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AINES

Matheus Eduardo (150)

BASES DA FARMACOLOGIA
ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINES)

Os AINES são uma classe de medicamentos assim denominada para diferenciá-los dos
corticóides/anti-inflamatórios esteroidais, que possuem origem hormonal. É uma classe de
medicamentos composta por diversos compostos químicos não relacionados.

Características gerais

Além de anti-inflamatórios, os AINES apresentam atividade analgésica e antipirética, em


maior ou menor intensidade. O efeito analgésico é limitado e efetivo em dores leves a moderadas
(cefaleia, mialgia), e pouco efetivo em dores viscerais (cálculos renais, biliares). O efeito antipirético se
dá quando a temperatura encontra-se acima do normal e associada ao aumento de PGE2, não sendo
eles hipotérmicos que interferem na temperatura normal.
Eles são normalmente utilizados no tratamento de processos inflamatórios crônicos (por
longos períodos), sem produzir nenhum grau de dependência química/psíquica.
Os AINEs são geralmente associados com a morfina para reduzir a dose desta e reduzir o
surgimento de dependência nos indivíduos, por exemplo, em estágios terminais de câncer.
Geralmente são utilizados como tratamentos paliativos.

Mecanismo de ação

Os alvos farmacológicos dos AINES são


as isoformas das cicloxigenases (COX),
competindo com o ácido araquidônico pelo seu
sítio catalítico. Com a inibição das COX, há
redução significativa na produção de
prostanóides, como a PGE2, que é
pró-inflamatória.
A inibição da via das COX disponibiliza
mais substrato para a via das lipoxigenases, o que
resulta numa maior produção de leucotrienos. Isso
não é interessante para pacientes asmáticos, pois
esses mediadores são potentes na contratura da
musculatura bronquiolar.
As diferentes isoformas das COX
apresentam diferentes seletividades pelos AINES.
Normalmente, os AINES mais recentes possuem
uma maior seletividade pela isoforma COX-2.

Principais classes de AINES

Salicilatos
● São sais e ésteres do ácido salicílico, tóxico para o organismo, pois promove lesões na
mucosa gástrica
○ Suas propriedades queratolíticas (descamação das células epiteliais) tornam-o útil no
uso tópico para remoção de cravos, verrugas, rachaduras nos pés e no peeling.
● A partir dele, foi gerado o ácido acetilsalicílico (AAS - aspirina), um composto com
propriedades semelhantes, mas com menor toxicidade ao TGI.
○ Atualmente é mais utilizado como antiagregante plaquetário, em doses menores que
as necessárias para os efeitos anti-inflamatórios, analgésicos e antipiréticos
○ Seu efeito é proveniente da inibição da produção de TxA2, evitando acidentes
tromboembólicos
AINES
Matheus Eduardo (150)

● Os salicilatos inibem indistintamente e de forma reversível as isoformas COX-1 e COX-2,


exceto o AAS, que inibe irreversivelmente (ligação covalente) e é mais seletivo à COX-1 em
baixas doses.
● Outro derivado do ácido salicílico, o salicilato de metila, é usado topicamente em casos de
exposição a agressões que podem causar quadros inflamatórios, promovendo também um
alívio imediato da dor no local (geralmente em forma de spray)
● Salicilismo: overdose de salicilatos que desencadeia uma síndrome caracterizada por
intolerância gástrica exacerbada (dor, desconforto epigástrico, náuseas, vômitos e anorexia)
○ Ulceração da mucosa com sangramento
○ Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico (desacoplamento da fosforilação oxidativa)
■ Em doses normais, aumenta o consumo de O2 e a produção de CO2, que
estimula o centro respiratório, fazendo com que esse aumento de CO2 seja
equilibrado
● Uma maior queda da PCO2 pode causar alcalose respiratória primária
■ Para compensar a alcalose, aumenta-se a excreção renal de HCO3-,
acompanhada da excreção de Na+ e K+. Assim, o pH do sangue retorna aos
níveis normais (acidose renal compensatória)
○ Em altas doses, podem promover a inibição do centro respiratório

Derivados indólicos e derivados do ácido propiônico


● Apresentam maior seletividade pela COX-2, mas ainda inibem a COX-1 e seus impactos
fisiológicos estão associados a seus efeitos colaterais
● Além dos efeitos anti-inflamatórios, analgésicos e antipiréticos, ambos reduzem a migração
leucocitária.
● São mais potentes, possuem uma meia-vida maior e são eliminados por filtração glomerular,
secreção tubular e circulação entero-hepática. São mais caros em relação aos salicilatos.
● Derivados indólicos: indometacina, diclofenaco (voltaren, cataflam), sulindaco e cetorolaco
● Derivados do ácido propiônico: ibuprofeno, naproxeno e ketoprofeno
○ Naproxeno é eliminado por circulação entero-hepática, tem menos riscos
cardiovasculares e mais riscos ao TGI/fígado

Derivados da pirazolona
● Apresentam fortes propriedades analgésicas e antipiréticas, de uso agudo, com atividade
anti-inflamatória insignificante em relação aos demais AINES
● Dipirona (metamizol), fenilbutazona, oxifenilbutazona e feprazona
● O dipirona é escolhido para aliviar a dor e reduzir a temperatura corporal nos quadros de
dengue, visto que possui baixa afinidade pelas isoformas periféricas capazes de reduzir a
síntese de tromboxano A2, e alta afinidade pela COX-3 (central)
● Efeitos adversos: agranulocitose (redução na produção de granulócitos - neutrófilos,
basófilos, eosinófilos), o que desencadeia uma granulocitopenia, além de poder causar
anemia aplástica (formação de hemácias defeituosas)
○ Não devem ser utilizados em tratamentos crônicos

