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Sangramento uterino anormal


Dra. Mayara capucho ribeiro

A duração do fluxo menstrual é de 2 a 7 dias


introducao
Calendário menstrual  é bom indicar a
paciente usar porque se torna mais fácil para a
É uma queixa muito comum na menacme (que é
da menarca até menopausa gente também reconhecer um sangramento
a fase reprodutiva)
normal ou anormal
70% ocorre na perimenopausa e pós-menopausa
20% ocorre na adolescência

Sangramento uterino anormal agudo


Precisamos saber, na anamnese, a frequência
desse sangramento (de quanto em quanto 49,2% do SUA agudo está associado a outra
tempo está sangrando), a duração (quantos patologia
dias permanece sangrando) e o volume 53% das pacientes já tiveram quadros prévios
(quantos ml de sangue ou quantas trocas de que necessitaram de patologia
absorvente diariamente) 35% das pacientes manifestaram anemia (13,7%
Além disso, é preciso excluir causas de colo tiveram anemia severa)
uternino, como neoplasia de colo, doenças
neoplásicas ou atipias, excluir causas de trato O SUA agudo impacta na qualidade de vida de
genital inferior (diferenciar se o sangramento 2/3 mulheres (gera problemas psicossociais
realmente é uterino ou é de canal vaginal, ou é porque sente muita dor a cada ciclo, tendem
uretral ou é de introito, etc) e exclui gravidez evitar atividade física por medo de vazar
menstruação, entre outros)

Repercussões do sangramento uterino anormal


sobre diferentes aspectos:

Sangramento normal anemia dor/dismenorreia


social

O intervalo normal entre um ciclo e outro de


sangramento é de 21 a 35 dias (usualmente, o limitações
intervalo que se considera normal é entre 25 e 35 psicológico
dias, mas na perimenopausa, quando a paciente
estiver passando pelo primeiro ciclo do
absenteísmo
climatério, haverão ciclos amenorreicos pelo qualidade
aumento do FSH que vem da baixa reserva CX
ovariana e pela diminuição do estrogênio, isso
faz com que haja pico de LH antes da hora
fazendo essa primeira fase do ciclo mais curta, O SUA gera anemia (pode propiciar atraso
isto é, os ciclos são relativamente regulares, mas cognitivo, maior dificuldade de realização de
com ciclos curtos (ciclos de 20 dias, mais ou atividade física por cansaço e astenia),
menos) dor/dismenorreia, limitação das atividades
O volume normal de menstruação é de (físicas e sociais), absenteísmo (a paciente
aproximadamente 40 a 80ml por dia (isso dá de 3 começa a faltar na escola e no trabalho),
a 5 absorventes de tamanho normal cheios por procedimentos cirúrgicos (apesar que hoje a
dia) última coisa a se fazer é procedimento cirúrgico),
piora da qualidade de vida, influencia sobre
aspectos psicológicos (pode piorar algum
quadro psicológico já existente) e influencia
sobre aspectos sociais
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em desuso!!  Como eles geram maior vascularização e
Menorragia: sangramento uterino excessivo superfície de contato, fazem maior
(80ml/ciclo) ou prolongado (7 dias) sangramento
Metrorragia: sangramento uterina em intervalos  Esse sangramento é durante o próprio
irregulares ciclo de sangramento, então do nada a
Menometrorragia: sangramento prolongado mulher percebe que tem um volume
ocorrendo em intervalos irregulares (é a junção excessivo de sangramento
dos 2 anteriores)  Pode ter sangramento intermenstrual
Oligomenorreia: sangramento uterino em principalmente pós-coito pelo contato
intervalo superior a 35 dias (ciclos longos > 35 direto com estrutura fazendo abrasão
dias) ciclos anovolutorios - SOP local que aumenta o risco de
Polimenorreia: sangramento uterino em intervalo sangramento
inferior a 24 dias (é comum na perimenopausa)  Classificação: pediculado (quando tem
Sangramento de escape, intermenstrual ou haste), séssil (diretamente em contato com
spotting: sangramento uterino de pequeno a cavidade endometrial) e pode estar no
volume precedente ao ciclo menstrual regular (é cérvice
comum em pacientes que usam
anticoncepcionais contínuos)
Amenorreia: ausência de sangramento vaginal
por 3 ciclos regulares ou 6 meses em ciclos
irregulares
Sangramento uterino disfuncional (SUD):
sangramento uterino não relacionado a causas
anatômicas ou sistêmicas, sendo diagnostico de
exclusão. Sua causa principal é a anovulação
(SOP)

