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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
COMARCA de Santa Fé do Sul
FORO DE SANTA FÉ DO SUL
VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL
Avenida Conselheiro Antonio Prado, 1662, ., Centro - CEP 15775-000, Fone:
(17) 2146-5317, Santa Fe do Sul-SP - E-mail: santafejeccrim@tjsp.jus.br
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às 17h00min

SENTENÇA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000245-20.2023.8.26.0541 e código CAAB5F1.
Processo nº: 1000245-20.2023.8.26.0541
Classe - Assunto Procedimento do Juizado Especial Cível - Telefonia
Requerente: César Henrique Camargo
Requerido: Telefonica Brasil S.A.

Juiz(a) de Direito: Dr(a). VINICIUS NOCETTI CAPARELLI

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por VINICIUS NOCETTI CAPARELLI, liberado nos autos em 06/03/2023 às 13:09 .
I- RELATÓRIO
Dispensado o relatório, nos termos do artigo 38 da Lei nº
9.099/95.
II- FUNDAMENTO E DECIDO
Do julgamento antecipado da lide
Julgo antecipadamente a lide, nos termos do artigo 355,
inciso I do Código de Processo Civil, pois são suficientes os documentos acostados aos
autos para o deslinde da questão.
Da impugnação à assistência judiciária gratuita
Deixo de apreciar
a impugnação à assistência judiciária gratuita apresentada em contestação, visto que a ré
não apresentou elementos que demonstrem que o autor possui condições de custear o
processo. A contestação veicula genérico questionamento sobre o cabimento do benefício,
nada trazendo para comprovar que o autor está apto a suportar as despesas do feito.
Da relação de consumo
De proêmio, registro que a relação entre as partes é de
consumo, amparada pela lei 8.078/90, que trata especificamente das questões em que
fornecedores e consumidores integram a relação jurídica, principalmente no que concerne
a matéria probatória.
Com efeito, dispõe o art. 2°, caput, da Lei n. 8.078/90:
"Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final." O art. 3° do mesmo Diploma, por seu turno, estabelece:

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"Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços."
Quanto à inversão do ônus da prova, deixo de aplicá-la nessa
fase processual, por se tratar de matéria de instrução, não de julgamento.
Consigno, no entanto, que não seria o caso de aplicação da

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inversão (ou distribuição diversa do ônus), uma vez que os documentos carreados aos
autos são suficientes para o deslinde da controvérsia, aplicando-se o disposto no art. 373, I
e II, do Código de Processo Civil.
Do mérito
(a) inexigibilidade do débito
Pretende a parte autora suspensão das cobranças dos serviços
“Goread”, “Babbel”, “Skelo Avançado” e “Hube Jornais”, bem como repetição de
indébito e danos morais.
No que tange ao ônus da prova, dispõe o Código de Processo
Civil:
Art. 373. O ônus da prova incumbe:
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato
impeditivo,modificativo ou extintivo do direito do autor.
No sentido técnico-jurídico, o ônus é o dever legal atribuído
à parte, por conta de uma postura processual, que, não cumprido, acarreta
consequências,independente da justificativa apresentada para tanto.
A respeito, leciona Humberto Theodoro Júnior, sobre
aprova, que deve ser “eficaz, há de apresentar-se como completa e convincente a respeito
do fato de que deriva o direito discutido no processo” (in “Curso de Direito de Processo
Civil”, 41ª edição, Ed. Forense, pág. 388).
Desse modo, a controvérsia diz respeito à legalidade da
cobrança dos serviços “Goread”, “Babbel”, “Skelo Avançado” e “Hube Jornais”.
A parte autora comprovou suficientemente o fato
constitutivo do seu direito, na medida em que comprovou que está sendo cobrada por

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valores que são identificados como “Goread”, “Babbel”, “Skelo Avançado” e “Hube
Jornais”.
Consigno que, em ocasiões anteriores, este Juízo entendeu
que o argumento da ré era válido, no sentido de que tais cobranças constituíam mero
desmembramento dos componentes da fatura, ou seja, que integravam o plano contratado.
Soma-se a isso o fato de que dificilmente existia indicação clara de qual o valor do plano
contratado e se contrastava com o valor atualmente cobrado.

