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Transtorno do Espectro

Autista (TEA)
Crianças autistas têm falhas constitucionais
de componente de ação e reação,
necessários para o desenvolvimento das
relações pessoais, as quais envolvem afeto;
As relações pessoais são necessárias para a
A American Psychiatric Association (APA) e a constituição do mundo próprio e com os
Organização Mundial da Saúde (OMS), em sua outros;
10ª edição da Classificação Internacional de Os déficits das crianças autistas na
Doenças (CID) passou a enquadrar o autismo na experiência social intersubjetiva têm dois
categoria “Transtornos Invasivos do resultados especialmente importantes:
Desenvolvimento”, enfatizando a relação ➔ Déficit relativo no reconhecimento de
autismo-cognição. Dessa forma, o autismo pode outras pessoas como portadoras de
ser definido como uma síndrome sentimentos próprios, pensamentos,
comportamental, com etiologia orgânica e desejos, intenções;
curso de um transtorno do desenvolvimento. Do ➔ Déficit grave na capacidade para
ponto de vista epidemiológico, cerca de 1 a 5 abstrair, sentir e pensar
casos em cada 10.000 crianças, em uma simbolicamente.
proporção de 2 a 3 homens para 1 mulher ou Grande parte das inabilidades dos autistas
mesmo em uma proporção de 2:1.000. Além disso, na área de cognição e linguagem pode
a proporção de homens sobe para uma relação refletir um déficit que tem íntima relação
de 15:1 quando a análise é realizada em uma com o desenvolvimento afetivo e social,
população com QI maior que 50. e/ou déficits sociais dependentes da
possibilidade de simbolização.
A idade usual para seu diagnóstico é em torno
de 3 anos, embora seja sugerido que esse CONCLUSÃO: a teoria afetiva postula que
diagnóstico já possa ser bem estabelecido ao faltariam aos autistas fatores constitucionais
redor dos 18 meses de idade. Em adição, há para que desenvolvessem reciprocidade afetiva,
uma forte relação entre o autismo e fundamentais para a constituição de um mundo
deficiência mental, estabelecendo-se a noção de próprio, observando-se, em decorrência,
um continuum autístico em função da variação alteração na experiência intersubjetiva e
de inteligência, com as características prejuízos significativos em sua capacidade
sintomatológicas sendo decorrentes desse perfil simbólica.
de desempenho.

São déficit crônico nas relações sociais e


alguns autores relacionam a fala característica
do autista a déficits pragmáticos na linguagem.
Duas teorias tentam explicar o fenômeno:
Esse modelo teórico pode ser resumido da O autismo não como uma entidade única, mas
seguinte maneira: como um grupo variado de doenças, cuja
O mundo físico são as “representações sintomatologia se relaciona aos déficits
primárias”; cognitivos. É considerado atualmente uma
O estado mental das pessoas são as síndrome comportamental, com etiologias
representações secundárias (ou múltiplas, em consequência de um distúrbio de
metarrepresentações). desenvolvimento

Levando-se em conta a teoria da mente, Os 3 domínios observados ao DSM-IV-TR devem,


acredita-se na dificuldade desse indivíduo em assim, tornar-se 2: • déficits na comunicação
perceber crenças, intenções, emoções e social; • interesses específicos e
conceitos de outras pessoas, ao elaborar comportamentos repetitivos. Estabelecem-se,
estados mentais a respeito delas. Dessa portanto, menos subgrupos específicos para seu
maneira: diagnóstico, com diferentes quadros clínicos,
O autismo seria causado por um déficit evoluções e prognósticos assemelhados.
cognitivo central;
Um desses déficits seria referente a essa . As alterações linguísticas não são únicas nem
capacidade para metarrepresentação; universais e devem ser avaliadas de maneira
Essa metarrepresentação seria necessária acurada. Tal diagnóstico diferencial é uma das
dentro dos padrões sociais que exigem grandes dificuldades do clínico e pode-se, grosso
atribuir estados mentais ao outro. Assim, modo, subdividi-lo em diagnósticos intragrupo
padrões que não requeiram essa (transtornos invasivos) e extragrupo
capacidade metarrepresentacional (p.ex., o (transtornos invasivos).
reconhecimento de gênero, a permanência do
objeto ou o autorreconhecimento no espelho)
podem estar intactos no autismo, conforme
esclarece.
AUTISMO INFANTIL
A capacidade metarrepresentacional seria
É o transtorno global do desenvolvimento
obrigatória em padrões simbólicos (como
caracterizado por:
em jogos, que, nos quadros autísticos, se
Desenvolvimento anormal ou alterado,
encontram alterados e/ou deficitários);
manifestado antes de 3 anos de idade;
Perturbação característica do
funcionamento em cada um dos três
domínios seguintes: interações sociais,
comunicação, comportamento focalizado e
repetitivo.

