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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE CANTO DISTANTE DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Processo nº XXXXX

LUIZ, já devidamente qualificado nos autos da ação de indenização em curso perante


esse MM. Juízo, em que contende com RICARDO, já qualificado nos autos, cuja
sentença julgou totalmente procedente o pleito autoral, vem, respeitosamente, à
ilustre presença de Vossa Excelência, irresignado com sentença proferida nestes autos
do processo, interpor

APELAÇÃO

com fulcro no art. 1.009 e no prazo do art. 1.003, §5º, ambos do CPC, juntando o
respectivo comprovante de pagamento do preparo, pelas anexas razões de fato e de
direito, requerendo que seja realizado o juízo de retratação, bem como o regular
processamento do presente recurso, com o envio dos autos ao Tribunal “ad quem”.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Local, data.

ADVOGADO

Oab
EGRÉGIO TRIBUNAL

PROCESSO: XXXXXXX

APELANTE: Luiz

APELADO(A): Ricardo

RAZÕES DO RECURSO

SÍNTESE DOS FATOS

1. O apelado ingressou com ação indenizatória contra o ora apelante em razão da


inexecução de um contrato de transporte.

2. Ocorre que Ricardo, ora apelado, na condição de cantor amador, contratou o


apelante, motorista de uma grande empresa, para transportá-lo, no dia 2 de março de
2017, do Município Canto Distante, pequena cidade no interior do Estado do Rio de
Janeiro onde ambos são domiciliados, até a capital do Estado. No referido dia, seria
realizada, na cidade do Rio de Janeiro, a primeira pré-seleção de candidatos para
participação de um concurso televisivo de talentos musicais, com cerca de vinte mil
inscritos.

3. No dia 2 de março de 2017, o apelante se recordou de que se esquecera de


fazer a manutenção periódica de seu veículo, motivo pelo qual não considerou seguro
pegar a estrada. Assim, comunicou ao apelado que não poderia transportá-lo naquele
dia, devolvendo-lhe o valor que lhe fora pago. Soube, posteriormente, que o apelado
Ricardo acabou não realizando a viagem até o Rio de Janeiro e, assim, não participou
da pré-seleção do concurso

4. O apelado, inconformado, ingressa com ação indenizatória contra o apelante,


exigindo indenização por perdas e danos pelo inadimplemento do contrato de
transporte e pela perda de uma chance de participar do concurso.
5. A ação foi regularmente distribuída no Juízo de direito da Vara Cível da
Comarca de Canto Distante/RJ. Citado o apelante alegou em contestação que Ricardo,
ora apelado, errou ao não viajar de ônibus com embarque na Rodovia da Cidade, o que
resolveria a necessidade de Transporte.

6. Ao final da instrução processual, o Juízo de primeiro grau proferiu sentença de


total procedência do pleito autoral, fundamentando sua decisão nos seguintes
argumentos:

i) o inadimplemento contratual culposo foi confessado por


Luiz, devendo ele arcar com perdas e danos, nos termos do Art.
475 do Código Civil, arbitrados no montante de cinco vezes o
valor da contraprestação originalmente acordada pelas partes;

ii) o fato de Ricardo não ter contratado outro tipo de


transporte para o Rio de Janeiro não interrompe o nexo causal
entre o inadimplemento do contrato por Luiz e os danos
sofridos;

iii) Ricardo sofreu evidente perda da chance de participar do


concurso, motivo pelo qual deve ser indenizado em montante
arbitrado pelo juízo em um quarto do prêmio final que seria
pago ao vencedor do certame Contra esta decisão, se insurge o
apelante no presente recurso, esperando vê-la reformada em
face das razões que adiante se alinham:

DAS RAZÕES PARA REFORMA OU DECRETAÇÃO DE NULIDADE

7. A hipótese é de responsabilidade Contratual pelo inadimplemento de contrato


firmado entre as partes, motivo pelo qual o artigo 475 do CC/2002 disciplina o direito
do credor inadimplido em resolver o contrato e ser indenizado por perdas e danos .

