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Unidade II
5 FÁRMACOS ANTI‑INFLAMATÓRIOS QUE ATUAM NO TRATO RESPIRATÓRIO
5.1 Anti‑inflamatórios
O processo inflamatório é uma resposta tecidual desencadeada por danos aos tecidos vivos.
A resposta inflamatória é um mecanismo de defesa que evoluiu em organismos superiores
para protegê‑los de infecções e lesões. Seu objetivo é localizar e eliminar o agente prejudicial
e remover componentes de tecido danificados para que o organismo possa se regenerar ou
cicatrizar. A resposta consiste em mudanças no fluxo sanguíneo, aumento da permeabilidade
dos vasos sanguíneos e migração de fluidos, proteínas e glóbulos brancos (leucócitos) da
circulação para o local do dano tecidual. Uma resposta inflamatória que dura apenas alguns
dias é chamada de inflamação aguda, enquanto uma resposta de maior duração é referida
como inflamação crônica.
Embora a inflamação aguda seja geralmente benéfica, muitas vezes, causa sensações
desagradáveis, como a dor ou prurido (nas picadas de insetos). O desconforto geralmente é
temporário e desaparece quando a resposta inflamatória termina. Mas, em alguns casos, a
inflamação pode causar danos. A destruição do tecido pode ocorrer quando os mecanismos
regulatórios da resposta inflamatória são defeituosos ou há incapacidade de remover o tecido
danificado e quando há presença de substâncias estranhas ao organismo. Em outros casos,
uma resposta imune inadequada pode dar origem a uma resposta inflamatória prolongada e
prejudicial. Os exemplos incluem reações alérgicas ou de hipersensibilidade, em que um agente
ambiental, como o pólen, que normalmente não representa ameaça para o indivíduo, estimula a
inflamação e reações autoimunes, nas quais a inflamação crônica é desencadeada pela resposta
imune do corpo contra seus próprios tecidos.
Os fatores que podem estimular a inflamação incluem microgarnismos, agentes físicos, produtos
químicos, respostas imunológicas inapropriadas e morte de tecidos. Agentes infecciosos como vírus e
bactérias são alguns dos estímulos mais comuns da inflamação. Os vírus originam inflamação ao entrar
e destruir células do corpo; as bactérias liberam substâncias chamadas de endotoxinas que podem iniciar
a inflamação. Traumas físicos, queimaduras, radiações e congelamento podem danificar os tecidos e
também causar inflamação, como podem produtos químicos corrosivos, como ácidos, álcalis e agentes
oxidantes. Conforme mencionado acima, as respostas imunológicas com defeito podem incitar a uma
resposta inflamatória inadequada e prejudicial. A inflamação também pode resultar quando os tecidos
morrem por falta de oxigênio ou nutrientes, uma situação que, muitas vezes, é causada pela perda de
fluxo sanguíneo para a área danificada.
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Unidade II
Lembrete
5.1.1 Analgésicos
Um fármaco analgésico é qualquer membro do grupo de drogas usadas para alcançar analgesia,
alívio da dor. Os fármacos analgésicos atuam de várias maneiras nos sistemas nervoso periférico e
central. Eles são distintos dos anestésicos, que afetam temporariamente e, em alguns casos, eliminam
completamente a sensação de dor. Os analgésicos incluem o paracetamol (conhecido na América do
Norte como acetaminofeno ou simplesmente Apap), os antiinflamatórios não esteroides (Aines), como
os salicilatos e os medicamentos opióides, como a morfina e a oxicodona.
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NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
5.1.2 Antipiréticos
Fármacos antipiréticos são substâncias que reduzem a febre. Os antipiréticos fazem com que o
hipotálamo não aumente a temperatura corpórea em resposta a presença da prostaglandina. O
corpo então trabalha para diminuir a temperatura, o que resulta em redução da febre. A maioria dos
medicamentos antipiréticos tem outros propósitos. Os antipiréticos mais comuns nos Estados Unidos
são ibuprofeno e aspirina, que são anti‑inflamatórios não esteroides (Aines) usados principalmente
como analgésicos, mas que também possuem propriedades antipiréticas. E paracetamol, um analgésico
com propriedades anti‑inflamatórias fracas.
Há algum debate sobre o uso adequado de tais medicamentos, pois a febre é parte da resposta
imune do organismo à infecção. Um estudo publicado pela Royal Society alega que a supressão da febre
causa pelo menos 1% mais casos de morte por gripe, o que resultaria em pelo menos 700 mortes extras
por ano apenas nos Estados Unidos.
• Ácido acetilsalicílico (AAS): o As é o protótipo dos Aines tradicionais e aprovado nos Estados
Unidos desde 1939. 1 – Mecanismo de ação: atua na acetilação irreversível (e dessa forma
inativando) a COX. A metabolização do AAS leva a formação do ácido salicílico que possui ação
anti‑inflamatória, antipirética e analgésica. Os efeitos antipiréticos e anti‑inflamatórios dos
salicilatos são devidos ao bloqueio da síntese de prostaglandinas no centro termorregulador do
hipotálamo e nos sítios‑alvo da periferia. 2 – Indicação: os derivados do ácido acetilsalicílico
são utilizados no tratamento de gota, febre reumatoide, osteoartrite e artrite reumatoide. Estes
fármacos também são usados para tratar condições comuns que requerem analgesia (cefaleia,
artralgia e mialgia) devido aos seus efeitos anti‑inflamatórios, analgésicos e antipiréticos.
O AAS é utilizado topicamente no tratamento de acne, calosidades, calos ósseos e verrugas.
Outra utilização desse fármaco é na inibição da aglutinação plaquetária. Assim, doses baixas do
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Unidade II
AAS são empregadas profilaticamente para reduzir os riscos de ataques isquêmicos transitórios,
acidente vascular encefálico, reduzir os riscos de infarto do miocárdio recorrente e o risco
cardiovascular em pacientes submetidos a certos procedimentos de revascularização. 3 – Efeitos
adversos: o AAS pode desencadear inúmeras reações adversas entre elas no trato gastrointestinal
com irritação epigástrica, náuseas, êmese e sangramento; no sistema circulatório pode provocar
sangramentos e por isso deve ser descontinuado uma semana antes de procedimentos cirúrgicos;
atua no sistema respiratório e nervoso e pode provocar depressão respiratória, acidose respiratória
e metabólica.
• Derivados do ácido heteroarila acético: são exemplos de fármacos dessa classe diclofenaco e
cetorolaco.
• Inibidores seletivos da COX‑2: os principais fármacos dessa categoria são a nimesulida, o celecoxibe
e o etoricoxibe.
Observação
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NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
Os corticóides são distinguidos dos mineralocorticóides e esteroides sexuais por seus receptores
específicos, células‑alvo e efeitos. Em termos de termos técnicos, o “corticosteroide” refere‑se tanto
aos glicocorticoides como aos mineralocorticóides (uma vez que ambos são imitadores de hormônios
produzidos pelo córtex adrenal), mas é frequentemente usado como sinônimo de “glicocorticoide”.
Os glicocorticoides são produzidos principalmente na zona fasciculata do córtex adrenal, enquanto
os mineralocorticóides são sintetizados na zona glomerulosa. O cortisol (ou hidrocortisona) é o
glicocorticóide humano mais importante. É essencial para a vida, e regula ou suporta uma variedade
de funções cardiovasculares, metabólicas, imunológicas e homeostáticas importantes. Vários
glicocorticóides sintéticos estão disponíveis. Estes são amplamente utilizados na prática médica geral
e inúmeras especialidades, quer como terapia de reposição na deficiência de glicocorticoide ou para
suprimir o sistema imunológico.
Fosfolipídeos de
membrana
Anti-inflamatórios
esteroidais: FOSFOLIPASE A2
prednisona,
dexametasona
Ácido araquidônico
Anti-inflamatórios
não esteroidais:
CICLOOXIGENASE‑1 indometacina,
CICLOOXIGENASE‑2 aspirina rofecoxib
Prostaglandinas Tromboxano
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Unidade II
Os AIEs comercializados como anti‑inflamatórios são muitas vezes formulações tópicas, tais como
pulverizações nasais para rinite ou inaladores para asma. Esses preparativos têm a vantagem de afetar
apenas a área visada, reduzindo assim os efeitos colaterais ou potenciais interações. Nesses casos, os
principais compostos utilizados são beclometasona, budesonida, fluticasona, mometasona e ciclesonida.
Para rinite, são utilizados sprays. Para a asma, os glicocorticoides são administrados como inalantes
com um inalador de pó com dose medida ou com pó seco. A seguir, apresentamos lista dos principais
fármacos utilizados como AIEs:
Efeitos adversos
Os Aies atualmente utilizados atuam de forma não seletiva, de modo que, a longo prazo, podem prejudicar
muitos processos anabolizantes saudáveis. Para evitar isso, muitas pesquisas foram focadas recentemente na
elaboração de medicamentos com glicocorticoides de ação seletiva. Os efeitos adversos incluem:
• Imunodeficiência.
• Ganho de peso devido ao aumento da deposição de gordura visceral e truncal (obesidade central)
e estimulação do apetite.
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NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
• Insuficiência adrenal (se for usada por muito tempo e parar de repente).
As principais doenças que afetam o trato respiratório são a asma, a rinite alérgica e a doença
pulmonar crônica obstrutiva (DPOC). Cada uma dessas condições pode estar associada com tosse
incoercível, que pode ser a única queixa do paciente. A asma é uma doença crônica caracterizada
por vias aéreas hiper‑responsivas, que afetam milhões de pacientes (7% da população brasileira),
resultando anualmente em 1 milhão de atendimentos de emergência, 150 mil hospitalizações e 3 mil
mortes por ano. A DPOC, que inclui enfisema e bronquite crônica, pode afetar mais de 12 milhões de
pessoas no Brasil. A rinite alérgica, caracterizada por olhos lacrimejantes, prurido, rinorreia e tosse
não produtiva é uma condição extremamente comum que diminui a qualidade de vida segundo os
pacientes. A tosse é uma defesa respiratória importante contra os agentes irritantes e é citada como a
principal razão pela qual os pacientes procuram cuidados médicos. A tosse coercível pode representar
diversas etiologias, como resfriado, sinusite ou doença respiratória crônica subjacente.
