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Deliberações dos sócios

1. Conceito de deliberação dos sócios


São decisões adoptadas, em reunião ou sem reunião pela assembleia geral dos sócios imputáveis
juridicamente à sociedade. O conceito adoptado é amplo porque não se limita ao “método de
assembleia” que sempre exige a “reunião”. A deliberação é o resultado da decisão!

2. Composição das deliberações dos sócios


São constituídas por uma ou mais declarações de vontade ou de ciência (tecnicamente recebe o nome
de voto) dos sócios que se destinam a produzir de certos efeitos jurídicos tutelados pela ordem jurídica.

3. Relevância da reunião dos sócios


Serve, em regra, para debater ideias, opiniões sobre os assuntos levados à reunião e permite o sócio
votar de forma consciente e fundamentada.

4. Natureza jurídica das deliberações sociais


Negócios jurídicos1 se forem constituídas por declarações de vontade que constituem, modificam ou extinguem
posições jurídicas. Por isso, as deliberações são susceptíveis de invalidade. Não são negócios jurídicos, as
deliberações constituídas por declarações de ciência (deliberações formadas com votos de louvor, de confiança,
de protesto, de pesar, a deliberação de aprovação do relatório de gestão e contas da sociedade).

5. Formas de deliberação. Princípio da taxatividade:


A epigrafe do artigo 56.º é “formas de deliberação”. A forma aqui equivale a “tipos ou espécies” e não a
forma (oral ou escrita) de exteriorização das deliberações. O n.º 1 do artigo 56.º, prevê apenas quatro
(4) modalidades de deliberações, i.e., vigora o princípio da taxatividade, a saber:

a. deliberações em Assembleia Geral regularmente convocada;


b. deliberações em assembleia universal – artigo 57.º;
c. deliberações unânimes por escrito – artigo 58.º;
d. deliberações por voto escrito – artigos 59.º e 274.º.
Nas sociedades por quotas são admitidas todas espécies, segundo o artigo 273/1. Nas sociedades
anónimas não são admitidas apenas as deliberações por voto escrito, artigo 59/2. Neste caso, deve-se
interpretar de forma correctiva, o artigo 393/1 para se incluir as deliberações unânimes por escrito que
literalmente estão excluídas nesta norma (a fonte do artigo 393.º é o artigo 373.º do CSC português
inclui num só artigo 54.º - as deliberações unânimes e assembleias universais – Já o legislador angolano,

1 Pode-se ler outros autores que propugnam a posição adoptada no texto, Coutinho de Abreu, Comentário ao
CSC, Vol. I, p. 673. Contudo, Pedro Maia, p. 181 e a bibliografia citada nesta pág. E na n. (8) cita outros outras
qualificações jurídicas sobre a natureza jurídica das deliberações dos sócios, por ex., Lobo Xavier, Menezes
Cordeiro, Brito Correia (negócios jurídicos ou meras declarações negociais), Oliveira Ascensão (acto colegial subespécie do
acto colectivo), Pinto Furtado (declaração unilateral de vontade plurissubjectiva uma categoria sui generis, não um
negócio jurídico).
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separa essas modalidades em artigos diferentes). Aliás, o próprio artigo 58/1 diz que essa modalidade é
aplicável a todos os tipos de sociedades comerciais.
6. Decisões do sócio único
O sócio único “decide”, não delibera, artigo 21/1 da LSU. A epígrafe do artigo 21.º da LSU é “decisões
do sócio” e não deliberações do sócio único, as decisões de natureza igual às deliberações da assembleia
geral (…), artigo 21/1 da LSU. Não se aplica o artigo 56.º porque as deliberações exigem a
“pluralidade de sócios” e nas sociedades unipessoais só existe um sócio (daí o nome sociedade
unipessoal), artigo 28/1, 2ª parte da LSU. Em rigor, o sócio único não reúne para tomar decisões!