Além disso, o transtorno acompanha-se


comumente de outras numerosas manifestações
inespecíficas (p.ex., fobias, perturbações do
sono ou da alimentação, crises de birra ou de interesses específicos e circunscritos e
agressividade, principalmente história familiar de problemas similares. Baixa
autoagressividade). associação com quadros convulsivos.

TRANSTORNOS INVASIVOS NÃO SÍNDROME DE RETT


ESPECIFICADOS Prevalente no sexo feminino, são reconhecidos
Idade de início variável, predomínio no sexo entre 5 e 30 meses de vida e apresentam
masculino, com comprometimento discrepante na marcado déficit no desenvolvimento, com
área da sociabilidade. desaceleração do crescimento craniano,
retardo intelectual grave, alterações de
marcha e forte associação com quadros
convulsivos.

RETARDO MENTAL
TRANSTORNOS DESINTEGRATIVOS
É considerado um funcionamento intelectual
Observados após os 24 meses de vida, seu
geral abaixo da média, acompanhado de déficits
diagnóstico requer desenvolvimento normal por
ou prejuízos concomitantes no funcionamento
pelo menos 2 anos e início dos sintomas antes dos
adaptativo atual, com início antes dos 18 anos de
10 anos de idade. Predominam no sexo masculino,
idade, ou seja, durante o período de
com padrões de sociabilidade e comunicação
desenvolvimento, e está associado a prejuízo no
pobres. Maior associação com síndrome
comportamento adaptativo.
convulsiva; pior prognóstico.

Não são parte dos quadros de retardo mental as


RETRAÇÃO PROLONGADA
alterações de motricidade, representadas pelos
Corresponde a um “desligamento” da criança, com
rituais e pelas estereotipias de movimento, assim
resistência aos estímulos relacionais, .ausência
como alterações linguísticas e ecolalia. Sua
de estímulos autoeróticos, rigidez facial,
prevalência, considerando-se um QI < 50, ao
movimentos atípicos de dedos, choro e perda
redor de 3 a 4:1.000 pessoas, e estimando que a
de apetite. Além disso, é uma reação de alarme
deficiência mental leve (QI entre 50 e 70)
que aparece em quadros de depressão precoce,
ocorra em 2 a 3% das pessoas.
síndromes autísticas, transtornos ansiosos.