5.2.1 Antiasmáticos
A asma é uma doença das vias aéreas caracterizada por episódios de broncoconstrição aguda,
causando encurtamento da respiração, tosse, tensão torácica, respiração ruidosa e rápida. Esses
sintomas agudos podem resolver espontaneamente com exercícios de relaxamento não farmacológico
ou com fármacos de alívio rápido, como um agonista beta‑2 adrenérgico de ação curta. A asma é
uma doença crônica com fisiopatologia inflamatória subjacente que, se não tratada, pode evoluir em
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Unidade II
remodelação das vias aéreas, resultando em agravamento e incidência de exacerbações e/ou morte.
Mortes decorrentes de asma são relativamente infrequentes, mas a morbidade significativa resulta em
altos custos de atendimento e ambulatorial, numerosas hospitalizações e redução na qualidade de vida.
Cavidade nasal
Faringe
Laringe
Brônquio principal
Pulmão
Os fármacos utilizados no tratamento das doenças respiratórias podem ser aplicados topicamente
na mucosa nasal, inalados ou administrados por via oral ou parenteral para a absorção sistêmica. Os
métodos de aplicação local, como nebulizadores ou inaladores, são preferidos, pois o fármaco atinge
o tecido‑alvo e minimiza os riscos sistêmicos. Os objetivos do tratamento da asma são diminuir a
intensidade e a frequência dos sintomas e o grau de limitações que o paciente apresenta devido a esses
sintomas. Todos os pacientes necessitam de medicação de alívio rápido para tratar de sintomas agudos.
O tratamento farmacológico para controle de longo prazo objetiva reverter e prevenir a inflamação das
vias aéreas. As principais classes terapêuticas estão listadas a seguir:
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NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
• Beta‑2 agonistas adrenérgicos: essa classe terapêutica é dividida em fármacos de alívio rápido e
fármacos para controle a longo prazo.
rápido na broncoconstrição aguda. Todos os pacientes asmáticos devem fazer uso de um BACA.
3 Efeitos adversos: taquicardia, hiperglicemia, hipopotassemia, hipomagnesemia e tremores dos
músculos esqueléticos.
• Controle por longo prazo (salmeterol e formoterol): são beta‑2 agonistas de longa duração
(BALAs) e são parecidos quimicamente com o salbutamol. Promovem broncodilatação por
12 horas. 1 – Mecanismo de ação: são semelhantes aos BACAs possuem apenas tempo de meia
vida maior. 2 – Indicação: não devem ser empregados como monoterapia e nem para alívio
rápido durante o ataque de asma aguda. São considerados úteis como tratamento auxiliar para
esse controle. 3 – Efeitos adversos: são similares aos efeitos adversos dos BACAs.
• Corticosteroides (CSIs): Os CSIs são fármacos de escolha para controle de longo prazo em
pacientes com algum grau de asma persistente e estão nesta categoria os fármacos prednisolona,
metilprednisolona, prednisona, beclometasona, budesonida, mometasona e fluticasona.
1 – Mecanismo de ação: Os CSIs inibem a liberação de ácido araquidônico por meio da
inibição da fosfolipase A2, produzindo assim efeito anti‑inflamatório direto nas vias aéreas.
O mecanismo detalhado já foi apresentado anteriormente. Não afetam diretamente o músculo
liso das vias aéreas. Ao contrário, os CSIs inalados visam diretamente a inflamação subjacentes
das vias aéreas, diminuindo a cascata inflamatória, revertendo o edema da mucosa, diminuindo
a permeabilidade dos capilares e inibindo a liberação de leucotrienos. Após algum período de
administração os CSIs diminuem a responsividade das vias aéreas aos alérgenos como irritantes,
ar frio e exercício. 2 – Indicação: nenhuma outra medicação é tão eficaz no tratamento da
asma crônica em longo prazo que os CSIs tanto em crianças como em adultos. Devem ser
usados regularmente para obter a máxima eficácia. A asma grave e persistente pode exigir o uso
de glicocorticoides oral. 3 Efeitos adversos: candidíase orofarígea, rouquidão. Pode apresentar
efeitos sistêmicos semelhantes a outros CSIs.
Medicação Indicação
Levossalbutamol Asma, DPOC
Salbutamol Asma, DPOC
Salmeterol Asma, DPOC
Formoterol Asma, DPOC
Beclometasona Rinite alérgica, asma, DPOC
Budesonida Rinite alérgica, asma, DPOC
Ciclesonida Rinite alérgica
Fluticasona Rinite alérgica, asma, DPOC
Mometasona Rinite alérgica, asma
Ipratrópio Rinite alérgica, DPOC
Tiotrópio DPOC
Montelucaste Asma, rinite alérgica
Zafirlucaste Asma
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NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
5.2.2 Antialérgicos
A rinite alérgica, também conhecida como febre do feno, é um tipo de inflamação no nariz que
ocorre quando o sistema imune reage em excesso aos alérgenos no ar. Sinais e sintomas incluem um
nariz entupido, espirros, olhos vermelhos, pruridos e inchaço ao redor dos olhos. O líquido do nariz
geralmente é claro. O início do sintoma é geralmente em poucos minutos após a exposição e pode afetar
o sono, a capacidade de trabalhar e a capacidade de se concentrar na escola. Aqueles cujos sintomas são
devidos ao pólen geralmente desenvolvem sintomas durante épocas específicas do ano. Muitas pessoas
com rinite alérgica também têm asma, conjuntivite alérgica ou dermatite atópica.
A rinite alérgica geralmente é desencadeada por alérgenos ambientais, como pólen, pelos, poeira ou
mofo. A genética hereditária e as exposições ambientais contribuem para o desenvolvimento de alergias.
Crescer em uma fazenda e ter múltiplos irmãos diminui o risco. O mecanismo subjacente envolve
anticorpos IgE associados ao alérgeno e causa a liberação de substâncias químicas inflamatórias, como a
histamina dos mastócitos. O diagnóstico geralmente é baseado em uma história médica em combinação
com um teste cutâneo ou exames de sangue para anticorpos IgE específicos para alérgenos. Esses testes,
no entanto, às vezes são falsamente positivos. Os sintomas das alergias se assemelham aos do resfriado
comum; no entanto, eles geralmente duram mais de duas semanas e tipicamente não incluem febre.
Dentre as opções de medicamentos para tratamento da rinite alérgica estão:
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Unidade II
O tabagismo é a causa mais comum de DPOC, com fatores como poluição do ar e genética
desempenhando um papel menor. A exposição prolongada a estes irritantes provoca uma resposta
inflamatória nos pulmões, resultando no estreitamento das pequenas vias aéreas e na lesão do
tecido pulmonar. O diagnóstico é baseado no fluxo de ar pobre, conforme medido pelos testes
de função pulmonar. Em contraste com a asma, a redução do fluxo de ar não melhora muito com
o uso de um broncodilatador.
A maioria dos casos de DPOC pode ser prevenida através da redução da exposição a fatores de risco.
Isso inclui diminuir as taxas de tabagismo e melhorar a qualidade do ar interior e exterior. Enquanto o
tratamento pode retardar a piora, não há cura. Os tratamentos de DPOC incluem interrupção do tabagismo,
vacinações, reabilitação respiratória e, muitas vezes, broncodilatadores e esteroides inalatórios. Algumas
pessoas podem se beneficiar de oxigenoterapia a longo prazo ou transplante pulmonar. Naqueles que
têm períodos de agravamento agudo, pode ser necessário um aumento no uso de medicamentos e
hospitalização.
Em 2015, a DPOC afetou cerca de 174,5 milhões (2,4%) da população global. Geralmente ocorre em
pessoas com mais de 40 anos independente do sexo. Ainda em 2015, a DPOC resultou em 3,2 milhões de
mortes, contra 2,4 milhões de mortes em 1990. Mais de 90% dessas mortes ocorrem no mundo em
desenvolvimento. Prevê‑se que o número de mortes aumente ainda mais devido ao aumento das taxas de
tabagismo no mundo em desenvolvimento e ao envelhecimento da população em muitos países.
Ainda não existe uma cura conhecida para a DPOC, mas os sintomas são tratáveis e sua progressão
pode ser adiada. Os principais objetivos do tratamento são reduzir fatores de risco, gerenciar DPOC
estável, prevenir e tratar exacerbações agudas e gerenciar doenças associadas. As únicas medidas que
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NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
foram mostradas para reduzir a mortalidade são a cessação do tabagismo e a administração de oxigênio
suplementar. Parar de fumar diminui o risco de morte em 18%. Outras recomendações incluem vacinação
contra a gripe uma vez por ano, vacinação pneumocócica uma vez a cada cinco anos e redução da
exposição à poluição ambiental do ar. Naqueles com doenças avançadas, os cuidados paliativos podem
reduzir os sintomas, com a morfina melhorando os sentimentos de falta de ar. A ventilação não invasiva
pode ser usada para suportar a respiração. Fornecer às pessoas um plano de ação personalizado, uma
sessão educacional e apoio ao uso de seu plano de ação em caso de exacerbação, reduz o número
de visitas hospitalares e incentiva o tratamento precoce de exacerbações. Dentre os tratamentos
farmacológicos incluem‑se:
recomenda a sua utilização. Durante exacerbações agudas, muitos requerem oxigenoterapia; o uso
de altas concentrações de oxigênio sem levar em conta as saturações de oxigênio de uma pessoa
pode levar a níveis aumentados de dióxido de carbono e a piora dos resultados. Nos pacientes com
alto risco de altos níveis de dióxido de carbono, recomenda‑se saturações de oxigênio de 88‑92%,
enquanto que para aqueles sem esse risco, os níveis recomendados são de 94‑98%
6 ANTIBIÓTICOS
Os antibióticos são comumente classificados com base em seu mecanismo de ação, estrutura química
ou espectro de atividade. Aqueles que visam a parede celular bacteriana (penicilinas e cefalosporinas), ou a
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NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
membrana celular (polimixinas), ou interferem com enzimas bacterianas essenciais (rifamicinas, lipiarmicinas,
quinolonas e sulfonamidas) têm atividades bactericidas, ou seja, agem levando o microrganismo à morte. Os
inibidores da síntese de proteínas (macrolídeos, lincosamidas e tetraciclinas) são geralmente bacteriostáticos,
ou seja, impedem o crescimento e proliferação do microrganismo (com exceção dos aminoglicosídeos
bactericidas). A categorização adicional é baseada na especificidade de seu destino. Os antibióticos de
“espectro estreito” visam tipos específicos de bactérias, como gram‑negativos ou gram‑positivos, enquanto
os antibióticos de amplo espectro afetam uma ampla gama de bactérias. Após uma interrupção de 40 anos
na descoberta de novas classes de compostos antibacterianos, quatro novas classes de antibióticos foram
trazidas para uso clínico no final dos anos 2000 e início de 2010: lipopeptídeos cíclicos (como daptomicina),
glicilciclinas (como tigeciclina), oxazolidinonas (como linezolide) e lipiarmicinas (como a fidaxomicina). Neste
livro-texto, optou‑se por classificar os agentes antimicrobianos pela sua estrutura química, assim, a seguir,
serão apresentadas as principais classes de antimicrobianos usadas na terapêutica
Parede Inibidores das funções
Membrana celular da membrana celular
celular – Isoniazida
DNA – Anfotericina B
ATHF – Polimixina
Inibidores do Ribossomos RNAm
metabolismo PABA
Inibidores da função ou
– Sulfonamidas síntese dos ácidos nucleicos
– Trimetoprima – Fluoroquinolonas
– Rifampicina
Inibidores da síntese Inibidores da síntese
de parede celular de proteínas
– β‑lactâmicos – Tetracidinas
– Vancomicina – Aminoglicosideos
– Daptomicina – Macrolidos
– Telavancina – Clindamicina
– Fosfomicina – Cloranfenicol
– Linezolida
6.1 Antibacterianos
A terminologia antibacterianos se refere a fármacos que têm efeito sobre bactérias, sendo bactericidas
ou bacteriostáticos. Em algumas situações esses fármacos podem também desencadear respostas em
outros microrganismos.