As decisões do sócio único são impugnáveis com base o regime legal de impugnação das deliberações
dos sócios previsto na LSC. porque não exige a pluralidade dos sócios, dispõe o artigo 28/1, 1ª parte da
LSU.

7. Competência dos sócios


a. Competências imperativas ou injutivas: as exercidas apenas pelos sócios;

➢ SQ: por ex., o n.º 1 do artigo 272.º.


➢ SA: por ex., artigo 100.º

b. Competências dispositivas: as exercidas pelos sócios se o contrato não as atribuir a um


órgão social diferente (ex., dessas normas, salvo disposição contratual em contrário);

➢ SQ: por ex., o n.º 2 do artigo 272.º


➢ SA: por ex., 14/2, 351/1

c. Competências contratuais: as que resultam do estatuto, mas não por força de uma norma
legal dispositiva, sob pena de ser cláusula inútil em virtude de reproduzir o que existe na lei;

➢ SQ: por ex., o n.º 1 do artigo 272.º


➢ SA: por ex., artigo 393/2.

d. Competências residuais: de tratar todas matérias se a lei ou o estatuto não disser o contrário;

➢ SQ: por ex., o artigo 282.º


➢ SA: por ex., artigo 393/22.

e. Competências concorrentes: as que podem ser exercidas pelos sócios e por um outro
órgão social sem exclusão de outro órgão social;

➢ SQ: a lei não prevê esse tipo de competência.


➢ SA: por ex., o artigo 90/1 e o artigo 454/1.

2Defende-se que essa competência é do Conselho de administração por força da alínea m) do n.º 2 do artigo
425.º que diz: “qualquer outro assunto sobre o qual algum administrador requeira deliberação”.
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f. Competências subsidiárias ou extraordinária: as exercidas pelos sócios se houver
solicitação por parte do órgão competente.

➢ SQ: a lei não prevê esse tipo de competência.


➢ SA: por ex., o artigo 393/3 – sobre matérias de gestão

Invalidades das deliberações dos sócios e das decisões do sócio único


Ineficácia em sentido amplo: ineficácia em sentido restrito, nulidades e anulabilidades.

1. Ineficácia em sentido restricto das deliberações dos sócios

A deliberação é válida, mas não produz efeitos jurídicos. A ineficácia pode ser absoluta e relativa.

a. Deliberações dos sócios absolutamente ineficazes:


É absoluta porque a própria lei diz que a deliberação não produz efeitos jurídicos perante os sócios (votando
a favor ou contra) e terceiros por falta do consentimento expresso ou tácito exigível pela lei, a 2ª parte
do artigo 60.º. exemplos:

• Supressão ou limitação do direito de preferência sem o consentimento do seu titular, n.ºs 5 e


6 do artigo 26.º
• De transformação da sociedade que importe a assunção de responsabilidade ilimitada para
todos os sócios (nas sociedades em nome colectivo) para alguns sócios (nas sociedades em
comandita) sem a aprovação destes sócios, artigo 133/23;
b. Deliberações dos sócios relativamente ineficazes:
As deliberações, segundo a lei, que não produzem efeitos jurídicos perante o sócio que votou no
sentido que não fez vencimento ou perante terceiros. Exemplos:

• Prestações acessórias, artigos 230.º e 319.º, por força do artigo 91/2.


• A deliberação não produz efeitos jurídicos perante “terceiros” se se tratar de uma deliberação
sujeita a registo, mas ainda não registada. Por ex., artigo 169.º.

7.1. Declaração judicial de ineficácia


Só se move acção judicial (contra a sociedade, por analogia, artigo 65/1) se a Gerência e/ou Conselho de
Administração executar a deliberação ineficaz. Legitimidade para mover a acção judicial nas deliberações:

a. Absolutamente ineficazes: qualquer interessado, artigo 62, aplicável por analogia;


b. Relativamente ineficazes: só os sócios que (ainda) não prestaram o consentimento exigido
pela lei, artigo 60.º e o órgão de fiscalização ou qualquer gerente se não tiver o órgão de
fiscalização - por analogia, artigo 62.º.

