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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Seção Cível
Reclamação: 0034362-62.2019.8.19.0000

Reclamante: Sayonara Dias Rodrigues dos Santos


Reclamado: Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais Fazendários do
Estado do Rio de Janeiro
Interessado: Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro - Detran
RJ
Relator: Des. Eduardo Gusmão Alves de Brito Neto

DECISÃO MONOCRÁTICA

Reclamação contra acórdão da Segunda Turma Recursal


Fazendária. Alegação de cerceamento de defesa e de
inobservância de tese firmada em recurso especial repetitivo.
Reclamação ajuizada com fundamento no art. 988, II, do CPC.
Descabimento. Reclamação admitida pelo inciso II do art. 988
do CPC que não se presta ao fim de fazer observar a
jurisprudência do Tribunal, mas, sim, ao fim de garantir a
autoridade de decisão tomada em caso concreto, envolvendo
as partes postas no litígio do qual ela oriunda. Possibilidade de
propositura da reclamação com fundamento na Resolução STJ
12/2009 (substituída pela Res. STJ/GP 3/2016) que tampouco se
aplica ao sistema dos Juizados Especiais Fazendários.
Entendimento firme do STJ no sentido de que os arts. 18 e 19
da Lei 12.153 preveem as vias próprias para uniformizar a
interpretação de Lei Federal, a impedir o ajuizamento da
reclamação com idêntica finalidade. Indeferimento liminar da
reclamação.

Sayonara Dias Rodrigues dos Santos ajuizou reclamação contra


acórdão da Segunda Turma Recursal Fazendária que, nos autos da ação por ela
movida contra o DETRAN/RJ (processo n. 0107064-37.2018.8.19.0001), negou
provimento a recurso inominado para manter integralmente a sentença de
improcedência do pedido de declaração de nulidade de auto de infração.

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EDUARDO GUSMAO ALVES DE BRITO NETO:16585 Assinado em 17/07/2019 19:00:36
Local: GAB. DES EDUARDO GUSMAO ALVES DE BRITO NETO
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Reclamação: 0034362-62.2019.8.19.0000

A reclamação foi ajuizada com fundamento no artigo 988, inciso


II, do CPC, ao argumento de que se faz necessário preservar a autoridade das
decisões deste Tribunal que vedam o cerceamento à defesa e observar a tese
firmada no Tema 446 de recursos repetitivos, que assegura o direito do indivíduo
de não ser compelido a realizar testes de “bafômetro” ou exame de sangue para
se auto incriminar.

Narrou a inicial, em síntese, que a reclamante ajuizou ação


anulatória de auto de infração contra o Detran, ao fundamento de que ilegal sua
penalização pela conduta descrita no artigo 165-A do CTB1. A sentença de
primeiro grau julgou o pedido improcedente, com base no Enunciado 7 das
Turmas Recursais2, entendimento confirmado em sede recursal pelo acórdão
reclamado. Contudo, entende a autora que tal decisão afronta a autoridade das
decisões deste Tribunal e do STJ sobre o tema.

A reclamante sustentou também que sua recusa a soprar o


etilômetro foi justa, já que não demonstrado pelos agentes do Detran que o
aparelho fora verificado na forma da Portaria 006/02 INMETRO. Além disso, o
afirma que o agente não utilizava luvas e não substituiu o bico do aparelho. A
Segunda Turma Recursal Fazendária, no entanto, além de ter adotado
entendimento equivocado quanto à legalidade da autuação, acabou por
corroborar o cerceamento de defesa sofrido pela demandante quando não lhe foi
permitida a produção de prova oral.

É o relatório.

A reclamação foi ajuizada em 13 de junho de 2019 contra o


acórdão proferido em 27 de maio do mesmo ano e, ao que tudo indica,
publicado em 29 de maio seguinte (fl. 157 do processo de origem).
Considerando que a contagem de prazos no âmbito dos Juizados Especiais

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Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita certificar influência de
álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277.
Infração- gravíssima;
Penalidade- multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses
Medida administrativa- recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo, observado o disposto no § 4º do art. 270.
Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput em caso de reincidência no período de até 12 (doze) meses.
2
“A recusa ao teste do etilômetro, desde o advento da Lei 11.705/08 (com redação do parágrafo 3º do artigo 277 da Lei 9.503/97),
por si, dá ensejo à aplicação das penalidades de multa e suspensão do direito de dirigir, além das medidas administrativas de
recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo”.