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Contudo, diante da melhor elucidação dos fatos e
considerando a análise detida da documentação acostada, alinho-me ao entendimento
majoritário da 1ª Turma Recursal de Jales, para reconhecer a existência de cobrança
indevida.
Explico.
De acordo com as faturas juntadas pela parte autora, verifico
que o valor final cobrado mensalmente diverge do valor do plano contratado.
Tanto que a base de cálculo para incidência de ICMS, PIS e
COFINS é diferente do valor final da fatura, justamente porque não incidem sobre os
serviços não contratados.
Nessa toada, caberia à ré comprovar suas assertivas,
principalmente ao afirmar que a autora efetuou a contratação dos referidos serviços, o que
não ocorreu.
Malgrado o argumento de regularidade da contratação, a
parte requerida não apresentou nenhuma prova de que houve efetiva adesão por parte da
autora, dos serviços questionados, não se desincumbindo, portanto, desse ônus.
Não se trata de inversão do ônus da prova como regra de
julgamento, mas sim de reconhecimento da própria norma processual civil (art. 373, I e II,
CPC). Ao alegar, na inicial, que não realizou a contratação dos mencionados serviços, viu-
se a autora diante da impossibilidade de produzir prova negativa, haja vista que lhe seria
impossível provar que não fez determinada contratação.
Nesse contexto, depreende-se que a parte autora não
contratou qualquer tipo de serviço, tendo a ré promovido o irregular lançamento de
cobranças. Revestindo-se de veracidade e verossimilhança as alegações da parte autora de

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que não houve contratação, sendo os débitos inexigíveis, comportando ressarcimento.
É inconcebível que a requerida cobre valores acima do valor
do plano propriamente dito, e não saiba apontar, com precisão, como o serviço foi
autorizado e onde está comprovada a referida autorização. Além disso, conforme se
verifica pelos documentos de fls. 22-88, o valor do plano contratado é atualmente de R$
43,96, em que é acrescido valores correspondendo aos serviços “Goread”, “Babbel”,
“Skelo Avançado” e “Hube Jornais”.

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Portanto, são inexigíveis os valores cobrados sem a prova da
contratação.
(b) repetição de indébito
A restituição dos valores deverá ocorrer em dobro, na forma
do parágrafo único do art. 42 do CDC: "o consumidor cobrado em quantia indevida tem
direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso,
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável".
Este Juízo encampa a corrente já majoritária no Superior
Tribunal de Justiça, no sentido de que exigir o dolo ou má-fé, nas relações de consumo, é
interpretação que foge dos limites previstos em lei.
Assim, para que haja determinação de restituição em dobro,
a lei exige apenas que o consumidor seja cobrado em quantia indevida, "salvo engano
justificável".
Existe um verdadeiro abismo entre o engano injustificável e
a má-fé, e é justamente por isso que a mencionada previsão tornou-se, por muito tempo,
letra morta de lei.
Reacendidos os debates sobre o alcance da expressão, o
Superior Tribunal de Justiça definiu, por sua Corte Especial (julgamento em 21/10/2020 e
publicado em 30/03/2021), que o requisito do dolo ou má-fé é irrelevante, confira-se:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO CONSUMIDOR.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.
HERMENÊUTICA DAS NORMAS DE PROTEÇÃO DO
CONSUMIDOR. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. DEVOLUÇÃO EM
DOBRO. PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 42 DO CDC.
REQUISITO SUBJETIVO. DOLO/MÁ-FÉ OU CULPA.
IRRELEVÂNCIA. PREVALÊNCIA DO CRITÉRIO DA BOA-FÉ

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OBJETIVA. MODULAÇÃO DE EFEITOS PARCIALMENTE

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APLICADA. ART. 927, § 3º, DO CPC/2015.
[...]
Ao apresentar a tese a seguir exposta, esclarece-se que o
Relator para o acórdão reposiciona-se a respeito dos critérios do
parágrafo único do art. 42 do CDC, de modo a reconhecer que a
repetição de indébito deve ser dobrada quando ausente a boa-fé objetiva
do fornecedor na cobrança realizada. É adotada, pois, a posição que se
formou na Corte Especial, lastreada no princípio da boa-fé objetiva
e consequente descasamento de elemento volitivo, consoante Voto-