3 A norma diz: só é válida. Não se trata de validade, mas de produção de efeitos jurídicos.
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8. Nulidades e anulabilidades das deliberações dos sócios. Fundamento das nulidades e
anulabilidades das deliberações dos sócios: vícios de procedimento e de conteúdo.
a. Vícios de procedimento: têm a ver com a forma ou o modo em que se deliberou. Ou
seja:

➢ Convocação – convocatória: forma (não escrita e nem publicada no jornal mais


lido na localidade em que se situa a sede da sociedade ou não se respeitou as
regras de convocação fixadas no contrato de sociedade), conteúdo (não indicou
ou o lugar, ou o dia e a hora da reunião, ou a espécie - geral ou especial - da
assembleia ou os requisitos para participação e o exercício do direito de voto ou
a ordem de trabalhos – as propostas ou os assuntos a decidir na reunião);
antecedência (não se respeitou a antecedência mínima de 30 dias relativamente
à data da assembleia ou não se respeitou antecedência mínima prevista pelo
contrato), a sua autoria (convocada por quem não tem competência);
➢ da reunião: o local, o dia e hora foi alterado, presidida por que não tem a
competência, participaram ou fizeram-se representar pessoas não-sócias ou
sócios mal representados, não se respeitou o quórum constitutivo – se for esse
o caso – dos sócios,
➢ na discussão e apresentação de propostas: participaram da discussão não sócios ou
sócios, mas em termos incorrectos, não se aceitou a inclusão de certos assuntos
da ordem de trabalhos, mesmo preenchendo os requisitos legais;
➢ a votação: votaram sócios sem direito de voto ou os não-sócios votaram;
➢ a contagem dos votos e o apuramento do resultado: contou-se os votos do sócio sem
direito de voto; do sócio com impedimento de voto, ou se apurou um resultado
errado porque não atingiu o número mínimo de votos exigíveis.

b. Vício de conteúdo: tem a ver com o objecto da deliberação ou com o que se deliberou.

Consequências das deliberações com vícios


1. Anulação – artigo 63.º:
a. Regra – vícios de conteúdo e procedimento –: anulabilidade:

• Deliberações anuláveis ilegais: violação de uma norma legais imperativas4 ou


dispositiva não derrogada pelo contrato, artigo 10/5), artigo 63/1, a). Ou violação
dos “princípios jurídicos”, com força equivalente às normas legais dispositivas: o
“princípio da igualdade de tratamento dos sócios e o princípio da actuação compatível com

4 Não se aplica o artigo 294.º do CC.


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o interesse social ou da lealdade. Anuláveis as deliberações não precedidas de
elementos mínimos de informação, artigo 63/1c) e 4;
• Deliberações anti-estatutárias: que violam o estatuto, salvo se a cláusula
estatutária violada repetir inutilmente uma norma legal, cujas consequências serão
analisadas conforme a norma legal violada, artigo 63/1, a) e n.º 2;
• Deliberações abusivas: deliberações válidas, mas aptas para qualquer dos sócios
conseguir, através do exercício do direito de voto, vantagens especiais para si ou para
terceiro, ou apta para prejudicar a sociedade ou outros sócios, salvo se se provar que
as deliberações teriam sido aprovadas mesmo sem os votos abusivos (prova de
resistência), artigo 63/1, b);
Responsabilidade pelo voto abusivo: respondem apenas os sócios que votam
abusivamente porque os sócios que emitem votos não abusivos não praticam factos
ilícitos, artigo 63/3. Exemplo de deliberação abusiva:

➢ Não distribuição de lucros com a intenção de forçar sócios minoritários a


cederem as suas quotas;
b. Excepção – do vício de procedimento: consequência é nulidade:

