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Acórdãos TRG Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães

Processo: 145/14.0TTBCL.G1
Relator: VERA SOTTOMAYOR
Descritores: IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO
ACIDENTE DE TRABALHO
REQUISITOS

Nº do Documento: RG
Data do Acordão: 05-04-2018
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S

Meio Processual: APELAÇÃO


Decisão: IMPROCEDENTE
Indicações Eventuais: SECÇÃO SOCIAL

Sumário:
I – Sobre a reapreciação da prova impõe-se toda a cautela para não
desvirtuar os princípios da livre apreciação da prova, da oralidade e da
imediação, sem esquecer que não está em causa proceder-se a novo
julgamento, mas apenas examinar a decisão da primeira instância e
respectivos fundamentos, analisar as provas gravadas, para
procedendo ao confronto do resultado desta análise com aquela
decisão e fundamentos, averiguar se o veredicto alcançado pelo
tribunal recorrido quanto aos concretos pontos impugnados assentou
num erro de apreciação.

II - É acidente de trabalho o evento súbito e imprevisto, que provoque


lesão na saúde ou na integridade física do trabalhador, que ocorra no
tempo e no local de trabalho, ou por ocasião do trabalho.

III – Não é de qualificar como acidente de trabalho o evento que


consistiu no facto da sinistrada ter sido encontrada inconsciente nas
escadas do seu local de trabalho, após o término do trabalho, tendo
sofrido um acidente vascular cerebral, (vulgo AVC) mais precisamente
hemorragia do para-hipocampo esquerdo com rompimento do sistema
ventricular em consequência de aneurisma, o que lhe determinou uma
incapacidade para todo e qualquer trabalho.

Decisão Texto Integral:


APELANTE: MARIA
APELADOS: SEGURADORAS X, S.A. e MM, LDA.

Tribunal Judicial da Comarca de Braga, Juízo do


Trabalho de Barcelos – Juiz 2

Acordam na Secção Social do Tribunal da Relação de


Guimarães

I – RELATÓRIO

Frustrada a tentativa de conciliação, MARIA, representada


pelo seu tutor R. G., ambos residentes na Rua …, Póvoa
do Varzim, veio com o patrocínio do Ministério Público,
instaurar a presente acção especial emergente de
acidente de trabalho contra Y SEGUROS, S.A., entretanto
redenominada SEGURADORAS X, S.A., com sede na Av.
…, Lisboa e MM, LDA., com sede na Av. …, Esposende,
pede a condenação na medida da responsabilidade de
cada uma das rés, nas seguintes prestações:

1. €29.043,91 de indemnização por ITA, cabendo à


seguradora €28.838,74 e à entidade empregadora
€205,17;
2. €12.710,11 de pensão anual, vitalícia e actualizável,
com início em 21 de Setembro de 2014, cabendo à
seguradora €12.620,33 e à entidade empregadora €89,78;
3. juros de mora vencidos e vincendos à taxa legal de 4%
ao ano desde a data de vencimento de cada uma das
prestações até integral pagamento;

À Ré seguradora pede ainda a condenação


A – no pagamento das seguintes prestações:

1. €5.533,68 de subsídio de elevada incapacidade;


2. €20.705,19€ de prestação suplementar para assistência
a terceira pessoa devida desde 04/10/2012 até ao mês de
Novembro de 2015;
3. €461,14 de prestação mensal suplementar para
assistência a terceira pessoa a partir do mês de Dezembro
do ano de entrada da petição, prestação essa actualizável
e a pagar 14 vezes ano;
4. subsídio para readaptação de habitação até ao
montante de €5.533,68 logo que as obras tenham lugar;
5. juros de mora vencidos e vincendos à taxa legal de 4%
ao ano desde a data de vencimento de cada uma das
prestações até integral pagamento.

B – a prestar à autora:

6. as ajudas técnicas referidas no ponto 17.º da p.i. e


quaisquer outras que se mostrem necessárias;
7. todos os cuidados médicos, hospitalares, farmacêuticos
e de enfermagem necessários para a recuperação do seu
estado de saúde;
À Ré empregadora pede ainda a condenação no
pagamento: 1.€3.169,17 de subsídio de acidente de
trabalho;
2.bem como juros de mora vencidos e vincendos até
integral pagamento.
*
Regularmente citadas, ambas as rés contestaram.
A Ré seguradora impugnou as lesões e sequelas alegadas
pela autora dizendo que as mesmas resultam de doença
natural de que a autora padecia há vários anos (aneurisma
cerebeloso inoperável) e conclui pedindo a improcedência
da acção e a sua absolvição do pedido.
A Ré empregadora contestou alegando que a queda
sofrida pela autora no local de trabalho se deveu a doença
natural de que a autora já padecia (aneurisma), não se
podendo concluir, por isso, estar-se perante um acidente
de trabalho que possa fundamentar a sua
responsabilidade na reparação. Mais alega que a queda
não ocorreu no tempo de trabalho, mas sim após o fim da
prestação laboral da autora, quando se dirigia para o gozo
de período de férias.
Conclui pedindo a improcedência da acção e a sua
absolvição do pedido.

Os Autos prosseguiram os seus normais trâmites, tendo


sido proferida sentença que julgou a acção totalmente
improcedente e que terminou com o seguinte dispositivo:

Nestes termos, e pelo exposto, julgo a ação totalmente


improcedente por não provada e, consequentemente,
absolvo as rés MM, Lda. e SEGURADORAS X, S.A. dos
pedidos contra si deduzidos nestes autos por Maria.
Custas pela autora, sem prejuízo da isenção de que
beneficia.
Valor da ação – o fixado a fls. 381v.
Registe e notifique.”
*
A Autora inconformada interpôs recurso da sentença,
formulando as seguintes conclusões:

“1º devem ser dados como não provados os factos dos


pontos W), X) e Z dos factos provados da fundamentação
de facto da douta sentença;
2º a factualidade provada integra o conceito de acidente
de trabalho por o traumatismo que a autora sofreu ter
ocorrido no local e tempo de trabalho;
3º as lesões descritas no ponto I) dos factos provados
resultaram directa e necessariamente do embate que a
autora deu com a cabeça no seu local de trabalho;
4º por isso, as rés deverão ser condenadas, na medida da
responsabilidade de cada uma, nas prestações supra
referidas;
5º a douta sentença proferida violou o disposto nos artºs
8º, nºs 1 e 2, 9º, nº 1, al. a) e 2, al. b), 10º, nº 1, 23º, 25º,
47º, nº 1, als. a), c), d), h) e i), 48º, nºs 1, 2, 3 als. a) e d),
50º, nºs 1 e 2, 53º, nºs 1 e 2, 54º, nºs 1, 2, 3 e 4, 67º, nº 2,
68º, nºs 1 e 2, 71º, nºs 1, 2 e 3, 72º e 79º, todos da Lei
98/2009, de 4 de Setembro, e clª 146ª, nº 2 do CCT da
APHORT, publicado no BTE nº 26, de 15.7.2008.
Nestes termos, e nos demais que Vossas excelências
sabiamente suprirão, deverá a presente apelação ser
julgada procedente e, consequentemente, as rés
condenadas, na medida da responsabilidade de cada uma
delas, nas prestações devidas à autora.
JUSTIÇA”
A Ré Seguradora apresentou resposta ao recurso
pugnando pela sua improcedência.
*
Corridos os vistos foi o processo submetido à conferência
para julgamento.