6.1.1 Sulfonamidas
As sulfas raramente são prescritas como fármacos únicos, exceto em países em desenvolvimento,
onde continuam sendo empregadas graças a seu baixo custo e à sua eficácia. Entre as sulfas utilizadas
na terapêutica encontra‑se a sulfametoxazol e o cotrimoxazol.
do PABA. Devido a sua semelhança estrutural com o PABA, elas competem com esse substrato pela
enzima bacteriana, a di‑hidropteroato sintase. As sulfas são consideradas bacteriostáticas.
• Indicação/espectro de ação: as sulfas são ativas contra infecções do trato urinário por
Enterobactérias e Nocardia. Além disso, podem ser usadas se associadas a outros fármacos para o
tratamento da toxoplasmose ou como antimalárica.
• Resistência: bactérias que conseguem obter o folato de ambiente são naturalmente resistentes
às sulfonamidas. A resistência bacteriana pode ser adquirida pela transferência de plasmídeos
ou por mutações aleatórias. A resistência em geral é irreversível e pode ser devida 1) à alteração
da di‑hipteroato sintase; 2) à diminuição da permeabilidade celular às sulfonamidas; 3) à maior
produção o substrato natural, o PABA.
• Efeitos adversos: entre os principais efeitos adversos observados estão a cristalúrica (formação
de cristais do fármaco nos rins), hipersensibilidade, distúrbios hematopoiéticos e icterícia
nuclear (kernicterus).
6.1.3 Penicilinas
As penicilinas estão entre os fármacos mais amplamente eficazes e também entre os menos tóxicos
conhecidos, mas o aumento da resistência limitou o seu uso. Os membros dessa família diferem entre
si apenas em uma porção da estrutura química, porém essa diferença afeta o espectro antimicrobiano,
a estabilidade no suco gástrico, a hipersensibilidade cruzada e a suscetibilidade às enzimas bacterianas
de degradação, conhecidas como betalactamases. Entre os fármacos desta família estão a amoxicilina,
ampicilina, benzilpenicilina (penicilina G), dicloxacilina, oxacilina e ticarcilina.
• Indicação/espectro de ação: o espectro das várias penicilinas é determinado, em parte pela sua
capacidade de atravessar a parede celular da bactéria. Fatores que determinam a suscetibilidade
a esses antimicrobianos incluem tamanho, carga e hidrofobicidade dos antimicrobianos. Em geral,
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NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
• Resistência: resistência natural ocorre em microgarnismos que não possuem parede celular de
peptidoglicano ou que têm paredes impermeáveis a esses fármacos. A aquisição de resistência
às penicilinas por betalactamases mediadas por plasmídeos tornou‑se um problema clínico
importante. A multiplicação dessas cepas resistentes aumenta a disseminação dos genes de
resistência. Obtendo resistência por plasmídeo, a bactéria pode adquirir uma ou mais propriedades
descritas a seguir, permitindo‑lhe sobreviver na presença de antimicrobianos betalactâmicos.
Dentre as formas de resistência estão a presença de betalactamases, enzimas capazes de destruir
fármacos betalactâmicos; a diminuição da permeabilidade celular ao antimicrobiano ou alterações
nos componentes da parede bacteriana como os peptidoglicanos.
• Efeitos adversos: dentre as principais reações adversas apresentadas pelas penicilinas estão
hipersensibilidade, diarreia, nefrite, neurotoxicidade e toxicidade hematológica.
6.1.4 Cefalosporinas
• Mecanismo de ação: as cefalosporinas são bactericidas e têm o mesmo modo de ação que os
outros antibióticos β‑lactâmicos (como penicilinas), mas são menos suscetíveis às β‑lactamases. As
cefalosporinas perturbam a síntese da camada de peptidoglicano formando a parede celular bacteriana.
A camada de peptidoglicano é importante para a integridade estrutural da parede celular.
— Primeira geração: entre os fármacos desta geração estão a cefazolina, a cefodroxila e a cefalexina.
São ativas contra gram‑positivo estafilococos sensíveis à meticilina e estreptococos produtoras
de penicilinase (embora não sejam as drogas de escolha para tais infecções). Não há atividade
contra estafilococos resistentes à meticilina ou enterococos. Em gram‑negativo tem
atividade contra Proteus mirabilis, algumas Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae.
— Segunda geração: fazem parte desta geração a cefuroxima e a axetil cefuroxima. Tem ação
sobre gram‑positivo menor do que a primeira geração, porém agem em gram‑negativo mais do
que ele, entre elas em Haemophilus influenzae, Enterobacter aerogenes e algumas Neisserias.
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Unidade II
— Terceira geração: são integrantes desta geração a cefixima, ceftriaxona e ceftibuteno. Agem em
gram‑positivo, em especial em alguns membros deste grupo (em particular, aqueles disponíveis
em uma formulação oral e aqueles com atividade antipseudomonal). Já em gram‑negativas, as
cefalosporinas de terceira geração possuem um amplo espectro de atividade e um aumento da
atividade em relação aos organismos gram‑positivos. Eles podem ser particularmente úteis no
tratamento de infecções adquiridas no hospital, embora os níveis crescentes de betalactamases
de espectro estendido estejam reduzindo a utilidade clínica desta classe de antibióticos.
Eles também são capazes de penetrar no sistema nervoso central, tornando‑os úteis contra
a meningite causada por pneumococos, meningococos, H. influenzae e suscetíveis a E. coli,
Klebsiella e N. gonorrhoeae resistentes à penicilina. Desde agosto de 2012, a cefalosporina de
terceira geração, ceftriaxona, é o único tratamento recomendado para a gonorreia (além da
azitromicina ou doxiciclina para o tratamento concomitante de Chlamydia). Cefixima já não
é recomendado como tratamento de primeira linha devido a evidências de suscetibilidade
decrescente. A atividade contra estafilococos e estreptococos é menor com os compostos de
terceira geração do que com os compostos de primeira e segunda geração.
— Quarta geração: estão entre os membros desta geração a cefepima. São agentes do espectro
estendido com atividade similar contra organismos gram‑positivos como cefalosporinas de
primeira geração. Eles também têm maior resistência às β‑lactamases do que as cefalosporinas
de terceira geração. Muitos podem atravessar a barreira hematoencefálica e são eficazes na
meningite. Eles ainda são usados contra Pseudomonas aeruginosa.
— Quinta geração ou geração avançada: o ceftobiprole foi descrito como cefalosporina de quinta
geração, embora a aceitação desta terminologia não seja universal. O ceftobiprole apresenta
características antipseudomonais poderosas e parece ser menos suscetível ao desenvolvimento
da resistência. A ceftarolina também foi descrita como cefalosporina de quinta geração, mas
não tem cobertura antipseudomonal. Eftolozana é uma nova opção para o tratamento de
infecções intra‑abdominais complicadas (CIAI) e infecções do trato urinário. O ceftolozano é
combinado com o inibidor de β‑lactamase tazobactam, uma vez que as infecções bacterianas
multirresistentes a fármacos geralmente apresentam resistência a todos os antibióticos de
β‑lactâmicos, a menos que esta enzima seja inibida.
• Efeitos adversos: incluem diarreia, náuseas, erupção cutânea, distúrbios eletrolíticos e dor, inflamação no
local da injeção, vômitos, dor de cabeça, tonturas, candidíase oral e vaginal, colite pseudomembranosa,
superinfecção, eosinofilia, nefrotoxicidade, neutropenia, trombocitopenia e febre.
As betalactamases são uma família de enzimas envolvidas na resistência bacteriana aos antibióticos
betalactâmicos. Eles atuam quebrando o anel betalactâmico que permite que os antibióticos tipo
penicilina funcionem. Estratégias para combater esta forma de resistência incluíram o desenvolvimento
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NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
Os inibidores de β‑lactamase atualmente comercializados não são vendidos como drogas individuais.
Em vez disso, eles são coformulados com um β‑lactâmico que tem uma semivida sérica semelhante. Isto
é feito não só para conveniência de dosagem, mas para minimizar o desenvolvimento da resistência que
pode ocorrer como resultado da exposição variável a um ou outro medicamento. As principais classes
de antibióticos β‑lactâmicos utilizados para tratar infecções bacterianas gram‑negativas incluem
penicilinas (em ordem de resistência intrínseca à clivagem por β‑lactamases), cefalosporinas de terceira
geração e carbapenemas. As variantes individuais de β‑lactamase podem atingir uma ou várias dessas
classes de drogas, apenas um subconjunto será inibido por um determinado inibidor de β‑lactamase.
Os inibidores de β‑lactamase expandem o espectro útil destes antibióticos de β‑lactâmicos inibindo as
enzimas de β‑lactamase produzidas por bactérias para desativá‑las. Entre eles estão ácido clavulânico ou
clavulanato, geralmente combinado com amoxicilina (Augmentin) ou ticarcilina (Timentina); sulbactam,
geralmente combinado com ampicilina (Unasyn) ou Cefoperazona (Sulperazon); tazobactam, geralmente
combinado com piperacilina (Zosyn).