• Aprovadas em Assembleia Geral não convocada: significa convocada por pessoa


incompetente; ou a convocação ou aviso não indicou o dia, a hora e o local da reunião;
ou tenha indicada, mas a reunião se realizou em dia, hora ou local diversos dos constantes
do aviso ou convocatória, artigo 61/1, a) 1ª parte e o n.º 2;
• Na deliberação por voto escrito, não tenham sido convocados todos os sócios a votar por
escrito nos termos dos artigos 59.º e 274.º, salvo se todos os sócios enviarem os seus
votos por escrito mesmo que algum sócio não tenha sido convidado a votar por escrito.
Neste último caso, o vício fica sanado porque o objectivo foi atingido que é a votação
por escrito, artigo 61/1, b).

Obs.: trata-se de uma nulidade atípica porque é passível de renovação nos termos do artigo 67.º.
c. Excepção – do vício de conteúdo: consequência é nulidade se:
➢ Se deliberar sobre matéria que não é da competência dos sócios e atribuída, por norma
legal imperativa5, a um outro órgão social, al. c) do n.º 1 do artigo 61.º;
➢ O “conteúdo” da deliberação violar norma legal imperativa ou bons costumes6, al. d)
do n.º 1 do artigo 61.º.

5 As normas imperativas são determinadas pelo seu conteúdo (ter em conta os signos linguísticos que não
permitem a derrogação: por ex., somente, só, deve e outras equivalentes) que tutelam interesses de terceiros, interesses
indisponíveis dos sócios ou tutela a garantia de certo esquema organizativo-funcional).
6 Variam de lugar e tempo: “as regras de conduta (originariamente extrajurídicas) aceites como boas pela

consciência social dominante.


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Legitimidade – Acção de declaração de nulidade e anulação

1. Acção de nulidade
a. Legitimidade Activa
• nos vícios de procedimento: as nulidades do artigo 61/1, a) e b):

apenas pelos sócios presentes ou representados e na deliberação por voto escrito, apenas os sócios não
que tenham votado por escrito e não tenham, posteriormente, por escrito, dado o seu assentimento
à deliberação, artigo 61/3.
• nos vícios de conteúdo: as nulidades do artigo 61/1, c) e d):
O órgão de fiscalização deve propor a acção judicial de nulidade para se obter a declaração de
nulidade; deve também requer ao tribunal a nomeação de um sócio representante da sociedade, artigo
62.

Qualquer interessado (artigo 286.º do CC.): os administradores se o órgão de fiscalização não


propor a acção, o sócio (com ou sem direito de voto, tenha votado ou não no sentido que fez
vencimento) e terceiros (credores e trabalhadores).

2. Prazo para a acção judicial de nulidade: a LSC não fixa, pelo que, sujeita-se ao regime geral
– a todo tempo, o que é inaceitável.
3. Acção de anulação:

a. Legitimidade activa: nos vícios de procedimento e de conteúdo


➢ Sócio: que não tenha votado no sentido que fez vencimento: - que não participou
pessoal ou por representação da deliberação; ou participou, mas não votou por não ter
direito de voto ou por estar impedido de votar; ou por se abstiver e por emitir voto
contra (nas deliberações de conteúdo positivo) ou por emitir voto a favor (nas deliberações de
conteúdo negativo) nem posteriormente tenha aprovado, expressa ou tacitamente, artigo
64/2.
➢ No “secreto”: o sócio que tenham declarado na própria assembleia, ou perante notário, no prazo
de cinco dias a contar da data da votação, que votaram contra a deliberação tomada”,
artigo 63/7. O sócio que não participou na assembleia, não precisa fazer qualquer
declaração de voto contra porque a lei não exige.
➢ Os não-sócios: credor pignoratício se tiver direito de impugnação de deliberações sociais,
artigo 25/4 e o usufrutuário de participações sociais, artigo 25/2.
➢ Órgão de fiscalização: artigo 64/2, diz “pode”. “Pode” tem o sentido de direito ou
competência porque em alguns casos têm a obrigação de mover acção tendo em conta as
suas funções. Qualquer gerente se não tiver órgão de fiscalização, artigo 63/8.