II - OBJECTO DO RECURSO

Delimitado o objeto do recurso pelas conclusões da


recorrente (artigos 608.º n.º 2º, 635.º nº 4 e 639.º, nºs 1 e
2, ambos do Código de Processo Civil), não sendo lícito
ao tribunal ad quem conhecer de matérias nela não
incluídas, salvo as de conhecimento oficioso, que aqui se
não detetam, colocam-se à apreciação deste Tribunal da
Relação as seguintes questões:

- Da impugnação da matéria de facto;


- Da impugnação da decisão de direito
Da qualificação do acidente como de trabalho

III – FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO

Em 1ª instância deram-se os seguintes factos como


provados:

A) Maria nasceu em 24 de Abril de 1960, tendo sido


declarada interdita por sentença de 17/06/2015, tendo sido
nomeado seu tutor R. G. – certidão de fls. 282 e 283;
B) A ré MM, Lda. tem por atividade o exercício da
hotelaria e é dona do hotel denominado “SM”, hotel de três
estrelas com restaurante que se situa na Avenida …,
Esposende;
C) No dia 1 de Agosto de 1988, a autora foi admitida pela
ré MM, Lda. para exercer no aludido hotel as funções
correspondentes à categoria profissional de chefe de
receção sob as suas ordens, direção e fiscalização;
D) Em Fevereiro de 2012, a ré MM, Lda. pagava à autora
a remuneração mensal ilíquida de 882,30€, acrescida de
18,90€ mensais de diuturnidades, de 112,23€ mensais de
subsídio de alimentação e de 160,34€ mensais de média
de outras remunerações;
E) À data de 19/03/2012, a ré MM, Lda. tinha transferido a
sua responsabilidade infortunística laboral relativamente à
autora para a ré Y Seguros, S.A. pela retribuição anual de
15.775,41€ - 901,20€ X 14 meses + 112,23€ X 11 meses
+ 160,34€ X 12 meses;
F) No dia 19 de Março de 2012, no interior das instalações
do hotel “SM”, a autora embateu com a cabeça;
G) A autora sofreu, como consequência direta e
necessária desse embate, hematoma frontal na cabeça;
H) Nesse mesmo dia, cerca das 15:30, a autora foi
encontrada inconsciente nas escadas principais do
primeiro andar para o rés-do-chão, sem movimentos
involuntários e sem incontinência dos esfíncteres, tendo
sido socorrida por médicos do Instituto Nacional de
Emergência Médica;
I) A autora apresentava as seguintes lesões:
- hemorragia do para-hipocampo esquerdo com rotura do
sistema ventricular, onde foram identificados coágulos de
moldagem em ambos os ventrículos laterais;
- sangue nos III e IV ventrículos;
- hidrocefalia obstrutiva tetra ventricular;
- apagamento dos sulcos da convexidade e das cisternas
da base;
- ectopia das amígdalas cerebelosas de predomínio à
direita;
- hematoma do uncus à esquerda;
J) A autora, no mesmo dia, foi tratada no Hospital de
Braga, onde foi traqueostomizada, e posteriormente
no Hospital S. João do Porto;
K) As lesões referidas em I) determinaram para a autora
trezentos e sessenta e cinco (365) dias de incapacidade
temporária absoluta para o trabalho (ITA), contados desde
20 de Março de 2012 até 19 de Março de 2013;
L) As lesões referidas em I) consolidaram-se clinicamente
em 19 de Março de 2013 e a autora apresenta as
seguintes sequelas permanentes:
- incapacidade da autora para deambular e para se manter
nas posições de sentada ou de pé;
- impossibilidade de a autora se deslocar para qualquer
lado, sem ajuda de terceiros;
- impossibilidade de preensão por postura das mãos em
garra cerrada, necessitando de ajuda de terceira pessoa
para apoias na preensão ou para abrir as mãos;
- impossibilidade de a autora comunicar, quer oral, escrita
ou gestualmente;
- incontinência de esfíncteres (usa fraldas);
- impossibilidade permanente de vida sexual ou de
procriação;
- estado comatoso na cognição e na afetividade;
- coma vigil;
- tetraparesia espástica;
- Bartell – 0;
- ventilação por traqueostomia;
- alimentação por gastrostomia percutânea endoscópica;
- total dependência da autora para a realização de
quaisquer atividades inerentes à vida humana,
nomeadamente nas áreas de mobilidade e autocuidados;
M) Tais sequelas determinaram para a autora
incapacidade permanente absoluta (IPA) para todo e
qualquer trabalho a partir do dia 20 de Março de 2013;
N) Para a recuperação do seu estado de saúde e da sua
qualidade de vida, a autora tem necessidade de:
- almofadas para prevenção de escaras;
- almofada de apoio ao posicionamento;
- cadeira de duche com basculação;
- cadeira de rodas manual com sistema de posicionamento
integrado;
- cama articulada elétrica;
- colchão para prevenção de escaras;
- elevador de transferência;
- intercomunicador visual sem fios;
- material para a incontinência;
- poltrona;
- sistema de vigilância com alarme de desencadeamento
automático através de monitorização das funções vitais,
respiratória e cardíaca;
O) A autora só pode ser movimentada através de uma
cadeira de rodas;
P) Para que a autora possa ser movimentada através de
uma cadeira de rodas dentro da habitação onde reside,
torna-se necessário proceder ao alargamento de todas as
portas interiores e ainda à colocação de uma base de
duche na casa de banho, a fim de poder tomar banho,
obras estas que, apesar de serem necessárias, ainda não
foram realizadas por falta de capacidade económica da
autora e que custarão alguns milhares de euros;
Q) A autora, quando não se encontra internada em
instituição hospitalar, tem necessidade da assistência
permanente e total de uma terceira pessoa para vigiar e
zelar pela saúde, alimentação, cuidados medicamentosos,
higiene e de movimentação, cuidados estes que lhe têm
sido prestados pelo seu irmão e tutor R. G.;
R) Devido às lesões supra descritas a autora tem
necessidade de tratamentos continuados de medicina, de
farmácia e de enfermagem para a recuperação do seu
estado de saúde, bem como, devido ao seu débil estado
de saúde, a tratamento hospitalar;
S) A autora esteve acamada na sua habitação e aos
cuidados do seu irmão R. G. durante os períodos de
04/10/2012 até 24/04/2013 e após 30/05/2013, em virtude
de ter tido alta hospitalar em 04 de Outubro de 2012;
T) Durante tais períodos nada foi pago à autora a título de
prestação suplementar para terceira pessoa;
U) Em 1983, após internamento da autora no Hospital São
João devido a crises convulsivas, foi-lhe diagnosticado
aneurisma cerebeloso inoperável;
V) O aneurisma em causa, designado como sacular ou
congénito, consiste numa dilatação que pode ocorrer na
parede das artérias cerebrais, originando pequenas
bolsas;
W) A partir dos 50 anos de idade, aliado a outros factores,
os riscos de manifestação de um aneurisma através de
uma rotura seguida de hemorragia, agravam-se bastante;
X) A hemorragia do para-hipocampo esquerdo com
rompimento do sistema ventricular foi uma consequência
do aneurisma, tendo sido esse facto que originou que a
autora fosse encontrada inconsciente nas escadas do
hotel, no dia 19 de Março de 2012;
Y) A autora quando foi encontrada inanimada nas escadas
do hotel, estava sentada;
Z) Um dos sintomas do aneurisma sacular congénito é o
doente padecer de cefaleias frequentes;
AA) A autora sofria recorrentemente de cefaleias;
BB) No momento em que ocorreu o sinistro, a autora já
tinha terminado o seu trabalho, tendo-se dirigido ao quarto
onde pernoitava nos dias de trabalho para recolher os
seus pertences, uma vez que se preparava para gozar um
período de férias.