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Estaduais Cíveis foi alterada pela Lei 13.728/18, para fossem computados
apenas dias úteis, e que tal disposição pode ser aplicada subsidiariamente na
forma do artigo 27 da Lei 12.153, conclui-se que o acórdão reclamado ainda não
havia transitado em julgado por ocasião da propositura da reclamação, para o
fim de atendimento ao disposto no artigo 988, §5º, inciso I, do CPC.

Segundo a inicial, são dois os fundamentos que desafiam a


propositura da presente reclamação: cerceamento de defesa e confronto entre o
teor do acórdão e a tese n.º 446 da jurisprudência do STJ, no sentido de que “o
indivíduo não pode ser compelido a colaborar com os referidos testes do
'bafômetro' ou do exame de sangue, em respeito ao princípio segundo o qual
ninguém é obrigado a se autoincriminar (nemo tenetur se detegere)”.

Ao contrário do que sustenta a reclamante, vê-se de pronto que,


nem mesmo em tese, as alegações iniciais demonstram a pretensão da
reclamante de preservar a competência de decisão deste Tribunal para fins de
cabimento de reclamação.

Como explica Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha, “A


reclamação destinada a impor a autoridade do julgado pressupõe um processo
prévio em que fora proferida a decisão que se busca garantir. Desobedecida
alguma decisão do tribunal, cabe a reclamação para obter seu cumprimento”.

Ou seja, o inciso II do artigo 988 do CPC não se presta ao fim de


fazer observar a jurisprudência do Tribunal, como parece sustentar a
reclamante, mas, sim, ao fim de garantir “a autoridade de decisão tomada em
caso concreto, envolvendo as partes postas no litígio do qual ela oriunda” (AgInt
na Rcl 36.827/PR, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 12/06/2019, DJe 18/06/2019).

Com relação ao argumento de que o acórdão reclamado viola


tese firmada em sede de recurso repetitivo, é preciso destacar que o julgado
impugnado foi proferido por turma recursal fazendária, e não por turma
recursal de Juizado Especial Cível Estadual comum.

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Tal distinção é relevante porque os sistemas formulados pelas


respectivas Leis de regência são igualmente distintos.

Com relação ao sistema delineado pela Lei 9.099/95, a


jurisprudência pouco a pouco identificou um impasse, tendo em vista que as
partes não dispunham de meios para garantir a observância da jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça como autoridade máxima na interpretação da
legislação infraconstitucional federal. É dizer, embora o acesso ao Supremo
fosse garantido por meio do recurso extraordinário, nos termos do Verbete 640
de sua Súmula, o mesmo não ocorria com relação ao STJ, ante a
inadmissibilidade do recurso especial contra decisão proferida por turma recursal
de juizados especiais comuns.

A título de exemplo, vejam-se os seguintes julgados: AgRg na Rcl


2.704/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 12/03/2008, DJe 31/03/2008; RMS 17.524/BA, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 02/08/2006, DJ 11/09/2006, p. 211.

A questão foi submetida ao exame do Supremo Tribunal Federal,


por ocasião do julgamento de embargos de declaração opostos no RE
571.572/BA. O STF ponderou que, diferentemente da Lei dos juizados especiais
federais – e, como hoje se sabe, da Lei dos juizados especiais fazendários -
, o sistema dos juizados comuns estabelecido pela Lei 9.099 não prevê o
estabelecimento de turmas de uniformização de jurisprudência, por meio das
quais se poderia recorrer ao STJ para pleitear a observância da sua
interpretação da legislação federal. Determinou, por conseguinte, que, enquanto
persistisse o impasse, era cabível, “em caráter excepcional”, a propositura da
reclamação constitucional para fazer prevalecer a jurisprudência do STJ no
âmbito dos juizados especiais.3
3
Confira-se a ementa do julgado: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO. JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. APLICAÇÃO ÀS CONTROVÉRSIAS SUBMETIDAS AOS JUIZADOS
ESPECIAIS ESTADUAIS. RECLAMAÇÃO PARA O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CABIMENTO
EXCEPCIONAL ENQUANTO NÃO CRIADO, POR LEI FEDERAL, O ÓRGÃO UNIFORMIZADOR. 1. No
julgamento do recurso extraordinário interposto pela embargante, o Plenário desta Suprema Corte
apreciou satisfatoriamente os pontos por ela questionados, tendo concluído: que constitui questão
infraconstitucional a discriminação dos pulsos telefônicos excedentes nas contas telefônicas; que
compete à Justiça Estadual a sua apreciação; e que é possível o julgamento da referida matéria no