Em 2011, a FIGO (The International Federation of


Gynecology and Obstetrics) determinou uma
nova classificação para tentar achar causas de
sangramento uterino anormal que é o A (Adenomiose)
mnemônico IMP!! Prova  É a ‘’endometriose uterina’’ (na camada
muscular) porque ocorre invasão das
estruturais não estruturais
glândulas endometriais do estroma na
P – Pólipo C - Coagulopatia
cavidade muscular
A – Adenomiose O - Ovulação
L – Leiomiomas E - Endométrio  Isso gera um aumento de volume
M – Malignas (neoplasias) I - Iatrogenia menstrual e, consequentemente, um útero
N – Não classificado ingurgitado e volumoso (a paciente tem
sensação de peso em baixo ventre com
PALM  fala das causas de anormalidades muita dismenorreia)
estruturais do útero (ou seja, quais são as causas  Pode ser nodular ou difusa (essa última é
estruturais podem gerar sangramento anormal) mais comum)
 O diagnóstico final é feito pela
COEIN  fala de causas que não têm relação histopatologia (que é tirar o útero e
com estrutura mandar para análise)

L (Leiomiomas)
 Tumor sólido, benigno de tecido muscular
P (Pólipo)
liso
 Pólipos são estruturas de crescimento
 Podem ser: submucoso, intramural ou
anormal de tecido epitelial (tecido que
subseroso
recobre a camada interna do útero e está
 Subseroso  contato com a cavidade
anterior ao endométrio que é a camada
externa do útero – eles não costumam
glandular)
gerar sangramento porque não alteram o
 Eles ocorrem por um erro na mitose e,
miométrio e endométrio (que são
portanto, crescem de forma desordenada
estruturas de sangramento)
estruturas epiteliais benignas
cavidade endometrial e colo do utero
sangramento intermenstrual
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+ sangramento
 Submucoso e intramural  causam mais seja, não faz pico de LH, não libera óvulo
sangramento e faz segunda fase de ciclo mais longa)
 Durante a menarca, isso ocorre pela
imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise
que faz pulsatilidade irregular dos
hormônios, então nos primeiros 2 a 5 anos
após a menarca é comum que não tenha
regularidade menstrual mesmo
 Causas: Endocrinopatias, como SOP,
tireoidopatias, hiperprolactinemia.
Anorexia (porque o estrogênio é
lipossolúvel, então precisa de quantidade
mínima de gordura no corpo). Obesidade
(gera ciclo anovulatório porque não
IMP!! sangramento pós menopausa -> obrigatório investigar consegue transformar estrogênio na
CA de endométrio periferia). Estresse. Excesso de atividade
cortisol = anorexia
M (Neoplasias malignas e atipias endometriais) física
 É raro durante a vida reprodutiva da  A SOP afeta de 5 a 10% das pacientes em
mulher menacme
 É mais comum na perimenopausa e,
principalmente, pós-menopausa E (reações inflamatórias endometriais)
 É diagnostico diferencial de sangramento  Uma das causas é COVID (tem tropismo
pós-menopausa por vários tecidos do corpo, inclusive o
 Toda paciente pós-menopausa que endométrio)
sangra precisa ser investigada (a  Geralmente são quadros transitórios com
principal causa de sangramento pós- resolução espontânea
menopausa é atrofia endometrial que é  Faz alterações metabólicas das vias
um diagnóstico benigno) porque pode ser celulares aumentando as
que seja um câncer de endométrio (ele é prostaglandinas fazendo ingurgitação
tempo-dependente, ou seja, se dos vasos endometriais, isso gera
diagnostico no início é melhor) contratilidade e aumento do volume de
 Geralmente, está associado a fatores de sangramento
risco, como nuliparidade, obesas (porque  Geralmente ocorre em pacientes com
fazem mais ciclos anovulatórios sob ação doenças inflamatórias pélvicas (são
do estrogênio), tabagistas, DM, HAS e pacientes de risco para DIPs)
exposição estrogênica prolongada + Endometrite por Clamídia
I (Iatrogenia)
 Por uso de medicamentos e
procedimentos (curetagem uterina, por
C (coagulopatia)
exemplo)
 Não é normal uma paciente que sangra
vários dias sem controle, que desmaia N (Não classificado)
quando inicia o ciclo menstrual, que
 Quando não encontra causa nenhuma
sangram e fazem hamartomas (acúmulo
de sangue na articulação), fazem
gengivorragia ou epistaxe durante o ciclo
menstrual. Isso pode ser sinal de distúrbio Suspeita diagnostica (de acordo com as
da coagulação + petequias faixas etarias)
 O distúrbio mais comum em pacientes
jovens é Von Willebrand
Adolescência:
 Pode ser causada também pode
 Principal causa de ciclos anovulatórios é
hemofilias, doenças plaquetárias,
a imaturidade do eixo hipotálamo-
puerpério, hepatopatias e leucemia
hipófise falta de pulsatilidade adequada
TTPA e KTT
 Se tiver uma clínica exacerbada:
O (disfunção ovulatória) climatério investigar distúrbios de coagulação (Von
 Mais presente na menarca e menopausa
Willebrand)
(porque as alterações de ovulação estão
associadas aos ciclos anovulatórios, ou
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Menacme:  Pode ser feito também como ‘’medida
 Principal causa de ciclos anovulatórios é terapeutica’’ do sangramento porque
a SOP raspa o endométrio que está sangrando
 Sangramentos na perimenopausa estão para que acabe com o sangramento, mas
relacionados a alterações estrogênicas sabe-se hoje que esse sangramento pode
(principalmente na primeira fase do piorar no próximo ciclo, então não
climatério) funciona bem

