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Aparelho Gastrointestinal

Doenças diarréicas;
Gastroenterite: 1ª e 2ª Parte
Introdução
A diarreia é um dos sintomas mais comuns apresentados pelas crianças, na maioria dos
casos dura 3-5 dias e as crianças recuperam rapidamente. Contudo, nas
crianças mais novas a diarreias pode evoluir mais rapidamente e resultar em
desidratação grave.

Um dos mais importantes problemas de saúde publica, nos países em vias de


desenvolvimento.

Uma das principais causas de morbimortalidade em crianças menores de cinco anos.

Importante causa de Desnutrição, quando os episódios são prolongados.


Definição
Diarreia é uma condição clinica caracterizada pela perda anormal de água e
eletrólitos nas fezes, com consequente aumento do volume e frequência das
dejecções e diminuição da consistência das fezes, sendo necessário ocorrência de
três ou mais dejecções diárias amolecidas ou liquidas.

Diarreia aguda é quando dura menos de 14 dias.


Persistente: duração entre 14 dias e 3 semanas (21 dias);
Crónicas: diarreia com duração maior de 3 semanas
Definições
Disenteria: presença de sangue nas fezes, e muitas fezes tem presença de
muco.
Melena: são fezes escuras quase pretas, de consistência pastosa e com
cheiro fétido;
Hematémese: saída pela boca de sangue com origem no sistema
gastrointestinal, habitualmente do
esófago ou do estômago;
Hematoquesia: presença de sangue vermelho vivo misturado com as
fezes. A lesão é tipicamente no cólon.
Cont.
Obstipação: dificuldade para a evacuação das fezes ( mais de 3 dias).
Gastroenterite: é uma definição geral de infecção gastrointestinal que se
apresenta com diarreia aguada e/ou vómito e dor abdominal e podem ter
sintomas gerais.
Enteropatia: presença de inflamação ao nível do intestino com perda de
conteúdo intestinal por falta de absorção e/ou digestão. Na maioria dos
casos há perda de proteínas. Pode ser devida a infecções, patologias
imunomediatas, doença celíaca, deficiência de enzimas (congénita ou
secundaria a outras
patologias);
Cont.
Esofagite: inflamação do esófago que pode ser determinada pela
infecção, como consequência do refluxo gastroesofágico ou por causa
de algums medicamentos, tais como a Doxiciclina, que pode causar
lesões nas mucosas esofágicas induzidas pelo efeito cáustica do
medicamento.
Gastrite: inflamação do estômago que pode ser determinada pela
infecção (por exemplo o Helicobacter pilori), toxinas e por doenças
imunomediatas.
A gastrite em criança muitas vezes é referida como uma dor crónica
acompanhada de náuseas.
Classificação
Quanto ao tempo de evolução, etiologia e os mecanismos de produção
1. tempo de evolução
•Agudas ate 14 dias
•Prolongadas > 14 dias ( persistente 15-30 dias e crónica ˃ 30 dias)

2. etiologia
•Não infecciosas

•Infecciosas :
a)Parenterais
b)Enterais : virus, bacterias, parasitas e fungos

3. Mecanismo de produção
•Secretor ou enterotóxico
•Osmótico
•Entero-invasivo
Etiologia da Diarreia

1. Infecciosas: 1.1 Enterais

Bactérias Vírus Parasitas


E. Coli Rotavirus Giardia lamblia
Salmonella Adenovirus enterico Entamoeba
Shigella Astrovirus histolitica
Campilobacter jejuni Norovirus( Norwalk) Trichuris trichuria.
Yersinia enterocolitica Citomegalovirus e Cryptosporidim
Vibrium cholerae Herpes simples Isospoora beli
Clostridium perferinges
Stafilococus
Etiologia da diarreia

1. Infecciosas: 1.2 Parenterais 2. Não infecciosas

· IVRS ( Rinofaringites, Otites) · Erros dietéticos


· Bronquites, Pneumonias · Intolerâncias alimentares ( a
· Infecções urinarias dissacaridases, proteínas)
· Malária · Factores tóxicos (cogumelos,
laxantes)
· Infecções intra abdominais,
Apendicites, peritonites · Factores Psicogénicos
· Factores Endócrinos
· Medicamentos(antibióticos)
Mecanismos patogénico da diarreia

1. Mecanismo enterotoxico ou secretor

2. Mecanismo enteroinvasivo

3. Mecanismo Osmotico
Mecanismo patogénico da diarreia

Mecanismo enterotoxico ou secretor


Afecção do intestino delgado
(E.coli enterotoxica,V.cholerae,Clostridim, Campilobacter)