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Foi diante de tal determinação expressa que o Superior Tribunal


de Justiça editou a Resolução 12 de 2009, para admitir “As reclamações
destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma recursal
estadual e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, suas súmulas
ou orientações decorrentes do julgamento de recursos especiais processados
na forma do art. 543-C do Código de Processo Civil (...) oferecidas no prazo
de quinze dias, contados da ciência, pela parte, da decisão impugnada,
independentemente de preparo”.

A Resolução 12/09 foi editada sob a égide do CPC de 1973, de


modo que, com a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil, em 2016,
foi editada a Resolução STJ/GP nº 3, de 7 de abril de 2016, que em seu artigo 1º
passou a dispor: “Caberá às Câmaras Reunidas ou à Seção Especializada dos
Tribunais de Justiça processar e julgar as Reclamações destinadas a dirimir
divergência entre acórdão prolatado por Turma Recursal Estadual e do Distrito
Federal e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, consolidada em
incidente de assunção de competência e de resolução de demandas repetitivas,
em julgamento de recurso especial repetitivo e em enunciados das Súmulas do
STJ, bem como para garantir a observância de precedentes”.

âmbito dos juizados em virtude da ausência de complexidade probatória. Não há, assim, qualquer
omissão a ser sanada. 2. Quanto ao pedido de aplicação da jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, observe-se que aquela egrégia Corte foi incumbida pela Carta Magna da missão de uniformizar
a interpretação da legislação infraconstitucional, embora seja inadmissível a interposição de recurso
especial contra as decisões proferidas pelas turmas recursais dos juizados especiais. 3. No âmbito
federal, a Lei 10.259/2001 criou a Turma de Uniformização da Jurisprudência, que pode ser
acionada quando a decisão da turma recursal contrariar a jurisprudência do STJ. É possível,
ainda, a provocação dessa Corte Superior após o julgamento da matéria pela citada Turma de
Uniformização. 4. Inexistência de órgão uniformizador no âmbito dos juizados estaduais,
circunstância que inviabiliza a aplicação da jurisprudência do STJ. Risco de manutenção de
decisões divergentes quanto à interpretação da legislação federal, gerando insegurança jurídica e
uma prestação jurisdicional incompleta, em decorrência da inexistência de outro meio eficaz para
resolvê-la. 5. Embargos declaratórios acolhidos apenas para declarar o cabimento, em caráter
excepcional, da reclamação prevista no art. 105, I, f, da Constituição Federal, para fazer
prevalecer, até a criação da turma de uniformização dos juizados especiais estaduais, a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça na interpretação da legislação infraconstitucional.
(RE 571572 ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 26/08/2009, DJe-223
DIVULG 26-11-2009 PUBLIC 27-11-2009 EMENT VOL-02384-05 PP-00978 RTJ VOL-00216-01 PP-
00540)

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Evidente, portanto, que o cabimento da reclamação com


fundamento na citada Resolução 7/2016 é admitido unicamente para dirimir
divergência de acórdão prolatado por Turma Recursal Estadual de Juizado
Especial Comum.

Com relação ao Juizado Especial Fazendário, instituído pela Lei


12.153/09, não se verifica o mesmo impasse no acesso ao STJ, na medida em
que a própria legislação prevê:

“Art. 18. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei quando


houver divergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais
sobre questões de direito material.
§ 1o O pedido fundado em divergência entre Turmas do mesmo Estado será
julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência de
desembargador indicado pelo Tribunal de Justiça.
§ 2o No caso do § 1o, a reunião de juízes domiciliados em cidades diversas
poderá ser feita por meio eletrônico.
§ 3o Quando as Turmas de diferentes Estados derem a lei federal
interpretações divergentes, ou quando a decisão proferida estiver em
contrariedade com súmula do Superior Tribunal de Justiça, o pedido
será por este julgado.
Art. 19. Quando a orientação acolhida pelas Turmas de Uniformização
de que trata o § 1o do art. 18 contrariar súmula do Superior Tribunal de
Justiça, a parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que
dirimirá a divergência”.

