertensão, isto é, aumento da espessura da parede
ventricular e do tamanho da câmara ventricular.

Caracteristicamente, o treinamento resistido induz elevações na pressão arterial. No


entanto, o aumento da espessura da parede do ventrículo esquerdo é uma adaptação
provocada pelas pressões sanguíneas intermitentemente elevadas durante o treinamento
resistido. Essa sobrecarga de pressão no coração está associada ao espessamento da parede
ventricular esquerda e à manutenção da cavidade ventricular, o que é denominado de
“hipertrofia ventricular esquerda concêntrica”.

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Nesse sentido, Fleck assinala que o treinamento resistido pode causar aumento da espessura
da parede ventricular esquerda, porém isso não é uma consequência necessária de todos os
programas de treinamento resistido. Os fatores relacionados à espessura ventricular
esquerda aumentada incluem o nível de treinamento, o fato de as séries serem máximas ou
submáximas e o tamanho da massa muscular envolvida no treinamento.

Com relação ao aumento do volume ventricular esquerdo, que pode ser denominado de
hipertrofia ventricular esquerda excêntrica”, normalmente é considerado um indicativo de
sobrecarga de volume que ocorre tipicamente em atletas de endurance (maratonistas,
ciclistas). Nesse contexto, a maior parte dos estudos que investigaram os exercícios
resistidos indica que o treinamento resistido tem pouco ou nenhum impacto nas dimensões
das câmaras cardíacas.

Nesse particular, ao serem analisados as adaptações cardiovasculares provocadas pela


hipertensão arterial e pelo treinamento resistido, verificam-se algumas semelhanças.
Entretanto, se essas adaptações são examinadas detalhadamente, é possível observar
diferenças entre elas. A fim de distinguir as características entre ambas, têm sido usados os
termos “hipertrofia patológica”, para as mudanças que ocorrem com a hipertensão, e
“hipertrofia fisiológica”, para as mudanças que ocorrem com o treinamento resistido.

3.1.2.2. Adaptações hemodinâmicas

Existe ainda a concepção de que as pressões sangüíneas intermitentemente elevadas durante


o treinamento resistido possam causar o aumento da espessura da parede do ventrículo
esquerdo, resultando num aumento crônico da pressão arterial (hipertensão). Essa hipótese
é ainda muito utilizada pelos profissionais da área da saúde quando da prescrição ou da
indicação de alguma forma de exercício para hipertensos.

Nesse sentido, os estudos longitudinais que analisaram os efeitos dos exercícios resistidos
sobre a pressão arterial são escassos e apresentam resultados conflitantes. Esses estudos
têm demonstrado que o treinamento resistido pode levar a um aumento, a um decréscimo
ou a uma manutenção da pressão arterial. De acordo com Fleck e Kramer, a concepção
errônea comum de que o treinamento resistido resulta em hipertensão, quando ocorre,

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provavelmente, está relacionada à hipertensão essencial, excesso de treinamento crônico,
uso de esteróides, grandes aumentos em massa muscular ou aumento no peso total do
corpo.

Entretanto, Halbert et al. , em metanálise avaliando apenas ensaios clínicos randomizados,


constaram que as evidências encontradas sobre o efeito do treinamento resistido na
diminuição dos valores pressóricos não apresentaram resultados estatisticamente
significativos. Contudo, esses resultados são baseados em apenas três pequenos estudos,
com um total de 49 participantes, o que torna as evidências para o efeito do treinamento
resistido sobre a pressão arterial, de certa forma, inconclusivas.

Convém destacar que, em outros estudos envolvendo treinamento resistido, foi observada
redução na pressão arterial sistólica e diastólica em adultos, e idosos. Confirmando esses
resultados, Kelley e Kelley, utilizando-se de uma metanálise de ensaios clínicos
randomizados envolvendo indivíduos normotensos e hipertensos, observaram que o
treinamento resistido reduziu, em média, 3% a pressão arterial sistólica e 4% a pressão
arterial diastólica em ambos os grupos. Concluíram, assim, que os exercícios resistidos são
eficazes para reduzir a pressão arterial sistólica e diastólica.

