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1 Pode-se ler outros autores que propugnam a posição adoptada no texto, Coutinho de Abreu, Comentário ao
CSC, Vol. I, p. 673. Contudo, Pedro Maia, p. 181 e a bibliografia citada nesta pág. E na n. (8) cita outros outras
qualificações jurídicas sobre a natureza jurídica das deliberações dos sócios, por ex., Lobo Xavier, Menezes
Cordeiro, Brito Correia (negócios jurídicos ou meras declarações negociais), Oliveira Ascensão (acto colegial subespécie do
acto colectivo), Pinto Furtado (declaração unilateral de vontade plurissubjectiva uma categoria sui generis, não um
negócio jurídico).
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separa essas modalidades em artigos diferentes). Aliás, o próprio artigo 58/1 diz que essa modalidade é
aplicável a todos os tipos de sociedades comerciais.
6. Decisões do sócio único
O sócio único “decide”, não delibera, artigo 21/1 da LSU. A epígrafe do artigo 21.º da LSU é “decisões
do sócio” e não deliberações do sócio único, as decisões de natureza igual às deliberações da assembleia
geral (…), artigo 21/1 da LSU. Não se aplica o artigo 56.º porque as deliberações exigem a
“pluralidade de sócios” e nas sociedades unipessoais só existe um sócio (daí o nome sociedade
unipessoal), artigo 28/1, 2ª parte da LSU. Em rigor, o sócio único não reúne para tomar decisões!
As decisões do sócio único são impugnáveis com base o regime legal de impugnação das deliberações
dos sócios previsto na LSC. porque não exige a pluralidade dos sócios, dispõe o artigo 28/1, 1ª parte da
LSU.
c. Competências contratuais: as que resultam do estatuto, mas não por força de uma norma
legal dispositiva, sob pena de ser cláusula inútil em virtude de reproduzir o que existe na lei;
d. Competências residuais: de tratar todas matérias se a lei ou o estatuto não disser o contrário;
e. Competências concorrentes: as que podem ser exercidas pelos sócios e por um outro
órgão social sem exclusão de outro órgão social;
2Defende-se que essa competência é do Conselho de administração por força da alínea m) do n.º 2 do artigo
425.º que diz: “qualquer outro assunto sobre o qual algum administrador requeira deliberação”.
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f. Competências subsidiárias ou extraordinária: as exercidas pelos sócios se houver
solicitação por parte do órgão competente.
A deliberação é válida, mas não produz efeitos jurídicos. A ineficácia pode ser absoluta e relativa.
3 A norma diz: só é válida. Não se trata de validade, mas de produção de efeitos jurídicos.
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8. Nulidades e anulabilidades das deliberações dos sócios. Fundamento das nulidades e
anulabilidades das deliberações dos sócios: vícios de procedimento e de conteúdo.
a. Vícios de procedimento: têm a ver com a forma ou o modo em que se deliberou. Ou
seja:
b. Vício de conteúdo: tem a ver com o objecto da deliberação ou com o que se deliberou.
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o interesse social ou da lealdade. Anuláveis as deliberações não precedidas de
elementos mínimos de informação, artigo 63/1c) e 4;
• Deliberações anti-estatutárias: que violam o estatuto, salvo se a cláusula
estatutária violada repetir inutilmente uma norma legal, cujas consequências serão
analisadas conforme a norma legal violada, artigo 63/1, a) e n.º 2;
• Deliberações abusivas: deliberações válidas, mas aptas para qualquer dos sócios
conseguir, através do exercício do direito de voto, vantagens especiais para si ou para
terceiro, ou apta para prejudicar a sociedade ou outros sócios, salvo se se provar que
as deliberações teriam sido aprovadas mesmo sem os votos abusivos (prova de
resistência), artigo 63/1, b);
Responsabilidade pelo voto abusivo: respondem apenas os sócios que votam
abusivamente porque os sócios que emitem votos não abusivos não praticam factos
ilícitos, artigo 63/3. Exemplo de deliberação abusiva:
Obs.: trata-se de uma nulidade atípica porque é passível de renovação nos termos do artigo 67.º.
c. Excepção – do vício de conteúdo: consequência é nulidade se:
➢ Se deliberar sobre matéria que não é da competência dos sócios e atribuída, por norma
legal imperativa5, a um outro órgão social, al. c) do n.º 1 do artigo 61.º;
➢ O “conteúdo” da deliberação violar norma legal imperativa ou bons costumes6, al. d)
do n.º 1 do artigo 61.º.
5 As normas imperativas são determinadas pelo seu conteúdo (ter em conta os signos linguísticos que não
permitem a derrogação: por ex., somente, só, deve e outras equivalentes) que tutelam interesses de terceiros, interesses
indisponíveis dos sócios ou tutela a garantia de certo esquema organizativo-funcional).
6 Variam de lugar e tempo: “as regras de conduta (originariamente extrajurídicas) aceites como boas pela
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Legitimidade – Acção de declaração de nulidade e anulação
1. Acção de nulidade
a. Legitimidade Activa
• nos vícios de procedimento: as nulidades do artigo 61/1, a) e b):
apenas pelos sócios presentes ou representados e na deliberação por voto escrito, apenas os sócios não
que tenham votado por escrito e não tenham, posteriormente, por escrito, dado o seu assentimento
à deliberação, artigo 61/3.
• nos vícios de conteúdo: as nulidades do artigo 61/1, c) e d):
O órgão de fiscalização deve propor a acção judicial de nulidade para se obter a declaração de
nulidade; deve também requer ao tribunal a nomeação de um sócio representante da sociedade, artigo
62.