Diante dos termos da Lei, o Superior Tribunal de Justiça firmou o


entendimento de que “No âmbito do Juizado Especial da Fazenda Pública
Estadual, em se tratando de acórdão envolvendo interesse da Fazenda
Pública, não é cabível o ajuizamento da Reclamação prevista na Resolução
STJ n. 12/2009, porquanto a Lei n. 12.153/09 prevê procedimento
específico” (AgRg na Rcl 15.317/DF, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 22/08/2018, DJe 29/08/2018).

Nesse sentido:

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PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. JUIZADO ESPECIAL DA


FAZENDA PÚBLICA. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. PRETENSÃO DE
PAGAMENTO DAS DIFERENÇAS RETROATIVAS EM DECORRÊNCIA DA
CONVERSÃO DE MOEDA EM URV. RECLAMAÇÃO. RESOLUÇÃO STJ N.
12/2009. ACÓRDÃO ENVOLVENDO INTERESSE DA FAZENDA PÚBLICA.
DESCABIMENTO. I - O presente feito decorre de reclamação apresentada
por Alex Estevam de Souza Leite contra decisão da Turma Recursal do
Juizado Especial do Estado de Sergipe.
II - O acórdão alegadamente contrário à jurisprudência deste Tribunal
Superior foi proferido por Turma de Juizado Especial Estadual em
matéria de Fazenda Pública, o que impede sua admissão, tendo em vista
o disposto nos artigos 18 e 19 da Lei 12.153/2009, a qual prevê recursos
próprios.
III - Portanto, somente é cabível reclamação perante o STJ de decisões
divergentes proferidas por Turmas de Juizado Especial da Fazenda Pública,
de diferentes Estados, ou quando a decisão estiver em contrariedade com
Súmula do Superior Tribunal de Justiça.
IV - Também não cabe reclamação em face de decisão proferida por Turma
Recursal de Juizado Especial Estadual, pois a Corte Especial deste Sodalício
aprovou a Resolução 3, de 7.4.2016 (revogando a anterior Resolução
12/2009, que regulava o processamento das aludidas reclamações no âmbito
do STJ) dispondo sobre a competência para processar e julgar as
mencionadas ações constitucionais.
V - No caso dos autos, a reclamante se insurge contra acórdão proferido por
Turma de Juizado Especial Estadual em matéria de Fazenda Pública, que
não revela afronta a Súmula do STJ, nem há demonstração de divergência
entre decisões de Turmas de diferentes Estados, o que revela a
incompetência deste Superior Tribunal para apreciar a presente ação
constitucional.
VI - Agravo interno improvido.
(AgInt na Rcl 35.432/SE, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 13/02/2019, DJe 21/02/2019)

ADMINISTRATIVO. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO RECEBIDO COMO


AGRAVO REGIMENTAL. RECLAMAÇÃO CONTRA DECISÃO DA VARA DA
FAZENDA PÚBLICA.
RESOLUÇÃO 12/2009. INAPLICABILIDADE. RECLAMAÇÃO INDEFERIDA
LIMINARMENTE. PRECEDENTES DA PRIMEIRA SEÇÃO. AGRAVO
REGIMENTAL DO PARTICULAR A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A Reclamação constitui-se em ação autônoma de impugnação instituída
pelo art. 105, I, f da Constituição da República, regulamentada pelos arts. 13
a 18 da Lei 8.038/1990 e, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, regida