6.1.6 Tetraciclinas
A tetraciclina é um antibiótico usado para tratar uma série de infecções. Isso inclui acne, cólera,
brucelose, peste, malária e sífilis.
• Resistência: a resistência natural às tetraciclinas mais frequente é uma bomba de efluxo que a
expele para fora das células, impedindo assim, o seu acúmulo intracelular. Outros mecanismos de
resistência às tetraciclinas incluem a inativação enzimática e produção de proteínas bacterianas
que impedem a ligação da tetraciclina no ribossomo.
75
Unidade II
• Efeitos adversos: os efeitos adversos mais comuns incluem vômitos, diarreia, erupção cutânea
e perda de apetite, desenvolvimento dentário deficiente, se usado por crianças com menos de
oito anos de idade, problemas renais e queimaduras solares. O uso durante a gravidez pode
prejudicar o bebê.
6.1.7 Aminoglicosídeos
• Indicação/espectro de ação: são eficazes contra a maioria dos bacilos aeróbicos gram‑negativos,
incluindo os que podem ser resistentes a múltiplos fármacos como Pseudomonas aeruginosa,
Klebisiela pneumoniae e Enterobacter sp. Além disso, os aminoglicosídeos são associados com
frequência a antibióticos betalactâmicos para obter efeito sinérgico.
6.1.8 Macrolídeos
Os macrolídeos são um grupo de antimicrobianos com uma estrutura lactona macrocíclica à qual
estão ligados um ou mais açúcares. Dentre os fármacos desta classe estão a eritromicina, azitromicina,
claritromicina e telotromicina.
• Mecanismo de ação: os macrolídeos são inibidores da síntese proteica. O mecanismo de ação dos
macrolídeos é a inibição da biossíntese de proteínas bacterianas, eles impedem a elongação da
cadeia polipetídica nos ribossomos de forma semelhante ao cloranfenicol, bem como inibindo
a tradução ribossomal. Outro mecanismo potencial é a dissociação prematura do peptidil‑tRNA
do ribossomo. Os antibióticos macrolídeos fazem isso ligando‑se reversivelmente ao local na
subunidade 50S do ribossomo bacteriano. Essa ação é considerada bacteriostática.
76
NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
• Indicação/espectro de ação: os macrolídeos são usados para tratar infecções causadas por bactérias
gram‑positivas (por exemplo, Streptococcus pneumoniae) e limitadas gram‑negativas (por
exemplo, Bordetella pertussis, Haemophilus influenzae) e algumas infecções do trato respiratório
e do tecido mole. O espectro antimicrobiano dos macrolídeos é ligeiramente maior do que o da
penicilina e, portanto, eles são um substituto comum para pacientes com alergia à penicilina.
Os estreptococos beta‑hemolíticos, pneumococos, estafilococos e enterococos são geralmente
suscetíveis a macrolídeos. Ao contrário da penicilina, os macrolídeos demonstraram ser eficazes
contra Legionella pneumophila, micoplasma, micobactérias, Rickettsia e clamídia.
• Resistência: o principal meio de resistência bacteriana aos macrolídeos ocorre pela metilação
pós‑transcricional do ARN ribossômico bacteriano 23S. Essa resistência adquirida pode ser mediada
por plasmídeo ou de maneira cromossômica, isto é, através de mutação, e resulta em resistência
cruzada a macrolídeos. Outros dois tipos de resistência adquirida, raramente vistas, incluem a
produção de enzimas inativadoras de drogas (esterases ou quinases), bem como a produção de
proteínas de efluxo dependentes de ATP ativo que transportam o medicamento fora da célula.
Lembrete
6.2 Antifúngicos
As doenças infecciosas causadas por fungos são denominadas micoses e, com frequência,
são de natureza crônica. As infecções micóticas podem ser superficiais e envolver apenas a pele
(micoses cutâneas), e outras podem penetrar a pele, causando infecções subcutâneas ou sistêmicas.
As características dos fungos são tão singulares e diversas, sendo eucarionte com paredes celulares
rígidas composta largamente de quitina ao invés de peptidoglicano. Além disso, a membrana do fungo
contém ergosterol, em vez de colesterol, encontrado nas membranas de células de mamíferos. Essas
características estruturais são úteis no direcionamento dos fármacos a serem empregados. A seguir
estão categorizadas e sistematizadas as principais classes de antifúngicos utilizados na terapêutica.
6.2.1 Poliênicos
mais cristalino. Como resultado, o conteúdo da célula, incluindo íons monovalentes (K+, Na+, H+ e Cl‑) e
pequenas moléculas orgânicas vazam do ambiente intracelular para o ambiente extraceluar, sendo essa
a causa de morte do fungo.
As células animais contêm colesterol em vez de ergosterol e, portanto, são muito menos suscetíveis.
No entanto, em doses terapêuticas, a anfotericina B pode ligar‑se ao colesterol da membrana animal,
aumentando o risco de toxicidade humana. A anfotericina B é nefrotóxica quando administrada por via
intravenosa. À medida que a cadeia hidrofóbica de polieno é encurtada, a sua atividade de ligação ao
esterol é aumentada. Portanto, uma redução adicional da cadeia hidrofóbica pode resultar em ligação
ao colesterol, tornando‑o tóxico para os animais. Os principais fármacos dessa classe são a anfotericina
B e a nistatina.
Saiba mais
6.2.2 Imidazólicos
Os antifúngicos azóis são feitos de duas classes diferentes de fármacos: imidazois e triazóis. Ainda
que esses fármacos tenham mecanismos de ação e espectros similares, sua farmacocinética e seus usos
terapêuticos variam significativamente. Em geral, os imidazois são administrados topicamente contra
infeções cutâneas, ao passo que os triazois são usados por via sistêmica para o tratamento e profilaxia
78
NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
de infecções fúngicas cutâneas ou sistêmicas. São fármacos pertencentes a essa classe o cetoconazol,
miconazol, terconazol, fluconazol, itraconazol, voriconazol, entre outros.
• Indicação: são utilizados para tratamento de inúmeras infecções fúngicas, dentre elas a
blastomicose, esporotricose, paracoccidioidomicose e histoplasmose.
Lembrete
6.2.3 Aliaminas
• Mecanismo de ação: esses fármacos atuam inibindo a esqualeno epoxidase, bloqueando, assim a
biossíntese do ergosterol, um componente essencial da membrana celular dos fungos. O acúmulo
de quantidades tóxicas de esqualeno resulta em aumento da permeabilidade da membrana e
morte da célula fúngica.
• Indicação: são ativas contra Trichophyton. Também pode ser eficaz contra Candida e Epidermophyton.
• Mecanismo de ação: inferem com a síntese da parede fúngica por inibir a síntese dos glicanos,
levando à lise e à morte celular. Estão disponíveis para a administração, uma vez ao dia.
79
Unidade II
• Efeitos adversos: é bem tolerada, podendo apresentar eventualmente efeitos adversos como
febre, urticária, náuseas e flebite no local da injeção. Se infundida rapidamente, pode provocar
vermelhidão sistêmica.
Saiba mais
6.2.5 Griseofulvina
A griseofulvina causa ruptura do fuso mitótico e inibição da mitose do fungo. Ela é amplamente
substituída pela terbinafina oral para tratamento de onicomicose, embora continue em uso contra
dermatofitoses de escalpo e de cabelos. A griseofulvina é fungistática e requer longa duração de
tratamento. A duração do tratamento depende da velocidade de substituição da pele e das unhas.
Preparações cristalinas ultrafinas são adequadamente absorvidas no trato gastrointestinal; a absorção
aumenta com alimentos rico em gorduras. A griseofulvina se concentra na pele, nos pelos, nas unhas e
nos tecidos adiposos. O uso de griseofulvina é contraindicado para gestantes.
6.3 Antiparasitários
Os antiparasitários são uma classe de medicamentos indicados para o tratamento de doenças parasitárias,
como as causadas por helmintos, ameba, ectoparasitas, fungos parasitários e protozoários, entre outros. Os
antiparasitários visam os agentes parasitários das infecções, destruindo‑os ou inibindo seu crescimento;
geralmente são efetivos contra um número limitado de parasitas dentro de uma determinada classe.
Os Nematódeos são vermes redondos e alongados que possuem um sistema digestivo completo. Eles
causam infecções no intestino, bem como no sangue e tecido.
80
NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
são expelidos nas fezes. 2 – Indicação: o mebendazol é o fármaco de primeira escolha para o
tratamento de infecções causadas por Trichuris (tricuro), Enterobius vermicularis, Necator
americanus, Ancylostoma duodenale e Ascaris lumbricoides (lombriga). 3 – Efeitos adversos:
incluem dores abdominais e diarreia. O mebendazol não pode ser usado por gestantes.
• Ivermectina. 1 – Mecanismo de ação: atua nos receptores de canais de cloro disparados por
glutamato. O influxo de cloreto aumenta e ocorre a hiperpolarização, resultando em paralisia
e morte do helminto. 2 – Indicação: é o fármaco de escolha para o tratamento contra a larva
migrans cutânea, a estrongiloidíase e a oncocercose. Também é útil no tratamento da pediculose
(piolhos) e sarnas. 3 – Efeitos adversos: a morte da microfilária na oncocercose pode causar a
perigosa reação de Mazzotti (febre, cefaleia, tontura, sonolência e hipotensão). A gravidade desta
reação é proporcional à carga parasitária.
81
Unidade II
6.4 Antiprotozoários
• Indicação: os antiprotozoários são usados para tratar infecções protozoárias, que incluem
amebíase, giardíase, criptosporidiose, microsporidiose, malária, babesiose, tripanosomiases,
doença de chaga, leishmaniose e toxoplasmose. Atualmente, muitos dos tratamentos para essas
infecções são limitados pela sua toxicidade.
• Efeitos adversos: os principais efeitos relatados são náuseas, vômitos, azias e cólicas abdominais.
6.5 Antivirais
Os medicamentos antivirais são uma classe de medicação usada especificamente para o tratamento
de infecções virais em vez de bactérias. A maioria dos antivirais é usada para infecções virais específicas,
enquanto um antiviral de amplo espectro é eficaz contra uma ampla gama de vírus. Ao contrário da
maioria dos antibióticos, os medicamentos antivirais não destroem seu patógeno-alvo. Em vez disso,
eles inibem seu desenvolvimento. Os medicamentos antivirais são uma classe de antimicrobianos.