8. Ocorre que essa indenização depende da exigência do real dano sofrido como
medida da reparação, conforme preconiza o artigo 944 do CC/2002. O apelado não
comprovou de fato o que ele efetivamente perdeu nem comprovou o que
efetivamente deixou de lucrar.

9. O apelado por não ter tomado outra providência para realizar a viagem
incorreu em culpa concorrente conforme dispõe o artigo 945 do CC/2002. Sendo
assim, caso haja algum dano a ser indenizado pelo apelante, que seja reduzido
proporcionalmente à concorrência do dano provocado pelo apelado.

10. Pela Jurisprudência superior deve ficar demonstrada a real probabilidade de se


alcançar o objetivo pretendido na chance perdida. No caso, não restou comprovada
essa probabilidade pelo apelado. A Certeza do Apelado alcançar o prêmio, num cálculo
de probabilidade simples, seria de 20/20000, o que daria 1/1000, ou seja sua
probabilidade seria de uma em mil, ou seja, certeza nenhuma.

11. Note-se ainda que se trata de evento com mais de 20.000 inscritos. Os mil
melhores candidatos pré-selecionados na primeira fase ainda precisariam passar por
duas outras etapas eliminatórias, até que vinte sejam escolhidos para participar do
programa de televisão Ora, o apelado não trouxe qualquer elemento contundente que
demonstrasse sua real possibilidade de ser selecionado para o concurso. Impossível,
pois, impor-se responsabilidade civil do apelante no presente caso, uma vez que o
direito brasileiro rechaça indenização por dano hipotético – que é o que se vislumbra
no presente caso.

DA INEXISTÊNCIA DE DANO EFETIVO

12. Sendo inocorrente a aplicação da teoria da perda de uma chance, impõese


observar a pretensão sob o aspecto da responsabilidade contratual. Em se tratando da
alegada inexecução de contrato, deve eventual indenização ficar adstrita às possíveis
perdas e danos verificados em face do inadimplemento.

13. Do ônus de demonstrar prejuízo não se desincumbiu o apelado. Cabia a ele


demonstrar as perdas e danos decorrentes da inexecução (CC, art. 475), mas assim não
fez. Ao contrário, restou incontroverso nos autos que o apelante, após verificar que o
carro não teria passado pelas revisões necessárias a uma viagem segura, devolveu
todo o preço ao contratante (apelado), o qual não se insurgiu contra isso.

14. Pelo que se percebe, houve na realidade um distrato consensual, em que,


desfeito o negócio, as partes foram levadas ao seu satus quo, sem que qualquer delas
alegasse, na ocasião, perda ou prejuízo. Em termos de responsabilidade contratual,
não há, pois, razão para a indenização pretendida.

DA BOA-FÉ OBJETIVA E DOS DEVERES DECORRENTES – A CULPA CONCORRENTE DO


APELADO

15. Por fim, note-se ainda que a não-realização da viagem decorreu também pelo
desinteresse do apelado em encontrar outro meio de transporte, o que caracteriza
culpa concorrente do apelado (CC, art. 945).

16. Sabendo-se que o apelado foi avisado da impossibilidade de ser atendido no


transporte e tendo recebido, na mesma hora, em devolução, o valor que havia pago
pelo preço, poderia ele – fosse seu real interesse – dirigir-se à rodoviária e tomar outro
transporte para seu destino.

17. No caso de culpa concorrente, a indenização deveria ser partilhada entre eles

DO PEDIDO

18. Isso Posto, considerando os fundamentos levantados nesta peça recursal,


espera o apelante ver conhecido e provido este apelo especialmente para:

a. Reformar a decisão de primeiro grau, julgando-se improcedente a


ação, uma vez que não se trata de hipótese possível de ser alcançada
pela teoria da perda de uma chance, nem houve prejuízo
demonstrado pelo apelado para além da devolução do preço.

b. Alternativamente, reconhecer a culpa concorrente pela inexecução


do contrato, partindo-se a indenização proporcionalmente entre as
partes, na medida da responsabilidade de cada um.
c. Com o provimento do apelo, espera ver redimensionado o ônus da
sucumbência.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

LOCAL, DATA.

ADVOGADO

OAB

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