IV - APRECIAÇÃO DO RECURSO

Da impugnação da matéria de facto

A Recorrente pretende a alteração da decisão da matéria


de facto, com reapreciação da prova, designadamente dos
depoimentos testemunhais gravados.
Por força do art. 87.º, n.º 1 do Código de Processo do
Trabalho, importa atentar no disposto no art.º 662.º do
Código de Processo Civil, que, sob a epígrafe
«Modificabilidade da decisão de facto», estabelece no seu
n.º 1 que a Relação deve alterar a decisão proferida sobre
a matéria de facto, se os factos tidos como assentes, a
prova produzida ou um documento superveniente
impuserem decisão diversa.

Por seu turno, o art.º 640º do C.P.C. que tem como


epígrafe o “Ónus a cargo do recorrente que impugne a
decisão relativa à matéria de facto”, dispõe que:

“1 - Quando seja impugnada a decisão sobre a matéria de


facto, deve o recorrente obrigatoriamente especificar, sob
pena de rejeição:
a) Os concretos pontos de facto que considera
incorrectamente julgados;
b) Os concretos meios probatórios, constantes do
processo ou de registo ou gravação nele realizada, que
impunham decisão sobre os pontos da matéria de facto
impugnados diversa da recorrida;
c) A decisão que, no seu entender, deve ser proferida
sobre as questões de facto impugnadas.”

Do citado preceito resulta que quando se impugne a


decisão proferida quanto à matéria de facto, deve o
recorrente obrigatoriamente especificar, sob pena de
rejeição, os concretos pontos de facto que considera
incorrectamente julgados, os concretos meios probatórios
que impunham decisão diversa, bem como, a decisão que,
no seu entender, deve ser proferida sobre as questões de
facto impugnadas.

Importa ainda referir que no nosso ordenamento jurídico


vigora o princípio da liberdade do julgador ou da prova
livre, consagrado no artigo no n.º 5 do artigo 607.º do
CPC, segundo o qual o tribunal aprecia livremente as
provas e fixa a matéria de facto em conformidade com a
convicção que tenha formado acerca de cada um dos
factos controvertidos, salvo se a lei exigir para a prova de
determinado facto formalidade especial toda a apreciação
da prova pelo tribunal da 1ª instância.

No que respeita à prova testemunhal mostra-se


consagrado no artigo 396.º do CC, o princípio da livre
apreciação da prova testemunhal, segundo o qual a prova
é apreciada segundo as regras da experiência e livre
convicção do julgador ao dispor o citado preceito legal que
a força probatória dos depoimentos das testemunhas é
apreciada livremente pelo tribunal.

Relacionado com este princípio estão os princípios da


oralidade e da imediação. O primeiro exige que a
produção de prova e a discussão na audiência de
julgamento se realizem oralmente, para que as provas,
excepto aquelas cuja natureza o não permite, sejam
apreendidas pelo julgador por forma auditiva. O segundo
diz respeito à proximidade que o julgador tem com o
participante ou intervenientes no processo, ao contacto
com todos os elementos de prova através de uma
percepção directa ou formal. Esta percepção imediata
oferece maiores possibilidades de certeza e da exacta
compreensão dos elementos levados ao conhecimento do
tribunal.
Segundo o Prof. Manuel de Andrade, in Noções
Elementares de Processo Civil, Coimbra Editora, pág. 386
estes princípios possibilitam o indispensável contacto
pessoal entre o juiz e as diversas fontes de prova. Só eles
permitem fazer uma avaliação, o mais correctamente
possível, da credibilidade dos depoimentos prestados
pelas testemunhas.

Todavia importa ter presente para além do princípio da


liberdade do julgador na apreciação da prova, que toda a
apreciação da prova pelo tribunal da 1ª instância tem a
seu favor o princípio da imediação, que não pode ser
esquecido no convencimento da veracidade ou
probabilidade dos factos.

Na verdade, quer relativamente as factos provados, quer


quanto aos não provados o Juiz a quo deve analisar
criticamente as provas e especificar os fundamentos que
foram decisivos para a sua convicção, daí que se a sua
decisão estiver devidamente fundamentada e for acolhida
uma das soluções plausíveis, segundo as regras da
experiência, ela será inatacável, porque proferida em
obediência à lei que impõe o julgamento segundo o
princípio da livre convicção.

Assim, o controle do Tribunal da Relação sobre a


convicção alcançada pelo juiz da 1ª instância deve
restringir-se ao caso de flagrante desconformidade entre
os elementos de prova e a decisão, sendo certo que a
prova testemunhal é manifestamente, mais falível do que
qualquer outra e na avaliação da respectiva credibilidade
temos de reconhecer que o tribunal da 1ª instância está
em melhor posição

Em suma, sobre a reapreciação da prova impõe-se toda a


cautela para não desvirtuar os mencionados princípios,
sem esquecer que não está em causa proceder-se a novo
julgamento, mas apenas examinar a decisão da primeira
instância e respectivos fundamentos, analisar as provas
gravadas e procedendo ao confronto do resultado desta
análise com aquela decisão e fundamentos, a fim de
averiguar se o veredicto alcançado pelo tribunal recorrido
quanto aos concretos pontos impugnados assentou num
erro de apreciação.

No caso em apreço, a Recorrente indicou os concretos


pontos de facto que devem ser alterados, indicou a
decisão que deve ser proferida sobre a questão de facto
impugnada e relativamente à exigência prevista na al. b)
do n.º 1 do artigo 640º do CPC., de especificar os
concretos meios probatórios constantes do processo ou de
registo ou gravação nele realizada, que impunham decisão
diferente, indicou, sinalizou e transcreveu os depoimentos
das testemunhas que no seu entender impõe a alteração
da decisão.

A Apelante/Recorrente considerou que foram


incorrectamente julgados os factos dados como provados
constantes das alíneas W), X) e Z), que correspondem à
resposta positiva dada aos artigos 18.º, 19.º e 21.º da
base instrutória, que considera que deveriam ter sido
dados como não provados, fundando a sua discordância
apenas nos depoimentos das testemunhas Dr. A. C. e Dr.
P. S., ambos neurocirurgiões, o primeiro foi quem
acompanhou a Autora em 2001 e o segundo acompanhou
Autora após o evento, aquando dos seus internamentos
no Hospital de S. João no Porto.

Vejamos se lhe assiste razão.


O Mmº Juiz a quo motivou a sua decisão sobre a matéria
de facto no que aqui nos interesse da seguinte forma:

“O tribunal baseou a resposta à matéria de facto acima


proferida na conjugação de toda a prova produzida, quer a
documental e pericial junta aos autos, quer a testemunhal,
por declarações de parte e por esclarecimentos periciais
produzida em audiência.