Entretanto, o simples fato de o exercício resistido não provocar elevações crônicas nos
valores pressóricos já é, por si, um dado importante, visto que as qualidades físicas força e
resistência muscular localizada, desenvolvidas com essa atividade são essenciais no
desenvolvimento das atividades da vida diária, o que justifica a aplicação desse tipo de
exercício para efeito de melhora na aptidão física.

Embora existam evidências de que o treinamento resistido provoque uma diminuição nos
valores pressóricos, essa problemática ainda precisa ser mais bem estudada, haja vista que o
efeito hipotensivo não se apresenta de forma consensual na literatura através do exercício
resistido.

Em relação à bradicardia de repouso, convém destacar que freqüências cardíacas baixas são
normalmente aceitas como um possível efeito do treinamento e são geralmente
fundamentadas pelo treinamento aeróbio. Assim, aumentos na massa muscular e na massa

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corpórea total associada aos exercícios resistidos resultam numa larga demanda no débito
cardíaco na ordem de suprir um aumento no metabolismo de repouso. Esses aumentos na
massa muscular e na massa corpórea total podem ser paralelos e proporcionais ao volume
sistólico de repouso. Nesse sentido os aumentos no volume sistólico possibilitam que o
coração satisfaça à demanda por sangue sem aumentar a freqüência cardíaca.

Conforme Fleck, em geral, a literatura tem apontado para o fato de que os fisiculturistas e
os levantadores de peso têm uma freqüência cardíaca entre 60 e 74 batimentos por minuto,
que não è significativamente diferente daquela dos sujeitos sedentários. Porém, outros
estudos com períodos curtos em torno de 6 a 20 semanas têm reportado diminuições
significativas, de 4.7% até 12.7%, na freqüência cardíaca de repouso.

De acordo com Brown e Brechue, dois cenários podem ocorrer com essa observação, visto
que o treinamento resistido em indivíduos destreinados pode induzir a uma adaptação
precoce similar à que ocorre no treinamento aeróbio, ou seja, aumento no volume sistólico;
sem um concomitante aumento no metabolismo de repouso e na demanda por sangue, a
frequência cardíaca é diminuída.

Com relação ao volume sistólico, estudos longitudinais têm relatado que atletas altamente
treinados com peso têm um volume sistólico maior se comparados a um grupo controle ou
a indivíduos que treinam recreacionalmente. Assim, parece razoável sugerir que o grau de
treinamento pode influenciar no volume sistólico absoluto. Contudo, aumentos absolutos no
volume sistólico em atletas treinados em resistência em comparação ao grupo de controle
podem ser explicados, em parte, pelo aumento da massa corpórea total.

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4. Conclusão

Revisadas inúmeras pesquisas a respeito dos exercícios resistidos e suas relações com as
adaptações cardiovasculares, percebe-se que há uma tendência entre os estudiosos de
afirmar que, se realizados de forma apropriada, os exercícios resistidos podem ser muito
seguros para a saúde cardiovascular da população em geral.

Observa-se também que os exercícios resistidos provocam adaptações agudas e crônicas no


sistema cardiovascular, de modo que os sujeitos que os realizam de forma controlada,
utilizando-se de cargas de trabalho submáximas, podem ser beneficiados em relação às
respostas hiporresponsivas da frequência cardíaca e pressão arterial.

Diante do exposto, espera-se ter reunido informações que venham contribuir para ampliar
os atuais níveis de conhecimento quanto aos exercícios resistidos e que os resultados
possam servir como referencial para futuras intervenções investigativas em diferentes
populações, com metodologias que possam esclarecer melhor todas as questões ainda
obscuras sobre o assunto.

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5. Referências Bibliográficas

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