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Obs.: tem legitimidade o sócio presente no tempo da ocorrência do vício e futuros adquirentes
(mortis causa ou inter vivos) deste sócio, desde que esteja dentro dos prazos legais.

4. Falta de legitimidade:

➢ O sócio que não tenha votado no sentido que fez vencimento, mas tenha aceitado de
modo expresso ou tácito a deliberação”, artigo 63/2 in fine.
➢ O sócio que tenha votado no sentido que fez vencimento (venire contra factum proprium),
salvo se houver vício de vontade.

5. Legitimidade na pendência da acção: o sócio com legitimidade, após a propositura da


acção de anulação, aliena a sua participação social, a acção pode continuar, mesmo não sendo
mais sócio se tiver interesse atendível, mediante substituição, com o novo sócio, artigo 270.º
e ss., do CPC.
6. Prazo para a acção judicial de anulação, artigo 64/3:

a. 30 dias a contar da data em que:


• Foi encerrada a assembleia geral em que a deliberação anulável tenha sido
aprovada;
• A deliberação se considera tomada, quando não o tenha sido em Assembleia
Geral: trata-se de deliberações unânimes por escrito sem a reunião da assembleia ou de
deliberações por voto escrito.
• O sócio teve conhecimento da deliberação, se esta incidir sobre assunto que não
constava da convocatória.
b. O prazo de 30 dias: sujeita-se ao regime de caducidade, artigo 298/2 do CC. porque
a lei não se refere expressamente a prescrição.

7. Meio de prova – Acta e acção anulatória: o requerente da acção deve anexá-la à Petição
Inicial, salvo se não for possível e, neste caso, o Juiz deve ordenar a notificação – nas
sociedades por quotas (aos sócios que tenham votado no sentido que fez vencimento) e – nas sociedades
anónimas (ao Presidente da Mesa e o Secretário) para no prazo de 60 dias entregarem a acta,
ficando assim suspensa a instância, segundo o artigo 64/5 e 6.
A lei não consagra a consequência do incumprimento. Neste caso, deve-se aplicar, por
analogia, o exposto nos artigos 397/1 e 2, 484/1, excluindo o artigo 485/d), todos do CPC,
cuja sanção deve ser a recusa da recepção da contestação e declarar imediatamente a
nulidade ou anulação da deliberação social, considerando confessados os factos
constantes da Petição Inicial.
8. Cumulação de pedido de anulação com pedido de declaração: a proposta da
deliberação foi validamente aprovada, mas proclama-se a sua não aprovação. A anulação da

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deliberação proclamada como negativa, não faz surgir a deliberação de conteúdo positivo e para tal
efeito, é preciso pedir, além da anulação, que se declare aprovada a deliberação, sob pena de
o tribunal não se pronunciar sobre isso, artigo

9. Legitimidade passiva – acção de declaração de nulidade e anulação:


a. A acção deve ser proposta contra a sociedade, artigo 65/1. Se houver mais de uma acção de
declaração de nulidade ou anulação relativamente à mesma deliberação social, pode-se, por
razões de economia processual e de uniformidade de julgamento, apensar as acções, artigo
65/2.
b. Custas judiciais: cabe à sociedade ré pagar as custas judiciais nas acções propostas pelo
órgão de fiscalização ou, na sua falta, por qualquer gerente, administrador quando forem julgadas
procedentes, artigo 65/3.
c. Sala competente: Sala do Comércio, Propriedade Intelectual e Industrial, artigo 66/1, c) da
Lei n.º 29/22, de 29 de Agosto – Lei Orgânica sobre a Organização e Funcionamento dos
Tribunais da Jurisdição Comum. Embora, erradamente exclua as acções de nulidades.
d. Registo das acções de declaração de nulidade ou anulação: artigo 5/d) do CRC. - só
fala das acções de anulação, mas tendo em vista na al. a) deste artigo, inclui-se as nulidades.