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Vista do Ministro Luis Felipe Salomão e manifestações apresentadas
pelos eminentes Pares, na esteira de intensos e ricos debates nas várias
sessões em que o tema foi analisado. Realça-se, quanto a esses últimos,
trecho do Voto do Ministro Og Fernandes: "A restituição em dobro de
indébito (parágrafo único do art. 42 do CDC) independe da
natureza do elemento volitivo do agente que cobrou o valor
indevido, revelando-se cabível quando a cobrança indevida
consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva" [...] (EAREsp
600.663/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
Rel. p/ Acórdão Ministro HERMAN BENJAMIN, CORTE ESPECIAL,
julgado em 21/10/2020, DJe 30/03/2021)
Portanto, não há necessidade de se fazer prova quanto ao
elemento volitivo da parte para que seja determinada a restituição em dobro, bastando que
a cobrança indevida contrarie a boa-fé objetiva, ou seja, desde que a fornecedora saiba o
que está fazendo, saiba que a cobrança não devida.
(c) danos morais

Sobre a responsabilidade civil, é o disposto na lei civil


substantiva:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu
fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Assim, antes propriamente de se estabelecer a existência ou
não de danos morais indenizáveis, é necessário estabelecer se
estão presentes os pressupostos necessários ao reconhecimento da responsabilidade civil.
Sobre o tema, discorre Anderson Schreiber:
O art. 927 inaugura o título destinado à disciplina
da responsabilidade civil, campo do Direito Civil que se ocupa do

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tratamento jurídico dos danos sofridos na vida social.

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O ato ilícito representa, historicamente, o conceito
fundamental da responsabilidade civil. O art. 186 do Código Civil
consagra a noção de ato ilícito, ao dispor que "aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito".
Extraem-se do art. 186 os elementos que compõem o ato ilícito: a) culpa,
b) nexo de causalidade e dano (Código Civil Comentado. Doutrina e
Jurisprudência. Rio de Janeiro. Forense: 2019; p. 615).
Conclui-se, portanto, das lições acima citadas e do histórico

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de reconhecimento jurisprudencial dos elementos e consequências do ato ilícito, que são
pressupostos da responsabilidade civil: a) ação ou omissão do agente; b) dolo ou culpa,
exceto no âmbito do Código de Defesa do Consumidor, em que a responsabilidade é
objetiva à luz do disposto no art. 14 da Lei n. 8.078/90; c) dano experimentado pela
vítima; d) nexo de causalidade entre ambos.
Demonstrados estes requisitos, surge a obrigação de
indenizar.
Na legislação consumerista, dispõe ainda o art. 14 do CDC
que "o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos".
Ao contrário das situações em que há negativação indevida,
gerando dano moral "in re ipsa", no presente caso não houve a mencionada inclusão nos
órgãos de proteção ao crédito.

O Tribunal de Justiça de São Paulo, em diversos julgados,


vem entendendo que a cobrança indevida sem a respectiva inscrição no SPC ou SERASA
não é apta, por si só, a gerar reparação por danos morais.

No entanto, no caso dos autos há peculiaridades que


transbordam os limites do mero aborrecimento.

A cobrança indevida não ocorreu uma única vez, foi


sucessiva e, repise-se, desproporcional.

A parte ré cobrou durante meses por valores referentes a

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serviços não contratados, demonstrando desrespeito aos direitos do consumidor de forma
acintosa, reiteada, promovendo venda casada, que é vedada pela legislação consumerista,
impingindo serviços ou produtos que não puderam ser livremente escolhidos pela parte
requerente.

Ademais, somente não houve negativação da autora porque


não lhe foi possível optar pelo não pagamento dos valores, que estão integrados na fatura.

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Negar o direito à reparação exclusivamente sob o argumento
de que a parte autora não foi negativada seria o mesmo que reconhecer que o bom
pagador, aquele que prefere pagar um valor não contratado a ter seu nome inscrito nos
cadastros de proteção ao crédito, não merece a mesma tutela jurídica daquele que
simplesmente não efetua o pagamento. Tratar-se-ia de verdadeira incoerência.

Além disso, a parte autora comprovou que tentou solucionar


administrativamente o problema, conforme protocolos mencionados na inicial, não
obtendo êxito em sua pretensão.