Fenamatos
● Apresentam pronunciada atividade analgésica aguda e atividade anti-inflamatória fraca
● A capacidade analgésica não se dá pela inibição das COX, mas sim pela sua capacidade de
agir como antagonista dos receptores de prostaglandinas
● O ácido meclofenâmico é o maior exemplo e é o composto ativo de medicamentos utilizados
para alívio de cólicas menstruais (dismenorreias)

Derivados do para-aminofenol
● O mais comum é o paracetamol/acetaminofeno, utilizado em doses agudas para reduzir a
febre e mitigar a dor
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Matheus Eduardo (150)

● Os quadros de dengue estão associados com certo comprometimento hepático, por isso não
é recomendado o uso dos derivados do para-aminofenol nesses casos, visto que geram um
metabólito tóxico ao passarem pelo fígado
○ No fígado, o paracetamol é submetido a reações de fase I e fase II. A fase I produz um
metabólito tóxico (NAPQI) que promove a peroxidação lipídica nos hepatócitos,
desencadeando um quadro de hepatite medicamentosa
○ Em doses terapêuticas, a fase II conjuga esse metabólito à glutationa, formando um
conjugado desprovido de atividade tóxica e farmacológica
● A overdose desses derivados pode promover hepatotoxicidade. A N-acetilcisteína é um
antioxidante que atua como antídoto antes que haja grande lesão do tecido hepático.

Inibidores seletivos da COX-2


● São fármacos que atuam na isoforma mais presente no processo inflamatório, constitutiva do
endotélio (importante para produção de prostaciclinas vasodilatadoras e anti-plaquetárias)
● Ainda inibem a COX-1, mas de maneira menos significativa e a partir de doses maiores
● Apesar do efeito protetor sobre a mucosa do TGI, facilita a formação de trombos (pelo TxA2) e
aumenta os níveis de pressóricos
● Nimesulida, meloxicam e piroxicam

Inibidores altamente seletivos da COX-2 (COXIBS)


● São fármacos que reduzem significativamente os efeitos colaterais a nível do TGI, pois permite
que a COX-1 produza suas prostaglandinas citoprotetoras
● Devem ser usados com prescrição médica por seus impactos cardiovasculares (a COX-2 é a
principal do endotélio vascular) e renais. Seu uso não deve ultrapassar 10 dias.
○ Alta nos níveis de TxA2 e na pressão arterial
● Celecoxibe, etoricoxibe e rofecoxibe (retirado do mercado)

Classificação válida para o uso em baixas doses

Efeitos dos AINES

Efeitos analgésicos
● Uso em dores leves a moderadas (cefaleia, mialgia, dor odontológica, artralgias, dor
pós-operatória e dismenorréia)
● O mecanismo de ação se dá pela redução da produção de prostaglandinas, agentes
algésicos

Efeito antipirético
● Também se dá pela redução de prostaglandinas, agentes pirogênicos atuantes nos centros
termorreguladores hipotalâmicos

Efeito anti-inflamatório
AINES
Matheus Eduardo (150)

● Ocorre pela redução de prostaglandinas e são utilizados para tratar processos inflamatórios
crônicos, como artrite reumatóide, artrite gotosa, espondilite anquilosante e osteoartrite

Efeitos adversos
● Distúrbios gastrointestinais (úlceras): associados a redução da síntese de prostaglandinas,
que apresentam efeito citoprotetor na mucosa gástrica. Por isso, recomenda-se o uso de
AINES com protetor gástrico, como um inibidor de bomba
● Tecido renal: as prostaglandinas estão associadas à manutenção do fluxo sanguíneo renal,
logo, o uso de AINES pode reduzir a taxa de filtração glomerular, aumentando a retenção de
água, o que pode causar edema e aumento da PA
○ Os salicilatos podem reter sal e água, bem como promover redução aguda da função
renal em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, doença renal ou
hipovolemia
● Inibição da agregação plaquetária: decorre da redução da síntese de tromboxano A2
● Reações anafilactóides: podem precipitar crises asmáticas pelo aumento da síntese de
leucotrienos, sobretudo em alérgicos/hipersensíveis. Ocorrem lentamente por via oral, mas o
choque anafilático é quase imediato por vias parenterais
● Inibição da motilidade uterina: contraindicados para mulheres gestantes, exceto o
paracetamol.

Características farmacocinéticas

Todos os AINEs são ácidos orgânicos fracos, com excelente absorção quando
administrados por via oral (mas também pelas demais vias). Possuem elevada afinidade pela
albumina, logo, baixo volume de distribuição.
O tempo de meia-vida é variado, sendo os mais recentes com maiores tempos. Todos são
metabolizados pelo fígado, com alguns apresentando metabólitos tóxicos. A eliminação é feita
predominantemente pelos rins, mas alguns apresentam importante eliminação biliar, por meio da
circulação entero-hepática, que aumenta o tempo de meia-vida, mas aumenta os danos gástricos.

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