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Processo: 145/14.0TTBCL.G1
Relator: VERA SOTTOMAYOR
Descritores: IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO
ACIDENTE DE TRABALHO
REQUISITOS
Nº do Documento: RG
Data do Acordão: 05-04-2018
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Sumário:
I – Sobre a reapreciação da prova impõe-se toda a cautela para não
desvirtuar os princípios da livre apreciação da prova, da oralidade e da
imediação, sem esquecer que não está em causa proceder-se a novo
julgamento, mas apenas examinar a decisão da primeira instância e
respectivos fundamentos, analisar as provas gravadas, para
procedendo ao confronto do resultado desta análise com aquela
decisão e fundamentos, averiguar se o veredicto alcançado pelo
tribunal recorrido quanto aos concretos pontos impugnados assentou
num erro de apreciação.
I – RELATÓRIO
B – a prestar à autora:
II - OBJECTO DO RECURSO
IV - APRECIAÇÃO DO RECURSO
(…)
A grande questão em discussão entre as partes nos autos
prendia-se com o nexo de causalidade entre a alegada
queda da autora nas escadas e as lesões e sequelas que
esta apresentava no momento em que foi encontrada. A
resposta a esta questão fica desde logo prejudicada pelo
facto de, conforme acaba de expor-se, não ter a autora
demonstrado ter sido vítima de qualquer queda nas
escadas, tendo sido apenas possível concluir que terá
sofrido um embate com a cabeça que lhe provocou um
hematoma frontal, e ainda assim sem que se saiba em
que local do hotel e em que circunstâncias. A ausência de
demonstração de um evento com a gravidade de uma
queda pelas escadas como o que era alegado
necessariamente torna muito débil a pretensão da autora
de relacionar as gravíssimas lesões e sequelas que
apresenta com algo que pudesse ter ocorrido no local de
trabalho. Ainda que assim não fosse, porém, a conjugação
de toda a prova produzida aponta claramente para que
ainda que pudesse ter ocorrido a queda alegada pela
autora, ela não teria sido a causa da extensa hemorragia
cerebral e das lesões e sequelas que vieram a verificar-
se.
Está documentado nos autos que a autora padecia de
aneurismas cerebrais desde pelo menos 1983. Tal
decorre com clareza do documento hospitalar junto a fls.
21 do apenso de fixação de incapacidade, sendo que
desse mesmo documento resulta que em 2001 a autora
novamente recorreu a assistência médica que lhe
diagnosticou novamente o mesmo problema. O
depoimento de A. C. (neurocirurgião que acompanhou a
autora em 2001) foi neste aspecto muito pouco
esclarecedor por nada recordar em concreto da situação
(tendo afirmado apenas genericamente que se tivesse
diagnosticado algo significativo teria feito outro tipo de
acompanhamento), não se podendo socorrer de quaisquer
registos por os ter perdido numa inundação ocorrida há
vários anos no consultório. Que tais aneurismas existiam
e que a autora deles tinha conhecimento ficou claro das
declarações de parte do irmão (tutor) da autora, que de
forma contraditória começou por afirmar que teria sido dito
à autora pelos médicos que não teria aneurismas, mas ao
mesmo tempo disse que a autora nunca teria querido
engravidar por ter medo das consequências dos
aneurismas (facto também afirmado pelo director do hotel,
por lhe ter sido dito pela autora). Foi notório o desconforto
do declarante quando confrontado pelo tribunal com esta
contradição e ficou claro que à autora tinham sido
diagnosticados os aneurismas e disso tinha total
conhecimento. Aliás, também resulta dos autos que a
autora efectivamente sofria de cefaleias (muito embora
sem prova quanto a apenas regredirem com
medicamentos), tendo isso sido afirmado pelo director do
hotel e resultar dos registos médicos de fls. 19 do apenso,
sendo que os peritos médicos que formaram a junta
responderam ao quesito em questão dizendo que os
aneurismas “podem cursar com clínica de cefaleia” (fls. 40
do apenso).
V - DECISÃO
Vera Sottomayor