Suspensão das deliberações sociais


a. Podem ser suspensas: as deliberações contrárias à lei ou contrato de sociedade, i.e., as
deliberações susceptíveis de serem nulas, anuláveis e ineficazes, artigo 396.º do CPC
b. Legitimidade activa: o n.º 1 do artigo 396.º do CPC, diz “qualquer sócio pode requerer”. No
entanto, o ideal é:
• Nas deliberações susceptíveis de serem nulas ou absolutamente ineficazes: qualquer interessado tem
legitimidade porque os interessados têm legitimidade da acção principal.
• Nas deliberações susceptíveis de serem anuláveis ou relativamente ineficazes: apenas o sócio que tem
legitimidade para propor a acção principal.
• Os não-sócios, por interpretação teleológica ou analógica, aplicando o artigo 62.º para as nulidades
e deliberações absolutamente ineficazes, o artigo 64.º; e para as anulabilidades, apesar de o artigo
396/1 do CPC dizer somente sócio.
c. Prazos de requerimento de suspensão: 5 dias:

➢ a contar da data da assembleia em que as deliberações foram tomadas ou,


➢ se o requerente não tiver sido regularmente convocado para a assembleia (devem ser incluídas
deliberações tomadas sem a reunião dos sócios), da data em que ele teve conhecimento das
deliberações (salvo se soube da realização desta assembleia, embora não tenha sido
convocado), artigos 396/ 1 e 2 do CPC.

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➢ É um prazo sujeito ao regime de caducidade, artigo 298/2 do CC.
➢ Cabe à sociedade o ónus da prova do decurso do prazo de cinco dias, conforme resulta
do artigo 343/2 do CC.
➢ Este prazo não suspende o prazo de 30 dias, referido no artigo 64/3 para mover
acção de anulação.

d. Sala competente: Sala do Comércio, Propriedade Intelectual e Industrial, artigo 66/1, c) da


Lei n.º 29/22, de 29 de Agosto – Lei Orgânica sobre a Organização e Funcionamento dos
Tribunais da Jurisdição Comum.
e. Finalidade da providência de suspensão da deliberação: a suspensão da “execução7” da
deliberação porque receia-se que a sua execução possa causar dano apreciável ou significativo, ou
seja, dano de difícil reparação, artigo 396/1 do CPC. Por isso, a providência deve preencher os
seguintes requisitos:
• Fumus bonis iuris: deve-se invocar os vícios da deliberação para o Tribunal prever ou
considerar provável que, na acção principal, o pedido de declaração de nulidade ou ineficácia ou
de anulação da deliberação possa vir a ser julgado procedente;
• Periculum in mora: demonstrar que a demora da acção principal pode causar prejuízos
para o requerente e/ou a sociedade se a deliberação for executada, tornando “inútil” a
decisão da acção principal que se preveja procedente;
• Proporcionalidade: demonstrar que o prejuízo que resultar da execução da deliberação é
superior que o prejuízo que resultar da não execução da deliberação social que a acção
principal não repararia de forma efectiva, sob pena de não ser decretada a providência
cautelar, artigo 397/3 do CPC. (cfr. Acórdão n.º 1582/16, disponível em:
https://tribunalsupremo.ao/tsccafa-acordaoproc-1582-16-de-17-de-maio-de-2018-
providencia-cautelar-de-suspensao-das-deliberacoes-sociais-recurso-de-agravo/).
Meio de prova – a cópia da acta em que as deliberações foram tomadas ou documento comprovativo
da deliberação: deve ser anexada (o) ao requerimento, salvo se não for possível anexá-la e, neste caso,
tribunal citará ou notificará à sociedade com aviso que a sua contestação não será recebida sem juntar a cópia
da acta ou documento em falta e se não for recebida a contestação, o tribunal decreta imediatamente a
suspensão, artigos 397/1 e 2, 481/1, afastando assim o artigo 485/d), todos do CPC. e artigo 68/1.