2. Prazo para a acção judicial de nulidade: a LSC não fixa, pelo que, sujeita-se ao regime geral
– a todo tempo, o que é inaceitável.
3. Acção de anulação:
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Obs.: tem legitimidade o sócio presente no tempo da ocorrência do vício e futuros adquirentes
(mortis causa ou inter vivos) deste sócio, desde que esteja dentro dos prazos legais.
4. Falta de legitimidade:
➢ O sócio que não tenha votado no sentido que fez vencimento, mas tenha aceitado de
modo expresso ou tácito a deliberação”, artigo 63/2 in fine.
➢ O sócio que tenha votado no sentido que fez vencimento (venire contra factum proprium),
salvo se houver vício de vontade.
7. Meio de prova – Acta e acção anulatória: o requerente da acção deve anexá-la à Petição
Inicial, salvo se não for possível e, neste caso, o Juiz deve ordenar a notificação – nas
sociedades por quotas (aos sócios que tenham votado no sentido que fez vencimento) e – nas sociedades
anónimas (ao Presidente da Mesa e o Secretário) para no prazo de 60 dias entregarem a acta,
ficando assim suspensa a instância, segundo o artigo 64/5 e 6.
A lei não consagra a consequência do incumprimento. Neste caso, deve-se aplicar, por
analogia, o exposto nos artigos 397/1 e 2, 484/1, excluindo o artigo 485/d), todos do CPC,
cuja sanção deve ser a recusa da recepção da contestação e declarar imediatamente a
nulidade ou anulação da deliberação social, considerando confessados os factos
constantes da Petição Inicial.
8. Cumulação de pedido de anulação com pedido de declaração: a proposta da
deliberação foi validamente aprovada, mas proclama-se a sua não aprovação. A anulação da
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deliberação proclamada como negativa, não faz surgir a deliberação de conteúdo positivo e para tal
efeito, é preciso pedir, além da anulação, que se declare aprovada a deliberação, sob pena de
o tribunal não se pronunciar sobre isso, artigo
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➢ É um prazo sujeito ao regime de caducidade, artigo 298/2 do CC.
➢ Cabe à sociedade o ónus da prova do decurso do prazo de cinco dias, conforme resulta
do artigo 343/2 do CC.
➢ Este prazo não suspende o prazo de 30 dias, referido no artigo 64/3 para mover
acção de anulação.
7 O n.º 1 do artigo 396.º do CPC fala da “execução” da deliberação… Em sentido restrito, a execução significa a
prática de actos (pelo órgão de administração ou gerência) necessários para que essa deliberação obtenha o seu
efeito típico ou directo, serão insusceptíveis de suspensão – porque “já executadas” quer as deliberações self-
executing, quer as deliberações que aqueles actos tenham conseguido de facto o referido efeito.
Em sentido amplo, a execução, para efeitos da providência cautelar, significa a eficácia ou a produção de efeitos
jurídicos, serão susceptíveis de suspensão as deliberações capazes de produzir efeitos danosos não ou
dificilmente reparáveis com a acção principal.
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f. Efeitos da citação ou notificação: “a partir da citação ou notificação, e enquanto não for
julgado o pedido de suspensão, não é lícito à […] sociedade executar a deliberação
impugnada, artigo 397/4 do CPC. A ilicitude incide sobre a execução da deliberação e não sobre
a deliberação em si. Não há suspensão nem invalidade da deliberação porque os efeitos desta
deliberação só são suspensos com decretação da suspensão. Em caso de incumprimento (executando a
deliberação), incorre em crime de desobediência!
Renovação das deliberações sociais
É a substituição de deliberação com vício de procedimento (com vício de conteúdo – há substituição de
deliberação por outro conteúdo, não há renovação) por outra de conteúdo idêntico, mas sem vício (de
procedimento), reais ou supostos, que tornam a deliberação invalida ou de validade duvidosa, tendo
em conta os n.ºs 1 e 2 do artigo 67.º. Efeito de renovação das deliberações:
a. Nulas: retroactividade, artigo 67.º, n.º 1, primeira parte. A retroactividade não deve
prejudicar os direitos adquiridos por terceiros de boa-fé, artigo 67.º, n.º 1, segunda parte.
Isso é errado porque as deliberações: i) em rigor, produzem apenas efeitos internos (dentro da
sociedade), não pode violar os direitos adquiridos por terceiros, ii) com vício de
procedimento, quando renovada, torna-se válida, logo não pode violar os direitos de
terceiros.
b. Anuláveis: retroactividade, artigo 67.º, n.º 2, primeira parte.
Não há retroactividade se o sócio tiver um interesse atendível e “requerer” a anulação da
deliberação viciada, artigo 67.º, n.º 2, segunda parte.
c. Renovação ordenada pelo tribunal: havendo vício de procedimento, tribunal antes de declarar
nula ou anulável certa deliberação, deve conceder à sociedade o prazo de 30 para, caso queira,
renovar a deliberação judicialmente impugnada, artigo 67.º, n.ºs 3 e 4.
d. Efeito da renovação na pendência da acção judicial: extinção da instância por inutilidade
superveniente da lide, artigo 287/e) do CPC, salvo se o autor tiver interesse atendível no
prosseguimento da acção.
Tudo se passa como se não tivesse havido aprovação de deliberação pelos sócios porque os
efeitos que, eventualmente, tenham sido produzidos são “destruídos”, salvo os direitos adquiridos
de boa fé por terceiros, com fundamento em actos praticados em execução da deliberação, artigo 66/2.
10 | JP
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