Os antimicrobianos também incluem medicamentos antibióticos (denominados antibacterianos),
antifúngicos e antiparasitários, ou medicamentos antivirais baseados em anticorpos monoclonais. A
maioria dos antivirais é considerada relativamente inofensiva para o hospedeiro e, portanto, pode ser
usada para tratar infecções. Eles devem ser distinguidos dos viricidas, que não são medicação, mas
desativam ou destroem partículas de vírus, dentro ou fora do corpo. Os antivirais naturais são produzidos
por algumas plantas, como o eucalipto.
6.5.1 Antirretrovirais
O novo DNA é então incorporado no genoma da célula hospedeira por uma enzima integrase, em
que ponto o DNA retroviral é referido como um provírus. A célula hospedeira, então, trata o DNA viral
como parte de seu próprio genoma, traduzindo e transcrevendo os genes virais com os próprios genes
da célula, produzindo as proteínas necessárias para montar novas cópias do vírus. É difícil detectar o
vírus até que ele tenha infectado o hospedeiro. Nesse ponto, a infecção persistirá indefinidamente.
O principal retrovírus de interesse clínico é o HIV (vírus da imunodeficiência humana). A seguir, estão
listados os principais fármacos utilizados no tratamento.
• Inibidores da transcriptase reversa análogo de nucleosídeos: fazem parte desta classe os fármacos
zidovudina (AZT), estavudina e tenofovir. 1 – Mecanismo de ação: são análogos de nucleosídeos
ou nucleotídeos desprovidos da hidroxila 3’. Uma vez dentro da célula, eles são fosforilados por
enzimas celulares ao análogo trifosfato correspondente, que é incorporado ao DNA viral pela
transcriptase reversa. Porém, por ter a hidroxila 3’ bloqueada, a transcriptase reversa não consegue
terminar de sintetizar todo o DNA viral. 2 – Efeitos adversos: apresentam toxicidade hepática
potencialmente fatal, caracterizada por acidose láctica e hepatomegalia com esteatose.
• Inibidores da transcriptase reversa não análogo de nucleosídeo: são integrantes dessa categoria o
efavirenz e a nepirapina. 1 – Mecanismo de ação: são inibidores não competitivos da transcriptase
reversa altamente seletivos. Não necessitam de ativação celular. 2 – Efeitos adversos: apresentam
alta taxa de hipersensibilidade causando urticárias, efeitos dermatológicos graves e efeitos
adversos no SNC.
• Inibidores da protease viral: são fármacos pertencentes à esta família o ritonavir, o saquinavir,
o indinavir, o nelfinavir, entre outros. 1 – Mecanismo de ação: todos os fármacos deste grupo
são inibidores reversíveis da aspartil protease, que é a enzima viral responsável pela clivagem e
montagem do capsídeo. A inibição evita a maturação de partículas virais e resulta na produção de
vírions não infecciosos. 2 – Efeitos adversos: causam parestesia, náusea, êmese e diarreia. Também
ocorrem distúrbios no metabolismo de glicose e lipídeos, incluindo diabetes, hipertrigliceridemia e
hipercolesterolemia. Promove acúmulo de gordura abdominal e no pescoço e aumento do tórax.
83
Unidade II
Lembrete
6.5.2 Anti-herpéticos
O herpes simples é uma doença viral causada pelo vírus Herpes simplex. As infecções são categorizadas
com base na parte do corpo infectado. O herpes oral envolve o rosto ou a boca. Pode resultar em
pequenas bolhas em grupos, muitas vezes chamadas de feridas ou bolhas de febre ou podem apenas
causar dor de garganta. O herpes genital, muitas vezes conhecido como herpes, pode ter sintomas
mínimos ou formar bolhas que se abrem e resultam em pequenas úlceras que costumam se curar entre
duas e quatro semanas. Podem ocorrer dores e formigamento antes que as bolhas apareçam. O herpes
cicatriza entre os períodos de doença ativa seguida de intervalos sem sintomas. O primeiro episódio é
muitas vezes o mais grave e pode estar associado à febre, dores musculares, linfonodos inchados e dores
de cabeça. Ao longo do tempo, os episódios de doença ativa diminuem em frequência e gravidade.
Outros distúrbios causados por herpes simples podem ocorrer: nos dedos e no olho, além de infecção
por herpes no cérebro e da herpes neonatal, quando afeta um recém‑nascido. O tratamento da herpes
deve ser medicamentoso e os principais fármacos estão indicados a seguir:
84
NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
6.5.3 Anti‑influenza
As infecções virais do trato respiratório, para as quais existem tratamentos, incluem a gripe (ou
influenza) tipos A e B e o vírus sincicial respiratório (VSR). A imunização contra gripe A é a abordagem
preferencial. Contudo, os antivirais são usados quando os pacientes são alérgicos à vacina ou quando
ocorre um surto. Os principais fármacos estão arrolados a seguir.
6.5.4 Anti‑hepatites
A hepatite é inflamação do tecido hepático. Algumas pessoas não apresentam sintomas, enquanto
outras desenvolvem coloração amarela da pele e dos brancos dos olhos, falta de apetite, vômitos,
cansaço, dor abdominal ou diarreia.
A hepatite pode ser temporária (aguda) ou em longo prazo (crônica), dependendo da duração.
A hepatite aguda às vezes pode desaparecer por conta própria, progredir para hepatite crônica
ou, raramente, resultar em insuficiência hepática aguda. Ao longo do tempo, a forma crônica
pode progredir para a cicatrização do fígado, insuficiência hepática ou câncer de fígado. A causa
mais comum de hepatite em todo o mundo são os vírus. Outras causas incluem o uso intenso de
álcool, certos medicamentos, toxinas, outras infecções, doenças autoimunes e esteato-hepatites
não alcoólicas (Nash).
Os medicamentos podem ser usados para tratar casos crônicos de hepatite viral. Não há
tratamento específico para Nash; no entanto, é importante um estilo de vida saudável, incluindo
atividade física, uma dieta saudável e perda de peso. A hepatite autoimune pode ser tratada com
medicamentos para suprimir o sistema imunológico. Um transplante de fígado também pode ser
uma opção em certos casos. A seguir, estão listados os principais fármacos utilizados no tratamento
de infecções virais hepáticas.
Observação
A úlcera péptica é uma lesão que pode ocorrer na parede do estômago, na primeira parte do
intestino delgado ou, ocasionalmente, no esôfago inferior. Uma úlcera no estômago é conhecida
como uma úlcera gástrica, quando se encontra na primeira parte dos intestinos é denominada
de úlcera duodenal. Os sintomas mais comuns de uma úlcera duodenal são acordar à noite com
86
NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
dor abdominal superior ou apresentar dor abdominal superior que melhora com o consumo
de alimentos.
Na úlcera gástrica a dor pode piorar com a ingestão de alimentos. Em ambos os casos, a dor é, muitas
vezes, descrita como ardente ou maçante. Outros sintomas incluem arrotos, vômitos, perda de peso e
falta de apetite. As complicações podem apresentar sangramento, perfuração e bloqueio do estômago.
O sangramento ocorre em até 15% das pessoas.
As causas mais comuns incluem a presença da bactéria Helicobacter pylori e o uso de anti‑inflamatórios
não esteroidais, os Aines (idosos são mais sensíveis aos efeitos causadores de úlcera pelos Aines). Outras
causas menos comuns são tabagismo, estresse devido à doença grave, doença de Behçet, síndrome de
Zollinger‑Ellison, doença de Crohn e cirrose hepática, entre outros. O diagnóstico leva em consideração
a apresentação de sintomas com confirmação por endoscopia. A bactéria H. pylori pode ser detectada
através do teste de sangue para anticorpos ou por meio de uma biópsia do estômago. Outras condições
que produzem sintomas semelhantes incluem câncer de estômago, doença coronariana, inflamação do
revestimento do estômago e inflamação da vesícula biliar.
Já a doença do refluxo gastroesofágico é uma condição médica de longo prazo em que os ácidos
do estômago atingem a porção inferior do esôfago, gerando sintomas e/ou complicações. Os sintomas
comuns são sabor do ácido na parte de trás da boca, azia, mau hálito, dor no peito, vômitos, problemas
respiratórios e desgaste dos dentes. As complicações incluem esofagite, estenose esofágica e esôfago
de Barrett. Quanto aos fatores de risco, podem ser citados obesidade, gravidez, tabagismo, hérnia de
hiato e certos medicamentos (anti‑histamínicos, bloqueadores dos canais de cálcio, antidepressivos e
medicação para dormir). A principal causa do refluxo gastroesofágico é o fechamento deficiente do
esfíncter esofágico inferior (a junção entre o estômago e o esôfago), o que leva à extrapolação do
conteúdo gástrico para o esôfago.
87
Unidade II
Célula parietal
Lúmen do estômago
Acetilcolina
M
Gastrina
G
(H+/K+ ATPase)
Figura 14 – Esquema das células parietais da parede do estômago e sua estimulação para produção de ácido
Antagonista de receptor H2
O omeprazol foi o primeiro fármaco dessa classe. Ele se liga ao sistema enzimático H+/K+ ATPase
(bomba de próton) das células parietais e suprime a secreção de íons hidrogênio do lúmen gástrico.
Outros fármacos desta classe são: esomeprazol, lansoprazol, pantoprazol e rabeprazol. 1 – Mecanismo
de ação: esses fármacos são pró‑fármacos e dispõem de um revestimento entérico para protegê‑los
da degradação prematura pelo ácido gástrico. Tal revestimento é removido no intestino, permitindo
que o pró‑fármaco seja absorvido e transportado até as células parietais, onde é convertido em sua
forma ativa e pode, então, ligar‑se a H+/K+ ATPase, bloqueando‑a por 18 horas (em doses adequadas,
os IBPs inibem a secreção de ácido basal constante e a secreção estimulada). 2 – Indicação: os IBPs são
mais eficazes que os antagonistas H2 na supressão da produção de ácido e na cicatrização das úlceras
pépticas. São fármacos de primeira escolha para o tratamento de úlceras de estresse, esofagites erosivas
e úlceras duodenais. Podem ser administrados por longos períodos, podendo, portanto, ser indicados
88
NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
para tratamento de distúrbios ou síndromes endócrinas que levam ao aumento da secreção estomacal.