(…)
A grande questão em discussão entre as partes nos autos
prendia-se com o nexo de causalidade entre a alegada
queda da autora nas escadas e as lesões e sequelas que
esta apresentava no momento em que foi encontrada. A
resposta a esta questão fica desde logo prejudicada pelo
facto de, conforme acaba de expor-se, não ter a autora
demonstrado ter sido vítima de qualquer queda nas
escadas, tendo sido apenas possível concluir que terá
sofrido um embate com a cabeça que lhe provocou um
hematoma frontal, e ainda assim sem que se saiba em
que local do hotel e em que circunstâncias. A ausência de
demonstração de um evento com a gravidade de uma
queda pelas escadas como o que era alegado
necessariamente torna muito débil a pretensão da autora
de relacionar as gravíssimas lesões e sequelas que
apresenta com algo que pudesse ter ocorrido no local de
trabalho. Ainda que assim não fosse, porém, a conjugação
de toda a prova produzida aponta claramente para que
ainda que pudesse ter ocorrido a queda alegada pela
autora, ela não teria sido a causa da extensa hemorragia
cerebral e das lesões e sequelas que vieram a verificar-
se.
Está documentado nos autos que a autora padecia de
aneurismas cerebrais desde pelo menos 1983. Tal
decorre com clareza do documento hospitalar junto a fls.
21 do apenso de fixação de incapacidade, sendo que
desse mesmo documento resulta que em 2001 a autora
novamente recorreu a assistência médica que lhe
diagnosticou novamente o mesmo problema. O
depoimento de A. C. (neurocirurgião que acompanhou a
autora em 2001) foi neste aspecto muito pouco
esclarecedor por nada recordar em concreto da situação
(tendo afirmado apenas genericamente que se tivesse
diagnosticado algo significativo teria feito outro tipo de
acompanhamento), não se podendo socorrer de quaisquer
registos por os ter perdido numa inundação ocorrida há
vários anos no consultório. Que tais aneurismas existiam
e que a autora deles tinha conhecimento ficou claro das
declarações de parte do irmão (tutor) da autora, que de
forma contraditória começou por afirmar que teria sido dito
à autora pelos médicos que não teria aneurismas, mas ao
mesmo tempo disse que a autora nunca teria querido
engravidar por ter medo das consequências dos
aneurismas (facto também afirmado pelo director do hotel,
por lhe ter sido dito pela autora). Foi notório o desconforto
do declarante quando confrontado pelo tribunal com esta
contradição e ficou claro que à autora tinham sido
diagnosticados os aneurismas e disso tinha total
conhecimento. Aliás, também resulta dos autos que a
autora efectivamente sofria de cefaleias (muito embora
sem prova quanto a apenas regredirem com
medicamentos), tendo isso sido afirmado pelo director do
hotel e resultar dos registos médicos de fls. 19 do apenso,
sendo que os peritos médicos que formaram a junta
responderam ao quesito em questão dizendo que os
aneurismas “podem cursar com clínica de cefaleia” (fls. 40
do apenso).

A permanência de tais aneurismas foi detectada logo após


ter sido a autora encontrada no evento que está na base
destes autos. Na TAC realizada no Hospital de São João
em 09/05/2012 dava-se já conta de “imagem sugestiva da
presença de aneurisma sacular” (fls. 181v.), suspeita essa
confirmada na angiografia realizada nesse mesmo
hospital em 23/05/2012 (fls. 184). Não obstante não ser
possível afirmar que o aneurisma se tenha desenvolvido e
agravado ao longo da vida (quer por falta de dados de
acompanhamento do aneurisma ao longo destes anos,
quer porque o acima referido A. C. e P. S. –
neurocirurgião que acompanhou a autora no Hospital de
São João aquando da transferência – afirmaram que nem
todos os aneurismas são evolutivos), o certo é que
decorre da resposta dada em sede de junta médica ao
quesito 18.º e dos depoimentos destes médicos que a
idade, juntamente com outros factores (daí a resposta
restritiva e explicativa dada pelo tribunal ao quesito em
causa), aumenta o risco de rotura. Ora, conforme referiu a
Dra. J. B. (neurocirurgiã que operou a autora na urgência
do Hospital de Braga, quando ali deu entrada logo após
ter sido encontrada), apesar de a angiografia não
demonstrar se o aneurisma sangrou ou não (até porque,
nas palavras da testemunha, o aneurisma quando rompe,
volta a fechar, não sendo por isso visível a hemorragia
nesse tipo de exame), a conjugação do resultado da TAC
– demonstrando o local da hemorragia – com o resultado
da angiografia – que demonstra a existência do aneurisma
naquela localização – leva a concluir com grande grau de
certeza que a extensa hemorragia cerebral que a autora
apresentava resultou de uma rotura de um aneurisma, não
relacionável com qualquer traumatismo resultante de uma
queda. Esta conclusão da médica que assistiu a autora no
episódio de urgência foi de modo a todos os títulos seguro
e inequívoco confirmada pelos peritos médicos que
formaram a junta médica realizada no apenso, tendo sido
peremptórios (nomeadamente o Dr. O. G.) a afirmar que
uma “fonte hemorrágica brutal” como a que a autora
apresentava tinha como “causa óbvia um rompimento de
aneurisma” e que nunca na experiência clínica de vários
anos viram uma queda ou traumatismo provocar um
rompimento de aneurisma. Note-se que mesmo o Dr. A.
C. admitiu que “um traumatismo não está descrito como
causador da rotura de aneurismas”, afirmação também
corroborada por Miguel e Filipe (neurocirurgião que
assistiu a Dra. J. B. na cirurgia realizada à autora na data
em que foi encontrada), que disse que um traumatismo
“não está descrito na literatura como factor precipitante”
da rotura de aneurismas.

O resumo do que vem de ser dito leva a que se tenha de


chegar a duas conclusões: está excluído que o embate
com a cabeça que se provou que a autora terá sofrido
tenha sido a causa das lesões que apresentava; está
demonstrado que tais lesões foram provocadas por uma
rotura de aneurisma, que nada teve a ver com qualquer
queda ou traumatismo que possa ter a autora sofrido no
dia e local aqui em apreço. Na conjugação de toda a
prova produzida, pois, deu o tribunal como provado que
efectivamente a autora apresentava as lesões descritas,
que consolidaram na data referida na junta médica e são
causa das sequelas de que a autora hoje padece e que
lhe determinam uma incapacidade permanente absoluta,
mas não que essas lesões e sequelas sejam
consequência direta e necessária de uma qualquer queda
sofrida (que não se provou) ou do embate com a cabeça
(que se provou ter a autora sofrido).”

A Recorrente pretende, que sejam dados como não


provadas as alíneas W), X) e Z) dos pontos de facto
provados as quais têm a seguinte redacção:

W) A partir dos 50 anos de idade, aliado a outros factores,


os riscos de manifestação de um aneurisma através de
uma rotura seguida de hemorragia, agravam-se bastante;
X) A hemorragia do para-hipocampo esquerdo com
rompimento do sistema ventricular foi uma consequência
do aneurisma, tendo sido esse facto que originou que a
autora fosse encontrada inconsciente nas escadas do
hotel, no dia 19 de Março de 2012;
Z) Um dos sintomas do aneurisma sacular congénito é o
doente padecer de cefaleias frequentes”

Procedemos à análise de toda a documentação clinica


junta aos autos, da prova pericial e à audição da gravação
do depoimento das testemunhas Dr.º A. C. e Dr.º P. S.,
bem como de todas as demais testemunhas inquiridas na
audiência de julgamento, declarações de parte prestadas
pelo tutor da autora e esclarecimentos prestados pelos
peritos médicos que procederam à realização do exame
por junta médica e desde logo não vislumbramos que
tenha sido cometido pelo tribunal a quo qualquer erro de
apreciação da prova que imponha alteração da decisão da
matéria de facto, uma vez que não foi cometido qualquer
erro grosseiro na apreciação da prova pelo tribunal a quo,
ao invés os factos foram apurados de harmonia com
análise crítica, clara e exaustiva de toda a prova efectuada
pelo Tribunal de 1ª instância.