Menopausa:
 Principal causa de sangramento é a propedeutica para sangramento
atrofia endometrial
uterino agudo
 Investigar todos os sangramentos pós-
menopausa - descartar CA de endométrio

diagnostico

Começa pelo minemônico PALM-COEIN


USG transvaginal anamnese, exame fisico, lab e imagem
 Avaliação endometrial e estrutural
(pólipos, miomas, tumorações)
melhor na 1ª fase do ciclo
Histerossonografia
 Aumenta a sensibilidade para avaliação
endometrial
 Esse exame é especialista para ver
cavidade endometrial
 É feito entrando com uma sonda,
injetando soro fisiológico dentro do útero,
fazendo expansibilidade da cavidade
para ver melhor se tem ‘’algo dentro’’. É
bom que se faça junto com a USG
transvaginal
 Usa quando quer investigar pólipo
Tratamento
Biópsia endometrial - por histeroscopia ou às cegas
 Padrão ouro para avaliação endometrial
Na maioria dos casos é tratamento conservador
 O melhor é fazer biópsia endometrial A cirurgia é a última escolha (principalmente em
dirigida por histeroscopia (que é quando pacientes com sangramento crônicos e instáveis)
entra com a câmera, vê toda cavidade
endometrial e onde tem lesão suspeita Tratamento medicamentoso: Primeira escolha:
tira uma biópsia) AINES associado a fibrinolítico (principalmente
 Apesar disso, hoje faz por curetagem em pacientes que têm reação inflamatória como
uterina que é feita às cegas, então retira causa do sangramento)
biópsia de qualquer lugar (feito por: + por causa
 AINES: ação na vasculatura endometrial
cureta de Novak que é mais rígida e inibindo prostaglandina e
cateter de Pipelle que é mais flexível) vasoconstrição. São inibidores da COX1 e
COX2. Exemplos: Ácido mefenâmico,
Histeroscopia Naproxeno e Ibuprofeno
 Método diagnóstico e terapêutico  Anti-fibrinolítico: inibem os ativadores de
 Melhor exame para avaliar a cavidade plasminogênio. Exemplo: Ácido
uterina visualização direta e biopsia dirigida/terapeutica
tranexâmico (pode usar em qualquer
pessoa e em curto período porque
Curetagem uterina aumenta risco de trombose)
 É um exame às cegas quando faz para  Progesterona e progestágenos:
retirar biópsia tratamento tempo-dependente que
‘’segura o endométrio’’ para não sangrar.
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Pode usar na segunda fase do ciclo para  Agonistas de GnRH: Exemplo: Goserelina
coordenar o sangramento em pacientes (faz inibição das gonadotrofinas e
fase lútea
que têm ciclos anovulatórios. Exemplo: inibição central gerando menopausa
+ agudo Noretisterona 5mg 3x ao dia (5 ao 26º dia medicamentosa, principalmente se a
do ciclo) e Acetato de paciente tiver uma miomatose gigante,
Medroxiprogesterona (trimestral, bom daí esses agonistas entram como uso pré-
controle após uso prolongado, mas tem cirurgico para diminuir volume do mioma
ganho de peso, então usa quando não para depois ser feita a cirurgia com
tem mais nada disponível) menor risco de sangramento. O
 Anticoncepcional oral: levam a atrofia tratamento é de 3 a 6 meses daí pode
endometrial e sempre precisa avaliar fazer a cirurgia definitiva). Usado também
critérios de elegibilidade (porque em sangramento uterino disfuncional,