Auxiliam na remoção da H. pylori, agindo como antimicrobiano. Devem ser ingeridos 30 minutos antes
das refeições para que a resposta obtida seja máxima. 3 – Efeitos adversos: são medicamentos seguros;
porém, em longo prazo, podem induzir a fraturas de bacia, coluna e punho. Além disso, interferem na
absorção de outros fármacos e na biodisponibilidade da vitamina B12.
Antiácidos
Os antiácidos são bases fracas que reagem com o ácido gástrico formando água e sal para diminuir
a acidez estomacal; como a pepsina depende do ácido do estômago para ser ativada, acabam reduzindo
sua atividade. 1 – Mecanismo de ação: os antiácidos variam amplamente em composição química,
capacidade de neutralização, conteúdo de sódio, palatabilidade e preço. Os antiácidos comumente usados
são os derivados de alumínio e magnésio, como o hidróxido de alumínio e o hidróxido de magnésio. O
carbonato de cálcio também pode ser administrado e forma como produtos o gás carbônico e o cloreto
de cálcio, mas, se utilizado por longos períodos, interfere no nível de bicarbonato sanguíneo, levando à
alcalose metabólica temporária. 2 – Indicação: são utilizados para alívio dos sintomas da úlcera péptica
e da azia, podendo auxiliar na cicatrização de lesões duodenais. 3 – Efeitos adversos: o hidróxido de
alumínio tende a causar constipação, ao passo que o hidróxido de magnésio tende a produzir diarreia.
Podem causar ainda hipofosfatemia, alcalose sistêmica e comprometimento renal em pacientes com
insuficiência renal. Vale lembrar que pacientes hipertensos não devem consumir os antiácidos que
aumentam a disponibilidade de sódio.
Esses fármacos são conhecidos também como citoprotetores, pois apresentam várias ações que
aumentam os mecanismos de proteção da mucosa, prevenindo lesões e reduzindo inflamação. O principal
fármaco dessa categoria é o sucralfato, uma associação de hidróxido de alumínio e sacarose sulfatada.
1 – Mecanismo de ação: tais medicamentos aderem às proteínas das regiões lesionadas, protegendo‑as da
ação dos ácidos. Também são capazes de induzir a liberação de prostaglandina no estômago, diminuindo
a produção de ácido gástrico. Não se deve associá‑los a antiácidos ou antagonistas H2, pois é necessária
a presença do ácido para que o sucralfato fique ativo. 3 – Efeitos adversos: são bem‑tolerados, mas
interferem na absorção de outros fármacos e não previnem o surgimento de úlceras causadas por Aines
ou na cicatrização.
Observação
89
Unidade II
Antidiarreicos
• Fármacos antimotilidade: dois fármacos são comumente utilizados com essa finalidade, o
difenoxilato e a loperamida. Eles têm ação tipo opioide no intestino, inibindo a liberação de
acetilcolina e diminuindo o peristaltismo. Apresentam efeitos adversos de sedação, cólicas
abdominais e tonturas.
Laxantes
• Laxantes salinos e osmóticos: os catárticos salinos, como citrato de magnésio, hidróxido de magnésio
e fosfato de sódio, são sais não absorvidos que retêm água no intestino por osmose. Esse processo é
capaz de causar distensão intestinal aumentando a atividade peristáltica. O polietilenoglicol (PEG)
é indicado para lavagens colônicas, preparando o intestino para procedimentos endoscópicos. A
lactulose, um dissacarídeo, também atua como laxante osmótico.
90
NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
Observação
O sistema endócrino está em claro contraste com o sistema exócrino, que secreta seus hormônios
para o exterior do corpo usando dutos. O sistema endócrino é um sistema de sinal de informação como
o sistema nervoso, mas seus efeitos e mecanismos são classicamente diferentes. Os efeitos do sistema
endócrino desencandeiam respostas de início lento, porém prolongado, com duração que pode variar de
algumas horas até semanas. Já o sistema nervoso envia informações muito rapidamente, e as respostas
são geralmente de curta duração.
Além dos órgãos endócrinos especializados mencionados, muitos outros que fazem parte de outros
sistemas corporais (como ossos, rim, fígado, coração e gônadas) têm funções endócrinas secundárias:
por exemplo, o rim secreta alguns hormônios endócrinos, tais como eritropoietina e renina. Os
91
Unidade II
Hipotálamo
Hipófise
Tireoide
Paratireoide
Timo
Adrenal
Pâncreas
Ovário (mulher)
Testículo (homem)
A seguir serão apresentadas as principais patologias envolvendo o sistema endócrino, bem como os
fármacos utilizados nos tratamentos.
A osteoporose é uma doença que diminui a resistência óssea, aumentando o risco de fraturas
(sobretudo entre idosos). Os ossos podem enfraquecer a tal ponto que um pequeno trauma pode levar
a uma fratura, ou ela pode ocorrer espontaneamente. Os ossos mais susceptíveis normalmente são
os da coluna vertebral, do antebraço e do quadril. Por ser assintomática, a osteoporose costuma ser
diagnosticada após a fratura óssea.
osteoporose é definida como uma diminuição na densidade óssea de 2,5 desvios-padrão abaixo da
densidade óssea de um adulto jovem.
A prevenção da osteoporose inclui uma dieta adequada desde a infância, além da evitação de
medicamentos que propiciem essa condição; mudanças no estilo de vida, como parar de fumar e não
beber álcool, também podem ajudar. No caso de pessoas com osteoporose, a prevenção de fraturas se dá
com base em uma dieta adequada, exercícios físicos e prevenção de queda. Trata-se de uma patologia
que se torna mais comum com o avançar da idade: entre pessoas de 50 anos, cerca de 15% apresentam
osteoporose; já entre aquelas com 80 ou mais, esse valor sobe para 70%. Vale salientar que essa doença é
mais comum em mulheres do que em homens, e que indivíduos brancos e asiáticos também apresentam
maior predisposição a desenvolver essa enfermidade.
Lembrete
A obesidade é uma patologia caracterizada pelo excesso de gordura corporal acumulada, com
possíveis efeitos maléficos ao organismo. Um indivíduo é considerado obeso quando seu índice de massa
corporal (IMC), uma medida obtida pela divisão do peso de uma pessoa pelo quadrado de sua altura,
é superior a 30 kg/m2, sendo a faixa de 25-30 kg/m2 definida como a de um indivíduo com sobrepeso.
Trata-se de uma enfermidade geralmente causada pela combinação de ingestão alimentar excessiva,
falta de atividade física e suscetibilidade genética, no entanto, em alguns casos, pode ser ocasionada por
genes, distúrbios endócrinos, medicamentos ou doenças mentais. A obesidade aumenta a probabilidade
de várias doenças: diabetes tipo 2, apneia obstrutiva do sono, osteoartrose, depressão, certos tipos de
tumores e, particularmente, doenças cardíacas. A visão de que as pessoas obesas comem pouco e ainda
ganham peso pelo fato de ter um metabolismo lento muitas vezes não corresponde à realidade: em
média, as pessoas obesas têm um gasto de energia maior que as pessoas magras, em razão da energia
necessária para manter sua massa corporal acima da média.
A obesidade pode ser evitada através de uma combinação de mudanças sociais e escolhas pessoais; as
alterações com relação a dieta e a exercício físico são os principais tratamentos para essa patologia. A
qualidade da dieta pode ser melhorada por meio da redução do consumo de alimentos ricos em energia (como
aqueles com alto teor de gordura e açúcares) e do aumento da ingestão de fibra dietética. Medicamentos
podem ser administrados juntamente com uma dieta adequada, para reduzir o apetite ou diminuir a absorção
de gordura. Se a dieta, o exercício e a medicação não forem eficazes, poderão ser cogitados o uso de um balão
gástrico ou a realização de uma cirurgia; dessa forma, será possível reduzir o volume do estômago (ou o
comprimento do intestino), levando o paciente a sentir-se saciado com uma menor quantidade de alimentos
ou obter a capacidade de absorver menos nutrientes dos alimentos.
93
Unidade II
Nos dias atuais, a obesidade é a principal patologia com causas evitáveis de morte em todo o
mundo, com taxas crescentes em adultos e crianças. Em todo o mundo em 2014, 600 milhões de
adultos (13% da população) e 42 milhões de crianças menores de cinco anos eram obesos. A obesidade
é mais comum em mulheres do que em homens e, embora já tenha sido vista como um símbolo de
riqueza e fertilidade em outros momentos da história (e ainda seja vista assim em algumas partes
do globo), trata-se de uma doença bastante estigmatizada em grande parte do mundo moderno
(particularmente no mundo ocidental).
Observação
Os sintomas mais comuns do hipotireoidismo incluem fadiga, baixa energia, ganho de peso,
incapacidade de tolerar o frio, ritmo cardíaco lento, pele seca e constipação. Os sintomas comuns do
hipertireoidismo incluem irritabilidade, perda de peso, batimentos cardíacos acelerados, intolerância ao
calor, diarreia e aumento da tireoide. Em ambas as patologias pode surgir um inchaço de uma parte do
pescoço, conhecido como bócio.
O diagnóstico muitas vezes pode ser feito através de testes laboratoriais, sendo analisados, para tanto,
os níveis do hormônio estimulante da tireoide (TSH), que estão geralmente abaixo do normal no caso do
hipertireoidismo e acima do normal no hipotireoidismo. Outro teste útil de laboratório é o da tiroxina (ou T4
livre); já os níveis de tri-iodotironina total e livre (T3) são menos utilizados. Também pode ser pesquisada a
presença de autoanticorpos antitireoide. Nessa situação, um número elevado de anticorpos de antitiroglobulina
e antitireoide são comumente encontrados no hipotireoidismo de Hashimoto; no hipertireoidismo causado
pela doença de Graves, são encontrados anticorpos do receptor de TSH. Procedimentos como ultrassom,
biópsia e varredura com iodo radioativo também podem ser usados para ajudar no diagnóstico.
O tratamento da doença da tireoide varia com base no tipo de enfermidade. A levotiroxina é o principal
suporte do tratamento para pessoas com hipotireoidismo, enquanto as pessoas com hipertireoidismo
causado pela doença de Graves podem ser tratadas com terapia com iodo, medicação antitireoidiana ou
remoção cirúrgica da glândula tireoide. Uma cirurgia também pode ser realizada para remover um bócio
obstruindo estruturas próximas ou mesmo um nódulo (ou lóbulo) da tireoide, para biópsia.