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pelos arts. 187 a 192 do RISTJ, sendo um instrumento processual voltado


para a (i) preservação de sua competência e (ii) garantia da autoridade de
suas decisões.
2. Admite-se, ainda, a Reclamação para adequar o entendimento adotado por
Turma Recursal Estadual à jurisprudência, súmula ou orientação desta Corte,
firmada pela sistemática dos recursos repetitivos, conforme decisão proferida
pelo Tribunal Pleno do STF por ocasião do julgamento dos EDcl no RE
571.572/BA, Rel. Min. ELLEN GRACIE (DJe de 27.11.2009), e o disposto na
Resolução 12/2009 do STJ.
3. A Primeira Seção desta Corte, por ocasião do julgamento do Agravo
Regimental na Rcl 8.617/SP (Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES,
DJe 22.8.2012), firmou a orientação de que, no caso de ação ajuizada
perante o Juizado Especial da Fazenda Pública, como na hipótese
destes autos, é incabível a Reclamação prevista na Resolução 12/2009,
devendo ser obedecido o rito previsto na Lei 12.153/2009.
4. Agravo Regimental do Particular a que se nega provimento.
(AgRg na Rcl 24.529/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/02/2019, DJe 13/03/2019)

ADMINISTRATIVO. RECLAMAÇÃO CONTRA DECISÃO DA VARA DA


FAZENDA PÚBLICA. RESOLUÇÃO 12/2009. INAPLICABILIDADE.
RECLAMAÇÃO INDEFERIDA LIMINARMENTE. PRECEDENTES DA
PRIMEIRA SEÇÃO.
I - A Reclamação constitui-se em ação autônoma de impugnação instituída
pelo art. 105, I, f da Constituição da República, regulamentada pelos arts. 13
a 18 da Lei 8.038/1990 e, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, regida
pelos arts. 187 a 192 do RISTJ, sendo um instrumento processual voltado
para a (i) preservação de sua competência e (ii) garantia da autoridade de
suas decisões. II - Admite-se, ainda, a Reclamação para adequar o
entendimento adotado por Turma Recursal Estadual à jurisprudência, súmula
ou orientação desta Corte, firmada pela sistemática dos recursos repetitivos,
conforme decisão proferida pelo Tribunal Pleno do STF por ocasião do
julgamento dos EDcl no RE 571.572/BA, Rel. Min. ELLEN GRACIE (DJe de
27.11.2009), e o disposto na Resolução 12/2009 do STJ.
III - A Primeira Seção desta Corte, por ocasião do julgamento do Agravo
Regimental na Rcl 8.617/SP (Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES,
DJe 22.8.2012), firmou a orientação de que, no caso de ação ajuizada
perante o Juizado Especial da Fazenda Pública, como na hipótese
destes autos, é incabível a Reclamação prevista na Resolução 12/2009,
devendo ser obedecido o rito previsto na Lei 12.153/2009.
Nesse sentido: (AgRg na Rcl 24.529/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/02/2019, DJe 13/03/2019;

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AgInt na Rcl 35.432/SE, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 13/02/2019, DJe 21/02/2019; AgRg na Rcl 23.429/PR,
Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
28/11/2018, DJe 10/12/2018) IV - Agravo interno improvido.
(AgInt na Rcl 32.950/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 08/05/2019, DJe 14/05/2019).

Veja-se que a Corte Superior já admitiu expressamente pedido de


uniformização contra acórdão de Turma Recursal Fazendária que contrariou
súmula de sua jurisprudência dominante:

ADMINISTRATIVO. PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.


ART. 18, § 3º, E 19 DA LEI N. 12.153/09. SERVIDORA PÚBLICO DO
ESTADO DO PARANÁ. PRETENSÃO DE COMPLEMENTAÇÃO DE
PROVENTOS DE APOSENTADORIA.
PARIDADE. EC N. 20/1998. RELAÇÃO DE TRATO SUCESSIVO.
PRESCRIÇÃO QUE ATINGE O PRÓPRIO FUNDO DE DIREITO.
INOCORRÊNCIA. APLICABILIDADE DA SÚMULA N. 85/STJ. PEDIDO DE
UNIFORMIZAÇÃO PROVIDO.
I - No âmbito do microssistema dos Juizados Especiais da Fazenda Pública,
do exame conjunto dos arts. 18, caput, §§ 1º e 3º, e 19, caput, da Lei n.
12.153/2009, verifica-se que o pedido de uniformização de interpretação
acerca de questão de direito material concernente a lei federal é admissível
quando: (i) houver divergência entre Turmas Recursais de diferentes Estados
sobre controvérsia idêntica; e (ii) súmula desta Corte sofrer contrariedade
por decisão proferida por Turma Recursal ou pelas Turmas de
Uniformização de que trata o § 1º do art. 18 do referido diploma legal.
II - No caso, a 4ª Turma Recursal do Estado do Paraná não observou a
orientação assentada na Súmula n. 85/STJ. Esta Corte encampa
entendimento segundo o qual, ausente a negativa do próprio direito
reclamado, não se opera a prescrição de fundo de direito nos casos em que
se objetivem a revisão dos proventos de aposentadoria, com base na
paridade entre ativos e inativos, nos termos do art. 40, § 8º, da Constituição
da República. Precedentes.
III - Não havendo a negativa expressa do direito pleiteado, a prescrição não
atinge o próprio fundo de direito, permanecendo a relação de trato sucessivo,
sendo aplicável a orientação contida na Súmula n. 85/STJ.
IV - Pedido de uniformização de interpretação de lei provido.
(PUIL 1.191/PR, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 12/06/2019, DJe 19/06/2019)