Na verdade, o facto de um único médico não ter associado


a idade aos factores de risco de rotura de um aneurisma,
não é por si só suficiente para dar como não provado a
alínea W) dos factos provados, pois se é certo que a idade
só por si poderá não constituir um risco de rotura de um
aneurisma, também é certo que tal como resultou
sobejamente provado, designadamente nos
esclarecimentos prestados pelos Srs. Peritos Médicos que
procederam à realização da junta médica, a partir dos 50
anos de idade, conjugados com outros factores, tais como
o tabaco e a hipertensão, os riscos de manifestação de um
aneurisma através de uma rotura seguida de hemorragia,
agravam-se. Da prova produzida resulta inequívoco que o
factor idade só por si nada acresce ao risco de rotura de
aneurisma, mas conjugado com os outros factores de risco
é um factor que não deve ser desprezado, tal resultando
concisamente explicado na motivação da matéria de facto.

Por outro lado, no que respeita ao facto de se ter dado


como provado que um dos sintomas do aneurisma sacular
congénito é o doente padecer de cefaleias frequentes,
quando foi afirmado pelo Dr.º A. C., que “não existe uma
relação de causa efeito entre as dores de cabeça e a
presença de aneurisma” e pelo Dr. P. S. que “diria que na
maioria das vezes que me confrontei com isso eu tive
dificuldades em dizer com certeza que a dor de cabeça
fosse de atribuir ao aneurisma”, afigura-se-nos dizer que
tais afirmações não põem em causa o facto de
coincidentemente os portadores de aneurisma padecerem
de cefaleias, pois o facto de não existirem certezas de que
as dores de cabeça são de atribuir ao aneurisma, tal não
excluí o facto dos portadores de aneurismas se queixarem
frequentemente de dores de cabeça, tal como resulta do
depoimento dos diversos médicos que depuseram em
audiência de julgamento incluindo os mencionados.

Em resumo, não se vislumbra que o tribunal a quo tenha


cometido qualquer erro, que importe correcção ao dar
como provado os factos que constam das alíneas W) e Z),
razão pela qual deixamos consignado que os factos que
constam das mesmas de devem manter inalterados.

Por fim, no que respeita ao facto da hemorragia do para-


hipocampo esquerdo com rompimento do sistema
ventricular ter sido uma consequência do aneurisma,
tendo sido esse o facto pelo qual a autora foi encontrada
inconsciente nas escadas do hotel, resulta suficientemente
provado, quer da análise da situação, realizada pela junta
médica, que teve acesso a toda a documentação clínica
que foi possível reunir, quer dos esclarecimentos
prestados pelos Srs. Peritos Médicos em audiência de
julgamento, quer ainda dos depoimentos prestados a este
propósito pela médica neurocirurgiã (Dr.ª J. B.) que operou
a autora após o evento, quer pelo médico que com ela
participou na intervenção cirúrgica.

Importa também realçar que quer o Dr. A. C., quer o Dr. P.


S., não acederam a toda a documentação clínica e deram
as suas opiniões sobre quadros hipotéticos em face dos
dados que lhe foram sendo transmitidos, pois não
assistiram a autora na altura do evento, mas também não
descartaram esta hipótese afirmando o primeiro que
apesar de não ser provável, pode suceder uma
hemorragia intraventricular pelos aneurismas.
Ora, os seus depoimentos de cariz hipotético não puseram
e forma alguma em causa a demais prova produzida a
este propósito, não sendo suficientes para abalar os
depoimentos dos Peritos Médicos e testemunhas/médicos
neurocirurgiões que depuseram em audiência e que de
alguma forma revelaram ter conhecimento directo destes
facto por terem sido os médicos que prestaram assistência
à Autora aquando do evento, tendo a Médica que a operou
Dr. J. B. admitido que a hemorragia de que a autora era
portadora poderia ter diversas causas, que não vulgo
“galo” de que a Autora era portadora (que não está
descrito na literatura como factor precipitante de rotura de
aneurisma), nelas se incluindo a rotura de um dos
aneurisma de que a autora era portadora.

Por último, cabe-nos dizer que tal como foi explicado no


decurso da audiência de julgamento dificilmente resultaria
dos exames imagiológicos realizados à autora que os
aneurismas tivessem rompido. Em segundo lugar o facto
de na opinião de dois dos neurocirurgiões que depuseram
em audiência considerarem que a localização da
hemorragia sofrida pela autora é pouco combatível com a
eventual rotura e localização dos aneurismas, sendo a
hemorragia invulgar, não significa que tal não possa ter
sucedido, sendo que outros neurocirurgiões que prestarem
depoimento manifestaram posição não coincidente
admitindo que tal possa ter sucedido. Em terceiro lugar e
salvo o devido respeito por opinião em contrário, o facto
de os aneurismas não terem voltado a sangrar, para além
de ser um facto desconhecido, também não é indicador da
sua não rotura, pois a sua rotura não é determinante nem
sinónimo de repetição de sangramento. Em quatro apesar
poder não existir relação causa efeito entre cefaleias e
aneurismas, o certo é que coincidentemente os portadores
de aneurisma frequentemente apresentam queixas de
cefaleias. Em quinto podemos afirmar que da globalidade
da prova produzida resulta a convicção de que o
hematoma frontal vulgo “galo” não seria idóneo a causar a
extensa hemorragia interna de que a autora era portadora
no dia 19/03/2012. Por fim, o facto de não haver noticia
clínica de que a autora padecesse de algum factor
desencadeante por si só da rotura do aneurisma, não
afasta a possibilidade, quer da sua existência, quer do
facto de a rotura ter existido.

Certezas absolutas e inabaláveis, neste tipo de situações


são inexistentes, no entanto o grau de probabilidade
conjugado com as regras da experiência permitem-nos
concluir com razoabilidade suficiente que os factos se
desencadearam da forma como foram dados como
provados e ainda que a autora fosse portadora de uma
hematoma frontal, este não seria a causa da extensa
hemorragia cerebral que apresentava e das lesões e
sequelas de que se veio a revelar portadora, tal resulta
inequívoco de toda a prova produzida, designadamente da
pericial resultante da realização de exame por junta
médica.

Verificamos assim que os meios de prova invocados pela


Recorrente/Apelante não são por si só bastantes para
impor decisão diversa sobre a factualidade em causa,
improcede assim a alteração da matéria de facto no que
respeita à alínea X) dos factos provados.
Em suma, o Mm.º Juiz fundamentou a sua convicção em
termos racionais e concretos indo ao encontro da prova
que efectivamente foi produzida, não se impondo assim
decisão diferente, uma vez que de acordo com as regras
da experiência comum a factualidade posta em crise não
só não se revela grosseiramente apreciada pelo tribunal a
quo, como na sua reapreciação, tendo presente o princípio
da livre apreciação da prova, consideramos ser de manter
a matéria de facto apurada, visto que não foi cometido
qualquer erro na sua apreciação.
Improcede assim a1ª conclusão do recurso.