anticoncepcional não é bala para dar quando a mulher não tem prole
para todo mundo), como não ser constituída e, após a supressão gonadal,
puerpera, não ter fatores de risco para precisa iniciar TRH (ou pode gerar
trombose ou doença cardiovascular, se falência ovariana)
não está em tratamento para câncer de
mama, se não é obesa ou tabagista, se Tratamento cirúrgico: é a última opção
não usa anticonvulsivantes, ou seja,  Ablação endometrial: uso em paciente
precisa saber da história da paciente com reação inflamatória grave sem
antes de prescrever anticoncepcional resposta ao tratamento clinico. Pode ser
oral feita com laser, radiofrequência, energia
 Estrógeno isolado: só usa na fase aguda elétrica ou térmica e usa a histeroscopia
porque faz crescer endométrio fazendo para ajudar na ablação
sangrar mais. Usa se precisa ter um  Curetagem uterina: reduz
controle rápido porque o endométrio temporariamente o sangramento porque
hiperestimulado tende a não sangrar, tira a primeira camada de endométrio,
mas quando suspende a droga, ele mas tende a gerar sangramento maior
sangra. Exemplos: Estrogênio conjugado subsequente porque o procedimento
1,25mg ou Estradiol 2mg, 4/4h por 24h e gera reação inflamatória. Não é uma
após, 1x ao dia por 7 dias. Após o uso do medida curativa
estrogênio, precisa combinar terapia  Histerectomia: 50% dos
progestagenica para diminuir hiperplasia anatomopatológicos de histerectomias
e fazer sangramento por deprivação mostraram útero normal, ou seja, estão
 DIU com levonorgestrel (Mirena): esse DIU fazendo histerectomia sem que a paciente
tem doses mínimas de levonorgestrel que tenha realmente algum problema uterino.
faz a supressão do crescimento Esse procedimento tem maior morbidade
endometrial. É bom para adenomiose e mortalidade, mas é uma solução
porque faz vasoconstrição e atrofia definitiva porque melhora a qualidade de
endometrial, daí o endométrio que está no vida
miométrio fica atrofiado também,
diminuindo sangramentos
 Antiestrogênicos: Exemplos: Danazol (atua
no eixo hipotálamo-hipófise-ovario
O sangramento uterino é um problema de saúde
suprimindo a ovulação e causando
feminino frequente
atrofia endometrial), seus efeitos
A classificação é feita pela FIGO de acordo com
colaterais são androgênicos, como
o minemônico PALM-COEIN
aumento de pelos e voz mais grossa
O diagnóstico é feito por anamnese cuidadosa +
 Antiprogestágeno: Exemplo: Gestrinona (é exame físico e exames complementares
um hormônio chamado ‘’chip da beleza’’ geralmente são necessários
que tamabem tem seus efeitos colaterais O tratamento agudo consiste no resgate
androgênicos, como aumento de pelos, volêmico e manutenção da estabilidade
alopecia andrtogenetica, alteração na hemodinâmica
voz, aumento clitoriano, bem como efeitos O tratamento crônico consiste na investigação
hepáticos e metabólicos). Esse hormônio da causa
tem uso formal somente para tratamento O tratamento medicamentoso controla, na
de endometriose maioria das vezes, os sinais e sintomas da SUA
é medicação off-label!! O tratamento cirúrgico deve ser bem elegível

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