O hipotireoidismo afeta 3%-10% dos adultos, com uma maior incidência em mulheres e idosos.
Estima-se que um terço da população mundial atualmente viva em áreas com baixos níveis de iodo
na dieta, tornando essa deficiência a causa mais comum de hipotireoidismo e bócio endêmico. Em
regiões com grave deficiência de iodo a prevalência de bócio é tão alta que chega a 80%, ao passo
que em áreas onde a deficiência de iodo não é encontrada o tipo mais comum de hipotireoidismo é
um subtipo autoimune chamado tireoidite de Hashimoto, com uma prevalência de 1%-2%.
Quanto ao hipertireoidismo, a doença de Graves, outra condição autoimune, é o tipo mais comum, com
prevalência de 0,5% nos homens e 3% nas mulheres. Embora os nódulos tireoidianos sejam comuns, o câncer
de tireoide é raro, sendo responsável por menos de 1% de todos os cânceres no Reino Unido (embora seja o
tumor endócrino mais comum e constitua mais de 90% de todos os cânceres das glândulas endócrinas).
toxicidade depende dos níveis de T4 e se manifesta por meio de nervosismo, palpitações cardíacas e
taquicardia, intolerância ao calor e perda inexplicada de massa corporal.
O diabetes mellitus (DM) é um conjunto de doenças metabólicas que apresentam como característica
principal hiperglicemia por longos períodos. Os sintomas da hiperglicemia incluem micção frequente
(poliúria) e intensificação das sensações de sede e fome. Se não for tratado, o diabetes poderá causar
muitas complicações, como complicações agudas da cetoacidose diabética, coma hiperosmolar não
cetótico ou morte. Outras complicações graves a longo prazo incluem doença cardíaca, acidente
vascular cerebral, insuficiência renal crônica, úlceras de pé e danos aos olhos. O diabetes surge devido à
incapacidade do pâncreas de produzir uma quantidade suficiente de insulina ou às células do corpo não
responderem adequadamente à insulina produzida (resistência periférica à insulina). Existem três tipos
principais de diabetes mellitus:
• DM tipo 2 – Tem início com a resistência à insulina, uma condição em que as células não respondem
à insulina adequadamente. A maioria dos diabéticos tem o tipo 2, que é determinado por fatores
genéticos, idade e obesidade. As perturbações metabólicas são mais sutis do que as observadas no
diabetes tipo 1, mas as consequências clínicas a longo prazo são igualmente importantes. Como
a doença é crônica, há uma progressão gradual que pode resultar também em uma deficiênica na
produção de insulina pelo pâncreas.
• Diabetes gestacional – É a terceira forma principal e ocorre quando mulheres grávidas e sem
histórico prévio de diabetes apresentam hiperglicemia durante a gravidez, havendo um total
restabelecimento após o parto.
A prevenção e o tratamento dessa enfermidade envolvem dieta saudável, exercício físico regular,
peso corporal adequado e abolição de tabaco. O controle da pressão arterial e a manutenção do
cuidado adequado dos pés são importantes para as pessoas portadoras dessa doença. O DM tipo 1
deve ser tratado com injeções de insulina; o DM tipo 2 pode ser tratado com medicamentos com
ou sem insulina associada.
8.6 Insulinoterapia
A insulina é degradada no trato gastrointestinal e, portanto, está descartado seu uso por via oral,
sendo administrada geralmente por via subcutânea. As preparações de insulina variam nos seus tempos
de início e de duração de ação, o que se deve às diferenças na sequência de aminoácidos dos polipeptídios.
A dose, o local da injeção, a vascularização, a temperatura e a atividade física, por exemplo, podem
afetar a duração da ação de várias preparações. A insulina é degradada principalmente pelo fígado e
pelos rins, que apresentam enzimas próprias para essa metabolização. O quadro a seguir resume o início
de ação, o tempo até o pico e a duração de ação de vários tipos de insulina atualmente em uso (a sigla
NPH significa “insulina protamina neutra de Hagedorn”).
Saiba mais
Esses fármacos são úteis no tratamento de pacientes com diabetes tipo 2, mas que não
conseguem controlar a doença apenas com dietas. Pessoas que desenvolvem o diabetes
após os 40 anos e que têm apenas 5 anos do início de tratamento respondem melhor aos
hipoglicemiantes orais. Pacientes com a doença há mais de 5 anos em tratamento devem
associar os hipoglicemiantes orais à insulinoterapia. Esses fármacos não devem ser utilizados
em pacientes com diabetes tipo 1. Os hipoglicemiantes orais podem ser classificados, de
acordo com seu mecanismo de ação, em secretagogos de insulina, sensibilizadores à insulina,
inibidores da alfa-glicosidase e inibidores da dipeptidil peptidase IV.
• Secretagogos de insulina: Esses fármacos promovem a liberação de insulina das células beta
do pâncreas. Os principais fármacos dessa categoria são as sulfonilureias, como glibenclamida,
glipizida e glimepirida, e as glinidas.
97
Unidade II
• Inibidores da alfa-glicosidase: a acarbose e o miglitol são os fármacos pertencentes a essa classe terapêutica.
8.6.1.1 Incretinamiméticos
Saiba mais
Os hormônios sexuais produzidos pelas gônadas são necessários para a concepção, a maturação
embrionária e o desenvolvimento das características sexuais secundárias na puberdade. Os
hormônios gonadais são usados na terapêutica de reposição e contracepção e no controle dos
sintomas da menopausa.
Estrogênios
O estradiol é o mais potente estrogênio produzido e secretado pelo ovário. Já a estrona, um metabólito
do estradiol produzido pela placenta durante a gravidez, possui 1/3 de sua potência. A preparação de
estrógenos conjugados animais (estrona e equilina) extraídos da urina de éguas prenhas é utilizada
na terapia de reposição hormonal. Há ainda estrógenos conjugados de origem vegetal e sintéticos
(etinilestradiol). 1 – Mecanismo de ação: os hormônios esteroides possuem seus receptores dentro do
núcleo das células-alvo. Há dois receptores para estrógenos, o receptor alfa e o receptor beta. Esses
receptores, quando ativados pelos hormônios, promovem a transcrição de genes específicos ligados
às características sexuais; 2 – Indicação: são usados para tratamento hormonal pós-menopausa, para
contracepção e na estimulação de características sexuais; 3 – Efeitos adversos: náuseas, sensibilidade
nos seios, sangramento uterino na pós-menopausa (há aumento no risco de eventos tromboembólicos,
infarto do miocárdio, câncer de mama e câncer endometrial).
São fármacos que interagem com os receptores de estrogênio e produzem efeitos tecido-específicos.
Em alguns tecidos podem ser agonistas e em outros podem ser antagonistas. São exemplos tamoxifeno,
raloxifeno e clomifeno. 1 – Mecanismo de ação: podem atuar como antagonistas de estrogênio nos
tecidos mamários (tamoxifeno), reduzem a reabsorção e a renovação óssea, promovendo aumento na
densidade dos ossos e diminuindo fraturas da coluna vertebral. Não agem no endométrio e não estão
relacionados a tumores nessa região. Por aumentar os índices de TSH (hormônio folículo-estimulante),
promovem a estimulação da ovulação; 2 – Indicação: tratamento paliativo e profilático do câncer
de mama metastático na mulher em pós-menopausa; 3 – Efeitos adversos: fogachos e náuseas,
irregularidades menstruais e sangramento vaginal.
99
Unidade II
Progestógenos
Observação
A disfunção erétil (ED) ou impotência é uma disfunção sexual caracterizada pela incapacidade
de promover ou manter a ereção do pênis durante a atividade sexual. Uma ereção peniana é o
efeito hidráulico causado pela penetração e retenção de sangue no corpo esponjoso, dentro do
pênis. O processo é mais frequentemente iniciado como resultado da excitação sexual, quando os
sinais são transmitidos do cérebro para os nervos no pênis. As causas orgânicas mais importantes
de impotência são doenças cardiovasculares, diabetes, problemas neurológicos (por exemplo,
trauma de cirurgia de prostatectomia), insuficiências hormonais (hipogonadismo) e efeitos
adversos de drogas.
Muitas vezes é possível tratar a disfunção erétil atacando suas causas secundárias, como a deficiência
de potássio ou a contaminação por arsênico. Contudo, o tratamento de primeira escolha consiste nos
100
NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
Observação
Os esteroides anabolizantes, também conhecidos como esteroides anabólicos androgênicos (AAS), são
andrógenos esteroidais que incluem andrógenos naturais como a testosterona, e os andrógenos sintéticos que
são estruturalmente relacionados e têm efeitos semelhantes à testosterona. Eles são anabólicos e aumentam
proteínas intracelular, especialmente nos músculos esqueléticos, e também têm diferentes graus de efeitos
androgênicos e virilizantes, incluindo a indução do desenvolvimento e manutenção de características sexuais
secundárias masculinas, como o crescimento de pelos faciais e corporais.
Andrógenos ou AAS são agonistas de hormônios sexuais. Os androgênios produzem efeitos anabólicos
e masculinizantes em homens e mulheres. A testosterona é sintetizada pelas células de Leydig nos
testículos e, em menor quantidade, pela glândula suprarrenal. Os hormônios que estimulam as células
de Leydig a produzir e liberar a testosterona são o FSH e o LH (hormônio luteinizante).
seu receptor promove a transcrição e a síntese proteica. Alguns análogos de testosterona, no entanto,
não sofrem metabolização, apresentando um efeito reduzido sobre o sistema reprodutor e maior sobre
os tecidos musculares.
Os AAS foram sintetizados na década de 1930 e agora são usados terapeuticamente na medicina para
estimular o crescimento e o apetite muscular, induzir a puberdade masculina e tratar condições de desgaste
crônico, como câncer e Aids. A Academia Americana de Medicina esportiva reconhece que os AAS, na presença
de dieta adequada, pode contribuir para o aumento do peso corporal à medida que a massa magra aumenta, no
entanto, os ganhos de força muscular são alcançados através de exercícios de alta intensidade e dieta adequada.