Da qualificação do acidente como de trabalho

Tendo presente que a factualidade apurada pelo tribunal a


quo se mantêm inalterada importa agora averiguar se tal
factualidade nos permite que se conclua pela verificação
de um acidente qualificável como de trabalho.
Prescreve o Regime de Reparação de Acidentes de
Trabalho e de Doenças Profissionais, aprovado pela Lei
n.º 98/2009, de 4/09 (doravante NLAT), no que respeita ao
conceito de acidente de trabalho e situações de exclusão
e redução da responsabilidade:

Artigo 8.º “Conceito”

1 - É acidente de trabalho aquele que se verifique no local


e no tempo de trabalho e produza directa ou
indirectamente lesão corporal, perturbação funcional ou
doença de que resulte redução na capacidade de trabalho
ou de ganho ou a morte.
2 - Para efeitos do presente capítulo, entende-se por:
a) «Local de trabalho» todo o lugar em que o trabalhador
se encontra ou deva dirigir-se em virtude do seu trabalho
e em que esteja, directa ou indirectamente, sujeito ao
controlo do empregador;
b) «Tempo de trabalho além do período normal de
trabalho» o que precede o seu início, em actos de
preparação ou com ele relacionados, e o que se lhe
segue, em actos também com ele relacionados, e ainda
as interrupções normais ou forçosas de trabalho.

Artigo 9.º “Extensão do conceito”

1 - Considera-se também acidente de trabalho o ocorrido:


a) No trajecto de ida para o local de trabalho ou de
regresso deste, nos termos referidos no número seguinte;
b) Na execução de serviços espontaneamente prestados
e de que possa resultar proveito económico para o
empregador;
c) No local de trabalho e fora deste, quando no exercício
do direito de reunião ou de actividade de representante
dos trabalhadores, nos termos previstos no Código do
Trabalho;
d) No local de trabalho, quando em frequência de curso de
formação profissional ou, fora do local de trabalho, quando
exista autorização expressa do empregador para tal
frequência;
e) No local de pagamento da retribuição, enquanto o
trabalhador aí permanecer para tal efeito;
f) No local onde o trabalhador deva receber qualquer
forma de assistência ou tratamento em virtude de anterior
acidente e enquanto aí permanecer para esse efeito;
g) Em actividade de procura de emprego durante o crédito
de horas para tal concedido por lei aos trabalhadores com
processo de cessação do contrato de trabalho em curso;
h) Fora do local ou tempo de trabalho, quando verificado
na execução de serviços determinados pelo empregador
ou por ele consentidos.
(…)

Artigo 10.º “Prova da origem da lesão”

1 - A lesão constatada no local e no tempo de trabalho ou


nas circunstâncias previstas no artigo anterior presume-se
consequência de acidente de trabalho.
2 - Se a lesão não tiver manifestação imediatamente a
seguir ao acidente, compete ao sinistrado ou aos
beneficiários legais provar que foi consequência dele.

De acordo com o que ensina Maria do Rosário Palma


Ramalho, in Tratado de Direito do Trabalho, Parte II –
Situações Laborais Individuais, Almedina, 5.ª edição, pp.
872 e ss, a noção legal de acidente de trabalho permite
recortar a figura com recurso a um critério subjectivo, a um
critério geográfico, a um critério temporal e ainda ao dano
típico que resulta daquele, para além de se exigir um
adequado nexo de causalidade entre o evento acidentário
e o dano, nos termos gerais da responsabilidade civil.

Na verdade, nos termos do art.º 8.º da NLAT é acidente de


trabalho todo aquele que se verifique no local e no tempo
de trabalho e produza o dano típico, ou seja, a qualificação
não exige que o acidente ocorra na execução do contrato
de trabalho ou por causa dessa execução, bastando que
ocorra por ocasião da mesma, estando pressuposto
nessas circunstâncias que o trabalhador se encontra
directa ou indirectamente sujeito ao controlo do
empregador.

A não ser assim, aliás, não tinham razão de ser os


preceitos subsequentes a enunciar todas as situações de
exclusão ou redução da responsabilidade por acidente de
trabalho, designadamente os casos de descaracterização
do acidente por imputabilidade do mesmo ao sinistrado, os
de exclusão da reparação por ter o acidente resultado de
motivo de força maior e os que conferem direito de acção
do responsável contra o trabalhador ou terceiro que tenha
dado causa ao sinistro.

Neste sentido, diz Júlio Manuel Vieira Gomes in “O


acidente de trabalho – O acidente in itinere e a sua
descaracterização”, Coimbra Editora, 2013, pp. 97-
99.que “(…) o acidente de trabalho não se reduz, no
nosso ordenamento, ao acidente ocorrido na execução do
trabalho, nem havendo sequer que exigir uma relação
causal entre o acidente e essa mesma execução do
trabalho. Poderão ser acidentes de trabalho múltiplos
acidentes em que o trabalhador não está, em rigor, a
trabalhar, a executar a sua prestação, muito embora se
encontre no local de trabalho e até no tempo de trabalho,
pelo menos para este efeito da reparação dos acidentes
de trabalho. (…) Sendo suficiente que o acidente ocorra,
na terminologia italiana e anglo-saxónica, por ocasião do
trabalho, o acidente de trabalho pode consistir em um
acidente ocorrido quando se presta socorro a terceiros ou,
inclusive, numa situação em que o trabalhador é agredido
ou é vítima de uma “partida de mau gosto”, quer o autor
desse facto ilícito seja um colega, quer se trate de um
estranho à relação laboral.”

Esta opção acolhida pelo legislador não é inócua na


medida em que tem repercussão directa em matéria de
repartição do ónus de alegação e prova, reduzindo a
tarefa do sinistrado à alegação e prova dos elementos
constantes dos arts. 8.º ou 9.º (tendo ainda em conta o art.
10.º) e fazendo impender sobre o responsável a alegação
e prova dos requisitos determinantes da exclusão ou
redução da sua responsabilidade, com todas as vantagens
em matéria de tutela e protecção daquele.

Como vem sendo afirmado quer na doutrina, quer na


jurisprudência, para que se reconheça um acidente de
trabalho importa verificar (a) um elemento espacial, em
regra, o local de trabalho, (b) um elemento temporal, em
regra, correspondente ao tempo de trabalho e (c) um
elemento causal, ou seja, o nexo de causa e efeito entre,
por um lado, o evento e a lesão, perturbação funcional ou
doença e, por outro lado, entre estas situações e a
redução da capacidade de trabalho ou de ganho ou a
morte.

Daqui podemos desde já afirmar que o nexo causal entre


a prestação do trabalho e o acidente não constitui um
requisito do conceito de acidente, pois o único nexo de
causal previsto no citado preceito é o nexo entre o
acidente e a lesão corporal, perturbação funcional ou
doença esse sim tem de se verificar, para que se possa
qualificar o acidente como de trabalho.

Ora, a questão fulcral que importa apreciar é a de saber se


as lesões e sequelas de que a autora é portadora se
ficaram a dever a causa natural ou a acidente de trabalho,
importando por isso fazer algumas considerações sobre o
nexo de causalidade nos acidentes de trabalho.

Do teor do transcrito art.º 10.º da NLAT resulta a dispensa


ao sinistrado ou beneficiário da prova relativa ao nexo de
causalidade entre o acidente e a lesão, no entanto,
aqueles têm de demonstrar a ocorrência do evento em si.

Na verdade, a simples constatação de lesão, perturbação


funcional ou doença do trabalhador no local e tempo de
trabalho não faz presumir a existência de um acidente de
trabalho, não dispensando os interessados da sua prova
efetiva da ocorrência do “acidente”.

Acresce dizer que aquele nexo de causalidade exprime


apenas a relação de causalidade directa ou indirecta,
entre o acidente e as suas consequências, ou seja entre o
evento e a lesão perturbação funcional ou doença e não
propriamente, uma relação de causalidade entre o
trabalho e o acidente.