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Não se ignora que, no caso acima, a Corte Superior tratou de


violação de Súmula, nos exatos termos da Lei 12.153, e que, no presente caso,
a parte alega violação a tese de recurso repetitivo. Entretanto, há precedente do
Superior que cogitou do cabimento do incidente de uniformização previsto no
artigo 18 da citada Lei também em caso de alegada violação de tese firmada em
recurso repetitivo:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO


NA RECLAMAÇÃO, RECEBIDA COMO AGRAVO REGIMENTAL. JUIZADO
ESPECIAL. VIOLAÇÃO A LEI FEDERAL E DISSÍDIO EM RELAÇÃO À
JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
RECLAMAÇÃO. NÃO CABIMENTO. PRECEDENTE DA PRIMEIRA SEÇÃO.
OFENSA AO ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E À SUMULA
VINCULANTE 10/STF. NÃO OCORRÊNCIA. RECEBIMENTO DA
RECLAMAÇÃO COMO INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE.
ERRO GROSSEIRO. PRECEDENTE. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. "A Primeira Seção desta Corte firmou entendimento no sentido de que a
reclamação disciplinada pela Resolução 12/2009-STJ não é o meio
processual adequado de insurgência contra decisão proferida em Juizado
Especial da Fazenda Pública, tendo em vista que o art. 18 da Lei n.
12.153/2009 previu o cabimento de pedido de uniformização de interpretação
de lei, em relação às questões de direito material" (EDcl na Rcl 12.198/SP,
Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, Primeira Seção, DJe 2/8/13).
2. Não bastasse o fato de que a Resolução/STJ nº 12 de 14/12/09 não
desafia a aplicação da Súmula Vinculante nº 10/STF ou do art. 97 da
Constituição Federal, é de se consignar que sua não aplicação no caso
concreto se deu pela simples razões de que este não se amolda às hipóteses
ali previstas.
3. Mostra-se irrelevante perquirir se houve, ou não, a instauração da
Turma de Uniformização nos Juizados Especiais da Fazenda no Estado
de São Paulo, tendo em vista que a tese deduzida nas razões da
Reclamação - violação aos arts. 161, § 1º, e 1655 do CTN, bem como
dissídio jurisprudencial em face dos acórdãos prolatados no julgamento do
REsp 871.152/SP e do REsp 1.133.815/SP, ambos sob o rito dos recursos
especiais representativos de matéria repetitiva, previsto no art. 543-C do
CPC -, tem fulcro no art. 18, § 3º, da Lei 12.153/09, o qual remete à esta
Corte a instauração do Incidente de Uniformização de Jurisprudência.

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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Seção Cível
Reclamação: 0034362-62.2019.8.19.0000

4. Pedido de reconsideração recebido como agravo regimental, ao qual se


nega provimento.
(RCD na Rcl 10.884/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 27/11/2013, DJe 09/12/2013) (grifou-se).

Torna-se forçoso concluir, por conseguinte, que a razões da


reclamante não demonstraram nem mesmo em tese o preenchimento dos
requisitos necessários à propositura da reclamação, sendo esse um vício
insanável, ante a própria pretensão deduzida na inicial.

Indefiro, pois, a petição inicial, na forma do artigo 485, inciso I e


do artigo 330, inciso I, do Código de Processo Civil, combinados, por analogia,
com o artigo 932, inciso III.

Rio de Janeiro, 17 de julho de 2019

EDUARDO GUSMÃO ALVES DE BRITO NETO


Desembargador Relator

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