Aderência a Activação da Activação da Aumento da


mucosa intestinal adenil ciclase e bomba secreção
producao da eletrolitica intestinaL
AMPe GMP cíclico

· As fezes são liquidas, frequentes e abundantes, com


grandes perdas de agua e eletrolitos.
Mecanismo patogenico da diarreia

Mecanismo enteroinvasivo
Afecção do intestino grosso
(E.coli enteroinvasiva, Shigella,Salmonela, Campilobacter,
E.histolitica)

Aderência a Multiplicação Reacção


mucosa dentro do inflamatoria aguda,
intestinal enterocito destruição celular
com ulceração

· As fezes são em quantidade reduzida, frequentes, com


muco e sangue, acompanhado de cólicas abdominais e
tenesmo rectal, com pus, se infecção bacteriana e o
doente pode apresentar se com febre.
Mecanismo patogénico da diarreia

Mecanismo Osmotico
Afecção do Intestino Delgado
(E.coli enteropatogenica, Virus,Giardia,Criptosporidium )

Penetração e Destruição com Migração acelerada de


multiplicação no descamação enterocitos imaturos
interior da celula com função secretora,
para superfície das
vilosidades

· As fezes são aquosas com PH acido e hiperosmoticas,


explosivas(gases), substancias redutoras presentes,
distensão e cólicas, hiperemia perianal.
Manifestações clinicas
Aumento da frequência das dejecções ;
Presença de sangue ou muco nas fezes;
Sinais de desidratação, que pode ser de ligeira a grave;
• Agitação ou irritabilidade;
• Letargia ou diminuição do estado de consciência;
• Olhos encovados;
• Sinal de prega cutânea;
• Sede ou avidez pela água;
Sinais de desnutrição grave;
Distensão abdominal grave;
Sintomas geralmente associados vómitos e febre .
Diagnóstico
Anamnese
• Inicio do quadro, características das fezes, tolerância a hidratação oral, outros
sintomas associados (vómitos, febre, dor, distensão abdominal ou perda de peso)
• Sinais de infecção e antecedentes de parasitoses
• Dieta actual e pregressa
• Histórico de alergias, intolerâncias ou uso de medicamentos
• Condições sociais e sanitárias
• Outros casos de diarreia em casa, creche ou escola.
Diagnóstico
Exame físico
• Peso e estatura
• Estado geral
• Sinais de desidratação (mucosas secas, oligúria, alterações da FC e TA, etc…)
• Estado nutricional
• Sinais de toxemia/ infecção.
Diagnóstico
Exames complementares
1. Exame de fezes
Pesquisa de elementos normais (fezes a fresco)
Parasitológico
Coprocultura
PH fecal
Pesquisa de rotavírus
Métodos imune enzimáticos(ELISA) - vírus nas fezes

2. Hemograma completo e HTZ, Bioquímica ( electrólitos, função renal, glicemia e de


acordo com quadro clinico e complicações), Hemocultura, Gasometria, Urina
II/Urocultura, Rx tórax).
EXAMES INDICAÇÃO FREQUÊNCIA DOS PEDIDOS

Pesquisa de Rotevirus Diarreia, febre, sintomas de UMA VEZ


nas fezes IVRS, vómitos persistentes

FEZES A FRESCO Suspeita de inf bact 3 AMOSTRAS


invasivas, e pesquiza de
trofozoitos (Giardia, E. hist )

COPROCULTURA E Febre, toxemia, sangue nas ATE 3 VEZES


T.S.A fezes, diarreia ha > 4 dias ou
> de 10 dejecções

PARASITOLOGICO DE Suspeita de parasitoses UMA VEZ, 3 AMOSTRAS


FEZES
PH E SUBSTANCIAS Fezes liquidas e abundantes, UMA VEZ
REDUTORAS NAS acidas
FEZES

GASOMETRIA E Desidratação grave APÓS CADA INTERVENÇÃO


IONOGRAMA TERAPÊUTICA
FUNÇÃO RENAL Desidratação grave APÓS CADA INTERVENÇÃO
TERAPÊUTICA
Tratamento
Objectivo

Manutenção do equilíbrio hidroelectrolítico e aporte calórico proteico adequado,


pelos seguintes planos de acção:

Plano A: Diarreia sem desidratação


Plano B: Diarreia com desidratação leve a moderada
Plano C: Diarreia com desidratação grave (Referir)
Tratamento
PLANO A: prevenção da desidratação no domicílio
A criança está com diarreia e sem sinais de desidratação:
Orientar a mãe sobre a evolução da doença e as principais complicações;
Aumentar a oferta de líquidos, água ou solução de reidratação oral (SRO) após cada
evacuação diarreica (5ml/kg). Evitar refrigerantes, sucos e chás adocicados que
possuem elevada osmolaridade;
Manter a alimentação habitual corrigindo os erros dietéticos.
Tratamento
Se o paciente não melhorar ou apresentar qualquer sinal de perigo, deve retornar ao
serviço de saúde. Sinais de perigo: piora da diarreia, vômitos repetidos, recusa dos
alimentos, sangue nas fezes, aumento da sede e/ou diminuição da diurese;

o Ministério da Saúde recomenda a administração de zinco uma vez ao dia, durante


10 a 14 dias nas seguintes dosagens:
– até seis meses de idade: 10 mg/dia (½ cp );
– maiores de seis meses de idade: 20 mg/dia (1 cp ).
Tratamento
PLANO B: crianças que apresentam algum grau de desidratação, que não seja
grave:
Os pacientes deverão permanecer na US até a reidratação completa
A criança deverá receber 50 a 100 mL/kg de SRO por cerca de 4 a 6 horas(défice de
água é 50-100ml/Kg de peso). A quantidade de solução SRO requerida para
rehidratação pode ser estimada como défice aprox. usando 75ml/Kg
deverá ser avaliada, continuamente e a cada hora, verificando-se o ganho de peso e
se há diurese. A terceira hora é decisiva.
Tratamento
• Se a criança estiver ganhando pouco peso e mantendo os sinais de desidratação,
provavelmente ela não vai hidratar-se em quatro a seis horas e deve ser decidido
entre a indicação de sonda nasogástrica ou seguir para o plano C (hidratação
venosa)
• As crianças amamentadas ao seio poderão mamar durante esse período de
hidratação
• Administrar Zinco
• Após a reidratação, a criança receberá alta para o domicílio, com recomendação
do plano A.
Outros tratamentos
Antieméticos: na maioria dos pacientes com a hidratação os vómitos cessam. Em
casos de vómitos persistentes e de difícil controle em pacientes acima de seis meses
de idade, Ondansetrona 0,1 a 0,2 mg/kg/dose, via oral ou endovenosa ou
Metoclopramida 0,1mg/kg/dose.

Antitérmicos: em casos de temperatura de até 38˚C em criança desidratada, evitar,


a princípio, seu uso. Evitar medidas físicas tais como compressa, banhos, etc.

Antiperistálticos: Elixir paregórico, Difenoxilato e Loperamida estão


contraindicados em pediatria. Diminuem o peristaltismo intestinal, além do risco de
intoxicação.
Outros tratamentos
Antimicrobianos:
Não usar sistematicamente ( a diarreia aguda e autolimitada)
Estes não actuam sobre as toxinas
Podem provocar um desequilíbrio no ambiente bacteriano intestinal, prolongando o
período da diarreia
Usar de acordo com a etiologia,
Malnutrição grave, imunodepressão, sepsis,em RN, doença das celulas falcíformes
Cólera: a droga recomendada para menores de oito anos de idade é
sulfametoxazol – trimetroprina: 40 mg/kg/dia calculado pela sulfa de 12/12 horas
por três dias. Acima dessa idade, está indicada a tetraciclina na dose de 50
mg/kg/dia, 6/6 horas por três dias.
Outros tratamentos
Probióticos
Tratamento de diarreia aguda em crianças: redução da duração da diarreia (em 1
dia), principalmente diarreias virais(rotavírus).
Prevenção na disseminação da diarreia em crianças hospitalizadas
Prevenção da diarreia associada a antibióticos

Zinco: o zinco está relacionado à manutenção da barreira epitelial, à reparação


dos tecidos e à função imune.
Na diarreia aguda pode haver deficiência de zinco em relação às deficiências
nutricionais preexistentes. 10 mg/dia para menores de 6 meses e 20 mg para os
maiores de 6, por 10 a 14 dias.
Complicações
• Desidratação
• Distúrbios Hidroelectrolíticos e Acido básico
• Insuficiência renal aguda
• Desnutrição
• Síndrome hemolítico urémico
• Convulsões
• Septicemia
Prognstico
Evolução
·Benigna,
·Auto limitada, dura menos de 14 dias
·Ė uma doença grave nos malnutridos ( onde existe um ciclo vicioso, diarreia –
malnutrição)
Prevenção
• Aleitamento materno exclusivo ate 6 meses
• Consumo de comida e agua seguros
• Lavar as mãos depois de defecar, manipular fezes e antes de preparar alimentos
• Saneamento meio básico adequado
• Vacinação (cólera, sarampo e rotavírus)
Obrigada pela atenção

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