Os riscos para a saúde podem ser produzidos pelo uso em longo prazo ou por doses excessivas de
AAS. Estes efeitos incluem alterações prejudiciais nos níveis de colesterol (aumento da lipoproteína de
baixa densidade e diminuição da lipoproteína de alta densidade), acne, hipertensão arterial, danos no
fígado (principalmente com a maioria dos AAS orais) e alterações perigosas na estrutura do ventrículo
esquerdo do coração. As condições relacionadas a desequilíbrios hormonais como ginecomastia e
redução do tamanho dos testículos também podem ser causadas por AAS. Em mulheres e crianças, o
AAS pode causar masculinização irreversível.
Usos ergogênicos para AAS em esportes, corridas e fisiculturismo como fármacos para melhorar o
desempenho são controversos por causa de seus efeitos adversos e do potencial de ganhar vantagem
injusta em competições esportivas. Seu uso é referido como doping e banido pela maioria dos grandes
eventos esportivos. Por muitos anos, os AAS foram de longe as substâncias de doping mais detectadas
em laboratórios credenciados pelo COI. Em países onde os AAS são substâncias controladas, muitas
vezes, há um mercado ilegal no qual drogas contrabandeadas, fabricadas clandestinamente ou mesmo
falsificadas são vendidas aos usuários.
Desde a descoberta e síntese da testosterona, na década de 1930, os AAS têm sido usados por
médicos para muitos propósitos, com graus variados de sucesso. Estes podem ser amplamente agrupados
em usos anabólicos, androgênicos e outros.
Uso anabólico
• Estimulação da medula óssea: durante décadas, os AAS foram o pilar da terapia para anemias
hipoplásicas devido à leucemia ou à insuficiência renal.
• Estimulação da massa corporal magra e prevenção da perda óssea em homens idosos. No entanto,
um ensaio controlado com placebo em 2006, com suplementação de testosterona em baixas doses
102
NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
em homens idosos com baixos níveis de testosterona, não encontrou benefícios na composição
corporal, desempenho físico, sensibilidade à insulina ou qualidade de vida.
• Auxílio no ganho de peso após cirurgia ou trauma físico, durante infecção crônica ou no contexto
de perda de peso inexplicável.
• A oxandrolona melhora tanto os desfechos de curto prazo como de longo prazo em pessoas
que se recuperam de queimaduras graves e está bem estabelecida como tratamento seguro
para essa indicação.
Uso androgênico
• Usado para reposição androgênica em homens com baixos níveis de testosterona; também é
eficaz em melhorar a libido de homens idosos.
• Indução à puberdade masculina: os andrógenos são administrados a muitos meninos que sofrem
de atraso extremo na puberdade. Atualmente, a testosterona é praticamente o único andrógeno
usado para essa finalidade e demonstrou aumentar a altura, o peso e a massa livre de gordura em
meninos com puberdade atrasada.
Outros usos
• Para contracepção hormonal masculina; atualmente experimental, mas potencial para uso como
contraceptivos masculinos eficazes, seguros, confiáveis e reversíveis.
103
Unidade II
A maioria dos usuários de esteroides não é atleta. Nos Estados Unidos, acredita‑se que entre 1 milhão
e 3 milhões de pessoas (1% da população) utilizaram o AAS. Estudos nos Estados Unidos mostraram
que os usuários de AAS tendem a ser em sua maioria homens heterossexuais de classe média com uma
média de idade de cerca de 25 anos, que são fisiculturistas e não atletas que usam os medicamentos
para fins estéticos.
De acordo com uma pesquisa recente, 78,4% dos usuários de esteroides eram fisiculturistas e não
atletas não competitivos, cerca de 13% relataram práticas inseguras de injeção, como reutilização de
agulhas, compartilhamento de agulhas e compartilhamento de frascos multidose. Os usuários de AAS
tendem a pesquisar os medicamentos que estão tomando mais do que outros usuários de substâncias
controladas; no entanto, as principais fontes consultadas por usuários de esteroides incluem amigos,
manuais não médicos, fóruns baseados na internet, blogs e revistas fitness, que podem fornecer
informações questionáveis ou imprecisas.
Os usuários de AAS tendem a ficar insatisfeitos com a interpretação de que esses fármacos podem
ser fatais, eles também desconfiam de seus médicos e 56% não revelaram seu uso para os médicos.
Um estudo recente mostrou que os usuários de AAS em longo prazo tinham maior probabilidade de
apresentar sintomas de dismorfia.
Os AAS têm sido usados por homens e mulheres em muitos tipos diferentes de esportes profissionais
para atingir uma vantagem competitiva ou para auxiliar na recuperação de lesões. Esses esportes
incluem fisiculturismo, levantamento de peso, arremesso de peso e outros, como atletismo, ciclismo,
beisebol, luta livre, artes marciais mistas, boxe, futebol e críquete. Tal uso é proibido pelas regras dos
órgãos diretivos da maioria dos esportes. O uso de AAS ocorre entre adolescentes, especialmente por
aqueles que participam de esportes competitivos.
Os AAS que têm sido usados mais comumente na medicina são testosterona e seus muitos ésteres
(mas mais tipicamente decanoato de testosterona, enantato de testosterona, cipionato de testosterona
e propionato de testosterona), ésteres de nandrolona (tipicamente decanoato de nandrolona e
fenilpropionato de nandrolona), estanozolol, e metandienona (metandrostenolona). Outros que também
estão disponíveis e são usados, mas em menor extensão, incluem metiltestosterona, oxandrolona,
mesterolona e oximetolona, bem como propionato de drostanolona (propionato de dromostanolona),
ésteres de metenolona (metilandrostenolona) (especificamente acetato de metenolona e enantato de
metenolona) e fluoximesterona. A di-hidrotestosterona (DHT), conhecida como androstanolona ou
estanolona, quando usada clinicamente apresenta melhoras importantes, embora não seja amplamente
usada na medicina.
• Dermatológicos/integrais: pele oleosa, acne vulgar, acne conglobata, seborreia, estrias (devido ao
aumento rápido do músculo), hipertricose (crescimento excessivo dos pelos), alopecia androgênica
(calvície padrão, calvície do couro cabeludo), retenção de líquidos/edema.
104
NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOLOGIA
• Cardiovasculares: dislipidemia (por exemplo, aumento dos níveis de LDL, diminuição dos níveis de
HDL, redução dos níveis de apo‑A1), aterosclerose, hipertensão, hipertrofia ventricular esquerda,
cardiomiopatia, hipertrofia miocárdica, policitemia/eritrocitose, arritmias, trombose (por exemplo,
embolia, acidente vascular cerebral) infarto, morte súbita.
• Hepática: testes de função hepática elevados (AST, ALT, bilirrubina, LDH, ALP), hepatotoxicidade,
icterícia, esteatose hepática, adenoma hepatocelular, carcinoma hepatocelular, colestase, peliose
hepática; principalmente ou exclusivamente com AAS 17α‑alquilados.
Lembrete
105
Unidade II
8.7.3.1 Suplementos
Para pessoas saudáveis não há evidências de que os suplementos tenham algum benefício,
principalmente com relação à prevenção ou ao tratamento do câncer ou de doenças cardíacas.
Suplementos de vitamina A e E não apenas não fornecem benefícios para a saúde de indivíduos
geralmente saudáveis, mas podem aumentar a mortalidade. A maioria das vitaminas que são
vendidas como suplementos dietéticos não deve exceder uma dose máxima diária referida como
o nível máximo de ingestão tolerável (UL). Produtos vitamínicos acima desses limites regulatórios
não são considerados suplementos e devem ser registrados com prescrição devido a seus possíveis
efeitos colaterais.
Resumo
Exercícios
Questão 1. (IF/RJ, 2010) A amiodarona é um antiarrítmico tipo III muito utilizado e contém em sua
estrutura 39% de iodo. Que efeito ela apresenta sobre o sistema endócrino?
D) Diminuição do TSH.
E) Diminuição do cortisol.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa correta.
Justificativa: a classe III diminui a fase de repolarização e prolonga a duração da ação potencial e o
intervalo QT, pelo bloqueio dos canais de potássio. Suas reações adversas atuam em eritemas cutâneos
e problemas na tireoide, pulmões e outros distúrbios.
Fonte: CHULAY, M.; BURNS, S. M. Fundamentos de enfermagem em cuidados críticos da AACN. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: o TSH indica que a tireoide produz hormônio tireoidiano em excesso, evidenciando
o hipertireoidismo. Outros fármacos também podem diminuir o TSH com o uso de glicocorticoides,
levodopa ou dopamina, bem como estresse, ou mais raramente quando a glândula que produz o
hormônio (hipófise) ou o hipotálamo, que produz o TRH, não funcionam adequadamente.
E) Alternativa incorreta.
cautela para evitar a intoxicação digitálica, sendo necessária, muitas vezes, a utilização de diuréticos
poupadores de potássio.
A) Indapamida.
B) Hidroclorotiazida.
C) Clortalidona.
D) Espironolactona.
E) Furosemida.
109
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
DORETTO, D. Fisiopatologia clínica do sistema nervoso. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1996. p. 213.
110
Figura 9
FÁBIO, V. B.; FERENC, F. Tratamento atual da insuficiência cardíaca descompensada. Arquivos Brasileiros
de Cardiologia, São Paulo, v. 86, n. 3, p. 39, set. 2006.
Figura 10
WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. Ed. Artemed, 2016. p. 439.
Figura 12
EDWARD, A.; JOHN, B. Anatomy coloring workbook. [S.l.]. The Princeton Review, 2003. p. 238.
Figura 13
WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. São Paulo: Artemed, 2016. p. 480.
Figura 15
COSTA, A. A.; ALMEIDA NETO, J. S. Manual de diabetes: alimentação, medicamentos, exercícios. 2. ed.
São Paulo: Sarvier, 1998. p. 52.
REFERÊNCIAS
Textuais
AVANCINI, E.; FAVARETTO, J. A. Biologia: uma abordagem evolutiva e ecológica. São Paulo: Moderna,
1997. v. 2, p. 97.
BRODY, L.; MINNEMAN, N. Farmacologia humana: da molecular à clínica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1997.
CRAIG, C. R.; STITZEL, R. E. Farmacologia moderna. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L. Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica racional. 4. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
111
GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. As bases farmacológicas da terapêutica. 12. ed. Rio de Janeiro:
McGraw-Hill, 2012.
HARVEY, R. A.; CHAMPE, P. C. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
KATZUN, B. G. Farmacologia básica e clínica. 12. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2013.
RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M. Farmacologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artemed, 2016.
112
113
114
115
116
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000