7 O n.º 1 do artigo 396.º do CPC fala da “execução” da deliberação… Em sentido restrito, a execução significa a
prática de actos (pelo órgão de administração ou gerência) necessários para que essa deliberação obtenha o seu
efeito típico ou directo, serão insusceptíveis de suspensão – porque “já executadas” quer as deliberações self-
executing, quer as deliberações que aqueles actos tenham conseguido de facto o referido efeito.
Em sentido amplo, a execução, para efeitos da providência cautelar, significa a eficácia ou a produção de efeitos
jurídicos, serão susceptíveis de suspensão as deliberações capazes de produzir efeitos danosos não ou
dificilmente reparáveis com a acção principal.
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f. Efeitos da citação ou notificação: “a partir da citação ou notificação, e enquanto não for
julgado o pedido de suspensão, não é lícito à […] sociedade executar a deliberação
impugnada, artigo 397/4 do CPC. A ilicitude incide sobre a execução da deliberação e não sobre
a deliberação em si. Não há suspensão nem invalidade da deliberação porque os efeitos desta
deliberação só são suspensos com decretação da suspensão. Em caso de incumprimento (executando a
deliberação), incorre em crime de desobediência!
Renovação das deliberações sociais
É a substituição de deliberação com vício de procedimento (com vício de conteúdo – há substituição de
deliberação por outro conteúdo, não há renovação) por outra de conteúdo idêntico, mas sem vício (de
procedimento), reais ou supostos, que tornam a deliberação invalida ou de validade duvidosa, tendo
em conta os n.ºs 1 e 2 do artigo 67.º. Efeito de renovação das deliberações:

a. Nulas: retroactividade, artigo 67.º, n.º 1, primeira parte. A retroactividade não deve
prejudicar os direitos adquiridos por terceiros de boa-fé, artigo 67.º, n.º 1, segunda parte.
Isso é errado porque as deliberações: i) em rigor, produzem apenas efeitos internos (dentro da
sociedade), não pode violar os direitos adquiridos por terceiros, ii) com vício de
procedimento, quando renovada, torna-se válida, logo não pode violar os direitos de
terceiros.
b. Anuláveis: retroactividade, artigo 67.º, n.º 2, primeira parte.
Não há retroactividade se o sócio tiver um interesse atendível e “requerer” a anulação da
deliberação viciada, artigo 67.º, n.º 2, segunda parte.
c. Renovação ordenada pelo tribunal: havendo vício de procedimento, tribunal antes de declarar
nula ou anulável certa deliberação, deve conceder à sociedade o prazo de 30 para, caso queira,
renovar a deliberação judicialmente impugnada, artigo 67.º, n.ºs 3 e 4.
d. Efeito da renovação na pendência da acção judicial: extinção da instância por inutilidade
superveniente da lide, artigo 287/e) do CPC, salvo se o autor tiver interesse atendível no
prosseguimento da acção.

Efeitos do caso julgado da sentença

A sentença de declaração de nulidade e anulabilidade de uma deliberação social transitada em julgado


(insusceptível de recurso ordinário ou reclamação nos termos dos artigos 668.º e 669.º, conforme
o artigo 677.º do CPC) é a produção de efeitos em relação a todos os sócios e órgãos da sociedade, mesmo que
não tenham sido parte ou não tenham intervindo na acção, artigo 66/1.

Tudo se passa como se não tivesse havido aprovação de deliberação pelos sócios porque os
efeitos que, eventualmente, tenham sido produzidos são “destruídos”, salvo os direitos adquiridos
de boa fé por terceiros, com fundamento em actos praticados em execução da deliberação, artigo 66/2.

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