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pandemia-e-a-reorganizacao-da-escola

Publicado em NOVA ESCOLA 09 de Junho | 2021

Gestão escolar

Gestão escolar: Os impactos da


pandemia e a reorganização da
escola
Para recuperar as aprendizagens, diminuir as desigualdades e o risco de
abandono escolar, Mozart Neves propõe cinco ações para repensar o
trabalho na Educação
Mozart Neves Ramos

Crédito: Getty Images

Pesquisas buscam quantificar os impactos que a pandemia da covid-19 trouxe para a Educação. É o
que investiga o estudo O impacto da pandemia da COVID-19 sobre os resultados dos estudantes
brasileiros de educação básica do Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e
a África Lusófona (FGV EESP Clear). As redes de ensino também buscam avaliar as consequências da
pandemia na aprendizagem dos alunos. O que esses e outros apontam é que houve um retrocesso na
aprendizagem, aumento das desigualdades e do abandono escolar. Enquanto o governo prioriza nas
discussões educacionais o homeschooling, a prioridade deveria ser a urgência de pensar em
caminhos para minimizar os impactos que os estudos já apontam para a Educação.

Fizemos um esforço daquilo que era possível. Os educadores fizeram o possível e impossível para
chegar nos seus alunos. Se nada tivesse sido feito e nenhum aluno tivesse tido nenhum tipo de
trabalho, as consequências seriam muito mais graves. No entanto, não foi isso que aconteceu. Cada
escola brasileira reagiu e se organizou da forma que conseguiu. Agora, é urgente entender o
tamanho do problema e pensar em caminhos. Dentro desse trabalho, penso que será necessário
organizar o trabalho em cinco frentes:

1. Oferecer os recursos materiais necessários: A oferta e acesso ao ensino remoto, pelo seu caráter
emergencial, foi muito irregular. Com isso, as desigualdades que já existiam se aprofundaram. Não
tivemos uma preparação das pessoas envolvidas nem o material ideal. Falamos que a tecnologia veio
para ficar e que a pandemia acelerou esse processo na Educação. No entanto, para que isso seja
verdadeiro e feito com qualidade, devemos pensar na formação dos professores para essas novas
metodologias e ferramentas digitais, e em criar materiais didáticos que sejam pensados também
para o trabalho on-line (ou remoto), que seja mais autoexplicativos e ajudem o aluno a estudar de
forma autônoma.

Biblioteca para o Gestor Escolar


Para te ajudar na sua formação como gestor, confira materiais informativos sobre os principais desafios que os
educadores de todo o Brasil enfrentarão em 2021

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MATERIAIS

2. Planejamento articulado: Quando imaginamos o currículo contínuo 2020-2021 no Conselho


Nacional de Educação, não imaginamos que em 2021 não teríamos voltado para o presencial. Hoje
enfrentamos um cenário ainda mais desafiador, em que acumulamos defasagens de 2020 e, muito
provavelmente, de 2021. Mais do que nunca será fundamental ter avaliações diagnósticas para
entender o fosso que enfrentamos.

Além disso, precisamos pensar em um planejamento de 3 anos em 2 - considerando o cenário em


que a Educação será priorizada na vacinação, possamos retornar no 2º semestre deste ano e
tenhamos um 2022 100% presencial. Diante desse cenário, precisamos pensar na flexibilização dos
currículos e muito trabalho de planejamento e replanejamento dos anos letivos.

Curso gratuito: Apoiando a equipe no replanejamento contínuo


Entenda como os gestores escolares podem ajudar a elaborar um instrumento de planejamento que inclua
informações importantes e o que deve ser considerado para adaptar o planejamento a eventuais mudanças de
contexto, como a escola iniciar o ano com o ensino remoto e depois migrar para o presencial, ou vice-versa.

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3. Foco nas aprendizagens essenciais: Em diálogo com o ponto anterior, também vale destacar a
necessidade de focar naquilo que é fundamental para que o aluno aprenda. Não dá para acreditar
que vamos conseguir dar todos os conteúdos que estavam previstos. Temos que qualificar aquilo que
oferecemos para os alunos e selecionar os mais relevantes. Neste trabalho, a Base Nacional Comum
Curricular será a grande bússola do trabalho pedagógico.

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2021

4. O aluno de tempo integral: É preciso ter na escola um projeto pedagógico na escola que pense o
aluno em tempo integral. Isto é, organizar planos de aprendizagem que utilizem o contraturno para
oferecer atividades complementares focadas nas habilidades em defasagem. Dentro dessa ação, é
fundamental organizar avaliações diagnósticas regulares para acompanhar o resultado das ações.
Neste ponto, a gestão escolar terá um papel fundamental para conseguir articular e organizar esse
trabalho na instituição.

5. Regime de colaboração: as redes não vão conseguir enfrentar esse problema sozinhas, muito
menos cada escola individualmente. É necessário organizar um trabalho colaborativo entre os estados
e municípios, os institutos e fundações, e a sociedade civil como um todo. Precisamos de uma
articulação nacional.

Imagino que poderia ser criado um observatório nacional de aprendizagem, abandono e


desigualdade. Ele reuniria pesquisas e avaliações diagnósticas que ajudassem a monitorar os
impactos da pandemia, e teria um espaço de troca de experiências exitosas entre os municípios e
estados para recuperar as aprendizagens. Seria um espaço que articularia ações para um
enfrentamento nacional dos desafios que a pandemia trouxe para a Educação.

Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos
Avançados da Universidade de São Paulo (USP) – Ribeirão Preto. Engenheiro químico de formação,
possui doutorado e pós-doutorado na área, além de grande trajetória no Ensino Superior. Foi
professor, pró-reitor acadêmico e reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atualmente
é membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e diretor de articulação e inovação do Instituto
Ayrton Senna. Eleito pela Revista Época como uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil em
2008, também foi considerado Educador Internacional do Ano, em 2005, pela IBC Cambridge. Mozart
atuou como secretário de Educação de Pernambuco, foi presidente do Conselho Nacional de
Secretários Estaduais de Educação (Consed) e presidente-executivo do Todos Pela Educação. Também
é autor dos títulos “Educação brasileira: uma agenda inadiável” e “Educação sustentável”.

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