Como uniformemente tem sido defendido pelo Supremos


Tribunal de Justiça, designadamente no recente acórdão
de 1/06/017, proferido no Proc. n.º
919/11.3TTCBRA.C1.S1 (relator Ferreira Pinto) e
sustentado pela generalidade da doutrina, a presunção de
causalidade, estabelecida no citado artigo 10.º tem apenas
o alcance de libertar os sinistrados ou os seus
beneficiários da prova do nexo de causalidade entre o
acidente e o dano físico ou psíquico reconhecido na
sequência do evento infortunístico, não os libertando, do
ónus de provar a verificação do próprio evento causador
das lesões.

Como refere Pedro Romano Martinez, “Direito do


Trabalho”, 2ª Ed., Almedina, 2005, pp.816, nota 2ª. “não
se trata de uma presunção da existência do acidente, mas
antes uma presunção de que existe nexo causal entre o
acidente e a lesão ocorrida”.

Ora, não tendo o legislador definido o que deve entender-


se por acidente de trabalho, tendo apenas fornecido
alguns critérios tais como o lugar e tempo de trabalho e o
nexo de causalidade e sendo certo que que para além
destes pressupostos importa que ocorra um evento que
possa ser considerado como “acidente”, teremos de o
definir.

Quando falamos em evento relevante para a qualificação


de acidente de trabalho, falamos de um evento
naturalístico, ou uma causa exterior – estranha à
constituição orgânica da vítima -, súbito (que actua num
espaço de tempo breve) e que produza uma acção lesiva
do corpo humano (v. Carlos Alegre, Acidentes de trabalho
e Doenças Profissionais, 2ª ed., pags. 34 e segs.).
Trata-se assim de ocorrência anormal, em geral súbita,
pelo menos de curta duração ou limitada que acarreta uma
lesão à integridade ou à saúde do corpo humano

Com efeito, um esforço excessivo que origina uma lesão


no corpo é, em si mesmo, uma causa exterior, estranha à
constituição orgânica da vítima e súbita, já que actua num
espaço de tempo breve.
Constituirá acidente qualquer “facto”, ainda que não
violento, um acontecimento súbito exterior ao lesado,
lesivo do corpo deste. vd. Martinez, Pedro Romano,
“Direito do Trabalho”, 2ª Ed., Almedina, 2005, pp. 797 ss. e
continuando refere ainda o seguinte: “um dos
pressupostos básicos para a existência de
responsabilidade civil é o facto, que em termos de
responsabilidade delitual terá que ser um facto humano“.
Na responsabilidade sem culpa, o facto humano
poderá “ser substituído por uma situação jurídica objetiva
que esteve na origem dos danos. Na realidade, como o
facto gerador da responsabilidade não se baseia numa
atuação culposa e ilícita, basta que se identifique uma
situação geradora de dano. Na responsabilidade civil
emergente de acidente de trabalho, o facto gerador nem
sempre corresponderá a uma conduta humana; sendo a
responsabilidade objetiva, o que desencadeia o dano é o
acidente de trabalho.

Pode, assim, concluir-se que o facto gerador da


responsabilidade objetiva do empregador é o acidente de
trabalho”.

São assim complexas e enumeras as causas dos


acidentes de trabalho, tendo-se presente que trata-se
sempre de um acontecimento não intencionalmente
provocado, de caráter anormal, súbito e inesperado,
gerador de consequências danosas no corpo ou na saúde,
imputável ao trabalho, no exercício de uma actividade
profissional, ou por ocasião do trabalho, de que é vitima
um trabalhador.

Resumindo é acidente de trabalho o evento súbito,


imprevisto, que provoque lesão na saúde ou na
integridade física do trabalhador, que ocorra no tempo e
no local de trabalho, ou por ocasião do trabalho.

No caso em apreço insurge-se a recorrente relativamente


ao facto ter sido feita a prova da ocorrência de um
acidente de trabalho quando a autora se encontrava no
seu local de trabalho e se preparava para ir de férias, pelo
que não tendo as Rés ilidido a presunção prevista no n.º 1
do art. 10.º da NLAT terá de se concluir que as lesões
descritas na alínea I) dos factos provados resultaram
directamente do embate que a autora deu com a cabeça,
não havendo dúvida de que a autora foi vítima de uma
acidente de trabalho.

Salvo o devido respeito por opinião em contrário não


podemos dar razão à Recorrente.

Com efeito, no caso em apreço, tal como assertivamente


se escreve na sentença recorrida “…face aos factos
provados e não provados e à respetiva fundamentação
que acima consta, dúvidas não restam quanto a terem as
rés logrado provar a inexistência de nexo entre qualquer
queda sofrida e as lesões e sequelas sofridas pela autora.
Provou-se que as lesões que a autora apresentava e as
sequelas delas decorrentes não tiveram origem em
qualquer queda ou embate com a cabeça, mas antes
numa doença natural (rotura de aneurisma) que afetou a
autora, doença essa que foi a causa determinante da
extensa hemorragia cerebral sofrida, não existindo relação
entre essa rotura de aneurisma e um qualquer
traumatismo. A prova deste facto quebra a relação causal
entre qualquer evento e as lesões e sequelas, pelo que
não pode ser feita uma conexão entre aquele evento (que,
como se disse, não demonstrou a autora ter ocorrido) e o
desfecho verificado.

Ficou claro da prova produzida em audiência que a


sinistrada apresentava um quadro de aneurismas e que as
lesões sofridas foram causadas pela sua rotura, não
podendo por esse motivo concluir-se de forma alguma que
tenha sido o trabalho ou qualquer evento ocorrido na data
alegada o causador das mesmas, não tendo a autora
provado qualquer facto que permitisse concluir pela
existência desse nexo causal.

Assim, ainda que se considerasse ter o evento ocorrido no


tempo e local de trabalho, mostrar-se-ia ilidida a
presunção consagrada no art.º 10.º, n.º 1 da Lei n.º
98/2009, de 04 de Setembro, não podendo sequer
qualificar-se o evento ocorrido como acidente de trabalho.”

Na verdade, ao contrário do defendido pela recorrente,


não temos dúvidas em afirmar que a matéria de facto
provada apenas nos permite concluir que a Autora não
logrou provar, como lhe competia, a ocorrência de
qualquer evento verificado por ocasião do trabalho ou com
ele relacionado causador das lesões e sequelas de que
ficou portadora. Ou seja a autora não logrou provar que as
lesões sofridas ocorreram por intervenção exterior (evento
súbito exterior ao lesado).
Mas vejamos a factualidade provada:
Provou-se o seguinte:

- No dia 19 de Março de 2012, no interior das


instalações do hotel “SM”, a autora embateu com a
cabeça;
- A autora sofreu, como consequência direta e
necessária desse embate, hematoma frontal na
cabeça;
- Nesse mesmo dia, cerca das 15:30, a autora foi
encontrada inconsciente nas escadas principais do
primeiro andar para o rés-do-chão, sem movimentos
involuntários e sem incontinência dos esfíncteres,
tendo sido socorrida por médicos do Instituto
Nacional de Emergência Médica;
- A autora apresentava as seguintes lesões:
- hemorragia do para-hipocampo esquerdo com rotura
do sistema ventricular, onde foram identificados
coágulos de moldagem em ambos os ventrículos
laterais;
- sangue nos III e IV ventrículos;
- hidrocefalia obstrutiva tetra ventricular;
- apagamento dos sulcos da convexidade e das
cisternas da base;
- ectopia das amígdalas cerebelosas de predomínio à
direita;
- hematoma do uncus à esquerda;
- A autora, no mesmo dia, foi tratada no Hospital de
Braga, onde foi traqueostomizada, e posteriormente
no Hospital S. João do Porto;
- As lesões referidas em I) determinaram para a autora
trezentos e sessenta e cinco (365) dias de
incapacidade temporária absoluta para o trabalho
(ITA), contados desde 20 de Março de 2012 até 19 de
Março de 2013;
- As lesões referidas em I) consolidaram-se
clinicamente em 19 de Março de 2013 e a autora
apresenta as seguintes sequelas permanentes: (…)
- Tais sequelas determinaram para a autora
incapacidade permanente absoluta (IPA) para todo e
qualquer trabalho a partir do dia 20 de Março de 2013
- Em 1983, após internamento da autora no Hospital
São João devido a crises convulsivas, foi-lhe
diagnosticado aneurisma cerebeloso inoperável;
- O aneurisma em causa, designado como sacular ou
congénito, consiste numa dilatação que pode ocorrer
na parede das artérias cerebrais, originando pequenas
bolsas;
- A partir dos 50 anos de idade, aliado a outros
factores, os riscos de manifestação de um aneurisma
através de uma rotura seguida de hemorragia,
agravam-se bastante;
- A hemorragia do para-hipocampo esquerdo com
rompimento do sistema ventricular foi uma
consequência do aneurisma, tendo sido esse facto
que originou que a autora fosse encontrada
inconsciente nas escadas do hotel, no dia 19 de Março
de 2012;
- A autora quando foi encontrada inanimada nas
escadas do hotel, estava sentada;
- Um dos sintomas do aneurisma sacular congénito é
o doente padecer de cefaleias frequentes;
- A autora sofria recorrentemente de cefaleias;
- No momento em que ocorreu o sinistro, a autora já
tinha terminado o seu trabalho, tendo-se dirigido ao
quarto onde pernoitava nos dias de trabalho para
recolher os seus pertences, uma vez que se preparava
para gozar um período de férias.

Deste quadro factual resulta que a sinistrada no dia


19/03/2012 sofreu uma hemorragia do para-hipocampo
esquerdo com rompimento do sistema ventricular que foi
consequência do aneurisma de que era portadora, tendo
sido esse facto que originou que a autora fosse
encontrada inconsciente nas escadas do hotel, onde
trabalhava, sendo certo que já tinha terminado o seu
trabalho, pois dirigia-se ao quarto onde pernoitava nos
dias de trabalho. Ou seja foi a rotura do aneurisma que
terá estado na origem das lesões sofridas.

Importa também salientar o facto de não ter resultado da


matéria de facto provada qualquer evento súbito, violento,
inesperado e de ordem exterior à própria sinistrado que
tenha desencadeado ou tenha sido determinante no
desencadear dos lesões sofridas, por ocasião do trabalho
ou com ele relacionadas, já que o facto de se ter apurado
que nesse dia a autora embateu com a cabeça nas
instalações onde trabalhava e como consequência direta e
necessária desse embate, sofreu hematoma frontal na
cabeça, não nos permite sequer concluir que tal tenha
sucedido no tempo e por ocasião do trabalho, pois a
autora pernoitava no seu local de trabalho e não foi
possível apurar nem as circunstâncias nem a hora a que
terá ocorrido tal embate, nem tal facto permite estabelecer
qualquer nexo de causalidade entre tal hematoma e as
extensas lesões internas de que a autora era portadora.

Não estando demonstrado que o embate na cabeça tenha


provocado as lesões incapacitantes que a autora
apresentava no dia 19/03/2012, este evento, por si só,
nem sequer poderia ser qualificado juridicamente como
acidente de trabalho, pois para haver acidente de trabalho
indemnizável ou para se desencadear o dispositivo legal
de responsabilidade civil, torna-se em absoluto
necessário, que o evento ocorra por ocasião do trabalho
ou com ele relacionado e provoque lesão incapacitante,
nos termos do art. 8º, n.º 1 da NLAT.

Em suma, não resultaram sequer apurados quaisquer


factos que nos permitam concluir pela ocorrência de um
evento súbito, violento, inesperado, exterior à sinistrada,
que tenha desencadeado ou que tenha sido determinante
no desencadeamento da hemorragia interna, verificado no
tempo e por ocasião do trabalho, pelo que fica desde logo
afastada a presunção referente ao nexo de causalidade
entre as lesões/sequelas de que a sinistrada é portadora e
o evento.
Mas ainda que assim não entendêssemos no que respeita
à presunção e uma vez que esta presunção não é uma
presunção iuris et de iure, mas sim uma presunção iuris
tantum e, como tal, pode ser ilidida, mediante prova em
contrário (art. 350º, n.º 2 do Cód. Civil) o que in casu
sucedeu.

Na verdade, os factos provados apenas nos permitem


concluir que as lesões de que a autora era portadora no
dia 19/03/2012, resultaram de patologia de origem
endógena sem qualquer relação com o trabalho
desempenhado pela sinistrada, pois ficou provado a
hemorragia do para-hipocampo esquerdo com rompimento
do sistema ventricular foi uma consequência do aneurisma
de que a sinistrada era portadora, tendo sido esse facto
que originou que fosse encontrada inconsciente nas
escadas do hotel, no dia 19 de Março de 2012.

Tais lesões surgiram na sequência do desenvolvimento


lento e progressivo de uma determinada doença de origem
endógena.
Mais não resta do que concluir pela inexistência de
acidente de trabalho e pela absolvição das RR. dos
pedidos, improcedendo, assim, todas as conclusões da
apelação, devendo a sentença recorrida ser integralmente
mantida.

V - DECISÃO

Pelo exposto, e ao abrigo do disposto nos artigos 87º do


C.P.T. e 663º do C.P.C., acorda-se, neste Tribunal da
Relação de Guimarães em negar provimento ao recurso
de apelação interposto por MARIA, confirmando-se na
íntegra a decisão recorrida.
Custas a cargo da Recorrente, sem prejuízo da isenção de
que beneficia.
Guimarães, 5 de Abril de 2018

Vera Maria Sottomayor (relatora)


Antero Dinis Ramos Veiga
Alda Martins

Sumário – artigo 663º n.º 7 do C.P.C.

I – Sobre a reapreciação da prova impõe-se toda a cautela


para não desvirtuar os princípios da livre apreciação da
prova, da oralidade e da imediação, sem esquecer que
não está em causa proceder-se a novo julgamento, mas
apenas examinar a decisão da primeira instância e
respectivos fundamentos, analisar as provas gravadas,
para procedendo ao confronto do resultado desta análise
com aquela decisão e fundamentos, averiguar se o
veredicto alcançado pelo tribunal recorrido quanto aos
concretos pontos impugnados assentou num erro de
apreciação.
II - É acidente de trabalho o evento súbito e imprevisto,
que provoque lesão na saúde ou na integridade física do
trabalhador, que ocorra no tempo e no local de trabalho,
ou por ocasião do trabalho.
III – Não é de qualificar como acidente de trabalho o
evento que consistiu no facto da sinistrada ter sido
encontrada inconsciente nas escadas do seu local de
trabalho, após o término do trabalho, tendo sofrido um
acidente vascular cerebral, (vulgo AVC) mais
precisamente hemorragia do para-hipocampo esquerdo
com rompimento do sistema ventricular em consequência
de aneurisma, o que lhe determinou uma incapacidade
para todo e qualquer trabalho.

Vera Sottomayor

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