TRANSTORNO DO DESENVOLVIMENTO DA
TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DO
LINGUAGEM
DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM
Alterações de linguagem, como disfasias graves,
Pode ser observada como transtorno da leitura,
podem apresentar, concomitantemente,
transtorno das habilidades aritméticas,
alterações relacionais e dificuldades de
transtorno da expressão escrita, transtornos
expressão afetiva.
das habilidades motoras, transtorno do
desenvolvimento da coordenação, transtornos da
SÍNDROME DE ASPERGER
comunicação, transtorno da linguagem
Quadro teoricamente reconhecível antes dos 24
expressiva, transtorno misto da linguagem
meses, com maior prevalência no sexo masculino
receptivo-expressiva, transtorno fonológico e
em idade escolar. Inteligência próxima da
tartamudez. Seu diagnóstico diferencial é feito
normalidade, com déficit na sociabilidade, além
com os quadros de autismo de alto
funcionamento e de síndrome de Asperger. Além cromossomos sexuais parecem ter grande
disso, é observado, com frequência, uma importância na origem de alguns casos de
hiperlexia. autismo. Em consequência, com a maior acurácia
das pesquisas clínicas, muitas síndromes ligadas
TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E ao complexo “autismo” devem ser identificadas
HIPERATIVIDADE nos próximos anos, de forma que os
O quadro clínico caracteriza crianças irritadiças, conhecimentos sobre a área devem aumentar de
com choro fácil, sono agitado e despertares modo significativo em um futuro próximo.
noturnos. A partir do 1º ano de idade,
observam-se agitação psicomotora, prejuízos
no desenvolvimento da fala, omissões e
distorções fonêmicas, além de um ritmo
Está envolvida na melhoria de sintomas
acelerado (taquilalia); incoordenação motora e
psiquiátricos ou de conduta que interferem na
retardo na aquisição de automatismos tardios,
habilidade em participar dos sistemas
com desenvolvimento da noção temporoespacial
educacionais, sociais, laborais e familiares, bem
mais lento.
como na melhora da resposta positiva a outras
formas de intervenção para esses pacientes. Os
problemas de relacionamento social e
ESQUIZOFRENIA
comunicação são menos responsivos as
Seu início é insidioso, principalmente na chamada
medicações.
esquizofrenia de início muito precoce.
Observam-se alucinações auditivas, parte das
Considerando a infância precoce, encontra-se
quais concomitantes a alucinações cenestésicas
maior prevalência de condutas estereotipadas e
ou visuais, alterações de pensamento, com
irritabilidade (crises de birra), enquanto, na
prejuízo na associação de ideias, bloqueio de
infância tardia, observa-se maior intensidade de
pensamento e delírios, além de baixo
condutas tique-like, agressividade e condutas
rendimento intelectual.
automutilatórias. Na adolescência e na idade
adulta, são encontrados com mais frequência
TRANSTORNO OPOSICIONAL DESAFIANTE
quadros de depressão e fenômenos
É um padrão de comportamento negativista,
obsessivo-compulsivos.
hostil e desafiador, em que se encontram
presentes perda da calma associada a discussões
Categoria I (seção I): drogas ativas no
com adultos, desacato e recusa ativa em
sistema dopaminérgico
obedecer a solicitações ou regras, adotando
1. Haloperidol (antagonista dopaminérgico): seus
comportamentos deliberadamente incomodativos
efeitos têm sido amplamente estudados, e os
e responsabilizando os demais por erros ou mau
resultados mostram alta eficiência em alguns
comportamento.
sintomas (prejuízo nas condutas sociais,
condutas estereotipadas) e nos prejuízos
IMPORTANTE: As anormalidades genéticas
comportamentais que podem estar associados ao
mais comumente citadas são deleções envolvendo
autismo (condutas agressivas, hiperatividade).
os cromossomos 7q, 22q13, 2q37, 18q e Xp, assim
Os efeitos colaterais, principalmente o risco de
como as aneuploidias dos cromossomos sexuais
discinesia tardia, aumentam a preferência pelos
(47,XYY e mosaicismo 45,X/46,XY). Os
antipsicóticos atípicos, associada a risco mais 4. Clonidina: trata eficientemente alguns casos
baixo. de comportamento agressivo e hiperatividade.
2. Risperidona (antagonista dopaminérgico e
serotoninérgico): em diversos estudos (somente
alguns poucos foram controlados), indicou
efeitos positivos sobre o comportamento, sendo
muito bem tolerada.

Categoria I (seção II): drogas ativas no


sistema serotoninérgico
1. Clomipramina: após resultados promissores, a
eficiência em médio prazo diminui, com diversos
efeitos colaterais limitando seu uso.

2. Fluoxetina, fluvoxamina, sertralina (drogas


serotonina-específicas): sua eficiência foi
testada e contrastada em estudos abertos. Em
alguns casos, a conduta social melhorou e a
agressividade e condutas estereotipadas
diminuíram.
3. Fenfluramina: fora de circulação pelo risco de
gerar doença valvular regurgitante grave.

Categoria I (seção III): drogas ativas no


sistema opiáceo
1. Naltrexona: estudos controlados indicaram
melhora nas condutas sociais e agressivas,
embora tenham utilizado amostras reduzidas,
não sendo replicados.

Categoria II: drogas ativas em distúrbios


neuroquímicos presentes no autismo, mas não
envolvendo sintomas específicos do autismo
1. Buspirona: agonista serotoninérgico que pode
mostrar bom impacto sobre transtornos
emocionais e transtornos do sono.
2. Metilfenidato: a maioria dos estudos sobre
esse composto noradrenérgico envolve crianças,
com resultados variáveis e efeitos paradoxais
que podem ocorrer em indivíduos com retardo
mental grave associado.
3. Propranolol: estudos isolados relataram sua
eficiência em transtornos comportamentais.

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