Sobre a teoria do desvio produtivo, lecionam Flávio Tartuce


e Daniel Amorim:
Assim, deve-se atentar para louvável ampliação dos casos
dedano moral, em que está presente um aborrecimento relevante,
notadamente pela perda do tempo. Essa ampliação de situações danosas,
inconcebíveis no passado, representa um caminhar para a reflexão da
responsabilidade civil sem dano. Como bem exposto por Vitor
Guglinski,“a ocorrência sucessiva e acintosa de mau atendimento ao
consumidor, gerando a perda de tempo útil, tem levado a
jurisprudência a dar seus primeiros passos para solucionar os
dissabores experimentados por milhares de consumidores, passando
a admitir a reparação civil pela perda do tempo livre”. Com grande
influência para a admissão dos danos que decorrem da perda do tempo,
cabe destacar o trabalho de Marcos Dessaune, sobreo desvio produtivo
do consumidor. A conclusão de vários trechos da obra é no sentido de
ser o tempo um bem jurídico merecedor de tutela. O autor fala em tempo
vital, existencial ou produtivo, como um dos objetos do direito
fundamental à vida, sustentado pelo valor fundamental da dignidade
humana, retirado do art. 1º, inc. III, da Constituição Federal, e do rol
aberto dos direitos da personalidade (Manual de direito do consumidor:
direito material e processual, volume único / Flávio Tartuce, Daniel
Amorim Assumpção Neves. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense; São

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Paulo: MÉTODO, 2020; p. 402)

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É dizer: a parte requerente não permaneceu inerte,
procurando sempre pela resolução definitiva do problema, gastando seu tempo que poderia
ser melhor empregado em outras atividades.
Esses fatos, somados, levam à conclusão de que o dano
extrapatrimonial realmente ocorreu, sendo viável a condenação da parte ré. Nesse sentido,
já decidiu o E. Colégio Recursal de Jales:

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RI. Consumidor. Vício no produto. Obrigação de fazer
consistente na entrega de eletrodoméstico sem mácula. Danos
morais configurados. Punitive damages. Teoria do desvio produtivo.
Recurso Improvido.(TJSP; Recurso Inominado Cível
1008350-15.2018.8.26.0297; Relator (a): Ricardo Palacin Pagliuso;
Órgão Julgador: 4ª Turma Cível e Criminal; Foro de Jales - Vara do
Juizado Especial Cível e Criminal; Data do Julgamento: 26/07/2019;
Data de Registro: 27/07/2019)
RECURSO INOMINADO. Defeito em aparelho celular.
Consumidor. Inversão do ônus da prova. Ausência de comprovação de
mau uso pelo consumidor. Laudo unilateral que não especifica as causas
do dano apresentado no aparelho celular. Produto no prazo da garantia
estendida contratada. Hipótese de responsabilidade por vício na
qualidade do produto (art. 18 do CDC). Devida a reparação por dano
material referente ao reembolso do valor do aparelho. Tentativa de
solução pela via administrativa. Consumidor que se viu privado da
utilização do aparelho celular por período razoável. Desvio produtivo.
Fatos que ultrapassam o mero inadimplemento contratual. Dano
moral configurado. Indenização arbitrada em valor excessivo,
considerando as circunstâncias do caso. Recurso parcialmente provido,
apenas para reduzir o valor da indenização por danos morais para R$
5.000,00. (TJSP; Recurso Inominado Cível
1007395-47.2019.8.26.0297; Relator (a): RAFAEL ALMEIDA
MOREIRA DE SOUZA; Órgão Julgador: 1ª Turma Cível e Criminal;
Foro de Jales - Vara do Juizado Especial Cível e Criminal; Data do
Julgamento: 20/02/2020; Data de Registro: 21/02/2020)
É viável, portanto, a condenação da parte ré à reparação por
danos morais.
Quanto ao valor a ser arbitrado, sabe-se que não há norma
legal que regulamente a fixação de reparação por danos morais, tendo o ordenamento
jurídico nacional adotado o critério aberto. Apesar disso, dentre outros critérios elencados
pela doutrina, a reparação dos danos morais deve lastrear-se nos seguintes fatores: a) a

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intensidade e duração da dor sofrida; b) a gravidade do fato causador do dano; c) a
condição pessoal do lesado; d) o grau de culpa do lesante; e) a situação econômica do
lesante.
Ora, a reparação por dano moral possui caráter
compensatório e punitivo/preventivo, devendo o valor ser apto a compensar o sofrimento
causado à vítima e, ao mesmo tempo, punir o lesante, impedindo que este reitere o
comportamento ilícito. A este respeito, ensina o jurista Carlos Alberto Bittar:

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[...]a indenização por danos morais deve traduzir-se em
montante que represente advertência ao lesante e à sociedade de que não
se aceita o comportamento assumido, ou evento lesivo advindo.
Consubstancia-se, portanto, em importância compatível com o vulto dos
interesses em conflito, refletindo-se, de modo expressivo, no patrimônio
do lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta da ordem jurídica
aos efeitos do resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser a quantia
economicamente significativa, em razão das potencialidades do
patrimônio do lesante." (Bittar, Carlos Alberto. Reparação civil por
danos morais. 3. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1993. p.233)
Em face disso, com esteio nos fatores acima arrolados,
considerando que a parte autora foi cobrada indevidamente, fixo a reparação em R$
5.000,00 (cinco mil reais).

III- DISPOSITIVO
Ante o exposto, com fulcro no art. 487, I, do Código de
Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos iniciais,
para:
a) DECLARAR a inexigibilidade das cobranças referentes a
“Goread”, “Babbel”, “Skelo Avançado” e “Hube Jornais”, e, consequentemente,
DETERMINAR a cessação de tais cobranças no prazo de até 15 (quinze) dias corridos, a
contar do trânsito em julgado, sob pena de multa de R$ 1.000,00 (um mil reais) por mês
de descumprimento, até o limite global de R$ 10.000,00 (dez mil reais);

b) CONDENAR a parte requerida a restituir em dobro os


valores descontados indevidamente da autora, devidamente atualizados de acordo com a
Tabela Prática do nosso E. Tribunal de Justiça, a partir da data dos descontos indevidos, e
acrescida de juros de mora, no percentual de 1% a.m. (um por cento ao mês), a contar da

1000245-20.2023.8.26.0541 - lauda 9
fls. 165
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
COMARCA de Santa Fé do Sul
FORO DE SANTA FÉ DO SUL
VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL
Avenida Conselheiro Antonio Prado, 1662, ., Centro - CEP 15775-000, Fone:
(17) 2146-5317, Santa Fe do Sul-SP - E-mail: santafejeccrim@tjsp.jus.br
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às 17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000245-20.2023.8.26.0541 e código CAAB5F1.
citação (26/01/2023 – fls. 96-97);

c) CONDENAR a parte requerida ao pagamento de R$


5.000,00 (cinco mil reais) a título de danos morais, corrigidos monetariamente pela Tabela
Prática do TJSP a partir do arbitramento (06/03/2023) e com juros de mora de 1% (um por
cento) ao mês, a contar da citação (26/01/2023 – fls. 96-97).

Ficam as partes cientes, desde logo, que a oposição de

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por VINICIUS NOCETTI CAPARELLI, liberado nos autos em 06/03/2023 às 13:09 .
embargos de declaração fora das hipóteses legais e/ou com manifestamente protelatórios
sujeitará a imposição da multa prevista pelo artigo 1.026, §2º, do Código de Processo
Civil.
Havendo recurso, a parte não beneficiária da justiça gratuita
deverá, nas 48 horas seguintes à interposição, efetuar o preparo, que compreenderá todas
as despesas processuais, inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição.
Nos termos do Comunicado CG Nº 489/2022, ressalvada a
hipótese de concessão de gratuidade da justiça, o preparo corresponderá: a) à taxa
judiciária de ingresso, no importe de 1% sobre o valor atualizado da causa, observado o
valor mínimo de 5 (cinco) UFESPs; b) à taxa judiciária referente às custas de preparo,
no importe de 4% sobre o valor da condenação referente à parte líquida,
devidamente atualizado, sendo arbitrado por equidade, conforme autoriza o
Comunicado CG Nº 489/2022; c) às despesas processuais referentes a todos os serviços
forenses eventualmente utilizados (despesas postais, diligências do Oficial de Justiça,
taxas para pesquisas de endereço nos sistemas conveniados, custas para publicação de
editais etc). O preparo será recolhido de acordo com os critérios acima estabelecidos
independente de cálculo elaborado pela serventia, que apenas será responsável pela
conferência dos valores e elaboração da certidão para juntada aos autos.
P.I.
Com o trânsito em julgado e inexistindo outras pendências,
arquive-se com as cautelas de praxe.
Santa Fe do Sul, 06 de março de 2023.
DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI
11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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